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Festa Na Floresta

FESTA NA
FLORESTA
Daniel Adjafre

ACERVO ZAPCHAU 1
Festa Na Floresta

Personagens:

Leôncio....................................................................................leão
Felisberta................................................................................vaca
Trombão............................................................................elefante
Chico Mico........................................................................macaco
Risadinha...............................................................................hiena
Rosáceo.................................................................................porco
Leoninho.................................................................filhote de leão

ACERVO ZAPCHAU 2
Festa Na Floresta

CENA I
(Floresta. Uma árvore grande, algumas moitas e um rio ao fundo.
Trombão está dormindo, ronca alto. Leôncio chega.).
LEÔNCIO Boa tarde!
TROMBÃO (acordando e bocejando) - Boa.
LEÔNCIO Posso repousar aqui um bocadinho?
TROMBÃO À vontade.
LEÔNCIO Obrigado. (Deita-se) Meu nome é Leôncio.
TROMBÃO Prazer. O meu é Trombão.
LEÔNCIO Você mora por aqui, nessa parte da floresta?
TROMBÃO No momento, sim. Antes eu morava lá no começo do rio, agora estou por
aqui, amanhã devo estar em outro lugar.
LEÔNCIO Aqui parece ser um lugar muito tranqüilo.
TROMBÃO (bocejando) - Tranqüilíssimo. Você pretende morar aqui?
LEÔNCIO Não, não, eu estou só de passagem.
TROMBÃO E está indo para onde?
LEÔNCIO Não sei. Na verdade estou mesmo é querendo mudar de ares.
TROMBÃO E o que é que tinha de errado com o ar de onde você morava?
LEÔNCIO Com o ar mesmo, nada. O problema é que onde eu morava era tudo muito
parado, nada acontecia. Eu passava o dia inteiro só comendo e dormindo,
comendo e dormindo, dormindo e comendo.
TROMBÃO E pra que coisa melhor que isso!?
LEÔNCIO Tem horas que a gente fica de saco cheio, sabe. Ficar fazendo sempre as
mesmas coisas.
TROMBÃO (conforme cita os animais, eles aparecem) - Pois aqui é desse jeito - todo
dia a gente faz a mesma coisa. É só olhar ao redor: o Chico Mico
pendurado nas árvores comendo suas bananas; dona Felisberta ruminando
seu almoço; Risadinha tomando banho; Rosáceo tirando um cochilo...
LEÔNCIO Mas todo dia, todo dia a mesma coisa!?
TROMBÃO E não está bom assim? Não estão todos felizes?
LEÔNCIO Mas nós poderíamos fazer algo diferente, assim como, por exemplo, as
coisas que as pessoas fazem para se divertir.
TROMBÃO As pessoas se divertem do jeito delas. E nós, do nosso.
LEÔNCIO Eu acho que elas se divertem muito mais do que a gente.

ACERVO ZAPCHAU 3
Festa Na Floresta

TROMBÃO Pois eu estou muito satisfeito com minha vidinha. Me divirto muito com
uma boa árvore de amarula.
LEÔNCIO As pessoas estão sempre inventando coisas diferentes para sair da rotina.
TROMBÃO Rotina?
LEÔNCIO Sim, a repetição de fazer todo dia a mesma coisa.
TROMBÃO E elas acham isso ruim?
LEÔNCIO Horrível.
TROMBÃO Estranho, esses humanos.
LEÔNCIO Estranho coisa nenhuma, você fala assim porque nunca experimentou
fazer outra coisa para se divertir.
TROMBÃO O que, por exemplo?
LEÔNCIO Bem, tem tanta coisa... Deixe-me ver, huuum... Por exemplo, jogar
futebol.
TROMBÃO Mas como é que nós poderíamos jogar futebol com quatro patas?
LEÔNCIO Bom, então que tal dançar em uma boate?
TROMBÃO Se eu pisasse nós pés de alguém ia ser um desastre!
LEÔNCIO Ou então fazer uma festa.
TROMBÃO Uma festa!?
LEÔNCIO Sim, uma festa não tem dificuldade nenhuma.
TROMBÃO E o que se faz em uma festa?
LEÔNCIO Bem, na festa se conversa, conta-se piadas...
TROMBÃO Piadas de elefante?
LEÔNCIO Não, imagina! De elefante, não. Ah! Em festas as pessoas comem muito.
TROMBÃO (alisando a barriga) - É... Parece interessante.
LEÔNCIO E têm festas que as pessoas vão vestidas com fantasias.
TROMBÃO Fantasias!?
LEÔNCIO É. Por exemplo, fantasias de bichos.
TROMBÃO Assim como a gente?
LEÔNCIO Exatamente.
TROMBÃO E por que eles se fantasiam de bichos?
LEÔNCIO Para se sentirem diferentes. Pra variar, pra parecerem engraçados.
TROMBÃO Quer dizer que eles acham a gente engraçado?
LEÔNCIO Muito.

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TROMBÃO Pois engraçado eu acho os seres humanos.


LEÔNCIO Aqui na floresta nunca houve uma festa?
TROMBÃO Que eu saiba, não.
LEÔNCIO Trombão, e se nós fizéssemos uma festa?
TROMBÃO Aqui na floresta?
LEÔNCIO E por que não?
(Os outros bichos se aproximam curiosos.).
TROMBÃO E essa festa teria... Comida?
LEÔNCIO Bastante. Em abundância.
TROMBÃO Sabe que pode ser uma ótima idéia?
LEÔNCIO Lógico!
TROMBÃO Você acha que os outros bichos vão gostar?
LEÔNCIO E por que não? Nós poderíamos, inclusive, fazer uma festa à fantasia.
TROMBÃO Mas se nós já somos bichos, vamos nos fantasiar de quê?
LEÔNCIO De pessoas, ora essa. Se os humanos gostam de imitar bichos, deve ser
divertido para nós imitarmos os humanos. (Para todos.) E então, pessoal,
que é que vocês acham de darmos uma festa à fantasia na floresta?
TODOS (empolgados) - Apoiado, boa idéia, vamos lá, etc.
LEÔNCIO Muito bem, muito bem, então está decidido. Agora nós precisamos nos
organizar. Uma festa bem feita precisa ser uma festa organizada. Temos
algumas coisas a resolver. Por exemplo, qual será a música?
FELISBERTA Ora, nós já temos uma música tão bela na floresta, o canto das cigarras, os
pássaros, o som das águas dos riachos.
LEÔNCIO Dona...
FELISBERTA Felisberta.
LEÔNCIO Dona Felisberta, isso nós já temos todos os dias. Agora, nós queremos
uma coisa diferente, portanto esse tipo de música que a senhora está
falando não serve. Tem que ser música cantada por um profissional, ou
música mecânica.
RISADINHA (sempre rindo muito) - Ué, e tem música que é mecânica?
LEÔNCIO Sua burra, quer dizer, sua hiena, música mecânica é musica de um toca-
discos ou um gravador.
RISADINHA Ahhhh! Entendi.
FELISBERTA Isso vai ser difícil.

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ROSÁCEO Eu tenho uma idéia. Eu posso aprender umas músicas dos cantores
humanos famosos e cantar na festa.
LEÔNCIO Muito bem, é uma boa idéia, afinal, se a festa é uma imitação das festas
dos humanos, nada mais justo que utilizemos a música deles.
FELISBERTA Mas a nossa música...
LEÔNCIO Dona Felisberta, isso já está resolvido e consensuado pela assembléia.
Vamos ao próximo ponto: a comida.
TROMBÃO Oba!
CHICO MICO Que tal uma torta de banana?
TROMBÃO Ou um suflê de amendoim?
LEÔNCIO Nã nã nã não.Temos que fazer uma comida também parecida com a dos
humanos, para que a festa seja mais realista, é claro. (Lambendo os
beiços) Que tal fazermos um churrasco?
FELISBERTA Acho uma péééééssima idéia. Carne vermelha faz mal ao coração,
aumenta o colesterol, causa azia. Sou completamente contra a idéia.
LEÔNCIO Bom, então poderia ser uma... Feijoada?
ROSÁCEO Absolutamente! Feijoada engorda e também aumenta o colesterol. Além
de atacar o estômago... Um horror. Sou contra.
LEÔNCIO Está bem, está bem. Então, alguém quer sugerir alguma coisa?
TROMBÃO Que tal uma lasanha?
FELISBERTA Bolonhesa, nem pensar.
TROMBÃO Quatro queijos.
FELISBERTA Assim, sim. Até ajudo a fazer o queijo.
LEÔNCIO Então está combinado. Quanto às fantasias, usem a criatividade de vocês.
Ficamos combinados que a festa será amanhã, tudo bem?
TROMBÃO De noite ou de dia?
LEÔNCIO De noite, é claro.
TROMBÃO Mas à noite a gente está dormindo.
LEÔNCIO Mas festa tem que ser à noite, ora essa. Durmam de dia para estarem bem
dispostos à noite.
(Luz cai em resistência.).

CENA II

ACERVO ZAPCHAU 6
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(Noite, na festa, todos fantasiados: Felisberta de mestre-cuca, Trombão


de médico, Rosáceo de Roberto Carlos, Risadinha de advogada, Chico
Mico de policial, Leôncio de juiz. Este e Felisberta não estão presentes.).
TROMBÃO Vocês sabem como é que se faz para passar um homem por uma porta
fechada sem abri-la?
TODOS Não!
TROMBÃO Põe ele dentro de um envelope e joga por debaixo da porta.
(Todos riem.).
RISADINHA E agora, senhoras e senhores, a grande atração da noite - além da comida,
é claro, he, he, he - o grande cantor e compositor Rosáceo Carlos. (Todos
aplaudem)
ROSÁCEO (imitando o Roberto Carlos) - Muito obrigado, muito obrigado! São
tantas emoções... Eu gostaria de dedicar esta canção - que eu compus com
meu amigo Erasmo Carlos - a alguém muito especial, que é muito, mas
muito importante para mim - a lasanha.
Eu como tanto porque negar
De outro jeito não sei viver
Como é grande a minha fome por você
Por que eu tenho que esperar
Para poder te devorar
Como é grande a minha fome por você
Nem mesmo o céu
E a sobremesa
Nem a barriga do Trombão
Nada é maior que a minha fome
Nem mais cruel
Dia e noite fico a pensar
Seja no almoço ou no jantar
Como é grande a minha fome por você
Nunca me esqueço nenhum minuto
Que a minha fome é a maior do mundo
Como é grande a minha fome por você
(Todos aplaudem euforicamente. Enquanto alguns gritam “Mais um,
mais um”, Trombão grita “Comida, comida”. Todos param e o observam
severamente.).
CHICO MICO Com licença. O cidadão está atrapalhando o espetáculo do senhor
Rosáceo Carlos e perturbando a ordem pública. Como autoridade eu sou
obrigado a pedir ao senhor que se cale. (Os outros dispersam-se pela
festa.).
TROMBÃO Mas eu só estou querendo jantar. Já são quase nove horas da noite e eu
ainda não comi nada. Passei o dia inteiro fazendo esta fantasia de
médico...

ACERVO ZAPCHAU 7
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CHICO MICO Acontece que o senhor está incitando a desordem.


TROMBÃO Mas...Mas... Mas eu só quero...
RISADINHA Com licença.
CHICO MICO Quem é a senhora?
RISADINHA (entregando-lhe um cartão de visitas) - Doutora Risadinha Benevides de
Alcântara e Silva, advogada. (Para Trombão) - O senhor já tem
advogado?
TROMBÃO Advogado, pra quê?
RISADINHA Como pra quê? Para processar esse policial por danos morais, ora bolas.
Ele lhe agrediu, meu senhor. Ouvi claramente ele lhe chamar de cidadão.
Há várias testemunhas presentes que podem confirmar.
CHICO MICO Se a senhora quiser, vá reclamar para o delegado. Só estou cumprindo o
meu dever de manter a ordem pública.
RISADINHA Para isso o senhor não precisa ficar chamando o senhor Trombão de
cidadão.
CHICO MICO Olha aqui, eu o chamo do que eu quiser...
RISADINHA O meu cliente não tem a obrigação de continuar ouvindo desaforos do
senhor. Se quiser continuar a conversa, trate de conseguir uma intimação
para que o senhor Trombão compareça à delegacia para maiores
esclarecimentos. Passar bem.
(Afasta-se com Trombão.).
TROMBÃO Nervoso, esse policial.
RISADINHA Tem que se ter muito cuidado quando tratar com esse tipo de gente.
FELISBERTA (que chega, gritando) - Atenção! Dentro de meia hora será servido o
jantar.
TROMBÃO Meia hora, tudo isso!?
ROSÁCEO Eu pensei que ia ter mais comida nessa festa.
TROMBÃO Eu também. Por que é que a gente não pode simplesmente comer, já que
estamos com fome?
FELISBERTA Assim que o amigo Leôncio terminar o molho da lasanha vocês comem.
Por sinal, o amigo Leôncio foi o único que se dispôs a me ajudar...
RISADINHA Mas se eu fosse ajudar quem defenderia a lei na festa?
CHICO MICO E se eu fosse ajudar, quem cuidaria da ordem na festa?
TROMBÃO E seu eu fosse ajudar, quem atenderia os doentes?
ROSÁCEO E seu fosse... (Dá um sonoro arroto.).
CHICO MICO Seu porco!

ACERVO ZAPCHAU 8
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RISADINHA A-há! Outro processo. Senhor Rosáceo, tome aqui o meu cartão. O senhor
pode processar este policial por difamação. E ainda terá direito a uma
rechonchuda indenização. (Para Chico Mico, também entregando-lhe seu
cartão) E o senhor, se quiser, também poderá me procurar para que eu
seja sua advogada de defesa. (Leôncio entra com a comida. Todos os
bichos ficam de olhos, apreensivos. Trombão e Rosáceo olham extasiados
para a lasanha.).
TROMBÃO Olha o jantar aí, gente! (Todos correm; alvoroço.).
LEÔNCIO Atenção, calma, pessoal, calma! Vamos fazendo uma fila.
(Fazem uma fila sob protestos. Leôncio não participa da fila pois vai
servi-los; Risadinha é a última.).
TROMBÃO Amigo Leôncio não vem para a fila?
LEÔNCIO Não, quer dizer, é que eu não estou com muita fome. Eu prefiro servi-los,
depois eu como.
(Enquanto Leôncio serve os outros e segue o diálogo abaixo, Rosáceo
esgueira-se para chegar à mesa e come um pedaço da lasanha sem que
os outros vejam.).
RISADINHA Ei, esse negócio não está certo. Se eu entendi bem, serei a última a
comer?
CHICO MICO Se a senhora é a última da fila...
RISADINHA (saindo da fila) - Absolutamente. Isso é discriminação às mulheres. Só
porque vocês são machos, acham que nós mulheres temos menos
direitos? Vou processar todos vocês! Todos vocês! (Os outros repudiam,
protestam.).
CHICO MICO Atenção, vamos organizar essa bagunça. (Para Trombão) E o cidadão
faça o favor de calar a boca.
TROMBÃO Se me chamar de cidadão novamente, eu processo você.
(Rosáceo sente-se mal, cambaleia e desmaia.).
FELISBERTA Vejam só, pessoal, o Rosáceo desmaiou. (Todos correm.).
CHICO MICO Muito bem, muito bem, fiquem todos calmos, e abram espaço para que
ele possa respirar. Um médico, por favor, tem algum médico presente?
TROMBÃO Eu.
CHICO MICO Aproxime-se, doutor, e veja o que é que o senhor pode fazer.
(Trombão a ausculta com sua tromba, examina seus olhos e sua língua.).
FELISBERTA E então, doutor?
TROMBÃO Ele foi envenenado.
TODOS Oooooh!

ACERVO ZAPCHAU 9
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FELISBERTA Mas o Rosáceo passou o dia inteiro sem comer nada, só esperando a hora
da festa. Como é que ele foi envenenado?
CHICO MICO Só existe uma explicação: a lasanha. (Mostra o pedaço roubado na mão
de Rosáceo.).
TODOS Oooooh!
RISADINHA Mas então todos nós...
CHICO MICO Exatamente. Alguém tentou matar-nos a todos colocando veneno na
lasanha.
TODOS Oooooh!
TROMBÃO Ainda bem que eu não comi.
TODOS Nem eu, nem eu...
RISADINHA Mas se a lasanha foi preparada aqui mesmo e apenas nós estamos
presentes, significa que...
CHICO MICO O culpado é um de nós.
TODOS Oooooh!
CHICO MICO Portanto, por via das dúvidas, está todo mundo em cana.
FELISBERTA Um momento, senhor policial. Já que todos nós somos suspeitos, isso
significa que o senhor também é suspeito.
CHICO MICO Mas eu sou um homem, quer dizer, um macaco da lei.
RISADINHA E eu sou uma advogada de respeito.
TROMBÃO E eu, um médico.
LEÔNCIO E eu, um juiz.
FELISBERTA Não interessa, o criminoso pode ser qualquer um de nós.
LEÔNCIO Inclusive a senhora, dona Felisberta, que foi quem preparou a lasanha.
FELISBERTA Inclusive eu, sim senhor. Até provarmos alguma coisa, todos aqui
presentes são suspeitos.
LEÔNCIO Eu tenho uma idéia. Vamos fazer um julgamento.
TODOS Julgamento!?
LEÔNCIO Sim. Já que todos são suspeitos, então cada um terá que apresentar provas
que o isente da culpa. Eu, como juiz, presidirei a sessão e as crianças
(Aponta para a platéia) serão os jurados.
RISADINHA Muito justo, meritíssimo.
(Posicionam-se em cena como em um tribunal.).
LEÔNCIO Muito bem, vamos então dar iniciar ao julgamento: em primeiro lugar,
chamo para depor, dona Felisberta, a responsável pela lasanha.

ACERVO ZAPCHAU 10
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Aproxime-se, dona Felisberta, e erga a pata direita, por favor. A senhora


jura dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade?
FELISBERTA (com a pata direita erguida) - Juro.
LEÔNCIO Dona Felisberta, quais os ingredientes que a senhora utilizou para fazer a
lasanha?
FELISBERTA Massa para lasanha, farinha de trigo, alho, pimenta do reino, sal, além dos
queijos provolone, mussarela, gorgonzola e parmesão.
LEÔNCIO A senhora observou as datas de validade de todos os produtos?
FELISBERTA Claro que sim.
LEÔNCIO Inclusive os queijos?
FELISBERTA Eu não compro nada sem olhar antes a data de validade.
LEÔNCIO Enquanto fazia a lasanha chegou a prová-la em algum momento?
FELISBERTA Várias vezes.
LEÔNCIO E não sentiu-se mal?
FELISBERTA De forma nenhuma.
LEÔNCIO Há quanto tempo a senhora faz lasanhas?
FELISBERTA Essa foi a primeira vez.
LEÔNCIO Ahá! Quer dizer que a senhora nunca fez uma lasanha, hein?
FELISBERTA Claro que não. Eu sempre como o meu matinho da floresta, umas espigas
de milho, mas lasanha, nunca fiz.
LEÔNCIO Sendo uma cozinheira inexperiente, a senhora tem consciência que
arriscou a vida de todos nós da floresta ao preparar uma comida que não
conhecia?
FELISBERTA Mas eu segui a receita...
LEÔNCIO Isso não quer dizer nada. A senhora pode ter errado na quantidade de
algum ingrediente e isto pode ter sido a causa da morte do amigo
Rosáceo.
TODOS Oooooh!
LEÔNCIO E onde está essa receita? Ela é uma prova fundamental para o caso.
FELISBERTA Ah, deixe-me ver (Procura nos bolsos e no chapéu). Eu... Eu... Não estou
encontrando.
LEÔNCIO Quer dizer, então, que a senhora eliminou uma prova importantíssima
para o esclarecimento desse caso!?
FELISBERTA Eu só não estou encontrando, deve ter ficado...

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LEÔNCIO Muito bem, muito bem, já chega. (Para a platéia) Senhoras e senhores,
crianças e crianças, vocês acabaram de ver um depoimento muito suspeito
de dona Felisberta. Sendo ela a responsável pelo preparo da lasanha, e
nunca tendo feito uma em sua vida, que é que vocês acham, ela é inocente
ou culpada? (Aguarda reação da platéia, que pode ser favorável à ré ou
não.) Muito bem, muito bem, mas ainda é cedo para tomarmos qualquer
decisão. Vamos ouvir o próximo suspeito: a senhorita Risadinha.
Senhorita Risadinha, queira aproximar-se.
RISADINHA Pois não, meritíssimo.
LEÔNCIO Jura dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade?
RISADINHA (pata erguida) - Juro.
LEÔNCIO Senhorita Risadinha, onde a senhora estava na hora do crime?
RISADINHA Eu estava aqui, como todo mundo.
LEÔNCIO Deixe-me refazer a pergunta, então. Onde a senhorita estava na hora em
que a lasanha foi envenenada?
RISADINHA Mas eu não sei a hora em que a lasanha foi envenenada.
LEÔNCIO Quer dizer que a senhorita não sabe, hein?
RISADINHA Talvez eu estivesse caçando, ou talvez passeando pela floresta, ou...
LEÔNCIO Talvez, talvez, talvez. Seu depoimento está muito obscuro, senhorita
Risadinha. Lembre-se que tudo o que disser poderá ser usado contra a
senhorita.
RISADINHA Eu conheço muito bem a lei, meritíssimo.
LEÔNCIO No momento em que o companheiro Rosáceo tombou fulminado pelo
veneno, observei que a senhorita estava rindo, senhorita Risadinha, rindo.
Em um momento tão dramático, onde todos deveriam estar consternados,
solidários à dor do companheiro Rosáceo, a senhorita estava rindo...
RISADINHA Mas eu estava rindo de outra coisa...
LEÔNCIO Isso não justifica sua atitude. Quem sabe se aquela risada não seria uma
risada de satisfação pelo sucesso do seu plano maligno?
RISADINHA Se o senhor meritíssimo me permite...
LEÔNCIO Não permito coisa nenhuma.
RISADINHA Eu tenho direito a uma defesa justa. (Tumulto dos outros bichos.).
LEÔNCIO Silêncio no tribunal, bando de animais, quer dizer, senhoras e senhores.
Senhorita Risadinha, pode voltar ao seu lugar.
RISADINHA Mas...
LEÔNCIO Por favor, senhorita Risadinha.

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Festa Na Floresta

(Ela volta para junto dos outros.).


LEÔNCIO (para a platéia) - Então o que vocês acham sobre o estranho
comportamento da senhorita Risadinha? Ela é culpada ou inocente?
(Aguarda.) Vamos agora chamar para testemunhar o senhor Chico Mico.
(Ele se aproxima.).
LEÔNCIO Jura dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade?
CHICO MICO Juro.
LEÔNCIO Senhor Chico Mico, o senhor possui algum álibi?
CHICO MICO Não, senhor.
LEÔNCIO De acordo com suas investigações, o senhor é capaz de apontar alguma
nova pista que possa ajudar a esclarecer esse mistério?
CHICO MICO Não, senhor.
LEÔNCIO O senhor costuma agir de maneira que atente contra o bem geral dos
animais da floresta?
CHICO MICO Claro que não, senhor.
LEÔNCIO Ahá! Então vai negar que, ao comer suas bananas, o senhor não joga as
cascas pelo chão pondo em risco todos os animais de escorregarem e
levarem uma queda mortal?
CHICO MICO Mas nunca um bicho levou uma queda...
LEÔNCIO O senhor joga ou não joga as cascas de banana no chão?
CHICO MICO Jogo.
TODOS Oooooh!
LEÔNCIO Muito bem, é o suficiente. Pelo que vimos, o senhor Chico Mico, já tem
um histórico de vida bastante comprometedor. Que é que o júri acha a
respeito do senhor Chico Mico? (Aguarda.) Que venha o próximo
suspeito. (Aproxima-se Trombão.).
LEÔNCIO O senhor jura dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a
verdade?
TROMBÃO (com a pata direita erguida) - Juro.
LEÔNCIO Muito bem, senhor Trombão. Se não me falha a memória, foi o senhor
quem sugeriu a lasanha, não?
TROMBÃO Fo... Foi, sim senhor.
LEÔNCIO E por que o senhor sugeriu a lasanha?
TROMBÃO Bem, é que... Eu achei que... Pra falar a verdade eu... Talvez...
LEÔNCIO Não tem explicação, hein! O senhor certamente já tinha um plano
diabólico traçado quando sugeriu que fizéssemos a lasanha, não?

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Festa Na Floresta

TROMBÃO Mas... Mas...


LEÔNCIO Outra coisa. É verdade que o senhor e a vítima certa vez disputaram o
concurso de quem conseguia comer mais melancias?
TROMBÃO Sim, é verdade.
LEÔNCIO E é verdade também que ao perder o senhor disse a ele em alto e bom
som que - abre aspas - isso não vai ficar assim, Rosáceo?
TODOS Oooooh!
LEÔNCIO E o senhor pode ter então cumprido sua ameaça e se vingado do pobre
Rosáceo.
TODOS Oooooh!
LEÔNCIO Mas... Mas...
LEÔNCIO Para mim, tudo está muito claro. A partir de agora, o tribunal entra em
recesso para que o júri tome a sua decisão. Que ela seja escrita em uma
folha de bananeira e entregue a mim.
(Luz cai em resistência.).

CENA III
(Felisberta e Trombão em um local da floresta.).
TROMBÃO Puxa, dona Felisberta, maldita hora em que eu fui sugerir aquela lasanha.
Agora todos estão pensado que eu sou o culpado.
FELISBERTA Que nada, Trombão! Garanto que eu é que serei condenada. Afinal, fui eu
que preparei a lasanha. Mas eu sou inocente, Trombão, juro que sou.
TROMBÃO E eu também, dona Felisberta.
FELISBERTA Na verdade, todos os bichos estão com muito medo.
TROMBÃO É, essa história de tentar imitar as pessoas não deu muito certo.
FELISBERTA Melhor se nós nunca tivéssemos deixado nossa vidinha aqui na floresta
para fazer essa festa. Você viu o que aconteceu com nosso amigo Chico
Mico? Parece que acredita mesmo que é um policial - todo cheio de
autoridade.
TROMBÃO E a Risadinha? Querendo processar todo mundo! Só falando em lei.
FELISBERTA Desde quando bicho tem lei?
TROMBÃO E tribunal!
FELISBERTA Processo!
TROMBÃO Culpa!
FELISBERTA Pena!

ACERVO ZAPCHAU 14
Festa Na Floresta

TROMBÃO Bem, pena, os passarinhos têm.


FELISBERTA Não, Trombão, estou falando de pena no sentido de condenação, punição.
TROMBÃO Aaah!
FELISBERTA Espera, Trombão, acho que nós esquecemos uma coisa.
TROMBÃO O quê?
FELISBERTA Uma coisa importantíssima: esquecemos de investigar a lasanha.
TROMBÃO Investigar a lasanha!?
FELISBERTA Claro! Afinal, é a arma do crime.
TROMBÃO Tem razão, dona Felisberta.
FELISBERTA O estranho é que o juiz, quer dizer, o senhor Leôncio não tenha se
lembrado disso.
TROMBÃO É realmente muito estranho.
FELISBERTA Vamos aproveitar agora enquanto o tribunal está de recesso e vamos
examiná-la.
TROMBÃO Vamos lá.
(Black-out.).

CENA IV
(Leôncio sozinho. Tira o disfarce de juiz e de leão e vemos um homem de
ter terno e gravata.).
LEÔNCIO Ah, como são burros, esses animais! Burros e gulosos. Aquele porco
faminto quase pôs meu plano a perder. Na verdade, era para que todos
eles tivessem comido a lasanha envenenada que EU envenenei. Assim, eu
poderia ficar com a floresta para mim e construir meu Shopping Center
novo; não teria ninguém para me atrapalhar. Mas como eu sou muito mais
esperto do que eles, vou aproveitar essa história de julgamento e fazer
com que todos sejam condenados. Condenados à extinção. Desta maneira,
conseguirei, me livrar de todos eles de uma só vez. Mas vejamos, já está
na hora de voltar ao tribunal. (Vai saindo e detém-se, volta-se para a
platéia, mostrando uma folha de bananeira.) E quanto à sentença, sinto
muito, senhores jurados, mas ela será escrita por mim, somente por mim.
E os animais pensarão que foram vocês que os condenaram.
(Gargalhada.) Meu plano é perfeito! Perfeito! E infalível.

ACERVO ZAPCHAU 15
Festa Na Floresta

CENA V
(Todos de volta ao julgamento, exceto Felisberta e Trombão. Leôncio
bate com um martelo à mesa.).
LEÔNCIO Ordem, ordem no tribunal! Os senhores jurados chegaram a uma sentença
- está escrita nesta folha de bananeira - e eu a lerei agora. É preciso que
todos entendam que esta é uma decisão tomada exclusivamente pelos
senhores jurados, (Aponta a platéia.) em que eu não tive nenhuma
participação. Atenção para a leitura da sentença. (Fica de pé, lendo.) Nós,
crianças e crionças do júri, no cumprimento de nosso dever, declaramos
que os animais - dona Felisberta, senhor Trombão, senhorita Risadinha e
senhor Chico Mico - são culpados pelo envenenamento da lasanha e a
conseqüente morte do senhor Rosáceo. Bem como formação de quadrilha,
perjúrio, estelionato, extorsão, abuso de poder, corrupção ativa e passiva,
por dirigirem bêbados, assalto à mão armada e falsidade ideológica. E a
punição será a extinção sumária e imediata de todos os culpados.
(Tumulto geral e protestos.) Estão todos condenados à extinção.
RISADINHA Eu não quero ser extinta.
CHICO MICO Nem eu.
FELISBERTA (chegando) - Um momento, por favor.
LEÔNCIO Dona Felisberta, a senhora é um bicho a ser extinto, portanto cale-se.
FELISBERTA Acontece que este julgamento é uma farsa.
LEÔNCIO A senhora ousa contestar a decisão do júri? (Aponta a platéia.).
FELISBERTA Ouso não apenas contestar a decisão do júri como a própria idoneidade do
senhor meritíssimo.
LEÔNCIO Isto é um absurdo! E baseado em quê a senhora apoia suas acusações?
FELISBERTA Na principal prova do crime - a lasanha. (Trombão traz o prato) Este
julgamento não levou em consideração essa prova, que é fundamental
para descobrirmos a verdade.
LEÔNCIO Mas o que pode provar a lasanha? O médico constatou o envenenamento
ao examinar a própria vítima.
FELISBERTA Simples, senhor meritíssimo. Eu e meu amigo Trombão, investigando
minuciosamente esta lasanha, descobrimos isto - pêlos de leão no molho
quatro queijos.
LEÔNCIO Ora, ora grande coisa. A senhora bem sabe que eu a ajudei a preparar o
molho. É natural que tenham caído alguns pêlos meus, assim como
poderia ter caído pêlos da senhora.
FELISBERTA Pois se o senhor meritíssimo acha que não há nada de errado com essa
prova, gostaria de submetê-la à avaliação dos outros animais.

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Festa Na Floresta

LEÔNCIO Bom, não vejo nada de errado com isso. Digamos que vou lhe conceder-
lhe essa vontade como seu último desejo.
FELISBERTA (para Chico Mico) - Amigo Chico Mico, por favor, utilize seu olfato e
cheire esses pelos. (Assim o faz.) Agora, amiga Risadinha, experimente
também. (Ela cheira.) Muito bem. Eu e o amigo Trombão já temos nossa
própria avaliação. E a conclusão é que esses pêlos não são pêlos de leão e
sim de...
TODOS ...Algodão.
TROMBÃO O que prova que o senhor meritíssimo não é um leão de verdade.
FELISBERTA Mas está usando um disfarce de leão.
CHICO MICO Um impostor.
LEÔNCIO Isso é um absurdo, vocês estão enganados. Eu sou um leão verdadeiro,
sou o rei das selvas.
FELISBERTO Chico Mico, examine-o.
(Chico Mico tira-lhe a roupa de leão, desmascarando-o.).
TODOS Oooooh!
TROMBÃO Um ser humano.
FELISBERTA Hei, eu estou lhe reconhecendo. O senhor é o inescrupuloso empresário
Fulano de Tal de Osório Pereira.
TODOS É é ele, sim.
FELISBERTA Que ficou milionário com o desmatamento de florestas para construção de
prédios e shopping center.
RISADINHA E que queria extinguir a todos nós com seu plano maligno.
LEÔNCIO E por muito pouco não consegui, seus animais desgraçados.
FELISBERTA Queria que todos nós morrêssemos envenenados para ficar com a floresta
só para ele.
LEÔNCIO E construir meu novo Shopping Center, todo com teto de vidro, milhares
de luzes coloridas, fontes d’água, lindo, maravilhoso. (Para a platéia.)
Vocês devem concordar que um Shopping Center é uma coisa muito boa -
lá as pessoas poderão fazer compras, as crianças poderão brincar nos
parquinhos ou então...
FELISBERTA Mas para isso não é justo matar os animais ou expulsá-los do lugar onde
moram.
LEÔNCIO Já sei, tive uma idéia excelente! Eu posso construir um zoológico no
Shopping Center para todos vocês morarem lá.
CHICO MICO Morar, não, vivermos presos, o senhor quer dizer!

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Festa Na Floresta

LEÔNCIO Mas vocês terão comida, plano de saúde veterinário, roupa lavada...
TROMBÃO Animal não usa roupa!
LEÔNCIO Ah, sim, é verdade. Mas cada um terá sua jaula exclusiva, personalizada.
RISADINHA E não poderemos mais passear pelo bosque, beber água no riacho,
conhecer outras florestas.
(Ouve-se um estrondoso RUGIDO de leão.).
LEÔNCIO (apavorado) - Bem, então acho que eu vou ter que ir andando... Sabem
como é a vida de empresário, muitos compromissos, reuniões
importantes...
FELISBERTA Como assim, ir andando? Agora o senhor receberá a sua sentença pelo
assassinato do amigo Rosáceo e tentativa de assassinato dos outros
bichos.
LEÔNCIO Mas eu não posso ser julgado por um bando de animais.
FELISBERTA Mas quem vai julgar o senhor não são os animais.
LEÔNCIO Não!?
FELISBERTA Não. Serão as crianças que o julgarão. (Para as crianças da platéia.) E
então, crianças, ele é culpado ou inocente? (Aguarda reação que deve
culpá-lo.) Muito bem! E já que o senhor acha que é tão bom para um
animal selvagem viver preso no meio dos seres humanos, a sua pena será
viver durante muitos anos aqui, entres os animais da floresta.
TODOS Muito bem! Apoiado!
LEÔNCIO Ora, ora, e quem vocês pensam que são para me prenderem aqui? Uma
vaca malhada, um macaco comedor de bananas, um elefante gordo e uma
hiena que só sabe rir.
FELISBERTA Na verdade quem vai ficar cuidando do senhor não será nenhum de nós.
LEÔNCIO Ah, não?
FELISBERTA Não, claro que não. Será o Leoninho Jubinha.
LEÔNCIO Ih, com esse nome ele não deve assustar ninguém.
RISADINHA O Leoninho é um leãozinho muito simpático e meigo.
TROMBÃO Mas só com quem ele gosta.
CHICO MICO Isso mesmo, só com quem ele gosta. De mim, por exemplo, ele é muito
amigo.
(Outro estrondoso RUGIDO.).
FELISBERTA Pelo rugido, é ele que já está chegando.
LEÔNCIO Querem saber de uma coisa? Eu vou é embora logo daqui, antes que esses
animais levem essa história mesmo a sério.

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Festa Na Floresta

(Leôncio deixa o palco. Ouvimos um estrondoso RUGIDO de leão.


Leôncio volta correndo sendo perseguido por Leoninho - pode-se fazer a
cena com a perseguição pela platéia. Leôncio sobe em uma árvore,
apavorado.).
LEÔNCIO É esse o simpático e meigo leãozinho?
FELISBERTA O próprio.
LEÔNCIO Parece que ele não gosta muito de mim.
FELISBERTA É mesmo uma pena!
LEÔNCIO Mas eu quero descer. Tenho que voltar para o meu escritório, tenho meus
negócios para cuidar.
TROMBÃO Ora, assim que o senhor ficar amigo dele, poderá descer.
LEÔNCIO Mas isso pode demorar muito tempo!
RISADINHA Aí depende do senhor.
LEÔNCIO E eu não posso ficar morando aqui em cima. Aqui não é o meu lugar.
CHICO MICO Mas nós cuidaremos direitinho do senhor, lhe daremos água, assistência
médica e roupa lavada.
(Outro rugido.).
TROMBÃO Bom, pessoal, agora que o mistério foi resolvido, que tal fazermos uma
festa com muita comida...
FELISBERTA Nã nã nã nã não. Nada de festas. Isso não é coisa para bicho. Nem festa,
nem Shopping Center. Nós vamos é lá para beira do riacho, tomar um
banho, beber uma aguinha, comer umas frutinhas e tirar uma boa soneca.
Tudo aquilo que a gente gosta mesmo de fazer. (Os animais começam a
deixar o palco.).
TROMBÃO (para Chico Mico) - Chico Mico, já que a gente acabou sem comer nada,
será que você poderia dividir comigo aquela melancia que você achou?
Ela é tão grande... Parece ser tão gostosa...
CHICO MICO Claro, Trombão, ela dá para nós dois. É só parti-la ao meio.
TROMBÃO o meio... Eu estava pensando em dividir assim: um pedaço desse tamanho
pra você (Mostra com as patas um tamanho pequeno) e outro assim para
mim (Mostra um tamanho bem grande.).
CHICO MICO Ora, Trombão, você e seu olho maior que a barriga, hein?
(Terminam de deixar o palco. Leôncio e Leoninho ficam sozinhos.).
LEÔNCIO Amiguinho Leoninhoooo... Deixem-me voltar para minha casa. (Sonoro
rugido.) Você é muito meigo e simpático mesmo, mas é que aqui não é
minha casa, sabe? Eu não fico muito confortável. (Outro rugido.) Afinal,
aqui em cima da árvore não é lugar para um homem com eu ficar... Ai,

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um mosquito me ferroou. Ah, meu Deus, uma cobra! Socorro! Socorro,


alguém me tire daqui! Eu prometo que nunca mais irei fazer mal aos
bichos, eu prometo, mas deixem-me descer...
(Black-out seguido de outro estrondoso rugido de Leoninho.).

Fim.

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