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Autor: Mia Couto Nome da Obra:

Estudante: Allan Caifadine Paulo 1. A Rosa Caramela (pagina 13)


2. O apocalipse privado do tio Guegê (pagina 27 a 36)
3. Rosalinda, a nenhuma (p. 49, p.51, p.54)
4. O embondeiro que sonhava pássaros (Pagina 61)
5. A princesa russa (p.73)
6. O pescador cego (p. 61, p.95, p. 97, p. 97)
7. O ex- futuro padre e sua pré- viúva (pagina107)
8. Mulher de mim
9. A lenda da noivo e do forasteiro (p. 131)
10. Sidney Poitier na barbearia de Firipe Beruberu (p.147)
11. Os mastros do Paralém (p. 165)

Editora: Companhia das Letras Data: 2023


Número de Páginas: 200
Ano de Publicação: 2013

Titulo: Cada Homem é uma Raça

Resumo:

1. A Rosa Caramela
Acendemos as paixões no rastilho do próprio coração. O que amamos é sempre chuva, entre voo da
nuvem e a prisão do charco. Afinal, somos caçadores que a si mesmo azagaiam. No arremesso
certeiro vai sempre um pouco de quem dispara.
Um conto triste, lírico. A história é de uma mulher misteriosa que enlouquece por ter sido
abandonada na porta da igreja. Ela tem o rosto lindo, mas o corpo é disforme, corcunda, motivo de
burla desde criança. A falta de amor mata sim, se não matar o corpo (que às vezes acontece), faz
morrer a alma ou o que for, mas mata. O final não é tão surpreendente, mas nem por isso o conto
deixa de ser bom.
2. O apocalipse privado do tio Guegê
– Pai, ensina- se a existência.
-Não posso. Eu só conheço um conselho.
– E qual é?
– É o medo, meu filho.
Um homem recorda a sua infância, ele foi abandonado pelos pais ainda recém- nascido e o seu tio
Fabião Guegê o toma para criar. O tio nega os valores tradicionais de família, mas ainda assim
acolhe uma outra sobrinha, Zabelani, da idade do menino. O tio é cheio de mistérios, soldado da
milícia, sempre ausente.
A melhor família qual é? São os desconhecidos parentes de estranhos. Só esses valem. Com os
outros, intrafamiliares, nascemos já com dívidas.
O jovem casalzinho apaixona-se, têm relações sexuais e o tio manda a menina embora. O homem
mesmo sendo soldado, ensina e ordena que o menino a roube. O sobrinho faz muitas maldades,
aprende. Cresce, vira também soldado e ladrão, como o tio. “Os amores enfraquecem o homem”, diz
o tio. Esse é um conto triste, trágico, que faz pensar no drama das relações familiares. Às vezes é
melhor estar sozinho.
3. Rosalinda, a nenhuma
É preciso que compreendam: nós não temos competência para arrumarmos os mortos no lugar
eterno.
Esse conto é sobre a viúva Rosalinda, que engordou por desleixo, esqueceu de si mesma depois da
morte do marido e fica mascando “mulala” (uma raíz que deixa a boca alaranjada). Eu não gostei de
uma comparação que Mia colocou na boca do seu narrador sobre a obesidade feminina, compara
essas mulheres com a calma bovina, como se fossem obesas por gosto, como se não as incomodasse,
nem mesmo a vida as incomoda, como se a obesidade também tirasse a capacidade de desacordo
com as coisas da vida, a gordura traz o comodismo, o que é muito distante da verdade. Se ele falasse
só de Rosalinda, tudo bem, mas generalizou:
As mulheres gordas não zangam a vida: fazem lembrar os bois que nunca esperam tragédias.
Literatura serve para muita coisa e para isso também, para indignar. Quanta gente deve pensar assim
como esse narrador, não é? Não confundam o narrador da história com o Mia Couto, a voz do
narrador é fictícia, não é o escritor.
Rosalinda carrega infinitas tristezas, a morte de todos os parentes, está sozinha, faz visitas ao
cemitério num clima de muita tristeza. O marido falecido era alcoólatra, mulherengo e batia na
mulher. Jacinto nem a chamava pelo nome certo, ela era Lauridinha, Laurinda, a outra, que apareceu
no dia da morte do homem e ainda teve que disputar o túmulo de jacinto com a outra, a Dorinha. O
marido dizia:
– Teu nome, Rosalinda, são duas mentiras. Afinal, nem rosa, nem linda.
A submissão e o desejo de ser amada de Rosalinda a fez aguentar tudo. O amor que não é amor, é
outra coisa nem menos saudável. Rosalinda encontrou uma forma inusitada de vingança e foi aí que
passou a ser nada mesmo.
4. O embondeiro que sonhava pássaros
Pássaros, todos os que no chão desconhecem morada.
O vendedor de pássaros não tem nome, é só o “passarinheiro”. Os colonos do lugar colocam medo
nos filhos, plantando desconfiança em relação à alegre presença do vendedor, o chamam de “preto”
despectivamente, dizem que ele “suja o bairro”. Tiago, um menino sonhador, desobedece às ordens
do pai e vai ver o passarinheiro, que traz aves de infinita beleza. Os portugueses incomodados com a
presença feliz do negro, como ele se atreve a existir?! O homem mora num tronco de árvore, um
embondeiro, dizem, tem poderes sobrenaturais; gaita do homem, também. O velho passarinheiro é
espancado e preso. Seu crime? Ser negro, simples e feliz. O final de Tiago é um poético triste final.
5. A princesa russa
Um conto racial sobre a desigualdade entre negros e brancos. Essa história começa com uma
confissão sobre o passado numa igreja. Uma russa chamada Nádia chega na vila de Manica, uma
princesa que chega com o marido Iuri. O marido compra umas minas de ouro, esperando ficar rico.
O confessor é um empregado coxo e negro do casal, Duarte Fortin. A princesa sempre reclusa na sua
casa cheia de luxos e o marido nas minas. Um dia ela visita as instalações onde dormem os
empregados e fica horrorizada com a pobreza. A mina desaba, Fortin e os outros empregados da casa
foram ajudar no resgate. Fortin desiste, não aguenta assistir aos corpos mutilados. A princesa deixou
seu verdadeiro amor, Anton, na Rússia e adoece. Delirando, a russa pede a Fortim que a leve à
estação para buscar Anton. Fortin deseja a princesa, sonha com ela, desvia o caminho para a beira do
rio, quer se fazer passar por Anton e a deixa ali, deitada, na beira do rio. O conto é fantástico, um dos
mais impressionantes.
6. O pescador cego
O barco de cada um está no seu próprio peito. (Provérbio macua)
Eu tenho que reproduzir o primeiro parágrafo que dá o tom do texto inteiro, veja a beleza da
escritura existencialista de Mia Couto:
Vivemos longe de nós, em distante fingimento. Desaparecemo- nos. Porque nos preferimos nessa
escuridão interior? Talvez porque o escuro junta as coisas, costura os fios do disperso.No aconchego
da noite, o impossível ganha a suposição do visível. Nessa ilusão descansam os nossos fantasmas.
Esse conto é todo bonito e triste, daqueles que encolher o coração. É a história de um pescador,
Maneca Mazembe, que ficou cego de uma maneira escabrosa, arrancou o próprio olho com uma faca
e o espetou num anzol para poder pescar em alto- mar e poder comer. A fome enlouquece. Um olho
por um peixe! A normalidade na família de Maneca era o machismo com a mulher Salima, que
sentiu até falta do marido quando deixou de surrá- la. Maneca não admitia que Salima saísse para
pescar agora que ele já não enxergava.
Muitas vozes, afinal, só produzem silêncio.
7. O ex- futuro padre e sua pré- viúva
A vida é uma teia tecendo a aranha. Que o bicho se acredite caçador em casa legítima pouco importa.
No inverso instante, ele se torna cativo em alheia armadilha. Confirma- se nesta estória sucedida em
virtuais e miúdas paragens.
O menino Benjamim Katikeze vivia na igreja, nem queria brincar, era um aprendiz dedicado, queria
ser padre. Cresceu e aparece Anabela, “anabelíssima”. Ela não queria nenhum outro, só o recatado
Benjamim. Ela dava em cima do moço, mas ele resistia sob os olhos incrédulos dos homens da
cidade. O pai da moça, Juvenal, foi remediar a situação e bateu na porta de Benjamim para marcar a
data do casamento. Casaram. “Ele maridou- lhe, mas não exerce a soberania.” Xiiiiiii! Será feitiço?
8. Mulher de mim
O Homem é o machado; a mulher é a enxada. (Provérbio moçambicano)
Esse é o conto mais hermético e místico, acontece num mundo paralelo, onírico, o mundo dos
mortos e dos vivos que formam “uma só tela”. Um homem que sonha e encontra- se uma mulher que
quer nascer nele. A reencarnação?
9. A lenda da noivo e do forasteiro
Eis o meu segredo: eu já morri. Nem essa é a minha tristeza. Me custa é haver só uns que me
acreditam: os mortos.
Um forasteiro chega com seu cachorro numa terra distante e provoca muita desconfiança nos locais,
o intruso passa a estar na boca de todos. O cão não late, pia e dizem solta uma baba verde, ácida.
Começaram a desaparecer coisas no lugar e os moradores acharam uma solução inusitada para
resolver o problema com o estrangeiro. Jauharia serviu de oferenda ao forasteiro, só uma mulher bela
poderia acalmar o forasteiro, pensaram. Ela era noiva de Nyambi. O conto possui um tom de lenda,
sobrenatural, a noiva sumiu e, dizem, foi o estrangeiro que a sorveu, quando ela transformou- se em
água.
10. Sidney Poitier na barbearia de Firipe Beruberu
Império: em pé, rio a bandeiras despregadas.
A barbearia de Firipe fica debaixo de uma árvore. O barbeiro é boa praça, adora distribuir
“dákámaus” (apertos de mãos), sempre sorridente e se gaba de já ter cortado cabelo fino de branco. E
os amigos não acreditam que ele é um barbeiro de elite. Firipe mostra um postal de Sidney Poitier e
diz que foi cliente seu. E os amigos continuam sem acreditar, como é que um moço americano e rico
iria numa barbearia dessas? O conto inteiro passei sorrindo, mas no final, um murro no estômago.
11. Os mastros do Paralém
Só um mundo novo nós queremos: o que tenha tudo de novo e nada de mundo.
Constante Bene e seus filhos, Chiquinha e João Respectivo, estão presos na cabana em casa há
dezessete dias por causa da chuva. São caseiros de um sítio nas montanhas, Paralém, chamam assim
o lugar, pois têm medo de ultrapassar o outro lado da montanha. Passa um mulato, só passou, não
pediu abrigo. O homem é um guerrilheiro. O pai (Contante Bene) teve um mau presságio que mais
tarde se confirmou. O pre- julgamento que causa injustiças.

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