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Num certo dia, no meio de uma de suas exibições, foi interrompido por
Geraldinho dizendo que queria uma partida contra ele, isso, se fosse colocado em jogo
sua “olho de gato chinesa”. Era a mais bonita bolinha de gude da coleção de Pedrinho.
Foi seu tio que a comprara em uma de suas viagens ao Rio de Janeiro. Vivia com ela
no bolso, como se fosse sua bolinha da sorte, e não colocava em jogo com medo de
lascar ou quebrar.
Geraldinho ofereceu em troca o seu “rojão”, sua melhor bolinha, bem inferior e
de cor opaca. O exibicionista não pensou duas vezes, já que estava com muita vontade
de jogar e aceitou o desafio. Ia ser fácil, Geraldinho era um jogador mediano, e
considerava-se além do seu nível. Daria um show mais uma vez.
Mas, naquele dia, algo saiu errado: Geraldinho jogou como nunca e, para
espanto de todos, ganhou a “olho de gato chinesa”. O perdedor pediu revanche,
implorou, mas ele apanhou todas as bolinhas, colocou no bolso, e foi para casa.
Pedrinho ficou com a missão de recuperar a “olho de gato chinesa”, custasse o
que custasse. Todo o dia implorava uma revanche e, não tendo resultado, começou a
oferecer algo em troca. Era todo o tipo de propostas, de carrinho de lomba a bola nova
de futebol, tudo por apenas uma bolinha de gude. Geraldinho recusava todas. Se
Pedrinho tivesse um irmão maior, com certeza a parada seria resolvida à força.
Geraldinho era mais forte do que ele e pertencia à turma de Tedesco. Deste jeito, ele
não tinha nenhuma chance. Até que um dia, fez a pergunta mais direta do mundo:
Ana clara era sua irmã, tinha 11 anos e era muito bonita. Ainda outro dia, numa
roda de conversas sobre meninas, alguém havia dito que os peitinhos dela já estavam
nascendo, e era só olhar a ponta dos dois biquinhos aparecendo no vestido. O sangue
lhe fervera na cabeça e ferveu novamente agora. A vontade era de esmurrá-lo, encher
aquela cara de socos e pontapés. Teria feito isso se o atrevido não sumisse
estrategicamente da sua frente.
Chegou à triste conclusão de que era melhor esquecer aquela bolinha. Afinal,
poderia arrumar outra, pedindo para o tio comprar quando viajasse novamente, mas
sabia que, igual, era impossível.