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Norma Afonso
NÓS ENVELHECEMOS,
NÃO PORQUE O TEMPO
PASSA, MAS
PORQUE ABANDONAMOS
NOSSOS SONHOS.
(Augusto Cury)
“ O homem é o que ele pensa o dia todo.”
Emerson
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NORMA AFONSO
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(Texto de autor desconhecido)
PREFÁCIO
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Pedro Ivo Bedor Sampaio
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 3
Eu quando mais mocinha, por volta dos meus treze anos, saía
com minha prima Colija, uma moça muito bonita. Quase todos
os domingos de manhã nos vestíamos com o que tínhamos de
melhor e íamos para a sede da orquestra Nova Euterpe. Lá se
realizava uma matinal e se passava a manhã dançando, ao som
da orquestra.
Todas as duas éramos excelentes dançarinas de salão, pé de
ouro, por isso, éramos preferidas dos rapazes para dançar.
As músicas geralmente eram românticas, como bolero, fox,
tango, samba canção, etc...Às vezes éramos convidadas para
cantar em casa das funcionárias da loja, quando havia
aniversários. Minha prima cantava as músicas Quiçá, Besame
mucho e outras,era chic cantar em espanhol.Naquela época se
passava muitos filmes mexicanos e se cantava muitas músicas
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em espanhol dos cantores Bienvenido Granda, Libertar
Lamarque,Augustin Lara e o trio Iraquitam e assim aprendemos
um pouco deste idioma.
Ela passou um período lá em casa, fomos muito ami-
gas.Vivemos muitas aventuras juntas, coisas de adolescentes.
Tornei-me uma boa dançarina de salão por conta de Nilson, que
diariamente, antes do almoço, me pegava e nos púnhamos a
dançar,eu chegava do colégio e ele do trabalho e aí ficávamos
até sermos chamados para o almoço.
Nilson, quando dos bailes promovidos pelo Clube Comercial,
me levava e poderia dançar a vontade. Às 2 horas, porém, ele
me trazia de volta para casa, sem nenhuma objeção minha (sabia
que se assim o fizesse, ele não me levaria mais). Em seguida, ele
voltava para o Clube até o final. Meus pais não impunham
qualquer restrição.
Na companhia do irmão estava ótimo!
Gostava de dançar e cantar, era tão alegre e tão cheia de ilusão
que o que realmente importava era ser feliz. Não existia o
amanhã, a não ser dias de verdadeiro prazer. A infelicidade
consistia em não poder ir a uma festa, um cinema ou qualquer
diversão.
Nunca chequei perto de mamãe para contar alguma coisa que
meus irmãos tivessem feito, nunca me incompatibilizei com
algum deles por isso.
Uma ocasião, meu irmão mais velho, Nilton ganhara do Circo
Garcia, um passe que dava direito a um camarote e a freqüentar
o Circo pelo período em que ele estivesse instalado na cidade.
Nilton trabalhava para uma organização que fiscalizava as
músicas.
Durante todo o tempo que o Circo esteve em Caruaru, eu e
meus irmãos Nisete e Normando não perdemos uma única
apresentação.
Era uma verdadeira maravilha ver os malabaristas, a exibição
dos animais, dos trapezistas, palhaços, e para finalizar a
apresentação uma peça teatral, Escrava Isaura, A Dama das
Camélias ou O Ébrio.As histórias eram muito dramáticas e nos
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púnhamos a chorar.
O Circo ficava perto lá de casa e todas as noites íamos os três
irmãos que deslumbrados com a apresentação, riamos sem
controle.Tudo que os palhaços diziam ou faziam, era motivo de
riso.
Em casa, depois do Circo, eu dizia-lhes:
-Vamos se rir?
E eles em conjunto se punham a sorrir até se urinarem.
Nisete, de tanto rir, dizia:
- Não, por favor, estou me urinando!
Papai, depois de um dia de trabalho, sem poder dormir com o
barulho provocado pelo riso, se levantava e, austero, dizia:
- Vão dormir! E cada um tampando a boca com a mão se
dirigia feliz para sua cama.
Deitada, minha imaginação voava.
- E se eu pudesse ser uma artista de Circo?
- Poderia ser uma trapezista! E, no outro dia, com minha irmã ou
Socorro,tentávamos fazer algumas piruetas que víamos, em cima
do tapete rebolávamos e nos contorcíamos no chão.
Era um mundo de sonhos, a fantasia tomava conta de minha
mente e das minhas amigas.Tudo tinha uma enorme
dimensão,era pura imaginação.Nós não dispúnhamos dos meios
eletrônicos que nos passa uma visão explícita da vida,era tudo
muito etéreo, volátil,dávamos asas a imaginação e pensávamos
ser a princesa onde um dia o príncipe encantado apareceria e
seríamos felizes para sempre.
E assim foi Consuelo outra amiga minha que se apaixonou por
um artista do circo de nacionalidade argentina, o nome dele era
Felipe, todos os dias ele se apresentava em cima do seu fogoso
corcel de cor marron e crina preta, os pelos muito bonito e
sedoso, dava volta pelo tablado e ele fazia o cavalo dançar ao
som de várias canções, delirávamos porque era uma
apresentação muito bonita e principalmente porque ele era um
belo rapaz de estatura alta,magro, de cabelos louros, olhos azuis,
o encanto da mulherada.
Quando o circo foi embora, Consuelo foi com ele para desespero
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dos pais, nunca mais tivemos notícias dela.
Não se tinha acesso as informações que os adultos não
permitissem, portanto como saber da realidade da vida?
Quando mamãe dava a luz a uma criança, dizia que a cegonha a
havia trazido pelo telhado, por isso, ninguém a tinha visto!.
E os filhos se punham a olhar qual o buraco que a cegonha havia
passado.
Nas visitas, os filhos, eram postos para fora da casa, a fim, de
não ouvirem os comentários. A qualquer interferência que os
filhos quisessem fazer, se dizia:
-Criança não se mete em conversa de adulto!
-Vão lá para fora, vão brincar! De papai bastava um olhar para
que logo nos retirássemos.
À noite, antes de dormir, a babá, que geralmente era a madrinha
de apresentação, no batismo, contava estórias de papa-figo, de
bicho papão e Lobisomem.A criançada morria de medo. Se
ficasse na rua, corriam o perigo de serem engolidos pelos
bichos.
As estórias de alma penada deixavam a meninada apavorada, e
contra isso precisava rezar pelas almas do purgatório.Corríamos
para cama e púnhamos os pés sobre ela, pois as almas, poderiam
nos pegar pelo tornozelo.Todas as noites, de joelhos, de mãos
espalmadas, pedíamos ao anjo da guarda, proteção.
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CAPÍTULO 4
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A rua era toda enfeitada, especialmente para as festas do final de
ano.Começava o mês de dezembro e já começavam os
preparativos para a festa.
Por toda parte, eram armadas barracas de comida e carrosséis
em que as crianças e adultos brincavam.
Como era maravilhoso subir nos brinquedos em forma de barcos
e com outra pessoa a puxar a corda até alcançar o mais alto
possível! Um dia passando por este brinquedo,sem prestar
atenção o barco ao ser alçado veio em cima de minha testa e eu
caí desacordada,ao despertar estava com um galo enorme na
testa.Adorava ficar em cima de um cavalo que subia e descia
rodopiando, movido pelo motor do carrossel!
Na frente da Igreja, havia um largo, onde eram montadas umas
barracas, tipo restaurante onde as pessoas mais seletas se
sentavam para beber e ao mesmo tempo, ao som da orquestra,
dançar num tablado armado ao lado.
Dois coretos eram armados,um tablado alto,onde ficava a
orquestra, outro para a orquestra Nova Euterpe e outro para a
orquestra Comercial. Cada uma se esmerava na exibição de suas
músicas.
Ao redor, se formava um passeio, onde as mocinhas com seus
vestidos novos,de braços dados com suas amiguinhas giravam
em busca dos olhares dos rapazes que se plantavam em volta,
tentando conquistar uma namoradinha.
Os mais velhos traziam suas cadeiras e, ao redor de todo pátio,
formavam fileiras para ver o passeio e ouvir o toque das bandas.
Cada um se esmerava no seu traje. Afinal, passava o ano, só
pensando na roupa bonita que iria usar.Até os homens se
fatiotavam todos.
Não existiam roupas esportivas para homem. Se vestiam de
terno e gravata, sempre de cores discretas e na cabeça um
chapéu Ramezón ou Panamá.
Dentro de casa, havia sempre um móvel para se pendurar o
guarda-chuva e o chapéu. Papai ao entrar, tirava o chapéu e o
colocava no porta-chapéu.
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Todos os irmãos já mais adultos ajudavam na loja nessa época,
mas, depois que encerravam o expediente, iam se divertir.
À tarde, sem que meus pais soubessem, eu me juntava com
algumas amigas, íamos a uma lanchonete e com dinheiro de
algumas vendas, nos deleitávamos ao sabor de um gostoso doce
de leite, caldo de cana e pão doce.
Havia também as barracas de jogos de diferentes tipos como:
jogos de roleta, tiro ao alvo,alçando argola e outros onde os
acertadores felizes levavam para casa seus prêmios.
Eram de vários tipos as barraquinhas de comidas, ficava uma
fila de pequenas barracas com seu tipo de alimento,tinha de tudo
bolo,cocada,doces,pipocas, cachorro quente que se fazia numa
panela em cima de um fogareiro para estar sempre quente feito
com carne moída bem temperada no pimentão verde,muita
cebola, como também figo alemão frito e o famoso sarapatel que
se servia com farinha e uma boa dose de cachaça.Ainda havia
geladinha que com um raspador, tomava sua forma que era
colocada em cima das próprias mãos e esta coberta da calda
desejada. Saíamos então sugando o gosto maravilhoso dessa
simples geladinha.
Era uma festa que dava gosto se vê, não havia violência, os pais
podiam ficar tranqüilos.
Desde a mais tenra idade eu e meus irmãos participávamos
ativamente dessa festa, participávamos do ato religioso que a
igreja promovia, dos jogos, pastoril, enfim, da festa inteira, já
que durante o dia, todos trabalhávamos na loja, desde que já
passássemos dos 10 anos.
Eu e Nisete usávamos sempre uns vestidos muito bonitos,
representava o que de melhor mamãe fazia, éramos invejadas
pelas nossas amigas e sabíamos disso.
Quando Nisete participou do pastoril, ficou no lado vermelho,
daí em diante torcíamos pelo vermelho.
Ao romper do ano, papai e toda família se dirigiam para casa e
lá comemorávamos juntos a passagem do ano.Sabíamos que o
ano terminou quando as luzes se apagavam e os fogos
pipocavam.
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Aí nos abraçávamos, desejávamos uns aos outros um ano
maravilhoso e partíamos para saborear a ceia tão bem preparada.
Era uma mesa muito farta, com o característico peru recheado e
o capão. Eram engordados especialmente para essa ocasião. Os
bolos e doces que adornavam a mesa eram preparados pela
empregada, eram doces caseiros como: compota de mamão com
côco, goiabada, manjar etc...A fim de juntos comemorarmos
mais um ano e não faltava o queijo do reino Borboleta que só
era comprado nas festas de fim de ano. Não havia os
salgadinhos e docinhos que hoje existem era jantar mesmo!
Meus pais juntava toda a família para participarem desta feliz
ocasião com seus filhos; nilton, Neusa,Nilson,Norma,Nisete e
Normando.
Havia também a participação de vovó Luzia, avó materna. Era
uma senhora muito agradável e simpática morava com mamãe.
Muito bondosa, era querida e amada por todos.
Nunca pude esquecer a felicidade estampada nos olhos de papai,
ao ver os filhos todos juntos e felizes ao seu redor.Ele era um
senhor muito devotado à família. Um ano Novo se iniciava, vida
nova também! Ele tomava a palavra e com um discurso
conclamava a todos nós para sermos melhores como pessoa, que
deveríamos estudar, trabalhar, porque não saberíamos as voltas
que a vida dá, também falava na união da família e na fé que
deveríamos ter para com Deus.
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CAPÍTULO 5
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CAPÍTULO 6
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sempre, saia chorando.Uma das brincadeiras de roda dizia
assim:
Passarás, passarás,
a derradeira fica atrás,
Se não for a da frente
Há de ser a de detrás.
Tenho dois filhos pequeninos,
Não posso mais demorar, demorar, demorar.
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uma armação de madeira quando ele brotava ficava cheio dos
frutos e os maracujás bem amarelinhos caiam sobre o muro
Todos os dias o jardineiro com a supervisão de vovó enchia uma
cesta de verduras e levava para a cozinheira.
Um dia sem saber como, um cachorro entrou na horta e
esfacelou-a toda, ficou tudo virado e arrasado.
Mamãe chorava como se tivesse perdido algo precioso.
Depois de uns dois meses estava tudo restaurado e as verduras
na mesa.
CAPÍTULO 8
Dona Luzia era uma vovó muito amável, papai tinha-lhe muita
estima e consideração.
Forte, de pele branca, cabelos escorridos amarrados num coque,
vestia sempre cores muito discretas como: branco, azul, cinza,
pois era viúva e assim era o costume.
Mãe de sete filhos homens e cinco mulheres, três das quais,
haviam morrido.
Seu marido Libânio Nunes de Oliveira morreu moço, foi
Capitão da Guarda Nacional, filho de Pedro Nunes de Oliveira e
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Maria Bezerra da Conceição. Fazendeiro de café, criador de
gado, comerciante e grande construtor de prédios (residenciais e
comerciais) na área urbana denominada de “Corredor do Bom
Retiro”, numa dessas casas ele viveu a vida quase toda, nela
falecendo no ano de 1922.Um dos prédios erguido por ele, foi
adquirido pelo Governo do Estado, onde funciona até hoje o
Posto de Fomento Agrícola.( estive lá com Laura quando estava
escrevendo este livro.)
Foi casado por duas vezes, na primeira núpcias não teve filhos
sua mulher morreu muito jovem de tuberculose e em segunda
núpcias com Lúcia de Araújo Lima, filha de Micias de Araújo
Lima e Thereza Ramos de Oliveira, ela ficara viúva aos 34 anos,
no entanto, ficara bem financeiramente.
Não lhe foi fácil ficar com essa filharada para educar. Viveu
entre Bom Conselho, Recife e Caruaru.Ficara uma viúva com
possibilidades de manter bem a família.Tinham armazém de
compra e venda de café.Depois tiveram uma firma de estivas e
entregara aos filhos mais velhos a administração da mesma. No
entanto, a firma depois de alguns anos veio a falir.
Quando veio morar em Caruaru, papai comprou uma casa para
ela. Tinha seus 60 anos, morou sozinha durante alguns anos,
depois foi ficando mais velha, vendeu a casa e deu a filha mais
necessitada.
Quando papai construiu nossa nova casa, ele fez atrás da
garagem, de frente para o parreiral, uma casinha, para que ela se
sentisse na sua própria casa, porém as refeições eram feitas em
conjunto, quando assim ela queria.
Às tardes, ela se sentava na frente de sua casinha e observando a
brincadeira dos meninos, se punha a fazer renda.
Sentava-se diante de uma almofada, cheia de bilrros, coberta de
um papel desenhado, onde, os trocados dos bilrros e os alfinetes
formavam o desenho da renda ou bico desejado. Só se ouvia o
toque do bater dos bilrros entre si e a baforada do fumo do seu
cachimbo. Muitas vezes, contava histórias de sua vida e os netos
ouviam-na atentamente eram histórias de sua infância e de sua
juventude.
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Seu pai era muito severo, tinha 12 irmãos só ela de mulher
portanto muito mimada pela mãe.Se casou muito
nova,conheceu seu marido negociando com seu pai,um jovem
viúvo,sem filhos que estava a procura de uma moça para
casar.Com três meses já estavam casados, foi morar em Bom
Conselho.
Foi uma mulher muito dinâmica, ajudou muito seu marido o que
veio a ter uma situação financeira muito boa.
Um belo dia estava ela fazendo sua renda quando Arnaldo subiu
numa árvore que dava sombra a sua casa, ela ficava aflita e por
mais que implorasse que ele descesse, ele continuava lá.De
repente, ela já aborrecida, disse-lhe:-
-Deus queira que você caia daí! Foi incrível, porque neste
mesmo momento, ele despencou e caiu no chão.
A aflição dela foi enorme, não era isso o que realmente queria.
Ao socorrer o menino, chorava e lhe pedia perdão, mas, não
houve nada, só o susto.
Os netos todos lhe tinham muita reverência; ai de quem lhe
faltasse com o devido respeito; Papai não perdoava, teria que se
ver com ele. Mesmo assim, havia uma canção que dizia assim:
- Vovó, eu já posso beber água? Eu instigada por Nilson dava
uma voltinha e perguntava-lhe várias vezes a mesma coisa, pelo
que ela, por fim, se aborreceu e disse-me:
-Pode, beba até estourar! Quando vi que ela se zangou, nunca
mais lhe fiz a dita pergunta.
Nunca reclamava de nada, não falava no passado triste, em
velhice, em doença, sofrimento ou morte; era dócil, tinha
sempre um sorriso meigo nos lábios. Antes de falecer, um dos
seus filhos, Pedro, morreu assassinado, porém disseram a ela
que fora de acidente. Toda vez que passava um caminhão, ela
tirava a vista.
Faleceu aos 86 anos, na casa de uma filha, em Recife.Estava
dormindo e não acordou mais.Morreu como viveu, calma e
serena.
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CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 9
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observado por mamãe. Uma caderneta registrava o que se
comprava.
Toda tarde, na padaria, se comprava uma grande quantidade de
pão para oferecer às funcionárias. Ainda hoje sinto o cheiro do
café e dos pães deliciosos, quentinhos, de massa pura, que dava
gosto comer. Um pão doce custava 1 tostão.
Quando meus pais viajavam, Neusa a irmã mais velha, ficava
com a responsabilidade de cuidar dos outros irmãos. Édson
fugia de casa,não admitia ficar sobre a supervisão dela porém,
quando ela conseguia segurá-lo, amarrava-o num poste que
havia no quintal da loja.
Quando eu via, pegava uma tesoura e, instigada por ele, me
sentindo a mocinha do filme, cortava-lhe a corda e o libertava.
Ele se sentia o próprio mocinho; pulando de alegria, fugia e eu,
realizada pela façanha de tê-lo libertado!
Nilson, era um menino muito bom, mas irrequieto, irreverente,
não tinha medo de nada.Papai já não sabia que fazer com
ele.Internara-o em um colégio em uma outra cidade . Parecia
que estava dando tudo certo até que um dia, ele se juntou a um
grupo de colegas e arrombaram a despensa...Não restou nada.
Quando se pensou, Nilson estava de volta.Fora expulso do
colégio.Sempre foi rebelde, só ele era capaz de enfrentar papai.
Às vezes subia no trem até São Caetano, uma cidade cerca de
uns 20 quilômetros de Caruaru, saltava lá e voltava correndo
para casa.
Fugia de casa e à noite, como o homem aranha, subia até o
telhado, entrava em casa, comia e voltava para rua.Só se sabia
porque se encontrava a petisqueira onde era guardada a comida
arrombada.
Estudava no melhor colégio da cidade, cujo diretor era muito
severo.
Os colegas sabendo do quanto ele era peralta fizeram-lhe uma
aposta: se ele tirasse a roupa ali, ganharia 5 mil réis.Ele olhou,
não viu nenhuma menina, tirou a roupa e ainda saiu correndo em
círculo gritando de alegria.
Quando o diretor soube, chamou papai, deu a Nilson uma
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suspensão e avisou:
-Que um outro fato desse tipo, o mano seria expulso do colégio.
A psicologia era mesmo o cinturão.
Quando eu o via apanhando, chorava como uma louca.
Mamãe, para controlá-lo, pegava uma corda bem grande,
amarrava-o pelo tornozelo na mesa onde trabalhava, dava-lhe
alguns brinquedos e, assim, passava grande parte do dia
tranqüila.
Lembro-me perfeitamente do sorriso que ele dava, quando eu o
olhava, seus olhos brilhavam. Era como se me dissesse: estou
aqui porque fiz uma trela, mas fiz o que queria fazer, quando me
soltarem vão ver! E eu retribuía-lhe o sorriso como uma
afirmação apoiando-o sempre estaria do lado dele.
Foi o irmão que mais amei.
CAPÍTULO 10
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CAPÍTULO 11
43
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
53
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
60
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
66
CAPÍTULO 19
68
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
80
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
88
CAPÍTULO 26
92
CAPÍTULO 27
Noemia de aço
Ela é muito interesseira,
Quem quiser
Noemia de aço
Caia logo na besteira.
Noemia de aço
Não vale mais que um tostão...
Quem quiser
Noemia de aço,
Compre-a, com um pedaço de sabão.
96
CAPÍTULO 28
Capítulo 29
103
APÍTULO 30
106
CAPÍTULO 31
111
CAPÍTULO 32
116
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 39
158
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
170
CAPÍTULO 44
173
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
Sonho impossível
E amanhã
Se este chão que beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu
Delirar e morrer de paixão
E assim, seja lá como for,
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver
Uma flor
Brotar
Do impossível chão.
(Chico Buarque de Holanda)
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