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Sugestões para Ensino Médio

Ouvir estrelas Arte de amar

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo


Perdeste o senso!" E eu vos direi, no Se queres sentir a felicidade de amar,
entanto, esquece a tua alma.
Que, para ouvi-las, muita vez desperto A alma é que estraga o amor.
E abro as janelas, pálido de espanto...
Só em Deus ela pode encontrar
E conversamos toda a noite, enquanto satisfação.
A via-láctea, como um pálio aberto, Não noutra alma.
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em
pranto, Só em Deus - ou fora do mundo.
Inda as procuro pelo céu deserto.
As almas são incomunicáveis.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão Deixa o teu corpo entender-se com
contigo?" outro corpo.
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido Porque os corpos se entendem, mas as
Capaz de ouvir e de entender estrelas." almas não.
(Olavo Bilac)
(Manuel Bandeira)

Amar
Soneto do amor total
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, Amo-te tanto, meu amor... não cante
amar e malamar, O humano coração com mais verdade...
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar? Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar? Amo-te afim, de um calmo amor
amar o que o mar traz à praia, prestante,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, E te amo além, presente na saudade.
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Amar solenemente as palmas do deserto, Dentro da eternidade e a cada instante.
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro, Amo-te como um bicho, simplesmente,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina. De um amor sem mistério e sem
virtude
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, Com um desejo maciço e permanente.
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa, E de te amar assim muito e amiúde,
paciente, de mais e mais amor.
É que um dia em teu corpo de repente
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa Hei de morrer de amar mais do que
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita. pude.
(Carlos Drummond de Andrade) (Vinícius de Moraes)

@aula_criativa
Amor é fogo que arde sem se ver Amar, nunca me coube
Mas sempre transbordou
Amor é fogo que arde sem se ver; O rio de lembranças
É ferida que dói e não se sente; Que um dia me afogou
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer; E nesta correnteza
Fiquei a navegar
É um não querer mais que bem querer; Embora, com certeza,
É solitário andar por entre a gente; Não possa me salvar
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder; Amar nunca me trouxe
Completo esquecimento
É querer estar preso por vontade; Mas antes me somou
É servir a quem vence, o vencedor; Ao antigo tormento
É ter com quem nos mata lealdade.
E assim, cada vez mais,
Mas como causar pode seu favor Me prendo neste nó
Nos corações humanos amizade, E cada grito meu
Se tão contrário a si é o mesmo Amor? Parece ser maior
(Luís de Camões) (Mario Quintana)

Canção do Exílio (Gonçalves Dias)


Soneto de fidelidade
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
De tudo, ao meu amor serei atento
As aves, que aqui gorjeiam,
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Não gorjeiam como lá.
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Quero vivê-lo em cada vão momento
Nossos bosques têm mais vida,
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
Nossa vida mais amores.
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
E assim, quando mais tarde me procure
Minha terra tem palmeiras,
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Onde canta o Sabiá.
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Minha terra tem primores,


Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que tais não encontro eu cá;
Que não seja imortal, posto que é chama
Em cismar — sozinho, à noite —
Mas que seja infinito enquanto dure.
Mais prazer encontro eu lá;
( Vinícius de Moraes)
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,


Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

@aula_criativa
Canção do Exílio (Gonçalves Dias) Amor
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá; Amemos! Quero de amor
As aves, que aqui gorjeiam, Viver no teu coração!
Não gorjeiam como lá. Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Nosso céu tem mais estrelas, Na tu’alma, em teus encantos
Nossas várzeas têm mais flores, E na tua palidez
Nossos bosques têm mais vida, E nos teus ardentes prantos
Nossa vida mais amores. Suspirar de languidez!

Em cismar, sozinho, à noite, Quero em teus lábios beber


Mais prazer encontro eu lá; Os teus amores do céu,
Minha terra tem palmeiras, Quero em teu seio morrer
Onde canta o Sabiá. No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança,
Minha terra tem primores, Quero tremer e sentir!
Que tais não encontro eu cá; Na tua cheirosa trança
Em cismar — sozinho, à noite — Quero sonhar e dormir!
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras, Vem, anjo, minha donzela,
Onde canta o Sabiá. Minha’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Não permita Deus que eu morra, Como é doce a viração!
Sem que eu volte para lá; E entre os suspiros do vento
Sem que desfrute os primores Da noite ao mole frescor,
Que não encontro por cá; Quero viver um momento,
Sem qu’inda aviste as palmeiras, Morrer contigo de amor!
Onde canta o Sabiá.
(Álvares de Azevedo)

Versos Íntimos
Seiscentos e Sessenta e Seis (Mario Quintana)
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Quando se vê, já são 6 horas…
Foi tua companheira inseparável!
Quando se vê, já é 6.ª feira…
Quando se vê, passaram 60 anos…
Acostuma-te à lama que te espera!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
O Homem que, nesta terra miserável,
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
Mora entre feras, sente inevitável
eu nem olhava o relógio.
Necessidade de também ser fera
seguia sempre, sempre em frente …
Toma um fósforo, acende teu cigarro!
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
O beijo, amigo, é a véspera do escarro.
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa ainda pena a tua chaga


Apedreja essa mão vil que te afaga.
Escarra nessa boca que te beija!

( Augusto dos Anjos)

@aula_criativa
Timidez
Aninha e Suas Pedras Basta-me um pequeno gesto,
Não te deixes destruir… feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
Ajuntando novas pedras e eu para sempre te leve…
e construindo novos poemas. – mas só esse eu não farei.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Uma palavra caída
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
Recomeça. e une as terras mais distantes…
Faz de tua vida mesquinha
– palavra que não direi.
um poema.
Para que tu me adivinhes,
E viverás no coração dos jovens entre os ventos taciturnos,
e na memória das gerações que hão de vir. apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
– que amargamente inventei.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
e não entraves seu uso nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…
aos que têm sede.
(Cora Carolina) – e um dia me acabarei.
Cecília Meireles

Não sei

Não sei…
se a vida é curta
ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura…
enquanto durar.

(Cora Carolina)

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