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Uma Aplicação Dos Princípios Da Análise Do Comportamento para A Clínica: A Terapia Analítico-Comportamental
Uma Aplicação Dos Princípios Da Análise Do Comportamento para A Clínica: A Terapia Analítico-Comportamental
net/publication/284631106
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Resenha
“A abordagem behaviorista
do comportamento novo”
História de Vida
Margarida Hofmann Windholz
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Uma Publicação do Núcleo Paradigma
– Consultoria, Ensino e Pesquisa.
São Paulo, vol. 3, agosto de 2008 FZlijff]\i\Z\ldX`ekif[lf~jZfdg\keZ`XjY}j`ZXjgXiX
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Coordenação editorial
Roberta Kovac \jkilkliX[`[}k`ZX
Joana Singer Vermes FD[lcf@ekif[lki`f[fZlijf[\]fidXf\d:ce`ZX8eXck`Zf$
:fdgfikXd\ekXcZfdgfjkf[\ldkfkXc[\/'_fiXj#[`jki`Yl[Xj\d
Comissão executiva kij[`jZ`gc`eXjk\i`ZXj#hl\Xgi\j\ekXdfjZfeZ\`kfj#d\kf[fcf^`X\
Roberta Kovac k\Zefcf^`X[XXgc`ZXf[XXe}c`j\[fZfdgfikXd\ekfXfZfek\okfZce`Zf1
Joana Singer Vermes :feZ\`kfj9}j`Zfj[X8e}c`j\[f:fdgfikXd\ekf+'_fiXj
Ilustração da capa: Silvia Amstalden
Denis Zamignani 8mXc`Xf:fdgfikXd\ekXc)'_fiXj
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Roberto Alves Banaco
Editorial 03
Notícias 04
Agenda 06
Teoria e aplicação 09
Uma aplicação dos princípios da análise do comportamento para a clínica:
a terapia analítico-comportamental
Denis Roberto Zamignani, Antonio Carlos Pacheco e Silva Neto e Sonia Beatriz Meyer
Paradigma entrevista 18
Roberto Alves Banaco entrevista Sílvio Paulo Botomé e Olga Mitsue Kubo
Na estante 26
“A abordagem behaviorista do comportamento novo”
Resenha de Yara Nico
Comportamento em cena 42
“Lucas: Um intruso no formigueiro”
Filme infantil aborda bullying e relações hostis na infância
Giovana Del Prette
Prêmio paradigma 47
Confira as notícias da Jornada Científica e da premiação dos melhores trabalhos inscritos
no I Prêmio Paradigma de Análise do Comportamento
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Editorial
Caros colegas,
editorial
Notícias 2007 e 2008
boletim paradigma
interessantíssimas discussões entre um profis- Março de 2008
sional e o público, sempre com temas relacio-
I Encontro Maringaense de Análise do
nados à psicologia e de interesse geral. Comportamento – Maringá/PR
Outra novidade é que em 2007 e 2008,
nossa biblioteca teve seu acervo aumentado.
abril de 2008
Gentilmente, recebemos doações da Dra.
III Jornada de Análise do Comportamento (JACC) de
Cristiana Vallias de Oliveira Lima, do Dr. Ivan
Campinas/SP
Braun e da Dra. Margarida Windholz. Hoje
temos uma biblioteca composta por títulos
maio de 2008
importantes em análise do comportamento e
II Congresso Piauiense de Psicologia Cognitiva e
diversas áreas afins, além de periódicos e ma-
Comportamental e III Encontro Nordestino de Análise
nuais – todos fundamentais para a formação
do Comportamento – Teresina/PI
profissional e reciclagem de professores, alu-
V Seminário de Análise do Comportamento da
nos e terapeutas.
Faculdade Newton Paiva – Belo Horizonte/MG
Em 2008, concretizou-se também um de
XII Simpósio da Associação Nacional de Pesquisa
nossos grandes sonhos: o Prêmio Paradigma e Pós-Graduação em Psicologia e II Encontro
– um evento que visa proporcionar o debate Latinoamericano de Intercâmbio Universitário em
científico e premiar, nas categorias trabalhos de Psicologia – Natal/RN
conclusão de curso (graduação), monografias 34ª Convenção Anual da Association for Behavior
(especialização), dissertações (mestrado) e teses Analysis - de 23 a 27 de maio em Chicago/EUA
(doutorado), trabalhos que tenham relevância
na área da análise do comportamento. No dia junho de 2008
5 de julho, aconteceu em nossa sede, a cerimô- VIII Encontro de Análise do Comportamento do
nia de premiação, juntamente com a Jornada I Centro-Oeste
Prêmio Paradigma, na qual os trabalhos melhor IX Jornada Mineira de Ciência do Comportamento
colocados na avaliação dos pareceristas, de cada – Belo Horizonte/MG
categoria, foram apresentados, permitindo um II Simpósio de Psicologia Clínica do Instituto de
debate importante com a platéia. Análise do Comportamento em Estudos e Psicoterapia
Por fim, está em andamento um projeto de – Londrina/PR
melhoria de nosso site na Internet. Em breve, ele VIII Encontro de Análise do Comportamento do
estará ainda mais bonito, com navegação mais Centro-Oeste
fácil e recheado de recursos e informações. III Jornada de Psicologia: Neurociências e
Foi com entusiasmo que constatamos Comportamento – São Paulo/SP
mais um ano rico e diversificado em eventos Jornada de Análise do Comportamento de Ribeirão
– encontros, jornadas, congressos, simpósios Preto/SP
– voltados para a análise do comportamen-
to Brasil afora. São iniciativas como estas que julho de 2008
vêm garantindo o crescimento, a consolidação I Prêmio Paradigma de Análise do Comportamento
e o reconhecimento da abordagem nos meios LX Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o
acadêmicos e além. Destacamos alguns desses Progresso da Ciência – Campinas/SP
eventos a seguir:
notícias
Agenda 2008 a 2009
setembro DE 2008
5 e 6 I Jornada de Análise do Comportamento e 8 Tópicos Avançados no Núcleo Paradigma
Cognitivo–Comportamental/UNIANCHIETA – Jundiaí-SP 24 Cinema Paradigma: Filme: Sex & the City (episódio
– Informações: http://br.geocities.com/jaccjundiai/ da série). Debate: Padrões de comportamento e auto-
9 a 12 Quarta conferência da European Association for Imagem – Roberta Kovac e Joana Singer Vermes
Behaviour Analysis (EABA) – Madrid – Informações:
dezembro DE 2008
http://eaba.bangor.ac.uk/
6 Tópicos Avançados no Núcleo Paradigma
13 Tópicos Avançados no Núcleo Paradigma
13 Cinema Paradigma. Filme: “Adaptação”. Debate:
20 V Encontro do Núcleo de Análise do Comportamento
Desejo e vício – Antonio Carlos Pacheco
de Santos e Região – Santos-SP – Informações:
nac.santos@uol.som.br fevereiro DE 2009
22 Cinema Paradigma. Filme: “O Príncipe das Marés”. 6 Início das aulas do Curso de Especialização em
Debate: efeitos da punição sobre filhos – relações pa- Clínica Analítico-Comportamental (todas as turmas)
rentais perversas – Marcio Alleoni
março DE 2009
24 a 27 XIII Encontro Cearense de Análise do
6 Início das aulas do Curso de Aprimoramento em
Comportamento – Informações: 85 8702 2297
Terapia de Casal e Família
outubro DE 2008
28 e 29 II Encontro Maringaense de Análise do
10 Tópicos Avançados no Núcleo Paradigma Comportamento – Informações: http://emac.ueuo.com/
25 Cinema Paradigma: Filme: “Alguém para dividir maio DE 2009
os sonhos”. Debate: Quando as variáveis terapêuti- 22 a 26 35th Annual Convention (ABA) Association
cas estão no mundo natural – Denis Zamignani for Behavior Analysis – Phoenix – Informações:
www.abainternational.org
28 a 31 XXXVIII Reunião Anual de Psicologia da
Sociedade Brasileira de Psicologia – Informações: julho DE 2009
www.sbponline.org.br 4 II Prêmio Paradigma de Análise do Comportamento
novembro DE 2008 – Jornada Científica e Cerimônia de Entrega –
Informações: www.nucleoparadigma.com.br
1 e 2 VII Jornada da Análise do Comportamento da
Universidade Federal de São Carlos – Informações: agosto DE 2009
www.jac.ufscar.br/prog.htm 7 a 9 5ª Conferência International da ABA – Association
6 a 8 II Encontro Paranaense de Análise do Comporta‑ for Behavior Analysis – Noruega – Informações:
mento Informações: www.epacufpr.insidehost.com.br www.abainternational.org
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Teoria e aplicação
Uma aplicação dos princípios da análise do comportamento
para a clínica: a terapia analítico-comportamental
Denis Roberto Zamignani
Antonio Carlos Pacheco e Silva Neto
Sonia Beatriz Meyer
teoria e aplicação
Ao assumir uma compreensão selecionista A noção contextual e interacionista presente
do comportamento – todo comportamento de- nesse modelo traz, como decorrência, uma análi-
sempenha uma função, caso contrário, não se se dos comportamentos ao nível do grupo social,
mantém – a análise do comportamento apre- ou seja, implica uma análise do papel exercido
senta um modelo alternativo às explicações pela cultura sobre seus membros, considerando
mecanicistas e mentalistas que a antecederam. as funções que determinadas estratégias de con-
Skinner (1974) critica as explicações que con- trole aplicadas por grupos e instituições sociais
sideram que as causas dos comportamentos e desempenham. Controle sobre o comportamen-
dos problemas emocionais encontram-se no to existe sempre; o importante é explicitar como,
interior do indivíduo (ou em seu psiquismo), e em benefício de quem, esse controle ocorre.
explicações estas adotadas por diversas psi- Daí também a discussão dentro da abordagem
coterapias. O conceito de modelagem, como do papel exercido pela terapia que, por sua vez,
processo por meio do qual o comportamento perpassa a questão de “a quem serve a ciência?”.
é moldado, tomando forma a partir de refor- Skinner, Solomon e Lindsley (1953), ao
çamento de aproximações sucessivas, é cen- analisarem a cultura ocidental, condena o pre-
tral para a compreensão da instalação e da domínio do controle coercitivo e seus efeitos
transformação do repertório ao longo da vida colaterais: os denominados problemas emocio-
(Zamignani e Jonas, 2007). nais. A questão de controle, portanto, não diz
Para a atuação clínica, esse modelo oferece respeito à oposição liberdade versus controle
uma compreensão diferenciada também para a (coercitivo), mas sim à compreensão de que
psicopatologia: os denominados sintomas psi- o comportamento sempre estará sob controle
copatológicos são compreendidos como com- das variáveis ambientais, ainda que também
portamentos, por-
tanto como produtos Para a atuação clínica, esse modelo oferece uma compreensão
de uma história de diferenciada também para a psicopatologia: os denominados sintomas
interação organismo- psicopatológicos são compreendidos como comportamentos, portanto
ambiente e, assim, se como produtos de uma história de interação organismo-ambiente e,
mantêm devido às assim, se mantêm devido às funções que desempenham
funções que desempe-
nham. Neste sentido, os sintomas psicopatoló- contribua para produzir essas mesmas variá-
gicos não são anomalias, mas comportamentos veis. Destaca a necessidade de planejamento de
que funcionam como quaisquer comporta- uma cultura, ou seja, de que as práticas cultu-
mentos ditos “normais” (Ayllon, 1992; Banaco, rais sejam transformadas de modo a promover
1993; García, 1992; Sidman, 1995). Esse refe- indivíduos mais felizes e práticas úteis para a
rencial fornece ainda caminhos para o delinea- própria sobrevivência do grupo. É neste sen-
mento da intervenção: alterando-se as relações tido que ele se posiciona como um crítico da
estabelecidas, os sintomas são modificados, e cultura e das instituições sociais coercitivas,
novamente o processo presente é a modelagem apontando a psicoterapia como uma prática
– as mudanças no comportamento são produ- resultante das próprias contingências aversivas
zidas a partir das conseqüências, neste caso, vigentes, criada para solucionar os problemas
planejadas pelo terapeuta. gerados por essas práticas.
10 boletim paradigma
A esse respeito, vale destacar um aspecto cliente, qualificações, explicações, interpreta-
importante referente aos efeitos emocionais ções, análises ou previsões a respeito de even-
que determinadas contingências produzem: tos, cabendo ao cliente analisar ou estabelecer
contingências de reforçamento positivo cos- relações entre os eventos em discussão. Em
tumam produzir sensações prazerosas, bem- sessões de terapia analítico-comportamental,
estar, e contribuir para o fortalecimento do essa intervenção ocorre tipicamente quando
comportamento. Contingências de reforça- o terapeuta busca facilitar o estabelecimento
mento negativo ou de punição, por sua vez, de relações funcionais e a formação de auto-
envolvem estimulação aversiva e, portanto, regras. Facilitação é caracterizada por verba-
geram mal-estar ou sofrimento emocional, lizações curtas ou expressões paralingüísticas
além de contracontrole, ou seja, tentativas do que ocorrem durante a fala do cliente, e indi-
indivíduo de “burlar” ou desviar-se da coer- cam atenção ao relato do cliente e sugerem a
ção (Sidman, 1995). sua continuidade. Empatia contempla ações
A terapia surge como uma prática que visa ou verbalizações do terapeuta que sugerem
promover uma interação mais favorável do in- acolhimento, aceitação, cuidado, entendi-
divíduo com o grupo social e com o ambiente mento, validação da experiência ou sentimen-
físico, minimizando os problemas emocio- to do cliente, e informam essencialmente que
nais e o sofrimento. São muitas as estratégias o cliente é aceito, “bem-vindo”, sem implicar
e procedimentos que o terapeuta analítico- em avaliação ou julgamento. Essa classe de
comportamental pode utilizar, e sua escolha verbalizações tem sido associada tipicamente
vai depender muito da análise de contingên- à criação de um ambiente terapêutico amis-
cias previamente realizada. toso, seguro e não-punitivo, para que o clien-
te se sinta à vontade para verbalizar eventos
Estratégias da terapia comportamental para que, em outros contextos, poderiam ser alvo
favorecer a mudança comportamental de punição. Informação contempla verbali-
Zamignani (2007), em uma análise dos siste- zações nas quais o terapeuta relata eventos
mas de categorização utilizados para o estudo ou informa o cliente sobre eventos (que não
de processo em psicoterapia, identificou nove o comportamento do cliente ou de terceiros),
comportamentos típicos do terapeuta na ses- estabelecendo ou não relações causais ou ex-
são, cuja função vai depender do contexto em plicativas entre eles. Essa classe de verbaliza-
que ocorrem e das respostas motoras e emocio- ções é tipicamente associada a intervenções
nais que o acompanham1. “psicoeducacionais” e ao “enquadre” ou con-
Solicitação de relato2 contempla verbali- trato terapêutico. Recomendação contempla
zações do terapeuta nas quais ele solicita, ao verbalizações nas quais o terapeuta sugere
cliente, descrições a respeito de ações, even- alternativas de ação ao cliente ou solicita o
tos, sentimentos ou pensamentos, e ocorre ti- seu engajamento em ações ou tarefas. A li-
picamente em situações relacionadas a coleta teratura refere-se a essa categoria também
de dados e levantamento de informações, ao como aconselhamento, orientação, comando,
longo de qualquer etapa do processo terapêu- ordem. Interpretação contempla verbaliza-
tico. Já a Solicitação de reflexão contempla ções nas quais o terapeuta descreve, supõe ou
verbalizações nas quais o terapeuta solicita, ao infere relações causais e/ou explicativas (fun-
teoria e aplicação 11
cionais, correlacionais, ou de contigüidade) a acordo com esta autora, esses procedimen-
respeito do comportamento do cliente ou de tos básicos seriam: (1) Terapeuta fornece re-
terceiros, ou identifica padrões de interação gras; (2) Terapeuta favorece auto-regras; (3)
do cliente e/ou de terceiros. Na literatura clí- Terapeuta fornece estimulação suplementar;
nica analítico-comportamental, a análise de (4) Terapeuta modela repertórios.
contingências ou análise funcional apresen- Os dois primeiros procedimentos envol-
tada pelo terapeuta envolve, em parte, essa vem a especificação de alternativas de ação ou
classe de verbalizações. Aprovação contem- a elaboração de descrições de contingências,
pla verbalizações do terapeuta que sugerem seja por meio do fornecimento de conselhos,
avaliação ou julgamento favoráveis a respeito ordens e descrições de contingências, seja por
de ações, pensamen-
tos, características ou As classes de comportamento descritas por Zamignani (2007) vão compor
avaliações do cliente. as diferentes estratégias de intervenção utilizadas pelos terapeutas
Dirige-se a ações ou analítico-comportamentais em diferentes momentos do processo, quando
características es- atuam em consultório, no modelo de intervenção verbal
pecíficas do cliente
e pressupõe o terapeuta como alguém que meio de incentivo para a construção de auto-
pode selecionar e fortalecer aspectos de seu regras por parte do cliente. A terceira estratégia
comportamento que seriam mais ou menos refere-se ao fornecimento de estimulação suple-
apropriados. Reprovação contempla verbali- mentar pelo terapeuta. De acordo com Meyer
zações do terapeuta que sugerem avaliação ou (2004), uma situação complexa é composta por
julgamento desfavorável a respeito de ações, um grande número de estímulos e, em alguns
pensamentos, características ou avaliações do casos, a queixa do cliente envolve um respon-
cliente e, assim como aprovação, pressupõe o der sob controle discriminativo de apenas uma
terapeuta como alguém que pode selecionar parte desses estímulos, gerando uma ação ine-
aspectos de seu comportamento – que seriam ficaz para a produção de reforçadores.
mais ou menos apropriados. Reprovação tem O terapeuta então identifica uma proprie-
sido freqüentemente associada, na literatura dade do estímulo discriminativo que contro-
clínica, a interações aversivas em psicotera- la uma resposta e torna mais salientes outras
pia, que podem ameaçar a manutenção da propriedades do mesmo estímulo físico, que
relação terapêutica. já controlam outras respostas. Essas instru-
As classes de comportamento descritas por ções do terapeuta para que o cliente preste
Zamignani (2007) vão compor as diferentes es- atenção a outros aspectos da mesma situação
tratégias de intervenção utilizadas pelos tera- podem aumentar a probabilidade de que no-
peutas analítico-comportamentais em diferen- vos aspectos passem a controlar o comporta-
tes momentos do processo, quando atuam em mento (p. 154- 155).
consultório, no modelo de intervenção verbal Vale ressaltar que, embora tal estratégia não
(de gabinete3). Meyer (2004) propôs uma classi- envolva a descrição de todos os elos da con-
ficação dos procedimentos básicos empregados tingência, ela supõe um responder do cliente
pelos terapeutas neste contexto para promover sob controle de regras, uma vez que o terapeuta
mudanças no comportamento do cliente. De descreve elementos da contingência os quais o
12 boletim paradigma
cliente não havia observado (regra enquanto “as conseqüências do comportamento
descrição de contingências – informação ou são muito adiadas ou escassas, tornan-
interpretação) ou instrui o cliente a observar do-se, portanto, ineficazes na modifica-
estes aspectos (regras enquanto instrução – re- ção de comportamentos, ou quando os
comendação ou solicitação de reflexão). comportamentos que seriam modelados
O último dos procedimentos descritos pelas contingências em vigor são indese-
por Meyer (2004) consiste na modelagem jáveis” (p. 152).
de repertórios por meio da conseqüenciação
Sturmey (1996), discutindo as diferentes
direta dos comportamentos do cliente que
possibilidades de utilização da análise fun-
ocorrem na interação com o terapeuta. Parte
cional no contexto clínico, considera que a
do pressuposto de que os comportamentos
interpretação funcional pode ser utilizada
do cliente que ocorrem durante a sessão te-
como tratamento em si ou como um dos
rapêutica são uma amostra de sua forma de
componentes do tratamento. Posição seme-
agir em outros contextos (Follette, Naugle &
lhante é adotada por Meyer (2004), ao afir-
Callaghan, 1996; Kohlenberg & Tsai, 1991).
mar que a análise funcional feita pelo tera-
A modelagem direta de comportamentos
peuta com seu cliente seria um procedimento
envolve desde a audiência não-punitiva do
de fornecimento de regras. O terapeuta, nes-
terapeuta, que seleciona e fortalece respostas
te caso, deveria trabalhar com o cliente para
de aproximação e auto-exposição do cliente,
que este desenvolva uma análise funcional
até a seleção de outras respostas sociais do
do próprio comportamento e ajudá-lo a usar
cliente, por meio de reforçamento diferen-
a análise funcional para mudar seu próprio
cial. É possível agrupar as estratégias descri-
comportamento. Para isso, ele pode apresen-
tas pela autora em duas classes principais: as
tar a análise para o cliente (interpretação)
três primeiras estratégias seriam relacionadas
ou trabalhar colaborativamente com o clien-
ao controle por regras, enquanto que a última
te para desenvolver uma análise funcional
diz respeito à modelagem de comportamento
compartilhada. Goldiamond (1975), reco-
a partir das conseqüências sociais dispensa-
mendou que o cliente fosse conduzido a ela-
das pelo terapeuta na sessão terapêutica.
borar sua própria análise funcional, em vez
As diferenças nas estratégias terapêuticas
de recebê-la pronta do terapeuta (nesse caso,
apontam para o debate, dentro da aplicação
o terapeuta solicita relato, solicita reflexão e
da análise do comportamento, referente ao
conseqüencia diferencialmente respostas de
controle por regras. Alguns autores defendem
solução, por meio de respostas de aprovação,
que o controle por regras é uma forma eficaz
facilitação ou empatia). Isso implicaria numa
de controle do comportamento humano (por
participação mais ativa do cliente no próprio
exemplo, Catania, Shimoff & Matthews, 1989);
tratamento. Esse tipo de proposta é conso-
outros questionam a ênfase nesse tipo de con-
nante com os dados de Matthews, Catania e
trole na relação terapêutica (por exemplo,
Shimoff (1985), que defendem que a mode-
Guedes, 1993). Meyer (2004) afirma que este
lagem do comportamento verbal aumenta a
tipo de procedimento é especialmente impor-
probabilidade de mudança no comportamen-
tante nos casos em que
to não-verbal correspondente.
teoria e aplicação 13
Guedes (1993), por sua vez, critica o mo- Em busca de uma atuação terapêutica
delo de intervenção baseado no controle por mais consistente
regras. Esta autora afirma que “contingências A busca de consistência com os pressupostos
artificiais da sessão têm pouca chance de com- teóricos e com a ética inerente à abordagem
petir com as contingências, em geral, mais an- analítico-comportamental implica a terapia
tigas, mais significativas e mais freqüentes na como uma prática que vai além da diminui-
vida do sujeito” (p. 84), e que a generalização a ção do sofrimento ou da substituição de com-
partir de conselhos ou regras só é possível para portamentos considerados problemáticos
pacientes cujo repertório de comportamentos por comportamentos mais “adequados” ou
de “seguir regras” é bastante fortalecido. “bem adaptados”. Se, por um lado, o homem
Meyer (2004) e Zamignani e Jonas (2007) é produto das contingências ambientais, por
acrescentam outros problemas que podem en- outro, ele é um agente que, por meio de seu
volver o seguimento de regras. Um desses pro- comportamento, pode modificar essas con-
blemas é o risco de que o indivíduo venha a res- tingências e torná-las mais favoráveis. Sendo
ponder sob controle da regra e deixe de emitir assim, a terapia visa desenvolver a capacidade
respostas de observação aos eventos que con- do cliente de agir com autonomia, de modo
trolariam naturalmente a resposta em questão. a criar as condições para que sua interação
Tal fenômeno tem sido denominado, na litera- com o mundo potencialize seu acesso a refor-
tura de pesquisa básica, como insensibilidade às çadores. Em busca dessa autonomia, entre-
contingências. Estes autores apontam também tanto, não se deve omitir a responsabilidade
que, quando conseqüências sociais (implícitas do indivíduo na produção de um ambiente
ou claramente descritas
na regra), competem A busca de consistência com os pressupostos teóricos e com a ética
com as conseqüências inerente à abordagem analítico-comportamental implica a terapia
naturais do compor- como uma prática que vai além da diminuição do sofrimento ou da
tamento descrito na substituição de comportamentos considerados problemáticos por
regra, as primeiras comportamentos mais “adequados” ou “bem adaptados”.
podem sobrepujar as
conseqüências naturais do responder, fazendo menos coercitivo, já que este indivíduo não é
com que o indivíduo siga regras sob controle de um mero receptáculo das determinações so-
aprovação social e não da contingência natural ciais (Micheleto e Sério, 1993), e sim alguém
do comportamento especificado pela regra. responsável, no sentido de ser capaz de pre-
A discussão sobre o uso das regras ou do con- ver, agir e manejar as conseqüências de sua
trole por conseqüências imediatas na interação própria ação.
terapêutica revela a ausência de consenso entre A terapia analítico-comportamental vem-
analistas do comportamento sobre quais as me- se desenvolvendo desde as primeiras aplica-
lhores maneiras de desenvolver um tratamento, a ções clínicas da análise do comportamento,
partir da perspectiva analítico-comportamental. quando em 1953, Skinner, Solomon e Lindsley
A resposta a esta questão depende de pesquisas cunhou o termo Terapia Comportamental.
que demonstrem, experimentalmente, a superio- Desde então, muita coisa mudou. A prática
ridade de um ou de outro procedimento. do analista do comportamento foi cada vez
14 boletim paradigma
mais aprimorada. Novos conceitos foram sen- 1 Para acesso ao texto completo da tese, visite o site do
do estudados e incorporados à prática clínica Núcleo Paradigma www.nucleoparadigma.com.br.
– exemplos disso foram o enorme avanço na 2 Os termos em bold serão utilizados ao longo do presen-
área de controle de estímulos e relações de te artigo para referir-se às categorias de comportamentos
equivalência e o estudo das relações compor- verbais do sistema multidimensional para a categorização
tamentais envolvidas nas emoções. de comportamentos na interação terapêutica desenvolvido
O conhecimento, cada vez mais aprofun- por Zamignani e Meyer (Zamignani, 2007).
dado, sobre o comportamento verbal e suas 3 Há ainda a possibilidade de que o terapeuta desenvolva
características, contribuiu em muito para a sua intervenção fora do consultório, expondo o cliente a
compreensão de processos complexos de in- outras conseqüências do ambiente físico e social, além da-
teração sócio-verbal que ocorrem na clínica. quelas fornecidas pelo terapeuta. Neste caso, outros proces-
Ao mesmo tempo, a ênfase externalista da sos podem ocorrer para a promoção de mudança. O livro
abordagem fez com que muitos analistas do A Clínica de Portas Abertas (Zamignani, Kovac & Vermes,
comportamento se voltassem para a análise 2007) lançado pelo Núcleo Paradigma apresenta diversas
das limitações do contexto clínico de gabinete possibilidades de intervenção nesse contexto.
e o estudo das intervenções terapêuticas extra-
consultório, o que proporcionou um grande
avanço no conhecimento clínico. Nas últimas
décadas, inúmeras pesquisas vêm sendo de-
senvolvidas no Brasil e no mundo, estudan-
do as mais diversas questões sobre a terapia
analítico-comportamental, dentro e fora do
consultório, e trazendo informações sobre va-
riáveis importantes da interação terapêutica.
Com isso, novos caminhos vão sendo trilha- Denis Roberto Zamignani é professor e supervisor
do Curso de Especialização em Clínica Analítico-
dos, contribuindo para o avanço e para um
Comportamental e coordenador administrativo do
melhor conhecimento da prática terapêutica Núcleo Paradigma. Doutor em psicologia clínica pela
do analista do comportamento. Universidade de São Paulo. Endereço para contato:
A adoção de uma nova nomenclatura – denis@nucleoparadigma.com.br.
Terapia Analítico-Comportamental – não im- Antonio Carlos Pacheco e Silva Neto é professor da
plica na criação de uma nova forma de terapia Universidade Paulista. Doutor em psicologia escolar
ou abordagem terapêutica, tampouco se pre- e do desenvolvimento humano pela Universidade de
tende relacionar essa denominação a um gru- São Paulo. Aluno do Curso de Especialização em Clínica
Analítico-Comportamental no Núcleo Paradigma.
po ou instituição específicos. Trata-se simples-
Endereço para contato: acpacheco@osite.com.br.
mente de uma marca, de um nome, que deve
identificar a que comunidade estamos respon- Sonia Beatriz Meyer é professora Doutora do
Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-
dendo, ou de onde provêm as bases filosóficas,
Graduação em Psicologia Clínica da Universidade de
metodológicas, tecnológicas e conceituais que São Paulo. Endereço para contato: sbmeyer@usp.br.
sustentam nossa prática.
teoria e aplicação 15
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16 boletim paradigma
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Paradigma entrevista
Roberto Alves Banaco entrevista Sílvio Paulo Botomé
e Olga Mitsue Kubo
18 boletim paradigma
da universidade é o desenvolvimento de pessoas, departamento deveria ser constituído por núcle-
enquanto que a “prestação de serviço” deveria in- os de pesquisadores que dão aulas em diferentes
clusive ser objeto de produção de conhecimento, campos de atuação para tornar o conhecimento
de investigação, de estudo. Portanto, não temos da área em que pesquisam acessível a todos os
claros quais são os papéis da universidade na so- campos de atuação profissional.
ciedade e das múltiplas instâncias relacionadas a As condições estruturais de gestão e o
ela. Pesquisa, ensino e extensão são rotinas, não sistema de conceitos que a universidade está
atividades, são instâncias de administração. Elas utilizando não possibilitam a integração. Nas
não devem ser separadas porque a produção de universidades confunde-se, facilmente, área do
conhecimento exige um papel complementar, conhecimento com campo de atuação profis-
que é tornar esse conhecimento acessível, não sional e cria-se uma nomenclatura confusa. Os
só por meio de publicação. A extensão tem que cursos são planejados em pedaços de áreas de
administrar parte dos processos de acesso ao co- conhecimento: as disciplinas. Os critérios de
nhecimento, inclusive como transformação do organização das grades curriculares são equi-
conhecimento em condutas novas das pessoas. valentes aos critérios para organizar as estantes
Na extensão, você pode acrescentar modalida- das bibliotecas! A sala de aula, o curso, é o lugar
des para tornar o conhecimento acessível, além no qual se deve transformar o conhecimento
daquelas já vinculadas à pesquisa e ao ensino existente nas várias áreas em condutas huma-
formal: construir representações, fazer filmes, nas para atuar como profissional em um campo
teatro, montar uma orquestra numa comunida- de atuação definido na sociedade.
de e fazer a o conhecimento produzido aparecer Ora, isso é o núcleo da noção de multidisci-
e ser utilizado pelas pessoas. Numa comunida- plinaridade. O currículo tem sido uma transpo-
de onde não há certos serviços, a universida- sição simplista dos critérios de organização da
de poderia ajudar a fazê-los surgir (isso é uma biblioteca, o “almoxarifado do conhecimento”,
modalidade de “extensão”). Uma incubadora de para a oficina (a sala de aula) de transformação
empresas, na universidade, deveria ser uma con- do conhecimento em condutas humanas e isso
dição de estágio, de aperfeiçoamento do aluno, atrapalha o ensino, a pesquisa e a gestão desses
porque já se sabe que, se ele é capaz de trabalhar processos. Os critérios do almoxarifado não ser-
mas não tem a infra-estrutura, uma “incubadora vem para trabalhar na oficina e nós não sabemos
de empreendimentos” pode ser o último estágio lidar com isso: os currículos ficam “presos” (ou
de aprendizagem dentro da universidade para são os próprios) nos critérios do almoxarifado.
ajudá-lo a criar condições estruturais para fazer Esta metáfora representa bem o problema que
aquele trabalho que aprendeu. A pesquisa, hoje, faz ainda não haver um sistema de Ciência,
deveria estar alocada na área de conhecimento Tecnologia e Ensino Superior. O que nós enten-
do departamento e não conjuntamente com o demos por currículo é um conceito inadequado,
trabalho nos cursos de graduação que se deli- pelo ainda insuficiente. Algumas universidades,
mita por um campo profissional, não por uma quando entenderam isso, mudaram, inclusive,
área de conhecimento. A pós-graduação deveria os nomes de suas disciplinas: a PUC do Paraná
formar pessoas para campos profissionais espe- e a Universidade do Planalto
cíficos: a produção de ciência e de tecnologia e o Catarinense (UNIPLAC) não têm mais dis-
ensino em nível complexo (superior). O próprio ciplinas no currículo dos cursos de psicologia,
paradigma entrevista 19
têm Programas de Aprendizagem (“PA s”) ou quicas, um grupo de pessoas que se “apossam” de
“Unidades de Aprendizagem”, fazendo diferen- poder (cargos), de informação em uma área do
ça entre subáreas de conhecimento (discipli- conhecimento. As áreas, inclusive a da Psicologia,
nas) e o que precisa acontecer (aprendizagem não são de ninguém. O conhecimento não é pro-
de algo que não se reduz à informação verbal) priedade de indivíduos ou grupos. Cada um pode
na sala de aula. estar realizando o trabalho em uma unidade de
ensino, pode estar fazendo pesquisa com essa
[R] Como esses programas se definem?
parte do conhecimento. Mas não há razão para
[S] Por conjuntos de competências (comporta-
outros não poderem fazer pesquisa com esses
mentos com certo grau de perfeição) a serem
fenômenos da mesma área, além das condições
desenvolvidas. E isso nem sempre é claro para
que facilitam ser agrupadas para servir a várias
os professores, porque é algo que ainda está
pessoas que trabalham em uma área do conhe-
sendo descoberto. Nos casos dessas experiên-
cimento. De certa forma parece haver algo que
cias, o ponto de partida foi uma listagem de al-
seria importante agora: fazer um balanço e um
gumas tantas competências que definem cada
re-ordenamento conceitual daquilo que constitui
unidade ou programa de aprendizagem.
ou define a universidade em todas suas instân-
[R] Então, em torno dessas competências listadas cias de organização e de trabalho: a estrutura e as
é que se vai formar um programa? atividades, as funções de todas as instâncias, ou
[s] Isso! O objetivo é a capacitação do aluno para seja, departamentos, tipos de cursos variados que
apresentar essas competências, exigindo a inte- têm outras modalidades de atuação específicas da
gração de vários assuntos e sua transformação em Universidade. As próprias diferenças entre cursos
comportamentos concretos para o exercício de de especialização, de atualização, de graduação,
um trabalho na sociedade. Nem sempre as apren- de aperfeiçoamento, de mestrado, doutorado e
dizagens se esgotam no âmbito de um programa assim por diante, não são claras. Na Pós-gradua-
de aprendizagem, porque outro PA tem que com- ção, por exemplo, é usada uma terminologia que
plementar; mas aí está a engenharia de constru- foi útil em seu começo: latu-sensu e stricto-sensu.
ção. Só que, agora, de outra concepção (sistêmica) Hoje, essa terminologia é inadequada porque se
de cada curso superior. Eu comecei falando do refere apenas à localização temporal desse curso:
sistema universitário, porque ele próprio precisa- depois da graduação. O mestrado tem que for-
ria de um “balanço conceitual” e de um “re-orde- mar mestres que sejam capazes de transformar
namento conceitual” que possibilitasse uma efe- conhecimento científico relevante e atual em
tiva integração entre tudo isso. Funcionalmente condutas humanas complexas e significativas
e não apenas burocrática ou politicamente, no para o aperfeiçoamento da sociedade. Para isso
sentido de blocos de poder, de grupos, de pes- precisam ser capazes de fazer pesquisas básicas,
soas... Isso já acontecia nos tempos da cátedra. A simples, mínimas, com certa profissionalidade.
cátedra era um lócus de poder. Tinha um cate- Quando se trata de capacitar um doutor, tem que
drático, “dono” de umas tantas disciplinas, seus haver a capacitação de um cientista profissional.
adjuntos, os assistentes dos adjuntos e os auxi- Ambos, mestres e doutores precisam ser capa-
liares dos assistentes. A nomenclatura existe até zes de transformar conhecimento sofisticado de
hoje. O Departamento era algo para mudar isso, alto nível, de vanguarda, em condutas novas dos
mas o que passou a existir foram cátedras oligár- estudantes. Isso implica em um gradiente de de-
20 boletim paradigma
senvolvimento e não apenas num nome que fala [R] O próprio conceito de universidade, então, de-
da localização temporal: depois da graduação, ou via ser revisto por ter sido deturpado no decorrer
(a)pós (a) -graduação. desses anos todos?
Mestrado, doutorado e especialização não [s] A universidade reduziu-se muito a uma
podem ser reduzidos a sinônimos de “depois da grande escola, pretensiosamente, ou presun-
graduação”: cada um deles têm papel próprio e çosamente, “de nível superior”. A universidade
específico no processo de capacitação de pessoas brasileira deveria ser a base, a organização das
em nível superior. Há a necessidade de redefinir bases de produção de conhecimento científico
e lidar melhor, inclusive, com a parafernália mi- e tecnológico (além do filosófico), de acesso a
diática e propagandista, oportunista, de nomear esse conhecimento, do ensino em nível superior,
cursos de especialização por “pós-graduação”. e não apenas uma “escola” ou uma “unidade es-
Essa mistura pode ser adequada para fazer mais colar”. Mesmo que faça pesquisa, dá a impressão
pessoas serem enganadas ao comprarem cursos que esta é apenas complementar, muitas vezes
de especialização, como se estivessem fazendo confundida com condição ou meio de ensino. A
uma coisa “mais importante” como são consi- concepção que precisamos é outra e não temos
derados os mestrados e doutorados. Mestrados nem nomenclatura para ela. Nós ainda não sa-
e doutorados nem são mais importantes que a bemos falar disso tudo de maneira apropriada
especialização, eles são diferentes, têm papéis ao desenvolvimento do conhecimento. Muitos
diferentes na capacitação de pessoas na socie- dos estatutos e regimentos da universidade fo-
dade. Os cursos transformam, inclusive, a pós- ram ou são copiados uns dos outros e definem a
graduação em um “lugar natural” dos cientistas universidade pelas atividades: pesquisa, ensino
da universidade fazerem pesquisas. Tanto que e extensão, não pela função de produzir conhe-
algumas universidades querem abrir programas cimento e torná-lo acessível, por meio da sua
de pós-graduação para “poderem fazer pesqui- transformação em condutas humanas de valor
sa”, quando elas deveriam abrir esses programas para a sociedade (seja no âmbito técnico, social,
porque estão fazendo muita pesquisa e, por isso, científico, ético, político e outros).
têm condições para começar a capacitar novas E agora respondo à sua pergunta: o ensi-
gerações para serem pesquisadores avança- no de Psicologia acontece nesse sistema e não
dos (cientistas). A pós-graduação virou o que fica incólume, sofre a influências fortes desse
o departamento deveria ser de acordo com as meio que aí está principalmente porque muito
propostas do movimento docente no começo do que constitui a história da Universidade é
da década de 1960. Nós, porém, anulamos duas desconhecido pela maioria dos universitários.
partes da pós-graduação e mantemos morto o A burocracia pode tomar conta dos cursos,
departamento na sua função fundamental: a de porque na falta de visibilidade funcional, as
administrar o trabalho de núcleos de pesquisa pessoas se baseiam em estruturas e regras para
que “alimentariam” diferentes cursos com os dar segurança a respeito de algo que está mal
professores-pesquisadores que mais entendem ou insuficientemente definido. Isto não pos-
do conhecimento das áreas (de conhecimento) sibilita ter visibilidade, clareza para orientar
importantes para a capacitação dos profissionais atuações mais sofisticadas do que administrar
que esses cursos devem preparar para diferentes rotinas, reduzindo a gestão da universidade a
campos de atuação profissional.. um trabalho de despachante e anulando uma
paradigma entrevista 21
liderança sistêmica que a instituição precisa ter menos psicológicos, quando ele é complicado,
para construir o conhecimento, a tecnologia e quando é anomalia, incômodo, etc. Mas não é
as aprendizagens de nível superior que o país adequado trabalhar apenas com a concepção de
necessita para seu desenvolvimento social. remediação, senão só será feito um trabalho re-
mediativo ou curativo, atendendo a sofrimento
[R] O que vocês acham do profissional da psicolo-
já existente, depois de muita destruição. Toda
gia que tem sido formado pela universidade?
possibilidade de trabalhar em organizações na
[s] Além de ter acompanhando egressos de cur-
sociedade, com prevenção, manutenção de fe-
sos de psicologia por observação e por encon-
nômenos psicológicos de qualidade, promoção
trá-los nos cursos de mestrado, de doutorado, de
de novos fenômenos psicológicos, aperfeiçoa-
reciclagem, de especialização para complemen-
mento dos fenômenos psicológicos, fica como?
tar a formação, tenho tido a oportunidade de
Se alguém não conhece os fenômenos psicológi-
acompanhar alguns estudos que verificaram o
cos, ou só conhece as técnicas, os instrumentos
que acontecia com os egressos de vários cursos:
e procedimentos de trabalho, ou as teorias, os
enfermagem, matemática, engenharia, psicolo-
conceitos etc., o campo de atuação profissional
gia, etc. Impressiona como replicam os dados da
dos psicólogos fica muito reduzido.
Ana Almeida Carvalho em uma pesquisa sobre
estudantes de São Paulo após a década de 1970: [R] Você acha que essa falta de clareza do que
os alunos de psicologia, anos depois de forma- seria o fenômeno psicológico está ligada à multi-
dos, estavam com “crise de identidade”, o nome plicidade de correntes que a psicologia tem?
que Ana Almeida usou na época para a situação [S] Pelo menos em parte, sim. Muitos dos que
desses egressos. Eles não “se viam” mais como trabalham em cada “corrente” querem reduzir o
psicólogos e, ao examinar isso, Ana encontrou fenômeno psicológico à sua teoria de preferên-
que todos reconheciam e sabiam falar sobre ins- cia ou ao que conhece. E esse é outro problema
trumentos, técnicas, problemas e teorias psico- complicado: costuma-se falar em uma teoria,
lógicos. Mas tinham dificuldade para identificar uma escola, uma abordagem, uma perspectiva
ou não conseguiam dizer com clareza, precisão no conhecimento. Mas, é melhor considerá-las
e segurança o que era um fenômeno psicológico. como simplesmente contribuições específicas
Obviamente, se eles se definem pelas técnicas e datadas no tempo, localizadas no espaço (inclu-
pelas teorias etc., cada vez que mudarem de téc- sive com suas contingências sociais, políticas,
nica, de teoria ou se pararem de trabalhar com econômicas como contingências que as deter-
o que foi considerado como “problema psicoló- minam...) e, às vezes, numa pessoa, ou em um
gico” durante sua formação, haverá dificuldade grupo de pessoas. Essas contribuições não são
em estabelecer uma “identidade profissional” incompatíveis entre si tão absolutamente como
como psicólogo. se costuma considerar, imaginar ou temer. Nem
Olga [O] Provavelmente eles estavam falando de são inimigas umas das outras. É possível integrar
problemas conhecidos, ou pelo menos sobre o conhecimentos diferentes, enxergando de que
que as pessoas demandavam como serviço do aspectos ou dimensões de fenômenos psicológi-
psicólogo. cos cada “contribuição” está falando. Por exem-
[s] E mesmo que fosse diferente, que abordas- plo, o Piaget ou sua teoria, se costuma dizer, é
sem problemas novos ou desconhecidos ainda, cognitivista ou mentalista. Mas Piaget mapeou
permaneceriam na parte problemática dos fenô- relações que as pessoas estabeleciam com certas
22 boletim paradigma
características dos fenômenos, e como isso evo- construída artificialmente por associação com
luía quando uma criança de certa faixa etária que outros aspectos presentes no meio. A mídia,
tinha um repertório desenvolvido a cada ponto até hoje, usa essa descoberta de Pavlov numa
de uma espiral de relações que estabelecia com escala muito grande. E ficaremos olhando para
o mundo. Observava como a criança reagia ao isso como se não fosse psicológico, fosse apenas
mundo, conforme ele manejava esse mundo. O midiático, propaganda, marketing? Não; nisso
fato de usar a mente como conceito “explicativo” tudo há um fenômeno psicológico importante.
ou “reunidor” das aprendizagens é secundário e Quando alguém pune fortemente uma criança
circunstancial que não precisa ser utilizado para por fazer alguma coisa, criou uma conseqüên-
entender e utilizar as contribuições de Piaget. cia aversiva quando a criança interagiu com o
Essas relações com o mundo são as mesmas que mundo de determinada forma. Há uma reação
Freud estudou em pessoas já problemáticas, já emocional a isso e o psicológico não está ape-
sofrendo, porque as relações que ela estabele- nas nas reações emocionais. Sartre, por exem-
ceu na infância não se desenvolveram mais ou plo, trouxe contribuições importantes, insistin-
de melhor forma. As contribuições de Freud e do em aspectos como: “se não entendermos as
de Piaget não são incompatíveis entre si e nem emoções como forma de relacionamento com
com as outras. Já a análise do comportamento o mundo, simplesmente não as entenderemos”.
aumentou o potencial de enxergar as relações do Considerando, por exemplo, Pavlov, Freud,
homem com o mundo, em escala muito grande, Piaget, Análise do Comportamento e existencia-
talvez nunca antes vista na história da Psicologia. lismo pode-se duvidar que sejam absolutamente
O conceito de comportamento operante e o de incompatíveis, irreconciliáveis ou opostos. São
contingência de reforçamento confirmam muito tipos de contribuição influenciados por aque-
das descobertas de Piaget e Freud, mas as exami- le mundo em que esses autores viveram. Esses
nam com mais recursos do que aqueles autores autores todos estabeleceram relações com esse
tinham na época e nas condições em que traba- mundo também. Relações de conhecimento,
lharam. Temos que abandonar as dicotomias de de descoberta, de visibilidade. Eles produziram
saúde-doença, ignorância-conhecimento, bon- um discurso sobre o mundo com o qual se re-
dade-maldade ou normalidade-patologia para lacionaram e sobre suas próprias maneiras de
entender melhor o gradiente de complexidade relacionar-se com ele (seus métodos de traba-
das relações do homem com o mundo. E, dessa lho). Fixar cada uma dessas contribuições como
forma, verificar que quanto mais abrangentes e teoria, escola, abordagem, perspectiva e colocá-
mais complexas são essas relações no tempo e las em competição, é retrocesso, é barbárie em
no espaço, mais “maturidade” (poderia ser dito relação ao conhecimento, tanto no âmbito da
assim) têm essas relações. Universidade quanto da Psicologia.
[O] Devem-se identificar essas nuances... As
[R] É assim que você está definindo o fenômeno
pessoas vêem diferenças que são limitadoras,
psicológico?
que são marcantes, fixas. Não valorizam ou pro-
[S] As relações entre o que os organismos fazem
curam as possibilidades de integração. E isso
e o ambiente em que o fazem é o que seria, para
faz parecer que se está falando de outra coisa.
mim, o fenômeno psicológico. Pavlov descobriu
Aquilo que a análise do comportamento e a psi-
uma relação com o mundo: quando acontece
canálise dizem ser o fenômeno psicológico não
alguma coisa e você reage, esta reação pode ser
paradigma entrevista 23
é a mesma coisa. Nós chamamos de comporta- tos da realidade, ou pelas possibilidades de atua-
mento o fenômeno psicológico, e os psicanalis- ção... Uns poucos anos antes da década de 1960,
tas provavelmente falariam de inconsciente, ou no mundo havia o conceito de praxis que trazia
desejo, outros falariam de alma, de sentimentos, uma espécie de orientação para o mundo, de
ou pensamento... Outros falariam de várias ou- uma perspectiva da dinâmica da interação entre
tras coisas... Mente, por exemplo. As pessoas a atuação humana e esse mundo. Ele orientava:
precisam estar preparadas ou capacitadas para atue no mundo, veja o que acontece, avalie, faça
identificar as várias dimensões que estão envol- uma reflexão crítica sobre isso, reoriente sua
vidas na possibilidade de uma comparação entre ação, volte a agir, reavalie os resultados de novo
uma contribuição e outra e aprender a ler além e repita esse ciclo permanentemente.
dos conceitos, identificar os fatos, processos, fe- Este conceito era um grande orientador para
nômenos ou “ficções” a que eles se referem.. as relações humanas. Com o golpe militar, no
Há uma diferença assim: o fenômeno é o Brasil, esse critério passou a se diluir progres-
homem na relação com o mundo, todos estu- sivamente, e apareceu outro que virou moda, e
dam, no final das contas, essas relações, o com- sutilmente foi naturalizado: o da ocupação de es-
portamento ou uma parte do comportamento. paço. Este dizia: preciso preservar, defender, au-
Alguns chamam comportamento de fenômeno mentar, ganhar meu espaço... O espaço ganhou
psicológico, outros dizem que este é só uma ma- um sentido metafórico, e aí se começou a ver
neira de estudar o fenômeno, que “psicológico” tudo como posse, poder, e não como dinâmica
é outra coisa. Às vezes, o consideram apenas um de relacionamento. Isso valeu para o conheci-
“sintoma” de outra coisa. Usam-se terminologias mento, passou a acontecer nas relações sociais,
distintas para se referir aos mesmos processos. nos papéis. Esse “novo conceito” era, no passa-
Pode-se identificar com clareza, na terminolo- do, o critério da cátedra também. Essa confusão
gia, a qual processo ou a que parte do fenômeno conceitual detonou, inclusive, a possibilidade de
psicológico alguém está se referindo. Claro que articular informações, de compor alguma coi-
há também as características de cada pressupos- sa em comum como é o caso da formação ou
to: o que as pessoas entendem ou se orientam capacitação profissional e social de jovens. Em
para tomar decisões, ou seja, de qual distância função disso, disputa-se, inclusive, preferência
se vai olhar, de qual enfoque, com quais recur- ou opção do aluno, como posse também. O
sos ou conceitos e qual a terminologia que vai aluno tem que escolher aquilo que é do meu
ser usada. Todo esse conjunto pode orientar campo, por que daí ele é meu, ele me dá força,
as pessoas nas decisões e na avaliação do que é status, é minha propriedade, é meu discípulo,
possível integrar, orientando as pessoas em suas meu orientando, da minha pesquisa... Com isso
decisões de conhecimento e atuação... vem a ilusão de que o “espaço pessoal” vai ficar
mais forte, mais protegido, mais amplo, mais
[R] Essa é uma visão triste sobre a dificuldade de
garantido. Não se enxerga mais a dinâmica das
definição do campo de atuação de uma profissão,
relações, não se fala dela, não se tem mais recur-
que é loteado em mini-campos onde as pessoas
so para discuti-la. Isso é tão forte na sociedade,
se alojam, e ali elas se definissem e se defendes-
na universidade de maneira particular, que até
sem por meio dos instrumentos...
hoje há, claramente, a idéia de gestão, de cargos,
[s] ... Pelos instrumentos, pelos conceitos e não
como posse da informação, do patrimônio, do
pelos problemas da população, nem pelos aspec-
24 boletim paradigma
dinheiro, do direito de decidir pelos outros ou O que está acontecendo destrói a psicologia.
de “mandar” e exigir das pessoas que trabalham Olhando para sua questão de novo, é preferível
naquele setor, do qual alguém é algum tipo de mudar a maneira de chamar essas coisas todas
gerente ou “superior”. É como se a informação que foram feitas, produzidas, registradas, siste-
fosse propriedade para se manipular de acordo matizadas, com grande quantidade de pessoas,
com os interesses de quem dirige e não de quem com discípulos às vezes, com sistemas de infor-
concedeu o mandato de dirigente. Essas con- mação mais ou menos estruturados. Ao invés de
dições e informações são do povo, do país, são chamá-las de teorias, escolas, abordagens etc.,
públicas, coletivas, e não posse de alguém que, pode ser melhor chamá-las de “contribuições”.
eventualmente, ocupe um cargo de dirigente. Na Parece-me ser menos comprometedor e, dessa
psicologia, o objeto de estudo é um organismo forma, todas têm valor, até que seja provado o
como um todo, em interação com o mundo por contrário, e se provar que não têm, é porque há
meio das suas ações, e aí sim, ações que podem outra que melhorou um pouco aquilo. E, no fi-
ser inclusive pensar, sentir, emocionar-se, etc. Ao nal das contas, é esse o papel da Ciência e da
pensar nisso como coisas, ao invés de se olhar Filosofia: avaliar continuamente o conhecimen-
em termos de processos, enxergamos substanti- to existente, produzido por tantos...
vos, entidades, pensamento, mente, sentimento
e não os processos de sentir, pensar etc. Isso re- Leia a entrevista na íntegra no site:
duz a visibilidade. www.nucleoparadigma.com.br
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Na estante
Resenha do livro:
“A abordagem behaviorista do comportamento novo”.
de Bandini, C. S. M & de Rose, J.C.C (2006)
Yara Nico
26 boletim paradigma
ciadas por alunos ou mesmo analistas do com- A terceira parte do livro é dedicada à apre-
portamento já atuantes. A clareza das idéias, a sentação dos “procedimentos envolvidos no
seleção criteriosa de informações que estão espa- surgimento de comportamentos verbais novos”
lhadas ao longo dessa obra de Skinner e, princi- e se encontra organizada em duas partes: técni-
palmente, o modo como estas foram organizadas cas de autofortalecimento do comportamento
por Carmen e Julio para apresentar o material, o verbal e a produção de novas respostas verbais
tornam um excelente material didático e leitura não disponíveis no repertório do falante.
obrigatória para estudiosos do comportamento. Certamente, essa parte do livro é de extrema
Na primeira parte do livro (“Uma intro- importância, não apenas para aqueles que de-
dução à noção de comportamento verbal e à senvolvem estudos teóricos e/ou empíricos so-
proposta de análise behaviorista radical”), os bre comportamento verbal, mas também para
autores apresentam considerações básicas para todos os analistas do comportamento dedicados
o entendimento da proposta de Skinner de aná- ao trabalho de aplicação e desenvolvimento de
lise do comportamento verbal. O capítulo sobre intervenção nos mais variados campos. Após a
os diferentes tipos de operantes verbais constitui leitura das análises apresentadas nessa parte, fica
um ótimo material a ser utilizado no ensino, es- claro que conhecer os procedimentos para gerar
pecialmente para alunos iniciantes no tema. comportamento novo não-verbal não é suficien-
A segunda parte do livro (“O surgimento te quando a questão é intervir sobre problemas
de comportamentos verbais novos”) discute vividos por seres verbais.
mais diretamente o entendimento de Skinner Planejar e propiciar a variabilidade verbal
sobre o aparecimento de comportamento novo, requer, assim, um conhecimento mais específi-
relacionando essa questão com o modelo cau- co e complexo. Tal desafio encontra-se presen-
sal de seleção por conseqüências, a definição de te, de alguma forma e em algum grau, em toda
comportamento operante e a noção de variabi- intervenção que não se pretenda simplista.
lidade comportamental. Destaca-se dessa parte Na última parte do livro, o leitor ainda pode
do livro a apresentação dos processos envolvi- usufruir comentários adicionais, mas não me-
dos no surgimento de comportamento verbal nos inquietantes, sobre “a ciência e a literatura
novo, a saber: o processo de generalização e as como exemplos dos processos e procedimentos
extensões de mandos e tatos; a recombinação apresentados”.
na formação de novas respostas verbais; a fun- Carmen e Julio nos proporcionam a leitu-
ção dos processos autoclíticos na produção de ra de um material a um só tempo rigoroso e
novas respostas verbais; o papel da auto-edição acessível, analítico e capaz de unificar os co-
do comportamento verbal no surgimento de nhecimentos sobre processos e procedimentos
novas respostas; a diferenciação por aproxima- relacionados à criatividade verbal.
ção sucessiva na aprendizagem de novas res-
postas. Saber dos vários processos que podem Bandini, C. S. M & de Rose, J.C.C (2006). “A abordagem beha-
ser responsáveis pelo aparecimento de novas viorista do comportamento novo”. ESETec: Santo André.
na estante 27
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Análise do comportamento
e educação
O uso de testes na orientação profissional
analítico-comportamental1
Marcio Alleoni Marcos
Giovana Del Prette
Maria Amália Morais Pereira
Marina Mazer
Sueli Amaral
30 boletim paradigma
uso desde que sua interpretação O objetivo de um programa de OP, portanto, é o de facilitar
seja consistente com a proposta a escolha autônoma de uma profissão, incompatível com
analítico-comportamental; a aplicação de um teste e a subseqüente apresentação
(2) Os testes podem acelerar de um resultado final aparentemente inequívoco, que se
etapas do processo, atendendo apresenta como uma solução mágica ao cliente.
à demanda do adolescente que
precisa escolher uma profissão com algu- cólogo ao auxiliarem no acesso a informações
ma rapidez para prestar o vestibular. O uso às quais o orientador teria pouco ou nenhum
de testes não deve ser indiscriminado, nem acesso. Defendemos, no entanto, que a orien-
deve ser um “pacote padronizado” de inter- tação não seja baseada exclusivamente neles, e
venções. A escolha de quais testes e como que o cliente não seja submetido a uma bateria
utilizá-los deve ocorrer como subproduto da impessoal e padronizada de instrumentos de
análise de contingências a respeito do clien- avaliação, pois a escolha e uso dos mesmos deve
te que está sendo atendido; se pautar na análise de contingências realizada
(3) O próprio comportamento de res- durante o processo.
ponder a um teste não deve ser ignorado
pelo orientador. Segundo a Psicoterapia 1 O presente artigo foi escrito pelos coordenado-
Analítico Funcional (FAP), de Kohlenberg res do Programa de Orientação Profissional: Pesquisa
e Tsai (1991), a análise dos comportamen- e Aplicação, do Paradigma® Núcleo de Análise do
tos que ocorrem durante a sessão terapêuti- Comportamento, todos especialistas em clínica analíti-
ca pode trazer informações relevantes para co-comportamental pelo Núcleo Paradigma.
o atendimento; Contato: orientacaoprofissional@nucleoparadigma.com.br
(4) Por meio da aplicação e dos resulta-
dos de um teste, a díade orientador-cliente
pode levantar variáveis importantes para o Referências bibliográficas
autoconhecimento, a solução de problemas
Conselho Federal de Psicologia. resolução
e a tomada de decisão profissional.
002/2003. Disponível em: <http://www.pol.org.
O objetivo de um programa de OP, portanto, br>. acesso em: 13 de Março de 2008.
é o de facilitar a escolha autônoma de uma pro- Kohlenberg, R. J., & Tsai, M. (1991). Functional
fissão, incompatível com a aplicação de um teste Analytic Psychoterapy: creating intense and curati-
e a subseqüente apresentação de um resultado fi- ve therapeutic relationship. New York: Plenum.
nal aparentemente inequívoco, que se apresenta Micheletto, N.; Sério, T.M.A.P. (1993) Homem: ob-
como uma solução mágica ao cliente. O proces- jeto ou sujeito para Skinner? Temas em Psicologia,
so compreende a instalação ou refinamento do v. 2, p. 11-22.
repertório do cliente de tomada de decisão, solu- Skinner, B. F. (1957). Psychology in the understanding
ção de problemas e comportamento de escolha, ao of mental disease. Em Cumulative Record – Definitive
Edition, pp. 295-302. Cambridge, MA: B. F. Skinner
mesmo tempo em que se procura ampliar tanto
Foundation. Publicado originalmente em 1957.
o autoconhecimento do orientando como as in-
Skinner, B. F. (1970). Ciência e comportamento
formações que ele tem a respeito das profissões.
humano. Editora Universidade de Brasília. Publicado
Os testes podem fazer parte de um programa de originalmente em 1953.
OP, já que agilizam e ampliam a atuação do psi-
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História de vida
Margarida Windholz
O boletim Paradigma inaugura a seção “História de Vida”,
e apresenta para a comunidade relatos sobre a vida de
personalidades importantes na história da Análise do
Comportamento no Brasil
história de vida 33
com autistas, seguida de muitas outras. Hoje, (atualmente só natação e academia) e também
alguns dos clientes atendidos por Maggi são gosta de ir a bons teatros e a concertos.
adultos produtivos. Recentemente, Maggi deixou São Paulo e
É fruto dessa experiência o importante li- foi morar em Israel. Sobre isso, conta que – des-
vro sobre o assunto: Passo a Passo, Seu Caminho de a sua infância, Israel foi uma referência mui-
– Guia Curricular para o Ensino de Habilidades to importante. “Aliás, em 1936, era para termos
Básicas, publicado em 1988 pela Edicom. Seu co- ido para a então Palestina, ao invés do Brasil”.
nhecimento na área foi responsável pela forma- Sua adolescência e juventude foram marcadas
ção de uma série de educadores, fonoaudiólogos por atuação em movimentos juvenis sionistas,
e psicopedagogos que trabalham com crianças de organizações sionistas em São Paulo, assim
com necessidades especiais. como em trabalhos comunitários em geral.
Curiosa e fundamentalmente muito estu- “Sempre pretendemos, em algum ponto de
diosa, Maggi também fez incursões em outras nossas vidas, fazer aliá2, o que ficou posposto
abordagens da psicologia. Seu doutorado foi por “n” motivos até agora, quando então pude-
sobre o teste Roschach, tendo publicado dois mos realizar este sonho”.
manuais sobre o tema aplicado a crianças. É Maggi deixa no Brasil, não apenas a lem-
importante notar que, entremeado a esses di- brança e o afeto dos amigos que aqui cativou,
ferentes percursos pela psicologia, esteve o mas também um legado de conhecimento e
trabalho clínico que Maggi sempre valorizou, um exemplo de ética, seriedade e compromis-
associado à atividade de pesquisa. so social.
A importância da jornada profissional da
Dra. Margarida Windholz incide especialmente 1 As informações desta História de Vida foram obtidas a par-
no fato de se tratar de uma psicóloga que sabe tir das seguintes fontes: Depoimento de Margarida Windholz
unir ensino, pesquisa e diversas formas de atu- que compõe o trabalho de doutorado de Sandra Tereza Pérez
ação clínica e social. Sempre em seu trabalho, de Morais (1999); Informações obtidas com a Dra. Sonia
Maggi reuniu essas três vertentes, relacionadas Beatriz Meyer, amiga e colega de consultório, e informações
a pessoas com problemas de desenvolvimento, diretamente obtidas com Margarida Windholz.
ao estudo das relações mães-bebês e ao estudo 2 A volta para Israel, prática de judeus que vivem fora de
de escalas de desenvolvimento. Israel, ou seja, nas diásporas, e que em um dado momento
Segundo a própria Maggi, são seus planos decidem retornar.
para o futuro: “continuar trabalhando; reedi-
tar o livro ‘Passo a Passo’, com modificações
na forma, algumas mudanças e acréscimos
ligados à experiência posterior à sua publi-
cação, e o aumento do capítulo sobre análise
comportamental aplicada.”
Com quatro filhos, nove netos, um bisneto
(“por enquanto”), Maggi diz que a família esteve
Denis Roberto Zamignani
e sempre estará acima de tudo nas suas escolhas.
Roberta Kovac
Para além de trabalhar e estudar, Maggi gosta Joana Singer Vermes
de ler, ouvir música, cozinhar. Pratica esportes
34 boletim paradigma
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Análise do
comportamento e trabalho
Análise do Comportamento Aplicada às Organizações
Organizational Behavior Management (Obm)
O que você acharia do seu trabalho se este fosse
adaptado para que você gostasse dele?
Imagine que você trabalhe numa fábrica de manufatura em que seu tra-
balho é preparar vasos cerâmicos para empacotamento. Os vasos descem por um bra-
ço mecânico, ficando, em pé, em grupos de 10. Seu trabalho é deitá-los antes que eles
sejam automaticamente embalados e colocados em caixas para envio. Os vasos vêm
rapidamente e requerem alguma habilidade para a realização eficiente do trabalho.
Sua produtividade não é nada especial, apenas o suficiente para mantê-lo afastado de
problemas no trabalho. Embora a remuneração seja adequada, particularmente você
não gosta do trabalho e geralmente reclama de aborrecimentos e falta de desafios. Seu
desempenho é revisado em relatórios trimestrais. Se seu desempenho está abaixo do
padrão, você é questionado sobre o que fará com relação ao seu baixo desempenho. Se
este estiver acima da média, seu supervisor apenas lhe informa: É para isso que você
é pago! Você quase não recebe feedbacks durante o seu horário de trabalho. Quando
existe um problema, o chefe convoca uma reunião e explica sobre as necessidades de
um desempenho melhor ou uma qualidade superior. Agora vamos considerar um
trabalho num ambiente muito semelhante ao descrito acima em que, no entanto, a
pessoa mal pode esperar para realizar o trabalho. Vamos chamá-lo de tarefa 2. Esses
funcionários também devem colocar 10 objetos deitados por vez. A tarefa 2 é mais
difícil do que o empacotamento de vasos, uma vez que os objetos ficam a 10 metros
dos funcionários. Cada um utiliza uma ferramenta especial na realização desta ta-
refa. Cada um tem duas tentativas para colocar cada um dos objetos deitados, sen-
do que o braço automático remove quaisquer objetos remanescentes e recoloca uma
nova remessa de 10 objetos no mesmo lugar. Mesmo com toda a pressão potencial de
colocar todos os objetos deitados em somente duas tentativas, os funcionários não se
sentem nada estressados. Pelo contrário, estes gostam muito do trabalho e passam,
após algum tempo, a fazê-lo de maneira eficaz. Por que o trabalho número 2 é mais
produtivo e prazeroso do que a tarefa número 1? (Daniels, 1984).
38 boletim paradigma
um dos principais estímulos antecedentes de- tudo é o comportamento organizacional.
terminantes pela emissão de um comportamen- Deixando claro que, “comportamento
to esperado ou indesejado. Crowell, Anderson, organizacional” significa ambos, o com-
Abel e Sergio (1988) realizaram uma pesquisa portamento dos indivíduos na organiza-
com o objetivo de investigar os efeitos de três ção e o comportamento das organizações
procedimentos mais utilizados pela OBM na como entidades funcionais em si. O que
intervenção de problemas organizacionais: es- deve ser gerenciado é a relação entre o
pecificação da tarefa, feedback do desempenho comportamento dos indivíduos dentro
e elogios sociais. Os autores concluíram que o da organização e o comportamento da
procedimento mais eficiente para o aumento e organização como um todo. (p. 90)
melhora do desempenho de atendentes de ban-
Trabalhar com um objeto de estudo com
cos foi o uso de elogios sociais contingentes à
tamanha complexidade tem muitas impli-
execução da tarefa. No entanto, os resultados
cações práticas. Exige que o OBMer garanta
obtidos a partir do procedimento de especifi-
que qualquer intervenção que faça no com-
cação da tarefa como antecedente à execução
portamento ou no ambiente tenha impac-
apontam para um aumento significativo do de-
to direto ou indireto no produto ou serviço
sempenho a partir das medidas obtidas durante
que a organização fornece a seus clientes fi-
a fase de linha de base.
nais (McGee, 2007). Para que isso ocorra, ele
Por fim, a mensuração de comportamento
deve possuir formas para ordenar e analisar
e de seus resultados aparece como um dos di-
as interdependências que existem nos sis-
ferenciais desta proposta frente às intervenções
temas organizacionais e suas contingências
tradicionais no meio organizacional. Daniels
entrelaçadas, além de ferramentas específicas
(1984) afirma que só a partir de adequados mé-
para realizar suas intervenções. Com relação
todos de mensuração, é possível identificar os
às ferramentas, McGee (2007) afirma que
efeitos de cada uma das intervenções aplicadas
durante as intervenções, são necessários co-
e, além disso, é possível promover alterações
nhecimentos das duas grandes áreas da OBM:
em procedimentos e até nos pontos-chave (pin-
a de Gestão do Desempenho (Performance
points) identificados como sendo os principais
Management – PM) e a de Análise de Sistemas
alvos de intervenção.
Comportamentais (Behavioral Systems
Analysis – BSA). Na seguinte passagem
Mas o objeto de estudo da OBM seria apenas
McGee (2007) diferencia essas áreas:
o comportamento do indivíduo inserido num
ambiente organizacional? Algumas vezes, a análise e as interven-
Glenn & Malott (2004) definem claramente ções em busca de melhorias envolvem
qual é o objeto de estudo dos analistas do com- a identificação e manipulação de vari-
portamento que atuam em organizações (os áveis, diretamente associadas aos com-
chamados OBMers): portamentos-alvo; esse aspecto da OBM
refere-se a gestão de desempenho [per-
(Os OBMers) devem expandir as ati-
formance management]...Outras vezes,
vidades tradicionais de um analista do
a análise e as subseqüentes intervenções
comportamento porque seu objeto de es-
envolvem níveis mais remotos da orga-
40 boletim paradigma
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Comportamento em cena
“Lucas: Um intruso no formigueiro”
Filme infantil aborda bullying e relações hostis na infância1
Giovana Del Prette
42 boletim paradigma
As crianças não necessariamente são somen- las formigas. Diz-se, nesses casos, que esse novo
te vítimas, nem somente bullies. Atualmente, já ambiente dá a oportunidade e reforça a ocorrên-
se fala no perfil “bully/vítima”, em que a criança cia de comportamentos alternativos. O reforço se
agride e é agredida. No filme, ao mesmo tempo observa quando, cada vez mais freqüente, Lucas
em que Lucas é vítima dos garotos da vizinhança, passa a se importar com as demais formigas e
também é, de certa maneira, bully do formigueiro, trabalhar em equipe. As habilidades sociais que
repetindo aquilo que ouviu de seu agressor: “Vou ele aprende podem ser traduzidas nos termos:
atacar você e você não pode fazer nada. Sabe por solidariedade, cooperação, empatia, convivência
quê? Porque eu sou grande, e você é pequeno!”. em grupo, liderança não-coercitiva, expressão
Sidman (2003) afirma, com base em pesquisas de sentimentos positivos.
empíricas e experimentais, que coerção gera Outra grande diferença entre os relacio-
coerção: “depois de ser punido, um sujeito fará namentos no mundo original de Lucas e no
qualquer coisa que possa para ter acesso a outro formigueiro é a punição versus valorização das
sujeito que ele possa então atacar” (p. 221). diferenças individuais:
Dentro do formigueiro, uma formiga- “Zoc: São as diferenças que fazem a colônia
feiticeiro cria uma poção que encolhe Lucas, ser forte. Operárias, exploradoras, reproduto-
que é trazido para julgamento pela rainha. A res, enfermeiras, regurgitadores, diferentes,
rainha, ao julgá-lo, diz: “Podemos destruir mas essenciais para o todo. É daí que as formi-
o humano e viver mais um dia, ou podemos gas retiram sua força.
mudar a natureza deste humano e talvez criar Lucas: Minhas diferenças só me fazem apa-
um futuro melhor para todas as formigas. nhar. Alguns humanos preferem bater em pes-
Sentencio o humano a aprender conosco. Ele soas que não entendem.”
deve virar formiga.” Ela toma tal decisão por Por que algumas crianças são vítimas de
prever conseqüências a longo prazo de se en- bullying? É importante destacar que as vítimas
sinar comportamentos incompatíveis com a são “escolhidas” por suas diferenças, mas que
agressão, esperando que esse repertório possa tal informação pouco adianta para prever se
ser disseminado entre os humanos, quando uma criança será ou não vítima, uma vez que
Lucas voltasse ao tamanho normal. ninguém é igual a ninguém. Em geral, aquilo
Por trás de todas as aventuras no formiguei- que é diferente é: (a) invejável; (b) culturalmen-
ro, está o ensinamento da convivência em gru- te estigmatizado e/ou (c) indefeso. Uma crian-
po. Já a primeira atividade para a qual Lucas é ça pode ser alvo por apresentar características
escalado – uma corrida rumo a uma gigantesca físicas (muito aparentes ou mesmo mínimas)
bala de jujuba – é estruturada para que as for- ou comportamentos desprezados por seu meio
migas trabalhem em equipe e, somente dessa social, ou até por ter qualidades que seu grupo
maneira, cheguem ao fim da corrida. A segun- gostaria de ter. Pode também ser indefesa por
da aventura da história é um ataque de insetos não possuir um repertório de enfrentamento
ao formigueiro, em que Lucas acidentalmente adequado para essas situações, mas também
salva a todos. Nos dois casos, Lucas exibe aci- simplesmente por estar em minoria.
dentalmente um comportamento incompatível Não há regra a respeito de como a criança
com o individualismo e o isolamento e, nesses deve reagir para se livrar das agressões, porque
momentos, é bastante elogiado e valorizado pe- não são as suas reações que mantém o compor-
comportamento em cena 43
tamento dos bullies, e sim as reações da própria algo como: “Agora gostei [nova conseqüên-
turma de bullies que, continuamente, aprova cia], que tal se ao invés de bater para ter
esse comportamento. Pouco importa como a o brinquedo, você pedir para brincar junto
criança reaja (ignorando, retrucando, contando com ele [alternativa de ação], que será mais
para a diretora); é possível que o bullying con- legal [conseqüência]?”;
tinue, sendo mantido pelo grupo. Os membros (d) a modelação, isto é, pais e professores
do grupo elegem uma ou mais crianças para devem comportar-se da mesma maneira
rejeitar e, enquanto se rejeita, não se é rejeitado, que desejam que a criança se comporte;
mantendo a coesão da turma. (e) proteger a criança e também ensiná-la a
O que fazer com o bullying, então? A aná- se proteger, manejando a interação entre as
lise mostrou que: (a) ser vítima não é culpa da crianças para que elas próprias aprendam a
criança e (b) as reações voltadas para o bully solucionar problemas.
podem pouco funcionar. Conforme o filme, a Por fim, convém lembrar que não praticar a
melhor intervenção é aquela que diminui os violência gratuita não é sinônimo de ser “bonzi-
riscos de a criança ser vítima e também bully, nho” (passivo). Os extremos passivo-agressivo
ao aprender habilidades sociais e valores in- se constituem em uma relação de desequilíbrio,
compatíveis com os existentes no bullying. ao passo que a assertividade equilibra direitos e
Por essa via, a criança poderá fazer amizade deveres nas relações.
mais facilmente com crianças que não prati-
cam bullying, inserir-se com mais sucesso em 1 O artigo é resultado de palestra, apresentada pela mesma
grupos alternativos e comunicar-se com pais e autora, sobre o filme “Lucas: um intruso no formigueiro”,
professores para solicitar-lhes ajuda quando for apresentado no evento Cine Paradigma, que ocorre men-
preciso. Além disso, é uma valiosa alternativa salmente em nosso espaço, sob coordenação de Joana
para frear a disseminação do bullying, como fez Singer Vermes.
a formiga rainha do filme. Alguns dos princi-
pais métodos para esse ensino são:
Referências bibliográficas
(a) a monitoria positiva (Gomide, 2004), isto
é, nem negligenciar, nem superproteger; Nogueira, R. (2005). A prática da violência entre
(b) o arranjo de contingências ambientais pares: o Bullying nas escolas. Revista iberoamerica-
que criem oportunidade para emissão e na de educación, 37, 93-102.
conseqüenciação positiva de comporta- Sidman, M. (2003). Coerção e suas implicações.
mentos adequados, como ocorreu na cor- Campinas: Livro Pleno.
rida até a bala de jujuba, no filme; Wikipédia: A enciclopédia livre. [disponível online
(c) dar instruções, limites, verbalizar em 15/04/2008 em http://pt.wikipedia.org/wiki/
claramente as conseqüências dos compor- Bullying]
tamentos da criança e dar alternativas de
ação, como por exemplo ao dizer à criança:
“Você não pode bater no seu amiguinho [li- Giovana Del Prette é Mestre e Doutoranda em
Psicologia Clínica na Universidade de São Paulo (USP).
mite], veja como ele ficou chateado [conse-
Especialista em Clínica Analítico-Comportamental pelo
qüência]. Peça desculpas [conseqüência].” Núcleo Paradigma. Contato: gdprette@gmail.com.
E, diante da mudança de comportamento,
44 boletim paradigma
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K\c%((*/-+0.*)
Prêmio paradigma
No dia 5 de julho de 2008 ocorreu em nossa sede a
Jornada Científica e Premiação dos melhores trabalhos inscritos
no I Prêmio Paradigma de Análise do Comportamento
prêmio paradigma 47
“Uma sistematização da prática do terapeuta No final do dia, fomos brindados com
analítico-comportamental: subsídios para a uma excelente palestra proferida pelo Prof.
formação”. Dr. Emmanuel Zagury Tourinho, professor
Trabalho orientado por Edwiges Ferreira de titular da UFPA e representante de área na
Matos Silvares, no Programa de Pós-Graduação CAPES sobre o tema “Desafios da Análise do
em Psicologia Clínica da Universidade de São Comportamento em Contextos Acadêmicos”
Paulo. Para nós do Núcleo Paradigma, foi uma
enorme satisfação ter vivido o clima de troca
Fabíola Alvares Garcia-Serpa
científica e o espírito de respeito entre todos
“Aquisição, generalização e manutenção de
os participantes concorrentes e público. Este
comportamentos sociais em meninos consi-
foi um incentivo para a continuidade do pro-
derando diferentes repertórios empaticos no
jeto Prêmio Paradigma que, com certeza, terá
passado”
sua segunda edição no próximo ano para a
Trabalho orientado por Sônia Beatriz Meyer,
premiação dos trabalhos defendidos em 2008.
no Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Agradecemos a todos os envolvidos no pro-
Clínica da Universidade de São Paulo.
cesso, convidando de antemão aqueles que
Os cinco trabalhos melhor avaliados pela tiverem alguma titulação em análise do com-
comissão julgadora em cada categoria recebe- portamento (especialização, mestrado ou dou-
ram menção honrosa e seus autores foram con- torado) para se inscreverem como membros da
vidados a apresentá-los na Jornada Científica próxima comissão julgadora. Para aqueles que
que constou da apresentação oral dos trabalhos tiverem seus trabalhos de conclusão de curso,
para que a comunidade presente pudesse co- monografia de especialização, dissertação de
nhecê-los e debatê-los. mestrado e teses de doutorado, defendidas em
Estiveram presentes na Jornada, 60 parti- instituições de ensino superior entre 01/01 e
cipantes. 31/12 de 2008, convidamos para que se inscre-
Os trabalhos apresentados na Jornada vam como candidatos à próxima premiação.
Científica concorreram ainda a uma vota-
ção realizada dentre os presentes na jornada,
para a escolha da “melhor apresentação oral”.
A melhor Apresentação Oral foi conferida a Roberto Alves Banaco
Dhayana Inthamoussu Veiga (“Brincando de Denis Roberto Zamignani
caça ao tesouro: uma análise experimental do Roberta Kovac
controle por instruções”) Joana Singer Vermes
48 boletim paradigma
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P8I8:C8IFE@:F
Uma Publicação do Núcleo Paradigma
– Consultoria, Ensino e Pesquisa.
São Paulo, vol. 3, agosto de 2008 FZlijff]\i\Z\ldX`ekif[lf~jZfdg\keZ`XjY}j`ZXjgXiX
f\o\iZZ`f[XZce`ZXXeXck`Zf$ZfdgfikXd\ekXc%
Coordenação editorial
Roberta Kovac \jkilkliX[`[}k`ZX
Joana Singer Vermes FD[lcf@ekif[lki`f[fZlijf[\]fidXf\d:ce`ZX8eXck`Zf$
:fdgfikXd\ekXcZfdgfjkf[\ldkfkXc[\/'_fiXj#[`jki`Yl[Xj\d
Comissão executiva kij[`jZ`gc`eXjk\i`ZXj#hl\Xgi\j\ekXdfjZfeZ\`kfj#d\kf[fcf^`X\
Roberta Kovac k\Zefcf^`X[XXgc`ZXf[XXe}c`j\[fZfdgfikXd\ekfXfZfek\okfZce`Zf1
Joana Singer Vermes :feZ\`kfj9}j`Zfj[X8e}c`j\[f:fdgfikXd\ekf+'_fiXj
Ilustração da capa: Silvia Amstalden
Denis Zamignani 8mXc`Xf:fdgfikXd\ekXc)'_fiXj
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Roberto Alves Banaco
Resenha
“A abordagem behaviorista
do comportamento novo”
História de Vida
Margarida Hofmann Windholz