Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
28/8/2015
TERAPIA
ANALÍ TICO-COMPORTAMENTAL
Relato de Casos e de Análises
Vários autores
ISBN 978-85-69475-00-2
15-06067 CDD-150.195
julho 2015
S umár io
1 Caso ROBERTA 15
2 Caso REGINA 39
3 Caso RAFAEL 65
4 Caso JOÃO 79
Supervisão 133
contingências sociais
Diagnóstico 187
SD Estímulo discriminativo
Sp Estímulo punidor
I ntrodução
Este livro se propõe fazer uma ponte entre o behaviorismo radical e a prática
clínica. Entretanto, apresenta-se pouca teoria em cada tópico, e enfatiza-se a
aplicação prática da teoria. Consiste no relato de nossas principais conclusões, ao
reunirmos experiência clínica, de supervisão, de pesquisa e de discussões teóricas.
Por essa razão, nossas reflexões são apresentadas na primeira pessoa do plural, já
que se referem ao nosso grupo de supervisão, que é descrito a seguir
Tal decisão passou a ser feita mediante consulta ao grupo, sendo essa uma das
maneiras de cuidar da coesão. Nessa consulta, critérios existentes ou novos eram
deliberados. Esses critérios são mutáveis; podia ser critério de inclusão a existência
de alguma pesquisa que requeresse a participação de outros terapeutas; podia
ser critério de exclusão o número elevado de participantes, o que inviabilizaria
supervisão adequada atodos. Os critérios adotados eram profissionais, e amizades
e preferências não eram consideradas como critérios.
O grupo está inserido numaclínica-escola, o que leva à necessidade de atender
a três propósitos: (1) serviço à comunidade, (2) formação do profissional e (3)
desenvolvimento de pesquisa. A formação do profissional é atendida à medida
que todos atendem e realizam supervisão de seus casos, e o modo como isso é
feito é objeto de discussão neste livro. O desenvolvimento de pesquisa ocorre por
meio dos projetos de pós-graduação stricto sensu , orientados dentro de nosso
laboratório, que auxiliam também em nossa prática clínica. Frequentemente
recorremos às pesquisas dos membros do laboratório para entender o que
ocorre na interação terapêutica e, dessa maneira, aprimorar as análises dos casos.
Também é critério para 0 ingresso no grupo estar interessado ou já engajado no
desenvolvimento de pesquisas. Isso caracterizou não só 0 trabalho do grupo
como algo que está acima da supervisão de casos, mas também um grupo que é
comprometido com a produção de conhecimento que alie teoria e prática.
Quanto à prestação de serviço à comunidade, esse aspecto é naturalmente
atendido porque é critério para 0 ingresso e permanência no grupo realizar pelo
menos um atendimento. Além disso, visto que uma parcela do grupo realiza
pesquisa em clínica, alguns membros atendem a casos da clínica-escola para seus
projetos de pós-graduação.
O grupo passou a ser denominado de Estrela do Lattes mediante uma
O funcionamento do grupo
O
À
Ç
U
D Depois de algum tempo, surgiu a necessidade de descrever o modo de
O
IR
IN funcionamento do grupo de supervisão, principalmente devido às diferenças
percebidas em outros grupos por alguns de seus participantes. O pequeno
8 texto adiant e, env iado por uma das integrant es do grupo à sup ervis ora, resume
O
O tivro foi escrito a muitas mãos. Ã
Ç
U
D
Segue o minicurrículo dos autores. O
R
T
IN
Mareia Kameyama
Possui graduação pela Universidade de São Paulo (psicóloga e bacharela). É
Mestra em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. Membro voluntário
do Serviço de Terapia Analítico-Comportamental do Laboratório de Terapia
Comportamental do Instituto de Psicologia da USP Tem experiência em clínica,
FAP, pesquisa clínica, treinamento de equipe, dor crônica, reabilitação física
por meio de exercício resistido e envelhecimento. Atua como psicóloga clínica
em consultório particular. Trabalha com treinamento de equipe e avaliação e
orientação psicológica no Instituto Biodelta. Faz parte do corpo docente do curso
de especialização em Fisiologia do Exercício e Treinamento Resistido na Saúde, na
Doença e no Envelhecimento do Instituto Biodelta, em parceria com a Escola de
Educação Permanente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Victor M angabeir a
da Universidade de São Pauto (USP) como aluno graduado com a maior média
entre os formandos. É especialista em Clínica Analítico-Comportamentai pelo
Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento. Atualmente cursa doutorado
direto em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo (IPUSP). É p5Ícólogo clínico (Terapeuta Analítico-Comportamentai). Tem
experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Clínicae Psicologia
Experimental. Trabalha com a Psicoterapia Analítica Funcional (FAP) desde
2008, incluindo uma pesquisa de doutorado direto utilizando delineamento de
sujeito único.
Caso ROBERTA1
Identificação da cliente
Roberta (nome fictício), 45 anos de idade, foi casada aproximadamente dez
anos e tinha três filhos. Na época do atendimento, a cliente cursava faculdade
havia quase dez anos e recebia uma bolsa estudantil. Apresentava 0 diagnóstico de
Transtor no de Personalida de Borderline e não fazia uso de medicação psiquiátrica.
Queixas apresentadas
Roberta apresentou, como queixas iniciais, episódios de insônia, pavor
1 Dad os pessoais e detalhes d e alguns episó dios foram rrod rficaa cs pa^s impedir a identif icação dos
envolvidos.
A
T Robe rta também dizia que nunca gostou de médico s e psicólogos, o s quais eram
R
E
B sempre arrogantes e técnicos, e que ela avaliava a toda a hora o comportamento
O
R
O
do outro, da aparência às “nuances” de comportamento. Dizia que não acreditava
S
A
C em terapia porque as pessoas a faziam apenas para “aliviar a culpa e a consciência”
e não mudavam em nada. Certo dia chegou à sessão dizendo que estava muito
irritada e mal-humorada e que tinha calçado as botas justamente para dar um
chute na canela de alguém. Roberta tinha a certeza de que era um caso novo que
estava aparecendo no campo psicológico, algo que nunca tinha sido estudado.
Fazia questão de que tudo fosse filmado porque assim os alunos aprenderiam
muito com ela, inclusive o terapeuta. Em todas as sessões, Roberta sempre falava
algo desagradável: “não gostei da sua voz no telefone. É feia e parece de velho".
Seguem-se exemplos dos episódios verbais descritos acima, ocorridos na
primeira sessão de terapia. Os episódios exemplificam as falas agressivas da
cliente em três momentos da sessão: no contato inicial, durante a sessão e no
encerramento.
Durante a sessão.
T.: O que te trouxe para a terapia?
A
questão que tudo seja filmado já que sou um caso novo e os alunos vão T
R
E
B
aprender muito comigo. O
R
T.: Tudo bem, eu trago o termo de consentimento na próxima sessão. O
S
A
C
R.: Mas olha, eu posso abandonar o processo terapêutico a qualquer
momento.
T.: E como você vai saber qual é o momento ?
R.: Os seus comportamentos vão determinar tudo, principalmente se você
não f o r intel igente o sufici ente para me acom panhar no raciocínio.
T.: Vamos combinar o seguinte: se você não gostar de alguma coisa me
avise (...).
R.: (Com um sorriso.) Combina do, venho na se mana que vem . E faço
questão da filmagem ! (Risos irônicos.)
Questões acadêmicas
Roberta relatou que não conseguia estudar porque sua concentração, memória
e raciocínio estavam prejudicados. Dizia escolher muitos livros sobre o assunto da
prova, mas depois não conseguia organizar todo 0 material e desistia de estudar.
A
Em vésperas de provas, a cliente não conseguia dormir à noite, relatando sentir T
R
E
B
as sensações do pavor noturno. Em decorrência de sua insônia, dormia durante o O
R
dia, faltando às aulas e às provas. Contou que, quando conseguia acordar, fazia as O
S
A
C
provas, mas “dava bra nco”. Esses fatores a prejudicavam uma vez q ue ela dependia
de um bom desempenho acadêmico para manter a bolsa estudantil.
Relacionamento interpessoal
Ao relatar seus relacionamentos interpessoais, Roberta descrevia com
frequência conflitos e dificuldades porque costumava expressar-se de forma
agressiva e irônica. Diante de situações que envolviam contatos sociais,
principalmente aqueles mais íntimos, a cliente emitia comportamentos agressivos
que intimidavam as pessoas com quem ela se relacionava. Como consequência,
essas pessoas se afastavam com raiva. Seguem-se episódios verbais entre
Roberta e um amigo, os quais exemplificam os comportamentos agressivos dela e
o afastamento da pessoa.
Contexto
Nessa época, Roberta tinha apenas um amigo. Na maior parte do tempo,
eles estavam fazendo coisas juntos, como conversar, almoçan estudar e praticar
esportes. No momento em que esse amigo começou a se aproximar e a ficar mais
intimo, Roberta se afastou, deixando de atender os telefonemas dele ( ele estava me
sufocando). Com isso, o amigo também se afastou e passou a evitá-la. Roberta, ao
perceber o afastamento do amigo, resolveu "tomar uma atitude”. Segue o diálogo.
R.: Quero conversar com você. (Roberta está bêbada, ao portão da casa
dele.) L
A
T
A.: Nã o posso conversar com você agora. Estou de saída (Caminham N
F
M
A
juntos até a saída do prédio.). R
T
O
R.: Mas eu pre ciso co nve rsar com você! (O amigo se despede dela e vai P
M
O
embora. Roberta fica olhando ele se afastar indignada com a atitude C-
O
IC
dele.) T
Í
L
A
N
A
Depois da tentativa de aproximação de Roberta, o amigo foi procurá-la e A
I
P
A
R
deixou um bilhete na porta do quarto de Roberta. Quando Roberta leu o bilhete, F
T
A
T
R
R.: Você está querendo faiar com igo ?
E
B A.: Na verda de, é você que q uer fala r comigo. O q ue está acontecendo?
O
R
0 R.: Você tem tesão por mim? Estou muito decepcionada com você. Você me
5
A
C agrediu muito.
A.: Olha me desculpa, mas eu não tenho tesão por você.
A
crônicos de vaz io; 6) rai va inade quad a e intensa ou dificuldade enn controlar a raiva; T
R
F
B
e 7) ideação paranoide transitória e relacionada ao estresse ou severos sintomas O
R
dissociativos. O
S
A
C
Análise Funcional
Análise da queixa da cliente
A insônia poderia ser uma forma de Roberta se esquivar de relacionamentos,
enfrentamentos e obrigações. Por exemplo, em dia de prova na faculdade, Roberta
não conseguia dormir à noite e, ao amanhecer, ela dormia profundamente.
Ao dormir durante 0 dia, a cliente perdia as aulas da faculdade e as provas e se
esquivava do contato com as pessoas. O foco da intervenção, portanto, deveria
ser os relacionamentos de Roberta e seus enfrentamentos, e não seus problemas
de sono ou o pavor noturno. Algumas hipóteses foram levantadas: a) déficit
de repertório para lidar adequadamente com as situações de relacionamento
interpessoal: comporta-se de forma agressiva e faz com que as pessoas se afastem
dela nã o a incomod ando (curto pra zo), produ zindo isolamento social (long o prazo );
b) dificuldades em expressar sentimentos e controlar a raiva; c) dificuldades em
estabelecer relacionamentos íntimos.
L
A
T
N
E
M
A
T
R
O
P
M
O
C-
O
IC
T
Ü
A
N
A
IA
P
A
R
LI
A
T
R
E
B
O
R
O
S Antecedentes Respostas Consequentes
A
C
demandam
intimidade. agressivamente, fala ediscute,
ironicamente, xinga, sorri benefícios (S ').
• Sinalização de ser magoada
testa, teoriza. em relacionamentos
Manipula (coerção sutil). interpessoais é removida (Sr_
Seduz (agradável para o •As pessoas percebem a
interlocutor): engaja-se manipulação, demonstram
em comportamentos que raiva e se afastam, e ela
produzem reforçadores remove sinalização de ser
para o outro. magoada (Sr).
• Isolamento social (Sr/ P+em
médio e longo prazo).
A
T
R
E
B
O
R
O
S
A
C Antecedentes Respostas Consequentes
Jã ; Situações em que é Intimida: fala Retirada (parcial) da
g i
contrariada. agressivamente, fala estimulação aversiva
e sorri ironicamente, antecedente (S1).
discute, teoriza, xinga.
A
T
R
E
B
O
R
O
S
A
Antecedentes Respostas Consequentes C
•Permanece acordada
durante a noite.
vL-
• Dorme o dia todo e
falta à prova.
Encontro com um novo •Insônia na noite anterior O encontro com o
pedreiro para acertar e “pavor noturno”. pedreiro foi adiado (S''
o trabalho incompleto 'T
L
A
T
.N
F
M
Na tabela acima, a insônia de Roberta tinha como antecedentes situações T
A
R
que envolviam demandas acadêmicas e atividades do cotidiano. Por exemplo, na O
P
M
O
vésp era de uma prova, Roberta tentava estudar e lertod os os livros sobre o assunt o, C
-
O
aumentando o custo da resposta e, como nâo era bem-sucedida no cumprimento IC
ÍT
L
A
dessa tarefa, ficava ansiosa e permanecia acordada durante a noite {sentindo os N
A
sintomas corporais do pavor noturno). No dia seguinte, não tinha condições físicas AI
P
A
R
de se levantar e realizar a prova, e dormia durante o dia. O professor permitia que ÍL
O
S A centralidade das contingências sociais ( selj)
A
C Apesar do diagnóstico de transtorno de personalidade borderline , Roberta não
se enquadrava no critério 3 referente à perturbação da identidade (instabilidade
acentuada e resistente da autoimagem ou do sentimento do sei/), apresentando
coerência entre aquilo que dizia e os comportamentos que emitia, assim como
discriminando seus estados internos. Roberta conseguia descrever precisamente
0 que ela sentia, embora muitas vezes não soubesse 0 que fazer com esses
sentimentos. Era uma pessoa muito observadora, o que indicava certamente os
controles sociais sobre seu comportamento: qualquer alteração no outro poderia
ser um estímulo antecedente para se defender. Entretanto, tal comportamento
pode ser compreendido com base em sua história de vida, e não como indicativo
de dificuldades na formação de sua identidade. Fica evidente que, nas situações
em que ela se vinculou afetivamente às pessoas (mãe, pai, ex-marido e filhos),
sofreu abusos, negligências e abandono. Na época da terapia, 0 comportamento
de autossuficiência, ou seja, de depender pouco das pessoas, ocorria em alta
frequência e, portanto, Roberta não estabelecia vínculos mais íntimos. Fruto de
um ambiente hostil, a cliente apresentava um histórico de esquiva de intimidade e
envolvimento, natentativa de evitar e se proteger d e possíve is abu sos das pessoas.
A seguir, falas de Roberta para exemplificar 0 trecho acima:
• Não quero sentir sensações que estão associadas a perda... por isso eu tenho
L
A
um m ecanismo de defesa - eu me afas to de t odos.
T
N ■ Percebo que as pessoas passam do meu limite mais do que com as outras, eu
E
M
A
T aceito muita coisa.
R
O
P ■ Tenho medo de perd er a amizade e lembr a, eu não quero viver a situação de
M
O
C
- perda... p or isso que eu me esquivo.
O
C
I
II
L
A
N
A
Supervisão
IA
P Após um ano de terapia e supervisão, Roberta começou a relatar imóveis que
A
R
E
T estaria vendendo para comprar outro e assim viver com o aluguel desse imóvel.
Enquanto Roberta dizia que sua condição financeira era bem delicada e que, por
26 isso, precis ava de bo lsa estudantil e de em pres tar dinh eiro para se alimentar, as
Relação Terapêutica
Discutem-se, no capítulo “Questões relativas ao comprometimento na relação
terapêutica” , algun s desafios enco ntrados no dec orrer dos atendimentos cl ínicos,
A
T
R
Considerando o primeiro item, no caso de Roberta havia uma preocupação
E
B
O de saber quais eram os limites para que o terapeuta não se tornasse muito
R
Com você eu não chego a lugar nenhum. Você está ausente. Você está
muIto diferente , voz diferente, olhar, você está abordando coisas nada
a ver. Você está no pa drão de novo. Eu vou embora, já te fa le i isso.
L
A
Com relação às expectativas do terapeuta, a literatura sobre transtornos
T
N de personalidade aponta que o prognóstico nesses casos pode ser pouco
E
M
A
T
promissor. Atualmente, a Terapia Comportamental Dialética é uma das únicas
R
O terapias empiricamente validadas para esse tipo de população e vem alterando
P
M
O
C-
esse cenário. Assim, com o respaldo da literatura, o terapeuta conseguiu criar
O
IC expectativas de resultados psicoterápicos mais concretos para Roberta, o que
IT
L
A fez uma grande diferença. Por exemplo, com metas plausíveis, o terapeuta pôde
N
A
IA observar e reforçar pequenas instâncias de comportamento de melhora.
P
A
R
E
T Outro desafio da relação terapêutica com Roberta era o terapeuta manter
a empatia mesmo diante de edições e agressões verbais da cliente. Para que
28 isso se torn asse possíve l, ele se manteve atento à análise func ional do caso,
A
entendendo os padrões de comportamento da cliente como fruto de uma história T
R
t
B
de reforçamento. O
R
O
S
A
.
^
Intervenções
L
A
O terapeuta também deu orientações à cliente no que se refere aos seus T
N
E
M
estudos, oferecendo formas de organizar melhor o tempo gasto neles e ensinando T
A
R
outras maneiras mais eficientes de estudar. Q
P
M
Após um ano de terapia, uma nova análise de contingências pode ser O
C
O
apresentada indicando os resultados. A Tabela 4 evidencia a tríplice contingência. C
IIÍ
L
A
N
A
IA
P
A
R
E
T
A
T
R
E
B
O Tríplice contingência após a intervenção sobre as questões do
R
O
S
cotidiano
A
C
A
T
R
Apesar de a classe de respostas agressivas ter aumentado de frequência após o
E
B
O afastamento do terapeuta diante dos relatos de Roberta, observou-se a diminuição
R
O
S
da edição sugerindo que estivesse ocorrendo uma situação de intimidade.
A
C
Segundo Cordova e Scott (2001), a intimidade poderia ser operacionalizada em
termos comportamentais, e os autores procuraram estabelecer alguns aspectos
comuns que definiriam os eventos íntimos. Um dos eventos considerados foi 0 de
engajar-se em comportamentos interpessoais vulneráveis à punição. Segundo os
autores, o comportamento interpessoal pode ser definido como comportamentos
que ocorrem em contextos com mais de uma pessoa, podendo ser uma díade
ou um grupo, já a vulnerabilidade nesse contexto pode ser entendida quando o
indivíduo se engaja em determinados comportamentos com uma história de que
pode haver risco de punição. “A expressão de vulnerabilidade envolve engajar-se
em comportamentos que foram associados com respostas contingentes à punição
por outras pessoas em outros contextos sociais” (Cordova & Scott, 2001). Outra
A
I : Então, o que você está faia nd o é muito importante. Você se sen te... deixa T
R
E
B
eu pensar... O
R
R.: Para de fic ar rod ea nd o e fa la na caraI1! O
S
A
C
T,: Fo i bom você te r fa lad o isso. Por que você acha que eu não falo e fico
Episódio 2
R.: Eu não q uero fa lar de meus sent imentos , minhas coisas aqui!
T.: Por quê?
R.: Eu quis dizer para a P.(Namorada do amigo D) para agredir mesmo,
como você é medíocre! Não se mete comigo! Isso eu não mudo, sou
assim. Eu quero ver a reação deles e verse são confiáveis.
T: Mas quais serão as consequências ?
R.; Eu não vou mudar. Não me vem /a/ando disso. Eu já sei que a minha
vida inteira foi assim. E eu também me divirto com isso. Traço o perfil
da pessoa e adoro ver elas com medo.
R.: Isso mesmo, eu faço de forma muito sofisticada e sei que tem
consequências drásticas, mas não vou muóar. Eu não vou fa ze r diferent e
e não adia nta fala r disso por que eu já sei dessa anál ise, e mesm o assim
eu não vou mudar.
I : E então, quais seriam os objetivos da terapia?
R.; É, aprender a lidar com o lado agressivo, c/esumano e anormal.
T.: E vam os ter que fa la r de você, de sentimen tos. Não tem jeito. E eu tenho
uma h/pótese a respeito disso tudo que acontece entre a gente. Temos
uma dificuldade de lidar com situações de intimidade, onde você fica
super exposta e vulnerável ao outro. Aí você agride, faz coisas para
afastar as pessoas...
R.: £ ...pode ser. {Ao nos despedirmos, R. vira e me fala: "você pen sa que
me p eg ou !'”)
Episódio 3
R.: Até on de você me entende ou faz que entende?
I: Por que você está me perguntando isso? Você está perguntando sobre o
nosso relacionamento? [FAP]
R.: Eu não posso mais sofrer mais quedas, me machucar Estou te
pressionando mesmo, porque eu não quero me apegar e eu sei que
fa zendo isso aqui eu já estou me abrindo e me apegando.
T.: Ag ora eu entendi a sua fra se na sem ana passada... 'você pensa que me
pegou’. Você tentou se proteger?
R.: É que eu sei que se eu sofrer uma decepção, o meu lado agressivo
Episódio 4
T.: Nossas sessões estão sendo muito agradáveis, estamos conversando
sob re co isas importantes de uma for m a gostosa , tran quila.
R.: Só agora que você está me conhecendo.
T.: Por que só agora?
R.: Você conseguiu fechar muito as coisas na minha cabeça (...). Você falou
de mim. Eu sinto mais intimidade entre a gente. Antes era um trabalho,
• Não quero sentir sensações que estão associadas à perda... p or isso eu tenho
um mecanismo de defesa - eu me afasto de todos.
■ Percebo que as pessoas passam do meu limite mais do que com as outras, eu
aceito muita coisa.
■ Eu não me envo/vo com as pessoas porq ue isso implica em estar de coração
aberto e se a pessoa não for íegal, ela vai me magoar e machucar e eu demoro
em perceber. Eu fico com uma dependência dela. Eu não identifico isso antes,
sabe, essas coisas subjetivas. As diferenças de valores existem e eu não
percebo, fic o relevando as coisas e acabo passando por cima de mim. Quando
eu me interesso é tão sincero que eu me doo e me machuco.
• Na qui nta ac onteceu uma coisa , eu vou te contar hoje, mas vou omitir, porque
eu não vou ficar na sua mão, vulnerável, porque você tem o poder de me
internar e isso me matará por dentro.
• As pessoa s me cansam. Eu fico estressada. Eu sei que quando eu fico exposta
ao ambiente externo não sei lidar com as pessoas efico cansada. Aí eu saio do
lugar, eu desligo porque eu não suporto a situação e eu dissimulo e finjo para
eu sobreviver , só que exige muito esforço e eu não consigo desligar a noite
para dormir.
■ Três coi5as mudaram em mim. antes eu era organizada e hoje meu quarto é A
T
R
E
bagunçado e i/do com isso bem. Outra coisa é na hora da prova, antes eu B
O
R
travava e agora eu não travo mais. Essa outra coisa é ma/s engraçada e O
S
A
C
complicada: canso de defesa e vou para dane-se todo mundo, sem pen sa r
muito nas coisas e consequências. E aquilo, é mais fácil dar o pulo do que ir
para o meio. Eu já sei qual é o op osto e eu não sei o que é o meio. Para você
chegar no meio dá trabalho, você tem que pensar, analisar, cansa.
Caso REGINA 1
Identificação da cliente
Regina (nome fictício) há quase dez anos em terapia, morava com seu avô e, no
início da terapia, trabalhava como vendedora. Estava, nessa época, com 32 anos
e, ao longo da terapia, recebeu o diagnóstico de Transtorno de Personalidade
Borderíine.
Queixas apresentadas
Regina relatou estar interessada em conhecer a abordagem comportamental,
em razão de ter ouvido que essa seria mais focada em seu problema e de ter
menor duração do que as terapias anteriores pelas quais passou. Sua queixa inicial
estava ligada a problemas de relacionamento em seu trabalho, alguns problemas
de saúde e ao fato de ter menos amigas do que gostaria.
Antes de iniciar a terapia, Regina ocupava o cargo de gerência na loja em que
trabalhava. Porém, havia sido rebaixada de cargo recentemente, e tal situação
levou-a a sentir- se bast ante humilha da, at é mesmo porqu e co ntinuava executando
as mesmas tarefas do cargo anterior, uma vez que sua chefe era bastante abusiva
e passava-lhe boa parte de suas funções. A cliente contava que não havia
respeito com os empregados, pois a gerente gritava com eles e os chamava
de “bu rro s1', inde pen den tem ent e da prese nç a de clientes por perto. Segundo
i Dados pessoais e detalhes de alguns episódios foram modificados para impedir a identificação dos
envolvidos.
receber o presente, a amiga ficou bastante sem graça, pois era dia do aniversário
de Regina e quem ganhou um presente foi a amiga.
Regina também comentava alguns problemas em seu relacionamento familiar,
embora não os trouxesse como foco da terapia. Falava sobre uma falta de
atenção que recebeu de sua mãe durante toda a vida e que tinha certos "valores
distorcidos" devido a sua criação. Entretanto, dizia já estar acostumada a lidar com
essas questões familiares.
A
dinheiro ao invés de atenção. Ao que tudo indica, esse sentimento de desigualdade N
I
G
E
de afeto adveio do fato de seu irmão não só apresentar comportamentos mais R
parecidos com os de sua mãe do que a própria Regina, como ainda saber pedir O
S
A
C
carinho e atenção da mãe de forma mais eficiente, isto é, dando-lhe carinho e
recebendo-o em troca. Regina, por sua vez, sempre considerou que, se pedisse
carinho de sua mãe e de outras pessoas, elas lhe dariam de forma não espontânea
e, por isso, menos genuína, recusando-se, portanto, a pedi-lo.
Desde pequena, acliente competiamuito com seu irmão pelo carinho e atenção
de sua mãe, entrando constantemente em conflitos com os dois. Ao atingir a idade
adulta, ela foi morar com seu avô materno, esquivando-se da situação. Para ela,
a relação com o avô tinha dois lados: enquanto o avô cuidava dela (o que lhe
agradava), ele a perturbava por pedir cuidados e tentar controlar alguns de seus
comportamentos.
Em sua visão, assim como sua mãe e irmão se identificavam muito, ela
identificava-se com o pai, que morava longe, dizendo que eram muito parecidos.
No início da terapia, Regina faltava a muitas sessões, algumas vezes sem avisar.
Em geral, comparecia às duas primeiras sessões e faltava à terceira. Ao perceber
essa regularidade, o terapeuta abordou tal padrão, e Regina explicou que faltava
às sessões para mostrar a si mesma e ao terapeuta que não precisava da terapia.
Tal resposta correspondeu a diversas demonstrações que Regina fazia sobre seus
Supervisão
Em decorrência da inconstância de Regina, foi essencial para 0 terapeuta
contar com o apoio do grupo de supervisão na compreensão de como os diversos
aspectos da cliente se relacionavam. Sobretudo a supervisão foi importante para
ajudar a conter as frustrações do terapeuta em relação aos progressos e seguidas
recaídas da cliente.
O espaço de supervisão é reconhecidamente um espaço importante de troca
de experiências entre terapeutas, no qual muitas vezes a discussão do caso clínico
de colegas pode auxiliar na análise de outros casos. Em uma situação dessas,
muito se pôde compreender 0 caso de Regina, levando à articulação das análises
A
IN feitas acima. Uma colega de supervisão trouxe como discussão o Transtorno de
G
E
R Personalidade Borderline, levantando-o como um possível diagnóstico para sua
O cliente. O terapeuta de Regina, ao ouvir falar sobre o transtorno, percebeu quanto
S
A
C
de semelhança havia entre este e o caso que vinha atendendo. Nesse momento,
passou a investigar o transtorno na tentativa de compreender melhor o caso
Diagnóstico do caso
Pouco tempo depois da suspeita inicial do terapeuta a respeito do diagnóstico
de Regina, a cliente recebeu de um médico o encaminhamento para um psiquiatra.
Na época, a cliente encontrava-se bastante nervosa, agindo agressivamente
em muitos momentos de sua vida e contra várias pessoas. A psiquiatra em
questão medicou Regina na tentativa de controlar melhor seu humor. Regina
prosseguiu com a terapia, mas passou a vir às sessões de forma quase apática.
L
outras questões discutidas, foi confirmado ao terapeuta o diagnóstico da cliente
A
T
EN de Transtorno de Personalidade Borderline. Com o objetivo de compreender
M
A
T
melhoras características do transtorno e suas possíveis implicações no caso que
R
O vinha sendo atendido, o grupo de supervisão procurou uma colega psiquiatra.
P
M
O
C-
Ao ouvi-ío sobre o caso, a psiquiatra concordou com o diagnóstico, apontando
O
IC que se tratava de um caso considerado leve. (Para uma discussão sobre auxílios e
TÍ
L
A problemas que o diagnóstico pode trazer, ver o capítulo “Diagnóstico”.)
N
A
AI
P No presente caso clínico, o conhecimento do diagnóstico foi muito importante,
A
R
T
E pois ajudou a organizar os oados aparentemente contraditórios que vinham
sendo coletados por meio da terapia, além de levara uma compreensão de que as
44 frequentes melhoras e recaídas da cliente eram espera das dian te dos padrõ es de
A
com portam ento apresen tados por e; a, reduzindo, ass im, a frustração do terapeuta N
I
G
E
e minimizando a possibilidade de desistência do caso. Além disso, o estudo mais R
O
aprofundado do diagnóstico ajudou no reconhecimento de outros casos com o S
A
C
mesmo diagnóstico atendido no laboratório.
Análise funcional
I
A
T
N
E
M
IA
R
O
P
M
O
C-
O
C
I
ÍT
L
A
N
A
A I
P
A
R
F
T
A
Em outras situações em que não era apresentada uma ameaça de abandono, IN
G
E
senão um ped ido abusivo de pessoa s im portantes para Reg ina, ela emitia respostas R
para atender a esses pedidos, mesmo que isso fosse contra sua vontade. Ao emiti r O
S
A
C
essas respostas, ela evitava que o outro se afastasse dela, como no segundo
exemplo: situação em que o pai de Regina estava na casa dela e pediu que ela
comprasse cigarro para ele tarde da noite. Regina não queria ir, chegou a brigar e
ofendê-lo, mas no fim acabou indo para evitar que ele se afastasse dela.
T abe l a 2
Análise funcional dos comportamentos observados e relatados em
terapia relacionadas ao Critério 2 do transtorno de personalidade
borderline, de acordo com o DSM-IV (APA, 2004)
A
N
I
Linehan (2010) considera essas experiências extremas de valorização e
G
f
R desvalorização, aproximação e afastamento como dificuldade do indivíduo com
O Transtorno de Personalidade Borderline em promover uma síntese entre os
S
A
C
opostos, difi culdade denominada clivagem. A autora sugere que o desenvolvim ento
do transtorno está relacionado a uma história de invalidação vivida nos vínculos
iniciais e mantida pelos ambientes posteriores, fator que vai ao encontro dos
relatos da cliente sobre as relações iniciais com sua mãe, a quem considera como
pouco afetuosa e quase negligente, conforme já descrito anteriormente.
T abe l a 3
Análise funcional dos comportamentos observados e relatados em terapia
relacionadas ao Critério 3 do transtorno de personalidade borderline, de
acordo com o DSM-IV (APA, 2004)
A
tenha sido, com todo o rigor, punida socialmente. Desse modo, não passou por N
I
G
F
um treino discriminativo desses estímulos, respondendo mais frequentemente de R
O
acordo com estímulos externos, provindo de outras pessoas. S
A
C
Durante toda a terapia, a cliente trazia exemplos de contato difícil com sua mãe,
no qual as opiniões, ideias e tentativas de expressão de sentimentos de Regina
eram sem pre deixadas de lado e frequen teme nte punidas e/ou banalizadas por el a.
O ambiente em que ela foi criada entra na descrição de um ambiente considerado
invalidante {Linehan, 2010). Em ambientes como esse, é possível também que
ocorram insistências de que a pessoa sinta o que não sente, goste daquilo que
não gosta, pense aquilo que não pensa, ao mesmo tempo que há intolerância a
expressões de afetos negativos, sobretudo quando não há clareza da situação que
levou atais expressões.
Com isso, o indivíduo tem grande dificuldade de entender os próprios
sentimentos e preferências. Para que esse entendimento ocorra, é importante
que haja empatia da comunidade, que, ao estabelecer um diálogo compreensivo
sobre sentimentos e preferências, acaba por permitir o aprendizado de suas
nomeações. Por exemplo, se uma criança cai e apresenta um machucado na perna,
0 cuidador ensina-lhe que ela está com dor; porque lhe ensinaram que ele próprio
sente dor quando machuca a perna. No caso de um machucado, é possível inferir
a sensação interna de dor da criança po r ser possível visualizar o machucado, mas,
em situações em que há escassez de pistas sobre 0 que se está sentindo, como nas
emoções de angústia, medo, entre outras, é mais difícil inferir o sentimento; daí
tanto 0 ensino da nomeação como a validação do sentimento ficam prejudicados.
Diante da necessidade de uma audiência atenta, capaz de modelar tal repertório
de autoconhecimento, torna-se bastante difícil a ocorrência desse aprendizado
L
em um ambiente inval idan te. O indivíduo não aprende a nomear seus sentim entos A
T
N
L
M
e pode ainda aprender a invalidá-los constantemente, procurando sinais externos, A
i
R
sociais de como deve descrever-se e comportar-se. O
P
M
O
Assim sendo, a inconstância de preferências e características observadas em C
-
O
Regina se deve possivelmente não apenas a uma tentativa de agradar o outro, IC
TÍ
L
A
mas também a uma falta de conhecimento daquilo que ela quer e de que gosta. N
A
Port anto, quando Regin a gostava de rock ou new age, talvez o fizesse para agradar A
I
P
A
R
o outro ou por faltar repertório de identificação de suas tendências à ação. E
T
A
IN
G
E
R
Análise funcional dos comportamentos observados e relatados em terapia
O
S
A relacionadas ao Critério 4 do transtorno de personalidade borderiine , de
C
acordo com 0 DSM-IV (APA, 2004)
àimprudente,
própria pessoa (p.compulsivamente)
comer ex., gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias, direção
Ex.: Briga com namorado. Para o carro no meio de Interrupção da briga (Sr).
rodovia e 0 expulsa do
L
A
T carro.
N
E
M
A
T
R
O
P O comportamento de Regina em emitir frequentemente respostas que
M
O
C a prejudicavam, mas provocavam a aproximação ou preocupação do outro,
O
IC
T
corresponde ao critério 4, como exemplificado nos exemplos apresentados na
Í
L
A Tabel a4. A aproximação ou preo cupa ção gerada são clar amente uma conseq uênc ia
N
A
IA
P
reforçadora para as respostas imprudentes de Regina, porém tais respostas são
A
R
F
T
consideradas prejudiciais por implicar outros riscos ou problemas à cliente, tais
como ficar sem dinheiro para os próprios gastos, ficar sem bens básicos para seu
conforto diário, pelo risco de engravidar sem desejar ou de se contaminar por
A
doenças sexualmente transmissíveis, ao fazer sexo sem proteção, ou pelo uso IN
G
E
excessivo de drogas. R
O
Além das aproximações e preocupações geradas, talvez possamos entender S
A
C
que as situações aversivas promovam uma operação estabelecedora intensa
o suficiente para favorecer o engajamento de Regina em comportamentos
impulsivos e perigosos que pudessem gerar algum alívio de sentimentos intensos.
Por exemplo, diante de brigas com o namorado, a direção imprudente podia servir
como forma de alívio da ansiedade e da raiva.
Segundo Linehan (2010), os indivíduos com Transtorno de Personalidade
Borderíine apresentam certa vulnerabilidade emocional, que é determinada
por três aspectos: (a) em comparação à média da população, indivíduos com o
transtorno apresentam uma sensibilidade elevada a estímulos, precisando de
um grau menor de estimulação para responder a eles; (b) em decorrência, suas
reações a um estímulo seriam maiores do que aquelas apresentadas por um
indivíduo sem tal transtorno diante de um mesmo evento; e (c) o retorno ao nível
emocional basal seria mais lento.
Além disso, a autora sugere que uma das características do indivíduo com
Transtorno de Personalidade Borderíine é a “desregulação emocional", resultante
de uma predisposição biológica que é exacerbada pelo ambiente. O termo é
usado com pessoas que sejam emocionalmente vulneráveis e com dificuldades
de modular suas emoções, ou seja, dificuldade em aprender a reduzir a exposição
a estímulos potencialmente relevantes que reativam e potencializam emoções
negativas. Um dos motivos para isso se relaciona à impossibilidade em modificar
a excitação fisiológica exacerbada que ocorre diante do estímulo desencadeante
da raiva ou da ansiedade. É como se esses indivíduos tivessem dificuldade em se L
distrair de estímulos negativos e emocionalmente sensíveis e, assim, prejudicassem A
T
N
F
M
o restante de suas interações com o meio. T
A
R
O
As reações exacerbadas de Regina são associadas possivelmente a essa P
M
O
desregulação emocional. Obviamente, brigar com o namorado despertaria C-
O
C
I
sentimentos como raiva, tristeza e ansiedade na maior parte da população.
ÍT
L
Contudo, em indivíduos com tal transtorno, como Regina, a reação é mais A
N
A
exacerbada, provocando uma operação estabelecedora mais intensa e levando IA
P
A
R
a pessoa a se engajar em comportamentos impulsivos de aliviar os efeitos da T
E
situação aversiva, ou ainda em eventos que não seriam aversivos para a maioria da
pop ulação , mas 0 são para ela, dificultando inclusive a empatia de seus pares com 51
A
N
I
Regina e afetando o relacionamento entre eles. Além disso, devido à dificuldade
G
E
R de ensino da nomeação de experiências privadas, a modulação de emoções
O
S pode ser ainda mais dificultada, e, como os problemas não são reconhecidos,
A
C
pouco esforço se faz para resolvê-los. Desde cedo, acabam sendo necessárias
demonstrações emocionais extremas e/ou problemas extremos para provocar
uma reação ambient al. A co nseq uên cia provável de tal extremismo é ora a punição
da resposta emocional, ora o reforço (intermitente) de tais demonstrações,
ensinando a pessoa a oscilar entre a inibição emocional e o extremismo.
Linehan (2010) também aponta que é muito comum esperar comportamentos
mais controlados do que aqueles que a pessoa é capaz de apresentar. Então, por
exemplo, não conseguindo controlar sua emoção de raiva ante um estímulo, os
pais podem punir a criança e aumentar assim a intensidade da resposta de raiva.
A resposta emocional intensa da criança torna-se um estímulo aversivo tão forte
para os pais, que, nesse caso extremo, param de punir a criança para que a reação
emocional cesse. Sendo assim, reforça-se 0 valor funcional de comportamentos
L
A
T
N
E
M
A
T
R
O
P
M
O
C
O
IC
T
I
I
A
N
A
A
I
P
A
R
F
T
A
N
I
G
E
Análise funcional dos comportamentos observados e relatados em terapia R
Tabe l a 6
Análise funcional dos comportamentos observados e relatados em terapia
relacionadas ao Critério 6 do transtorno de personalidade borderline, de
acordo com o DSM-IV (APA, 2004)
A
IN
G
E
Análise funcional dos comportamentos observados e relatados em terapia R
A
N
I T abe l a 9
G
E
R Análise funcional dos comportamentos observados e relatados em terapia
O
S relacionadas ao Critério 9 do transtorno de personalidade borderline, de
A
C
acordo com o DSM-IV (APA, 2004)
A
a ambivalência do vínculo em si. isso possivelmente resulta nos movimentos de IN
G
E
teste/aproximação/ afastamento das figuras relacionadas a vínculos posteriores; R
O
c) havendo diminuição do controle exercido pelos eventos internos, os eventos S
A
C
externos podem adquirir controle mais acentuado. Com isso, o comportamento
de "agr adar o outro” pod e s er exacerba do em deco rrência da f alta de repertó rio de
identificar suas tendências à ação; d) as reações intensas podem ter consequências
operantes relacionadas ã aproximação ou afastamento do outro.
Intervenções
O
relacionava também tinham limites que não queriam que fossem ultrapassados; IC
T
U
ademais, que isso não significava necessariamente que não se importassem com N
A
A
A
I
ela, afim de modular melhor quais atitudes dos demais demonstravam ou não um P
A
R
possível abandono. L
1
A
IN
Intervenções baseadas na interação entre terapeuta e cliente
G
E
R Foram trabalhados os seguintes comportamentos da cliente: (i) descrever
O situaçõ es e contingências; (2 ) de sco nh ec er a si mesma; (3 ) evitar intimidade; (4 ) fazer
S
A
C
coisas com o objetivo de agradar o outro. Aos poucos, 0 repertório de descrição de
situações e contingências foi sendo instalado, dando-se modelos e modelando tal
Relação terapêutica
Uma característica da terapia que possivelmente ajudou muito na melhora do
caso foi a boa relação terapêutica que foi sendo construída com a cliente. Apesar
de toda a inconstância de Regina no início da terapia, 0 terapeuta sempre esteve
presente, mostrando à cliente quanto ela poderia contar com ele e quanto ele
se importava com ela (aparentemente 0 terapeuta passou nos testes iniciais de
Regina). Essa relação foi reconhecida pela própria cliente como estável, chegando
a expressar com as próprias palavras, depois de alguns anos de terapia: nós temos
um relacionamento estável, eu confio em você. A cliente deixou de sentir medo de se
L
A
l
N
É apegar à terapia e por isso, com pouco tempo de atendimento, deixou de faltar para
M
A
T provar que não precisava de ajuda. Em muitos momentos, mostrou ao terapeuta,
K
O
P de forma implícita e explícita, quanto a terapia estava sendo importante para ela.
M
ü
C O fato de ter construído essa relação estável permitiu que a cliente experienciasse
O
IC uma relação não punitiva, reduzindo a aversividade de relacionamentos. Ao
TÍ
L
A
N
mesmo tempo, ao trabalhar em sessão a expressão de descontentamentos da
A
IA cliente em relação ao terapeuta, foi possível instalar um novo repertório, solucionar
P
A
R
F
T problemas, o que aos poucos foi substituindo algumas situações de afastamento.
Certamente isso facilitou 0 envolvimento dela em outras relações, inclusive com
58 sua mãe, con tribu ind o para sua me lhora de mo do geral.
A
Evolução do caso/resultados N
I
tG
K
Ao final do primeiro ano de terapia, o foco de trabalho visava avaliar quanto
O
S
Regina se dedicava às pessoas com quem tinha vínculo. Para evitar o afastamento A
C
delas e gerar a aproximação dos outros, a cliente cedia à vontade de todos a sua
volta, ultrapassando assim os próprios limites. No entanto, Regina sempre exigiu
dos demais que tivessem a mesma atitude que ela, como a situação em que o
namorado não quis arrumar a cama no momento em que ela gostaria.
Por outro lado, apesar de exigir que os outros realizassem suas vontades,
achava que não poderia explicitar para ninguém tais vontades, pois dessa
forma o responder deles não seria espontâneo e, portanto, não genuíno. Tal
comportamento produzia uma constante frustração em Regina relativamente às
suas expectativas para com as pessoas, pois estas não tinham acesso às vontades
delas e, quando o tinham, a resposta emitida não era reforçadora para a cliente
(por não ser considerada genuína). Sendo assim, toda essa análise foi feita com
Regina para que fossem trabalhados os limites de seu fazer e de suas exigências
para com os demais.
Ainda nesse finai de primeiro ano de terapia, o pai de Regina mudou para
a cidade dela e, depois de alguns meses, teve um grave problema de saúde,
levando-o a uma deficiência física. Na ocasião, Regina assumiu os cuidados com
o pai, sobrecarregando-se bastante. Antes de ele mudar para a cidade dela, ela
narrava quanto se relacionava bem com seu pai, dizendo ser muito parecida com
ele. No entanto, quando ele mudou e passou a ter com ela um relacionamento
mais próximo, a narrativa dela sobre essa relação mudou bastante. Ela passou a
trazer muitas queixas sobre seu pai, tanto na relação dele com ela como na relação
que ele mantinha com outras pessoas. Ao que tudo indica, ela passou a conseguir L
A
T
analisar mais coerentemente as relações que envolviam seu pai. E
N
M
No segundo ano de terapia, Regina começou a manifestar mais claramente A
T
R
suas vontades aos demais, inclusive nas relações de trabalho, mas frequentemente O
P
M
O
o fazia de forma atrasada, compreendendo e mostrando suas vontades apenas C
O
C
depois de a situação ter passado. Ainda nesse ano, o avô da cliente, com quem ri
Í
L
A
morava, passou a apresentar um grave problema de saúde, ficando bastante N
A
A
IN Durante o terceiro ano de terapia, Regina apresentou grande melhoria naquilo
G
E
R que exigia dos demais. Parece que começou a fazer menos por eles, na tentativa
O
S
A
C
de colocar seus limites. Em certa ocasião, seu namorado pediu que ela desse uma
carona a ele e ela começou a gritar dizendo que não o faria. Ele estranhou a reação
dela, pois normalmente ela cedia a tudo quanto ele pedia, além de achar a reação
L
que estava vivenciando. Passou a compreender e aceitar que a mãe demonstrava
A
T
EN carinho de outras formas, com topografias diferentes daquela esperada por
M
T
A Regina. Em outras palavras, Regina começou a se sentir amada por sua mãe. Desse
R
O
P
fV
modo, os estímulos que costumavam sinalizar abandono passaram a adquirir
O
-C
outra função, deixando de ser tão aversivos. Isso ocorreu porque ela deixou de
O
CI se esquivar desses estímulos e passou a viver a contingência real sinalizada por
ÍT
L
A
N eles. Continuou havendo situações que eram aversivas para a cliente, mas, nesse
A
IA
P
momento, ela passou a adquirir maior tolerância às frustrações geradas por tais
A
R
E
T situações, possivelmente por elas não serem tão frequentes ou tão intensas e por
ter ocorrido algum progresso na regulação emocional de Regina. Com o aumento
6o da tolerân cia à frustraçã o, oco rreu uma dimin uição da imp ulsividade da cliente,
A
reduzindo ainda mais as situações de conflito ocorridas com sua mãe. Além disso, IN
G
E
a cliente já estava conseguindo impor melhor seus limites e, com isso, pôde R
0
compreender melhor os limites de sua mãe, respeitando-os, ao invés de tentar S
A
C
cedê-los, por não vê-los mais como indicativos de abandono.
Toda essa alteração ocorrida no relacionamento com a mãe parece ter gerado
uma grande mudança no comportamento de Regina em relação também às outras
pessoas. Acliente começou aapresentar melhorias de relacionamento no trabalho,
com amigas e até mesmo com seus familiares.
Ao final do quarto ano de terapia, seu irmão, depois de morar há mais de
um ano fora do estado, voltou repentinamente sem avisar ninguém e foi morar
novamente com sua mãe. Nesse momento, Regina passou por uma grande crise,
pois voltou a responder da mesma forma que respondia antes de seu irmão ter
ido embora, ou seja, voltou a responder a diversos estímulos como possibilidades
de abandono e a se esquivar deles. Pelo que se pode deduzir, a volta do irmão
(considerado por Regina como o preferido de sua mãe) sinalizou a ela que ela
perderia novamente os reforçadores que havia adquirido na relação com mãe. Tal
situaçãoeliciou nela fortes respondentes e produziu um afastamento momentâneo
de sua mãe. Felizmente, ela pôde refletir sobre a situação em terapia e começou
a entender que era ela mesma quem estava produzindo o afastamento de sua
mãe. Reconheceu também quanto a mãe estava chateada pela volta repentina do
irmão a sua casa e começou a reconhecer respostas da mãe que tinham a função
de impedir o afastamento de Regina. Diante das análises que Regina conseguiu
fazer, a situação foi revertida, pois Regina deixou de se afastar de sua mãe, tendo
uma convivência bastante boa com ela depois disso. Seu irmão ficou um tempo
morando com elas, o que acabou tirando um pouco o espaço de Regina (já que I
A
o apartamento era pequeno), mas depois ele mudou para um prédio próximo. A NT
E
M
mudança dele reduziu as situações de conflito que vinham ocorrendo entre ele e IA
K
O
Regina, melhorando a relação dos dois. P
M
O
Durante o quinto ano de terapia, a cliente foi-se comportando de forma a -C
O
consolidar as melhoras obtidas até então, passando por períodos de recaída, IC
T Í
L
A
seguidos novamente de outros progressos. N
A
No início do sexto ano, Regina conseguiu realizar um antigo sonho de morar IA
P
A
R
sozinha, alugando um apartamento próximo do de sua mãe. Essa atitude mostra F
T
A
N
I
e seguir suas vontades (já que resolveu realizar um sonho seu), o que também
G
F
R sinaliza progresso. Aiém do mais, ao morar sozinha, Regina passou a experimentar
O
S
A
muitos momentos individuais, sem ter presentes demandas sociais a que
C
responder, gerando maior autoconhecimento, ao entrar mais em contato com
estados internos. Foi curioso notar quanto, por um longo tempo depois de ter
mudado, Regina não aceitava receber visitas. Parece que havia a clareza de que
o repertório de não seguir contingências sociais todo o tempo ainda não estava
bem instalado, precisando, portanto, de um isolamento do meio social, ao menos
dentro de sua casa. Com o tempo, a cliente começou a aceitar receber amigas em
casa, mas demorou muito até que aceitasse receber homens com os quais tivesse
algum tipo de relacionamento amoroso ou sexual, deixando claro que não queria
que tais pessoas controlassem sua vida.
Ainda durante esse ano, Regina reencontrou uma antiga paixão, reacendendo
esse sentimento e envolvendo-se com ele. Poucos meses depois, ele a deixou.
No entanto, o relacionamento mostrou grandes diferenças no comportamento
da cliente, pois esta passou a demonstrar seus sentimentos ao rapaz, sem muito
medo de relacionar-se. Depois do afastamento de!e, a cliente continuou dizendo-
se apaixonada por ele, aparentemente como uma forma de se proteger de outros
relacionamentos, mas não se esquivando mais completamente de sentimentos,
apesar do sofrimento que estava sentindo.
Durante o período em que se recuperava dessa decepção, alguns
comportamentos que eram comuns em situações de abandono começaram a
diminuir. Nessas circunstâncias, era comum a cliente buscar por estratégias que,
de alguma forma, “anestesiassem" tais sentimentos desagradáveis, como o uso
L
excessivo de bebidas alcoólicas. Porém, após essa decepção, a cliente começou
A
NT a evitar tais recursos, diminuindo muito o consumo da bebida em relação ao que
E
M
A fazia em situações como essa. E chegou a expressar: Eu preciso viver essa tristeza,
T
R
O
P
porq ue que eu sei que só assim eía vai passar. Taí faia era muito diferente da de
M
O situações anteriores quando dizia: “Pra que passar peio sofrimento? Se dói, pra que
-C
O
IC serve ?
ÍT
L
A Vale ressaltar que, nesse período de decepção e em outros que se seguiram,
N
A
A
P
I foi observada a volta de alguns padrões de comportamento, por exemplo, tudo
A
R
It ser considerado abandono e o afastamento de outros à sua volta. Entretanto, tais
comportamentos apresentaram-se com uma rigidez e intensidade muito menores
62 do que em situ açõ es anterio res.
A
Quanto ao diagnóstico da cliente, pode-se se dizer que, em momentos de crise, N
I
G
E
ela ainda apresenta os padrões de comportamento que a incluem no diagnóstico R
O
(como apresentado acima), os quais são relacionados a critérios isolados e S
A
C
ocorrem de forma menos duradoura e rígida do que anteriormente, uma vez que
Regina tem aceitado as reflexões propostas pelo terapeuta. Parece que os padrões
de comportamento definidos pelos critérios permanecem presentes ao repertório
da cliente, mas são episódios evocados com maior probabilidade em situações
extremas de abandono e sofrimento.
L
A
T
N
E
M
A
T
R
O
P
M
O
C
-
O
IC
ÍT
L
A
N
A
A I
P
A
R tI
Caso RAFAEL ’
Identificação do cliente
Rafael (nome fictício) tinha aproximadamente 20 anos quando iniciou o
atendi mento psicoterapêutico e permaneceu em ate ndimento durante quatro anos .
Rafael morava com os pais e dois irmãos mais novos. Ele cursava duas
faculdades.
Queixas apresentadas
Rafael apresentava como queixa princi pal seus p roblemas com relacionamentos
interpessoais, na qual se enquadram seus problemas de relacionamento com sua
tudo o que ele fazia, e sua irmã mais nova ajudava sua mãe nessa tarefa.
Ele também relatou que apresentou alguns episódios de mal-estar súbito,
semelhantes a um princípio de infarto. Em todos esses episódios, ele buscou ajuda
médica, mas nenhum resultado conclusivo foi apresentado.
1 Dado s pessoa is e aetalhes de alguns episódio s foram modificados para impedir a identificação dos
envolvidos.
L
L em duas universidades, entre outros, tanto para seus amigos e pais como para
ÍA
A
R o terapeuta. Essas queixas estavam presentes de diferentes formas nas sessões.
O
S
A
Cabe ressaltar que esperamos que o espaço de terapia seja um espaço em que o
C
cliente traga suas queixas, mas, no caso do Rafael, o terapeuta percebia que muitas
das queixas vinham desacompanhadas de qualquer expressão de sentimento, até
mesmo a ponto de ele falar de coisas muito difíceis, rindo ou falando naturalmente.
Essa constatação é que levou o terapeuta a analisar que tais comportamentos
provavelmente eram mandos disfarçados e que no dia a dia eram reforçados com
a atenção, aconselhamento pelos ouvintes na vida do cliente.
Outros comportamentos importantes de ser notados durante as sessões
diziam respeito às tentativas de esquiva de relato sobre sentimentos e/ou escolhas
por ele realizadas (ou situações que sinalizavam que parte da responsabilidade
era do cliente). Ao longo da terapia, Rafael trouxe diversos exemplos de
situações ocorridas no seu dia a dia que exemplificam tais comportamentos. A
seguir, são descritos alguns trechos de diferentes sessões que ilustram esses
l
C; Eu tenho ciência disso, mas agora , eu não penso muito sobre. F
A
f
A
T: Eu acho sim que você montou um pacote com tudo relacionado a R
O
homo ssexualidade, com o qu e seus pai s falam, etc.e nem pensa em S
A
C
discutir ou pensar nisso, é assim que me parece.
C: E isso mesmo. (Em seguida muda de assunto.)
(...)
C: Acho que do jeito que está eu não consigo aguentar muito tempo.
T: Você se sente assim?
C: Uhum. Eu sinto. Nossa, ontem fo i horrível...
T: E mais uma vez eu te fa io que v ocê fala que se sente assim , mas faia rindo
e brincando. Não que eu não acredite em você, mas você não entra em
contato com o seu sentimento aqui.
L
C: É. (Rindo.) IA
N
L
T: E como você se sente estando nesta situação ? M
A
I
R
C: Eu me s/nto eu mesmo, eu me sinto mal. A minha vida se baseia nisso. O
P
M
Tanto em estar nessa confusão como na tentativa de sair disso. O
C -
O
(...) IC
T
U
O Aqueías d/scussões em casa continuam. Hoje meu irmão deu um grito A
N
A
e minha mãe disse que parecia de mulher, ficou soltando indireta para IA
P
A
R
mim na sala. E eu fingi que não escutei. T
E
(...)
l
F C: E essa semana foi meio ruim lá em casa, princip alm en te porq ue
fA
A
K discutimos aquele negócio da mudança de faculdade. Parece que não
O
S
A
dá para mim.
C
(...)
Rafael trouxe exemplos de situações em que ele se queixava a seu pai e a sua
mãe da escolha de sua profissão e de sua universidade. Além disso, ele dizia a seus
amigos que sempre reclamava contra essas coisas, o que muitas vezes o levava a
falar apenas de si mesmo nas conversas, sem nem mesmo perguntar coisas sobre
as outras pessoas.
Em alguns momentos durante as sessões, Rafael discutia claramente sobre
sentir que seus amigos se afastavam dele por perceber que eles estavam de “saco
L
Análise funcional E
A
F
A
A seguir, são apresentados tabelas na tentativa de resumir as hipóteses sobre R
O
as contingências que mantinham os comportamentos acima discutidos. A primeira S
A
C
tabela apresenta comportamentos que ocorriam no dia a dia de Rafael, enquanto
a segunda tabela apresenta alguns dos comportamentos emitidos em sessão, os
quais são classificados como CCRis.
No dia a dia
T abe l a 1
Análise de contingências das respostas de chorar / queixar-se /reclamar.
Respostas de chorar/
Antecedentes queixar-se / reclamar Consequentes
Olhar preocupado dos
Escutar música triste/
No trem, a caminho de pensar coisas ruins » outros passageiros (S"*).
volta para casa. Preocupação dos pais, ao
chorar / cobrir o rosto.
chegar a casa (S").
Dizem para ele parar ce se
Reclama" do dia a dia, da
preocupar quanto a mudar
Presença pai / mãe. escolha profissional e das
de universidade - retirada
universidades.
de responsabilidade (S ).
Reclamar sobre sua
escolha profissiona. Demonstrações de
Presença dos amigos e sobre seu dia a atenção e/ou preocupação
mais íntimos. dia/ reclamar de seu (Sr*). Afastamento em
relacionamento com longo prazo (Sp). L
os pais. IA
N
L
M
IA
R
O
P
M
O
-C
O
IC
T
U
A
N
A
IA
P
A
R
E
T
lt
A
I
R
A Análise de contingências das respostas de irritar-se/afastar-se/
O reclamar de falta de apoio.
S
A
C
Antecedentes Respostas Consequentes
Falas de amigos e dos Recebe ajuda (Sr+)
Respostas de Irritar-se /
pais, que apontam a Afastar-se / Reclamar de / Recebe atenção
responsabilidade de {Sr*) / Alívio da
falta de apoio
Rafael responsabilidade (Sr;
Afastamento (ou Afastar-se dos amigos / Não mais se relaciona 1i
sinalizações de evitar contato social com com os amigos que |
afastamento) / esses amigos. poderiam emitir críticas I
demonstrações de ou rejeitá-lo (Sr}. j
ae escolha da universidade
dos estudos por conta universitária incomodado
sentindo-se com o pai) sua escolha
aversiva) (S').(situação
do filho. e irritado pelo fato de
o pai não lhe indicar a
decisão a ser tomada.
Na sessão
T abe l a 3
Análise de contingências de respostas em sessão
Antecedentes Respostas Consequentes
L
Presença co Queixar-se / reclamar sobre sua escolha Demonstração de
A
T
N terapeuta. profissional e sua universidade/
M
E
do relacionamento com os país /reclamar
queixar- preocupação pelo
terapeuta (Sn).
A
T
R
se do conflito entre o homossexualismo
O
P e sua religião.
M
O
C Pergunta do Mudar de assunto/“filosofar”. Terapeuta se engaja
O
C
II
L
Í terapeuta sobre no novo assunto (S")
A
N seus sentimentos
A
A
I
e escolhas.
P
A
R
L
T Horário da sessão. Chegar atrasado à sessão. Não precisa se expor
(Sr_) ou receber
críticas (S').
L
Como se pode observar, os CCRis selecionados fazem parte de um repertório E
A
F
A
de queixas e reclamações ocorrendo em excesso, bem como a comportamentos R
O
que têm por função evitar o contato com contingências aversivas {como expor S
A
C
sentimentos, receber críticas). Em geral, os antecedentes observados em sessão
e no dia a dia de Rafael que produziam esses comportamentos eram a presença
de familiares, amigos e pessoas que sinalizassem a formação de um vínculo
emocional ou produzissem a sensação de intimidade. Ante essa aproximação nos
relacionamentos, Rafael passava a emitir esses comportamentos que, em geral,
produziam nos interlocutores sentimentos de preocupação e cuidado (p. ex,
mostrar-se preocupado com a situação, fazer perguntas envolvendo a queixa,
tentar dar opiniões). Após certo período em que as queixas e reclamações se
repetiam, apesar das ajudas oferecidas e dos cuidados transmitidos pelos seus
amigos, muitos passam a mostrar irritação e incômodo. Sendo assim, essas
pessoas passavam a evitar o contato com Rafael ou os assuntos por ele trazidos,
sinalizando o que o Rafael chamava de estar de saco c/ieio. Desse modo, para
evitar críticas, sentir-se rejeitado, entre outras consequências aversivas, Rafael
se afastava desses colegas e buscava aproximar-se de outras pessoas. Quando
não havia a possibilidade de afastamento físico, como no caso de seus pais, Rafael
evitava discutir alguns assuntos para que assim não recebesse críticas ou respostas
que não demonstrassem atenção e cuidado da maneira que ele gostaria {ou ainda
transmitissem sua responsabilidade em suas escolhas).
Rafael dizia que, muitas vezes, somente começava a chorar ou sentir-se
triste, quando se aproximava de casa, mesmo que seu dia tivesse sido bom. Ele
geralmente se comportava de uma maneira que seus pais discriminassem que
estava triste (andar de cabeça baixa, cobrir o rosto, expressar choro) e logo eles iam L
A
I
perguntar ao Rafael o que havia ocorrido. Quando Rafael se queixava das mesmas N
L
M
coisas, ora recebia respostas de cuidado e atenção pelos seus pais (mais por parte IA
R
O
de sua mãe), ora recebia respostas lhe dando apoio para qualquer decisão por ele P
M
O
tomada (atribuindo a responsabilidade a ele - o que era aversivo para ele). Assim, -C
O
Rafael encontrava certa inconsistência na resposta dos pais, o que provavelmente IC
T
Ü
A
devia acontecer com alguns de seus amigos. Tais contingências intermitentes N
A
IA
favorecem a manutenção desses comportamentos. P
A
R
Outra hipótese relativa às contingências mantenedoras dos CCRis dizia T
E
I
L
A
Desse modo, ao se comportar de maneira queixosa, seus pais apresentavam
b
A
R comportamentos de cuidado, proteção e indicações de que o Rafael não deveria
O
S exigir tanto de si (p. ex., quando sua mãe dizia a ele não ir à aula por estar muito
A
C
cansado; quando seu pai dizia que não se preocupasse em mudar de faculdade;
quando seus colegas lhe diziam desistir de entrar em outra faculdade e terminar
Supervisão
As supervisões tiveram papel essencial no atendimento de Rafael. O terapeuta
trazia para a supervisão relatos de sentimentos negativos sobre o cliente. Por se
tratar de um terapeuta iniciante, havia dificuldades na compreensão e no manejo
de tais sentimentos durante as sessões com Rafael.
Nesse sentido, a discussão durante a supervisão dos sentimentos
negativos proporcionou ao terapeuta alívio, ao compreender que parte desses
sentimentos eram produzidos pela maneira como Rafael estabelecia suas
relações interpessoais. O excesso de queixas, as esquivas de análises e os
atrasos constantes produziam irritação no terapeuta, que se percebia impotente
na tentativa de ajudá-lo. Ao analisar esses sentimentos como produto daquela
relação particular, o grupo de supervisão auxiliou o terapeuta na tarefa de
responder diferencialmente aos comportamentos de Rafael em sessão. Uma
das intervenções propostas foi descrever a interação com o terapeuta, tal
qual analisada, para Rafael e relacionar os efeitos dessa interação com outras
relações significativas na vida dele. Isso implicou descrever para Rafael seu
L
E
A
comportamento queixoso, algo que gerava incômodos no terapeuta. Como dizer
F
A
R ao cliente que seu principal problema é o excesso de queixas e a dificuldade de
O
S estabelecer interações duradouras se a terapia é na essência um espaço para o
A
C
cliente trazer queixas? Esse tipo de intervenção foi bastante discutido no grupo
de supervisão como algo necessário no processo do cliente, principalmente
Relação terapêutica
Como boa parte das intervenções realizadas no caso foram baseadas na FAP,
o estabelecimento de uma relação terapêutica suficientemente segura se fez
necessário. As intervenções propostas tinham como base para Rafael a descrição
dos sentimentos negativos do terapeuta produzidos pelas queixas excessivas
durante a sessão. Como fazer isso de forma empática e acolhedora? Essa era uma
das principais questões que o terapeuta enfrentou, ao propor as intervenções
com o cliente. Após inúmeras discussões no grupo de supervisão e após um
Intervenções
L
A
I
N
E Intervenções nas dificuldades relacionadas ao cotidiano
M
A
T As intervenções sobre dificuldades relacionadas ao cotidiano ocorreram em
R
O
P dois principais repertórios: comportamentos inadequados que produziam atenção
M
O
C
-
e comportamentos de auto-observação.
O
IC Com relação aos comportamentos inadequados que produziam atenção
TÍ
L
A
N (principalmente as queixas excessivas), foi solicitado ao cliente que, assim que
A
A
I
P
se percebesse repetitivo ou excessivamente queixoso em situações sociais,
A
R
E
T tentasse identificar o efeito que estava produzindo no interlocutor e a maneira
como se sentia na situação e que, se possível, modificasse sua fala para outros
76 assuntos (tentas se percebe r a diferença encontrada). Obviamente, 0 processo
L
anteriormente descrito foi trabalhado em etapas, visto que o repertório do cliente E
A
F
A
de auto-observação era bastante escasso. R
O
Foi solicitado ao cliente que incluísse no seu relato de situações ocorridas fora S
A
C
da terapia os seus sentimentos e pensamentos que estavam presentes naquele
determinado momento. Nesse processo, o terapeuta, baseado nas interações
relatadas, auxiliava o cliente a descrever os sentimentos envolvidos.
L
E
A
F
Evoluções do caso/ resultados
A
R Rafael procurou atendimento psicológico descrevendo problemas em
O
S
A relacionamentos interpessoais, principalmente no estabelecimento de relações
C
duradouras. Durante seu processo em terapia, foram modelados na interação
terapêutica os possíveis CCRs que estavam diretamente relacionados com
esses problemas encontrados no seu dia a dia. Desse modo, Rafael adquiriu um
repertório de auto-observação bastante preciso, conseguindo descrever seus
sentimentos dentro e fora da terapia. Esse repertório de auto-observação permitiu
que Rafael, em seu cotidiano controlado, respondesse não mais prioritariamente
por contingências sociais, mas agora também sob controle de estados internos.
Essas mudanças foram constatadas exclusivamente utilizando o relato verbal de
Rafael, que dizia agora saber quem era e o de que gostava.
Rafael desenvolveu um repertório de solicitação de ajuda e atenção mais
adequado ao contexto em que vivia, o que teve grandes impactos em suas
relações interpessoais. Rafael iniciou amizades que foram mantidas até hoje, com
um grau de intimidade que não existia antes. Além disso, ele começou a namorar,
e essa relação foi uma das mais discutidas no processo terapêutico. Boa parte
das dificuldades de intimidade de Rafael foi resolvida utilizando essa relação com
o namorado, porém novas dificuldades foram criadas. O autoconhecimento de
seus limites tornou-se um novo repertório trabalhado no processo terapêutico,
mas essa dificuldade somente pôde ser alcançada após as evoluções observadas
durante o período aqui relatado.
L
A
T
EN
M
A
T
R
O
P
M
O
C
-
O
IC
ÍT
L
A
M
A
A
I
P
A
R
E
T
Caso JOÃO 1
identificação do cliente
João (nome fictício) esteve em terapia analítico-comportamental durante
quatro anos, tendo iniciado aos 31 anos de idade. Tinha orientação homossexual e
era devoto da religião evangélica.
com desconhecidos por semana, muitas vezes em locais públicos, como praças,
ônibus ou garagens. Mantinha um relacionamento estável com um namorado, que
não tinha conhecimento de suas infidelidades.
Descrevia o local onde trabalhava como desestimulante. Sentia-se ansioso e
frustrado com as dificuldades enfrentadas em seu trabalho e se questionava sobre
seu futuro profissional, financeiramente incerto.
Travessuras infantis eram consequenàadas com violentas agressões por sua mãe,
que usava cintas de couro, chinelos de borracha ou cabos de vassoura. Seus
irmãos o agrediam de maneira menos contingente, mais em razão de seus próprios
problemas e desentendimentos. Demais membros de sua família, conhecidos ou
professores jamais interferiram nesses episód os que às vezes ocorriam dentro
de casa, outras vezes em locais públicos. Essa aparente tolerância das pessoas
1 Dado s pessoa is e detalhes de alguns episódios foram r^ocffica dcs oara impedir a identif icação dos
envolvidos. 79
;p
O contribuiu para que João entendesse que episódios de violência eram aceitáveis e
A
O
J
até mesmo adequados na educação de crianças.
O
S
A
C Também durante sua infância, João sofreu recorrentes abusos sexuais
cometidos por jovens de sua vizinhança. Atribuía a si mesmo a responsabilidade
por tais episódios, por vezes afirmando que os havia provocado deliberadamente
O
seu parceiro e familiares ou de uma “punição divina", que supostamente viria pelo Ã
O
J
contágio de doenças sexualmente transmissíveis. Iniciou a terapia solicitando à
O
S
A
terapeuta que o ajudasse a decidir se deveria se tornar uma pessoa "decente e C
mono gâm ica” ou se dev eria “ass um ir sua p rom iscu idad e1’.
O
tenha produzido supressão de seu repertório de autoexposição IC
T
Í
L
afetiva (Sc). A
N
A
A
I
P
A
R
L
I
O
culpa e pela percepção de contingências potencialmente punitivas de suas ações Ã
O
J
(julgamento da terapeuta).
O
S
A
Além da terapeuta, João mantinha contatos semanais com um pastor de sua C
O
Á pessoa mampuladora e interesseira e expressava culpa e angústia. Como já
Ü
j
O
mencionado, tais relatos de culpa pareciam estar sob controle parcial da audiência,
S
A
C com função de reduzir a probabilidade de julgamentos mdesejados na terapeuta,
mas eram acompanhados de respostas corporais - choros, agitações, tremores -
que sugeriam também consistir em tatos de estados privados
função de esquiva desses eventos foi facilmente identificada peio fato de que O
Ã
O
J
estados de alerta retornavam imediatamente tão logo ele retomasse o controle
O
S
A
sobre a pauta de assuntos. C
Respostas dissociativas
Os episódios de narcolepsia e/ou esquecimentos foram incorporados a uma
terceira categoria de comportamentos clinicamente relevantes, de dissociação
(Classe 3). Esses comportamentos consistiam no embotamento de sentimentos
nas ocasiões que tenderiam a ser emocionalmente intensas (dentro e fora da
sessão), além de um pobre repertório de discriminação dos próprios sentimentos
ou opiniões. Essa classe de respostas não foi evidente por um longo tempo, uma
vez que, no princípio da terapia, João acatava imediatamente as solicitações de
descrever seus sentimentos. Entretanto, com o aprofundamento da relação
terapêutica, foi ficando evidente que tais “descrições” eram mais pautadas nos
sentimentos que seriam socialmente “esperados” dele ou tinham função de
apaziguar questionamentos, mas que não consistiam em tatos privados. Após tal
averiguação, a solicitação por tatos de sentimentos ou opiniões (dentro e fora da
sessão) passou a elevar a frequência de episódios catapléticos. Dentro do sistema
conceituai da análise do comportamento, tais respostas dissociativas podem ser
pensadas com base no conceito de esquiva experiencial, como foi tratado no
capítulo “Comportamentos encobertos mantidos por contingências sociais”.
O
baixa discri minação de sentimentos ou opiniões. Suprimia relat os que exp usessem IC
T
Í
L
aspectos mais honestos ou menos "admiráveis” de si e 0 tornassem vulnerável A
N
A
ao julgamento dos outros. Tal supressão era compatível com sua vasta história IA
P
A
R
de punição de tentativas de autoexposição, por exemplo, quando ele admitiu E
T
sua homossexualidade ao líder religioso de sua igreja e teve sua carreira religiosa
interrompida. De mo nstra çõe s de afeto e tentativas de estab elece r intimidade pela 85
Diagnóstico do caso
A descrição dos comportamentos clinicamente relevantes e as intervenções
nesse caso ofereceram sérios desafios e, em muitos momentos, consistiram em
processos de tentativas e erros. A sequência de eventos e contratempos será
descrita aqui em detalhe, com intuito de estimular terapeutas e pesquisadores
adeptos da análise do comportamento a almejar maiores aprofundamentos em
pesquisas básicas e aplicadas sobre temas centrais a casos como este, ou seja,
sob re os efe itos e tratamentos terapêuticos de t rauma s e abu sos oc orrido s n atenra
infância de clientes, e as intensas funções que tais eventos podem estabelecer
Parte das d ificul dades encon tradas na conduçã o desse caso tal vez s eja atribuída
a um viés de análise produzido pelos conhecimentos atualmente acumulados
Análises funcionais
As análises e intervenções terapêuticas nos primeiros anos focaram as
dificuldades de João para estabelecimento de relações íntimas, tomando por base
as hipóteses de que suas buscas sexuais teriam a função de produzir prazer sexual
(reforço positivo) e esquiva de relacionamentos afetivos íntimos que demandariam
maior vulnerabilidade e exposição de sentimentos (reforço negativo). Por muitas
sessões foram avaliadas as fontes de reforçamento positivo na vida de João,
entendendo-se que a alta frequência de buscas sexuais estivesse sendo mantida
por uma carência de fontes alternativas de reforços. Suportada em tais hipóteses,
foi tecida uma análise de que a produção de reforços positivos e negativos por
meio das buscas sexuais e a subsequente saciação sexual teriam o efeito de
permitir que João persistisse no ambiente aversivo de seu trabalho a despeito de
seus descontentamentos. Ou seja, a saciação sexual imediata e recorrente estaria
Tabe l a 1
João admitiu ter feito o exercício proposto pela terapeuta em razão de querer
agradá-la, e não de controlar possíveis benefícios dele, o que seria um controle
pelas contingências. Suspeitou-se também que parte das autodescrições de João
como 'manipulador poderiam ser também tatos da discriminação de que suas
ações e palavras teriam a função de impressionar o ouvinte. Podemos expor essa
hipótese funcional da seguinte forma:
Tabe l a 2
Análise de resposta mantida pelo terapeuta, e não por
contingências do dia a dia
Respostas Respostas
Antecedentes encobertas abertas Consequentes l
a
Recebe instrução ■ O que T. vai Realiza a tarefa, Recebe elogios nt
l
m
da terapeuta. pensar de (S~). Mantém uma ta
r
mim se eu não imagem social de o
p
cumprir a tarefai1 "certinho” com função m
o
(controle do de mando sobre 0 c
-
o
outro). ouvinte (Sr+). c
it
íl
Ansiedade, Descreve-se como a
n
a
inquietude manipulador (Tato: ia
p
(evocados). e redução de crítica a
r
il
do ouvinte: S').
O
Á A função de impressionar o ouvinte (mando) apareceu de outras formas. Uma
O
J
O
delas era que João relatava relutar em receber favores das pessoas, pois dizia que
S
A
C se sentia "endividado” com isso e teria a obrigação em retribuí-los rapidamente.
Essa sensação parecia especialmente evidente quando ele discutia sua adoção,
como no trecho abaixo:
T: Você me disse que não teria dinheiro para mandar para eles agora!
J: É, mas aí eu me lembro qu e eles me adotaram. Então eu tenho um dever!
Eu tenh o que retribuir o que eles fizeram po r mim. Eles “comeram o pão
que o diabo amassou’’ e me amaram tanto... enquanto eu cursava a
faculdade. Como eu vou retribuir isso ? Tenho que mand ar dinheiro para
eles agora. É minha vez de ficar sofrer.
O
T: Mas você tem medo do que vai acontecer se ela souber desta verdade? Á
O
J
J: Tem coisas que a gente diz para os amigos, tem coisas que diz só para
O
S
A
seu terapeuta. (Explicita a seleção do ouvinte.) Mas talvez eu queira C
Tabe l a 3
Efeito de punição produzido pelo comentário de um parente
Respostas
Antecedentes encobertas Respostas abertas Consequentes
Comentário da Sente-se frustrado Supressão do Evita crítica e
prima criticando a (evocado). relato da própria perda do amor
homossexualidade sexualidade. (5').
de outra pessoa. Mantém sua
imagem de(Sr~).
“certinho”
Nesse relato, João parece acreditar que o amor da prima seria contingente à
manutenção de uma imagem de ‘‘certinho” Se eie fosse honesto em suas ações,
poderia sofrer punição negativa pela retirada do amor de sua família. A percepção
desse risco suprimiu seu relato.
Muitas das intervenções nos primeiros anos de terapia foram orientadas por
análises de suas relações interpessoais e de sua dedicação extrema em produzir
aprovação das pessoas. À medida que o processo terapêutico foi evoluindo, João
mostrou-se mais atento aos estímulos aversivos em seu trabalho e desenvolveu L
A
T
assertividade ante as exigências que ele julgava abusivas. Modificou os projetos de E
N
M
trabalho em que estava envolvido, passando a perseguir temas que o inspiravam, A
T
R
O
em lugar de atender aos interesses de seus superiores. Modificou ativamente seu P
M
O
ambiente de trabalho, reduzindo a estimulação aversiva a que estava exposto. C-
O
A discussão de suas dificuldades em produzir intimidade também produziu IC
ÍT
L
A
alguns resultad os importantes. J oão gr adualmente foi aceita ndo expor-se a pessoas N
A
A
I
afetivamente relevantes, por exemplo, admitindo sua orientação homossexual a P
A
R
alguns membros de sua família, a despeito do medo de ser rejeitado em razão de F
T
valores religiosos. Também estabeleceu conversas mais sinceras com seu parceiro
sobre seus sentimento s e motivações (mas não sobre suas infidel idades). gi
Análises funcionais
As investigações sobre as variáveis controladoras das respostas promíscuas
somente tiveram avanços mais consistentes após uma lenta recomposição de
seu passado. A descoberta de que João havia sofrido abusos sexuais e físicos
na infância foi feita por ambos, terapeuta e cliente, ao longo de um demorado
resgate de descrições esparsas, que eram oferecidas marginalmente em meio
ao relato de outros temas e não evocavam emoções intensas. Revelações foram
sendo feitas quase que casualmente, descontextualizadas e sem demonstrações
de sensações aversivas.
Com o se verám ais adi ante, naliteratura clí nica especializada s e verif icou s ere sse
padrão topográfico dissociativo bastante típico em casos de abusos longínquos. Tai
topografia, associada ao fato de que tais episódios ocorreram muitos anos antes
e à ênfase da análise sobre contingências mais imediatas, fez com que a terapeuta
não investigasse a ocorrência de tais episódios ou suspeitasse que eles pudessem
ser controladores das buscas sexuais atuais. Essa hipótese somente foi formulada
após uma prolongada recomposição e alinhamento temporal dos eventos.
Parte dessa descoberta pode ser atribuída ao fato de que a ênfase nas
contingências presentes estava gerando resultados concretos (melhores relações
de intimidade), mas marginais à queixa principal (promiscuidade). Isso produziu
uma insatisfação crônica em ambos, a qual, intensificada pelo desamparo de João
dian te da conclu são de que ele "não ter ia solução ”, con vert eu -se em uma crise
na relação terapêutica. Em virtude da gradual extinção da confiança de ambos
nos rumos dos procedimentos terapêuticos adotados, a terapeuta buscou na
literatura, independentemente de abordagem teórica, auxílio para prosseguir
na condução do caso (ver tópico 4 — Respeito por conhecimento produzido, no
capítulo Supervisão).
Trauma: theory and treatment ofthe lasting ej^ects (1992). O autor listou topografias
de respostas mais típicas de sobreviventes de abusos sexuais infantis, tais como (1)
dissociação, (2) hipervígilâncía em relação às reações e opiniões de outras pessoas,
em detrimento do desenvolvimento de repertório de autodiscriminação, e (3)
promiscuidade sexual. Todos esses consistiam em padrões topográficos emitidos
em altíssima frequência pelo cliente. A seguir, são apresentadas descrições
pormenorizadas dessas respostas e elaboradas algumas hipóteses sobre suas
funções, formuladas dentro do referencial analítico-comportamental. Cabe
enfatizar que essas análises consistem em conversões conceituais hipotéticas e
ainda em construção.
Hipervigilância
Sobreviventes de abusos sexuais na infância apresentam frequentemente
componentes cognitivos e pavlovíanos de ansiedade, que, muitas vezes, adotam
uma topografia de hipervigilância nas relações interpessoais. Cogita-se que tais
elementos derivem de um pareamento clássico pavloviano ocorrido na primeira
infância, pelo qual figuras de autoridade ou afetivamente relevantes (pais ou
amigos próximos), que despertam emoções agradáveis de proteção e confiança,
tornam-se também responsáveis por impingir dores físicas, muitas vezes de
maneira não contingente ao comportamento da criança. Tais eventos traumáticos l
A
durante a infânciatambém parecem modelar um repertório complexo e sofisticado T
N
F
M
de observação da reação das pessoas, 0 que pode auxiliar na antecipação ou A
T
R
O
prevenção de futuros episódios de abuso. Em contrapartida, ficam mais restritas P
M
O
as oportunidades para modelagem de repertórios de discriminação dos próprios C
-
O
estados internos, que oferecem menor capacidade preditiva de eventos (ver C
m
L
A
capítulo comportamentos encobertos mantidos por contingências sociais). N
A
A
I
Hipervigilância crônica pareceu ser uma descrição compatível com a alta P
A
R
capacidade discriminativa das reações das pessoas que João apresentava e de E
T
pobre repertó rio discriminativo de estado s internos de J oão: sua impaci ência, sono
e angús tia dia nte da evocação deliberada da terapeuta d esse tipo de discriminação.
Tabe l a 4
Análise funcional da hipervigilância
Dissociação
Topograficamente, a dissociação é descrita como uma interrupção temporária
(segundos, minutos) de interações entre pensamentos, memórias e sensações
privadas. Funções possíveis já identificadas seriam as seguintes:
1. esquiva de exposição a estímulos aversiv os presentes no ambient e
imediato;
2. sup ressã o de mem órias e estimulação pri vada el íciadas por estímulos
pareados a eventos traumáticos passados;
3. analgesi a a qua lquer esti mulação suplem entar associada a tais estímulos;
I
A
4. atenuação d e sensaçõ es elíc iadas permitindo que 0 sobreviven te de abu sos
T
rN
E infantis fale ou atue “normalmente” diante de estimulação aversiva, sem
M
A ficar distraído ou imobilizado pela dor associada a tais estímulos.
T
R
O
P
M
Processos dissociativos talvez estejam presentes, no caso de joão, nos
O
-C episódios de cataplexia e na dificuldade em articular seu discurso nas ocasiões
O
lC em que a terapeuta o solicitava a descrever suas emoções, fornecer detalhes de
ÍT
L
A
N eventos de sua infância ou adolescência ou eventos emocionalmente complexos
A
AI
P (atuais ou passados). Nelas, Joao divagava ou mostrava-se incapaz de formular
A
R
E
T opiniões sobre as ações de membros de sua família ou sobre os sentimentos
evocados pela lembrança de eventos de sua infância (fases em que o repertório
de esquiva é precário).
O
T abe l a 5 Ã
O
J
Análise funcional da dissociação
O
S
A
C
Antecedentes Respostas Consequentes
Presença de pessoas Supressão da
ou situações sociais discriminação de estados
anteriormente pareadas a privados,
grande sofrimento. Emissão de respostas
calmas e socialmente
habilidosas, incompatíveis
com o antecedente.
Promiscuidade
Comportamentos de busca e contatos sexuais (compulsão, promiscuidade)
podem ter função de esquiva de memórias e sensações intensamente
aversivas. Cogita-se que tais respostas introduzam esquemas de reforçamento
concorrentes aos já instalados diante de estímulos pareados ao abuso infantil,
algo como “ escolher 0 m enor dentre dois males”. Essa con corrên cia de esquemas
tende a se perpetuar por adquirir uma poderosa função reforçadora negativa
(interrupção de estimulação aversiva pareada aos traumas infantis), suplementar
à satisfação sexual. Tais funções podem ser percebidas pelo relato de sensações
de alívio subsequentes ao contato sexual. A vigência crônica de tais contingências
negativamente reforçadas podem ainda promover generalizações para situações
aversivas menos extremadas. No trecho abaixo, João reconhece uma função de
“alívio da tensão” que suas conquistas sexuais podem oferecer diante de uma
situação indesejada. Discutia com a terapeuta um tema incômodo: a possibilidade
de ele revelar sua orientação sexual a seus pais. L
A
T
N
E
M
A
T: Como está sendo para você falar sob re isso? T
R
O
P
): Ah... pa rece que você fica martelando demais neste assunto. Mas tem M
O
-C
horas que parece que sou eu que fico tentando fugir do assunto. Não é O
CI
T
0 que eu queria falar aqui, mas talvez, sim, seja 0 mais importante a ser L
Í
A
N
falado. E um assunto que eu tenho lidado desde a minha existência. Eu A
AI
P
sempre pense/ nisso, em falar com os meus pais. A
R
E
T
T: De que você queria fa la r aqu i na se ss ão? De safadeza? (Termo
anteriormente usado por joão.)
O
à }: É muito mais gostoso! Tanto que eu nem contei de uma situação que
O
J
aconteceu lá no bar... (Conta longamente uma sedução sexual com
O
S
A
C estranhos.)
T: Agora há pouco nós estávamos falando de um tema difícil e você desviou
imediatament e para safad ezas . Você percebe u?
j: Sim, fa z todo sentido. Parece que eu trago estes assu ntos para “ufa, vamos
parar de cutucar assuntos difíceis". Você já sabe que eu sou pe rvertido
mesmo, então eu posso ficar contando para você.
T: Se você faz isso durante a sessão, ou seja, falar de safadeza te permite
se esquivar de outros temas, é possível que isso aconteça também fora
da sessã o?
J: Co m certeza. Hoje por exem plo eu estou a pon to de me acaba r na
safadeza quan do sa ir daqui. Po rque eu est ou tri ste e preo cup ado com o
meu irmão que está c/oente, sem conseguir trabalhar. E vai precisar que
meu pai o ajude, e eu vou perceber que meu pai não tem como ajudá-lo
e vou fic a r mal po r isso. Hoje eu fiquei o dia inteiro mal p o r conta disso.
Eu estou a ponto de me acabar.
L
concordou e complementou com um exemplo que era também uma previsão:
A
T
N
E sentia-se mais inclinado a emitir respostas de busca sexual por conta de estar
M
A
T
preocupado com seu irmão.
R
O Parece ser comum que sobreviventes deabusos passem, nafase adulta, a buscar
P
M
O
C-
ativamente situações e ambientes semelhantes àquelas vigentes nos episódios de
O
C
I abusos, repetindo-os recorrentemente. Nesse sentido, sobreviventes de abusos
T
Í
L
A sexuais podem engajar-se em buscas ativas por contatos sexuais (promiscuidade)
N
A
IA e sobreviventes de abusos físicos podem repetidamente selecionar parceiros
P
A
R
E
T violentos. Esse processo, por vezes, é chamado de revitimização (Briere, 1992) e
impõe um grande desafio quando se busca sua explicação dentro do paradigma
96 analítico-co mp ortam enta i. Afinal, o com porta me nto mais (conceitua lmen te)
tipo de estimulação.
Uma explicação possível desse processo pode residir na busca por obter um
fictício “controle" sobre a ocorrência desses episódios que, no passado, foram
imprevisíveis e íncontroláveís. E comum que sobreviventes de abuso se descrevam
como responsáveis por terem seduzido seus agressores, no que parece ser uma
busca pela “ilusão de controle”, que pode propiciar algum alívio à ansiedade
antecipatória de eventos traumáticos. No caso de promiscuidade, esse alívio de
tensão pode ainda s e associar à satis fação deriv ad ada ativi dade sexual e ao sucesso
da sedução, estabelecendo uma complexa cadeia de respostas poderosamente
reforçada. Com o passar do tempo, o sobrevivente pode manter um pobre
repertório de esquiva, no qual a antecipação de eventos traumáticos produz
respostas concorrentes com funções de alívio de tensão, analgesia e satisfação
busca insaciável p o r sexo é algo que está me trazendo problema, então “porque você
não controla? ” (Chora.)
O
A A despeito de relatar-se "péssimo” ao final de uma conquista, estar informado
)O
sobre os riscos à sua saúde e tomado por sensaç ões de culpa e de autorrepreens ões,
O
S
A
C joão se interessaria imediatamente se surgisse outra op ortunida de.
Tabe l a 6
Análise funcional da promiscuidade
O
À
caso produziram na terapeuta um forte sentimento de desamparo e culpa. Sentiu-
jO
se negligente por não ter explorado antes, com maior atenção, os fatos do passado
O
S
A
C do cliente, e frustrada pelo fato de intervenções terapêuticas introduzidas ao
iongo de anos de trabalho não terem produzido nenhum efeito relevante sobre as
respostas promíscuas. Ela também testemunhou o efeito que o insucesso dessas
L
Relação terapêutica
A
T
N
E O estabelecimento da relação terapêutica foi inicialmente facilitado pela
M
A
T
grande habilidade social de João em ser agradável e se mostrar admirável. Desde
R
O
P o início, ele se mostrou afável, divertido, estabelecendo-se uma boa relação entre
M
O
C ambos. Um exemplo foram todas as ocasiões em que João realizou testes para
O
IC verificar contágio por doenças sexualmente transmissíveis (resultados negativos),
IÍ
L
A nas quais a terapeuta se sentiu apreensiva e ansiosa fora da sessão enquanto
N
A
IA
P
aguardava os resultados.
A
R
E
T A despeito dessa topografia agradável, a passagem do tempo e o
aprofundamento do processo terapêutico evidenciaram algumas funções de
100 contro le da fala de João, sofisticad am ente maleáv eis às reaçõ es da terapeuta, e
capítul o Com portam entos en coberto s m antidos por conti ngências sociai s), pra zer
sexual (S'+ ) e esq uiva de estad os intern os de sagra dáve is (Sr) pro du zido s por seu
ambiente profissional. Uma das premissas adotadas foi que o autoconhecimento
gerado facilitaria a formulação de autorregras mais adequadas, e foi baseada
nos argumentos de Meyer (2005) de que as autorregras introduziriam uma
nova forma de regulação social, propiciando maior resistência à extinção ou
a consequências imediatas. Uma das intervenções nesse sentido foi feita pela
expli citação dos pro cess os subjacentes aos com portam entos de J oão, de m aneir a
a aumentar 0 repertório de autoconhecimento. Nesse processo, buscou-se
identificar estímulos ambientais controladores das respostas manipuJativas,
houvesse mais tempo de sessão para o exercício. Isso sinalizou a natureza aversiva
desse processo de auto-observação, e a manutenção desse exercício dependeu
de perseverança da terapeuta e constantes explicações sobre os motivos de sua
realização. A perseverança rendeu frutos observáveis. Certa ocasião, João contou
uma situação ocorrida em seu ambiente de trabalho que pareceu efeito dessa
intervenção. Após uma sequência de resultados frustrantes em suas pesquisas,
João, pela primeira vez, expôs ao seu chefe suas dúvidas quanto à viabilidade
do projeto em que estava envolvido. O resultado foi que o chefe elogiou seu
desem pen ho até então ( Sr+: reconhe cimen to de um superior) e atr ibui u maiores
responsabilidades a ele dentro do grupo de trabalho. Refletindo sobre essa
experiência, João propôs seguir uma nova regra: devo ser mais honesto com as
pesso as que prezo.
Em duas ocasiões, joão agiu sob controíe dessa nova regra: na primeira,
admitiu sua homossexualidade aos colegas de trabalho; na segunda, admitiu
algumas infidelidades a seu namorado. Em ambas, expôs-se ao risco de punição
(reprovação de seus pares e perda do namorado), mas o fez de forma impulsiva e
pouco habilidosa, sem selecionar a situação adequada para tais exposições, o que
produziu resultados inconsistentes. Os colegas o acolheram, fornecendo reforços
positivos na forma de apoio generalizado, algo que eliminou uma relevante
condição aversiva no trabalho (sentir-se desonesto e falso). A admissão das
infidelidades, no entanto, produziu brigas e a tão temida retirada de reforçadores
"afeto” e "atenção” , bem como eliciação de sentimentos comp atíveis com p unição L
A
I
negativa. A despeito desses resultados ambíguos (positivo com os colegas, negativo N
L
M
com o namorado), a modificação das contingências que se seguiram à emissão A
T
R
desses comportamentos, reforçamento natural pela maior coerência entre seus O
P
M
O
estados internos e ações públicas - sentir-se mais honesto consigo mesmo -, foi C
-
O
suficiente para manter emissões esporádicas desse tipo de comportamento. A C
I
ÍT
L
A
ponto de, algum tempo depois, ele admitir sua orientação homossexual para seus N
A
familiares mais próximos de maneira habilidosa, o suficiente para não produzir o A
I
P
A
R
rompimento das relações afetivas. E
T
L
seus registros. Por outro lado, esse processo de supressão não pareceu produzir
A
1
N
E nenhum efeito sobre o (instalado e altamente frequente) padrão de sedução e de
M
A
T
contatos sexuais.
R
O
P
M
O
C
- Intervenções focadas nos efeitos dos abusos sofridos na infância
O
C
I
I Como já se descreveu, a formulação de intervenções para sobreviventes de
Í
L
A abusos longínquos dentro do referencial analítico-comportamental consistiu em
N
A
IA
P um grande desafio pela pouca literatura clinica disponível. Muitas intervenções
A
R
E
T consistiram em procedimentos emprestados e adaptados da abordagem
cognitivista. Uma das obras mais fundamentais para elaboração dessa fase
104 inte rve ntiv a foi Child Abuse Trauma: theory and treatment of the lasting effects
O
(Briere, 1992). Para evitar repetição dessa citação, serão apenas marcadas as A
O
J
páginas das quais os trechos foram extraídos. O
S
A
.
Uma questão central em terapias voltadas para adultos abusados na infância C
dos dois. Cabe a ele oferecer um ambiente seguro e não punitivo que facilite a A
T
N
E
M
remem oração de sses eventos e re flexão sobre suas cons equên cias, bem como o d e A
T
R
O
teste mu nha r e auxÜiar o cliente nessa trajetória. Uma pro fun da relação terapêutica, M
P
O
empática e pautada pelo respeito à coragem do cliente é absolutamente essencial. C
-
O.
O recurso mais eficiente do terapeuta é sua habilidade em adentrar e compartilhar IC
TÍ
L
parcialmente o mundo privado de seu cliente. Padrões dissociatívos que A
N
A
inevitavelmente emergirão no cliente poderão exigir demonstrações de coragem A
I
P
A
R
também do terapeuta que, por vezes, t erá de usar a dis criminação e autoexp osição E
T
dos próprios sentimentos como guia dessa jornada. Para isso, sua capacidade
de discrim inar seus sentim entos e de sentir empaticam ente as exper iências do 105
O
A cliente são instrumentos terapêuticos essenciais. O constante monitoramento dos
O
J
estados privados do cliente, via perguntas e relação empática, deve guiar o ritmo
O
S
A
C dos avanços terapêuticos. É essencial (mas também quase impossível) procurar
manter um equilíbrio sutil entre o respeito aos limites do cliente e a perseverança
em manter o tema em foco, sem se deixar distrair por questões ou temas menos
relevantes que inevitavelmente surgirão (p. 85). (Ver semelhanças dessa análise
com a apresentada no capítulo da Psicoterapia Analítico- Funcional).
Os objetivos terapêuticos devem centrar-se menos nos ditos “padrões
disfuncionais” (como promiscuidade, abuso de substâncias, tendências
autolesivas e outros padrões típicos de sobreviventes) e voltar-se à identificação
das relações funcionais que mantêm a alta frequência de tais padrões (alívio de
estados privados, expectativas de maltrato ou abandono, esquiva de sensação
de vazio ou disforia, etc.). Considerando que tais padrões comportamentais são
funcionalmente eficientes, eles não são facilmente abandonados pelos clientes.
No caso de João, vist o que respostas prom íscuas eram co ntroladas po r intensos
reforçamentos negativos (alívio e esquiva de estímulos aversivos pareados), elas
se mostraram pouco sensíveis a “broncas", culpa posterior, risco de contágio, etc.
Após a descoberta dos abusos sofridos por João, foram adotadas duas
“frentes” ou estratégias interventivas: a primeira delas foi uma recorrente
rememoração dos eventos traumáticos de sua infância. Para isso, foi combinado
com João que, em torno dos 30 minutos das sessões, ele iria descrever, por
cinco minutos (cronometrados), algum episódio de abuso sexual de sua infância.
Nesses momentos, a terapeuta mantinha-se impassível, sem expressar nenhuma
emoção, e solicitava relatos pormenorizados de aspectos sensório-motores: qual
L
IA
N
t a temperatura do ambiente? E sua iluminação? Qual a sua vestimenta? Vestimenta
M do abusador? Posicionamento dos móveis e objetos no ambiente? O objetivo
A
I
R
Ü dessas perguntas era (1) obter a maior quantidade possível de detalhes, haja vista
P
M
Ü
C -
que 0 cliente apresentava grande dificuldade de lembrar-se do evento (padrões
O
IC
ÍI
dissociativos), (2) induzí-io a “revisitar” os eventos de seu passado utilizando seu
L
A
N repertório comportamental atual adulto, estimulando-o a formular opiniões sobre
A
A
I
P esses episódios com base em seu repertório adulto atual e (3) investigar eventuais
A
R
1
E emoções evocadas pelos eventos em um ambiente seguro e controlado (tempo
restrito a cinco minutos, contando com o suporte da terapeuta nos vinte minutos
106 resta ntes da sess ão).
ocorreram em épocas em que ele contava com repertório social muito mais
precário que o atual. Pretendia-se fazê-lo "revisitar” os eventos infantis utilizando
seu repertório atual, adulto. Terminados os cinco minutos, a terapeuta solicitava
dele a discriminação de seus estados privados e, quando julgava adequados,
oferecia autoexposição de suas reações emocionais aos fatos relatados.
Inicialmente, joão expressava descrença e desmotivação em realizar esses
exercícios, mas aceitou fazê-los em confiança aos argumentos da terapeuta. Ao
final, demonstrava impaciência e reiterava a opinião de que tais episódios não
haviam sido traumáticos e que, portanto, não poderiam explicar seus padrões
comportamentais. A insistência no exercício finalmente proveu frutos em uma
sessão. João relat ou um e pisó dio em que, em meio a uma "brincad eira”, um jovem
o penetrou sexualmente. João descreveu tal episódio como sua responsabilidade
(ele havia “bobeado” e induzido à situação). Questionado pela terapeuta, João
contou que passou a evitar o convívio com o jovem e aproximar-se do local em
que ocorreu. A terapeuta, então, questionou a razão dessa evitação, haja vista a
explicação de que ele supostamente havia "seduzido” o jovem, ao que João não
soube responder. Em seguida, a terapeuta comparou as respostas corporais que
ele emiti a quan do contava um caso de se dução atual (muito animado e expressivo )
às emitidas neste relato (calmas, precisas, quase imóveis) e sugeriu que o evento
passado teria sido prazeroso. João surpreendeu-se, ao perceber que ele, de fato,
não havia sentido nenhum interesse prévio no jovem ou prazer com a relação
sexual. Em seguida, perguntou-se (a si e à terapeuta): por que é que ele não havia L
tentado fugir ou pedido ajuda? E por que ele não sentia raiva? Ao ser questionado IA
N
E
M
sobre sua opinião atual a respeito do jovem (abusador), ele expressou nojo A
T
R
O
e desprezo, mas precisou que a terapeuta sugerisse a ele a probabilidade de P
M
O
que essas opiniões negativas fossem devidas aos eventos do passado, o que C -
O
novamente lhe causou surpresa. C
I
ÍT
L
Nesse momento (crítico da terapia), o repertório adulto de João começou a A
N
A
permear a avaliação de seu passado, fazendo-o pensar que o que lhe ocorreu não lA
P
A
R
era “aceitável” ou "comum” e admitir que poderia haver uma relação entre seu IL
nessa época, João descobriu ter contraído uma doença sexualmente transmissível
(não era HIV), 0 que reduziu temporariamente sua motivação pela busca sexual.
Pelos motivos acima, não é possível atribuir a clara redução das respostas
prom íscuas exclusi vamente ao exercíci o de saciação for çada. Entre tanto , julgamos
que esse procedimento foi parcialmente responsável por tal supressão, por
demonstrar ao cliente sua capacidade de autocontrolar-se e criar um “momento
de renovação de esperança” neste processo terapêutico tão complexo e profundo.
Infelizmente, não foi possível acompanhar 0 desenrolar dos eventos. João
recebeu uma proposta profissional de grande vulto financeiro que o fez mudar-se
para outro país e interromper a terapia. Cabe, entretanto, listar algumas “vitórias”
nesse caso. Entendendo que precisava manter uma rede de apoio para modificar O
A
O
J
seu comportamento promíscuo, joão inscreveu-se voluntariamente em um
O
S
A
programa para tratamento medicamentoso e de apoio grupai para dependentes C
de sexo no novo país. Além disso, ao encerrar a terapia, João não mais emitia
autodescrições depreciativas e demonstrava maior autoconhecimento sobre os
controles atuais e históricos de seus comportamentos. Explicitou isso na fala -
descobr; que não sou apenas sexo! Sou uma pessoa muito mais profunda e completa
do que isso - admitindo ter diante de si um longo caminho a percorrer, mas ter a
seu favor o conhecimento de ser uma pessoa merecedora de afeto, de si mesmo
e de outros.
Caso JOSÉ 1
Identificação do cliente
josé (nome fictício) tinha 4 anos qua nd o iniciou atendim ento, perm an ec en do
dois anos em terapia. Morava com a mãe, Ana Maria (nome fictício), numa casa de
dois cômodos, em umafaveia. AnaMaríatrabalhavao dia inteiro. Na época em que
iniciou 0 atendimento, José tinha pouco contato com o pai, sendo esse um assunto
proibido pela mãe. O pai havia casado pela segunda vez.
Queixas apresentadas
José foi enca minhado pela escola onde estudava para atendi mento psicol ógico,
1 Dados pessoais e detalhes d e alguns episód ios foram modificados para impedir a identificaç ão dos
envolvidos
2 Será adotada esta denominação aos comp ortament os de José, que serão descritos a se guir, afim de
facilitar a menção a eles no decorrer deste capítulo.
E
S
O
planejado para ser utilizado em outros gastos. Além disso, cedia às vontades do
J
O
filho e o repreendia por qualquer menção que a criança fizesse ao pai, além de
S
A
C
emitir falas desfavoráveis e insultos referentes a ele (o pai).
Quando José ingressou na escola, encontrou dificuldades de se adaptar a esse
ambiente. Não obedecia às solicitações da professora e não tolerava que fosse
O trajeto entre a escola e a ONG era feito de perua escolar. Quando saía da ONG,
no final da tarde, José ia para a casa de uma amiga de sua mãe, onde ficava até a
noite. Quando chegavam a casa, a mãe ia arrumar a casa e José ficava assistindo
à TV. Quando ela finalmente ia fazer companhia ao filho, este já estava dormindo.
Nos fins de semana, Ana Maria dormia muito tempo e pouco interagia com o filho.
O pai morava perto da casa deles, mas não o visitava. A criança ia algumas vezes à
casa do pai, cujas visitas eram pouco frequentes.
É
Comportamentos oposito res S
O
J
• Infri ngir regra s das bri ncadeiras, principalmente quan do estava perdend o O
S
A
C
em jogos competitivos.
• Queixar, reprova r, gritar, acu sar e discutir com o terap euta ante uma
demanda, falas que deveriam ter função empática ou quando ele lhe
desagradava em algo.
• Ignor ar solicitaçõ es.
• Recusar-se a falar d e temas que lhe produziam sentimentos negativos , por
exemplo, a escola.
L
S
O
limites claros com que Ana Maria criava o filho, com inconsistências no modo de
J
Ü
a mãe consequenciar o comportamento do filho, sobrevinha do fato de que ela
^
A
C se comportava sob forte controle de audiência externa. Assim, preocupava-se
com o julgamento das pessoas a sua volta e com possíveis repreensões que ela
pudesse receber por causa do comportamento do filho. Esse forte controle por
filho. Ana Maria não percebia a tristeza do menino pela ausência do pai, não o
confortando nesses momentos. Desse modo, José não desenvolveu repertório de
expressão emocional adequado, uma vez que a mãe não reforçava a expressão
emocional do filho. Por outro lado, por vezes punia essa classe de comportamento.
Na escola, ingressando em um ambiente mais estruturado, com regras
mais estabelecidas/rígidas, José não possuía repertório bem desenvolvido
de seguimento de regras, resolução de conflitos, expressão emocional e
colaboração, o que tornou difícil sua adaptação e culminou no surgimento
das “cris es”. Segu ndo o relato da mãe e dos ed uca do res da escola, as “cris es”
L
tinham como antecedentes recusas, repreensões e outras circunstâncias em
A
T
N
E que o antecedente não fora identificado. Durante os primeiros seis meses de
M
T
A atendimento, as consequências reforçadoras que mantinham as emissões das
R
O “crises de nervosismo” eram pouco claras.
P
M
O
-C
Nessa época, houve um p eríodo em que José s e com portara bem, de acordo com
O
CI os parâmetros da escola, cessando as reclamações acerca de seu comportamento.
TÍ
L
A No entanto, José, após aproximadamente um mês, voltou a apresentar respostas
N
A
IA de infração às regras e “crises de nervosismo” na escola. Diante disso, é possível
P
A
R
E
T supor que as consequências fornecidas pela escola a esses comportamentos
foram eficazes como punição. Entretanto, como respostas alternativas aos
114 com porta m ento s-prob lem a não foram ensinadas, uma vez retir ada a punição ,
É
ele voltou a apresentar tais comportamentos. É importante enfatizar que, a essa S
O
J
altura, o menino já estava rotulado pela escola como “aluno-problema” e nenhum O
S
A
comportamento considerado adequado que ele emitia era reconhecido pelos C
educadores. Além disso, em casa, a mãe passava pouco tempo com o menino;
logo, em nenhum dos dois contextos, ele tinha oportunidades de desenvolver
outros comportamentos que resultassem em interações mais positivas.
Após seis meses de atendimento, uma consequência em longo prazo pôde ser
identificada: a desistência em mudar o comportamento de José. Após o primeiro
semestre de atendimento, a escola ameaçou à mãe com a expulsão do menino
da escola. Ana Maria, no entanto, foi procurar orientação no Conselho Tutelar,
resguardando os direitos do filho.
Em uma das duas visitas realizadas à escola, em que foi realizada observação
direta do comportamento de José em sala de aula e no refeitório, foi possível
constatar outro tipo de desistência da professora e coordenadora em relação a
ele: deixavam que ele fizesse o que quisesse, desde que ele não ficasse nervoso e
tive sse “crises" Na Tabela 1, é possível ob ser var alguns exe mp los de ssa chamada
desistência, que acabava por fortalecer comportamentos-problema de José.
L
A
T
N
E
M
A
T
R
O
P
M
O
C
-
O
C
I
T
Í
L
A
N
A
A
I
P
A
R
E
T
E
S
(Ü
O
S Tríplice contingência da resposta de opor-se de José e suas prováveis
A
C
consequências mantenedoras, exemplificando a desistência dos educadores
em alterar esse comportamento
L
S
O
J
Tríplice contingência da resposta de alia-se à professora e suas prováveis O
S
A
consequências mantenedoras C
A retirada de demandas para José fez com que não ocorressem oportunidades
para que a criança expressasse respostas de irritação e não emitisse as “crises de
nervosismo”. Em seu lugar ocorriam respostas de oposição e aliança à professora,
o que também fortaleceu um modo de interagir mais autoritário com os colegas
(Tabelas 1 e 2). A retirada de deman das não m udou a contingên cia em vigo r nem
possibilitou que respostas consideradas mais adequadas fossem modeladas, 0
que propiciaria um melhor convívio entre José, a professora e os colegas de classe.
Em contrapartida, isso não ocorreu na ONG. Nas situações em que josé tinha
L
as “crises” ou tinha uma reação mais forte, as educadoras colocavam esse tipo de A
T
M
I
comportamento em extinção, sem, por isso, considerá-lo um menino-problema F
M
A
T
nem deixar de perceber e valorizar quando o menino emitia comportamentos R
O
P
M
de engajamento nas atividades e colaboração. Nesse sentido, por um manejo O.
C
-
apropriado das educadoras, José foi capaz de desenvolver maneiras mais O
CI
ÍT
adaptadas de interagir com adultos e crianças, porém algumas crianças que não L
A
N
gostavam dele na escola brincavam normalmente com ele na ONG. Todavia, A
A
I
P
essas informações mais detalhadas a respeito do que acontecia na ONG só foram A
R
L
l
obtidas no segundo ano de atendimento de josé, quando foi possível ter acesso
ao local.
É
S
O
J
Supervisão
O
S
No início do segundo ano de atendimento de José, quando o terapeuta contou
A
C
em supervisão, a primeira sessão daquele ano não apresentou nenhum conteúdo
relevante. A supervisora descreveu o comportamento do terapeuta e perguntou
o que estava acontecendo. Diante da questão, o terapeuta disse que estava
indo para as sessões, desde o ano anterior, muito apreensivo, e que percebia
que evitava fazer intervenções com medo das reações do cliente. Discutiram-
se, portanto, as interações e os impactos que cada membro da díade terapeuta-
cliente tinha um no outro.
Na Tabela 3 são apresentados os comportamentos-problema de José que
produziam esses sentimentos negativos no terapeuta e as consequências
fornecidas a esses comportamentos.
Tabe l a 3
C C R 1: Op or-se
O
Terapeuta permanece em silêncio,
IC
L
ÍT e não apresenta demanda para
A
N
A
seguimento de regra.
A
I
P
A No jogo da memória Ignora 0 que Terapeuta permanece em silêncio
R
F
T vira as cartas, mas não terapeuta diz. (Sr).
desvira. Terapeuta
solicita que desvire.
É
S
O
J
O
C C R 1: I nter agi r d e modo auto r i tár io S
A
C
s
F
S
O
cabeça), José apresentou a "crise”.Após algumas tentativas de conversar com José,
J
O
o terapeuta permaneceu em silêncio. Em certo momento, a criança, assustada
S
A
C
com a persiana que caiu, olhou para o terapeuta, que fez uma nova tentativa
de conversar com ele, a qual foi bem-sucedida. No diálogo estabelecido, uma
fala chamou a atenção: Eu não consigo fazer nada e você consegue fazer tudo. O
terapeuta perguntou se ele estava bravo por causa do quebra-cabeça que ele não
tinha conseguido fazer, e ele confirmou.
Com o decorrer dos atendimentos, ocorreram também emissões de reações
mais fortes, semelhantes topograficamente às crises, mas com intensidade menor.
Isso fez com que o terapeuta passasse a evitar intervenções que provocassem em
José mais comportamentos opositores, atuando como foi observado na Tabela 3:
o terapeuta por vezes permanecia em silêncio ante um comportamento-problema
de José, eliminava demandas, conversava com ele explicando seu comportamento
e acatava pedidos feitos de modo autoritário e agressivo, como maneira de se
esquivar/fugir de confrontar ou contrariar o cliente.
L
A
T
N I nteração 1
E
M
A
T
Em uma rodada, ele pegou um monte de peças, sendo que deveria
R
O pegar apenas três.
P
M
O
-C
Terapeuta: Mas você pegou um monte. Não vai ficar mais difícil assim!1
O
CI Cliente: Deixa.
IT
L
A T.: Tá difícil aqui! (Depois de um tempo procurando.)
N
A
AI
P C.: Deixa.'Eu consigo achar tudo isso aqui.
A
R
T
E T.: Você sabe é?1.
C.: £.
I nteração 2
I nteração 3
T: Um peão tem que se sair melhor que 0 outro? É isso?
C.: É.
T.: Por quê?
C.: Para ver quem ganha . E se quebr ar pe rde. Q uem que brar po r ú/timo
ganha.
T.: E por que é importante ganhar?
C.: Ah! Porque é.
T.: Você acha que só quem ganha é bom?
Não respondeu. Continuou jogando .
F
S
O
fossem reforçados positivamente. Essas interações mais positivas deveriam
J
O
con corre r com respos tas de agressão de José e fuga-esq uiva do terapeuta. Durante
S
A
C essas inter ações, o terapeuta o auxil iaria em seu desen volvimen to socioemocional,
na medida em que modelasse respostas de expressão de sentimentos, empatia,
resolução de conflitos, fazer pedidos, entre outras. As habilidades empáticas
auxiliariam, ainda, no autocontrole de sentimentos negativos e na disposição
para ouvir e compartilhar experiências (Pavarino, Del Prette & Del Prette, 2005),
ajudando, ao mesmo tempo, José a entrar em contato com sentimentos.
Intervenções
Orientação à mãe
Durante o primeiro ano de atendimento de José, foram realizadas sessões
semanais de orientação com a mãe, Ana Maria. O terapeuta que realizava
essas sessões de orientação era diferente daquele que atendia a criança, o que
possibilitava que essas sessões fossem realizadas sistematicamente e ao mesmo
tempo que a criança estava em atendimento. Ambos os terapeutas, 0 que atendia
José e o que fazia a orientação com a mãe, participavam do mesmo grupo de
supervisão. Por ser uma orientação de pais, 0 fato de os dois terapeutas fazerem
parte do mesmo grupo de supervisão trazia benefícios, uma vez que as ações
de ambos os terapeutas poderiam ser coordenadas, além de as informações
coletadas com a mãe e com o menino ajudarem a complementar a análise (ver
no capítulo QuesíÕes re/ativas ao comprometimento na relação terapêutica para ver
L situações em que uma supervisão em conjunto pode não ser aconselhável).
A
T
N
E As intervenções realizadas na orientação com a mãe tiveram como
M
T
A objetivos básicos:
R
O • Ident ificar comportam entos-problema de José, procurando estabel ecer
P
M
O conexões funcionais.
C
-
O
CI
ÍI
• Fornecer orienta ções à m ãe, visando à aquisi ção de novos com portamentos
L
A por parte do filho, incompatíveis aos apresentados, como expressar
N
A
A
I
P verbalmente suas frustrações e desejos.
A
R
T
F • Identif icar e evoca r comportam entos de Ana Mari a que interf eria m
em sua relação com José e, consequentemente, no comportamento
deste. Tais comportamentos decorriam da dificuldade de Ana Maria na
Orientação à escola
No segundo ano de atendimento de José, três visitas à escola foram realizadas
mediante uma carta da escola, que solicitava o comparecimento do terapeuta para
a realização de uma “avaliação diagnostica”, afim de que a escola pudesse trabalhar
melhor com ele. A carta dizia que José apresentava “problemas comportamentais
graves de agressão e desrespeito para com os educadores e colegas da escola" e
que o problema vinha se agravando nas últimas semanas.
Nas visitas realizadas, foram feitas reuniões com a professora e diretoria da
escola, além de observações em diferentes ambientes e momentosdo período de
aula. Na primeira reunião, a professora pediu orientações, pois queria aprender
a lidar com José para não mais ser agredida por ele. Afirmou que a criança
mo nopolizava br inqued os, que ria ser sempre 0 ajudant e e o pri m eiro da f ila, nã o
aceitava o livro escolhido, indo contra a maioria da sala, saía frequentemente
da sala e apresentava comportamentos agressivos, como jogar areia e gritar,
quando contrariado.
Algumas orientações foram dadas, como consequenc/artodas as ações de José,
tanto as apropriadas como as consideradas um problema. Para isso, foi enfatizada
pelo terapeuta a necessi dade de a professora ter be m claros os comportam entos
que queria aumentar ou diminuir de frequência. Isso deveria ajudar também que
I : Você acha que tem algo que te preocupa muito?Existe algo que você acha
que as pessoas não entendem, que você queria que elas entendessem?
C.: Não.
I : E na escola? É tudo legal lâ?
C.: Quase.
T.: Por que quase? Tem alguma coisa chata lá?
C.: Tem.
I. O que tem de chato lá?
(Silêncio)
E
I : Você pode me contar. Eu estou aqui para te ajudar. Quem sabe nós dois 5
0
J
juntos não co nseguimos mudar o que é chato? °
^
c
(Silêncio e resmungo)
I: Você não quer me contar?
C.: Não é nada chato iá, mas tem coisa que é chata.
T: Me conta o que tem de legal e o que tem de chato lá. Me fala o que você
gosta e o que você não gosta.
(Silêncio. José ficou brincando com a massinha, enquanto o terapeuta
desenhava.)
Após um período de tempo, contou que uma coleguinha fez alguma arte e
quase que a classe inteira não pôde ir ao parquinho. Disse que a professora deu
uma última chance naquele dia, mas que depois não ia dar mais nenhuma chance.
Nessa interação, fica claro que José acreditava que as crianças não tinham
direito a opiniões, o que provavelmente era fruto de seu ambiente invalidante L
A
quanto a expressar opiniões ou mesmo sentimentos. O terapeuta procurou emitir T
N
E
M
uma fala que expressasse o que provavelmente José considerava da situação, A
T
R
procurando validar seu julgamento e o sentimento que trazia tudo aquilo. Diante O
P
M
O
das questões do terapeuta sobre a escola, José iniciou a seguinte interação: C
O
IC
T
Í
L
A
C.: Você quer saber como é lá? N
A
I; Você pod e me contar? A
I
P
A
R
C.: Por que um dia você não vai lá saber? E
T
Na sessão seguinte, José contou pela primeira vez os problemas que havia na
escola. Isso ocorreu diante de um impasse, em que Ana Maria queria interromper
a terapia devido à dificuldade em sair do trabalho no meio do dia para trazer o
filho. O terapeuta conversou com a mãe sobre combinar um novo horário, mas
ela já tinha contado ao filho que ele não viria mais às sessões. Na sessão, José se
mostrou bastante insatisfeito e bravo com tal decisão da mãe e atacou verbalmente
o terapeuta, mostrando-se incrédulo quando este contou que havia combinado
um novo horário com sua mãe e que ele continuaria vindo. Disse que o terapeuta
não ia conseguir resolver a situação e que também não sabia guardar segredos. Ele
se referia ao conteúdo do livro que o terapeuta leu para ele, que dizia que tudo que
acontece em sessão era segredo.
O terapeuta, por sua vez, acolheu o garoto e perguntou qual segredo não tinha
sido guardado. O terapeuta interpretou essa fala do cliente como um teste em que
o cliente procurava uma garantia de que de fato guardaria seu segredo, ou para
certificar se ainda permaneceria disponível após esses ataques e, então, confiar
algo dele a ele. Essa interpretação parece estar de acordo com o relato de sua
professora da ONG, que disse que José costumava se esconder quando fazia algo
que desagradasse a educadores e pares. A criança chegou a dizer que se escondia
porque não queria ser repreendida. Para José, os adultos pareciam ter a função de
punidores, ao invés de educadores.
Uma vez que o terapeuta se manteve disponível e acolhedor, José acabou por
revelar que batia nas pessoas quando ficava bravo, e esse assunto foi discutido na
perspectiva de José quanto às consequências que esse comportamento produzia
e como ele se sentia a respeito dessas consequências.
A validação de senti mentos apresentad a como uma das p rinci pais intervenções
realizadas com José pode ser operacionalizada da seguinte maneira: o terapeuta
emiti a compo rtam entos ve rbais que descreviam a trípl ice contingência da situaçã o
relatada ou observada em sessão, ao mesmo tempo que (1) afirmava que as ações
ou sentimentos do cliente eram esperados ou apropriados à situação por ele
vivida ou (2) relatava sua experiência em situações semelhantes (nessa situação eu
também teria me sentido assim). Esse comportamento verbal criou oportunidades
para que José continuasse relatando sentimentos negativos e as situações que os
provocavam. As validações tive ram afu nçã o de reforç ar esses rela tos, aumentando
sua ocorrência durante as sessões.
E
Enquanto o objetivo era criar um ambiente acolhedor por meio da validação de S
O
J
sentimentos, o terapeuta tinha como finalidade também modelar repertórios de o
s
a
auto-observação e resolução de conflitos. Assim, o terapeuta fornecia modelos de c
o
Após um semestre de orientações de pais, a mãe adquiriu repertório de -
c
o
c
comportamentos empáticos em relação ao filho porque passou a observar melhor i
tí
l
a
seu comportamento e perceber a falta que o pai fazia para josé. Constatou, ainda, n
a
a
i
que a falta de percepção que tinha do comportamento do filho em relação ao pai, p
a
r
era porque falar sobre este seria difícil para ela, e não para José. e
t
Reconheceu que, apesar de o filho querer e ela poder, muito do que ela
com prav a não tinha real necessid ade. Ana Maria cons eguiu, assim, restringir a 127
L
S
O
compra de supérfluos alimentares para o filho, como biscoito, balas e chocolate,
J
E
Em observação realizada na escola, verificou-se que, durante as atividades S
O
J
em sata, José permaneceu participativo todo o tempo e, quando tinha dificuldade O
S
A
C
em alguma coisa, recorria aos colegas (mesmo isso não sendo permitido, o que
para ele consistia como melhora era, na verdade, o pedido de auxílio e, ainda por
cima, para os colegas). Ficou um pouco quieto quando errou uma coisa, mas, logo
em seguida, pediu que a colega conferisse e voltou a participar alegremente da
atividade.
Durante as brincadeiras (neste dia eles tinham trazido brinquedos de casa),
José emprestou sua bola aos colegas enquanto brincavam na sa'a de aula, com
os quais jogou no parquinho. No refeitório, sentou-se junto aos colegas e comeu,
con versan do com ele s. Qu ando quis ir ao banheiro, pediu p erm issão ant es, que f oi
concedida prontamente.
Encerramento
É
S Na última sessão, o terapeuta perguntou como ele estava com o encerramento
O
J
O
dos atendimentos, e ele respondeu: E quase bom, em que o "quase" se devia ao
S
A
C fato de ele não vir mais e o “bom” por ele gostar de vir às sessões. O terapeuta
expressou seus sentimentos em relação a ele e os progressos que ele teve.
♦
S upe r vi são
O
Ã
IS
Sistematização do trabalho realizado em supervisão por
V
R
E
P
nosso grupo
U
S
análises dos casos. Tal postura é pnorizada pela supervisora a fim de que todos
tenham a oportunidade de falar e emitir comportamentos a serem modelados.
Uma análise mais incipiente vai ganhando corpo à medida que perguntas são
realizadas, suscitando maiores reflexões e estabelecimento de relações mais
complexas. O interesse demonstrado por todos, por ser genuíno, cumpre a função
de reforçador natural, que possui vantagens em relação a reforçadores arbitrários
{elogios, notas, entre outros), por selecionar a classe de resposta mais ampla de
analisar e participar da análise do caso e levar em conta o repertório já existente do
terapeuta e demais membros do grupo {Kohlenberg & Tsai, 2001).
sexuais, quando lidos, causava surpresa e por vezes incômodos ao leitor. Mesmo
ao relatar as se ssõ es na supe rvisão , a sed uçã o do client e ficava evide nciad a pelos 135
♦
O comentários e sugestões oferecidos pelo grupo de supervisão e também pela
Ã
S
I
V
R
E
autoescuta do terapeuta. Em nosso grupo, durante o relato de um caso, é comum
P
U as pessoas relatarem como se sentem ou como agiriam em situação semelhante,
S
pequ eno de autoclíti cos presentes às fal as do terapeuta pod e indicar a estabili dade
O
à da relação com o grupo. No caso de ser verificado excesso de edição, o grupo de
IS
V
R
E
supervisão deve ficar atento à possibilidade de o terapeuta ser excessivamente
P
U
S controlado por reforçadores sociais e sinalizar tanto a edição quanto a hipótese
do controle social (Meyer et al., 2008). São objetivos do supervisor atentar ao
fato de que respostas verbais possuem múltiplas fontes de controle e entender
que diferentes respostas podem ter a mesma função e que qualquer amostra de
com portam ento verbalé função de mui tas v ariávei s operando concomit antemente .
Ao se comportar assim, ele dá aos supervisionados modelo do que observar em
suas terapias e nos relatos dos colegas.
Ser controlado por estímulos sutis não é uma aprendizagem rápida para todos
os terapeutas, especialmente os iniciantes. A modelagem pode ser lenta, mas é
nossa experiência que o supervisor e colegas devem persistir no processo, já que
um repertório mais complexo controlado por variáveis mais sutis tende a aparecer
Des crever o caso em atendimento, a lém de pro duzir questiona men tos, anális es
e sugestões da audiência, tem uma função importante sobre o próprio falante: 0
L
reforçamento em vigor no andamento da sessão (Banaco, 1993; Braga &
A
T
EN Vandenberghe, 2006; Delliti, 1993). Essa forma de uso dos pensamentos e
M
T
A sentimentos do terapeuta está de acordo com a análise de Skinner (1982) sobre
R
O a utilidade prática dos relatos de eventos privados, quando ele afirma que
P
M
O
-C tal utilidade decorre da possibilidade de se obterem informações acerca dos
O
IC comportamentos {atuais ou passados) e das condições que os afetam (que
ÍT
L
A
N inclui também as condições relacionadas ao comportamento futuro), uma vez
A
IA
P
que respostas encobertas (os sentimentos) e respostas abertas (as ações) são
A
R
E
T produtos das mesmas contingências.
Contudo, aquilo que ocorre no nível encoberto do terapeuta numa sessão,
138 muita s vezes , é difícil de ser disc rim ina do e, porta nto , de scr ito (Banaco, 1993).
L
situação clínica.
A
l
LN Diante de tal panorama, ao conduzir análises de casos, não faz sentido
M
A
Í esperar que emerja uma análise completa. Ela poderia levar um tempo
R
O
P
M
desnecessariamente longo, ou poderia não chegar a levar em consideração as
O
C
- variáveis mais importantes envolvidas. E mais útil, portanto, consultar fontes
O
C
I
iT diversas de informação do que “reinventar a roda”, mesmo que essas fontes
L
A
M
I estejam fora de nossa abordagem teórica.
A
A
I
P Outras abordagens têm produzido conhecimento sobre fenômenos que são
A
tR pouco estudados em nossa abordagem, como pode ser observado nos casos
T
literat ura a respeito desse tran storno d entro da Análi se do Com portam ento, send o O
Ã
IS
V
necessário recorrer á literatura de outras áreas e ao DSM-IV (APA, 2004) para R
L
P
conhecer o diagnóstico, prognóstico, tratamento e padrões de comportamento U
S
relacionados ao transtorno.
Esse conhecimento foi importante, pois ajudou a organizar os dados que
vinham sendo coletados na terapia, além de levar a uma compreensão de que as
frequentes melhoras e recaídas da cliente eram esperadas diante dos padrões
de comportamento característicos do Transtorno de Personalidade Borderline,
reduzindo, assi m, a frustração do terapeuta.
Outras fontes de informação fora da área da Psicologia também podem
ser bastante úteis para compor a análise dos casos em supervisão. Isso pode
ser observado no caso de José. Devido aos problemas de comportamentos
apresentados pelo cliente na escola, a diretoria ameaçou expulsar 0 menino.
Tanto o terapeuta quanto 0 grupo de supervisão realizaram pesquisas sobre a
legislação na área da educação a fim de melhor orientar a mãe. Esse exemplo
mostra também a importância de conhecer a legislação para defender os direitos
do cliente. No caso de João, a literatura provinda de outras abordagens teóricas
também foi fundamental.
L
T
A
N
E
M
A
T
R
O
P
M
O
C -
O
CI
ÍT
L
A
N
A
IA
P
A
R
Er
O termo análise fun cion ai do compo rtamento pode ser considerado como parte
integrante da Análise do Comportamento, enquanto sistema explicativo para
fenômenos psicológicos. É também a metodologia utilizada para estudo desses
fenômenos. A proposição da contingência de três termos por B. F. Skinner (1904-
1990) já estabelece as variáveis independentes que 0 analista do comportamento
manipulará ou identificará (antecedentes e consequentes) para observar suas
relações com a sua variável dependente: a resposta ou ação do organismo.
O objetivo deste texto é apresentar algumas formas pelas quais a proposta
de análise funcional direcionou a atividade de atendimento clínico e a supervisão
em terapia analítico-comportamental do nosso grupo. O texto não se propõe a
fazer uma revisão do conceito de anãhse funcional no contexto clínico. Ao final do
capítulo, há uma bibliografia sugerida para essa finalidade.
Os pontos que o texto pretende abordar, com auxílio de exemplos discutidos em
nosso grupo, são os seguintes: (a) a análise do comportamento faz parte de nossos
repertórios verbais abertos e encobertos, não consistindo em procedimento
aplicado apenas em alguns momentos; (b) há a preferência por análises molares; (c)
0 momento de sistematizarmos análises funcionais é 0 momento em que fazemos
ponte com os princípios de aprendizagem; (d) maior ênfase é prestada à análise do
que à sugestão de procedimentos e de técnicas; (e) sentimentos e pensamentos
do terapeuta fazem parte dos dados para conceituar 0 caso por ele atendido; e (f)
importância da elaboração de tabelas com contingências de três termos.
O
I No início da terapia, coletamos dados para a conceituação do caso, obtendo
N
E
M informações sobre frequência, intensidade e duração das respostas que vão sendo
A
T
R selecionadas paratratamento. Procuram os saber as ocasiõe s em que tai s respostas
O
P
M
O
C
ocorrem e não ocorrem, além de identificar o reforço que as esteja mantendo.
O
D O raciocínio funcional nos acompanha no decurso de todo o processo
L
A
N terapêutico, não apenas na fase inicial. Nesse sentido, é importante enfatizar que
IO
C
N
a avaliação é contínua, de maneira que não separamos uma fase de avaliação de
U
F
uma de intervenção. As duas ocorrem simultaneamente durante todo o processo
E
IS
L terapêutico. Além disso, é comum que novos problemas, não identificados a
A
N
A
princípio, surjam ao longo do processo. Por exemplo, um cliente que nos procura
com uma queixa de pânico. Após algumas análises e intervenções, tais ataques
anteriormente recorrentes diminuem de frequência. Com essa melhora, outros
temas passam a ser abordados e novas análises se fazem necessárias. Também
é possível que alguns comportamentos avaliados inicialmente como melhoras
sejam depois avaliados como um problema. Comportamentos aparentemente
m m
estar selecionando o que conta em terapia. Pode ser que os relatos não sejam
descrições fiéis de fatos (tatos) ou que o cliente não esteja nos contando tudo
(edição). Novas hipóteses funcionais podem então ser formuladas quanto à classe
funcional mais ampla à qual esses relatos ou fatos relatados pertencem.
Perguntamo-nos também quais reforçadores molares controlam os diversos
comportamentos relatados pelo cliente. Um importante exemplo de reforçador
molar é a aprovação social generalizada que pode controlar comportamentos
que produzam relações sociais agradáveis e amenas, mesmo se essa aceitação
social trouxer perdas de outras consequências reforçadoras mais diretas.
Outra grande classe de reforçador molar é a retirada de estímulos associados
a ameaças e perigos que controlam ciasses molares de respostas de esquiva e
agressão defensiva (Farmer, 2005). De acordo com Miltenberger (2005), existem
quatro classes de reforçamento que podem manter comportamentos-problema:
(1) reforço positivo social que envolve atenção, reforços tangíveis ou 0 acesso
a atividades preferidas; (2) reforço negativo social que ocorre quando outro
L
A
indivíduo termina uma situação ou estímulo aversívo, contingente a uma resposta, T
N
E
M
e essa é fortalecida. Reforços negativos incluem a retirada de tarefas aversivas T
A
R
e obtenção de interação social, como no caso de demonstração de raiva levar 0 O
P
M
O
parceiro a parar de discutir; ou incluem ainda mudança no ambiente físico, em -C
O
que reclamações fazem com que um adolescente diminua o volume do som; (3) CI
TÍ
L
reforço positivo automático, que ocorre quando um comportamento produz A
N
A
alguma forma de estimulação por meio do contato direto com o ambiente físico, IA
P
A
R
e assim tal comportamento é reforçado. É 0 caso de uma pessoa treinar sozinha E
T
a fazer cestas no basquete. Quanto mais ela tenta, mais ela aprimora o próprio
com po rtam ento de acertar a bola na cesta; (4) reforço n egativo autom ático que 147
m .:
O
T ocorre quando um comportamento termina um estímulo aversivo diretamente e
N
E
M
A
o comportamento é reforçado. Reforço negativo automático inclut o término de
T
R
O estimulação interna, como dor, desconforto, excitação autonômica ou emoção
P
M
O negativa; ou remoção de estimulação externa: fechar uma janela para cessar um
C
O
D
vento frio (Miltenberger, 2005).
L
A A unidade de análise e tratamento pode ser bastante específica (molecular) ou
N
O
I
C bastante ampla (molar ). A vantagem de trabalhar com unidad es mais mo leculares é,
N
U
P geralmente, a rapidez e eficiência de tratamentos breves. A vantagem de trabalhar
L
IS com unidades mais molares é que o tratamento tende aabranger mais áreasdavida
L
A
N
A da pessoa, instrumentando-a a lidar com novas situações que ocorram, mesmo
após o término da terapia (Meyer, 2008). Uma associação de procedimentos
aplicados diretamente ao comportamento-problema e intervenções voltadas para
0 autoconhecímento têm, por vezes, sido a nossa escolha.
Ao ouvirmos o relato de um problema, nem sempre sabemos a que classe
de comportamentos ele pertence. O evento relatado pode ser um progresso, ou
não, e o modo como 0 categorizamos influenciará a condução da terapia. Uma
das sessões da cliente Regina, um dos casos apresentados neste livro, exemplifica
a dificuldade de tomada de decisão do terapeuta e do grupo de supervisão e,
ao mesmo tempo, a importância dessa decisão. Quando Regina contou ao seu
terapeuta que tinha sido demitida do emprego do qual nunca tinha gostado,
não foi fácil identificar se esse era um exemplo de suas dificuldades (e qual
de suas dificuldades) ou se era exemplo de alguma melhora, já que agora ela
poderia, finalmente, procurar um trabalho melhor. Na discussão em supervisão,
acabou sendo identificada uma dificuldade, a da falta de habilidade de Regina de
I
solucionar problemas. O problema a ser solucionado por ela, nesse episódio, era
A
NT o de encontrar um novo trabalho ou atividade, e isso era o que ela, de forma bem
L
M
A
I incipiente, vinha planejando nas semanas anteriores. Mas, ao invés de seguir seu
R
O
P planejamento, Regina criou situações no trabalho que culminaram com o pedido
M
O
-C do chefe de que ela se afastasse. Nenhuma solução foi possivelmente atingida,
O
CI
ÍT
mas provavelmente a cliente produziu uma nova história de fracasso.
L
A
N Identificar a dificuldade não constitui um a análise funcio nal completa, assim, era
A
A
I
P necessário também saber que variáveis eram responsáveis pelo comportamento
A
R
E
T ser fraco. Poderiam existir reforçadores que eram mais fortes do que o levar
adiante as metas que a cliente havia proposto? Levantamos a hipótese de que
148 o seguimento dos planos que solucionariam problem as fosse um repertório
♦
fraco, em razão da incompatibilidade com a presença de outra contingência forte: O
T
N
E
a cliente recebia ajuda de outras pessoas, especialmente de familiares, quando M
A
T
tinha problemas. Se outros a ajudavam, ela não precisava solucionar problemas, R
O
P
M
bastava apenas evocar a ajuda. A ajuda de outros, mesmo sem trazer soluções, O
C
era reforçadora, já que o maior reforçador negativo já identificado de Regina, O
D
o de ser abandonada, era evitado. Mas a esquiva do abandono era apenas I
A
N
temporária, pois a ajuda recebida não resolvia seus problemas. Ao não receber O
O
N
o que esperava, o grupo de supervisão previu que Regina se sentiria novamente rU
L
abandonada (e a cliente concordou com essa análise apresentada pelo terapeuta IS
L
A
N
numa outra sessão). A
L
propriedades de estímulos reforçadores podem dar respaldo a decisões na
A
T
N
E conceituaçãode casos clínicos. No casodo João, quetrouxe como queixa compulsão
M
A
T
sexual, nossa tarefa era encontrar os reforços mantendo o comportamento
R
O sexual considerado por ele próprio como excessivo e sem controle. O fato de
P
M
O
C
- relações sexuais serem reforçadoras não era resposta suficiente, porque elas
O
C
I
T
Í
são reforçadoras para grande parte da humanidade, que não é considerada
L
A
N compulsiva. Então, seria preciso investigar outros reforçadores. Se o reforçador
A
IA
P
de um comportamento analisado é um reforçador primário, como no caso do
A
R
E
T sexo, podemos prever que questões hormonais (idade), de privação e saciação,
afetam a efetividade da atividade sexual como reforçadora. João estava
150 privad o de out ros reforçad ore s, e o sexo seria 0 mais dispo nível? Ou a funç ão
O
T
N
Pesquisa da função do comportamento tem prioridade
E
M
A sobre propostas de intervenção
T
R
O
P
Em geral, ao identificarmos, em sessões iniciais, qual o comportamento
M
O está trazendo problemas para o cliente, queremos saber primeiro por que o
C
O
D
comportamento está aí, e não o que fazer para mudá-lo (isso não se aplica
L
A a todos os casos, há exceções, como no caso de crises). Não sabemos qual
N
O
I
C importância t em o refo rçado r na vi da da pesso a ou qual é o valor de so brevivência
N
U
F do comportamento. O terapeuta deve lembrar que não foi eíe quem instalou o
E
S
i
L comportamento e que seria onipotência achar que ele sabe quais eventos devem
A
N
A e não devem ser reforçadores para seu cliente. Consideramos mais adequado nos
perguntar quais as razões que contribuem para que o evento seja um reforçador,
de forma similar ao pesquisador básico que á governado pela regra “os sujeitos
experimentais têm sempre razão”. Em casos de medo, perguntamo-nos por que o
medo esta aí; e, se o medo for eliminado, o que sobrará? O raciocínio é semelhante
ao da escritora Clarice Lispector, ao afirmar que “até cortar os nossos defeitos pode
ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício” (2002,
p.165). Ou seja, damos ênfase à análise, e não aos procedimentos. Ao analisarmos
nossas supervisões e ao compará-las a outras supervisões de quejá participamos,
damo-nos conta de que pouco tempo da supervisão acaba sendo despendido
no planejamento de procedimentos. Dedicamos bastante tempo às análises por
sabermos que não encontraremos dificuldades em construir procedimentos de
intervenção se elas forem satisfatórias.
No exemplo a seguir, uma ênfase maior na solução do problema poderia ter
conduzido a um treino assertivo e este não teria sido o melhor encaminhamento.
L
Uma cliente chegou queixando-se de problemas de relacionamento com 0 marido.
A
T
N
F Um dos primeiros passos da análise funcional foi descrever os comportamentos-
M
A
T problema dela, seus antecedentes e consequentes. Apareceram várias respostas
R
O
P que poderiam ser agrupadas como falta de assertivídade. Ao analisar as
M
O
-C respostas e as consequências, verificou-se que diversas respostas passivas
O
C
I
T
Í
pareciam ter a consequência de agradar ao marido. Apesar de ser bastante fácil
I
A ensinar comportamentos assertivos, investigou-se, em primeiro lugar, por que
N
A
A comportamentos de agradar estavam fortes no repertório, ou seja, por que ela
P
A
fR precisava agradar tanto ao mando. Tendo-se chegado em terapia à conclusão de
T
que o marido não gostava tanto dela, outros objetivos foram estabelecidos e 0
152 treino asse rtivo deixou de ser uma prioridade.
0
Questão similar ocorreu no caso de uma criança que chorava muito na escola 1
N
e pedia para telefonar para a mãe. Não seria difícil planejar procedimentos para L
M
A
T
diminuir esse comportamento (e, de fato, isso foi feito em momentos apropriados). R
O
P
A análise funcional indicou que intermitentemente a mãe e professores davam M
O
C
atenção à criança após tais pedidos, mas essa consequência não erasuficiente para O
D
explicar por que a presença da mãe na escola era um evento tão reforçador Havia L
A
N
alguma forma de privação deste? Ao dirigir a análise para obtenção dessa resposta, IO
C
N
apareceram dados de que a mãe havia se separado do marido recentemente e rU
terapeutas e supervisores: é mais fácil mudar respostas do que mudar aquilo que
é reforçador para a pessoa. Dito de outra forma, é mais fácil mudar topografias de
respostas pertencentes a uma contingência do que a própria contingência. Assim,
pessoas altamente controladas por contato social dificilmente vão desenvolver
extenso repertóriodeatividadessolitárias.Em casosdessanatureza,pode-se prever
ocorrência de procrastinação na realização de trabalhos cujo reconhecimento é
atras ado. Provavelmente será mais fácil orienta r a pessoa a p rocurar inclui r outros
em suas atividades, aumentando assim o valor reforçador de tal atividade. Por
exemplo, um professor que precisa corrigir muitas provas pode chamar um aluno
para ser seu monitor e ambos realizarem a tarefa em conjunto. Para uma senhora
cujos filhos se casaram e saíram de casa, e que foi encaminhada para terapia com l
IA
N
diagnóstico de depressão (a chamada “síndroime do ninho vazio", um período de M
L
A
Í
depressão e de perda de propósito, que aflige os pais, e especialmente as mães, R
O
P
quando os filhos saem de casa), é comum que não haja adesão à proposta de ela M
O
C
se engajar em novas atividades, tais como fazer exercícios, ir ao cinema ou sair com O
-
C
.
amigas. O reforço mais potente é o advindo de prover cuidados a outros. Ao invés ÍT
L
A
de começarmos o trabalho terapêutico procurando aumentar o valor reforçador N
A
A
I
de outras atividades, podemos, por exemplo, sugerir trabalhos voluntários em P
A
U
que haja reforço advindo de prover cuidados, não mais disponível na relação com L
I'
dor crônica é a mudança do foco da atenção, já que a dor costuma ser menos
intensa quando se está engajado em outras atividades. Mas, enquanto o terapeuta
não ouve ou não mostra que entende que o cliente está com dor, esse vai continuar
contando de forma cada vez mais insistente, até se sentir compreendido.
Fazemos uso do principio da extinção com objetivos diferentes do de mudar
a relação de contingência mantenedora do comportamento-problema. Extinção
ocorre quando nos estabelecemos como uma audiência diferente daquela que
está mantendo o comportamento-problema, quando nos estabelecemos como
audiência não punitiva. Extinção ocorre também quando deixamos de responder
da maneira socialmente típica do ambiente extraconsultório do cliente e, com isso,
O
Análise do comportamento do terapeuta como fonte de T
N
E
dados para a formulação da análise funcional M
A
T
R
Os comportamentos encobertos do terapeuta podem dar pistas sobre O
P
M
a problemática do cliente, na medida em que sinalizem as contingências de O
C
reforçamento em vigor no andamento da sessão. Se o terapeuta perceber que O
D
L
se sente aliviado quando seu cliente avisa que vai faltar ou que fica pensando A
N
O
I
nas compras de supermercado enquanto seu cliente monologa, provavelmente C
N
U
constatará que eventos da sessão estão sendo aversivos e que podem existir F
E
semelhanças entre seu sentimento e o de outros significativos da vida do cliente. IS
L
Á
N
Dessa análise podem derivar intervenções próprias da Psicoterapia Analítica A
O
T
N
E
M
A
T
R
O
P
M Antecedentes Respostas
O Consequentes
C
O
D Estímulos elíciadores de Sedução de um Saciação sexual.
L tristeza, ansiedade ou
A
N estranho. Alívio de ansiedade ou tristeza
O
I
frustração. ■T- (S').
C
N
U
h
Situação arriscada. Dedicação Ilusão de controle sobre seu
L
S
ll
a atividades ambiente (S *) (ver texto).
N
Á profissionais. Sucesso profissional (Sr").
A
L
A
T
N
E
M
A
T
R
O
P
M
O
C
-
O
IC
II
L
A
N
A
A
I
P
A
R
E
T
Colega
precisa relata que
de alguém Roberta aproxima-se,
oferece-se para cuidar Recebe
(S"). 0 dinheiro que pediu
para cuidar de do cão e passa o final de O colega afasta-se dela (S' ).
seu animal de semana com o animal,
estimação durante sl-"
uma viagem. Conta para seu colega dos
seus problemas pessoais
e financeiros (não tenho
dinheiro nem pra comer).
nL-
Pede dinheiro emprestado.
Diante de uma Fala agressivamente Terapeuta fica auieto, não
pergunta do confronta (Sr).
terapeuta.
terapeuta.
Terapeuta bate a Manda, gritando, ele Terapeuta explica-se e arruma
perna na mesa e arrumar os bonecos (Sf*).
derruba bonecos
de animais que josé
estava arrumando.
Algumas considerações pode m ser úteis ,ao tentarform ular um atab elacom três
colunas. Para selecionarmos o que colocamos na coluna do meio - a de respostas
um possív e1 procedim ento é elencar respostas m oleculares que fazem part e
da queixa do cliente ou que foram identificadas como produzindo consequências
respostas que foi indicada pela flecha. Dormir nao foi colocado na coluna de
consequências, pois respostas abertas (e também as encobertas) dificilmente são
antecedentes ou consequentes relevantes. Mudanças no ambiente externo são as
variáveis priorizadas.
Nem sempre a função da consequência é clara, por isso, na maioria dos casos,
colocamos a função entre parênteses após a consequência. No Exemplo 2, quanto
à consequ ência “As pess oas percebem a manipulaç ão, demon stram raiva e se
afastam de Roberta”, é importante ressaltar que a consequência mantenedora é 0
reforçamento negativo advindo do afastamento das pessoas. Mas é interessante
indicar que há demonstração de raiva, possivelmente um estímulo aversivo
que pode exercer algum efeito, mesmo não tendo nesse momento a função de
punir a resposta que a produziu. Nesse mesmo exemplo, para a consequência
“Isolamento social” são indicadas duas funções, a de reforçamento negativo pelo
afastamento das pessoas, mas também uma punição positiva em médio e longo
prazo, o que nos informa a presença de conflitos e necessidade de mudança do
comportamento.
Dificilmente conseguimos expor toda a análise funcional em uma única
tabela, frequentemente ela foi separada com base em duas ou mais classes de
respostas molares, ou como no exemplo 3, com base no local onde a interação
ocorria: a clínica.
•
O Os vários recursos apresentados ilustram possibilidades de representação
T
N
L
M
A
que podem ser adaptadas a cada caso, conforme o foco da análise. Não existe um
I
R
O
P
único modelo: a única exigência é que sejam teoricamente corretos.
M
O Apesar de util, a tabela não costuma ser suficiente para o leitor entender
C
O
D a análise funcional, por isso temos adicionado textos explicativos de suporte.
I
A Em outras palavras, a construção da tríplice contingência é um instrumento
N
IO
C
N
útil ao terapeuta e supervisor, mas talvez não seja tão útil ao leitor. Para este, a
J
H
t
apresentação databela é opcional, sendo fundamental a análise descritiva.
IS
L
A
N
A
O Hanley, G. P., iwata, B A , & Mc Cord , B.E. (2003). F un ction al analy sis o f pro blem
T
N
E
M behavior: a review. Journal o f Applie d Beha vior Analysis, ^ 6 ,147-185.
A
T
R
O
Hayes, S. C., & Follette, W. C. (1993). The challenge faced by behavioral assessment.
P
M
O
European journal of Psychological Assessment, 9,182-188.
C
O
Haynes, 5 . N., & O’Brien, W. H. (1990). Functional analysis in behavior therapy.
D
L
A Clinical Psychology Review, 10, 649-668.
N
O
I Haynes, S. N. (1992). Models of causality in psychopathology: toward dynamic,
C
N
U
F
synthetic, and nonlinear models of be havior disor ders. New York: Prentice Hall.
E
IS
Haynes, S. N. (1998). The changing nature of behavioral assessment. Em A. S.
I
Á
N
A
Bellack & M, Hersen (Eds.), Behavior al assessment: A practical han dboo k (4th ed.,
pp. 1-21). Boston: Allyn & Bacon.
Haynes, S. N., Leisen, M. B., & Blaine, D. D. (1997). Design of individualized behavioral
treatment programs using functional analytic clinical case models. Psychological
Assessment, 9(4), 334-348.
Horner, R. H. (1994). Functional assessment: Contributions and future directions.
jo urn al of Applie d Behavior Analysis, 27, 401-404.
Horner, R. H., & Carr, E. G. (1997). Behavioral support for students with severe
disabilities: Functional assessment and comprehensive intervention, jo urn al of
Special Education, 31(1), 84-109.
Ingberman, Y. K. (1997) Análise funcional de um caso clínico de depressão. Em
M. Delitti (Org.), Sobre comportamento e cognição. A prática da análise do
comportamento e da terapia cognitivo-comportamental (pp. 203-207). São Paulo:
ARBytes Editora.
iwata, B. A. (1994). Functional analysis methodology: Some closing comments.
Journa l of App lie d Behavior Analysis, 27,413-418.
L Iwata, B. A., Dorsey, M. F., Slifer, K. J., Bauman, K, E., & Richman, G. S. (1982). Toward
A
T
EN a functional analysis of self-injury. Analysis and Intervention in Developmental
M
IA Disabilities, 2, 3-20.
R
O
P Iwata, B. A., Vollrmer, T. R., & Zarcone, J. F. (1990). The experimental (functional)
M
O
C- analysis of disorders: Methodology, application and limitations. Em A. C.
O
C
I
ÍT
Repp & N. N. Singh (Eds.), Perspectives on the Use of Non-aversive and Aversive
L
A
N Interv entio ns f o r perso ns with Developm ental Disabilitie s (pp. 301-330). Sycamore:
A
IA
P
Sycamore Publica tions.
A
R
E
T
Kanfer, F. H., & Saslow G. (1976). An outline for behavioral diagnosis. Em E. j.
Mash & L. G. Terdal (Eds.), Behavioral therapy assessment. New York: Springer
-162 Publishing Company.
Kanfer, F. H., & Grimm, L. G. (1977). Behavioral Analysis. Selecting target behaviors O
T
N
E
in the interview. Behavior Modification, 1(1), 7-28. M
A
T
R
Lettner, H. W. (1995). Avaliação comportamental. Em B. Rangé (Org.). Psicoterapia O
P
M
comportamental e cognitiva de transtornos psiquiátricos (pp. 27-31). Campinas: O
C
Editorial Psy. O
D
•
O Nezu, A. M., Nezu, C. M„ Friedman, S. H., & Haynes, S. N. (1997}. Case formulation in
T
N
E
M
A
behavior therapy: Problem-solving and functional analytic strategies. Em I. D.
T
R
O Eel Is & et. al. (Eds.), Handbook 0/ psychotherapy case form ulation (pp. 368-401).
P
M
O New York: The Guilford Press.
C
O
D
Otero, V. R. L. (1997) Análise funcional de um caso clínico de depressão. Em M. Delítti
L
A
N (Org.), Sobre comportamento e cognição. A prática âa análise do co mportam en to
O
I
C e da terap ia cognitivo-com portam ental (pp. 195-202). São Paulo: ARBytes Editora.
N
U
T Regra, J. A. G. (2001). A integração de atividades múltiplas durante o atendimento
L
IS
L
A
infantil, numa análise funcional do comportamento. Em H. J. Guilhardi, M. B.
N
A
B. P. Madi, P. P. Queiroz & M, C. Scoz (Org.), Sobre Comportamento e Cognição.
Expondo a Variabilidade (pp.373-385). Santo André: Esetec.
Repp, A. C., & Horner, R. H. (1999). Functional Analysis of problem behavior: from
effective assessment to effective support. Belmont: Wadsworth.
Ribes Inesta, E. (1993). El análisis contingencial y la identificación y definición
funcional de los problemas psicológicos. Revista Mexicana de Psicologia, 10(1),
85-89.
Rose, J. C. C. (1997). O que é comportamento? Em R. A. Banaco (Org.), Sobre
comportamento e cognição. Aspectos teór/cos, metodológicos e de form açã o
em análise do comportamento e terapia cognitivista (pp. 79-81). Santo André:
ARBytes Editora.
Schulte, D. Kunzel, R., Pepping, G., & Schulte-Bahrenberg, T. (1992). Tailor-made
versu s standardized therapy o f phobic pati ents. Ad va nces in Behaviour Research
and Therapy , 24, 67-92.
Segura Gálvez, M., Sánchez Prieto, P., & Barbado Nieto, P. (1991) Análisis fu ncional de la
L
A
T
conducta: Un modelo explicativo (pp.125-271). Granada: Universidad de Granada.
N
E
M Silva, M.T. A., Guerra, L.G.G. C.,Gonçalves, F. L.&Garcia-Mijares, M. (2001). Análise
A
T
O
R funcional das dependências de drogas. Em H. J. Guilhardi, M. B. B. P. Madi, P.
P
M
O P. Queiroz & M. C. Scoz (Org.), Sobre Comportamento e Cognição. Expondo a
-C
Q Variabilidade (pp.422-442). Santo André: Esetec.
CI
TÍ
L Silvares, E. F. M., & Gongora, M. (1998). Psicologia clínica comportamental: a inserção
A
N
A
A
I da entrevista com adultos e crianças. Sâo Paulo: EDICON.
P
A
R Silvares, E. F. M. (1991). A evolução do diagnóstico comportamental. Psicologia:
E
T
Teoria e Pesquisa, 7, pp.179-187-
0
Silvares, E. F. M. (2000). Avaliação e intervenção clinica comportamental infantil. :
N
Em E. F. M. Silvares (Org.), Estudos de caso em psicologia clínica comportamental E
M
A
T
infantil (Volume 1, pp. 13-29). Campinas: Papirus. R
O
P
Silvares, E. F. M., & Meyer, S. B. (2000). Análise funcional da fobia social em uma M
O
C
concepção behaviorista radical. Rewsta de Psiquiatria Clínica , 27(6), 329-334. O
D
Skiba, R., Waldron, N., Bahamonde, C., & Michalek, D. (1998). A four-step model for L
A
N
functional behavioral assessment. Communique, 26(7), 24-25. IO
C
N
U
Souza, D. G. (1997). A evolução do conceito de contingência. Em R. A. Banaco F
F
(Org.), Sobre comp ortam ento e cogniçã o: Aspecto s teóncos, metodo/óg/cos S
M
A
N
e de form açã o em a náli se do comporta men to e terapia cognitiva (Volume 1, A
Co m p o r tam e nt o s e nco b e r to s
MANTIDOS POR CONTINGÊNCIAS SOCIAIS
IS
AI desses casos, podemos por vezes observar que nosso cliente está extremamente
C
O
S atento às nossas reações. Algumas estratégias que já usamos para minimizar esse
S
A
G
monitoramento de nossas reações, em estágios avançados da terapia (quando um
N
F bom vínculo já havia se formado), foram pedir e aguardar o cliente iniciar a sessão,
G
N
I
T
N mesmo mantendo silêncio por algum tempo, e usar o formato de atendimento em
O
C
R
O
divã, ao invés de sentados frente a frente.
P
A leitura de outra literatura, a do self, trouxe novos elementos para a análise
S
O
D
I
I
de alguns dos casos identificados como "estando sob controle excessivo de
N contingências sociais”. Mesmo tendo sido útil essa leitura, temos dúvidas quanto à
A
M
S
O
adoção do conceito de se// pelas razões apresentadas a seguir.
T
R
E
B
Dentre todos os conceitos e termos presentes na Psicologia, self, "eu” e suas
O
C derivações, sao provavelm ente os mais citados (Ba rnes-Holm es, Hayes, & Dymond,
N
E
S 2001). Skinner (1991) ilustra a importância social dada ao tema mencionando que 0
O
T
N
E Third New International Dictionary (Webster) contém cerca de 500 palavras iniciadas
M
A
T
R
com self. A noção de "eu" que possuímos no cotidiano é muitas vezes insuficiente e
O
P
M obscura, e os textos behavioristas que encontramos nem sempre nos forneceram
O
C
satisfatória clareza sobre esse tema. Dentello (2009) demonstrou que, tanto
na análise do comportamento quanto na filosofia do behaviorismo radical, ao
falarmos de “eu”, "caminhamos sobre um terreno em que se debatem concepções
tradicionais, oriundas do senso comum, e formulações científicas baseadas em
relações entre comportamentos e contingências de reforço. Este debate não é
necessariamente esclarecedor; muitas vezes é enganoso” (pg. 27).
No Brasil surgem confusões adicionais, uma vez que traduções de textos
srcinalmente em inglês para o português por vezes mantém 0 termo self e,
L
em out ras, o traduz em para "eu”. É possí vel q ue essa incons istência es teja
A
1
L
N ajudando a ampl iar o burburi nho em torno desses con ceitos1. Outros termos
M
A comumente entrelaçados a esses são “consciência”, “autoestima”, “personalidade”,
T
R
O
P “autoco nhecim ento”, etc. Todos sã o men cionado s como se, de algu ma forma,
M
O pudessem contribuir para alcançar uma definição sobre o que seja o “eu". Contudo,
-C
O
C
I
T
o substrato dessa sobreposição é incoerente, em razão de não haver clareza sobre
L
A
N o que se propunha explicar srcinalmente.
A
IA
P
A
R
E
T
1 Por sxerr .plo.natr acu ção pa ra o português do livro de Skinner (1953) j. C. Todcr ove R . Azzí traduziram
s e f como
“eu”. Na tradu ção de R. Kerbauy do livro de Kohle nberg e Tssi (2006), a palavra self foi
168 mantida sem tradução.
IS
É possível tentar extrair da fala das pessoas quais os conceitos que estão sendo IA
C
O
utilizados em suas formulações, e esse e um caminho sugerido por Skinner (1953), S
S
ao formular que “o melhor meio de nos desembaraçarmos de qualquer explicação IA
C
N
fictícia é examinar os fatos sobre os quais elas se baseiam" (p. 312). O uso coloquial Ê
G
NI
do termo “eu” revela a ideia tradicional de que essa entidade ou representação T
N
O
srcina, determina e inicia comportamentos (Dentello, 2009). O dano causado C
R
O
pela ideia de um “eu criador de comportamentos” é que essa representação pode R
S
obscurecer a análise das contingências que estariam controlando tais respostas, O
D
M
N
uma vez que a causa do comportamento passaria a ser atribuída a esta figura A
M
fictícia (“eu”). Diz Skinner (1953): S
O
I
U
t
B
O
“na medida em que variáveis externas não são mencionadas ou são ignoradas, C
tN
sua função é atribuída a um agente srcinador dentro do organismo. Se não S
O
T
podemos descrever o que é responsável pelo comportamento de uma N
E
M
A
pessoa, dizemos que ela mesma é responsável, (...) A prática aplaca a nossa T
R
O
P
ansiedade a respeito dos fenômenos inexplicados e por isso se perpetua” M
O
C
(p. 310).
lenta ou calma pode passar a ser descrita de acordo com essa topografia. Outro IS
IA
C
agrupamento possível pode ocorrer entre comportamentos diferentes, mas que O
S
S
sejam controlados por um mesmo estímulo antecedente, como seria o caso de AI
C
N
uma pessoa que se comporta dentro de um determinado padrão, sempre que está Ê
G
IN
na presença de familiares. Outra possibilidade seriam comportamentos diferentes T
N
O
C
com consequências similares, como no caso de pessoas que "fazem qualquer
R
O
coisa por dinheiro”. P
S
Em sua obra de 1991, Skinner elabora mais profundamente sobre os aspectos O
ID
T
sociais e de autoconhecimento do “eu”, e 0 diferencia do que seria “pessoa". N
A
M
S
O
T
"Pessoa deriva da palavra usada para designar máscaras com as quais R
F
R
O
os atores recitavam seus papéis nos teatros grego e romano. A máscara C
N
F
identificava 0 papel que 0 ator desempenhava; ela 0 marcava como S
O
T
um personagem. Usando diferentes máscaras ele podia desempenhar N
E
M
diferentes papéis. As contingências de reforçamento operante têm A
T
R
O
efeitos um tanto quanto parecidos. Iniciando com os organismos que se P
M
O
desenvolvem através da seleção natural, elas constroem os diferentes C
♦
S
I
A
I
contingências verbais que promovem a auto-observação são mais explícitas, pois
C
O
S as pessoas são constantemente solicitadas a falar sobre o que estão fazendo
S
A
I ou pensando. A noção do que seria o "verdadeiro eu” das pessoas forma-se,
C
N
Ê
G
muitas vezes, pela identificação de estímulos reforçadores primitivos - comida,
IN
T sexo e agressão - que propiciam consequências tanto reforçadoras ao indivíduo
N
O
C
R quanto potencialmente punitivas pela sociedade. Isso poderia explicar porque o
O
P 'verdadeiro eu” é tão frequentemente malcomportado e escondido.
S
Ü
U
I
1
N
A Autoestima
M
S A sociedade costuma atribuir méritos aos comportamentos das pessoas e
O
I
R
L
B
valorizá-las por isso, mesmo quando uma análise científica não confirma tais
O
C
N méritos. Por exemplo, uma mulher, ao dar à luz, é valorizada pelo bebê por ela
L
S
O
produzido, mesmo não sendo diretamente responsável, de acordo com os
1
N
L geneticistas, por nenhuma das características do bebê: ela lhe conferiu metade
M
A
I dos genes, mas recebeu metade deles de seu pai e de sua mãe. A cultura louva
R
O
P
M e recompensa entre seus membros os que fazem coisas úteis e interessantes,
O
C
seja dar à luz um bebê saudável, seja escrever um romance. A autoestima seria
a condição corporal derivada desse reconhecimento social, passível de ser (auto)
observada pelo indivíduo ao qual foram atribuídos tais méritos.
O “e u" responsáve l
As culturas em geral controlam seus membros pelo uso de estímulos aversivos
(reforçadores negativos ou punições). Para isso, asseguram que seus membros se
sintam responsáveis pelo que fazem.
L
A
T
N Autoconfiança
E
M
A
T
Apesar de não termos controle de fato sobre nosso comportamento, é
R
O importante que acreditemos ter. Apenas quando acreditamos em nós próprios
P
M
O
C-
é que damos o melhor de nós. O :‘eu” que confia em si mesmo é resultado do
O
IC fazer algo bem, e não sua causa. Se alguém pergunta se posso encaixar uma peça
T
Í
L
A
N em um motor e eu digo "acho que sim”, estou fazendo uma predição baseada em
A
IA
P sucessos passados ou então relatando a condição corporal deles resultante. O
A
R
T
E efeito mais imediato do sucesso é frequentemente a autoconfiança. Se um jogador
de tênis tiver maus desempenhos, ele perderá sua confiança. Um lance brilhante
172 po de resta belec ê-la.
IS
O “eu” racional IA
C
Parece que sentimos que som os “outro eu” , quando nos engajamos e m O
S
tN
ou dar "uma explicação", mencionando uma variável controladora (“estava com M
A
T
medo que a corda arrebentasse”). Dizemos que agimos racionalmente quando R
O
P
M
somos capazes de mencionar razões para nosso comportamento, mas a maior O
C
parte do nosso comportamento não é essencialmente racional. Razões não são
consequências, são nomes de consequências. E nem sempre nomes adequados.
De forma geral, os usos do conceito de “eu” descritos por Skinner incluem
estados internos observados, seja por consequência direta da contingência, seja
por mediação alheia. Diferentes “eus” são formulados com base nas contingências
de reforçamento responsáveis pelo comportamento, pelas condições corporais
que as acompanham e também pelas contingências verbais necessariamente
responsáveis pela observação. Apoiados nesse conjunto de condições,
l
delimitamos nossa estima, confiança, responsabilidade e racionalidade. 'A
1
A despeito da transitoriedade entre os comportamentos que farão parte da tN
M
A
elaboração de diferentes “eus”, existe na sociedade uma pressão para que seus I
R
O
membros apresentem coerência e previsibilidade em seus atos públicos. Grupos P
M
O
tendem a valorizar a consistência entre as topografias de seus membros. Essa -C
O
C
exigência traria a vantagem inicia! de incentivar a form ação de um sistema coerente n r
L
A
e socialmente reforçado. No entanto, esses oenefícios parecem esvaecer-se N
A
A
I
rapidamente à medida que as pessoas são socialmente exigidas a apresentar A
P
R
consistências e integridades funcionais que não existem de fato. Tal exigência é c
f
T
incorporada pelos indivíduos na forma de autorregras que ditam que eles devem
ter consistência também entre seus comportamentos privados.
L
duas "personalidades” poderão entrar em conflito quando ele estiver com os dois
A
T
N grupos a um só tempo.
E
M
A
T
R
O
P “Eu” verbal
M
O
-C
Skinner desenvolveu sua análise sobre o “eu” dando ênfase à descrição sobre
O
C
I quais comportamentos estariam subjacentes a esse conceito. Outros autores
TÍ
L
A focaram suas atenções sobre a elaboração de hipóteses sobre como se form aria
N
A
IA tal conceito.
P
A
R
E
T Para Kohlenberg e Tsai (2001, p. 141), 0 entendimento do “eu” dependeria da
especificação dos estímulos controladores da resposta verbal “eu”, sendo assim
174 produto da modelagem do com portam ento verbal de descrev er-se. A criança
inicialmente seria treinada pelos pais a nomear objetos que estivessem presentes, IS
IA
C
dizendo, por exemplo, “maçã” diante dessa fruta, e não de outros objetos. Assim, O
S
poderia ser com binada com quase todos os outros tatos que já estão no repertóri o.
Em comum entre essas expressões estaria um estímulo privado associado à
atividade “ver”, independentemente do objeto específico que estiver sendo
visto, de forma que a criança possivelmente passaria a criar outras expressões
singulares. As habilidades de discriminação dos pais e a atenção a esses estímulos
públicos seriam fatores importantes na determinação de qual grau do "eu vejo”
será controlado por estímulos privados {Kohlenberg & Tsai, 2001).
Processo semelhante ocorreria com outros estímulos privados, como “eu sinto”
L
TA
(sob controle do sentir), “eu quero”, etc. Após um número considerável de tatos “eu N
E
M
x” ter sido discriminado, a unidade menor “eu” se estabeleceria por ser 0 elemento A
T
R
comum a todas as situações “eu x”, em que “x” varia. A perspectiva daquele que O
P
M
tateia é o estímulo que se manteria constante para todos “eu quero x" e "eu vejo O
C-
O
x". Durante um desenvolvimento normal, a “perspectiva” seria a localização física T
lC
Í
L
das atividades privadas, tais como ver, querer, ter. Assim, a resposta “eu” como A
N
A
unidade estaria sob controle de estímulo do lugar (lócus). A única característica IA
P
A
R
do lócus seria sua relação com 0 lócus onde acontece a atividade privada. O lócus F
T
♦
IS controlador do “eu” e, portanto, a experiência do “eu”, mesmo que as características
IA
C
O físicas, pessoais e de localização mudassem (Kohlenberg & Tsai, 2001).
S
S
A Em outro trabalho mais recente, Kohlenberg, Tsai, Kanter e Parker {2009, p. 104)
G
N
F
G
aprofundaram a ideia de que a formação de um lócus estável que constituiria o
N
II
“eu” seria desejável, apesar de nem sempre se desenvolver.
N
O
C
R
O
P “Na medida em que nossa cultura é normativa, aspectos comuns podem
S
O
D
I
ser esperados na descrição de um eu ‘normal’ ou ‘ideal’. Nem todos, no
T
N
A entanto, desenvolvem o dese;ado ‘eu’ ideal. Isso é, apesar de algumas
M
S similaridades, o sentido do eu’ é aprendido e, portanto, é dependente
O
T
R das excentricidades desta história de aprendizado; consequentemente, o
F
B
O
C
N
sentido do ‘eu’ deve variar bastante. Nós consideramos a existência de um
F
S contínuo de experiências; de um lado uma experiência ideal de continuidade
O
T
N
L e um ‘eu’ único, um algo central’ no outro, um ‘eu! vazio ou instável,
M
A
1 correspondendo à experiência de clientes que afirmam 'eu não sei quem eu
R
O
P
M sou’, ou que relatam múltiplos eus™ (p. 104).
O
C
L
Barnes-Holmes et al. (2001) compartilham a hipótese de Kohlenberg et ai.
A
T
EN (2009) sobre a srcem do “eu” e de um lócus único, ou, conforme estes autores, de
M
A
T
uma perspectiva que controlaria respostas autodescritivas. Argumentam que "os
R
O
P eventos mudam constantemente. Apenas 0 lócus não muda” (p. 123}. Propuseram
M
O
C
- que a "tomada de perspectiva” poderia estabelecer três formas de "eu”: 1) “eu
O
IC conceituai” , como o conteúdo de relações verbais; 2) "eu conhecedor", com o um
ÍT
l
A proce sso contínuo de estabelecimento de relações verba is e 3) “eu transcen den tal”
N
A
IA
P como o contexto das relações verbais.
A
K
L No primeiro caso, o indivíduo poderia abstrair relações entre agrupamentos
1
S
I
interação verbal consigo mesmo produz a formação de um conceito de "eu” através A
I
C
do qual os indivíduos se tornam capazes de formular opiniões e descrições sobre O
S
S
si mesmos, dos tipos "sou uma boa pessoa”, “sou uma fraude e um fracasso”. A
I
C
N
O segundo tipo de "eu” envolveria a percepção das sensações corporais Ê
G
IN
e a capacidade de nomear, relacionar e categorizar emoções. Isso seria um N
T
O
importante aprendizado para a socialização, pois a capacidade de estabelecer C
R
O
empatia, autocontrole, autoconhecimento ou sensibilidade social dependeria P
S
de a pessoa ser capaz de descrever o que está sentindo para os outros. Essa O
ID
T
N
capacidade descritiva seria resultado de um treino discriminativo específico. O A
M
“eu transcendente” seria o contexto, o lócus, dentro do qual estariam sendo feitas S
O
T
todas as demais discriminações, e os autores selecionaram esse nome para essa R
F
B
O
categoria por julgarem ser esse conceito de “eu” que mais se aproximaria da ideia C
N
L
de espiritualidade ou transcendência. Segundo os autores, "uma vez que esta S
O
T
perspectiva, este lócus, emergir, ela não se alterará mais em toda vida da pessoa” N
E
M
(p.129). Consideram que em terapia seria esse tipo de estabilidade que permitiria A
T
R
ao cliente confrontar dores ou traumas extremos, sabendo que, de alguma forma, O
P
M
O
não importando 0 que acontecer, seu "eu”, enquanto contexto, não se alteraria. C
2 Os termos autoconhecimento, consciência e auto-oo servação são usados de forma inter cambiável. 177
cham ada “tom ada de con sciê nc ia”11 sob re si. isso im plicaria pergu ntar-s e “se os
eus’ gerados po r outras conti ngênci as conhe cem -se uns aos ou tros”. Não haveri a
por que esperar que essa forma de autoconhecimento existisse a menos que
tivesse sido gerada por reforços apropriados. Pode não existir razão específica
para que um indivíduo se comporte discriminativamente a ponto de tomar
associados ao trauma.
Na mesma direção, Kohlenberg et al. (2009) afirmaram que o processo
discriminativo que ocorre no autoconhecimento é diferente do processo
discriminativo envolvido na ação que poderia ser auto-observada. A auto-
observação de um evento está sob controle de um estímulo discriminativo distinto
3 Skinner aborda a consciênc ia como a capacidade que o ser humano adquire de descre ver seu
comportamento, identificando a sua relação com as variáveis que o determinam. Ter consciência
ou estar consciente refere-se ao mesmo fenômeno: a capacidade que uma pessoa tem de falar
sobre o seu comportamento (Baum, 2005), o que seria resultado da existência de um repertório de
autoconhecimento.
S
I
A
I
Portanto, uma historia de estimulação aversiva pode fazer com que o
C
O comportamento de auto-observação seja suprimido, produzindo assim a retirada
S
S
IA
da estimulação aversiva privada que os eventos de punição produziram no
C
N
Ê cliente. Por exemplo, em lugar de se sentir triste após um rompimento amoroso,
G
IN
T
N
o cliente pode negar ter-se mobilizado emocionalmente por conta do ocorrido
O
C (e de fato crer nessa afirmação). A supressão do sentimento de tristeza seria
R
O
P assim consequenciada pela retirada da condição privada aversiva. Blackledge e
S
O
ID
Hayes (2001) descrevem esse fenômeno como esquiva experiencial. Segundo
T
N
A esses autores, a esquiva experiencial ocorre quando uma pessoa não se encontra
M
S disposta a manter contato com experiência privadas particulares (sensações
O
T
R corporais, emoções, pensamentos, predisposições comportamentais), por
E
B
O
C
N
isso adota medidas que alterem a forma ou frequência desses eventos, ou 0
E
S contexto que os produzem, mesmo que para isso tenham que incorrer em "custos
O
T
N
E
comportamentais” adicionais. Esses custos podem ser potencialmente danosos,
M
A como ingestão excessiva de álcool, uso de drogas ou comportamentos sexuais
T
R
O
P arriscados. Outras formas seriam o cliente afastar-se de pessoas amadas, sabotar
M
O
C relações de intimidade ou evitar incorrer em riscos necessários para que metas
valiosas fossem alcançadas.
L
sobre comportamentos.
A
T
N Em nosso grupo de supervisão, 0 conceito de “eu” surgiu em diversas ocasiões
E
M
A
T e incentivou vários debates. Adotamos de Skinner nossa orientação principal
R
Q
P sobre o tema, considerando que o “eu” não causa comportamentos. Mediante
M
O
C esse entendimento, nosso objetivo não era mudar 0 "eu” dos clientes, e sim as
O
IC
T
contingências que produziram simultaneamente os comportamentos-problema
Í
L
A e os conceitos de “eu” relatados pelos clientes. Nesse sentido, 0 conceito de
N
A
AI
P “eu” recebeu o mesmo tratamento dado a outros sentimentos. Durante os
A
R
L atendimentos, estimulamos e escutamos atentamente os relatos que os clientes
1
#
S
I
Por vezes utilizamos os conceitos apresentados na literatura que aborda as A
I
C
O
questões do “eu” como uma ferramenta diagnostica, ou seja, como um recurso S
S
para levantamento de hipóteses e definição de procedimentos terapêuticos. IA
C
N
Costumamos ficar especialmente atentos às falas dos clientes que ajudassem a Ê
G
IN
identificar variáveis que estariam controlando suas autodescrições, perguntando- T
N
O
C
nos se seriam elas majoritariamente externas (sociais) ou internas (eventos
R
O
P
encobertos). Por exemplo, se um cliente relatasse constantes incoerências entre
S
O
o que ele sente, o que gostaria de dizer ou fazer e aquilo que ele de fato diz e faz, ID
I
maiores detalhe s). As autod escriçõe s oferec idas po r Rafael sugeriam um repertório
majoritariamente controlado por contingências externas e uma baixa capacidade
de auto-observar suas emoções ou de formular opiniões. Quando solicitado pelo
terapeuta a descre ver senti mentos, Rafael tecia descrições confusa s e apresentava
evidentes inconsistências entre o conteúdo de suas falas e posturas corporais.
vigor no presente e/ou que atuaram na história desse cliente. Essas investigações
foram orientadas pela análise de Skinner (1991) de que encobertos eliciados por
contingências punitivas poderiam produzir autodescrições depreciativas. Os
questionamentos mostraram que 0 ambiente profissional em que João estava
inserido era-lhe bastante desagradável, tanto por conta de um relacionamento
superficial e competitivo com seus colegas quanto pela não apreciação do tipo
de trabalho que exercia. Adicionalmente, as sensações desagradáveis produzidas
portal convívio profissional eram retiradas pela emissão de comportamentos de
sedução sexual, estabelecendo uma contingência de reforçamento negativo. Essa
conjunção de fatores um ambiente de trabalho aversivo, associado à apreensão
que ele sentia quanto à possibilidade de desaprovação social por suas aventuras
sexuais e a um controle da audiência (tentativas de reduzir possíveis julgamentos
morais do ouvinte), pareciam estar controlando as autodescrições depreciativas
de João. Na prática, quando solicitado a descrever os eventos da semana, João
parecia incapaz de identificar as sensações eliciadas por seu convívio profissional,
mas com prontidão se descrevia de forma negativa, nao estabelecendo nenhuma
relação entre esses estados (indiscriminados) e seus autorrelatos depreciativos.
Foi investigado o relacionamento que João lembrava ter tido com seus pais
durante a inf ância. Os relatos apontaram uma característica peculiar dos pro cesso s
que produziam elogios: os pais somente percebiam que João havia feito algo bom
♦
I! estar em vigor um processo de esquiva experiencial. Nossos esforços foram então
A
C
0
5 norteados no sentido de ajudá-lo a aceitar e entender seus sentimentos diante de
S
A
I uma análise funcional das contingências que os produziram.
C
N
Ê
G
Outro exemplo de caso clínico em que uma investigação do repertório de auto-
N
I
T observação de clientes se mostrou proveitosa foi o de uma cliente extremamente
N
O
C
R
O
simpática que relatou, em mais de uma ocasião, ter recebido críticas de sua
P prima por não ter sido convidada, nenhuma vez, a visitar sua nova casa. A cliente
S
O
D
II se culpava por isso, atribuindo ao seu problema de tensões musculares sua
N incapacidade de convidara prima para uma visita. Ao explorar mais os sentimentos
A
M
S e acontecimentos da história de relacionamento entre primas, ficou claro para
O
T
R
E
B
o terapeuta e para a cliente que, desde a infância, foram inúmeros os episódios
O
C de desconsideração da prima e de sua família para com a cliente e familiares.
N
E
S Nesse momento, a cliente foi capaz de verbalizar que, de fato, ela e a prima não
O
T
N
F se gostavam, que não fazer parte integrante da vida da família da prima não havia
M
A
I sido inicialmente uma escolha sua e que nao era tão relevante quanto ela achava,
R
O
P
M já que consegu ia ter relacion am entos significativos com amigos. Ou seja, a cliente
O
C
identificou, entendeu e aceitou seus sentimentos.
Todas as estratégias terapêuticas descritas acima - nos casos de Rafael,
João e da "cliente simpática” - foram baseadas na obra de Kohlenberg e Tsai
(2001), da qual extraímos as hipóteses sobre a formação do conceito de “eu”.
Partindo do pressuposto de que o "eu” é resultado do treino discriminativo,
orientamos a terapia para instalar e reforçar esse tipo de repertório. No caso de
João, criamos um exercício de discriminação de sensações e sentimentos que
chamamos informalmente de “exercício da cadeira”. Nos quinze minutos finais
da sessão, João era solicitado a relaxar confortavelmente em uma poltrona, com
L
A
T
N
E a luz da sala reduzida. A terapeuta estimulou-o a imaginar pessoas próximas
M
A
T
a ele e perguntou-lhe como ele percebia as pessoas, 0 que sentia, ao imaginá-
R
O
P las, e se gostava do que elas faziam a ele. Por vezes, pediu a João lembrar-se de
M
O
C situações que haviam discutido durante a sessão e pediu-lhe relatar o que ele
O
C
I( estava sentindo. Diante da dificuldade em fazer essas descrições, a terapeuta, às
I
L
A vezes, sugeriu alguns sentimentos que possivelmente a situação poderia eliciar,
N
A
A
I
P
de forma a ajudá-lo a nomear o que sentia. O procedimento se repetiu por dez
A
R
E
T sessões consecutivas, uma vez que aparentemente ocorreu a aprendizagem
pretendida e seus resultados puderam ser observados dali em diante. Entretanto,
184 João m ost rou -se muitas veze s desc onfo rtáv el em fazê-lo, relatando son o, tédio,
t
prolongando seus relatos para reduzir o tempo de exercício, etc. Após discutirem IS
IA
C
essa esquiva do exercício, ambos decidiram interromper o procedimento. João O
S
S
passou a descrever mais os sentimentos, apesar de ainda apresentar dificuldades IA
C
N
de nomeação. Certa vez, ao descrever uma situação profissional desagradável, Ê
G
N
I
disse; Você não vive me pergun tando de sentim entos? Pois bem, estou muito bravo N
T
L
A
T
N
C
M
A
T
R
O
P
M
O
C
-
O
C
I
ÍT
L
A
N
A
A
I
P
A
R
C
T
D iagnóstico
1 Apesar de o DSM-V ter sido publicado recentement e, no presente livr o está sendo feit a referência a o
DSM-IV. pois foi essa a versão utilizada na época das discussões apresentadas.
r
O transtornos, as características são descritas topograficamente; (b) as características
CI
T
S
O são descritas tanto topograficamente quanto funcionalmente.
N
G
IA O Critério Diagnóstico i do Transtorno de Personalidade Borderíme do DSM-
D
IV (APA, 2004) é um exemplo de uma descrição que explicita dicas relevantes
sobre as variáveis de controle d o comportam ento. O Critério 1 destaca: "esforço s
frenéticos para evitar um abandono real ou imaginário” (p. 664). Essa descrição
sugere, ainda que de forma geral, uma classe de respostas (emitidas pelo sujeito
deformafrenétíca) com a função de evitar abandono. O mesmo pode ser notado
nos Critérios Diagnósticos A2 e A7 do Transtorno de Personalidade Antissocial
do DSMHV (APA, 2004). O Critério A2 apresenta: “propensão para enganar,
indicada por mentir repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar os outros
para obter vantagens pessoais ou prazer” (p. 660). O Critério A7 argumenta
“ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido,
maltratado ou roubado alguém” (p.660). O Critério A7 ressalta um contexto
de ferir, maltratar ou roubar alguém para a resposta de ausência de remorso,
L
mesmo transtorno podem apresentar comportamentos diferentes ou até mesmo
A
T
N
F preencher diferentes critérios diagnósticos (Souza, 2003). É preciso atentar-
M
A
T se que diagnosticar muitos sujeitos com um mesmo transtorno e considerá-los
R
O
P semelhantes por isso é ficar na contramão da idiossincrasia. Também é preciso
M
O
-C considerar a questão da estigmatização em razão do diagnóstico recebido
O
IC (Souza, 2003). Esse problema pode ser entendido melhor se pensarmos em um
T
Í
L
A indivíduo diagnosticado com distimia (respostas com topografias de mau humor e
N
A
IA
P
irritabilidade) que se sinta desencorajado para mudar, pois se considera portador
A
R
E
T de um transtorno que o faz ser assim.
Embora seja controversa a adesão de terapeutas analítico-comportamentais
188 aos man uais de classificação diagnostica, pelos motivos apr esen tad os acima (foco
Personalidade Borderlme não é, por si só, importante, pois focamos uma avaliação
funcional do comportam ento. Entre tanto , conh ecer os padrões de com portam ento 189
dependia dos outros ; não tenho memória da s coisas, eu não guardo ; compulsão por O
IC
T
S
comida; tenho perseverança para as coisas; até os 24 anos eu não tinha beijado; só Ó
N
G
após dois anos teve a primeira relação sexual; meus namorados não aguentavam, AI
D
caíam for a (não tinha namorado); cuidava da mãe doente; pai bebia, era agressivo
quando bebia, verbal e fisicamente; não consegui terminar a faculdade, pretendia
uma compreensão mais clara e ampla da função de cada uma das classes
de comportamentos e permitiu ainda uma identificação mais adequada dos
problemas de comportamento (CCRis) ou de melhora (CCR2s) ocorrendo em
sessão. A eficácia da terapia talvez tenha aumentado em decorrência da melhor
identificação dos problemas de comportamento ou de melhora ocorrendo
em sessão e, portanto, do melhor manejo terapêutico. Essa eficácia, acrescida
de intervenções específicas para o problema de esquiva de intimidade com 0
terapeut a, resultou em uma m elho rada relaç ão terapêutic a, e, consequentemen te,
um indicativo foi a redução das faltas da cliente às sessões.
Essa experiência corrobora relatos da literatura sobre os benefícios do uso
dos critérios do DSM-IV (APA, 2004) para 0 transtorno de personalidade. Koerner L
IA
et al. (1996) relatam que os critérios diagnósticos podem ter a função de alertar N
L
M
A
0 terapeuta tanto para as instâncias de comportamentos-queixa quanto para os T
R
O
P
de melhora que são emitidos no contexto da relação terapêutica. Considerando M
O
o padrão de comportamento instável de Regina, 0 terapeuta tinha dúvidas sobre C-
O
IC
quais aspectos do responder da cliente eram mais relevantes de ser trabalhados ÍT
L
A
na terapia. Depois da definição do diagnóstico, o terapeuta compreendeu que a N
A
A I
esquiva de relacionamentos da cliente (inclusive terapêutico) tinha a função de se P
A
R
esquivar de sentimentos de modo geral (esquiva experiencial. Mais detalhes, ver E
T
L
relacionamento, o medo de abandono e a intensidade do humore das expressões
A
T
N
E
M de raiva levaram 0 grupo de supervisão a pensar na semelhança do caso com as
A características descritas no Transtorno de Personalidade Borderline. Contudo,
T
R
O
P
M
mesmo com as semelhanças encontradas, a tentativa de manejo das esquivas de
O
-C intimidade gerava ainda mais esquiva.
O
IC Optou-se, então, por recorrer a uma leitura especializada nesse tipo de
T
Í
L
A transtorno que pudesse dar dicas de análises funcionais mais profundas e de
N
A
A
I
P
intervenções bem-sucedidas. O material encontrado foi 0 livro da Línehan,
A
R
E
T publicado no Brasil, em 2010. Nele, ela explica que há duas características essenciais
por trás de um quadro borderline: desregulação emocional e ambiente invalidante.
194 Grosso modo, a desregulação emocional é entendida como uma sensibilidade
# P
#
O
sessões começavam a ser produtivas e os resultados apareciam, Socorro faltava. IC
I
Além disso, foi difícil obter o telefone da escola, pois a mãe esquecia de trazê-lo S
O
N
G
ou alegava que a escola não era acessível. Certa vez, Socorro chegou a verbalizar A
I
D
que recebera a instrução da mãe sobre o que poderia, ou não, dizer na sessão
terapêutica. Todos esses exemplos parecem indicar que a mãe não buscava a
melho ra da fi lha (tentando até mesm o im pedir t al melhora), e sim prete ndia m anter
os benefícios que recebia do governo pelos problemas dos filhos. Observou-se
que a mãe apresentava forte padrão de eliciar/evocar pena nas pessoas a seu redor,
a fim de obter reforçadores delas. E, nesse sentido, diagnósticos de problemas de
seus filhos acabavam tornando-se grande fonte de reforçadores.
Com a recusa do terapeuta em dar o diagnóstico solicitado, a mãe começou
a relatar grandes dificuldades de levar a filha à terapia, e as faltas aumentaram (o
mesmo não aconteceu com seus outros filhos, que tinham obtido o diagnóstico
solicitado pela mãe a outros profissionais). Um tempo depois, Socorro começou
a apresentar desenvoltura na escola em jogos de handebol, o que levou ao relato
da mãe sobre as vantagens que poderia obter se a filha continuasse sobressaindo
no jogo. Em razão disso, os treinos se tornaram mais importantes do que os
atendimentos terapêuticos, levando a uma diminuição ainda maior na frequência
às sessões, resultando na interrupção do tratamento.
Considerações finais
Tais reflexões nos levam a sugerir que o uso do diagnóstico, com o auxílio de
manuais, para um caso clínico deva ser usado a favor da melhora terapêutica,
sendo, portanto, um meio, e não um fim em si próprio.
Por me io do conheci mento d o diagnósti co, pod em os aum entaras possibilidades
L
A
T
de previsão e controle no andamento de um atendimento, indo ao encontro das N
E
M
ideias sobre como fazer ciência, já levantadas por Skinner (1953). A previsão pode A
I
R
ser observada no auxílio que o diagnóstico pode trazer quanto às expectativas O
P
M
O
do terapeuta sobre a condução e resultados do caso, enquanto 0 controle seria C
O
observado no auxílio, na escolha e no manejo do tratamento realizado. IC
TÍ
L
Como apontado anteriormente, é esperado que pessoas que tenham A
N
A
repertórios semelhantes apresentem melhoras diante de procedimentos iA
P
A
R
terapêuticos semelhantes. Sendo assim, o diagnóstico pode auxiliar, ao facilitar a L
O
C
I
A proposta do nosso grupo a respeito do diagnóstico com o uso de manuais,
T
S
O portanto, é pragmática, de modo que ele tem a função de auxiliara com preensão e
N
G
A
I condução do caso clínico. A explicação do comportamento continua sendo obtida
D
pela análise funcional.
L
A
T
N
E
M
A
T
R
O
P
M
O
C
-
O
C
I
T
Í
L
A
N
A
A
I
P
A
R
E
T
A
C
I
T
A relação terapêutica e as dificuldades referentes ao
U
E
P envolvimento, à dedicação e ao cuidado do terapeuta
A
R
E
T
Deparam o-nos com alguns ca sos n asup ervisão dos quais sur giu a necessidade
O
A
de nos questionarmos sobre o excesso de envolvimento por parte do terapeuta:
Ç
A
L
E qual é o limite de engajamento do terapeuta no auxilio ao cliente? Um dos casos
R
A
N foi o de Marcela (caso descrito adiante, neste capítulo) que se queixava de não
O conseguir arrumar emprego. Com a finalidade de ajudar, o terapeuta deu diversas
T
N
E informações, orientações e pistas para que a cliente procurasse emprego, de
M
I
T
E
M forma a aumentar a probabilidade de ela ser contratada. Conseguir um emprego
O
R
P
M
foi considerado um pré-requisito para que outras questões familiares pudessem
O
C ser tratadas. A aversividade das tentativas malsucedidas se tomou um desafio
O
A
ao terapeuta, que afixou, em seu prédio e no prédio de amigas, avisos acerca
S
A
IV da disponibilidade de uma empregada doméstica e divulgou o próprio telefone
I
A
L
L
H como contato. Questionou-se então, em supervisão, se ela não estava indo longe
S
1
0 demais. Analisamos que a cliente era queixosa e não se comportava na direção de
I
S
lJ
L eliminar a situação aversiva. A preocupação e os cuidados produzidos pelo seu
Q
comportamento de reclamar parecem ter sido reforçadores, já que as queixas
se mantiveram, apesar das ajudas oferecidas. Essa análise foi importante para
que o terapeuta entendesse {e ajudasse a cliente a entender) as consequências
reforçadoras de curto prazo (atenção, cuidado) do seu comportamento de
reclamar, assim como as consequências aversivas de longo prazo (falta de
emprego, dificuldades financeiras). Além de analisar consequências junto com a
cliente, confrontou-a quando queixar-se, sem indicar perspectivas de melhora,
ocorria em sessão, provendo consequências tanto para instâncias de problemas
I
quanto para instâncias de melhoras. Esses procedimentos foram mais eficientes
A
T
FN do que arrumar um emprego para a cliente (na medida em que a cliente com o
M
T
A padrão queixoso provavelmente passaria a queixar-se de outra coisa, continuando
R
O
P assim o sofrimento envolvido na condição que produzia cada queixa). Essa cliente
M
O e outros com padrão de comportamento queixoso ou aqueles que afirmam
C
-
O
IC querer alguma coisa, mas têm dificuldades de se engajar em sua obtenção,
TII
A eventualmente podem produzir no terapeuta uma preocupação excessiva.
N
A
IA O terapeuta pode engajar-se em comportamentos de aparente ajuda que, na
P
A
R verdade, só mantém o problema. A regra que formulamos foi a de que, se nos
E
T
percebermos pensando demais em algum caso ou preocupados demais com
algum cliente, gastando tempo nos perguntando como podemos resolver alguns
■ m .
A
dos seus problemas, talvez seja a hora de, com a ajuda da supervisão para o caso, IC
T
analisar a probabilidade de esse cliente produzir esse tipo de sentimento tanto U
L
P
A
no terapeuta quanto nas pessoas do convívio do cliente, indicando que esse seu R
E
T
comportamento provavelmente está sendo reforçado em seu ambiente natural O
Ã
Ç
e que o terapeuta não está agindo terapeuticamente. A
L
E
R
No caso em questão, a terapeuta não só tinha um padrão de fornec er cuidado s A
N
em outras situações de sua vida, como também cuidava mais e se preocupava mais O
I
N
com o bem-estar de outros clientes. Era mais difícil para ela não se envolver nos E
IM
T
problemas da cliente. Costumamos discutir em supervisão quais são as queixas e/ E
M
O
R
ou comportamentos que os clientes apresentam que mais nos impactam como P
M
O
pessoas/terapeutas. Clientes chorosos, queixosos e frágeis tendem a produzir C
O
A
cuidados, mais ainda em terapeutas com um padrão pessoal de cuidar de
S
A
outros. Clientes agressivos ou indecisos tendem a produzir irritação, mais ainda IV
T
A
L
em terapeutas impacientes. Há também os clientes sedutores, desrespeitosos, E
R
S
invasivos, dramáticos, monossilábicos, tímidos, teóricos. Discutir quais são os E
Õ
T
S
perfis dos clientes que mais nos impactam como terapeutas facilita a observação E
U
Q
de uma variável peculiar da interação terapêutica: padrões de comportamento
do cliente versus padrões de comportamentos do terapeuta. Ao ser identificada
essa variável, algumas análises tornam-se mais claras. É o caso de um terapeuta
que apresentava maior dificuldade na terapia com um cliente que falava pouco.
O fato de o cliente falar pouco levava esse terapeuta a fazer mais perguntas com
a finalidade de entender o problema do cliente. Esse tipo de interação produzia
ansiedade no terapeuta. Sendo a queixa do cliente justamente falar pouco (fato
que produzia ansiedade no terapeuta), este precisou identificar que a ansiedade
em sessão era oriunda tanto da sua história de vida quanto da do cliente, e L
desenvolveu habilidades de intervenção e manejo para esse cliente. T
A
N
F
M
De modo diferente dos casos em que o terapeuta passa a se preocupar demais IA
R
O
com a resolução do problema do cliente, parece haver outra circunstância em P
M
O
que uma dedicação mais persistente do terapeuta se torna vantajosa. Alguns C-
O
CI
clientes com sérias dificuldades de relacionamentos parecem precisar mais da TÍ
I
atenção do terapeuta, requerendo cuidados especiais. Diferentemente daqueles A
N
A
A
I
clientes em que a atenção mantém um comportamento problema, nesses casos P
A
R
a atenção do terapeuta auxilia o cliente no engajamento do comportamento de E
T
A
CI
de dificuldades. Essa e uma situação comum em casos de transtorno de
T
U
E
P
personalidade. Se um desses clientes falta a uma sessão sem avisar o motivo e o
A
R terapeuta, preocupado, telefona para saber se ele está bem, possivelmente está
IX
L
sempre lia os e-mails e, quando tinha disponibilidade, respondia. Quando não
A
I
N tinha, conversavam sobre o assunto na sessão seguinte. Pode-se observar que
L
M
A
1
esse canal de comunicação estabelecido entre a cliente e seu terapeuta facilitou
R
0
P a “digestão” de determinados assuntos por parte da cliente e fez com que ela se
M
0
C
- mantivesse engajada em sua terapia.
0
C
I
IT Mas não é esse o resultado em todos os casos. Alguns clientes se sentem
L
A
N
A
incomodados com uma aproximação do terapeuta. Geralmente são clientes
IA
P
A
com dificuldades de aceitar cuidado e proteção ou pode ser o caso de clientes
R
E desconfiados ou autossuficientes ou até mesmo clientes que se sentem fracos por
T
A
Esse comportamento do terapeuta pode produzir sentimentos negativos no C
I
T
U
cliente e a boa int enção do terapeuta pode acabar tornan do-s e co ntraproducente. Ê
P
A
Um cliente que goste de ser reconhecido por sua habilidade de resolver seus R
E
T
problemas sozinhos terá dificuldades de lidar com um terapeuta que se comporte O
Ã
Ç
A
de maneira muito amorosa e cuidadosa. L
E
R
Certa vez, um de nossos terapeutas atendeu a um caso de uma cliente com A
N
transtorno de personalidade histriónica. A cliente tinha 50 anos e queixava-se de O
T
N
não ter tempo para si mesma, pois trabalhava demais e cuidav a dos pais idosos. Não E
IM
T
funcionaram as primeiras intervenções do terapeuta no sentido de ela se engajar E
M
O
R
em comportamentos que lhe produziriam bem-estar. Durante os atendimentos, P
M
O
a cliente demonstrou-se irritada com o terapeuta. Em supervisão, analisou- C
O
A
se que ele estava sendo excessivamente cuidadoso e que a cliente poderia
S
A
estar incomodada com tanto cuidado. Foi sugerido, portanto, que o terapeuta V
I
T
A
L
suspendesse as recomendações e os cuidados e solicitasse mais da cliente uma E
R
S
reflexão a respeito do que ela achava que poderia ser feito para resolver o seu E
Õ
problema. Na sessão seguinte, o terapeuta evitou falas de cuidados e, quando a T
S
F
U
Q
cliente se queixava de algo, ete perguntava 0 que ela estava pensando em fazer
em relação ao seu problema. No fim da sessão, a cliente disse ao terapeuta que
tinha gostado muito daquela sessão e perguntou se 0 terapeuta tinha acordado
(sugerindo que antes ele estava dormindo em relação à efetividade da ajuda que
ela estava empreendendo). Portanto, faz-se necessário ter uma boa análise do
caso para a realização das melhores intervenções. A ação do terapeuta tem que
estar baseada em uma hipótese terapêutica, e 0 efeito das intervenções precisa
ser bem observado. Se o efeito foro de produzir engajamento do cliente naterapia
(contando que o terapeuta esteja empreendendo uma dedicação pertinente I
A
e não deixando de lado coisas importantes da sua vida pessoal para auxiliar o T
N
É
M
cliente), essa parece ser uma consequência importante; agora, se o efeito for o de T
A
R
Q
gerar irritação, incômodo ou distanciamento do cliente, o terapeuta precisa rever P
M
O
suas intervenções. -C
O
Em terapia, não é apenas 0 cliente que se distancia; muitas vezes, o terapeuta CI
ÍT
L
A
acaba se distanciando e produzindo um abandono por parte do cliente da terapia. N
A
A
I
São diversos os motivos que podem produzir essas circunstâncias, entre os quais P
A
R
o terapeuta pode ter criado expectativas demais em relação ao caso e ter-se E
T
m
A
C
II
do terapeuta. Nesses momentos, é difícil discernir qual é a fronteira entre um
U
L
P
distanciamento considerado terapêutico e o momento em que o terapeuta, de
A
K fato, está desistindo do caso. Por exemplo, um cliente que requisite demais um
IL
L
N mas aceita ser atendido quando o terapeuta tem disponibilidade. Supondo que o
M
IA terapeuta esqueça de retornar a algumas ligações desse cliente, os atendimentos
R
O
P passam a ficar mais espaçados, e o cliente, apesar de entender os motivos do
M
O
C terapeuta, sente a necessidade de uma maior atenção e dedicação por parte do
O
IC
T
terapeuta. Esse cliente pode desistir da terapia em razão da “desistência” anterior
JI
A do terapeuta. Antes, o terapeuta tinha disponibilidade e, depois, passou a não ter.
N
A
A
I
P
Essas mudanças de contextos acontecem e devem ser discutidas com o cliente,
A
R
F
T assim como suas consequências e as medidas que ambos adotarão em razão
disso. Um cliente que precise de uma assistência maior (regularidade de horários
204 e datas, retorn o às ligações ) teria dificulda des de se manter numa terapia n a qual 0
A
terapeuta teria pouca disponibilidade para cumprir esses combinados. Um cliente C
I
T
J
com mais flexibilidade de horários e com menos necessidade de contato entre L
F
P
A
sessões poderia adaptar-se bem a essa forma de disponibilidade que o terapeuta R
E
T
tem a oferecer nesse momento. O
Ã
Ç
A
L
L
R
A relação terapêutica e as dificuldades referentes A
N
às expectativas de resultado O
T
N
Quando um terapeuta deseja mais a mudança de um comportamento que o E
IM
T
cliente, a terapia passa a perder uma característica importante, que é a concordância E
M
O
R
entre o terapeuta e o cliente sobre o que é importante trabalhar e de que maneira P
M
O
isso será realizado. Quando o terapeuta deseja trabalhar comportamentos que C
O
A
ele analisou e considerou como centrais, mas que o cliente não deseja ou para
S
A
os quais ele ainda não está preparado, a terapia perde o sentido para aquele que IV
T
A
L
a procurou. Algumas vezes, os clientes nos procuram com diversas queixas, mas E
R
interessante se eles falassem mais sobre o ocorrido, mas que tinha dúvidas sobre
a adeq ua ção do mom ento po r causa da viage m. Diante do exposto, João prefer iu 205
a
c
i
não falar desse assunto naquele momento. Foi uma esquiva aceitável? Deveria
t
u
e
p
ter sido bloqueada? Seria adequado a terapeuta insistir em um assunto tão difícil
a
r
e
t
como esse, se não poderiam se aprofundar no tema? Ou a oportunidade não
o deveria ser ignorada, pois o momento de revelação tinha sido exatamente aquele
ã
ç
a
l
e
que dificult aria a exploração dos fortes sentime ntos a ssociad os à revel ação? Mas a
r
a
n
escolha, uma vez que havia sido dada a João, teve que ser acatada.
o
Nem todos os casos apresentam os resultados que os terapeutas esperam,
t
n
f pois alguns já se iniciam com prognóstico desfavorável. Se o terapeuta buscar
im
t
e
m
grandes resultados, como eliminação de abuso de álcool e drogas, ele tenderá
o
r
p
m
a se frustrar. Se o terapeuta trabalhar para obter pequenos resultados, como
o
c assiduidade naterapía, ele pode se desmotivar. E o que seria não esperar demais,
o
a
em termos de resultado, para não se frustrar e não esperar de menos a ponto de
s
a
iv
t
se satisfazer com pouco? Não sabemos ao certo a resposta, mas sabemos que
a
l
é
k o meio termo é a meta. Precisamos verificar se não esperamos demais ou de
s
l menos dos casos que atendemos em especial os casos com prognóstico difícil.
ò
m
l
u
q
Especialmente com esses casos, é interessante o terapeuta trabalhar a fim de
obter mudanças em relação ao início da terapia, ao invés de procurar alcançar
metas, possivelmente irrealistas. Podem ser considerados como melhoras
estabelecimento de um bom relacionamento em que cliente e terapeuta
se sintam à vontade para expor suas ideias (mesmo que haja discordância),
pequena diminuição de frequência de comportamentos-problema em sessão,
aparecimento de comportamentos de melhora (mesmo que discretos), pequenas
generalizações para ambientes externos.
L
A relação terapêutica e as dificuldades
A
T
N
E
M
referentes ao vínculo
A
T
Vincular-se a um cliente nem sempre é uma tarefa fácil. As dificuldades na
R
P
O criação de vínculo podem ser idiossincráticas a um terapeuta, provavelmente em
M
O
-C
razão de sua história de vida. Todavia, há algumas situações mais universais que
O
CI dificultam o vínculo, uma das quais ocorre em casos de supervisão conjunta. No
ÍT
L
N
A nosso grupo de supervisão, ocorreu essa dificuldade, relatada no caso descrito
A
AI
P a seguir. Esse foi um dos casos apresentados no Encontro Clínico Analítico-
A
R
T
F Comportamental em 2007 (ECAC), que discutiu com profissionais convidados da
área da terapia analítico-comportamental casos clínicos atendidos por alunos do
206 Labora tório de Terapi a Com porta me ntal (LTC) da Un iversida de de São Paulo.
A
Supervisão conjunta: montando o quebra-cabeça de uma família C
I
T
U
Tudo começou quando Erick, aos 6 anos, começou a apresentar problemas na Ê
P
A
escola. Sua professora e a coordenadora da escola diziam que ele era um garoto R
E
T
bastante agressivo, desobediente e que estava apresentando baixo rendimento O
Ã
Ç
A
escolar. Apesar das críticas, todos gostavam muito de Erick. Pelo menos todos L
E
R
os adultos. Ele se mostrava bastante afetuoso, carinhoso e preocupado com A
N
os problemas de sua mãe, chegando a se preocupar com a forma com que ela O
T
N
pagaria a conta de luz, que estava atrasada. No entanto, Erick não tinha amigos, F
M
I
T
não se relacionava com outras crianças de modo a manter suas amizades e era E
M
O
R
considerado um dedo-duro por seus amíguinhos e irmãos. Com todos esses P
M
O
problemas, a escola pediu que Marcela, a mãe de Erick, procurasse terapia para ele. C
O
A
Ela procurou. Ele começou aseratendido e logo conquistou também aterapeuta
S
A
Gabriela. Entre as atividades que eram propostas pela terapeuta Gabriela, havia IV
T
A
L
também a orientação de país. Marcela estava sempre presente à orientação e criou E
R
A
C
I
seus problemas era reforçadora, mas mais reforçadora ainda era a mobilização do
T
J
I
E
P
outro diante de sua queixa. E assim seguia Marcela, queixando-se durante a sessão
A
R e mobilizando os demais, para que estes resolvessem seus problemas.
L
I
A
N psicólogo quanto antes para Daniel, irmão mais velho (um ano) de Erick. A queixa
O era bastante parecida com a de Erick. Diziam que Daniel era agressivo, agitado,
T
N
E
M
I
não tinha concentração e também apresentava baixo rendimento escolar.
T
F
M Diante de tal pedido, o terapeuta Mareio passou a atendê-lo. Logo se
O
R
P percebeu que Daniel testava limites. Mexia-se muito, corria muito, saía da sala de
M
O
C atendimento, dava trabalho ao terapeuta. O terapeuta Mareio, por sua vez, logo
O
A
teve um problema de horário e precisou encaminhar Daniel. A terapeuta Mônica
S
A
V
I
T
passou a atendê-lo e conseguiu mostrar-lhe limites. Criou um ótimo vínculo com
A
L
E
R ele e pôde dar a ele a atenção que ele não tinha, o carinho que lhe faltava at é mesm o
S dentro de casa. Daniel aprendeu um pouco sobre como expressar o que sentia e
E
Õ
T
S
E
U como controlar sua raiva. Por circunstâncias da vida, a terapeuta Mônica também
Q
teve que ir embora, precisou mudar de cidade e encaminhar o caso. A terapeuta
Carolina passou a atendê-lo e também pôde manter com ele um vínculo bastante
agradável, dando-lhe a atenção de que ele tanto precisava. Daniel apresentava-se
bastante carente, parecendo sozinho e, a um só tempo, dependente dos demais.
Tanto Mareio como Mônica e Carolina faziam parte do mesmo grupo de
supervisão do qual participavam Gabriela e Adriana. Desse modo, os terapeutas
de Erick, Marcela e Daniel apresentavam e discutiam o caso de seus clientes uns
com os outros, podendo fazer relações entre as análises de cada um dos membros
daquela família. Afinal, por formarem uma família, cada um dos clientes era
L
A
T
N
E ambiente para o outro e, desse modo, partia-se da análise individual de cada um
M
A
T
para chegar a um melhor entendimento da dinâmica familiar. Ao mesmo tempo,
R
O
P o inverso também era feito: partia-se das relações entre os clientes e muito se
M
O
C esclarecia sobre o comportamento de cada membro. Foi possível entender que
O
IC muitos padrões de comportamento de um cliente eram semelhantes ou até
'I1
L
A
N mesmo complementares aos padrões apresentados pelo outro cliente.
A
A
I
P
Com base nessas discussões em grupo, foi possível entender que Erick, com
A
R
E
T seu comportamento sedutor que encantava os adultos, conseguia facilmente
convencer sua mãe a tirá-lo de qualquer castigo que lhe era dado, já que ela se
208 sentia bastante sozinha e era que rida apenas por seus filhos. Enten deu -se que
A
a preocupação de Erick com as contas que sua mãe tinha de pagar poderia estar IC
T
U
relacionada com o fato de, muitas vezes, Marcela agir como se fosse filha de E
P
A
R
seus filhos. Percebeu-se também que Daniel, apesar de ter imensa dificuldade E
T
esse filho que roubara a atenção que seu marido (hoje, seu ex-marido) lhe dava e T
O
N
E
atualmente ainda rouba a atenção que o pai deveria dar a seus outros filhos. IM
T
E
Além disso, com base na discussão conjunta dos três casos, em vez de se M
O
R
P
pensar em intervenções que poderiam ser eficientes para cada membro dafamília, M
O
C
passou-se a pensar nas intervenções que seriam feitas, de modo sincronizado, ou
O
A
seja, de modo que uma intervenção não prejudicasse o andamento da terapia do S
A
V
I
outro cliente. T
A
L
E
R
Apesar dessas vantagens, essa forma de supervisão tem trazido à tona alguns
S
L
Ò
impasses, afinal, tudo quanto o terapeuta sabe sobre a realidade de seu paciente I
S
L
não poderia gerar um sentimento de impotência, por exemplo. Por sua vez, tal U
Q
A
C Em supervisão, passam os a quest ionar a possibili dade do vínculo dos terapeutas
II
J
1
Ê
P
com seu cliente, quando outro familiar do cliente é atendido por um colega de
A
R supervisão e apresenta uma versão diferente dos fatos. Esse questionamento
E
T
A
As perversidades na forma com que eles se comportam geralmente produzem C
I
T
U
mais perplexidade do que empatia. Temas como esses costumam impactar Ê
P
A
R
terapeutas, e assim as terapias com esses indivíduos tendem a ser malsucedidas. L
l
L
A
T
N
F
M
IA
K
O
P
M
O
-C
O
C
I
T
Í
!
A
N
A
A
I
P
A
R
E
T
A Ps i c o T E RA Pi A A n a lí tica F u n cio n a l -
F u n cti o n a l A na l yti c Psychother apy ( F AP )
Histórico
Do nosso ponto de vista, a FAP resgatou o que de melhor havia na modificação
do comportamento. As primeiras aplicações da análise do comportamento
trabalhavam com a metodologia e procedimentos de laboratório da análise
experimental do comportamento em situação natural, como com crianças com
problemas de desenvolvimento. Nessas situações, trabalhava-se em uma situação
um a um, com o sujeito e o experimentador frente a f rente, cujos comportamentos
eram ensinados em tentativas discretas, seguidamente, em número previamente
Y
a consequência reforçadora estiver, maior será seu efeito. Para o cliente P
A
R
E
de consultório, os resultados do tratamento serão mais significativos se os H
T
O
comportamentos-problema e as melhoras ocorrerem durante a sessão, próximas, H
C
Y
S
no tempo e no espaço, de consequências vindas do terapeuta. Dessa maneira, a P
C
FAP permite que este observe e consequenc/e diretamente os comportamentos I
T
Y
L
A
clinicamente relevantes (CCRs) de seu cliente. Por fim, a generalização dos ganhos N
A
terapêuticos, o calcanhar de Aquiles dos tratamentos comportamentais, está L
A
N
O
I
embutida nos procedimentos da FAP, quando tenta garantir que o ambiente T
C
N
terapêutico seja funcionalmente semelhante ao ambiente cotidiano do cliente. U
F
#
Y
P
A
reforçadoras do terapeuta) e diminuindo a frequência dos CCRis (seguidos de
R
E
H
T
respostas de punição, extinção, bloqueio de esquiva). Seguindo esse raciocínio, os
O
H
C
CCRis são mais frequentes no início da terapia e devem diminuir de frequência ao
Y
S
P longo do processo, enquanto os CCR2S devem aumentar de frequência. A terceira
C
I
T classe de comportamentos clinicamente relevantes, os CCR3S, também tende a
Y
I
A
N
A aumentar de frequência no decurso das sessões de terapia, apesar de não ser o
L foco do trabalho em sessão.
A
N
O
M Sendo assim, a proposta de trabalho da FAP é totalmente compatível com a
C
N
U
h análise do comportamento, podendo ser considerada como um novo enfoque
-
L sobre o processo clínico calcado no behaviorismo radical, e não um novo
A
N
O
I corpo teórico.
C
N
U
F
Esse resgate dos preceitos da análise do comportamento trazido pela FAP
A
C
para dentro da relação terapêutica tem sido bastante atraente para nós, e a
I
ÍT
L temos usado com frequência nos atendimentos clínicos discutidos em nosso
A
N
A
grupo de supervisão. Em nossa experiência, quando discutimos as intervenções
A
I
P
A
R
E FAP realizadas nos diferentes atendimentos, fica evidente a segurança de que
T
O
C
I
estamos nos apoiando nos principais preceitos da análise do comportamento. E,
S
P
nesse sentido, podemos dizer que a proposta da FAP funciona suplementando a
observação dos terapeutas analítico-comportamentais durante os atendimentos.
L
discutir com propriedade as perguntas levantadas, alguns membros do grupo
A
T
N
E começaram a realizar pesquisas clínicas experimentais. Sendo assim, a FAP passou
M
A a ser utilizada como uma variável de pesquisa a fim de verificar seu efeito sobre o
T
R
O
P processo terapêutico ou buscando-se a identificação das variáveis da própria FAP
M
O que a torne uma terapia efetiva.
C
-
O
C
I
F
Quando tais pesquisas foram iniciadas, um dos desafios encontrados foi o
I
A de utilizar a FAP de forma sistemática respeitando o delineamento de pesquisa
N
A
A
R definido, uma vez que deveríamos alcançar o controle metodológico experimental
A
R
L exigido em uma pesquisa. Com base nessa tentativa de uso da FAP, novas dúvidas
sobre sua prática e outras sobre questões metodológicas surgiram, aumentando
216 no sso esc op o de investigação.
Y
P
A
risco de desistência). Logo após, seguiu as recomendações de Callaghan
R
E (2006) sobre a introdução da FAP: no início do delineamento experimentai, a
H
T
O
H pesquisadora forneceu uma explicação sobre a FAP numa tentativa de diminuir
C
Y
S qualquer impacto negativo que esse tipo de intervenção pudesse causar. A
P
IC
T
explicação abrangeu alguns pontos importantes citados por Callaghan (2006),
IY
A
N
A tais como: 1) as diferenças entre a relação e o contexto terapêutico e outras
L
A
relações e contextos fora da terapia nos quais o cliente se engaja; 2) a premissa
N
IO
I da FAP de que os problemas que ocorrem fora da terapia entre o cliente e as
C
N
U
K
outras pessoas também podem ocorrer em sessão, no relacionamento com
L
o terapeuta; e 3) a utilidade de intervir nos comportamentos que ocorrem em
A
N
OI sessão para produzir melhoras.
C
N
-U
F
Essa explicação pode ser mostrada com 0 trecho retirado da sessão da
A cliente Roberta:
IC
ÍT
L
A
N
A
I; Roberta, deixa eu te explicar uma coisa. Lembra que eu comentei com
IA
P
A
R você sobre a minha pesquisa de doutorado?
E
T
O
C
C.: Lembro sim. Aquela qu e a gente ia fic ar falando da gente, da nossa
I
S
P sessão. (Risos)
T.: Então, vamos retomar um pouco isso.
C.: Tá bom.
T.: Eu estou querendo estudar um pouquinho sobre 0 que 0 terapeuta
fa z que pode pro duzir algum as melh oras no cliente. E assim eu tenho
alguns procedimentos que pode m fo ca r no que acontece na nossa
relação aqui em terapia, ou que podem fo car nas co isas que acontecem
lá fora .
L
A
NT C.: Hum hum.
E
M
IA
T.: Tudo isso porque a gente parte da premissa qu e a relação terapêutica,
R
O ou seja, a relação que você estabelece comigo é especial e pode ser um
P
M
O
C
-
instrumento capaz de te ajudar a meíhorar: A gente já sabe que aform a
O
lC
h
como você se comporta lá fora com as pessoas do seu cotidiano será
L
A
N replicada aqui comigo... algumas dificuldades que você tem lá for a vão
A
A
I
P também aparecer comigo.
A
R
T
E C.: Hum hum.
T: E, acontecendo aqui comigo, eu posso sinalizar pra você, a gente pode
218 conversar sobre 0 ocorrido, e eu posso sinalizar os meus sentimentos
Y
com relação ao seu comportamento. Aí, discutindo tudo isso, a gente P
A
R
L
vai pod er melhorar a cada sessão. H
T
O
C.: O k, acho que vai ser engraçado. (Risos) H
C
Y
S
P
C
Além desses cuidados com a preparação prévia dos clientes, para que o I
T
Y
L
delineamento fosse bem-sucedido, Claudia tentou definir, de forma clara, quais A
N
A
l
diferenças haveria em sua atuação entre as sessões da fase de introdução da FAP A
N
O
I
e aquelas da fase de retirada, ou seja, como deveria agir nas sessões FAP e nas T
C
N
sessões não FAP. U
F
Na busca por uma resposta, foi necessário refletir sobre o passo a passo do L
A
N
terapeuta que definisse sua atuação como dentro do previsto pela FAP. Para O
I
C
N
isso, procuramos conversar, em reuniões científicas, com colegas clínicos que U
F
utilizavam a FAP em sua prática clínica. Não obtivemos as respostas desejadas, A
CI
ÍT
pois nossos colegas ora comentavam, de forma geral, que a FAP era uma forma A
L
N
A
de intervenção ou técnica, ora relatavam aspectos da relação terapêutica; mas
A
l
P
não conseguiam detalhar o que faziam em sessão que lhes dava a clareza de que A
R
E
T
estavam utilizando a FAP. O
C
I
S
P
Ainda na busca de respostas, nosso grupo contatou o Prof. Dr. Jonathan Kanter
da Universi ty o f Wisconsin~Milwaukeer que também estava às voltas com o desafio
de conduzir uma pesquisa em FAP de forma experimental (Kanter et al., 2006). No
primeiro momento, Jonathan nos informou de que eles estavam tentando definir
uma sessão FAP de forma a tornar possível iniciá-la repentinamente no meio da
terapia. Ele estava visando também à condução de um de lineamento experimental ,
no qual a FAP seria uma variável a ser introduzida (como em um delineamento do
tipo A-B, no qual B é fase FAP). Nesse sentido, estavam trabalhando com a ideia L
A
T
de que, para caracterizar o início da utilização da FAP, o terapeuta deve responder NE
M
contingente, em alta frequência, aos CCRis (Kanter, comunicação pessoal, 2007). A
T
R
O
Além de responder contingentemente aos CCRis, como proposto por jonathan, P
M
O
Claudia acreditou ser importante seguir cada uma das cinco regras descritas nos -C
O
C
livros da FAP de forma sequencial, a fim de não deixar de lado nenhum aspecto 7
I
Í
L
A
importante apresentado pela abordagem. Ao conduzir suas sessões seguindo tal N
A
sequência, Claudia verificou os ganhos obtidos em sessão e acabou por definir IA
P
A
R
que, para sua pesquisa, uma sessão FAP deveria ser aquela que contivesse as L
T
cinco regras descritas nos livros da FAP, de forma sequencial. Anos depois, o
grup o de Jonath an sistematizou como seria essa seq uên cia lógica. De acord o 219
• -
Y
P
A
com Weeks, Kanter, Bonow, Landes e Busch (2012), a característica principal dessa
R
E interação lógica seria que as cinco regras da FAP fossem realizadas na sequência.
H
l
O
H Não seria apenas por uma conveniência didática, e sim uma sistematização de
C
Y
S
P como as interações FAP efetivas geralmente ocorriam. Dessa maneira, havia um
llC
Y
desenvolvimento natural da sessão que ia desde a identificação das semelhanças
L
A
AN entre os problemas do cotidiano com os comportamentos emitidos em sessão
L
A
(Regra 1) a subsequente generalização dos problemas do cotidiano para a relação
N
Ü terapêutica mediante evocações do terapeuta (Regra 2), aplicações terapêuticas
II
C
N
U
I
das consequências ao comportamento problema na tentativa de evocar e modelar
-
L
o comportam ento de melhora (Regra3) , aval iação do terapeu tade com o a int eraçã o
A
N afetou o cliente naquele momento (Regra4) e generalização dos comportamentos
O
I
C
N
U de melhora emitidos em sessão para a vida cotidiana (Regra 5).
F
#
Y
evocação dos CCRs do cliente, o que traz incômodos ao terapeuta, como o próprio P
A
R
medo ou o desconforto de colocar seu cliente em uma situação potencialmente E
H
T
O
desagradável. Além disso, envolve a descrição de sentimentos e aspectos da H
C
Y
história do próprio terapeuta como forma de evocar e consequenciar CCRs e, S
P
saber claramente os motivos para qualquer uma das decisões. Recuar em algumas
poucas sessões pode ser bastante produtivo dentro de uma terapia FAP, pois
manejar CCRs é uma tarefa em geral bastante cansativa tanto para o terapeuta
como para o cliente. A emissão de CCRs, muitas vezes, envolve a ocorrência de
respostas emocionais do cliente e o reconhecimento, e consequencictção adequada
do terapeuta envolve grande atenção, envoivimento e possível exposição do
terapeuta. Na experiência do nosso grupo, pudemos observar que, no início de L
A
nossas pesquisas, quando não tínhamos experiência prévia em conduzir sessões T
N
E
M
FAP, aplicar a FAP, de forma mais frequente, era muito cansativo. Terapeutas e T
A
R
O
clientes saíam exaustos dos atendimentos. Um dos terapeutas do grupo ouviu P
M
O
de dois de seus clientes, após 30 minutos de sessão, falas como Vamos encerrar C-
O
por ho/e e, ao término de uma dessas sessões, Hoje foi punk!, o que indica grande IC
ÍT
L
A
impacto dessas sessões sobre eles. No entanto, com a experiência adquirida na N
A
condução dessas sessões, os terapeutas relataram que 0 cansaço diminuiu ao A
I
P
A
R
longo do processo, não sendo tão intenso como no início da aprendizagem de L
T
Y
P
A
em virtude de esta se tornar aversíva. E, em razão disso, parece-nos que não
R
E necessariamente todas as sessões precisem ou devam ser FAP, mesmo que o
H
T
O
H processo terapêutico o seja.
C
Y
S De qualquer forma, muitos aspectos devem ser levados em consideração para
P
IC que uma terapia FAP seja implementada, e vale destacar um pouco mais quais são
T
Y
L
A
N
A eles. Podemos dizer que o primeiro passo é deter os conhecimentos teóricos da
L
A
terapia analítico-comportamental e estar familiarizado com a proposta da FAP, de
N
O
I Kohlenberg e Tsai (1991/2001). Em seguida, é preciso realizar uma conceituação de
T
C
N
U
F
caso compatível com a FAP. Essa conceituação é uma etapa muito importante para
-
L
ter definição e clareza dos CCRs a serem modelados (Tsai, 1991/2001); porém, ela
A
N
O
por si não basta para que a FAP seja implementada. É preciso aplicar as regras já
G
N citadas, as quais aumentariam a probabilidade de 0 terapeuta atentar para 0 que é
U
f
L
do reforçamento de CCR2S que ocorrem na interação terapêutica (Regra 3).
A
T
EN Apesar de bastante simples na teoria, diversas dúvidas surgiram durante as
M
A
T
supervisões do grupo sobre as formas de conduzir tal modelagem de repertório
R
O no cliente. Uma dessas dúvidas era: quando falamos de nossos sentimentos para
P
M
O
-C
0 cliente ou qu and o an alisam os noss a interação com 0 cliente, estam os faz end o
O
IC FAP, estamos modelando repertório!’ Essa era uma maneira que comumente
T Í
L
A observávamos os participantes do grupo descrevendo como utilização da FAP. A
N
A
A I
P depender da função com a qual descrevemos nossos sentimentos para nossos
A
R
E
T clientes ou analisamos a interação que temos com eles, talvez estejamos seguindo
algumas das regras que formam uma interação da FAP. Porém, a ideia central da FAP
222 está so br e a modelagem de CCRs que ocorre na interação terapêutica. Ademais, falar
Y
sobre sentimentos ou analisar a interação pode fazer parte dessa modelagem ou A
P
R
mesmo de tentativas de generalização do comportamento modelado na interação IE
1
1
para fora da sessão (Regra 5). Mas tais intervenções não adquirem a mesma força O
H
C
Y
se feitas de forma isolada. Sem a sequência das regras propostas pelos autores e S
P
Como discutimos até aqui, sabemos que a FAP propõe que o responder N
A
A
contingente do terapeuta aos problemas e às melhoras do cliente é 0 que altera os L
A
N
padrões comportamentais do cliente, trabalhando-se com a ideia de modelagem IO
T
C
N
de repertório. Sabemos também que, para que a modelagem desse novo U
F
-
repertório ocorra, em muitos casos é necessário evocar inicialmente as mudanças L
A
N
comportamentais. Isso suscita a seguinte questão: com que frequência deve-se O
I
C
N
tentar evo car as mudanças no rep ertório do cliente e quanto do re spo nd er continge nte U
F
do terapeuta é necessário para que tal mudança se mantenha? Acreditamos que A
CI
ÍT
não há uma resposta para essa pergunta. Isso porque as variáveis pessoais do L
A
N
A
terapeuta, do cliente e mesmo dos CCR2S escolhidos para serem evocados e
IA
P
modelados influenciam muito na forma e frequência com que as respostas são A
R
E
T
dadas aos CCRs e na forma como eles vão sendo modificados. Como já apontado, O
C
1
S
a FAP é uma abordagem terapêutica idiossincrática e, a respeito disso, as variáveis P
Y
P É necessário levar em consideração a possibilidade de sessões FAP a se
A
R
E tornarem aversivas tanto para o terapeuta quanto para o cliente, em especial nos
H
T
O
H
C
momentos em que se visa a modelar mudanças comportamentais significativas;
Y
S
P por isso, é importante analisar as escofhas feitas em relação aos CCRs do cliente.
IC Muitas vezes temos clientes que apresentam uma alta frequência de CCRis que
T
IY
A
N
A estão, aparentemente, "prontos” e "disponíveis” para a modelagem. Entretanto,
L o uso de reforçamento diferencial na modelagem dos CCRs envolve extinção
A
N
O
II
C
e/ou punição, o que aumenta a aversividade da sessão FAP se não forem
N
U aplicados adequadamente. Uma vez que é muito comum que CCRis dominem
l-
-
L o início de terapia, o terapeuta precisa decidir quando e quão frequente ele vai
A
N
IO
C
responder contingente a eles. Mesmo em baixa frequência no início da terapia,
N
U os CCR2S podem ser uma alternativa para minimizar os efeitos aversivos de tais
F
A
IC procedimentos, uma vez que o terapeuta pode optar por responder contingente
ÍT
L
A
N a eles em maior frequência do que aos CCRis. Uma alternativa é selecionar uma
A
IA
ou algumas topografias de CCRs para modelar (e não todas), uma vez que esses
P
A
R comportamentos podem apresentar diferentes topografias, mas pertencer à
E
T
O
IC
S
mesma classe funcional. Por isso, não é preciso responder a todas as topografias
P
de CCRs apresentadas, pois o trabalho de modelagem feito com alguns pode ser
generalizado para os demais da mesma classe. Em razão disso, a terapia pode ser
mais lenta quando os CCRis ocorrem em alta frequência.
No caso de Roberta, por exemplo, uma das clientes apresentadas neste livro,
o terapeuta observou a necessidade de lidar com uma sensibilidade exacerbada
da cliente aos sinais de ameaça real ou inferida no contexto da relação terapêutica,
como é típico nos casos de Transtorno de Personalidade Borderline. Em vista disso,
L
T
A foi necessário que o terapeuta fosse mais cuidadoso do que normalmente o era
N
E
M com outros clientes para evocar e modelar os CCRs. Devido à alta frequência de
A
T
R CCR is, oterap eutae nco ntrou difi culdades em s e est abelecer como umaaudiência,
O
P
M
O pois, se punisse cada emissão de CCRi apresentada, provavelmente a terapia se
-C
O
C
I tornaria bastante aversiva. Com isso, o terapeuta levou muito mais tempo do
ÍT
l
A que com outros casos, para evocar e modelar CCR2S. Quando estes ocorriam e o
N
A
A
I
P
terapeuta fazia tentativas de reforçá-los, a cliente discordava e se opunha, dizendo
A
K que não queria mudar. Apenas no decurso dos atendimentos, a cliente acabou por
L
1
Y
Outra pergunta que nos surgiu ante essas questões sobre a condução do P
A
R
L
caso foi a seguinte: qual o critério de alta adotado em uma terapia FAP? A resposta H
I
C
I
adotarmos esse critério. O terapeuta deve estar atento para a manutenção dessa T
Y
I
A
mudança ao longo de algumas sessões, de forma que se garanta uma manutenção N
A
Y
P
A
sistematicidade não parece ser a mesma encontrada nas intervenções propostas
R
E nos delineamentos de pesquisa clínica. Isso é esperado, tendo em vista que a
H
T
O
H pesquisa necessita de um controle experimental mais rigoroso do que a prática
C
Y
S de consultório.
P
L
CCRis), passando a considerar-se apenas mais uma pessoa com a qual o cliente
A
T
N
E estabelece esse modelo de interação (isso não exclui a possibilidade de que seja
M
A
T
algo particular da interação entre terapeuta e cliente). É essa posição assumida pelo
R
O terapeuta que permite um trabalho verdadeiro e intenso na relação com o cliente,
P
M
O
C
-
e o grupo de supervisão muito pode auxiliar na condução de situações desse tipo.
O
C
I
T
Í
Outra característica de nosso grupo de supervisão é que ele é conduzido
L
A
N por todos seus membros de maneira próxima ao que é proposto na FAP. Isso
A
A
I
P
significa que os membros do grupo ficam atentos, durante o relato dos colegas,
A
R
E
T para eventuais dificuldades do terapeuta que podem vir a atrapalhar a condução
do caso, ao impactarem a relação terapêutica (Ti, tal como descritos por Tsai et
226 al., 2009/2011). Quan do os colegas do grup o desc onfiam da oco rrên cia de tais
Y
comportamentos, tentam investigar com o terapeuta essa possibilidade e auxiliá- P
A
R
lo na emissão de respostas na relação com o cliente que levem a melhoras (T2), E
H
T
O
mesmo que estas sejam difíceis para o terapeuta. É importante a ajuda do grupo na H
C
Y
identificação do que está atrapalhando a relação terapêutica: se são dificuldades S
P
♦
Y
P
A
também muitas críticas. Por um lado, pessoas o descrevem como uma experiência
R
E
H enriquecedora, de mudança e autoconhecimento profundos; por outro, muitos
T
O
H
C
têm questionado o porquê de tantas emoções evocadas, as vantagens dessas
Y
S evocações e os embasamentos teóricos e científicos por detrás delas.
P
C
A de todas as dificuldades emocionais que acompanham os CCRs; ao reforçarmos
I
ÍT
A
L naturalmente os CCR2S emitidos (Regra 3), devemos ser naturalmente amorosos
N
A
para manter tais melhoras no repertório do cliente; ao realizarmos análises
IA
P
A
R funcionais sobre toda essa interação (Regra 5), devemos ser bons behavioristas.
E
T
O
C
Acreditamos ser relevante comentar um pouco mais sobre o termo "ser
I
S
P
amoroso”, relacionado à Regra 3. Como citado anteriormente, essa regra tem
sido considerada essencial na condução da FAP, pois é 0 seguimento dela 0
responsável pelo fortalecimento dos CCR2S do cliente em sessão. Desse modo,
como apresentado por Kanter (2011), tal comportamento amoroso diz respeito a (1)
saber 0 bastante sobre seu cliente para conseguir identificar pequenas melhoras
em seu comportamento; (2) saber 0 suficiente sobre relacionamento íntimo para
saber quando seu cliente está apresentando melhora; (3) estar disposto a correr
L
riscos para evocar e reforçar melhoras, principalmente (4) melhoras e sucessos
A
I
N
E de seu cliente serem reforçadores para 0 seu comportamento. Sendo assim,
M está relacionado com a necessidade de atenção, carinho, empatia para com o
A
T
R
O
P cliente, sendo possível compreendê-lo dentro de sua própria história e, portanto,
M
O aceitando-o tal como ele é.
-C
O
IC
T
Entretanto, para que as cinco regras sejam utilizadas da forma como Tsai et al.
Í
L
A (2009/2011) as preveem, é necessário criar uma relação de intimidade, confiança e
N
A
IA
P
respeito entre terapeuta e cliente. Para isso, mais algumas habilidades parecem ser
A
R
ET necessárias ao terapeuta, a saber:
Y
1. Autoconhecimento P
A
R
Parece essencial que o terapeuta esteja atento às próprias dificuldades não E
H
T
O
só em sessão como em sua vida diária, além de conseguir reconhecer seus H
C
Y
sentimentos momentâneos, o que está acontecendo no seu corpo, o que está S
P
evitando, o que está dizendo, o que não está dizendo e os motivos para tudo isso. C
I
T
Y
L
A
N
A
2. Vulnerabilidade I
A
N
O
É preciso que o terapeuta esteja disposto a correr riscos, ou seja, emitir I
1
C
N
respostas que possam ser incômodas para ele, mas que sejam benéficas para seu U
F
-
cliente, diminuindo assim sua esquiva de dificuldades em favor de seu cliente. L
A
N
O
O
N
3. Aproximação emocional U
F
É importante a expressão de reações emocionais verdadeiras, deixando A
IC
ÍT
que seu cliente perceba o impacto que é causado em você, quando isso for I
A
N
A
benéfico a ele.
A
AI
P
tR
T
4. Au torre velaç âo em prol do clien te O
IC
S
É importante também que 0 terapeuta coloque em posição de igualdade em P
O
adquirindo pelo controle por regras. C
I
ÍT
L
Assim como a FAP aposta na modelagem de repertórios dos clientes dentro da A
N
A
relação terapêutica como mecanismo de mudança, parece natural pensarmos que IA
P
A
R
habilidades para a aplicação da FAP tambem sejam aprendidas dessa forma, com E
T
Y
P em (1) conhecer teoricamente as regras descritas pela FAP, (2) aplicar tais regras e
A
R
E (3) aplicá-las estando em uma relação de intimidade, vulnerabilidade e respeito,
H
T
O
H sem deixar de ser uma relação terapêutica. Como muitos e importantes autores
C
Y
S já levantaram (Skinner, 1974; Vargas, 1974; Baum, 1999/1994), existe uma diferença
P
C
I
T
em “saber que" e “saber co mo ”: 0 primeiro envo lve muito mai s 0 seguimento de
Y
L
A
N
A regras a partir da descrição de uma relação de contingência; 0 segundo envolve
L
A
a habilidade de executar o comportamento, que em geral é refinado pelas
N
IO contingências, na modelagem direta.
T
C
N
U
F
Sendo assim, parece importante a criação de um contexto em que o terapeuta
-
L
possa treinar a execução de tais habilidades, desenvolvendo um “saber como’',
A
N levando 0 terapeuta a compreender, de forma mais precisa, as habilidades
IO
C
N
U
F
necessárias à aplicação da FAP; aumentar a habilidade de correr certos riscos
A
C
e agir com coragem no relacionamento terapêutico; aumentar a capacidade
I
T
Í
I
A de compreender o que está ocorrendo no momento entre terapeuta e cliente;
N
A
perceber e responder a momentos-chave em relações terapêuticas; aumentar a
IA
P
RA habilidade de da rfeedbacks que vão modelar melhoras nos clientes (habilidades
LI
O baseadas em Kanter & Villas-Bôas, 2012).
IC
S
P Diante dessas reflexões, acreditamos que workshops, quando conduzidos com
a visão de treinar habilidades terapêuticas, podem ser um contexto que privilegie
o desenvolvimento do repertório do terapeuta. Em nosso grupo, temos defendido
que workshops podem ser muito produtivos quando pensados de forma a:
L
2. auxil iar o contat o de terapeutas co m pensam entos e em oções importantes
A
T
N e pessoais (muitas vezes difíceis e doloridos), mas que promovam
E
M
A
T
autoconhecimento e a capacidade de colocar-se vulnerável - importante
R
O
P em relações significativas;
M
O
C- 3. treinar o uso desse autoconh ecimento e vulnerabilidade util izados em favor
Ü
IC da relação terapêutica.
1
il
A
N
A
IA
P
Possivelm ente os iten s 1 e 2 citados acima auxil iam o terceiro, que p arece o
A
R
E
T mais importante deles, na medida em que auxiliem 0 terapeuta a achar a medida
de vulnerabilidade segura e útil de se colocar como terapeuta, permitindo um
230 olhar para si próprio, entrand o em contato com sentim ento s importan tes que
Y
surgem no contato com cliente, mas achando a medida da intensidade desse P
A
R
contato, pois a terapia é para o cliente, e não para o terapeuta. Em outras palavras, F
H
T
O
estamos falando do treino de habilidades de autoconhecimento e autoexposição, H
C
Y
necessários para promover uma relação de intimidade significativa e real, sem S
P
♦
Y
P Considerando nossa primeira dúvida - se há um período de adaptação no
A
R
E processo terapêutico antes de introduzirmos a FAP, ou seja, se o tempo de terapia
H
T
O
H é variável r elevante para o uso da FAP con cluím os que sim, que pode ser uma
C
Y
S variável importante. Como descrito no texto acima, a pesquisa de doutorado de
P
C
II Claudia considerou o que a pesquisa de Priscilla descobriu: havia a necessidade
Y
L
A
N de um tempo de adaptação à FAP tanto do cliente quanto do terapeuta e, por
A
l isso, foram tomados alguns cuidados na condução de outras pesquisas para que
A
N
IO esse tempo fosse considerado, permitindo, assim, um delineamento experimental
T
C
N
U
F
bem-sucedido.
-
L
A próxima pergunta levantada foi sobre a definição de uma intervenção, sessão
A
N e terapia FAP. Haveria diferenças entre elas? Podemos dizer que uma intervenção
IO
C
N FAP se refere ao uso não sistemático da FAP durante as sessões, ou seja, trata da
U
F
terapia se tornar aversiva, mas sem deixarmos de lado 0 difícil desafio de evocar e
232 consequenciar CCRs.
Y
Por fim, quanto aos questionamentos a respeito do critério de alta que P
A
R
devemos adotar em uma terapia FAP, vaie ressaltar a necessidade de olharmos E
H
T
O
para o ambiente diário de vida do cliente. Apesar de o foco do trabalho da FAP ser H
C
Y
a relação entre terapeuta e cliente ocorrendo em sessão, o objetivo é a melhora S
P
O
C, a FAP foi utilizada com descrições dos CCRs e de seu impacto sobre o terapeuta C
II
Ü
como forma de evocar e prover as consequências aos CCRs. Atualmente, a análise A
N
A
AI
dos dados coletados está em andamento. P
A
R
A pesquisa conduzida por Alessandra Villas-Bôas, por sua vez, visa F
T
Y
P
A
realizado um delineamento do tipo A-B-C-B-C: A diz respeito à condução de
R
E terapia comportamental sem o uso da FAP; em B, a FAP será introduzida com o
H
T
O
H objetivo de modelar CCR2S no repertório do cliente; em C, a FAP será mantida,
C
Y
S mas acrescentando-se a análise das interações ocorridas em sessão e traçando-
P
C
I se paralelos com aquelas da vida diária do cliente. Atualmente, os dados dessa
T
Y
L
A
N
A pesquisa estão sendo coletados.
L
A
Por fim, há ainda uma terceira pesquisa em andamento, realizada por Milena
N
IO Geremias, que visa investigar quanto o responder contingente ocorrido na FAP
T
C
N
U
F
pode auxiliar pessoas com dificuldade de exposição emocional a relatar e contatar
-
L
sentimentos em sessão. Para isso, será realizado um procedimento do tipo A-B-
A
N A-B, no qual A diz respeito à condução de terapia comportamental sem a utilização
O
G
N
U
-( da FAP e B a FAP será introduzida para modelar os CCRs dos clientes. Atualmente
A tal pesquisa também se encontra em fase de coleta de dados.
IC
T
Í
A
L Certamente novas perguntas (e consequentemente novas pesquisas) surgirão.
N
A
Ao menos no momento, estamos apostando nessa forma de pesq uisa experi mental
A
I
P
A
FR em clínica como um bom método para chegarmos a algumas das respostas que
T
O temos procurado. As perguntas que formulamos ao longo do tempo e o método
IC
S
P que escolhemos para responder a elas nos têm dado a segurança de utilizar a
FAP de forma científica e aplicável. Além de nossa própria percepção sobre isso,
foi com grande satisfação que recebemos o reconhecimento do trabalho de
doutorado de Claudia Oshiro que, além de nos ajudar a responder a muitas das
perguntas descritas acima, foi contemplado com o Prêmio Capes de Teses em
2012. Tal premiação mostra a cientificidade avaliada desse método de pesquisa e
a seriedade com a qual tal trabalho foi conduzido, sem deixar de lado os aspectos
I aparentemente não tão científicos com os quais nos deparamos frequentemente
A
T
N
E na condução de uma terapia.
M
A
T
R
O
P
M
O
-C
O
CI
ÍT
L
A
N
A
AI
P
A
R
L
I
S
A
I Callaghan, G. M. (2006). The functional idiographic assessment template (FiAT)
C
N
E system. The Beha vior Analyst Tod ay, 7(3), 357-398.
R
E
F
E
R Catania, A. C. (1999). Apren dizagem: comportam ento, linguagem e cogniçã o. Porto
Alegre: Artmed.
Cordova, J. V. & Scott, R. L. (2001). Intimacy: A Behavioral Interpretation. The
Kanter, j. W., & Vi lias -Bôas, A. A. (2012). Function al Analytic Psychotherapy; Awareness,
Courage, Love and Behaviorism in the Therapeutic Relationship. Workshop
apresentado na Western Michigan University, Kalamazoo, Ml, USA.
Kanter, J. W., Landes, S. J., Busch, A. M., Rusch, L. C., Brown, K. R., Baruch, D. E., &
Holman, G. I. (2006). The effect of contingent reinforcement on target variables
in outpatient psychotherapy for depression: An investigation of functional
analytic psychotherapy. Journal of App lied Beha vior Analysis, 29,463-467.
Koerner, K., Kohlenberg, R. J., & Parker, C. R. (1996). Diagnosis of personality
disorder: A radical behavioral alternative, jo urn al o f Cons ultin g and Clinical
Psychology, 64(6), 1169-1176.
Kohlenberg, R. J., & Tsai, M. (2001). Psicoterapia Analítica Funcional (F. Conte,
M. Delliti, M. Z, Brandão, P. R. Derdyk, R. R. Kerbauy, R. C. Wielenska, R.
A. Banaco, & R. Starling, Trads.). Santo André, SP: ESETEc (Obra publicada
srcinalmente em 1991).
Kohlenberg, R. J., Tsai, M., Kanter, J. W., & Parker, C. R. (2009). Self and Mindfulness.
In: M. Tsai, R. J. Kohlenberg, J. W. Kanter, B. Kohlenberg, W. C. Follette, & G. M.
Callaghan, A Guide to Functional Analytic Psychoterapy: Awareness, Courage,
Love and Behaviorism (pp. 103-130). New York: Springer.
Linehan, M. (2010). Terapia cognitivo-comportamental para transtorno da
perso nalid ad e borderlin e. São Paulo: Artmed.
Lispector, C. (2002). Correspondências. Ed. Teresa Montero. Rio de janeiro: Rocco.
Matos, M. A. (2001). Comportamento governado por regras. Revista Brasileira de
Terapia Comportamental e Cognitiva, III, 51-66.
Meyer, S. B. (2005). Regras e auto-regras no laboratório e na clínica. Em J. Abreu-
Rodrigues & M. R. Ribeiro (Org.). Aná lise do Co mportam ento: Pesquisa, Teoria e
Aplicação, pp. 211-227. Porto Alegre: Artmed.
Meyer, S. B. (2008). Functional analysis of eating disorders, journ al of Behavior
Analysis in Health, Sports, Fitness and Medicine, 1,1, 26-33.
Meyer, S. B., & Vermes, J. S. (2001). Relação Terapêutica. In: B. Range, Psicoterapias
Cognitivo-Com portam entais: um diálogo com a psiqui atri a. Porto Alegre: Artmed.
Meyer, S. B., Oshiro, C., Donadone, J. C., Mayer, R. C. F. & Starling, R. R, (2008).
Subsídios da obra Comportamento Verbal de B. F. Skinner para a terapia
analítico-comportamental. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e
Cognitiva, 10, 105-118.
S
Strawson, G. {1999). The Self and the SESMET. journ al o f Consciousness Studies, 6, A
I
C
N
Ê
n-4, 99 - 135- R
E
F
Summers, R. F., & Barber, J. P. (2003). Therapeutic Alliance as a Measurable E
R
O
IC
ÍT
L
A
N
A
A
I
P
A
R
E
T
analítico-comportamental. Frutoeste
de supervisão de casos clínicos, da prática
livro
é um marco e um convite prazeroso ao
estudo e à condução constante e segura
da análise do comportamento clínico, em
relação terapêutica.
28/8/2015
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKSGROUPS:perpetuando impressões! 28/8/2015