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Marinha e Imperio No Brasil-O Ensino Naval
Marinha e Imperio No Brasil-O Ensino Naval
O presente estudo tem como foco o ensino militar naval no Brasil do século XIX, que teve
grande importância na formação do ensino superior, bem como relevância política, científica
e técnica, a exemplo de sua atuação no que se refere à construção de navios que participaram,
por exemplo, da Guerra do Paraguai. Parte de referências cronológicas e analíticas da
historiografia consultada, junto a Liberato Barroso (1897), Fernando de Azevedo (1958),
Gilberto Freire (1959), João Batista Magalhães (1998) e Dermeval Saviani (2007), onde o
ensino naval é visto com notoriedade, desde 1808, com a criação da Academia Real da
Marinha, como instituição de nível superior, quando o Rio de Janeiro se torna a capital do
Reino de Portugal, Brasil e Algarve, em face da transferência da Corte de Portugal para o
Brasil, em função da invasão francesa, o que explica porque era destacada a preocupação
daquela Academia com a construção naval. Nas décadas seguintes, em diferentes períodos,
demarcados por rupturas e rearranjos políticos, que caracterizam a construção do Brasil
independente e imperial, o ensino naval terá apoio governamental e até simpatia de alguns
segmentos sociais, como está detalhado mais abaixo. Evidencia que: 1) nesse período, o
ensino naval contou com a colaboração de oficiais estrangeiros, especialmente dos ingleses,
que ajudaram na organização da armada brasileira; 2) o ensino militar foi um dos caminhos de
acesso ao ensino superior, especialmente, para os estratos médios da sociedade, uma vez que
os alunos que se formavam nessas escolas, estavam capacitados, não apenas em assuntos
tecnicamente militares, como da esfera política, social e econômica, levando-os a um preparo
profissional que lhes permitia exercer cargos, no âmbito do poder público; 3) além da
preocupação de formar seus oficiais, o ensino militar naval cuidava de capacitar um corpo
docente, para fazer parte do quadro de professores da Academia da Marinha, o que para
muitas famílias abria a perspectiva de seus filhos ascenderem, intelectual e socialmente. Esta
descrição analítica integra a nossa tese de Doutorado, que se encontra em fase de cotejo de
fontes para mapeamento cronológico e exame da disseminação territorial das escolas de
ensino militar naval no País. Os resultados aqui apresentados evidenciam a importância desse
campo de ensino para o entendimento histórico da formação da elite militar e civil, no período
aqui assinalado, que, além disso, se mostrou uma oportunidade de inserção e ascensão
profissional, intelectual e social para os moços de origem familiar socialmente bem situada e
remediada, para depois compor as forças armadas do Brasil, à medida que este se organizava
como nação independente e imperial.
Embora as duas instituições estivessem ligadas pela unidade militar, cada uma
apresentava sua especificidade, uma voltada para domínio da terra e outra do mar, a partir
de 1838 conquistaram sua identidade, autonomia e espaço no novo cenário nacional.
Mas de acordo com Barroso, as escolas navais nesse período não eram acessíveis a
toda a população, somente os “aspirantes ao posto de guarda-marinha” e os que
conseguissem “licença especial do governo” (Idem, idem, p. 21). Os professores, por sua
vez, prestavam concurso e tinha formação “cathedratica”, nas diversas áreas de
conhecimento náutico militar. As escolas, acima citadas, tinham como objetivo específico
aperfeiçoar a profissão militar da Marinha, que vinha se defrontando com a modernização
da indústria náutica e sua aparelhagem de guerra.
Saviani ressalta que, no final do Império, quando Liberato Barroso ocupou a pasta
de Ministro da Instrução Pública, a educação era vista como “elemento de conservação do
status quo e fator de integridade nacional”. (2007, p.135) Havia, portanto, a preocupação
em disseminar a educação em todo o território nacional, momento em que o ensino militar
percebeu e aproveitou a oportunidade para criar várias escolas e melhorar o quadro de
oficiais de suas instituições.
Nos depoimentos colhidos por Gilberto Freire, o ensino militar, dava ênfase ao
esforço particular de cada aluno. Nesse depoimento, o ex-aluno da Escola Militar do Ceará,
Raimundo, afirma que:
O que parecia não ocorrer nas Escolas e Colégios oficiais, uma vez que o princípio
da meritocracia não era respeitado, como cita um aluno em depoimento colhido por
Gilberto Freire,
Não somente o Imperador, mas seus Ministros também não respeitavam os critérios
de aprovação nos colégios, como citou outro aluno do Colégio Pedro II, em depoimento
colhido por Gilberto Freire
[...] Carlos Luís guardou a lembrança até a velhice, sem nunca o ter
divulgado: “Tinha Benjamim Constant um filho, seu homônimo, no 6°
ano do Colégio Pedro II (Externato). Por êle fui procurado quase no
encerramento do ano letivo de 1889, creio que a 26 de novembro, para
que, como setianista, encabeçasse as assinaturas de uma petição coletiva
por êle trazida de casa, na qual os alunos de todos os anos solicitavam
que o [novo] Ministro da Instrução [Benjamim Constant] lhes concedesse
dispensa do ato de exame. Tratando-se de rapaz folgadão tomei o pedido
como pilhéria, certo de que o pai não acederia ao pedido, mas depois de
pequeno diálogo fiquei sabendo que entre pai e filo tudo tinha sido
prèviamente concertado [....] cheio de surprêsa do que ouvia, prometi
assinar não no início, mas no meio, e assim o fiz, para minha recusa não
fosse mal interpretada. Recebida a petição, foi logo deferida. Um dos
beneficiados seia Benjamim Filho, com notas baixas em História Geral.”
(GILBERTO FREIRE, 1959, p. 109)
Considerações Parciais
Referências
ALMEIDA, José Ricardo Pires de. História da instrução pública no Brasil, 1500 a 1889.
São Paulo: EDUC; Brasília, DF: INEP/MEC, 1989.
FREIRE, Gilberto. Ordem e Progresso. Rio de Janeiro: José Olímpio Editora, 1959.
LOPEZ, Adriana; MOTA, Carlos Guilherme. História do Brasil: uma interpretação. São
Paulo: Editora Senac São Paulo. 2008.
NOTAS
i
Graduada em Pedagogia e Mestre em Educação Brasileira, pela Universidade Federal do Ceará (UFC), onde
é atualmente Doutoranda, da Linha de História da Educação Comparada (LHEC), no Programa de Pós-
Graduação em Educação Brasileira, sob a orientação da Professora Doutora Maria Juraci Maia Cavalcante.
E-mail: simonevmesquita@yahoo.com.br
ii
João Batista Magalhães foi Coronel do Exército, Professor da Escola de Comando do Exército e da Escola
de Estado-Maior, além de sócio do Instituto de História e Geografia Brasileiro e do Instituto de Geografia e
História Militar do Brasil. Durante a pesquisa de mestrado, encontramos um exemplar do seu livro “Evolução
Militar do Brasil”, no CMF – Colégio Militar de Fortaleza, que traz um panorama da História Militar, desde
o período do Brasil Colônia, apontando marcos históricos relevantes para a pesquisa. A pesquisa encontra-se
em fase de cotejo, na buscar de fontes bibliográficas, junto as bibliotecas nessas instituições, para melhor
compreender a participação do ensino militar no cenário educacional brasileiro.
iii
História dos navios brasileiros. http://www.naviosbrasileiros.com.br/ngb/P/P088/P088.htm> consultado dia
01/09/2012, 17h e 27min.
iv
Foto retirado do livro Companhia de Aprendizes Marinheiro do Piauí de Rozenilda Castro, 2008, p.40.