Você está na página 1de 19

Edição Nº 19

OUT/2016

O CONCEITO DE GÊNERO EM SCOTT, BUTLER E PRECIADO,


APROXIMAÇÕES, DISTANCIAMENTOS E A CONTRIBUIÇÃO PARA O
OFÍCIO DO HISTORIADOR 153

Natanael de Freitas Silva


Mestrando em História (PPHR/UFRRJ/CAPES)
E-mail: natanaelfreitass@gmail.com

RESUMO:
Atualmente os estudos de gênero desfrutam de considerável reconhecimento acadêmico, social e
político. Inegavelmente, a categoria gênero surgiu no bojo do debate sobre a História das
Mulheres ao longo das décadas de 1960/70 e passou a ser usada como uma possibilidade de
teorização sobre a diferença sexual oferecendo uma alternativa às explicações que pautavam no
biológico as diferenças sociais e sexuais existentes. Em vista disso, este texto objetiva
apresentar algumas aproximações e distanciamentos nas concepções de gênero propostas por
Joan Scott, Judith Butler e Beatriz/Paul Preciado, focalizando, principalmente, a desconstrução
do binarismo gênero/sexo, natureza/cultura e evidenciar a contribuição dessa categoria para o
ofício do historiador.

Palavras-Chave: Gênero, historiografia, discurso.

ABSTRACT:
Nowadays gender‟s studies enjoy considerable academic recognition, social and
political. Undeniably, the gender category emerged in the midst of the debate on the
History of Women over the decades of 1960/70 and went on to be used as a possibility
of theorizing about sexual difference by offering an alternative to explanations which
marked social differences in the biological and existing sex. In view of this, this paper
aims to present some similarities and differences in gender proposed designs by Joan
Scott, Judith Butler and Beatriz/Paul Preciado, mainly focusing on the deconstruction of
the binary gender/sex, nature/culture and highlight the contribution of this category to
the historian occupation.
Keywords: Genre, historiography, speech.

Atualmente os estudos de gênero desfrutam de considerável reconhecimento


acadêmico, social e político. Uma vasta, expressiva e impactante produção bibliográfica
na área das ciências humanas, além de revistas acadêmicas, grupos de pesquisas e
Edição Nº 19
OUT/2016

eventos diversos, tem articulado o conceito e/ou categoria gênero a uma diversa e
significativa série de temas e discussões teórico-metodológicas como: Gênero e
Identidades; Gênero e Escravidão; Gênero e Racismo; Gênero e Feminismos; Gênero e
Família; Gênero e Saúde; Gênero e Sexualidade; Gênero e Masculinidades; Gênero, 154

Parentesco e Conjugalidades; Gênero e Poder; Gênero e Sociedade etc.


Um dos pontos fundamentais desta proposta analítica é a percepção de que o
gênero é um dos modos de compreender e analisar as históricas concepções de
masculinidades e feminilidades e uma forma de evidenciar as hierarquias entre os sexos,
apontando a historicidade do “ser homem” e “ser mulher” numa determinada sociedade,
segundo uma relação espaço-tempo. Deste modo, amplia-se o debate em torno das
relações de gênero evidenciando o seu caráter não natural, denunciando as
desigualdades e as históricas opressões e hierarquias entre os sexos.
Por outro lado, não posso deixar de registrar que, como campo de investigação das
relações sociais do sexo, os estudos de gênero têm sofrido certas resistências,
protagonizado por setores conservadores da sociedade que o tem denominado,
equivocadamente, de “ideologia de gênero”, produzindo uma espécie de “pânico moral”
(MISKOLCI, 2007) contra toda e qualquer reflexão que coloque em xeque os
privilégios da heteronormatividade1.
Inegavelmente, a categoria gênero surgiu no bojo do debate sobre a História das
Mulheres ao longo das décadas de 1960/70 (MATOS, 1998; RAGO, 1998; PERROT,
2006) e passou a ser usada como uma possibilidade de teorização sobre a diferença
sexual oferecendo uma alternativa às explicações que pautavam no biológico as
diferenças sociais e sexuais existentes. Segundo a historiadora francesa Michele Perrot,
considerada a grande mestra da História das Mulheres,2 afirma que esta passou por uma
significativa transformação (PERROT, 1995, 2006; SCHVARZMAN, 1995),
complexificando o olhar para além das mulheres e incorporando as relações entre os
gêneros e, consequentemente, as masculinidades.
Como bem aponta a historiadora Margareth Rago, a entrada maciça das
mulheres no campo universitário entre os anos 60/70 do século XX, não só como
Edição Nº 19
OUT/2016

estudantes, mas como produtoras de conhecimento, de certa forma, provocou uma


“feminização do espaço acadêmico”, como também desestabilizou uma produção
científica masculina e heterossexista. Elas não só reivindicaram seu lugar na História,
como demandaram novos temas e novas abordagens. O que era considerado como 155

característico do(s) mundo(s) feminino(s) ganhou visibilidade no relato histórico.


“Histórias da vida privada, da maternidade, do aborto, do amor, da prostituição, da
infância e da família, das bruxas e loucas, das fazendeiras, empresárias, enfermeiras”
(RAGO, 1998, p.90). Logo, novos mundos foram descortinados, novas práticas
problematizadas e novas interpretações forjadas. Indo além da inclusão das mulheres no
discurso histórico, tratava-se “de encontrar as categorias adequadas para conhecer os
mundos femininos, para falar das práticas das mulheres no passado e no presente e para
propor novas possíveis interpretações inimagináveis na ótica masculina” (Idem, 1998,
p.92).
Desde então, uma série de autoras de diversas matrizes teóricas e metodológicas
e de distintos campos do conhecimento como História, Sociologia e Antropologia, vem
discutindo, teorizando e propondo definições para o termo gênero. Posso destacar
nomes como Joan Scott (1990), Heleieth Saffiot (1992), Gaylin Rubin (1993), Margaret
Rago (1998), Linda Nicholson (2000), Donna Haraway (2004), Judith Butler (2013),
Raewyn Connell (2014, 2015), Paul B. Preciado (2014), entre tantas outras e outros.
Todavia, em meio a essa miríade e, às vezes, divergentes definições e proposições em
relação ao gênero, qualquer um de nós estudantes, pesquisadores e militantes pode
sentir-se perdido em qual caminho seguir, qual perspectiva trilhar. Digo isso por que, na
minha percepção, a consistência teórica de uma pesquisa (e me refiro especificamente
aos estudos de gênero) ocorre quando alguns autores conversam minimamente entre si
compartilhando, em alguma medida, um mesmo referencial epistemológico.
Parto da ideia de que a elaboração do nosso referencial teórico é política, pois se
constituem nas lentes que nos permitem olhar e analisar uma determinada realidade,
ademais, como aponta Donna Haraway (1995), o nosso saber sempre é parcial, lacunar e
localizado. Por isso, desconfio e não concordo com uma prática que considero redutora,
Edição Nº 19
OUT/2016

que é o uso instrumental da teoria, uma prática de corte e cola de trechos de obras de
diversos autores/as como um simples argumento de autoridade. Assim, penso que não
basta dizer que trabalho com a noção do autor A, B ou C sem refletir o porquê ou como
cheguei àquela concepção de gênero e não outra. Pois, como nos diz Foucault (1979, p. 156

xxi), “não há saber neutro, todo saber é político”.


Independente de ser entendido como conceito ou categoria, para historiadoras
como Joana Pedro e Maria Izilda Matos, é fundamental uma reflexão mais aprofundada
sobre o termo gênero. Joana Pedro, por exemplo, nos lança a seguinte questão: afinal,
“do que estamos falando quando dizemos “relações de Gênero”? Estamos nos referindo
a uma categoria de análise, da mesma forma como quando falamos de classe, raça/etnia,
geração” (2005, p.78). Também gostaria de destacar que a categoria gênero, bem como
os estudos por ela possibilitados, não é mais o que foi até os anos 1990, ou seja,
sinônimo de mulher ou apenas de história das mulheres. “Falar de gênero, [significa]
deixar de focalizar a „mulher‟ ou as „mulheres‟; [trata-se] de relações entre homens e
mulheres, mas também entre mulheres e entre homens” (PEDRO, 2011, p.273).
Maria Izilda Matos chama atenção para o caráter instável e transitório da
categoria gênero. Segundo a autora, além de reivindicar para si um território específico,
“em face da insuficiência dos corpos teóricos existentes para explicar a persistência da
desigualdade entre homens e mulheres” (1998, p.69), o gênero possibilitou novas
questões, novas temporalidades, ampliou o conhecimento do objeto histórico e
diversificou a documentação. Porém, o que considero mais importante para a nossa
reflexão é que, como categoria analítica, “o gênero apontou a necessidade de se libertar
de conceitos abstratos e universais, bem como, a necessidade de se historicizar os
conceitos e categorias” (MATOS, 1998, p.71), inclusive ele mesmo, além de aceitar a
efemeridade e transitoriedade dos conceitos e da produção do conhecimento.
Em dialógo com Joan Scott, Margaret Rago reconhece que o gênero como
categoria,
não nasce do interior de um sistema de pensamento definido como o conceito
de classes em relação ao marxismo. [Porém] procede de um campo
profundamente diverso daquele que tinha como horizonte a emacipação
social de determinados setores sociais (RAGO, 2006, p.29).
Edição Nº 19
OUT/2016

Entenda-se, o proletariado. Com efeito, e retomo as palavras de Maria Izilda Matos,


o crescimento da produção historiográfica sobre o gênero, ao contrário de
esgotar as possilibidades, abriu controvérsias, instaurando um debate fértil.
Contudo, alguns problemas de definição, fontes, método e explicação 157
persistem, e entre eles a diversidade que envolve a própria categoria gênero
(MATOS, 1998:74).

Não sei se concordo que seja um problema, no sentido negativo do termo, mas,
talvez, um “problema de gênero”, como diria Butler, um problema que desorganiza
mass também abre novos caminhos e possibilidades analíticas.

O GÊNERO EM SCOTT, BUTLER E PRECIADO

Ao longo da minha investida nesse campo minado, tenho me aproximado das


proposições de três autoras de ampla ressonância, são elas: Joan Scott, com o texto
Gênero: uma categoria útil de análise histórica (1990), Judith Butler e o seu Problemas
de gênero (2013) e Beatriz Preciado (2014) com o seu provocativo Manifesto
contrassexual. O exercício aqui proposto é o de identificar possíveis aproximações e
distanciamentos nas definições da categoria gênero, aventado por elas. Todavia, não
pretendo com esse exercício comparativo esgotar e dar conta de todas as proposições
desses trabalhos, a ideia é apontar algumas aproximações e distanciamentos como um
exercício de historicizição da categoria gênero e apresentar como o mesmo pode ser
profícuo no ofício do/a historiador/a.
Primeiramente, parto da ideia de que elas são instauradoras de discursividade,
como sugere Foucault, no seu texto o que é um autor? (2006), pois além de assegurar
uma posição classificatória, “instaura um certo grupo de discursos e seu modo singular
de ser” (FOUCAULT, 2006, p. 278), ou seja, a partir de suas obras, uma série de
pesquisas e reflexões são formuladas e fundamentadas, sedimentando um determinado
modo de fazer e pensar as relações de gênero. Um dos outros pontos de aproximação
entre elas é a utilização e apropriação das noções focaultianas de poder, verdade,
sexualidade e discurso, o que aponta a necessidade de aprofudamento e conhecimento
Edição Nº 19
OUT/2016

do saber proposto pelo filósofo do cuidado. É pensar, por exemplo, no efeito Foucault
na historiografia como aponta Margaret Rago (1995) e Albuquerque Júnior (2004) e
também na acolhida de Foucault pelo movimento feminista (RAGO, 2014).
De modo geral, elas são consideradas pós-estruturalistas, que, segundo Miriam 158

Pilar Grossi, esta corrente de pensamento entende que “o gênero se constitui pela
linguagem, por aquilo que muitas autoras definem [como] discurso” (2004, p.5). Para
Scott, “o discurso é um instrumento de orientação do mundo”, logo, ela entende que a
“linguagem não designa somente as palavras, mas os sistemas de significação - as
ordens simbólicas - que antecedem o domínio da palavra propriamente dita, da leitura e
da escrita” (Scott, 1990, p.11). Aqui é evidente a influência de Foucault que entende o
discurso “como uma série de segmentos descontínuos, cuja função tática não é uniforme
nem estável, [...] mas, ao contrário, como uma multiplicidade de elementos discursivos
que podem entrar em estratégias diferentes” (FOUCAULT, 1988, p.111). Scott
reconhece que a linguagem não é tudo, pois, “sem o sentido não há experiência; sem
processo de significação não há sentido” (SCOTT, 1990, p.11). Em seu texto A
invisibilidade da experiência, Scott sublinha que a experiência não deve servir como
uma evidência para ilustrar a diferença (de sexo, gênero ou sexualidade), pois
não são indivíduos que têm experiências, mas sim os sujeitos que são
constituídos pela experiência. Experiência nesta definição torna-se, então, não
a origem de nossa explanação, não a evidencia legitimadora (porque vista ou
sentida) que fundamenta o que é conhecido, mas sim o que procuramos
explicar, sobre o que o conhecimento é apresentado (SCOTT, 1998, p.304).

Margaret Rago, em diálogo com Scott, corrobora essa ideia ao dizer que:
a experiência, portanto, deixa de ser vista como autenticidade do vivido,
como evidencia em si mesma, assim como o discurso deixa de ser
considerado como mera abstração conceitual, reflexo da realidade, a partir da
oposição binária que hierarquiza teoria e prática, pensamento e ação (RAGO,
2013, p.31)

Desta forma, o que Scott está defendendo é a historicidade da própria noção de


experiência, é o “exame crítico de todas as categorias explicativas normalmente
tomadas como óbvias” (SCOTT, 1990, p.11), logo, o potencial produtivo e questionador
da experiência encontra-se no momento em que ela é usada como possibilidade de
exploração do processo de construção das próprias diferenças, por isso, é possível
Edição Nº 19
OUT/2016

pensar historicamente nas hierarquias entre os gêneros, nos processos de produção,


normatização e normalização dos corpos, tomado como ponto de partida, um conjunto
plural de experiências sociais, culturais e históricas que delineiam, e dão sentido, às
experiências de masculinidades e feminilidades. Nas palavras de Margareth Rago: 159
trata-se, nessa referência, de perceber que as subjetividades são históricas e
não naturais, que os sujeitos estão nos pontos de chegada e não de partida
como acreditávamos então; e ainda, que as conexões podem ser estabelecidas
entre campos, áreas, dimensões sem necessidade exterior pré-determinada
(1998, p.91).

Com efeito, o sujeito de gênero não é um dado ontológico, mas um devir, um


sujeito em processo. Nesse sentido, para Scott, qualquer teoria “que não leve [a
linguagem] em consideração não saberá perceber os poderosos papéis que os símbolos,
as metáforas, e os conceitos jogam na definição da personalidade e da história humana”
(SCOTT, 1990, p.11). Na esteira da desconstrução, Butler e Preciado evidenciam como
o discurso heterocentrado atua na produção de corpos-homem e corpos-mulher. Um dos
alvos de suas reflexões é desmontar os binarismos natureza/cultura, homem/mulher,
heterossexualidade/homossexualidade, etc. Diferentemente de Scott, para quem o
gênero “é um elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças
percebidas entre os sexos [e é] um primeiro modo de dar significado às relações de
poder” (1990, p.14), Butler vai propor uma indiferenciação nas noções de gênero e
sexo. Em suas palavras
se o carater imutável do sexo é contestável, talvez o próprio constructo
chamado “sexo” seja tão culturalmente construído quanto o gênero; a rigor,
talvez o sexo sempre tenha sido gênero, de tal forma que a distinção entre
sexo e gênero revela-se absolutamente nenhuma (2013, p.25).

Desta forma, Butler afirma que


o gênero não está para a cultura como o sexo para a natureza; ele também é o
meio discursivo/cultural pelo qual “a natureza sexuada” ou “um sexo natural”
é produzido e estabelecido como “pré-discursivo”, anterior à cultura, uma
superfície politicamente neutra sobre a qual age a cultura (2013, p.25).

Assim ela termina dizendo que “a dualidade do sexo num domínio pré-discursivo é
uma das maneiras pelas quais a estabilidade interna e a estrutura binária do sexo são
eficazmente asseguradas” (2013, p.25). Por isso, e de acordo com Butler, é possível
Edição Nº 19
OUT/2016

entender que as experiências dos sujeitos de gênero não são anteriores ao


acontecimento, pelo contrário, os mesmos são produzidos e constituídos na ação com o
Outro, inseridos numa ampla e complexa rede de relações socioculturais que inscrevem
nos corpos, através da repetição estilizada de atos, uma suposta coerência entre sexo e 160

gênero, produzindo assim corpos-homens e corpos-mulheres, inserindo-os numa matriz


de inteligibilidade. Estas experiências são definidas historicamente, e não
biologicamente.
Isso não quer dizer, como sugerem algumas das criticas simplificadoras e
redutoras ao pensamento dito pós-estruturalista, que se esteja negando a materialidade
dos corpos, a dimensão biopsicossocial dos sujeitos, pois, inegavelmente, é através do
corpo que vivemos, nos movemos, existimos e constituímos nossa posição de sujeito no
campo das históricas experiências de masculinidades e feminilidades. Todavia, se trata
de historicizar os sentidos, os valores atribuídos sobre o corpo que forjam binarismos
classificatórios como belo/feio, normal/anormal, doente/sarado.
Ao analisar as experiências trans, Berenice Bento (2003), Guacira Lopes Louro
(2008) e Simone Ávila (2014) salientam como o gênero é um constructo social, cultural
e histórico e não um dado biológico. Louro alega que ao nascer, o corpo é inserido
numa teia de significados. Através de uma pedagogia de gênero é agenciada uma série
de atributos, gestos, performances que “inscreve nos corpos o gênero e a sexualidade
legítimos” (LOURO, 2008, p.16). Bento destaca, como exemplo dessa estratégia
pedagógica do gênero, que “a ecografia é uma tecnologia prescritiva e não descritiva”
(BENTO, 2003, p.97), com isso, ela chama a atenção ao fato de que antes mesmo de
nascer somos inseridos em uma histórica matriz de inteligibilidade heterossexual.
Para Louro, a afirmação „é um menino‟ ou „é uma menina‟ “inaugura um
processo de masculinização ou de feminilização com o qual o sujeito se compromete”
(2008, p.15). Assim, a ecografia (exame médico aplicado através do ultrassom que
identifica o sexo biológico da criança) é uma das estratégias da biopolítica que
produzem corpos-homens e corpos-mulheres. Nas palavras de Guacira Louro, “o ato de
Edição Nº 19
OUT/2016

nomear o corpo acontece no interior da lógica que supõe o sexo como um “dado”
anterior à cultura e lhe atribui um caráter imutável, a-histórico e binário” (2008, p.15).
Portanto, o ato de interpelar já é uma ação política e não apenas verbal, de
atribuir um lugar para aquele indivíduo. É marcar, definir o sujeito pela sua sexualidade, 161

inserindo-o numa matriz de inteligibilidade, pois ao nascer, o corpo já é inscrito em um


campo discursivo heteronormativo. Assim, entende-se que “o corpo já nasce maculado
pela cultura” (BENTO, 2003, p.98). À vista disso, para autoras como Butler e Preciado,
filósofas contemporâneas e primordiais para os chamados estudos queer,3 o gênero é
entendido como uma sofisticada tecnologia social heteronormativa que produz gêneros
inteligíveis, que, segundo Butler, são “aqueles que, em certo sentido, instituem e
mantêm relações de coerência e continuidade entre sexo, gênero, prática sexual e
desejo” (2013, p.38) e, consequentemente, exclui todos aqueles e aquelas que fogem a
essa norma. Neste caso, como afirma Ávila, “a transexualidade coloca em xeque normas
sociais”, pois implica no reconhecimento sobre “o que é sexualidade para além das
concepções biológicas, obrigando-nos a pensar nas vivências da sexualidade nos
âmbitos privado e público, tanto como prática individual, como prática social e política”
(2014, p.25-26). Como bem observa Guacira Lopes Louro, não se trata de
negar a materialidade dos corpos, mas o que se enfatiza são os processos e as
práticas discursivas que fazem com que aspectos dos corpos se convertam em
definidores de gênero e de sexualidade e, como conseqüência, acabem por se
converter em definidores dos sujeitos (2008, p.80).

Não obstante, e partindo de uma episteme similar, Preciado propõe


primeiramente “uma análise crítica da diferença de gênero e sexo, produto do contrato
social heterocentrado, cujas performatividades normativas foram inscritas nos corpos
como verdades biológicas”, em seguida, sublinha que “a contrassexualidade aponta para
a substituição desse contrato social que denominamos Natureza por um contrato
contrassexual” (PRECIADO, 2014, p.21). Nesse contrato, os corpos não se
reconheceriam mais como homens ou mulheres, mas sim como corpos falantes,
desejantes, renunciando “não só a uma identidade sexual fechada e determinada
naturalmente, como também aos benefícios que poderiam obter de uma naturalização
dos efeitos sociais, econômicos e jurídicos de suas práticas significantes” (Idem).
Edição Nº 19
OUT/2016

O que Butler e Preciado criticam, principalmente, é o binarismo


Natureza/Cultura, presente no paradigma estruturalista, duvidando que exista uma
estrutura universal “da troca reguladora que caracteriza todos os sistemas de
parentesco” (BUTLER, 2013, p.68) como argumenta Lévi-Strauss. E, ademais, elas 162

desmontam o sistema sexo/gênero proposto por Gayle Rubin (1993 e 2003;


MOSCHKOVICH, 2012) que segundo Haraway (2004, p.223):
Rubin examinava a “domesticação das mulheres” na qual as fêmeas humanas
eram o material bruto na produção social de mulheres através da troca nos
sistemas de parentesco controlados por homens na instituição da cultura
humana. Ela definia o sistema sexo-gênero como o sistema de relações
sociais que transformava a sexualidade biológica em produtos da atividade
humana e no qual são satisfeitas as necessidades sexuais específicas daí
historicamente resultantes.

Publicado originalmente em 1975, em seu texto O tráfico de mulheres: notas


sobre a “economia política” do sexo, Gayle Rubin buscava compreender as relações
sociais que transformavam “uma fêmea da espécie” em “uma mulher domesticada”
(RUBIN, 1993, p.2). Alicerçada numa perspectiva marxista, Rubin pressupunha uma
dicotomia entre natureza e cultura. Entretanto, Butler enfatiza que essa alocação do sexo
como elemento pré-discursivo não passa de um efeito do aparato de construção cultural
que “designamos por gênero”. Com efeito, ao apresentar a noção de “identidade
subjetiva” como o quarto aspecto da sua definição do gênero, Scott concorda com a
visão da antropóloga Gayle Rubin de que a psicanálise fornece uma teoria para a
reprodução do gênero, uma descrição da “transformação da sexualidade biológica dos
indivíduos à medida da sua aculturação” (RUBIN, apud SCOTT, 1990:15). Por isso,
Scott enfatiza que as categorias homem e mulher são “ao mesmo tempo categorias
vazias e transbordantes, pois que, quando parecem fixadas, elas recebem, apesar de
tudo, definições alternativas, negadas ou reprimidas” (1990, p.19). Mas ainda assim,
Scott mantém a noção de diferença com o algo inerente do campo biológico, sem
historicizar os sentidos atribuídos à noção de “natureza”.
Entre os diversos pontos abordados por Preciado - seja em relação ao corpo, ao
gênero e à sexualidade-, considero importante a sua concepção de “tecnologia social
heteronormativa”, entendida como um conjunto de “instituições linguísticas como
Edição Nº 19
OUT/2016

médicas ou domésticas que produzem constantemente corpos-homem e corpos-mulher”


(PRECIADO, 2014:28). Tal concepção é forjada a partir da noção de tecnologia de
Foucault. Para a autora,
a força da noção foucaultiana de tecnologia reside em escapar à compreensão 163
redutora da técnica como um conjunto de objetos, instrumentos, máquinas ou
outros artefatos, assim como escapar à redução da tecnologia do sexo às
tecnologias implicadas no controle da reprodução sexual. Para Foucault, uma
técnica é um dispositivo complexo de poder e saber que integra os
instrumentos e os textos, os discursos e os regimes do corpo, as leis e as
regras para a maximização da vida, os prazeres do corpo e a regulação dos
enunciados de verdade (PRECIADO, 2014, p.154).

Deste modo, Preciado vai defender que a noção de “tecnologia do sexo” permite
compreender que o sexo e a sexualidade não são efeitos de um sistema repressivo, pelo
contrário, “as técnicas disciplinadoras da sexualidade [são] estruturas reprodutoras,
assim como técnicas de desejo e de saber que geram diferentes posições de sujeito de
saber-prazer” (PRECIADO, 2014, p.156). Por consequência, ela crítica a distinção
sexo/gênero e propõe compreendê-los como tecnologias, “como dispositivos inscritos
em um sistema tecnológico complexo” (PRECIADO, 2014, p.23). Inspirada em Donna
Haraway (2009), a autora defende que a noção de “Natureza Humana” nada mais é do
que “um efeito de negociação permanente entre humano e animal, corpo e máquina,
mas também entre órgão e plástico” (PRECIADO, 2014, p.23). Deste modo, ela sugere
que o sexo
não é um lugar biológico preciso nem uma pulsão natural. [Mas] é uma
tecnologia de dominação heterossocial que reduz o corpo a zonas erógenas
em função de uma distribuição assimétrica de poder entre os gêneros,
(feminino/masculino), fazendo coincidir certos afectos com determinados
órgãos, certas sensações com determinadas reações anatômicas. [Assim] a
natureza humana é um efeito da tecnologia social que reproduz nos corpos,
nos espaços e nos discursos a equação natureza=heterossexualidade
(PRECIADO, 2014, p.25).

Outro ponto que merece destaque é a sua concepção de gênero. Em Preciado ele não é
simplesmente performativo (isto é, um efeito das práticas culturais
linguístico-discursivas) como desejaria Judith Butler. O gênero é, antes de
tudo, prostético, ou seja, não se dá senão na materialidade dos corpos. É
puramente construído e ao mesmo tempo inteiramente orgânico. Foge das
falsas dicotomias metafísicas entre o corpo e a alma, a forma e a matéria
(2014, p.29).
Edição Nº 19
OUT/2016

É preciso esclarecer que a sua crítica à noção de gênero performático de Butler


não o invalida, mas aponta a historicidade do conceito e os seus limites. Assim, ao
observar as proposições de Butler e Preciado, percebo uma crítica à perspectiva de Joan 164

Scott - de que a base biológica continua sendo estruturante das construções de gênero
possíveis-, e levando a cabo reflexões que ficaram conhecidas como Estudos Queer,
elas apontam a associação limitada feita entre gênero e biologia, cujo efeito principal é a
negação da feminilidade às mulheres transexuais, travestis e também aos homens. Pois
como enfatiza Butler
quando o status construído do gênero é teorizado como radicalmente
independente do sexo, o próprio gênero se torna um artifício flutuante, com a
consequência de que homem e masculino podem, com igual facilidade,
significar tanto um corpo feminino como um masculino, e mulher e feminino,
tanto um corpo masculino como um feminino (2013, p. 24-25).

Por isso, ela entende que “localizar o mecanismo mediante o qual o sexo
transforma-se em gênero é pretender estabelecer, não só o caráter de construção do
gênero” (BUTLER, 2013, p.67), como também o seu caráter não natural, mas histórico
e performativo. Outra questão a se pensar é que, possivelmente, a percepção de Scott
quanto ao sistema sexo/gênero seja um dos efeitos da sua transposição do campo da
história social para a história cultural, como aponta o artigo de Carla Pinsky, Estudos de
Gênero e História Social (2009).
Diante do que foi apresentado cabe agora pontuar em que medida essa reflexão
sobre a categoria gênero pode ser profícua ao ofício do historiador. Primeiramente, não
é possível circunscrever o termo gênero apenas como sinônimo de uma história das
mulheres, das sexualidades, das homossexaulidades, enfim, das chamadas dissidências
de gênero. Considero adequado que todos/as os/as que se filiam ao campo da História (e
nas ciências humanas em geral) percebam, e reconheçam, que os estudos de gênero são
muito mais do que estudos localizados e à parte da considerada “grande história”, pelo
contrário, o gênero nos oferece um rico e vasto arcabouço teórico e metodológico para
pensarmos as relações sociais dos indivíduos baseados, não só na diferença sexual entre
homens e mulheres, como também questionar a assimetria na esfera social (como a
Edição Nº 19
OUT/2016

presença no espaço público e privado) sustentada historicamente por essa diferença; o


gênero é também um modo de investigar o processo que forja e naturaliza essa
diferença, atribuindo hierarquias entre os indivíduos com base no seu sexo.
Gênero é investigar, também, a dinâmica social baseada nas identidades de 165

gênero; as atribuições sociais, profissionais e políticas atribuídas a homens e mulheres


em diferentes sociedades, de acordo com a sua relação espaço-tempo; é denunciar e
nomear os históricos processos de exclusão das chamadas “minorias sexuais e sociais”,
é problematizar a ocupação dos espaços de poder por homens e mulheres ao longo da
história e apontar como a noção de violência e de dominação não são as mesmas para
homens e mulheres (WELZER-LANG, 2004; SARTI, 2009), ou seja, os sentidos
atribuidos são marcados pela experiência e condição social e sexual do sujeito de
gênero. Assim, entendo que o gênero possibilita rastrear as diferentes concepções de
tempo para homens e mulheres e, algo que considero fundamental, a radical
historicidade de tudo, inclusive daquilo que, socialmente e culturalmente, é percebido e
entendido como homem e mulher. Isso, a meu ver, politiza o nosso olhar e nos leva a
desconfiar dos discursos normativos, excludentes e androcêntricos.
Em segundo lugar, é mister que historiadores/as leiam o que uma produção
feminista tem a dizer sobre a sociedade e sobre o nosso ofício. De acordo com o
sociólogo francês Daniel Welzer -Lang, é preciso abandonar o androcentrismo - que é
“a tendência a excluir as mulheres dos estudos históricos e sociológicos” (WELZER-
LANG, 2004, p. 112)-, em nossas reflexões e produções acadêmicas, ou seja, a
tendência a excluir tudo o que se refere às mulheres e também sejam escritos por elas. É
reconhecer que “elas vivem e escrevem como um dos componetes do social, e não como
uma especificidade do geral, do normal que supostamente só eles [os homens]
representariam” (WELZER-LANG, 2004, p.112).
Por fim, e não menos importante, parto da ideia de que o discurso historiográfico
não só relata ou interpreta uma dada realidade, ele também é partícipe e instituinte disso
que chamados de real. Como sugere Rago (2006, p.20), “o discurso não é reflexo de
uma suposta base material das relações sociais de produção, mas produtor e instituinte
Edição Nº 19
OUT/2016

de “reais””. Isso quer dizer que, ao produzirmos uma interpretação sobre um dado
acontecimento já estamos atribuindo e produzindo um determinado sentido. Assim
sendo, entendo que o gênero, como categoria de análise, não está desconectado de
outras categorias sociais como classe e raça. Como sublinha a antropóloga Fátima 166

Cecchetto (2004, p.57), gênero como categoria de análise não “compreende a simples
dicotomia masculino e feminino; antes, o gênero cruza-se com uma rede de elementos
vinculados às estruturas de classe, poder e etnicidade, que estruturam as relações
sociais”, e são essas conexões que devemos identificar e analisar em nossos objetos.
Por conseguinte, entendo que esses marcadores sociais da diferença estão no
mesmo plano, pois são constituintes da experiência do sujeito, todavia, dependendo das
redes de sociabilidade e dos espaços que o indivíduo atua e/ou circula, um desses
elementos pode se sobressair mais do que outro, no entanto, não se trata de substituir
uma categoria por outra, o desafio é trabalharmos na perspectiva interseccional
(CRENSHAW, 2012) articulando os diferentes conceitos nas nossas pesquisas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o que foi analisado, o gênero possibilita explicar continuidades e


descontinuidades bem como analisar as desigualdades e diferenças sociais e sexuais nas
relações inter-gêneros (homens e mulheres) e intra-gêneros (homens e homens/mulheres
e mulheres). Entendo, também, que a elaboração do conhecimento histórico a partir do
gênero, como sugere Scott (1990, p.7), implica em uma tomada de posição, seja sobre a
desigualdade ou o poder, é marcar um lugar de enunciação e denunciar as práticas
institucionalizadas que tendem a silenciar e perpetuar uma concepção hegemônica do
discurso histórico. Por fim, ao propor esse exercício de aproximação e distanciamento
entre essas definições da categoria gênero, entendendo-o como um modo de explicar as
relações sociais entre os sexos, buscando, como sugere Foucault, a partir de uma análise
dos discursos, recompor a trama de sua produção, as regras que incidem em
Edição Nº 19
OUT/2016

coisas ditas e ocultas, em enunciações exigidas e interditas; com o que supõe


de variantes e de efeitos diferentes segundo quem fala, sua posição de poder, o
contexto institucional em que se encontra (FOUCAULT, 1988, p.111).

No mais, cabe a nós historiadores/as questionar o que está posto e tensionar a


167
produção do discurso histórico, afinal, se o nosso discurso é instituinte de reais, por que
repor o que já está posto, o já dito? É preciso rachar os sentidos das palavras
(ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2013), recompor a trama de sua produção e historicizar as
verdades, as formalidades, as teias que sustentam e engendram os históricos modos de
opressão (seja de gênero, sexual, racial). Não nos cabe julgar, como já dizia Bloch
(2001), no entanto, nos cabe lançar luz sobre os diversos fenômenos, de modo a
compreendê-los na sua relação espaço-tempo, mas também elucidá-los de acordo com
os conceitos, as armas do nosso tempo presente (PROUST, 2008, p.131). Por fim, é
nessa perspectiva diacrônica e sincrônica que a categoria gênero pode nos auxiliar e
enriquecer o nosso olhar sobre os acontecimentos passados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. A História em Jogo: a atuação de Michel


Foucault no campo da historiografia. Anos 90 (UFRGS). Porto Alegre, v. 11, n.19/20,
p. 79-100, 2004.
____. Discursos e Pronunciamentos: a dimensão retórica da historiografia. In: Carla
Bassannezi Pinsky e Tânia Regina de Luca. (Orgs.). O historiador e suas fontes. São
Paulo: Contexto, 2011, p. 223-249.
_____. Escrever como fogo que consome: reflexões em torno do papel da escrita nos
estudos de gênero. VII Simpósio Linguagens e identidades da/na Amazônia Sul
Ocidental. 2013. Disponível em: http://simposioufac.blogspot.com.br/2013/07/durval-
muniz-de-albuquerque-junior_22.html. Acesso em 28/08/2015.
ÁVILA, Simone N. Transmasculinidades: A emergência de novas identidades
políticas e sociais. RJ: Editora Multifoco, 2014.
BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência
transexual. Tese (Doutorado em Sociologia). Universidade de Brasília/UnB. 2003.
Edição Nº 19
OUT/2016

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade.


Tradução de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.
BLOCH, Marc. Apologia da história, ou, o ofício do historiador. RJ: Jorge Zahar,
2001.
168
CECCHETTO, Fátima Regina. Violência e estilos de masculinidade. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2004.
CHAMBOULERYON, Ingrid cyfer. A tensão entre modernidade e pós-modernidade na
crítica à exclusão no feminismo. Tese ( Doutorado) USP, São Paulo, 2009.
CONNELL, Raewyn. Questões de gênero e justiça social. Século XXI, Revista de
Ciências Sociais, v.4, nº 2, p.11-48, jan./jun. 2014.

CONNELL, Raewyn; PEARSE, Rebecca. Gênero: uma perspectiva global. São


Paulo: nVersos, 2015.

CRENSHAW, Kimberlé. A interseccionalidade na discriminação de Raça e Gênero.


Disponível em: http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-
content/uploads/2012/09/Kimberle-Crenshaw.pdf, p.7-16, Painel 1, 2012.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 19ªed; Edições Graal, 1979.


______. A Ordem do discurso, Edições Loyola, 17ª Ed. SP, 1996.
______. A História da Sexualidade I: A vontade de saber. RJ. 21ª reimpressão;
Edições Graal, 1988.
______. O que é um autor? In: Estética: Literatura e Pintura, Música e Cinema. Org.
Manoel Barros da Motta. 2ed. RJ: Forense Universitária, 2006, p. 264-298.
GROSSI, Miriam Pillar. Masculinidades: uma revisão teórica. Antropologia em
Primeira Mão. Florianópolis, 2004, p. 4-37.
HARAWAY, Donna. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o
privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, n.5, 1995, p. 07-41.
_______. “Gênero” para um dicionário marxista: a política sexual de uma palavra.
Cadernos Pagu, nº22, 2004, p. 201-246.
_____. Antropologia do ciborgue: as vertingens do pós-humano. Tomas Tadeu(org.).
2ª ed. BH: Autêntica Editora, 2009.
JESUS, Jaqueline Gomes de. Homofobia: identificar e prevenir. RJ: Metanoia, 2015.
LOURO. Guacira Lopes. Um corpo estranho. Ensaios sobre sexualidade e teoria
queer. 1ª reimpressão. Belo Horizonte: Autêntica, 2008, p. 11 – 25; 75 – 90.
Edição Nº 19
OUT/2016

MATOS, Maria Izilda S. de. Estudos de gênero: percursos e possibilidades na


historiografia contemporânea. Cadernos Pagu, n.11, p.67-75, 1998.
MISKOLCI, Richard. Pânicos morais e controle social – reflexões sobre o casamento
gay. Cadernos Pagu (28), p.101-128, janeiro-junho de 2007.
169
______. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças. BH: Autêntica Editora,
2012.
NICHOLSON, Linda. Interpretando o gênero. Estudos Feministas. Florianópolis, v.2,
UFSC, p. 9-41, 2000.

PEDRO, Joana. Relações de gênero como categoria transversal na historiografia


contemporânea. Topoi, v. 12, n. 22, jan-jun, p. 270-283, 2011.

_____. Traduzindo o debate: o uso da categoria gênero na pesquisa histórica. História


(São Paulo), v. 24, p. 77-98, 2005.

PERROT, Michelle. Escrever uma História das Mulheres. Cadernos Pagu (4), p.9-28,
1995.
______. Minha História das Mulheres. São Paulo: Contexto, 2006.
PINSKY, Carla Bassanezi. Estudos de Gênero e História Social. Estudos Feministas,
Florianópolis 17 (1): p.159-189, janeiro-abril/2009.

PRECIADO, Beatriz. Manifesto contrassexual: práticas subversivas de identidade


sexual. Tradução de Maria Paula Gurgel Ribeiro. SP: N-1 edições, 2014.

PRINS, Baukje; MEIJER, irene Costera. Como os corpos se tornam matéria: entrevista
com Judith Butler. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 10, n. 1, p. 155-167, Jan.
2002.

PROST, Antoine. Doze lições Sobre a História: Autêntica Editora, BH, 2008.

RAGO, Margareth. Descobrindo historicamente o gênero. Cadernos Pagu (11),


Campinas, p. 89-98, 1998.

________. Epistemologia feminista, gênero e história. In: GROSSI, Miriam Pillar.


PEDRO, Joana M. Masculino, feminino, plural, gênero na interdisciplinaridade.
SC- Editora mulheres; 2006, p. 21-41.

_______.O feminismo acolhe Foucault. Labrys, estudos feministas, v. 2014, p. s/n,


2014.
Edição Nº 19
OUT/2016

_______. O Efeito Foucault na Historiografia Brasileira. TEMPO SOCIAL - Revista


de Sociologia da USP, v. 3, n.28, p. 67-82,1995.

_______. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da


subjetividade. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013. 170

RUBIN, Gayle. O tráfico de mulheres: notas sobre a “economia política” do sexo.


S.O.S Corpo, Recife, p. 1-32, março 1993.

SAFFIOT, Heleieth. Rearticulando Gênero e Classe. In: Albertina Oliveira Costa &
Cristina Brushini. Uma Questão de Gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; São
Paulo: fund. Carlos Chagas, 1992.

SALIH, Sara. Judith Butler e a Teoria Queer. Tradução e notas Guacira Lopes
Louro. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.

SARTI, Cynthia. Corpo, violência e saúde: a produção da vítima. Sexualidad, Salud y


Sociedad (Rio de Janeiro), v. 1, p. 89-103, 2009.

SCHVARZMAN, Sheila. Entrevista com Michelle Perrot. Cadernos Pagu (4), p. 29-
36, 1995.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade,
Porto Alegre, 16(2): p. 5-22, jul/dez.1990.

______. A invisiblidade da experiência. Projeto História, São Paulo, Tradução: Lúcia


Haddad, (16), p. 297-325, fev.1998.

______. O enigma da igualdade. Estudos Feministas, Florianópolis, 13(1): p. 11-30,


abril/2005.

______. Emancipação e igualdade: uma genealogia crítica. OPSIS, Catalão, v. 15, n. 2,


p. 537-555, 2015.

WELZER-LANG, Daniel. A construção do masculino: dominação das mulheres e


homofobia. Revista de Estudos Feministas, Florianópolis, v. 9, n. 2, 2001. p. 460-482.

______. Os homens e o masculino numa perspectiva de relações sociais de sexo. In:


SCHPUN, Mônica Raisa (org.). Masculinidades. São Paulo: Boitempo Editorial; Santa
Cruz do Sul, Edunisc, 2004. p. 107-128.
Edição Nº 19
OUT/2016

1
Segundo O sociólogo Richard Miskolci (2012) e a psicóloga Jaqueline Gomes de Jesus (2015), a
heteronormatividade é a ordem sexual vigente, fundada no modelo heterossexual, familiar e reprodutivo,
entendida como característica de todo ser humano “normal”. Desse modo, qualquer pessoa que não se
adeque a esse padrão é considerada “anormal”, o que justificaria sua marginalização.
2
PEDRO, Joana Maria. Michelle Perrot: a grande mestra da História das Mulheres. Estudos 171
Feministas, Florianópolis, v. 11, n. 2, p. 509-512, Dec. 2003.
Segundo Miskolci, o Queer pode ser definido como “o estudo daqueles conhecimentos e daquelas
3

práticas sociais que organizam a „sociedade‟ como um todo, sexualizando - heterossexualizando ou


homossexualizando - corpos, desejos, atos, identidades, relações sociais, conhecimentos, cultura e
instituições sociais” (2009, p. 154). A problemática queer vai além das homossexualidades, é uma recusa
do regime de gênero heterossexista e da violência praticada na manutenção de uma fronteira rígida entre
os que são socialmente aceitos e os que são relegados à humilhação, à abjeção e ao desprezo. Os estudos
queer propõem o estranhamento de tudo que é considerado universal, de todas as formas de binarismos:
feminino/masculino, natural/cultural, homem/mulher, hétero/homo. Por sua vez, promove a inserção da
diferença, colocando no lugar do reconhecimento e da estabilidade, a alteridade e a diversidade,
focalizando os processos de invenção e desdobramentos das identidades.

Você também pode gostar