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Título Original: Royally Wed
Copyright © 2016 por Pamela DuMond
Copyright da tradução © 2023 por Editora Bookmarks.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser
utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem
autorização por escrito dos editores.
Tradução: Marília Schuh
Copidesque: Wélida Muniz
Edição e diagramação digital: Andreia Barboza
Ilustração da capa: Hannah Cardoso
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa.
Direitos de edição em língua portuguesa, para o Brasil,
adquiridos por
Editora Bookmarks.
Caixa Postal: 1037 CEP: 13500-972
contato@editorabookmarks.com
facebook.com/editorabookmarks
instagram.com/editorabookmarks
twitter.com/editorabookmark
Sinopse
Lucy se demite do emprego de garçonete porque vai se casar
com o príncipe Nicholas, de Fredonia. Aquele de cabelos escuros,
olhos azuis e joias reais.
Mas Nick sai segundos antes do casamento e não volta.
Estão todos reunidos para celebrar a união de duas pessoas. O
problema é que só uma está presente: a noiva.
Será que Nick desistiu?
E se o casamento não acontecer, será que Lucy vai conseguir seu
emprego de volta?
Para Maggie Marr e Sylvie Fox
Vocês, garotas, são implacáveis!
Capítulo um
CAÍ DE COSTAS, nua exceto pela tiara na minha cabeça. Uma
bandeja de prata rebuscada e abastecida com queijos descansava ao
meu lado na cama.
— Ei, não deveríamos ir a uma festa surpresa essa noite? —
Abanei meu rosto.
— Não, Lucy. — O príncipe Nicholas Frederick Timmel, de
Fredonia, pegou a bandeja e a colocou sobre a mesa de cabeceira.
— Mas obrigado pelos aperitivos. — Ele envolveu os braços
musculosos ao meu redor e apertou com força enquanto se deitava
ao meu lado, risque isso, praticamente em cima de mim, na cama
king size com pillow top de penas. — Participamos de bailes pré-
casamento, coquetéis e reuniões familiares, sem nenhum descanso.
Temos a noite de folga, graças a Deus. Acho que você só está
exausta por causa do jet lag e da mudança de fuso-horário.
— Você está se referindo à nossa mais recente rodada de sexo
gostoso. — Belisquei meu antebraço e lembrei a mim mesma pela
centésima vez de que isso não era um sonho, e que eu não tinha
saído para beber com minhas damas de companhia.
— Ai! — Nick disse. — Você precisa ser mais gentil com SAR se
quiser que ele faça outra aparição real.
Ops, não era o meu antebraço.
— Desculpa! Achei que você estivesse brincando quando me
contou o seu... quer dizer... o apelido do pequeno príncipe. — Em
outra época, eu era garçonete. E agora estava noiva de um príncipe
de verdade, ele, do cabelo preto, olhos azuis e joias reais notáveis,
que ele chamava de Sua Alteza Real, ou SAR. Como pode isso?
— Eu jamais brincaria sobre o SAR — Nick disse. — Ele pode ser
excessivamente sensível.
— Uma característica admirável — falei. — Não sei, Nick. Me
lembro perfeitamente de um convite que mencionava uma festa
surpresa. Havia uma foto de uma mulher com o dedo pressionado
nos lábios e a palavra “xio!” foi impressa em letras pretas garrafais.
— Não, Lucy. Você está se lembrando daquela vez, alguns meses
atrás, quando visitamos o Museu Viking em Oslo. — Ele aninhou a
barba por fazer em minha bochecha e mordiscou minha orelha. — A
guia fez questão de nos advertir publicamente.
— Você está falando da mulher mal-humorada que ficou com o
rosto igual a um picles quando disse “xio!” e nos mandou “parar com
nossas gargalhadas barulhentas”?
— Ela mesma — ele disse. — Ainda me lembro da saliva quente
atingindo minha bochecha quando ela pronunciou as palavras
“esperem aí!'”.
— A guia Marte — eu disse. — Foi ela quem ficou chateada
porque estávamos nos beijando em público?
— Nos beijando? — Ele ergueu as sobrancelhas. — Ela reclamou
que eu estava acariciando sua...
— Certo — eu disse e imitei a voz grossa e ultrajada da guia
Marte, com seu sotaque carregado. — “Apenas mulheres que estão
amamentando podem fazer topless no Museu Viking!” Nossa! Eu não
estava totalmente de topless.
Nick sorriu.
— Bem, querida, você meio que estava...
— Um mamilo fujão tecnicamente não pode ser considerado
topless. Eu acho que ela estava com inveja. Você tinha cortado o
cabelo naquela semana, Nick, e estava muito bonito. Robusto. Muito
régio.
— Fico lisonjeado. — Nick beijou a palma da minha mão. — Para
ser sincero, Lucy, não me lembro de ter recebido um convite para
uma festa surpresa. Mas há muitos convites e muitos eventos. Isso
me faz querer cancelar a cerimônia formal e simplesmente fugir para
casar.
— Não podemos fazer isso. — Afastei uma mecha de cabelo de
sua testa. Meu Nick estava com vinte e tantos anos, tinha maçãs do
rosto salientes, cabelo preto azeviche com um toque de ondulação,
olhos sedutores e um corpo fantástico.
— Por que não? — Ele encontrou o caminho para o meu pescoço
e enterrou os lábios lá.
Fechei os olhos e fantasiei por alguns segundos que ele era um
vampiro gostoso, como aquele que o Brad Pitt interpretou ainda
jovem naquele filme que adaptaram do livro de Anne Rice. Mas
então lembrei que era muito fácil eu acabar com hematomas, e toda
aquela coisa de presas sexy perderia logo a graça quando meu
pescoço se assemelhasse a um tomate rajado.
— Não podemos fugir porque decepcionaríamos muitas pessoas:
sua mãe, meu tio, sua avó, minhas damas de companhia...
— Você quer dizer suas damas de problemas.
— Ah, por favor! — Mordi o lábio. — Não nos metemos em
tantos problemas assim ultimamente.
— Os relatórios policiais da ida recente de vocês a Mônaco
podem ter sido destruídos, mas estão gravados na minha memória.
— Não há nada digno de nota. — Pigarreei. — Foi um rápido
passeio de esqui de fim de semana na Riviera Francesa,
perfeitamente inocente. Ninguém foi preso. Ninguém chamou a
polícia.
— Ah, mas houve uma ligação — ele disse. — Alguém ligou para
o Palácio do Príncipe de Mônaco, conseguiu contato com a princesa
Charlene e perguntou se o príncipe Albert estava em cana.
— Não tenho ideia do que você está falando. — Rolei para longe
dele, mas seu braço forte envolvendo minha cintura me parou no
meio do caminho.
— E quando a doce e inocente Charlene disse que não sabia do
que a pessoa estava falando, uma de suas “damas” respondeu:
“pelo amor do seu país, é hora de soltar o príncipe Albert!”.
— Foi engraçado. — Tentei abafar a risada, e acabei bufando.
— Não, não foi — ele disse. — Tive que enviar um pedido formal
de desculpas, dez quilos de chocolate Friedricksburgh e calções de
couro para os gêmeos reais.
— Sinto muito — eu disse. — Estávamos apenas brincando. —
Olhei para o antigo anel de rubi que ele colocou no quarto dedo da
minha mão direita dez meses atrás, quando me pediu em
casamento. Era lindo, tinha a pedra maior rodeada de diamantes,
discreta e perfeita, assim como ele. Como era possível que eu
tivesse conquistado um cara tão incrível? Ah, sim... Por meio de uma
teia de mentiras e tramoias quando me fiz passar por lady Elizabeth
Billingsley.
Sim, era um trabalho temporário. Não, eu não era traficante de
drogas, ladra de joias nem uma prostituta cara. Mas, ei, pelo menos
confessei meus crimes e até acabei com meu próprio disfarce
quando estava no altar da igreja, pouco antes de me casar com o
irmão dele, o príncipe herdeiro Cristoph George Edward Timmel III.
Eu disse “não aceito” em vez de “aceito” e confessei ser uma fraude,
uma impostora, uma atriz contratada. Então corri de volta para
minha vida patética e comum em Chicago e fiquei longe dos
holofotes.
Mas Nick me rastreou, declarou que se apaixonou por mim e
queria se casar com a verdadeira eu: Lucy Trabbicio, não lady
Elizabeth Billingsley. Agora eu estava em um palácio real, dividindo
uma cama king size com um homem lindo, em vez de deitada em
um colchão de solteiro cheio de calombos em um apartamento de
um quarto que eu dividia com minha labradora amarela, Tulip, no
lado sul da cidade dos ventos. Visitei metade dos países da Europa,
convivi com a realeza e estava morando no céu em vez de no
purgatório.
Nick beijou meu pescoço, seus lábios se aventuraram ao longo da
minha clavícula. Todos os pelinhos dos meus braços se eriçaram
como soldados em uma parada militar. Era muito bom. Não, não,
tínhamos um milhão de coisas para fazer e esse não era o momento
certo. Lutei para manter o juízo e me concentrei em coisas chatas:
couve-de-bruxelas, a dívida nacional, debates políticos de vice-
presidentes...
Nick deixou uma trilha de beijos pelo meu abdômen, mas eu o
agarrei pelo cabelo e o impedi.
— Espere um minuto. Só um minuto. O que pensa que está
fazendo? Acabamos de terminar a segunda rodada. Dê um tempo
para essa garota aqui, por favor.
Ele olhou para mim e sorriu.
— Somos jovens, vigorosos e saudáveis. Terceira rodada, linda.
— Ele fez cócegas na minha barriga, e eu ri. — Então podemos
vagar até a cozinha e assaltar a despensa. Estou desejando um
croissant de chocolate Friedricksburgh.
— Não, não, muitos carboidratos. Tenho que me apertar no meu
vestido de noiva daqui a poucos dias. Está super escuro aqui, Nick, e
não consigo ver meu smartwatch. Prometi às minhas damas de
companhia que daria dez mil passos hoje. Estamos apoiando umas
às outras em nossa missão Diga sim para caber no vestido.
— Grupos de apoio são ótimos. Tenho certeza de que você
cumpriu a cota — ele disse, e deu um tapa leve na minha bunda.
— Ei! — Eu pulei.
— Embora na horizontal. — Ele piscou.
— Esses ainda contam — eu disse e ergui o queixo. — Talvez
devêssemos acender as luzes. Levar a sério o vestido, o exercício, as
festas exageradas. Poderíamos abraçar toda a loucura da
extravagância do casamento real, pisar no acelerador e acabar com
logo com isso.
— Lucy, meu amor, você fica deliciosa à luz de velas e prefiro
abraçar você. — Ele passou o polegar pela minha bochecha. —
Estou cansado do brilho das câmeras, da aglomeração de pessoas e
de todas as tarefas que precisam ser riscadas da lista de afazeres.
Vamos nos casar em alguns dias, e esta noite eu só quero, não, na
verdade, preciso de um tempo tranquilo só para nós dois, com a
garota por quem me apaixonei. A garota que conquistou meu
coração.
— O que quer que acabamos de fazer, Nick, definitivamente não
foi tranquilo e pode ser proibido em alguns dos estados do Meio-
Oeste dos Estados Unidos.
Ele sorriu.
— Até vinte anos atrás, também era proibido em vários
principados europeus e partes da Rússia. — Ele roçou a palma da
mão na minha clavícula. — Vamos fazer de novo. Mas, dessa vez...
um pouco mais selvagem. Acho que me segurei um pouco. Você é
um estouro na cama, meu amor.
— Está bem! — Suspirei. — Continue, soldado. Seu país precisa
de você.
— Você é meu país? — Ele passou o dedo indicador sobre meus
lábios e minha respiração ficou presa na garganta.
— Você me pediu em casamento, colocou um anel no meu dedo
e acabou de fincar a bandeira real — eu disse. — É melhor acreditar
que sou seu país.
— Está dentro dos meus deveres reais servir e proteger, Lucy.
— Por que você não serve primeiro e nós vamos lidar com a
parte da proteção mais tarde?
E ele serviu. Ah, como serviu. Segurei a cabeceira da cama com
as duas mãos e tentei não gritar o nome dele, ou a letra do hino
nacional de Fredonia, que decorei com diligência.
Mas algo estava errado. Em meio aos suspiros e gemidos, ouvi os
rangidos distintos de uma porta se abrindo e de sussurros abafados.
Alguém acendeu uma luz, e o brilho suave de um lustre de cristal
que pendia do teto abobadado iluminou o quarto.
— Ah, meu Deus! — Procurei lençóis e cobertores, mas só
consegui encontrar pratos de aperitivos. Peguei a travessa de queijo
e biscoito na mesa de cabeceira, a coloquei sobre minhas partes
femininas e cobri meus seios com a mão livre e o antebraço. —
Quem são vocês e o que querem? — perguntei.
— Não somos qualquer um — lady Joan Brady disse. — Somos
suas damas de companhia.
— Trouxemos mais algumas pessoas — lady Cheryl Cavitt Carlson
disse.
— Porque se você não vai à festa surpresa, Lucy — lady
Esmeralda Ilona Castille Habsburg se intrometeu —, nós a trazemos
até você.
As luzes do teto do quarto de Nick se acenderam e uma multidão
de pessoas gritou:
— Surpresa!
Capítulo dois
ESTAVA DE PÉ nos aposentos privados da noiva na catedral Real
de Friedricksburgh, torcendo as mãos.
Meu vestido de noiva era elegante e provavelmente custou o
suficiente para alimentar uma pequena aldeia de pescadores na
América Central por quase um ano. Não, a família da noiva
definitivamente não estava pagando pelo casamento.
A família da noiva consistia em meu tio e eu. Eu era a única que
tinha um ganha-pão e ganhava uma ninharia trabalhando como
garçonete no MadDog Biker Bar em Chicago, Illinois. Se a minha
família fosse pagar pelo casamento, eu estaria usando um vestido de
poliéster de segunda mão do brechó St. Vincent’s, e logo estaríamos
contrabandeando champanhe Korbel para nossa recepção chique no
The Cracker Barrel. Agradeci à minha estrela da sorte pela dinastia
de Nick, o rei Frederick Timmel, o décimo quarto de Fredonia, e sua
esposa, a rainha Cheree, terem feito questão de pagar a conta.
Essa seria a segunda vez que eu percorreria o corredor principal
de uma catedral real e, se possível, meu vestido era ainda mais
bonito dessa vez: um modelo retrô de seda batiste esvoaçante que
eu havia escolhido, porque, dessa vez, eu estava me casando com o
cara por quem estava apaixonada, e eu realmente me importava.
Meu cabelo estava preso em um coque elegante; mechas
emolduravam meu rosto e faziam cócegas na minha nuca. A rainha
Cheree me emprestou brincos elegantes de diamante de quatro
quilates que agora pendiam de minhas orelhas e combinavam com o
pingente que repousava em meu decote que fluía por baixo do
delicado colar de ouro branco.
Centenas de anos atrás, os arquitetos da catedral foram
inteligentes ao projetar um aposento privado adjacente ao santuário
principal, escondida em um canto. Durante séculos, os ocupantes
desses aposentos tiveram uma visão interna das idas e vindas
dentro da igreja enquanto estavam protegidos dos intrometidos e
curiosos. Agora estávamos resguardados do clarão das câmeras dos
paparazzi, que estavam dando tudo de si para tirar fotos e vender
para revistas e sites de fofoca por uma boa quantia.
Andei de um lado para o outro na antecâmara, praticamente
cavando um buraco no chão.
— Está treinando para uma maratona? — lady Esmeralda Ilona
Castile Habsburgo IV perguntou enquanto aplicava seu batom
vermelho de sempre. Ela era uma garota encorpada que se divertia
em jogar a cautela para o alto, e usava suas curvas perigosas com
atrevimento e atitude, meio que como uma modelo de biquíni da
Sports Illustrated brincando com as tiras do traje antes da grande
sessão de fotos.
Balancei a cabeça.
— Queria eu.
— Nervosismo nupcial — lady Cheryl apontou. — Sofri com isso
quando me casei com o Lucas, oito anos atrás.
Minha melhor amiga de Chicago, Alida, escovou o cabelo
castanho-escuro sedoso de seu filho Mateo. Ele era nosso pajem, e
levaria as alianças ao altar, tinha seis anos e era muito fofo.
— Lucy. Por que você não nos conta da sua “lista do que fazer”
antes do casamento?
— Ideia brilhante! — Joan exclamou. — Nada acalma uma noiva
como recitar as coisas que devem ser marcadas na “lista de tarefas”.
— Um — eu disse. — Case-se com o cara certo dessa vez.
Pronto, terminei.
— Você está mentindo através desses seus dentes clareados —
Esmeralda disse.
— Tem razão! — Joguei as mãos para o alto. — Minha lista de
tarefas tem um quilômetro e meio de comprimento, mas estou com
frio na barriga e sem nenhuma disposição para compartilhá-la. —
Parei na janela secreta que dava para a catedral, puxei a pequena
cortina de veludo cor de vinho e espiei.
— Pode parar e fale logo — Esmeralda aconselhou. — Vamos.
— Está bem! — eu disse. — Meu tio John está sentado na
primeira fila. Mas ele está do lado da noiva?
— A essa altura, você já devia saber qual é o lado da noiva e
qual é o do noivo — disse o sr. Philip Philips. Ele olhou para um
espelho dourado na parede e ajustou a gravata de seda preta. Ele
tinha quase setenta anos, era robusto, de rosto enrugado e cabelos
grisalhos, e usava óculos de armação preta e grossa. Eu o conheci
no ano passado, quando me candidatei a um emprego temporário
como impostora. Ele era o esquadrão do estilo e da etiqueta em uma
só pessoa.
— Obrigada — eu disse. — Devo ter perdido essa aula.
Cheryl e Joan se amontoaram atrás de mim e espiaram pela
pequena abertura.
— Seu tio está do seu lado da igreja — Joan falou.
— Tulip, minha deliciosa labradora retriever, está deitada no chão
ao lado da rainha Cheree, no lado do noivo. Mas ela está ofegante. E
se houver algo errado com ela? Será que está com calor?
— Um olhar preocupado está franzindo a testa peluda — Cheryl
comentou. — Ela almoçou? Foi levada para passear?
— Deixei instruções explícitas. Ah, não! — Estalei meus dedos. —
E se ela precisar fazer...
— A rainha Cheree sabe o que fazer — Esmeralda disse. — Ela
vai mandar um de seus guardas levar Tulip lá fora. Pare de se
preocupar!
Voltei a andar pela sala decorada com bom gosto que, sem
dúvida, tinha visto mais do que sua cota de noivas preocupadas e
famílias ansiosas. Eu não era boa com esse tipo de coisa, porque,
francamente, até o dia de hoje, achei que não me importava. Mas
agora o dia de hoje chegou, e descobri que me importava.
Abanei o rosto, senti minha décima onda de calor do dia, peguei
um lenço da caixa e enxuguei a testa.
— Está quente aqui ou sou eu?
— É você. — Esmeralda tomou um gole de seu espumante e
acenou com a cabeça para a garrafa em um balde de gelo prateado.
— Quer que eu te sirva...
— Não. O Nick me pediu para diminuir a bebedeira antes do
casamento. Além disso, já tomamos champanhe quando nos
vestimos.
— Isso foi há três horas. — Esmeralda abriu a bolsa incrustada
de pérolas.
— Três garrafas atrás — eu disse.
— Você precisa relaxar e acabar com essa andação antes de
estragar sua maquiagem. — Ela vasculhou a bolsa, pegou balinhas
Tic Tac, brilho labial e fio dental.
Olhei para ela e bati o pé. Mas meus sapatos de grife de cor
bege ainda estavam um pouco duros, e eu fiz uma careta.
— Meus pés doem. Não entendo por que não posso usar
sapatilhas.
— Sapatilhas vão puxar toda a sua traseira para baixo. Deixar
sua bunda achatada. — Cheryl disse. — Você precisa de volume na
parte de trás para aparecer melhor nas câmeras.
— Deus sabe que uma mulher não precisa ter o traseiro puxada
para baixo — o sr. Philips pontuou.
— Confie em mim, haverá muitas câmeras — Joan disse.
— Gostaria que Nick e eu apenas tivéssemos simplesmente
fugido para nos casar em paz.
— A família real nunca permitiria que vocês fugissem — sr. Philips
comentou. — Você não é uma socialite. Há muito em jogo, muitas
responsabilidades.
— Tenho que me mexer ou vou explodir.
— Então venha para cá — Esmeralda acenou.
Dei alguns passos em direção a ela.
— Me diga que você tem algo mais calmante do que exercício e
não tão perigoso quanto álcool.
— Não. Mas sou seu porto seguro, querida! — Ela pegou um
bloquinho, arrancou a fita e estendeu na direção do meu rosto. — É
superabsorvente e dura até dez horas...
— Não se atreva! — Bati na mão dela. — Vou acabar com uma
faixa vermelha na testa quando arrancar essa coisa, e aí serei
forçada a te matar.
— A marca só aparece se colocar ao contrário — Cheryl falou. —
Quanto você já bebeu, Esmeralda?
Joan balançou o dedo.
— Se afaste do produto de higiene feminina e deixe a pobre Lucy
em paz. Não seria a primeira vez que ela colocaria essa coisa do
jeito errado. Minha faixa na testa apareceu em todas as fotos dos
tabloides tiradas durante a Gold Cup, no Ascot.
— Aposto que o fotógrafo do casamento usaria o Photoshop para
tirar a marca — Cheryl disse. — Afinal, é um casamento real.
— Mas os paparazzi não vão — Joan comentou. — Ah, claro, eles
fazem de tudo para serem legais com as Kardashian, mas boa sorte
para conseguir que a All Right Magazine mostre um pouco de amor
a realeza verdadeira.
À distância, o organista tocou uma coleção dos suspeitos de
sempre: Bach, Beethoven, Schubert e Mozart.
— Ah, meu Deus! — Cheryl se exasperou. — Esse não é o sinal
musical? Em breve você estará percorrendo o corredor.
— Não. O sinal é quando o organista tocar a Música Aquática de
Handel. Mal posso esperar para acabar com isso. — Bati o pé no
tapete elegante. Durante todo o tempo em que Nick e eu e sua
família planejamos o casamento, eu me esforcei para escolher
minhas batalhas. Não me importava muito com a música durante o
prelúdio do nosso casamento, mas queria muito caminhar até o altar
com algo que não fosse tradicional. Algo divertido e um pouco
dançante. Fiquei dividida entre Cake by the Ocean, do DNCE, ou
Walk this Way, do Aerosmith.
Mas, uma semana atrás, a avó de oitenta e sete anos de Nick
capturou minha mão em um evento familiar “íntimo” oferecido para
duzentas pessoas próximas e queridas da família real de Fredonia, e
solicitou uma importante conversa de “garota para garota”.
Apertei o braço de Nick e me virei para ela.
— Eu já tive a conversa do algo especial acontece na noite de
núpcias, Nana Real. Há mais alguma coisa?
— Sim — ela disse. — Privacidade. Não quero compartilhar isso
com todos os presentes e os seus cunhados. — Ela se virou e se
afastou com seu andador.
— Entendo. — Beijei a bochecha de Nick. — Volto já.
— Cuidado. — Ele apontou para a avó e passou um dedo na
garganta.
— Ah! Engraçado. Deixa comigo. — Eu sorri e a segui.
Nana Real estava sentada em uma poltrona macia no outro lado
do salão de baile, sob uma elegante arandela. Fiquei ao seu lado e
ela olhou para mim com seus olhos azuis e brilhantes como se eu
fosse um gigante, e ela, um duende.
— Sessenta e dois anos atrás, Lucy, caminhei até o altar nessa
mesma catedral, e foi o dia mais memorável da minha vida. Rosas
brancas enchiam a igreja. Meu véu foi tecido pelas freiras do
convento de Santa Cruz de São Bernardo, que fica no alto dos Alpes
Franceses. As irmãs cultivavam alecrim e tomilho em sua horta e o
cheiro impregnava o tecido delicado como o perfume de Deus.
— Parece delicioso — eu disse. — Eu amo São Bernardo. O padre
Bernard era o santo padroeiro daqueles cachorros grandes e lindos?
— Ele era um bêbado gordo, velho e lascivo que bajulava cada
arcebispo deste lado de Roma. Mas eu não me importava: não
estava me casando com o velho pervertido, estava me casando com
o príncipe de Fredonia, o homem mais bonito do mundo.
— Certo — comentei, e mordi o lábio. — Me conte mais.
— O dia do nosso casamento foi lindo. Era julho e verão nos
Alpes. Borboletas voavam. Beija-flores pairavam ao lado das flores
sorvendo o néctar delas.
Não pude deixar de olhar para o meu Nick. Ele estava
incrivelmente bonito em seu terno cinza-carvão. Uma mecha de
cabelo escuro caía sobre sua testa, uma pitada de linhas brilhantes
gravadas em torno de seus deslumbrantes olhos azuis. Meu coração
batia um pouco mais rápido e as palavras pareceram ficar presas na
minha garganta.
— A senhora sabia que sua vida nunca mais seria a mesma.
— Eu sabia que meu príncipe logo estaria sorvendo o meu néctar,
se é que você me entende. — Ela brincou. — Naquela época, não
distribuíamos leite de graça. Nós os fazíamos comprar a vaca. Era
chamado de “lua de mel” por um motivo, sabe.
— Hum — pigarreei. — Certo. Parece encantador.
— E foi, Lucy. E algo tornou tudo perfeito. Um detalhezinho uniu
tudo isso. Quer saber o que foi?
— Sim — eu disse, e cruzei os dedos atrás das costas, esperando
que ela não compartilhasse mais detalhes sobre beber o néctar.
— A caminhada até o altar. Percorri o corredor ao som de Cânone
em Ré Maior, de Pachelbel. Minha mão segurou com força o braço
do meu pai enquanto seus olhos marejavam. Minha mãe chorou de
alegria em seu lugar na primeira fila. Meu querido, doce, futuro
marido, que Deus o tenha, pressionou um lenço de linho sobre seus
belos olhos, e os anjos nos céus prantearam acima de nós. Foi um
dia incomparável. Nunca o superei e nunca vou superar.
Meus olhos se encheram de lágrimas, e tentei afastá-las, mas
elas se derramaram em meu rosto, e eu as enxuguei com os dedos.
— Aposto que a senhora foi uma noiva linda, Nana Real. Seu dia
especial parece ter sido mágico e perfeito.
— Foi encantador. Você é minha futura neta, Lucy, uma mulher
moderna, e suspeito que queira se casar ao som de algo mais
ousado. — Sua mão artrítica tremia quando ela apertou meu
antebraço. — Mas Cânone em Ré Maior, de Pachelbel é um clássico.
Se você puder fazer essa pequena gentileza por mim, realize o
desejo mais querido de uma idosa.
— Qual é o seu desejo, Nana Real?
— Me deixe ver você percorrer o mesmo corredor da Catedral
Real de Fredonia para se casar com meu lindo neto enquanto
Cânone em Ré Maior, de Pachelbel, toca ao fundo. Deixe meu
coração se encher de alegria enquanto sou transportada de volta no
tempo, lembrando do meu dia mágico e especial e nunca mais
pedirei nada a você, nunca mais.
— Sim, Nana Real — eu falei, cheia de amor e ternura. Eu a
abracei com delicadeza para não quebrar seus ossos frágeis. — Sim,
prometo que vou até o altar ao som de Cânone em Ré Maior, de
Pachelbel.
— Você é uma garota meiga. — Ela deu um tapinha na minha
bochecha com a mão nodosa. — Obrigada. Agora o beijo.
Inclinei-me, inalei o cheiro de spray de cabelo Aqua Net e do
perfume Chanel Nº 5, e beijei sua pele perfumada e empoada. Meu
Deus, eu adorava a família de Nick. Era possível ter mais sorte?
— É melhor voltarmos para a festa, Lucy. Eles devem estar
sentindo nossa falta. — Ela se levantou da cadeira e, em vão,
estendeu a mão para o andador festivamente decorado com fitas
coloridas nas cores nacionais de Fredonia.
— Me deixe ajudar a senhora. — Aproximei o andador e esperei
até que ela segurasse com firmeza as barras laterais.
— Você fez uma velhinha muito feliz — ela disse e se afastou
alguns metros. — Aquela detestável duquesa sabichona de
Friedricksburgh, Edith, pode beijar o meu traseiro real. Ela disse que
você bateria seu vulgar pezinho americano no chão e insistiria no
Coldplay. Apostei quinhentos euros que conseguiria convencer você
a entrar com Cânone em Ré Maior. — Ela fez uma pausa e acenou
para mim. — Obrigada por dar a uma velha dama dinheiro para
gastar nos cassinos.
— Certo. De nada. — Retribuí o aceno e, perplexa, atravessei o
salão até chegar ao lado de Nick.
— Você acabou de ser enganada, não foi? Muito ruim?
— Sem comentários — eu disse, e ele riu.
Agora eu olhava ao redor, para as flores na antecâmara, para os
lindos vestidos, e praticamente podia sentir a excitação que pairava
no ar. Tudo parecia perfeito. Então, por que eu estava tendo ondas
de calor? Por que eu sentia que precisava ir à academia ou correr
em uma pista por alguns quilômetros?
— Lucy — Alida falou. — Por que parece que você vai começar a
chorar?
— Você está péssima — Esmeralda disse. — Esse casamento é
fato consumado. Não é igual à última vez em que você quase se
casou.
— Então por que parece que é? — Estalei o pescoço. — Vocês
todos estão fabulosos. Dessa vez, quando eu caminhar por aquele
tapete branco, saberei, no fundo do meu coração, que estou indo
em direção ao homem certo. Vou me casar com o amor da minha
vida, com o belo príncipe certo, Nicholas, em vez de Cristoph, o
príncipe errado.
— Ele pode ter sido o “príncipe errado” para você, mas ainda é o
herdeiro do trono real de Fredonia — Cheryl apontou.
— O que faz dele o príncipe certo para alguém — Joan
concordou.
— Para um monte de alguéns — o sr. Philips acrescentou.
— Que horas são? — perguntei.
Lady Cheryl Cavitt Carlson olhou para seu relógio de ouro
incrustado de diamantes.
— Cinco e dez.
— Não pode ser, Cheryl — eu falei. — Você deveria estar lá longe
às cinco e dez...
— Correção, Lucille. — O sr. Philips se ajoelhou enquanto dava
mais um polimento em seus sapatos sociais pretos. — Tecnicamente,
lady Cheryl deveria assumir a posição dela na frente da catedral. Ela
não pode estar, como foi tão encantadora ao acrescentar, “lá longe”.
— Você diz bolacha, Philips. Eu digo biscoito. O que eu deveria
estar fazendo agora é percorrendo aquele corredor. Não vendo você
polir seus sapatos com cuspe.
Ele olhou para mim, e suas sobrancelhas se franziram como
lagartas grisalhas coloridas acasalando acima de seus grossos óculos
de armação preta.
— Usei uma escova de crina de cavalo para remover a poeira
seca, cobri meus sapatos com graxa preta e esperei um tempo
generoso até secar — ele disse. — Eu os escovei para remover a
camada superior e produzir esse brilho lustroso. Nem morto eu seria
pego engraxando meus sapatos “com cuspe” — ele bufou. —
Especialmente para um evento real dessa magnitude.
— Que bom — eu disse. — Então o que está atrasando o
casamento?
— Uma van de flores quebrou em frente à catedral — lady Joan
Brady falou. Ela segurava o iPhone em uma das mãos e mexia no
cabelo ruivo e curto com a outra. — A Nana Real está contornando a
van com o andador. A Fox News Fredonia já apelidou a caminhada
da Nana de “Antes Casado do que Morto”. Já está passando há cerca
de quinze minutos e foi comparada à perseguição em baixa
velocidade do carro Bronco de OJ Simpson.
— Meu Deus! Não posso ir até o altar até que tudo esteja bem
com a Nana Real. — Corri alguns passos e abri a porta. — Eu preciso
ajudá-la!
— Pare — uma mulher em um terninho azul-pavão disse.
Mas não consegui “parar”. Corri em direção à mão estendida dela
e caímos, agarradas uma à outra, girando no ar em um círculo
enquanto ambas tentávamos não cair.
Capítulo três
O SR. PHILIPS agarrou meu braço e deteve a queda.
— Lucille! O que você pensa que está fazendo?
— Você está bem? — perguntei para a mulher esparramada no
chão, que infelizmente estava com a saia do terninho erguida acima
dos quadris.
— Nada está tão ruim que não possa piorar — ela respondeu.
— Sinto muito — eu disse, enquanto Joan estendia a mão e
levantava a mulher do chão. — Alguém tem que ajudar a Nana Real.
— Não você. Os paparazzi e os malucos das redes sociais vão
fazer a festa se você for lá agora — ela resmungou. — Eu sou Famke
Kegan, a coordenadora de casamento. Pode me chamar de Famke.
— Prazer em conhecê-la, Famke — eu a cumprimentei. — O que
aconteceu com a Tabitha, a outra organizadora de eventos?
— Um caso infeliz de intoxicação alimentar. Eu sou a dona da
Royal Weddings R Us. Já temos uma equipe resolvendo a situação
da Nana Real. Além disso, você não pode sair ainda. Estão fazendo
apostas.
— E apostando o quê?
— Se você vai mesmo se casar hoje — o sr. Philips disse. — Ou
se vai fugir como fez da última vez.
Eu fiz careta.
— Que horrível.
— Acostume-se — ele respondeu. — Em cerca de quarenta e
cinco minutos, você será oficialmente parte da realeza.
— As pessoas vasculham seu lixo, chamam um médium — Famke
disse. — Até mesmo apontam câmeras para você estando nas
posições mais comprometedoras.
— Sim, sim. Deve-se sempre usar a melhor roupa íntima ao sair
de casa. Estou preocupada com a avó do Nick. E se ela cair e
quebrar o fêmur? — perguntei. — Alguém não pode arranjar uma
cadeira de rodas e empurrá-la para dentro?
— Ela é orgulhosa demais para entrar na catedral em uma
cadeira de rodas — Joan disse. — A Nana Real disse a seu
assistente, e eu cito: “dê o fora!”. Seu neto ia se casar hoje e ela não
estava prestes a ser rolada como algo imundo que um cachorro
encontrou em um pasto.
Eu mordi o lábio.
— Eu não deveria ter mostrado a ela aquela foto da Tulip
andando pelos campos quando Nick e eu visitamos a fazenda de
cabras Stoneybrooke, na Suíça. Tivemos que dar um banho nela.
Nervosa, Joan riu baixinho.
— Me lembro desse incidente. Não saiu na primeira página do
Goat Herds Monthly?
— Foi um prazer te conhecer. Preciso retornar à linha de frente —
Famke se despediu. — Não se esqueça: a Música Aquática de Handel
é a sua deixa.
— Eu ouvi histórias sobre a Nana Real — Esmeralda comentou,
escoltou Famke porta afora e a fechou com firmeza. — Ao que
parece, ela era desgovernada em sua época.
— Não foi o que ela me contou. Além do que, eu não estava
falando da Nana Real. E, sim, da minha cachorra. Soltei Tulip da
coleira, ela se empolgou e saiu correndo atrás de uma cabra. Nick a
derrubou, mas caiu em uma pilha de terra molhada e quem sabe o
que mais. Eu comecei a rir, e, juro, tentei parar, mas não consegui.
Então ele jogou um punhado de lama em mim. Joguei um de volta
nele. Foi uma bagunça. — Dei de ombros. — Uma coisa levou à
outra...
— E um paparazzi tirou uma foto de você e de Nicholas de
roupas íntimas encharcadas de lama se agarrando sob uma velha
carroça de leite — sr. Philips finalizou e jogou as mãos para o alto. —
Não seria mais simples se gravar fazendo sexo e postar no YouTube?
O que há com vocês, jovens? Na minha época, os assuntos da
realeza eram reservados para a privacidade do quarto.
— Assuntos da realeza nunca foram reservadas para os quartos,
Philips — Esmeralda disse. — No outro dia mesmo, me hospedei em
uma suíte no Four Seasons em St. Moritz com um certo barão cujo
nome não revelarei, mas o sobrenome rima com Sprits Teeters.
— Não! — Cheryl exclamou, chocada. — Você deu para aquele
ruivo gostoso do barão Fitzpeters? Achei que Joan estivesse de olho
nele.
— Não faz meu tipo — Joan desdenhou. — Muito sequinho.
— Ele não é seco onde importa. — Esmeralda sorriu. — Nós
discutimos “assuntos da realeza” por toda a cobertura. Acredito que
agora sou dona do sofá floral da sala de estar.
— Por que uma van de flores estava parada na frente da igreja?
— perguntei.
— Catedral — o sr. Philips me corrigiu.
— Dá no mesmo. Todas as flores já não deveriam ter sido
entregues e estarem posicionadas e arrumadas?
— Lucille — o sr. Philip Philips brincou com os botões do paletó
de seu smoking. — Pare de se preocupar. Os organizadores do
casamento cuidarão da situação da Nana Real. Além disso,
discutimos o nervosismo pré-nupcial em várias ocasiões. É uma
ocorrência comum.
Fiz careta, mas ele estava certo. Esse era o segundo casamento
que eu planejava e temi ter me tornado uma futura noiva
perfeccionista. O carma estava mordiscando meu traseiro coberto de
seda branca, porque sempre zombei de mulheres que se
transformavam em noivazillas no momento em que lhe colocavam
um anel de noivado no dedo.
— Pelo amor de tudo o que é sagrado — eu gritava para a TV
enquanto assistia a reality shows de casamento —, é para um dia
só!
Mas, para constar, não fui eu quem fez questão de ter cinco chás
de panela para nenhum dos meus casamentos, e pareceu
tremendamente injusto quando a repórter com cabelo de algodão
doce da Fox Fredonia News me apelidou de “O Monstro Matrimonial
Americano”.
— Lucy, pare de se preocupar tanto — Esmeralda falou. — Você
já acabou com duas das três camadas do seu batom.
— Ela só quer ter certeza de que tudo está perfeito — Joan
disse. — Eu entendo. Sou advogada. Fecho contratos todos os dias.
— Por que você está preocupada, Lucy? — Alida perguntou. — O
noivo é muy guapo e você está bonita.
— Por que aquele guarda do palácio está olhando para nós? —
perguntei. — Tem alguma coisa errada com ele.
— Ele parece mesmo esquisito. — Cheryl franziu a testa.
— Talvez seja um repórter de tabloide tentando obter
informações privilegiadas — Joan falou.
— Ei, amigo — Esmeralda abriu a porta. — Você, de gravata
borboleta. Sim, eu sei a diferença. Preciso ver suas credenciais.
— Esmeralda! — eu disse. — Fale baixo.
O guarda girou e saiu correndo, suas pernas atarracadas e
uniformizadas rangiam a cada passo.
— É melhor você correr, seu patife! — Esmeralda gritou.
— Pare de se preocupar, Lucy — Cheryl aconselhou. — Seu
casamento será lindo.
— As estatísticas mostram que noventa e nove por cento das
preocupações de uma noiva com o casamento nunca se concretizam
— Joan afirmou.
O organista começou a Música Aquática de Handel. Joan, Cheryl,
Esmeralda, sr. Philips, Alida e eu pulamos, olhamos uns para os
outros e respiramos fundo.
— Está na hora! — Cheryl exclamou.
— Vão! — Acenei para eles. — Vejo vocês no altar. Eu serei a
garota de branco dizendo coisas bobas e antiquadas tipo “eu aceito”.
— Espere. — Cheryl tirou um frasco de prata da anquinha de seu
vestido. — Isso é motivo de comemoração. Não celebramos por um
dos nossos com tanta frequência. Estamos sempre presos
comprando presentes chiques para as garotas que vão se casar com
as quais não nos importamos muito, porque sabemos que elas
também não se importam muito com a gente.
— Aqui, aqui! — Joan disse enquanto Cheryl tomava uma dose
do frasco.
— E então — Cheryl disse e secou a boca na manga —, aquelas
cretinas reclamam pelas nossas costas, mas nós sempre
descobrimos que deveríamos ter comprado para elas algo mais caro.
Então, um brinde à nossa Lucy, com quem nos importamos, que
nunca diria coisas maldosas pelas nossas costas.
— Vou dizer na sua cara.
— Essa é uma das razões pelas quais eu gosto de você. Um
brinde ao casamento de Lucy. — Ela engoliu uma dose e entregou a
bebida a Joan. — Que seja tudo como você sempre sonhou e muito
mais.
— Saúde! — Joan tomou uma dose e a entregou a Alida.
— Saúde! — Ela tomou um gole, fez careta e passou para o sr.
Philips, que tomou um gole rápido.
— Muito bem, senhoras. Reserva Privada do príncipe Harry?
Cheryl assentiu.
— Não economizo em casamentos.
— Você não economiza em nada. — Esmeralda pegou o frasco de
Philips e bebeu um gole, depois passou um pouco atrás das orelhas
e no decote. — Uma das razões pelas quais eu gosto de você.
— Você está desperdiçando boa bebida — o sr. Philips disse,
exasperado.
— Prefiro pensar que é um investimento. O cheiro da bebida da
Reserva Privada do príncipe Harry é praticamente um afrodisíaco
para qualquer homem nobre em uma recepção de casamento — ela
disse, e passou o frasco para mim. — Estou tragicamente solteira,
como você sabe.
— Não é tão trágico — Cheryl rebateu. — Você me disse que
nunca quis se casar.
Esmeralda levou o dedo aos lábios.
— Shh!
— Não, mas obrigada pela dose. — Balancei a cabeça. —
Finalmente passou o efeito do champanhe. Só vou me casar, de
verdade, uma vez. Não vou percorrer aquele corredor embriagada,
muito menos com bafo de uísque.
— Mas você precisa — Cheryl disse. — É tradição.
— Não de onde eu venho. — Peguei uma garrafa de água
mineral Fredonia, a ergui bem alto e fiz um brinde às minhas damas
de companhia e aos garotos. — Saúde! — E tomei um gole
generoso.
— Dios mio! — Alida exclamou.
— Merde! — Joan disse.
— Droga! — Esmeralda saltou em minha direção e derrubou a
garrafa de minhas mãos. Ela voou pela sala, respingou na calça do
smoking do sr. Philips e caiu de gargalo aberto em seu sapato
enquanto o líquido se derramava.
Ele olhou para baixo e suspirou.
— Por que você fez isso? — perguntei.
Alida se benzeu.
— Você não sabe, Lucy?
O rosto de Cheryl ficou pálido.
— Dá má sorte brindar com água.
— É só superstição — eu disse e acenei para eles. — Vão em
frente e percorram o corredor agora, porque finalmente vou me
casar. Minhas preocupações acabaram. Alguém tem chocolate? Estou
um pouco tonta. Meu nível de açúcar no sangue deve estar baixo.
Estou bem. Estou pronta. Além disso, o que poderia dar errado?
Capítulo quatro
NICK ESTAVA NA frente da catedral, usando um smoking preto.
Eu o preferia do jeitinho que tinha vindo ao mundo, todo esculpido e
suado com músculos definidos em que era possível se perder por
dias. Minha segunda opção seria camiseta, jeans justo e jaqueta de
couro enquanto eu me agarrava ao seu abdômen definido montada
na garupa da sua moto montanha acima, em meio ao clima frio de
outono com folhas vermelhas, amarelas e laranjas voando atrás de
nós. A terceira opção seguiria de perto o que ele estava vestindo
agora.
Ele se balançava para frente e para trás sobre os calcanhares e
sussurrava com seu padrinho, Cristoph, enquanto olhavam para a
ala do lado do noivo na igreja.
Minhas damas de honra e eu estávamos em fila atrás da catedral
como táxis fofos no aeroporto.
— Alguém tem um lanchinho? — perguntei. — Acho que um
pouco de açúcar me faria bem agora. Eu entrei no vestido. Qual é a
pior coisa que poderia acontecer? Ganhar alguns quilos depois do
casamento?
— Entendido — Esmeralda disse em seu relógio de joias. — A
segurança disse que devemos prosseguir pelo corredor. Eles ainda
estão escoltando a Nana Real até a igreja. Ela teve que parar para
usar o banheiro.
— Por que simplesmente não esperaram até que ela termine? —
perguntei. — O que são mais dez minutos?
— O casamento já está meia hora atrasado — Famke respondeu.
— Os consultores da Royal Weddings R Us conduzem uma máquina
bem lubrificada — ela disse. — Hoje é seu dia de sorte, srta.
Trabbicio. Você é a noiva e vai se casar com um belo príncipe.
Parabéns a você: é um dia para recordar.
— Obrigada — respondi.
— Mas, no seu caso, acho que é o seu “segundo dia para
recordar” — ela disse, fazendo aspas no ar com os dedos. — De
qualquer forma, ainda é nosso trabalho na Royal Weddings R Us
ajudá-la a aproveitar esse evento abençoado, não importa o que
aconteça.
— Parece ótimo. — Lembrei à minha mão que coçava que não
era educado esbofetear pessoas que conheci apenas cinco minutos
antes. — Aconteceu algo?
— Sim. O casal mais empolgante e falado da indústria do
entretenimento está prestes a anunciar seu divórcio iminente.
Acabamos de receber as notícias. As equipes de reportagem
acampadas em frente a esta catedral acabaram de receber a ordem
de desmontar o acampamento o mais rápido possível e enviar seus
melhores repórteres de entretenimento para Monte Carlo, onde o
advogado da esposa dará uma coletiva. Começamos esta cerimônia
agora ou perderemos a oportunidade.
— Minha oportunidade de me casar?
— Não. — Ela balançou a cabeça. — A chance de obter o
máximo de retorno para a publicidade de Fredonia com o seu evento
abençoado.
— E se eu não me importar com isso?
— Então, você, minha querida, é a única neste país que não faz
isso. Fredonia perdeu muito dinheiro quando o negócio das terras de
Friedricksburgh não aconteceu, um ano e meio atrás, quando você
fugiu desta mesma catedral e não se casou com o príncipe herdeiro
Cristoph.
— Eu não poderia me casar com o príncipe Cristoph. Não estava
apaixonada por ele. E eu nem era a verdadeira lady Elizabeth
Billingsley. Tecnicamente, teria sido uma fraude.
— Tecnicamente ainda era fraude — ela rebateu. — A família real
optou por não prestar queixa contra você.
— Do que você está falando? — Eu pisquei. — Ninguém me falou
de nenhuma acusação.
— Você não estava a par desses assuntos, agora você está,
querida — ela disse. — O sr. Philips tem todos os detalhes.
Ele tossiu.
— Você sabia que poderiam ter sido feitas acusações contra mim
e não me contou, Philips?
— Não é hora para essa conversa — ele respondeu, e escovou as
mangas do paletó do smoking.
— Quando será a hora para essa conversa?
— Mais tarde — Famke disse. — Todos nós chegamos a um
acordo quanto a esse desastre, pelo menos a maioria de nós. A
família real sofreu um golpe financeiro. Eles fizeram empréstimos
caros para pagar os investidores. Mas as melhorias na campanha de
viagens de Fredonia, “Voe com liberdade em Fredonia!”, nunca
foram adequadamente financiadas. O turismo não decolou. A
pontuação do país no Yelp, que publica avaliações sobre empresas,
sofreu um golpe. Mas, de qualquer maneira, vá em frente e adie o
casamento. Vamos ver como vai ser para os cidadãos que estão
contando moedas e ficando sem carne para garantir que você e suas
damas estejam usando vestidos bonitos e joias apropriadas para as
redes sociais e a imprensa hoje, no seu lindo dia de noiva.
— Meu Deus. — Minha mão voou para o meu peito. — Eu não
fazia ideia!
Esmeralda olhou para Joan.
— Vá. Caminhe por aquele corredor agora.
— Mas, a Lucy não...
— Simplesmente vá — Esmeralda falou.
Famke olhou para mim.
— Devemos enfrentar o problema de frente, srta. Trabbicio, e
sermos um por todos e todos por um?
Mordi o lábio.
— Joanie, vá!
Joan respirou fundo e, enquanto caminhava pelo corredor,
assumiu a pose que era a marca registrada das damas de honra:
confiança, estilo e graça. A multidão assentiu com entusiasmo,
algumas pessoas giraram em seus assentos, sorrindo enquanto a
observavam.
— Você também, Cheryl — eu disse.
Ela se posicionou, afofou a saia e esperou até que Joan chegasse
a cerca de um terço do caminho em direção ao altar. Espiei de um
ângulo e observei enquanto ela marchava com os lábios cerrados em
um sorriso. Esmeralda a seguiu, depois Alida e meu pajem, Mateo,
que levava as alianças. Minhas damas e meu homenzinho
percorreram o corredor enquanto Cânone em Ré Maior, de
Pachelbel, tocava ao fundo. O único problema era que eu ainda não
tinha visto a avó de Nick.
— Onde está a Nana Real? — Belisquei o braço do sr. Philip
Philips. — Não posso fazer isso até que ela esteja em seu lugar.
Prometi a ela que caminharia pelo corredor ao som de Cânone em
Ré Maior, revivendo seu dia glorioso.
— Ela deve chegar a qualquer momento, Lucy.
— O filho dela, o rei de Fredonia, não deveria ir buscá-la? —
perguntei.
Famke riu baixinho.
— O rei não tem permissão para mover um fio de cabelo. A
segurança está mais apertada nele do que sardinha em lata.
— Eu sei que a Nana Real fez um desvio para usar o banheiro —
eu disse. — Quem foi designado para ajudá-la a entrar na igreja?
— Todo mundo está fazendo o próprio trabalho, srta. Trabbicio —
Famke disse. — Relaxe. Este é o seu dia especial. Sorria para as
câmeras. Você estará no noticiário, querida. Logo após as
manchetes sobre a separação do rei e da rainha do entretenimento.
Todos nós esperamos ser a principal manchete do dia, mas às vezes
temos que nos contentar com o segundo lugar.
Joan parou, sã e salva, na frente da igreja. Cristoph se virou e
sussurrou no ouvido de Nick. Ele balançou a cabeça, depois girou e
olhou para mim. Tecnicamente, eu sabia que ele não podia me ver,
mas ao mesmo tempo parecia que ele olhava através de mim, e
meus braços se arrepiaram. Ele deu meia-volta e caminhou
rapidamente até o vestíbulo lateral, sumindo da minha vista.
— O que houve? — perguntei a Famke. — Para onde Nick foi?
— Espere, espere — ela falou, e murmurou em seu relógio. —
Comunicação solicitada. Noivo deixou o altar. Repito: a noiva quer
saber por que o noivo saiu do altar.
— O que está acontecendo? — perguntei.
— Confirmação recebida — Famke disse. — A Nana Real queria
que Nick a acompanhasse até a catedral. Ela está convencida de que
seus “cuidadores" não são bons. Ela só vai entrar se ele a
acompanhar até lá dentro.
Eu sorri. Nana Real estava fazendo todos nós nos esforçarmos. E
por mim tudo bem.
— Ande, srta. Trabbicio — Famke incitou. — Se você caminhar
pelo corredor agora, ainda podemos aproveitar aquela chance.
Sr. Philips estendeu o braço para mim.
— Lamento por esses problemas no seu casamento mais recente,
Lucille.
Segurei o braço dele.
— Nada está livre de problemas, Philips. Lamento pelos seus
sapatos.
Ele deu de ombros.
— Estão tocando sua música. Espero que a Nana Real entre com
Nick escoltando-a assim que chegarmos ao altar.
— Deve ser uma ótima oportunidade para fotos — Famke
comentou. — Vou alertar o fotógrafo designado para a parte da
frente. Se você conseguir uma foto com a vovó, pode até superar
Gabecca.
— Gabecca? — perguntei.
— Gary Hall e Rebecca George — ela disse. — O casal de
Hollywood cujo anúncio de divórcio está roubando a sua glória e a
de Fredonia. Mova-se, srta. Trabbicio. Vá. Por favor. Sorria. Pareça
virginal.
— Me acompanha até o altar, sr. Philips?
— Achei que você nunca fosse perguntar. — Ele estendeu o
braço.
Minha mão tremia quando peguei seu braço e comecei minha
marcha nupcial de verdade. Tentei não encarar os convidados e os
curiosos nos bancos da catedral. Com ou sem Gabecca, eu já sabia
que isso ia virar notícia. Que noiva real caminha pelo corredor sem
que o noivo esteja no altar, esperando por ela?
Nenhuma. Isso, sim.
Gotas de suor surgiram em minha testa. Olhei para Esmeralda
parada perto do altar e me perguntei se ela ainda tinha os mini
absorventes na bolsa. Eu apostaria que Cheryl ainda estava com o
uísque e realmente esperava que Joan estivesse pegando um pouco
de chocolate. Eu me sentia mais tonta a cada segundo e, se fosse
preciso, pediria algumas hóstias àquele padre gordinho.
— Você está indo muito bem, sr. Philips. — Agarrei-me com mais
força a seu braço. — Já levou mulheres ao altar antes?
— Apenas uma vez.
— Bem, você, senhor, é espetacular. Por mais que eu desejasse
que meu pai ainda estivesse vivo para realizar este rito de
passagem, recomendo muito você a todos os meus amigos que
precisarem de um braço masculino sólido, um homem que se
orgulha de uma aparência imaculada para cumprir a própria missão
em seu grande dia.
Foi quando percebi o brilhantismo da jogada de xadrez
matrimonial de Famke. Os vídeos desse momento, uma noiva
percorrendo o corredor sem o noivo esperando por ela, viralizariam
no Facebook, Twitter, YouTube e atingiriam um zilhão de
visualizações. Os olhos do mundo estariam voltados para mim e, de
repente, me senti ainda mais trêmula. Se eu tivesse sorte, não teria
comido todo o meu batom e, ao contrário do baile de formatura, não
estava agraciando o salão inteiro com o vestido preso na parte de
trás da meia-calça.
— Quantas visualizações você acha que isso vai ter no YouTube?
— perguntei.
— Pelo menos cinco milhões na primeira noite. Você estará em
alta no Facebook, logo atrás de Gabecca — ele disse.
— Mas que porcaria esse lindo casal. Eles não poderiam ter sido
mais atenciosos e terminado seu casamento de conto de fadas em
um dia diferente daquele que o meu estava programado para
começar?
— Uma velha sábia me disse uma vez, Lucille, que pegamos o
que nos é dado e seguimos em frente. A vida não é para os perfeitos
nem para os fracos de coração.
— A vida pode ser esmagada em um milhão de pedacinhos, mas
temos permissão, até mesmo incentivo, para juntar cada estilhaço,
talvez até mesmo nos cortando no processo, enquanto unimos cada
um deles. Então, nós o seguramos em direção à luz e deixamos o
amor, o destino, a perseverança e a sorte brilharem através deles
enquanto descobrimos como esse quebra-cabeça deve parecer
quando não for mais perfeito — comentei enquanto nos
aproximávamos do altar.
— Belas palavras — sr. Philips disse.
— Meu pai me disse isso há muito tempo.
— Obrigado, Lucille, por me permitir ser o substituto dele.
Chegamos ao final da minha segunda marcha por um corredor
matrimonial. Apertei o braço do sr. Philips e enxuguei uma lágrima
de seu rosto.
— De nada.
As câmeras continuaram filmando, embora meu noivo, o príncipe
Nicholas Frederick Timmel, de Fredonia, ainda não tivesse retornado
com sua avó.
— Fique por aqui, Philips. Podemos ser capazes de fazer história
— sussurrei. — Você poderia me escoltar de volta pelo corredor, na
direção de que acabamos de vir.
— Talvez — ele respondeu. — Mas a tradição exige que eu te
beije na bochecha e me sente.
— Covarde — eu sussurrei.
— Um covarde sentimental e tradicional. — Ele se inclinou, me
beijou com carinho e foi até o banco.
Fiquei na frente da igreja usando meu belo vestido de noiva e
olhei ao redor. Minhas damas estavam de um lado, o lindo e loiro
príncipe Cristoph, do outro, mas ainda não havia sinal de Nick.
Parecia que todo mundo ali estava prendendo o fôlego.
Cristoph me olhou e estalou os dedos.
— Lucy — ele disse. — Isso é loucura. Eles falaram sobre a Nana
Real, certo? O Nick já estará de volta.
— Eu sei. — Olhei ao redor de novo. Vi meu tio John, bonito e
elegante em um terno cinza. Tulip, minha labradora amarelo, batia o
rabo. A rainha Cheree me olhou, segurou meu olhar, sorriu e
articulou “respire” com os lábios.
Mateo olhou para o chão enquanto sua mãe, Alida, se inclinava e
sussurrava em seu ouvido. As damas de companhia estavam
inquietas. Suspeitei que elas haviam passado uma última rodada da
Reserva Privada do príncipe Harry antes de marcharem pelo corredor
e simplesmente não me contaram. O organista parou de tocar. O
lugar inteiro estava em silêncio e eu juro que daria para ouvir um
alfinete cair, exceto pelos zumbidos fracos e os cliques das câmeras.
A sensação era a de que eu era um animal acuado. Um animal muito
bem arrumado. Eu oscilei.
— Não dá mais — Esmeralda murmurou baixinho, saiu da
formação das damas, caminhou alguns passos em minha direção e
fingiu ajustar meu véu. — Como você está? — ela sussurrou.
— Nada bem.
— Eu também não estaria — ela disse enquanto nós duas
olhamos para o vestíbulo lateral: ainda nada de Nicholas. Os
convidados do casamento viraram o pescoço enquanto olhavam
entre mim, em pé no corredor, e aquela luzinha que vinha da porta
que dava para o lado de fora da catedral.
Lady Cheryl foi a próxima a sair da fileira, deu alguns passos em
nossa direção, se inclinou e mexeu em meu vestido.
— O que é que está acontecendo?
— Eu vou vomitar — eu disse.
— Ela está ficando branco-esverdeada — Cheryl sussurrou. — O
rosto dela parece um purê de ervilhas.
— Dê a ela uma dose do príncipe Harry — Esmeralda
aconselhou.
— Não. Enfiei o frasco na calcinha — Cheryl respondeu. — Todo
mundo na catedral vai ver se eu tirar.
— Vão pensar que sua meia-calça entrou em suas partes íntimas
— Esmeralda pontuou. — Ninguém vai te culpar por desenfiar a
calcinha. Pegue o uísque. É uma emergência.
— Prometi ao meu marido que não mostraria minhas partes
íntimas essa noite — Cheryl falou.
— Seu marido vai superar — Esmeralda retrucou. — Lucy só se
casará uma vez, sabe.
— Duas — eu disse. — Não preciso de bebida! Que tal um pouco
de chocolate?
Joan correu até nós.
— Lucy — ela sussurrou. — Você está bem?
— Você tem chocolate? — Oscilei novamente, enquanto sentia
calor e frio e depois calor de novo, e comecei a suar.
Murmúrios começaram a vir da multidão. Eu podia ouvir os
fofoqueiros alinhados, tagarelando com sussurros nada abafados.
— Não aqui. — Joan alisou meu cabelo para trás, tirando-o da
minha testa úmida.
Alida se aproximou com Mateo.
— Lucy, você está bem?
— Não. A catedral inteira está zumbindo. Parece um enxame.
Todo mundo está fofocando e apontando, não é?
— Sim — minhas damas disseram em uníssono.
— A Nana Real ainda não chegou — eu disse. — E o Nick
também não.
— Não — elas disseram.
— O que devo fazer? — perguntei.
— Lucy! — Cristoph disse.
Olhei para ele.
Seus olhos carregavam um pouco de constrangimento misturado
com pena e não achei que fosse um bom sinal.
Eu me afastei das minhas damas de companhia, virei e o encarei.
— Quer me dizer alguma coisa? — perguntei ao príncipe errado
mais bonito de Fredonia.
— Sim — Cristoph disse, e apontou. — A Nana Real já se
acomodou.
E tinha mesmo. Soltei um suspiro de alívio quando a vi sentada
na ponta do primeiro banco. Ela usava um chapéu de casamento
enorme adornado com um beija-flor falso que parecia de verdade e
mergulhava o bico nas rosas de seda branca da aba. O andador
estava posto ao lado dela, enfeitado com fitas de cetim para o dia
especial.
Eu me virei para minhas damas de companhia, mas elas já
haviam retornado aos seus lugares nos degraus do altar, com o
sorriso estampado no rosto.
Sorrisos falsos estampados no rosto. Eu me arrepiei toda, e um
mau presságio corroeu meus ossos.
O homem que eu amava, meu noivo, o cara por quem eu tinha
caminhado até o altar não estava lá.
— Onde está o Nick? — perguntei a Cristoph.
O bispo idoso sorriu para Cristoph e para mim e acenou com a
cabeça, sua mitra elegante se inclinou perigosamente para fora da
careca.
— Muito bem! Vamos começar, sim? Sejam todos bem-vindos!
Estamos reunidos aqui hoje diante de Deus para unir essas duas
pessoas em matrimônio...
— Não, não estamos — sussurrei, e olhei para ele. — Não
estamos aqui reunidos para unir essas duas pessoas, porque uma
delas está desaparecida.
— Ah — ele disse. — Estamos reunidos aqui hoje para
comemorar...
— Onde está o Nick? — perguntei a Cristoph. De novo.
— Acabaram de me entregar isso — ele disse e passou um
bilhete para mim. — É para você. Do Nick.
Com mãos trêmulas, desdobrei o pedaço de papel e o li:
Minha doce Lucy,
De verdade, desculpa.
Ideias mudam, coração.
Não amo você.
Laço pode ser forjado, não levado.
Nem fazer refém.
Não seu, Nick.
— Não! — eu gritei. Amassei o bilhete e o enfiei na frente do
corpete de seda. A sala ficou branca, depois cinza, então girou ao
meu redor em uma velocidade vertiginosa. Não suportava mais o
peso dos olhares, o calor das câmeras dos paparazzi. Senti meus
joelhos dobrarem, e tudo escureceu.
Capítulo cinco
DIZER QUE MEU segundo dia de casamento foi atribulado seria
dizer pouco. Sirenes soaram à distância. Mãos firmes me levantaram
do chão frio e me largaram em um catre, ou em uma cama. Alguém
enfiou um cubo de açúcar na minha boca. Uma alma bondosa me
deu um pedaço de chocolate. Uma pessoa atenciosa tirou meus
sapatos e massageou meus pés.
Concluí que a vida poderia ser perfeita se alguém tirasse todas as
minhas roupas, me besuntasse com óleo e me fizesse uma
massagem com pedras quentes e o aroma de eucalipto flutuando no
ar. Mas me lembrei do bilhete de Nicholas, ainda arranhando no meu
decote, onde eu o havia enfiado. Minhas mãos tremiam, e percebi
que nada nunca mais seria perfeito.
Alguém iluminou meus olhos com uma luz.
— As pupilas estão responsivas. Ela está viva — o cara disse.
— É claro que está — Joan retrucou. — Foi só uma hipoglicemia.
— Ela cheira a uísque — Famke disse enquanto eu estava lá
deitada na maca, sendo empurrada ruidosamente pelos paramédicos
para fora da catedral. Imagens nebulosas de pessoas preocupadas e
fofocando ao olharem para mim passaram rapidamente enquanto eu
estava que nem uma salsicha enorme enfiada em um pão.
— Correção. Ela cheira a uísque caro — Cheryl falou. — Coloquei
um pouco debaixo da língua dela. Vai ajudar a reanimá-la. É um
clássico, um extrato homeopático consagrado pelo tempo.
— Você bebeu demais, senhorita? — um paramédico perguntou.
— Não! — Dei um soco fraco no cara, mas só de raspão, e fiquei
decepcionada por estar sem forças até para isso.
— Ai! — Famke disse.
— Opa, desculpa — o cara falou, e a luz desapareceu
rapidamente.
— Abram caminho, abram caminho! — Alguém disse enquanto
chacoalhávamos pelos paralelepípedos, e ouvi os gritos dos
repórteres e cinegrafistas.
Semicerrei os olhos e distingui a multidão de repórteres de
segundo escalão, loucos por um furo de reportagem, circulando ao
nosso redor como uma alcateia de lobos vorazes. Guardas da
segurança real cercaram minhas damas e os paramédicos me
empurrando em direção à ambulância, mantendo os curiosos
afastados.
— Ela está viva? — o repórter magro do Fredonia Free Press
perguntou e empurrou o microfone em nossa direção.
— Esse vestido de noiva está bem justo na cintura. É verdade
que a noiva está grávida e já no segundo trimestre? — a repórter de
cabelo de algodão doce da Fox Fredonia News perguntou.
Tentei dar um segundo soco, mas só atingi o ar.
— Ela está tendo uma convulsão? — um terceiro repórter
perguntou.
— Sou a advogada Joan Brady. Não falo pela Família Real, mas
represento a srta. Trabbicio. Nenhuma pergunta será respondida no
momento.
— Acho que ela só precisa de mais uma dose — lady Cheryl
sussurrou enquanto me empurravam na parte de trás de uma
ambulância e fechavam as portas.
Pá. Pá. Pá.
Minha visão podia estar embaçada, mas minha audição estava
intacta. A parte de trás da ambulância não fechou quando colidiu em
algo firme e carnudo.
— Se você bater na minha coxa mais uma vez — Esmeralda disse
—, vou gravar um vídeo, postar no Tumblr e prestar queixa.
— Sinto muito, senhorita — o técnico respondeu. — Já pedi duas
vezes para sair do veículo, mas você continua entrando no último
minuto. Você não pode permanecer na ambulância, a menos que
seja um parente.
— E que grau de parentesco mais eu preciso ter? — Esmeralda
perguntou. — Ela é minha... irmã.
— Eu duvido — ele retrucou.
— Ela é minha prima.
— Não vejo qualquer semelhança.
— Certo, tudo bem! Não íamos anunciar isso ainda — Esmeralda
disse, e apertou meu dedão do pé —, mas ela é minha... esposa.
— Que gostoso — eu falei. — Você poderia mover um pouco para
baixo em direção ao arco? Aqueles sapatos podiam ser bonitos, mas
eram terrivelmente apertados. Eu sou o que sua?
— Ela é minha esposa. Acabamos de nos casar. — Esmeralda
apontou para a catedral. — A dona encrenca aqui ficou
sobrecarregada e desmaiou, porque ela nunca pensou que veria o
dia em que isso seria legalizado. Você é uma dessas pessoas que
não concorda com as uniões do mesmo sexo?
— Eu não me importo com quem se casa — o paramédico falou.
— No final das contas, os advogados enchem o bolso com mais
dinheiro quando todos se divorciam. Mas a mulher deitada nesta
maca não é a garota americana que deveria se casar com o príncipe
Nicholas de Fredonia?
— Sim. Mas a Lucy mudou de ideia — Esmeralda respondeu. —
Ela se apaixonou por mim. Os planos mudaram. Regimes foram
derrubados. Vamos levar nossa garota, quero dizer, a minha
pombinha e nova esposa para o hospital, certo?
— Mas é claro, senhora — ele disse.
— É lady Esmeralda Ilona Castile Trabbicio-Habsburg — ela o
corrigiu. — Foi tudo muito repentino, e sei que não tivemos chance
de discutir isso, querida. — Ela fez cócegas na sola dos meus pés.
— Para! — Eu chutei.
— Não foi isso que você disse mais cedo na sala do coral. Não
gaste energia extra agora, querida. Só vou supor que vamos
hifenizar nossos sobrenomes.
*****
Meia hora depois, eu me encontrava no hospital Friedricksburgh
Memorial, em um quarto privado adjacente ao pronto-socorro.
Adjacente era a palavra-chave, porque precisávamos de paredes
sólidas para afastar os paparazzi, não cortinas frágeis presas por
argolinhas de metal presas a hastes finas.
Posso não ser tão magra, mas agora podia imaginar como era
para aquelas argolinhas serem puxadas para lá e para cá, dia após
dia, enquanto davam o seu melhor para se segurarem lá. Eu
também me senti puxada de um lado para o outro enquanto dava o
meu melhor para me apegar aos últimos fragmentos da minha
sanidade, já que minha dignidade havia desaparecido há muito
tempo.
Onde estava o meu Nicholas? Por que ele faria isso comigo? Seria
possível ele simplesmente me largar no meio do nosso casamento
ou alguém colocou drogas alucinógenas na minha água? Quais eram
as chances de meu segundo casamento ser ainda pior do que o
primeiro? Mas então a calma tomou conta de mim como se fossem
as lágrimas de anjos chorando lá do céu. Era como se alguém
tivesse me dado uma bebida batizada, ou uma mistura de calmantes
e, de repente, passei a não dar a mínima.
Meu coração se encheu de amor e saudade quando percebi que
eu passaria por cem casamentos desastrosos se fosse para acabar
com o cara certo, o homem que eu amava, meu príncipe Nicholas
Frederick Timmel de Fredonia.
Eu diria sim para caber em outro vestido, ganharia mais cinco
bolhas em cada pé, participaria de mais chás de panela chatos e
passaria mais horas tortuosas e excruciantes olhando para vestidos
de noiva se isso significasse que eu poderia me casar com o cara
com quem eu deveria ficar. O cara que eu conhecia do fundo do meu
coração era o homem certo para mim.
Isso, é claro, a menos que Nick realmente tivesse me largado.
Porque, se Nicholas tivesse me deixado plantada no dia do nosso
casamento na frente de centenas de convidados, plebeus, realeza,
esnobes e paparazzi antes de dizermos “sim”, eu teria um grande
problema com isso.
Ah, claro que ele podia ser sagaz, inteligente, gentil com as
pessoas e também com os animais. Sim, ele era incrivelmente lindo
com aquele cabelo preto basto, maçãs do rosto salientes, olhos azuis
que poderiam abrir um buraco em você, e a barriga tanquinho tão
definida que precisava ser gentilmente tratada pela minha língua
todas as noites.
Eu poderia ser louca por ele, mas não estava tão nocauteada
assim.
E então me dei conta de que eu teria que rastreá-lo e matá-lo.
Sim, seria forçada a transar com ele uma última vez, tudo bem,
vinte, antes de finalmente atirar nele, empurrá-lo de uma sacada
alta ou colocar um pouco de veneno em sua cerveja favorita. Mas,
em justa retribuição pelo pesadelo que vivi hoje, eu me certificaria
de que as últimas palavras que escapassem de seus lábios antes de
eu realizar o ato covarde, mas perfeitamente compreensível, fossem
meu nome.
Eu não me importo se você é da realeza, que Deus tenha a sua
alma se você mexer com uma Trabbicio de Chicago, Illinois. Nós
éramos, afinal, parte italianas.
Mas, de acordo com as minhas damas, Nick não foi visto, muito
menos ouvido. Ninguém o tinha visto na ala internacional do
aeroporto com um boné puxado para baixo na cabeça enquanto
tentava escapar das câmeras. Nenhum paparazzi havia capturado
imagens dele em Aruba se divertindo com loiras peitudas. Ele não foi
visto andando de jet ski em Capri com uma estrela pop vestindo
nada além de um sorriso, agitando a bandeira real de Fredonia para
o mundo inteiro ver, fotografar e colar nas páginas dos tabloides ou
postar na internet.
Então, onde é que ele estava?
Já era de noite, apenas algumas horas depois do meu “quase”
casamento real. Minha cabeça estava me matando, meu coração
doía ferozmente, e a única coisa que eu sabia era que queria que
esse dia acabasse. Olhei em volta, para o resplandecente e
esterilizado equipamento médico, minhas damas ainda trajavam
seus lindos vestidos de madrinha, enquanto eu estava usava uma
bata de hospital de duas camadas e estava conectada a uma bolsa
de soro fisiológico com plugues presos aos meus membros.
— Me tirem daqui — implorei.
— Ainda não — Joan falou e verificou seu telefone.
— Ah, droga, caiu na internet, não foi? — perguntei. — Logo
após a notícia do divórcio de Gabecca.
— É... — Joan disse.
— Não está acessível nesta área do hospital — Esmeralda falou.
— Vamos dar uma olhada na sua lista de coisas a fazer no
hospital. — Cheryl bateu palmas. — Não vai ser divertido?
— Não vou ter que espetar um atiçador em brasas no seu olho?
— Esmeralda perguntou.
O centro médico de Friedricksburgh não era tão grande e
sofisticado quanto o que eu havia “visitado” em Sauerhausen, a
capital de Fredonia, um ano antes, quando desmaiei de hipoglicemia
na pista do aeroporto. A equipe era mais amigável e silenciosa, e a
clínica tinha um gato de terapia chamado Roman. Uma enfermeira
nos disse que ele vagava de quarto em quarto, a menos que
houvesse uma placa de “Alérgico a Gatos” na porta, que de alguma
forma ele parecia reconhecer. Agora, eu embalava o gato-de-bengala
amarelo e gordo em meus braços e saí do meu leito para esticar as
pernas com cãibras.
— Tenha cuidado — Joan alertou.
— Preciso me mexer. — Fui até a janela, agarrada ao gatinho
ronronante que parecia extremamente reconfortante.
Os jornalistas do alto escalão já haviam sobrevoado os Alpes
para dar um pulinho em Monte Carlo e cobrir o anúncio do divórcio
de Gabecca. Infelizmente para mim, os repórteres de segundo
escalão ainda estavam aqui, acampados lá embaixo no
estacionamento do hospital. O céu noturno estava cheio de nuvens
cinzentas e a chuva caía, o que significava que a neve não estava
muito longe.
Espiei por detrás das persianas e vi os paparazzi lá embaixo.
— Eles parecem famintos. Já passou da hora do jantar. Devemos
pedir pizza para eles? Acho que tem um cupom na minha bolsa. Ah,
espere, eu não trouxe a bolsa.
— Volte para a cama — Joan chamou.
— Você não deveria andar por aí até fazer a ressonância
magnética — Alida disse e deu um tapinha no cabelo de Mateo, que
dormia em seu colo com o polegar perto demais da boca.
— Eu estou bem — menti enquanto estremecia. — Mas estou
preocupada com essas pessoas. Está começando a chover. Vejam
bem. Há a repórter de traseiro doce da Fox Fredonia News. Estou
com medo de que o cabelo dela derreta.
— Você quer dizer a repórter de cabelo de algodão doce —
Cheryl falou. — Você está confusa. Precisa se deitar até terminar a
ressonância magnética.
— A duquesa Von Sauerhausen já cuidou da entrega de comida
— Esmeralda comentou. — Ela pediu duas dúzias de tortas de carne
do Pepe com molho extra. O cara do Fredonia Free Press disse que
ele não seria comprado e se recusou a comer.
— Tanto faz. Eu fico com a parte dele. — Pressionei o nariz na
janela e olhei para cima. — Meu Deus! Tem um fotógrafo escalando
a calha?
— Droga! — Cheryl disse e fechou as mini persianas com um
movimento rápido do pulso. — Ligue para a duquesa de novo.
Precisamos nos livrar dessas pessoas. E precisamos nos livrar delas
agora.
Capítulo seis
DE ACORDO COM Cheryl e Joan, os repórteres de segundo
escalão uniram forças e exigiram informações do chefe de equipe do
hospital, bem como do relações públicas real, sobre meu estado.
Sim, estavam fazendo perguntas sobre o súbito desaparecimento de
Nick. O pessoal da rainha Cheree espalhou a desinformação de que
ele estava entrando na catedral quando desmaiei e que foi levado
pela segurança para o caso de ter sido um atentado contra nossas
vidas reais. Agora ele estava aqui no hospital Friedricksburgh
Memorial ao meu lado.
Quanto mais tempo eu passava com a realeza, mais fácil se
tornava toda essa coisa de mentir.
A família real foi rápida ao contratar dois atores desconhecidos
que tinham uma leve semelhança comigo e com Nick. E, voilà,
embora eu não tivesse marcado esse item como um presente em
minha lista do casamento, de repente eu tinha minha própria sósia.
Os atores receberam o dobro do valor normal e assinaram um
acordo de confidencialidade por sua “performance artística”.
Eles os levaram para o hospital na parte de trás de uma van de
descarte de lixo tóxico. Os assistentes reais vestiram minha sósia,
Debbie, em meu vestido de noiva, fizeram alguns ajustes porque,
aparentemente, ela vinha cumprindo a meta de dar seus dez mil
passos diários em busca de uma melhor qualidade de vida, e
puseram nela bijuteria barata feita de strass. Assisti da janela
enquanto o falso príncipe Nicholas, usando casaco e boné puxado
mais para baixo na cabeça, conversava com o verdadeiro sr. Philips
conforme os atendentes a empurravam para fora do prédio, com
uma tala na perna. Guarda-costas robustos os cercaram enquanto
ela era transferida para um helicóptero que esperava em um
estacionamento distante, com suas lâminas cortando lentamente o
ar fresco do outono.
O porta-voz do hospital deu uma coletiva de imprensa e informou
aos repórteres que os médicos decidiram errar por excesso de
cautela e me transferiram para o hospital maior e mais moderno em
Sauerhausen, para “exames e tratamento adicionais”. Esperamos
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men had come to Tatuin, the most southerly station, to purchase
corn.
Whether they might not have again left he did not know, but at any
rate there was a chance for me. Relays of horses and an escort
should be at my disposal whenever I desired them; but he hoped I
would stay over the morrow, that I might meet the officers.
The garrison at this military post consists of a company of infantry,
a squadron of cavalry, and a small detachment of artillery. The
soldiers are lodged in large airy barracks, and the officers have
comfortable quarters in new buildings.
There are no women within the camp, therefore all domestic
service is performed by soldiers, who act as cooks and
chambermaids. The officers form themselves into committees for the
control of supplies, and at their table one dines remarkably well, as I
had occasion to verify that same evening.
Lieutenant Henry introduced me to his mess. There I met most of
the messmates of Gabés, and we renewed acquaintance to the clink
of glasses.
After dinner we adjourned to the military club, where we met all
the officers of the garrison, both young and old.
Next morning Lieutenant Henry accompanied me to the Ksar. We
first ascended the minaret, from which we had a beautiful view over
the town and plain. Then we visited the various groups of houses,
with their vaulted gables and remarkable steps to the upper storeys.
These steps were merely stones projecting here and there from the
wall for the convenience of those who wished to climb up. Several of
the groups of houses clustered so closely together, and leant so
much the one upon the other in endless confusion, that it was
extremely difficult to find one’s way through the labyrinth.
MEDININ.

By a narrow opening, so low that we had to pass through with


bowed heads, we arrived in a courtyard, emerging thence by a larger
opening like a gateway, built as a defence. Through loop-holes in the
sides, a severe fire might be kept up on an attacking enemy.
In a few of the outer walls overlooking the plain I noticed the same
loop-holes; but defence is supposed to be maintained from the roofs,
or rather from the central building.
It surprised me not to see more men about; but my cicerone
explained that nearly all the inhabitants had sallied out on the 20th of
this month, and had gone towards Moktar and the Tripolitan frontier
nearest the sea, to follow their agricultural pursuits.
There they live in tents—first to sow, later to watch their fields,
and finally to gather the harvest; not returning until the month of June
the following year. Then they bring home the harvest, and store the
products in the Ksar, which thus becomes what it is intended for—a
great fortified granary.
At the time of my visit, there remained in the Ksar only about a
couple of hundred men, who were merely left to guard the houses.
The place looks quite different in the month of July, when some
one thousand five hundred or two thousand men arrive and pitch
their tents above the Ksar; they depart again in October, after they
have stored the barley, wheat, maize, “sorghum,” beans, and millet.
The inhabitants belong to the Berber tribe of “Tuasin,” and number
some fifty thousand souls, dwellers in the Ksar and on the plain.
They possess at least the same number of camels, a couple of
thousand asses and twenty thousand sheep, from which it may be
gathered that the greater portion are nomads, rather than dwellers in
the oasis. In fact, they care little for their plantations.
In the groves near the Ksar grow palm, olive, and fig trees, also a
few pomegranates, peaches, and apricots; but they are ill tended,
and produce but poor crops.
The mode of life of the inhabitants and their perpetual feuds with
the tribes on their frontier have caused them to develop into a brave
and warlike people. Every man owns a firearm, which he does not
hesitate to use on the slightest pretext. If hardly pushed, he flies to
his fortress with all his possessions and cattle—there he is in safety.
It is natural that the Turks in Tripoli should regard with mistrust the
French occupation of Tunisia, which they have never consented to
recognise; and on that account have never been disposed to have
the frontier defined. To this day it remains undetermined, perpetual
frontier conflicts being the result; for the tribes on either side still look
on the country, as they have always done, as their own to dispose of
according to their will and pleasure; and, as hitherto, prefer to settle
disputes in their own way. But the French occupation of Metamer,
Medinin, and Tatuin has been of no small service in bringing about
peace and quiet in these regions.
The northern side of the frontier is especially desert and barren,
consisting only of interminable sandhills destitute of vegetation.
South of this are far-stretching steppes, seldom trodden by human
foot, and over which a deathlike silence reigns. No paths are traced
through these deserts to guide the lonely traveller who may venture
to penetrate them. Even the natives fear to enter a territory where
any man they may meet must be regarded as an enemy.
To the south the steppes form a junction with the Matmata
mountains, and are frequented only by the Tripolitan tribe of Nuail
and the Tunisian Urghamma. These alone, therefore, would be
capable of defining the boundary of this desert region, as their
wanderings have made them well acquainted with its limits.
The Urghamma tribe—from which this continent apparently takes
its name—the “Aurigha” of the ancients having become Africa—
numbers some thirty thousand souls. At one time they mustered
some four or five thousand soldiers, and were exempted by the Bey
from payment of taxes, as they had bound themselves to defend the
frontier.
The fact was, that they would not pay taxes. They took advantage
of their peculiar position to make armed forays to rob and plunder far
and wide; and gloried in deeds of bloodshed, engraving a mark on
their guns for each man they slew. Guns covered from stock to
muzzle with such marks are still to be met with.
With the advent of the French, circumstances altered, and now,
thanks to the supervision of the military authorities, the Urghamma
behave more like peaceful nomads.
Everywhere in the plains of Southern Tunisia I found remains of
ancient towers—now lying in ruins, since the need for them no
longer exists, but where formerly the nomads sought refuge when
they were pursued. The decay of these towers proves that the
French have known how to establish quiet and order in the country.
According to inquiries which I made in the south, the Urghamma
are divided into the following groups:—
The Khezur and the Mehaben in and around Medinin.
The Accara on the coast.
The Tuasin on the plains.
The Uderma on the mountain slopes and on the plains.
The Jelidat people the eastern mountains.
The Duiri are found in the mountains and on the high tablelands.
We visited the Jews in their own quarter, and conversed with a
couple of women, who, with their children, lived in a little hut stuck
away in a corner of a yard. One of the women was a soothsayer, and
showed us a book with closely written leaves, evidently the source of
her cunning.
In a large open square on the outskirts of the Ksar stood a hut,
occupied by a family of whom only the women and children were at
home. We entered. It was dirty and comfortless, containing no
furniture, not even the indispensable “senduk.”[3] The hut was built of
slender branches wattled together, and in many places was covered
with old rags to keep out rain. The form was circular with a high-
pointed roof, evidently carrying out the idea of a tent. The fireplace
was outside.
In the evening, after a jovial dinner with Commandant Billet, at
which most of the officers were present, Lieutenants Adam, Coturier,
and Druot started southwards with a company of Zephyrs, to return
in two night marches to Tatuin, a distance of thirty-two miles. They
invited me to breakfast with them next day at Bir el Ahmer. The
bugles rang, and the sections tramped off as we said au revoir.
The water in Medinin is very unwholesome, and requires to be
distilled before it is fit to drink; a huge distilling apparatus has
therefore been erected; this has a number of taps, whence the
distilled water flows drop by drop. A sentinel watches it, that the
precious liquor may not be wasted.
Not far from this is the post office, which is also the telegraph
office for private telegrams, the heliograph being used for military
purposes.
Night and day, watch is kept on the tops of the mountains and far
out on the plains to the north-west, that the flash connection between
Gabés, Medinin, and Tatuin may be constantly maintained. It is
expedient that a strict watch be kept, for frequently in the middle of
the night a summons is flashed, and there must be no delay in
replying; Commandant Billet not being a man to be trifled with on
matters connected with the service.
He rides long distances on horseback to inspect the various
southern posts and to see that all is well; and many a night has the
startled guard seen him arrive, having ridden over the mountains in
pitch darkness to make a visit of inspection. He is ubiquitous, and of
an astounding energy, only allowing himself four hours for rest, then
mounts his horse once more, or goes to work at his writing-table.
As an example of the Commandant’s iron will, one of the doctors
told me that some months ago he was attacked by fever, just at the
time that the General arrived to make an inspection. Notwithstanding
the fact that his temperature was at 104° Fahrenheit, Commandant
Billet left his bed and accompanied his superior officer on horseback
round all the outposts. When he returned his temperature was still
104°.
On his spirited horse he has covered prodigious tracts of country
in the south, often under very trying conditions. Lately he rode over
eighty miles on a mountain track in five-and-twenty hours; not being
met by the persons he expected, he took a couple of hours rest
beside his horse, lying lightly clad in the cold night air, and then
resumed his journey.
He told me himself of a rather amusing adventure. On a pitch-dark
night he was riding home to Medinin from Bir el Ahmer. When he had
ridden so long that he believed he must be near home, his horse
became restive and left the path. After some time had elapsed, to his
great delight he rode against a telegraph post, for he knew that by
keeping along the telegraph line he should find his way home. But,
alas! when morning broke he was back again at Bir el Ahmer,
whence he had started; to the great astonishment of the soldiers,
who evidently thought he had returned to take them by surprise: he
then rode home.
As in Algeria, the army in Tunisia has literally paved the way to
civilisation by making roads across the mountains and over the
plains.
But their work is far from confined to this alone; they plant trees
and dig wells, and are soon followed by telegraphic and postal
officials, but above all by the schoolmaster. Where the soldier has
cut a way, the schoolmaster can begin his work. If we call to mind my
little Ali we can best understand and value his labours.
I called on the postmaster and the schoolmaster of Medinin at the
officers’ club. They were energetic young men whose work goes
hand in hand with that of the soldiers. There also I met the
interpreter, a perfect gentleman who spoke faultless French. A
tattooed mark on his forehead alone betrayed his origin; he was a
Mohammedan and a married man. Besides himself, only one other
of the officers in Medinin, a captain of cavalry, was married: he lived
with his wife within the Ksar.
CHAPTER XIII

Southwards over the Plain to Tatuin

It was early morning on the 28th October; the sun was just rising,
the horses were ready, and I swung myself into the saddle to start on
a day’s march of a little over thirty-two miles. Commandant Billet and
Lieutenant Henry accompanied me part of the way, then bade me
farewell and galloped off in a different direction; the gallant chief
intending to join that morning one of his companies then on the road
to the north.
The sun rose above the plain, and lit up the mountains which
encircle it to the eastward like an outlying wall, and, beginning in the
north, stretch along to the south as far as the eye can reach. In front
of us rode a Spahi from the Bureau in his light blue burnous, and
behind, wrapped in his crimson cloak, paced the trooper furnished by
the Spahi regiment.
Theirs are beautiful uniforms, but should be seen in brilliant
sunshine and with Africa’s golden sands as a background. I have
seen these uniforms in the streets of Paris in dull weather, and they
were disappointing.
We had ridden long at foot’s pace, and it was time to push on.
“Forward, forward” I shouted to our leader, after taking off my
burnous and laying it before me on my saddle. My handsome brown
horse broke into a gallop. The trooper in front of me rose in his
saddle and stood in his stirrups, as his horse “threw his head and his
tail to the winds and let his legs dance like drumsticks,” as my friend
the “Jægermester” at home used to say. The red Spahi followed. My
horse was eager to join the others in front of him, but I held him in.
After a good long gallop we slackened again to a foot’s pace, and
I ejaculated, “He pulls like the deuce!”
“Oh, sir, he thought a mare was leading.”
“Nonsense; can’t he tell the difference?”
“No, sir; the Arabs always ride mares, therefore stallions, when
they see the broad back of an Arab saddle, conclude that it is on a
mare.”
I observed here some of the small round mounds I had seen
elsewhere, and which may be either graves or the remains of
vanished dwellings.
A couple of hours later we descried, beyond the mountains, a
white spot on the horizon. This is a Marabout tomb on the plain—not
far from the well of “Bir el Ahmer.”
The sun was very hot, but, rain having recently fallen, the earth
smelt fresh and pleasant.
At long intervals we saw here and there people at work, for the
tribes had scattered in every direction to sow and plough. There,
where at other seasons flocks of antelopes are wont to gladden the
sportsman who roves over the barren plains, are now gathered little
bands of men and women to till the ground rendered moist and fertile
by Allah; and the smoke from their encampments may be seen rising
from all points of the compass.
From the Marabout’s tomb the ground falls away a little towards
the south, and on the level, not far ahead, we saw the square-walled
enclosure of the well with in one corner an old, low, squat tower,
against which was propped a house.
Soon we distinguished the little tentes d’abri pitched in straight
lines, and, moving amongst them, the soldiers.
We reached the well, having covered the twelve miles in two
hours and a half, and I found a fresh horse and new escort awaiting
me.
The company had arrived during the night. The men had slept and
cooked their food. Lieutenant Adam and the regimental doctor, M.
Cultin, had ridden out to shoot on the neighbouring mountains, so I
went in quest of Lieutenants Coturier and Druot, who greeted me
with “Bon jour, camarade.”
Whilst the horses were unsaddled, fed, and watered, and the cook
busied himself preparing breakfast at a fire in an angle of the wall, I
was refreshed with a glass of wine.
The officers’ camp beds and canteens were conveyed into a cool
room in the house, and the tables and chairs were arranged in the
shade outside.
The walls of the fort, or rather the caravansarai, are so low that
one can see over them when seated within the courtyard. It is not
garrisoned, and is inhabited only by an old Arab, who strolled about
in an enormous straw hat. He had barley to sell to those who
required it, and presided with much pride over a large register, in
which the “Chefs de Detachments” have to note the numbers
encamped at the well. Moreover, it is his duty to take care that the
well is not damaged or misused by the Arabs who wander over the
plain, and who, under certain conditions, are allowed access to the
enclosure. His straw hat interested me greatly, and with some little
difficulty I succeeded in purchasing it from him.
Lieutenant Coturier and I took a walk on the plain. Just outside the
fort were some miserable huts built of branches and straw, where we
saw an ancient crone, probably the wife of the old Arab, fussing
about her hearth. Near the huts were three two-wheeled carts all
ready laden and with the horses in the shafts. In the shade beneath
them some Europeans and Arabs lay and dozed, whilst the horses
and mules closed their eyes and slept in their harness, the flies
buzzing about them in the intense heat.
Farther on, we found on the plain two women and a man busy
ploughing. To two of the ploughs were yoked camels, and to the third
a mule.
Both the women were very lightly clad on account of the heat. The
younger was exquisite in her grace as she paced, goad in hand,
behind the plough, and by the movements of her arms revealed her
perfectly formed figure. From afar we could see her bracelets and
anklets glittering in the sun.
We stood and watched them awhile until, saying “En route, mon
ami,” my friend took my arm and we sauntered on over the heated
plain, where through refraction, distant objects, even though small,
appeared to be in constant leaping movement.
We turned towards the blue mountains, in hopes of catching sight
of the sportsmen, for breakfast time drew near, but no one was in
sight; so we strolled back to the fort, and lying on the camp beds
dozed the time away.
It was nearly eleven o’clock before we heard the riders arrive.
Lieutenant Adam had shot some partridges, and the doctor a hare,
which hung from their saddles.
In the meantime breakfast had been prepared, and the table was
laden with good things.
Before we sat down, the doctor examined a number of sick men,
of whom some hobbled up unassisted; others were carried on their
comrades’ backs. Not a few were really unfit to march, but many
were shamming.
The African Light Brigade—the Zephyrs—is composed of men
who, through misconduct and frequent punishment, are removed
from their regiments in France to serve the remainder of their time in
Africa.
The heterogeneous troops that form the Foreign Legion can, to a
certain extent, be moulded into a united body, imbued with a strong
esprit de corps—thanks partly to stern discipline, and also to the fact
of the Legion being aware that it has burnt its ships; but the case of
the Light Brigade is quite different.
The men enter it on account of offences committed in other
localities, but they retain their evil propensities, and indeed it would
not be easy for them to improve while forced to associate with so
many bad characters of every variety: fear alone keeps them
straight.
It is true that a “Zephyr,” if he conduct himself well for a certain
length of time, may be sent home to his division, but this rarely
occurs. In fact, he may even be promoted in the Zephyr Brigade
itself, but this is yet more rare.
A French officer told me that the difference between a soldier of
the Legion and a Zephyr was, that a Legionary, even though he were
a thief, would be forced to cease from being one, but a Zephyr, if he
were not a thief, would certainly learn to be one.
In old days the Zephyrs fought well in many a close action, and
their behaviour in time of war has often been brilliant, but in time of
peace they are of little worth.
It follows that the commanding officers must be of the best—for it
is sharp work for the chiefs. For that matter all the officers in Algeria
and Tunisia are especially selected. Many lieutenants have year
after year sought in vain to be sent on service with the troops in
Africa, whilst others speedily obtain this privilege. Every year’s
service there counts as double, both as regards pension and
decorations.
I have seen lieutenants wearing the Legion of Honour solely
because they had had sufficient length of service in Africa, whilst a
young chef de bataillon, newly arrived from France where he had
served during all the earlier portion of his career, had earned no
decoration.
Indeed, it is really surprising that an officer who serves in Algiers
or Oran should thereby gain so many advantages over another who
is stationed in a little provincial town in France. As regards Tunisia it
is intelligible, many parts of the country being unhealthy, and the
heat ruining the nerves and being the cause of mental strain: but in
Algiers—a bit of Paris!
My new escort, sent from Tatuin, was ready, and the hot midday
hours being past I said farewell until the morrow.
There still remained between four and five miles to cover, and we
might not loiter on the way; so we pressed on, alternately walking
and cantering, keeping close to the mountains on our right.
Half-way between Tatuin and Bir el Ahmer we passed some
soldiers who were busy digging a well. They had pitched a little tent,
and provisions and water were sent them occasionally. Raising
themselves from their work they saluted us as we passed.
Presently mountains appeared in the south and south-east, and
on the summit of one on our front we distinguished the signal station
of Tatuin. At the foot of this mountain we passed some palm trees,
and then turned into the valley. This is full of palms, and on the
southern side lay a little Ksar, similar to those with which we had
already made acquaintance at Metamer and Medinin.
At a little distance, but nearer the oasis and on the slope, stand
the military buildings.
As we rode towards the Bureau we met a couple of natives. “Are
the Tuareg still here?” I asked.
“No, they have probably left; they came to buy corn, but there was
none to be had, so they went away.”
Just as the sun set I dismounted, and saluted a group of officers
who awaited me.
The whitewashed walls of the two rooms into which I was shown
were hung round with weapons, implements of the chase, and
ethnographical objects collected from the Tuareg. It was a typical
lieutenant’s quarter; the owner was in France on leave, and in his
absence his comrades had placed his rooms at my disposal.
Captain Beranger, who was to be relieved the day but one
following, invited me to dine at the little mess where the infantry
officers, the postmaster of the town—young Cavaignac, a
descendant of the celebrated general—and an officer of engineers
were to dine.
After dinner we spent our evening with other officers at the casino.
There I met Ben Jad, an old native lieutenant of Spahis, with a
handsome Arab face, and wearing the Cross of the Legion of Honour
on his breast. He promised me a good horse for the morrow when I
took my way to Duirat, the southernmost village of Tunisia. I met also
the interpreter and the lieutenant of the Bureau and Dr. Renaud, their
medical man, who talked with me about the country, and promised to
do what he could to get hold of some of the Tuareg, whom I so
longed to see; but of this he told me there was little hope.
CHAPTER XIV

DUIRAT

The route to the south from Tatuin leads through a valley. At first we
traversed the oasis, riding under the shade of the palm trees, then
followed the course of the dried-up river bed in the bottom of the
valley.
On the top of a hill to our left were a couple of villages. To the right
were other dwellings, some of which were caves; others were white
houses with vaulted roofs.
An hour later we saw on a height to the eastward the fortress of
Beni Barka. This is a village of narrow streets enclosed within a wall.
The houses are similar to those of other African villages.
Yet a little farther on we passed another village, which was built in
a square, and composed of the same oblong vaulted buildings we
had seen at Medinin and Metamer; it also appeared to be fortified.
We then emerged on an open golden-yellow plain that rose
gradually to the left, a solitary steep mountain lying to the south. To
the west also was a large group of magnificent, precipitous
mountains; behind these we were to find Duirat, but to reach it we
had to go round the mountain we saw to the south.
When, later, we approached this mountain, we found the ground
completely covered with every kind and shape of rocks and stones;
never have I seen elsewhere such a rocky waste.
We wheeled round outside this beautiful rocky region, picking our
way very carefully lest our horses’ legs should be injured. On the
steep slope, broken rocks of every size were tightly packed together,
and, at the very top, great beetling crags seemed prepared to plunge
down the precipice.
On the southern side of this stony waste, and standing away from
the rocky range, were a few tall cones of truncated form. To make a
short cut I rode between them and the mountain itself, but had to
proceed very cautiously, as the ground was terribly rough.
The sun was frightfully hot; not a breath of wind stirred as we
plodded along, my Spahis chanting now and then a monotonous
song. Beyond us, the plain appeared to quiver in the glare of the
sun, reflected from a bright, white, gleaming surface, which last
appeared to be a lake, but was only a “shott,” where the water that
had flowed from the heights during the rainy season rose in vapour.
I could not conceive whence came the sound that during some
few minutes had reached my ear. I looked for a cause, but my eyes
detected nothing.
At last I saw, far away in the shade under the overhanging cliffs of
an isolated peak, some dull, dark spots and dots, and amongst them
made out the indistinct outline of a female figure—evidently a
shepherdess with her goats. As we approached, her song rose and
fell clear and ringing in the pure air.
DUIRAT.

We now entered the valley, and turned in a north-westerly


direction. Before us lay Duirat, a grey mountain, shaped like a sugar-
loaf.
At first it was impossible to distinguish any dwellings, but after we
had crossed the valley and the bed of a stream, and had reached
rising ground, we made out clearly an old castle on the summit.
Below it, at different heights along the path that wound upwards, we
saw houses, and in one place, amongst or behind these, we caught
a glimpse of dark cavities, which proved to be entrances to caves in
the mountain side. These caves consist of several vaulted
chambers, access to which is through a small doorway. The actual
chambers resemble in every respect those of the Matmata. As a
rule, they do not suffice for the requirements of a family; an ordinary
house with a flat roof is therefore built in front of them on the
terraced cliff. Through the house a passage leads straight into the
cave, so that anyone outside can see right through the house, over
the little courtyard, and into the doorway of the cave.
There are doors to most of the dwellings, but, as these cannot be
constructed of palmwood, the materials have to be brought from a
great distance; a costly undertaking, and the cause of many poor
wretches living doorless and exposed to the elements.
I went in to see the Khalifa, an exceptionally clever and amiable
man, to whom I brought greetings from Drummond Hay, who had
visited him during his tour.
As I had no interpreter with me, our conversation was limited. I
managed to make out his replies to my questions, but it took time.
The breakfast I had brought with me I ate in company with the
Khalifa, the Sheikh, and another man. The preserved meats and the
delicate bread especially delighted them. In return they offered me
kus-kus, eggs, and black bread.
The Khalifa and the Sheikh wrote their names in Arabic in my
sketch-book, that I might carry away a memento of them; in return I
presented them with my visiting-card, which was put away with great
care to be exhibited to future travellers.
I inquired about Hamed-ben-Amar’s relatives, but at the time none
were at home.
On the whole I saw very few people at Duirat. The inhabitants
were probably away, occupied in agriculture, as was the case in
other villages.
The Khalifa spoke much of Drummond Hay, who had evidently
made an ineffaceable impression on him. From him I learnt that the
latter had scaled the mountain, visited a spring in the valley, and had
afterwards galloped to Shenini, a village on the summit of a
neighbouring mountain.
I am convinced that the secret of the success of the English
Representative amongst the southern tribes—for it was not the first
time I had heard his name mentioned in these parts—originates as
much from his having inherited his father’s remarkable insight into
the manner of thought of the Moslem, as from the fact that he
speaks Arabic like a native. Again, he has inherited his father’s
strong, fearless nature, and lastly—he is an Englishman.
It was near noon, but I had not time to wait till later, so in the
intense heat, and guided by a young Arab, I clambered up to the old
and now forsaken town on the top of the mountain.

SHENINI.

The walls, built of large slabs mingled with smaller stones,


completely enclose the town on every side, and stand from seven to
nine feet high, rendering it absolutely inaccessible to an enemy.
The interior can only be penetrated by climbing a covered way
which, ascending higher and higher, leads to a passage so low and
narrow that one must creep in on all fours. Then on till, with many
turnings through bewildering chambers and passages, the
uppermost houses are reached, and thence the streets, which are no
wider than a man’s breadth.
Now all lies in ruins, and one can climb over the crumbling walls
and up on to the few flat roofs which still hold together, but are
dangerous footing.
From the roofs I could see over mountain and vale to the plain,
and the blue peaks on the southern horizon.
Looking far down the precipice at my feet, I saw, through the
spreading smoke that floated upwards from the fires on their hearths,
the women moving in the courts of their dwellings. Now and then the
muffled sound of their voices reached me. A man’s voice shouting,
however, sounded almost as if close to my ear. It must have been an
echo which was the cause of my hearing it so distinctly.
How wearisome life must have been in this little town, so near the
sky. To the women especially, who had to fetch water daily from the
valley, it must have been very hard. One can but admire the folk who
endured existence in such a spot. The very difficulties of their mode
of life made their bodies supple, their minds keen and vigorous.
Sliding down through the dark passages we emerged once more
on the cliff.
By throwing back the upper part of my body, and seeking foothold
with my legs, whilst I supported myself by my arms, I succeeded in
reaching without mishap the uppermost tier of buildings. Here stands
the mosque, a picturesque little building, in the courtyard of which is
a minaret.
I began to make a sketch of this. My guide was down on me in a
moment. A two-franc piece did its work, and we went within.
The surrounding wall formed a low arcade. I scanned the view
over this down to the slope below; investigated everything, and
found a cistern in the middle of the courtyard. Pulling at a cord
attached to the cistern, I discovered that to the end of it was fastened
a drinking-cup, made of the horn of a mouflon. Whilst examining this
I heard a loud yell behind me, and saw an old man come up out of a
cave, shouting and shaking his fist at me. My guide went to meet

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