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Revista Procon

A revista da Fundação Procon-SP • no 9

Oniomania
O distúrbio que atinge o
consumidor compulsivo

Maquiagem
de produtos
Alguns fornecedores utilizam
Atendimento, consultas mecanismos para aumentar
o preço e iludir os consumidores.
e reclamações Quase 90 multas foram aplicadas
nos últimos seis anos
Postos Poupatempo Outros Atendimentos
2ª a 6ª, das 7h às 19h - Sábados, das 7h às 13h Cartas: Caixa Postal 3050
Itaquera: Av. do Contorno, 60 - Metrô Itaquera CEP: 01061-970 - São Paulo/SP
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2ª a 6ª, das 8h às 17h
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Entrevista Cirurgia Plástica Tarifas bancárias


Sociedade define o cidadão Conselho de medicina acata Nova norma facilita a vida de
pelo consumo, critica socióloga pedido do Procon contra financeiras quem tem conta corrente e poupança
Revista Procon-SP

Sumário
1 - EDITORIAL 28 - COMPORTAMENTO
Oniomania, evite fazer o primeiro débito
2 - DIRETO AO CONSUMIDOR
31 - JUSTIÇA
4 - ENTREVISTA STJ condena empresa no caso da pílula de farinha
7 – DIA-A-DIA 32 - LADO A LADO
Consumidor sofre com demora na assistência técnica
Ipem-SP avalia o material escolar do ensino público
8 – EVENTOS
34 - SAÚDE
Festa, palestras e orientações na semana do consumidor Conselho de medicina veta financiamento de plásticas
10 - PALESTRA 36 – PROJETO DE LEI
Especialistas debatem a prática do recall Lei pretende restringir horário de propaganda de bebidas
13 – MEIO AMBIENTE 38 – PESQUISA
Selo sustentável chega ao produto final A percepção do consumidor sobre o SFH
14 - PROCON MUNICIPAL 39 – BIBLIOTECA
O jovem Procon de Poá atinge a maturidade
40 – DIRETO AO PONTO
16 - CAPA
Aumento de preços disfarçado e a maquiagem de produtos

24 – COLEGUINHAS
ONG foca no reaproveitamento do óleo de cozinha

26 – SEU BOLSO
Mudanças nas tarifas bancárias favorecem o consumidor

CURSOS E PALESTRAS DA
FUNDAÇÃO PROCON-SP
Governo do Estado de São Paulo
Governador Diretor-executivo
›› Direitos básicos do consumidor
José Serra Roberto Augusto Pfeiffer
Chefe de gabinete
›› Orçamento doméstico
Secretaria da Justiça Carlos Augusto Coscarelli
e da Defesa da Cidadania ›› Direitos do consumidor na terceira idade
Editor-chefe
Secretário Francisco Itacarambi - Mtb. 41.327/SP
Luiz Antonio Marrey ›› Direitos e deveres do consumidor bancário
Redação
Felipe Neves e Ricardo Lima Camilo
Fundação de Proteção e Defesa ›› Saindo do vermelho
do Consumidor (Procon-SP) Colaboraram nesta edição
Conselho curador
Leonardo Tote, Joyce Camargo, Maria Clara Caram e
Patrícia Paz
›› Curso básico do Código de Defesa do Consumidor para fornecedores
Ângela Simonetti, Antonio Júlio Junqueira Queiroz,
Antonio Sabóia Barros Jr., Cornélia Nogueira Porto, Editoração e impressão ›› Defesa do consumidor para rede de ensino
Fernando Batolla, José Luiz Souza de Moraes, Marco Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Alexandre Davanzo, Marcos Pó, Margaret Cruz, Marilena
Março e abril de 2008
›› Defesa do consumidor na formação de profissionais
Lazzarini, Omar Cassim Neto, Rachelle Amália Agostini
Balbinot, Roberto Grassi Neto, Ronaldo Porto Macedo,
Rosana Piccoli dos Santos, Vahan Agopyan e Virgílio
imprensaprocon@procon.sp.gov.br ›› Curso educação para o consumo – capacitação para professores
Bernardes Carbonieri. Distribuição gratuita

Informações no site: www.procon.sp.gov.br


Editorial

Tamanho não é documento

D
esde a estabilidade econômica, com a introdução do Plano Real, alguns
fornecedores parecem ter encontrado a solução para seus problemas.
Ao invés de aumentar os preços – um dos primeiros passos para afu-
gentar o consumidor –, optaram em diminuir a quantidade do produto. Para a
operação não gerar desgaste na ponta final, davam um verdadeiro banho de loja
na nova embalagem.
A prática, que prejudica a concorrência econômica e o consumidor, foi apelidada
de “maquiagem de produtos”. A Fundação Procon-SP foi uma das instituições
pioneiras neste trabalho. Mas engana-se, como se poderá ver na reportagem de
capa, quem acredita que se trata de posturas do passado. O retoque atinge os
mais diversos segmentos e aparece em itens de higiene, produtos alimentícios, de
limpeza e até acessórios de informática. E o pior: uma pessoa desavisada pode até
imaginar que está comprando mais pelo mesmo preço.
Problemas com a “embalagem” também é o assunto da entrevista desta
edição. A socióloga Gisela Taschner alerta para os perigos que a nova identidade
do cidadão ganhou nas grandes cidades. “Símbolos de poder aquisitivo começam
a se tornar muito importantes para a pessoa se sentir aceita”, diz. Para ela, o
próprio conceito de cidadania está sofrendo mudanças dentro da nova etiqueta
social. “A cidadania passa necessariamente pelo consumo.”
E é neste contexto que surge um novo distúrbio de comportamento que atinge
um número crescente de consumidores. Trata-se da oniomania, um descontrole
de comprar com sintomas parecidos com transtornos como ansiedade ou
dependência de substâncias psicoativas. A REVISTA DO PROCON-SP participou
de uma reunião do grupo de auto-ajuda Devedores Anônimos (DA). Se não tomar
o “primeiro gole” ou acender o “primeiro cigarro” são desafios para pessoas que
procuram ajuda, como trabalhar com a questão em uma sociedade onde comprar
é uma prática cada vez mais incentivada?
Já o incentivo ao consumo consciente é abordado, nas próximas páginas,
em duas frentes. Seja no ato de comprar, como no fim que será dado após o
uso. Alguns artigos produzidos com madeira têm um selo que comprova que
a matéria-prima foi retirada de forma não agressiva ao meio ambiente. E para
aqueles que não sabem o que fazer com o óleo de cozinha após o uso, existe um
procedimento para reprocessar o produto e transformá-lo em sabão.

Francisco Itacarambi
Editor-chefe

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 1


Direto ao consumidor

Defesa Econômica (Cade). O mecanis-


Você conhece o CET?
mo em estudo é uma ação civil pública
com todos os encargos e apresentá-los com pedido de indenização direta aos
em um único valor, expresso na forma consumidores. Caberia ao juiz arbitrar
de uma taxa anual de juros, o CET. o valor da indenização e os consumido-
A informação com o cálculo com res teriam que provar o dano causado.
todos os encargos também passou a “Ao mesmo tempo em que o consumi-
ser obrigatória nas publicidades e con- dor resgata parte do prejuízo sofrido,
tratos de crédito. Assim o consumidor a iniciativa serve de pressão para inibir
poderá comparar com facilidade as a prática pelos fornecedores”, explica
várias ofertas do mercado e escolher Roberto Pfeiffer, diretor-executivo do
sem truques a opção mais vantajosa Procon-SP.
para seu bolso. Em caso de omissão, A medida é pioneira no Brasil, mas
denuncie ao Procon da sua cidade. já é aplicada em outros países. “Nos Es-
O consumidor brasileiro ganhou Para facilitar a vida do consumidor, tados Unidos, por exemplo, as empresas
uma importante ferramenta para auxi- a Fundação Procon-SP disponibilizou têm mais medo destas ações coletivas do
liá-lo na hora de pedir um empréstimo em seu site (www.procon.sp.gov.br) que da própria condenação dos órgãos
ou fazer uma compra a prazo. Trata-se um programa que permite ao consumi- fiscalizadores da concorrência”, afirmou
do Custo Efetivo Total, também conhe- dor elaborar sozinho o cálculo do CET Rafael Adler, advogado especializado
cido por CET. Criado para dar maior de anúncios publicitários, propostas, em Direito da Concorrência em entrevis-
transparência às operações de crédito contrato de financiamento ou leasing. ta ao jornal “Gazeta Mercantil”.
e leasing, o CET começou a vigorar em Mas atenção: O consumidor deve
março de 2008. observar eventuais cobranças de “cor- Nome na praça
A nova ferramenta deve ser apre- respondente bancário” e “tarifa de
A polêmica do cadastro positivo
sentada em todos os contratos de boleto”. Mesmo informadas pelo for-
deve ter um desfecho neste ano. Ao que
empréstimos, venda a prazo e leasing. necedor, essas cobranças são conside-
tudo indica, o Projeto de Lei nº 836 deve
A medida permite que o consumidor radas abusivas pelo Procon-SP e não
ser apreciado no Senado. Ele prevê um
visualize uma série de encargos, como devem ser repassadas ao contratante.
cadastro inverso ao dos temidos serviços
taxa de abertura de crédito, seguro, Outra dica importante é que, em-
de proteção ao crédito.
IOF, boleto bancário, etc. O detalhe é bora os bancos possam exigir a contra-
A idéia é que nele conste a ficha
que esses encargos variam entre lojas, tação de um seguro para empréstimo
completa do consumidor, detalhando
bancos e empresas de leasing e, em al- ou financiamentos, o consumidor é
bens, renda, tempo de carteira assinada
guns casos, o consumidor escolhe uma livre para escolher a seguradora de sua
e comprometimento de renda com des-
taxa de juros mais baixa, mas na ponta preferência. A imposição de segurado-
pesas fixas (aluguel, escola, etc).
do lápis paga mais pelo empréstimo. ra ou de qualquer outro fornecedor é
O cadastro também manterá o
Para tornar possível uma escolha tipificada como venda casada, prática
histórico do consumidor com ope-
adequada, agora, lojistas, financeiras e abusiva e vedada pelo Código de De-
rações de crédito (empréstimos, por
bancos terão de fazer o cálculo da conta fesa do Consumidor.
exemplo). O grande ponto de discór-
dia é que especialistas acreditam que
quem não aderir poderá ser punido
Combate ao cartel preços muito baixos com o objetivo de com juros mais elevados, e que em-
minar a concorrência e depois reajustar presas coloquem como condição sine
A Fundação os preços. Aval jurídico já existe. A 1ª Tur- qua non estar no cadastro para ter
Procon-SP vai atu- ma do Superior Tribunal de Justiça man- acesso a crédito.
ar em um novo teve a aplicação de multa do Procon-SP O Procon-SP só admite a existên-
segmento. O órgão de defesa do con- a uma revendedora de combustíveis do cia de um cadastro positivo caso seja
sumidor estuda entrar com ações para município de Campinas. o consumidor quem decida se quer
aplicar multa pela prática de dumping – A idéia é trabalhar casos já conde- ou não ter seus dados disponíveis
prática comercial de vender produtos por nados pelo Conselho Administrativo de nele. Outro ponto importante é que

2 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Direto ao consumidor

o consumidor deve ter liberdade para Ovo de ouro Ranking de reclamações


entrar e sair do sistema no momen-
to que desejar, e de forma gratuita. A Páscoa foi sal- Tradicionalmente, quando o Procon-
Além disso, é necessária a criação de gada. Pesquisa da SP apresenta o ranking das empresas
normas rigorosas que proíbam abu- Fundação Procon-SP mais reclamadas, a resposta dos forne-
sos, como a venda de dados do con- revelou diferenças cedores é contestar os dados. Alguns
sumidor para empresas de marketing de até 71,15% no citam que os números são pequenos
e mala direta. preço dos ovos de em relação à base de clientes. Outros
Páscoa. As alterna- alegam que possuem um alto índice de
Alô? tivas também apresentaram variações reclamações atendidas. Existem ainda os
sensíveis: bolos e caixas de bombons fornecedores que classificam o período
O Procon- apresentaram diferenças de 63,39% e como atípico. As respostas não fogem
SP decidiu pela 58,26%, respectivamente. Na compa- muito desse roteiro. No entanto, cha-
manutenção de ração com o ano passado, houve, em mou a atenção do órgão o posiciona-
duas multas no média, um acréscimo nos preços de mento do Itaú.
valor total de R$ ovos de 7,30%, nos bolos de 2,71% e O banco distribuiu nota à impren-
2 milhões contra a Telefônica. As san- nos bombons de 8,44%. Vale ressaltar sa alegando que a “posição do Itaú no
ções administrativas foram publicadas que, segundo o IPC da FIPE, a inflação ranking do Procon São Paulo é reflexo
no Diário Oficial do Estado e são frutos acumulada no período registrou varia- do momento de crescimento que a cor-
dos autos de infração lavrados pelos fis- ção de 4,08%. poração está vivendo”. Após listar esse
cais em 4/7/2007 e 20/6/2006. Todos Os fiscais do Procon-SP foram às novo contexto, seguindo a cartilha já
os prazos legais para defesa junto ao ruas e autuaram 30 estabelecimentos vista, o Itaú reconhece a importância
órgão foram respeitados e não cabe comerciais por infração ao Código de do trabalho desenvolvido pelo órgão
mais recurso. O órgão apurou que a Defesa do Consumidor. A infração mais de defesa do consumidor e assume um
empresa ofereceu e forneceu ao con- comum foi a falta de informação nos ró- compromisso: “o Itaú aprofundará ain-
sumidor serviços sem solicitação prévia, tulos dos produtos. Outras irregularida- da mais seus contatos com a Fundação
bem como efetuou a cobrança pela des constatadas foram o prazo de vali- Procon-SP na busca de soluções cada
prestação dos referidos serviços e rea- dade vencido, brindes (brinquedos) sem vez melhores para as diversas questões
lizou publicidade enganosa. certificação do Inmetro e problemas na apresentadas”. É fato que o consumidor
informação do preço. só terá a ganhar se o banco der respos-
www   tas rápidas aos problemas que são rela-
Hora de poupar tados ao Procon.
Nunca um clique fi-
cou tão distante. Apenas Em tempos de
no mês de dezembro, o queda de juros e vo-
Errata
Procon-SP recebeu 45% latilidade de ativos, A revista do Procon-SP recebeu
de todas as reclamações como ações, a pou- um e-mail da Associação Comercial
registradas ao longo de 2007 com rela- pança tem sido um de São Paulo (ACSP) contestando in-
ção a problemas com o comércio eletrô- porto seguro para formações da matéria “Desagradável
nico. A “bolha” tem uma explicação. A garantir o futuro dos filhos. Segundo o surpresa”, edição nº 8. De fato, existe
união das lojas virtuais Americanas.com, jornal “O Estado de S. Paulo”, a tradi- erro. A legenda da foto na página 33
Submarino e Shoptime em uma única cional conta poupança atingiu a marca confunde o consumidor ao apontar
empresa, a B2W, no final do ano pas- de 1,5 milhão de jovens aplicadores, que: “Em geral, quando a carta che-
sado, não conseguiu atender à deman- com idades entre 1 e 15 anos, na Cai- ga, o nome já foi incluído na lista de
da de Natal. A sistemática não é uma xa Econômica Federal. Uma dica para proteção de crédito”. Isso até pode
novidade para os órgãos de defesa do quem deseja seguir o mesmo caminho é ocorrer, mas não é regra. A legenda
consumidor. Na maioria das vezes que aproveitar o investimento para transmi- mais adequada é: “Consumidor tem
ocorre uma fusão, as empresas não tir conceitos econômicos para os filhos 10 dias, a contar da data da posta-
criam mecanismos de transição aptos começarem a se familiarizar com a im- gem pela empresa de crédito, para
para atender o consumidor. portância do ato de poupar. regularizar a situação”.

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 3


Entrevista

Leonardo Tote/SJDC

Leonardo Tote/SJDC

A socióloga Gisela Taschner defende que a educação para o consumo é fundamental

Livre-docente pela Universidade de São Paulo (USP) e é a chamada cultura do consumo. Em entrevista à
professora de graduação e pós-graduação da Fundação REVISTA PROCON-SP, ela aborda as origens desse
Getúlio Vargas (FGV), a socióloga Gisela Taschner fenômeno, seus desdobramentos no nosso dia-a-dia
tem toda uma vida acadêmica dedicada à pesquisa e, de quebra, ainda comenta a ascensão do discurso
sobre a formação da sociedade moderna. É uma das do desenvolvimento sustentável e sua relação com a
principais referências brasileiras quando o assunto cidadania e com a postura do consumidor consciente.

Cultura do consumo Por Felipe Neves

A senhora dedicou boa parte da vida acadêmica a le velho jornalista foi tendo o seu trabalho dividido, como
estudar os fenômenos da sociedade de mercado e da se formaram os conglomerados. Ao mesmo tempo, a teo-
cultura do consumo. O que a levou para essa área? ria que estava em voga naquela época era a da Escola de
Eu me interessei pela cultura de massas desde o tempo da Frankfurt. E eles são extremamente pessimistas, sobretu-
graduação. O mestrado e o doutorado, já fiz nessa área, do o [Theodor] Adorno, que era minha grande referência.
trabalhando com foco na imprensa. Nesse período, minha Pensei: se continuar aqui, o que faço? Eles falam para se
pesquisa partia do ponto de vista das empresas. Qual era refugiar na arte, mas não sou artista, vou dar um tiro na
a lógica da produção, o que acontecia com o processo de cabeça, não há saída [risos]. Decidi explorar o outro lado,
trabalho, se ficava parecido com uma fábrica, como aque- para ver se não havia um quadro um pouco diferente. A

4 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Entrevista

primeira coisa que eu peguei foi a proteção do consumidor, fazer casamentos de interesse, tentavam agradar ao rei para
que era a contrapartida de alguma maneira daquela coisa conseguir uma pensão ou receber perdão de dívida. Enfim,
da manipulação que tinha dentro da idéia da teoria crítica. cada vez ficavam mais dependentes.
Fiz um estudo comparativo internacional, para ver como é
que tinha surgido, onde que tinha sido iniciativa do Estado Qual é a influência do consumo na definição do con-
e onde era iniciativa da sociedade civil, etc. ceito moderno de cidadania?
As pessoas viveram muito tempo em cidades pequenas, co-
Qual foi o caminho seguido a partir desse estudo munidades. Até hoje, ainda se vê isso em alguns lugares
inicial? mais tradicionais. Você chega à casa de alguém que não co-
Vi que havia uma outra dimensão: a cultura do consumo. nhece e a primeira pergunta é: ‘você é filho de quem?’ Isso
Quer dizer, a proteção do consumidor se tornou necessá- mostra uma relação importante entre as famílias, essa é a
ria não só porque havia uma produção em massa, e muita identidade. Agora, quando você está em uma cidade gran-
publicidade e marketing, etc. Mas também porque foi se de, em uma metrópole, não tem essa história. Ninguém se
criando uma cultura do consumo. Consumir era o máximo, conhece. A estrutura das relações entre as pessoas no dia-a-
a moda foi se acelerando, os ciclos de vida dos produtos dia mudou. A ‘embalagem’ começa a ser muito importante:
também iam cada vez mais acelerando-se. Aí, eu fiquei como elas vão mostrar quem são? A identidade se faz den-
curiosa e fui ver como se havia formado essa cultura. Não
havia praticamente nada sobre isso no Brasil. Então, fui para
Inglaterra, e fiquei um período na Universidade de Londres, Símbolos de poder
trabalhando com pessoas que estavam mexendo com isso.
Depois, andei pelos Estados Unidos. aquisitivo começam
O que descobriu nessa peregrinação?
a se tornar muito
A primeira descoberta é que a cultura do consumo teve ori- importantes para a
gem política, na formação do Estado moderno. Na medi-
da em que foram surgindo os Estados, as grandes nações, pessoa se sentir aceita
alguns reis, no início da Idade Moderna – Elizabeth I, na
Inglaterra, na França, chegou ao auge com Luis XIV, os prín-
cipes na Itália –, começaram a usar a ostentação do consu- tro das aparências. Se sou gordo ou magro, que tom de voz
mo como forma de mostrar poder. Isso estava ligado a uma tenho, como me comporto, e que tipo de bens consumo.
nova relação do rei com a corte, porque a burguesia estava E a cidadania, correlatamente, passa necessariamente pelo
crescendo. Então, estava havendo uma reformulação na es- consumo. Hoje, a lógica do consumo está completamente
trutura de poder desses países, e no bojo dessa mudança desligada, a partir de certo ponto, do que a gente chamaria
é que a cultura do consumo começa a se desenvolver. Nos de “teoria das necessidades”, porque existe uma inversão.
novos hábitos da corte. Isso foi uma coisa muito interes- O que é considerado primeira necessidade muitas vezes in-
sante. Descobri que não é uma ‘coisinha de moda’, uma clui aparatos de lazer, coisas da cultura do consumo. Isso
‘bobaginha’. A cultura do consumo tem uma origem muito se torna às vezes mais importante do que ter um aparelho
política, na estrutura da sociedade. que possa facilitar a vida doméstica, por exemplo. Ou seja,
símbolos de poder aquisitivo começam a se tornar muito
Então, ao contrário do que se imagina, não foi a bur- importantes para a pessoa se sentir aceita.
guesia...
Foi a nobreza da corte. A burguesia depois tenta assimilar, Está na moda o discurso do desenvolvimento susten-
isso aparece sob um olhar crítico e irônico em Moliére [dra- tável. O que é a tão decantada sustentabilidade?
maturgo francês], por exemplo: aquela burguesia que enri- Essa sustentabilidade começou como uma meta mais ligada
quece e tenta-se ‘noblitar’. Mas começa dentro da nobreza, a aspectos físicos, da ecologia. A idéia de deixarmos para
e dentro da lógica de vida da nobreza, que é diferente da a próxima geração um planeta melhor do que aquele em
lógica da burguesia. A começar porque a burguesia vivia do que vivemos. Mas logo houve uma ampliação desse con-
trabalho: primeiro tinha que ganhar para poder gastar. Já ceito para as dimensões sociais e econômicas. Hoje, a idéia
a nobreza tinha que gastar para receber o rei e outros no- de sustentabilidade tem que passar por esse tripé: preciso
bres. Como ia pagar é outra questão. Por isso, tinham que fazer uma coisa viável, mas não posso acabar com o meio–

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 5


Entrevista

ambiente e tenho que trazer algum benefício para a popu- ção, até pela questão da educação, a escolaridade. Então,
lação desse lugar. a ignorância dos próprios direitos é uma coisa complicada.
Sem contar que a gente tem 50 mil leis, quer dizer, ninguém
Dentro do tripé, onde entra o consumo consciente? conhece todas, você precisa de advogado para tudo.
Em tudo. O consumo consciente é você, ao comprar um
produto, saber como ele foi feito, ter acesso a toda cadeia O que pode ser feito para ampliar essa perspectiva?
produtiva. E saber se a empresa não está explorando traba- A questão da educação para o consumo é fundamental. As-
lho infantil, se não está maltratando animais, se não está sim como a gente tem que aprender as quatro operações,
degradando o ambiente, uma série de coisas desse tipo. a escrever em português, enfim, acho que a gente tem de
Significa que o consumidor vai pensar nesses padrões éticos aprender os nossos direitos e deveres de cidadania.
do fornecedor antes de comprar os produtos. Não vou olhar
mais a qualidade do produto, apenas. Quero saber como A senhora defende que a educação para o consumo
ele foi feito. As empresas começam também a ser pressio- seja uma disciplina escolar?
nadas a saber quem são seus fornecedores. Não dá mais Eu acho que tem de ser. Se o consumo não fosse uma coisa
para existir aquele empurra-empurra. Todos são responsá- tão importante na vida da gente, talvez não tivesse que es-
veis. O consumo consciente leva a esse efeito. tar. Mas as pessoas têm de aprender o que faz sentido e o
que não faz sentido, para poder buscar o melhor para ela e
O consumidor brasileiro está preparado para abrir para a sociedade. Só com educação há consumo conscien-
mão de um preço mais baixo, por exemplo, em prol te. E o Estado deve prover isso.
de uma postura sustentável da empresa?
Estamos falando de tendências, mesmo nos países de primei- Em que medida um marco legal como o Código de De-
ro mundo. Ainda estamos longe de alcançar toda popula- fesa do Consumidor muda as relações de consumo de
ção. Agora, podemos observar, aqui no Brasil, o significativo uma sociedade?
aumento da venda dos produtos sem agrotóxicos. Eles são O produtor é muito mais organizado, muito mais forte que
todos mais caros – porque são feitos em escala menor, geral- o consumidor. Isso é, no fundo, o que está no princípio da
mente por sitiantes, não por grandes empresas – e não são defesa do consumidor. Existe uma assimetria muito grande
tão bonitos, mas a venda cresceu muito. Se isto for um indí- nessa relação e, de alguma maneira, as leis de consumo –
cio bom, posso dizer que estamos caminhando para isso. não precisa necessariamente ser um Código, como aqui no
Brasil – procuram reequilibrar isso. Essa é a grande conquis-
O consumidor tem consciência de seu poder dentro ta, a meu ver.
do sistema?
Eu acho que é uma questão cultural. Nos EUA, é assim: Nosso CDC entrou em vigor no início dos anos 90.
estou pagando, quero algo em troca, quero o equivalente. Como foi a adaptação?
E isso foi assumido também por pressão de movimentos Na hora que explodiu a coisa do consumidor, a gente teve
sociais, essa coisa de que a empresa tem que honrar certos também uns problemas porque estava entrando a onda
compromissos, garantir qualidade, troca, etc. Isso entrou neoliberal aqui. O [ex-presidente Fernando] Collor abriu o
muito na rotina americana. Se você tem um problema, na mercado para todo mundo. Na medida em que a tônica do
maior parte das empresas, não precisa nem explicar por que Estado foi mudando em direção a essa filosofia, não havia
não quer o produto. A loja devolve o dinheiro ou dá o cré- dinheiro para fazer nada [em relação à defesa do consu-
dito, sem muita dor de cabeça, sem muita explicação. Isso é midor]. O Ministério da Justiça não tinha dinheiro, sequer,
o normal. Na França, já não é assim. Existe uma legislação, para imprimir o CDC. Como é que você iria fazer aquilo ser
é claro, mas é em outro tom que você vai tentar a troca. É implementado adequadamente? Na outra ponta, as mul-
outra abordagem. Mas você não pode dizer que os france- tinacionais já conheciam legislações semelhantes. E aca-
ses não têm noção de direitos de cidadania. Eu diria que é baram sendo as primeiras a poder dar conta do Código.
uma cidadania mais ligada à função social das organizações Depois, o que acabou acontecendo é que elas começaram
do que à propriedade, como é nos EUA. Isso também dá a usá-lo como diferencial de marketing. Só estavam cum-
diferenças. Até o próprio conceito de empresa é diferente. prindo a lei, mas capitalizaram em cima disso, obrigando
as outras a vir atrás. Foi curioso porque, no fundo, o Có-
E aqui no Brasil? digo é para controlar as empresas, e elas que ajudaram a
A gente tem uma diferença muito grande entre a popula- implementá-lo.  

6 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Dia-a-dia

Prático, moderno
e com
Por Ricardo Lima Camilo
defeito
O
auxiliar de cozinha Car- defeito”, com o agravante de que as res pagos ou o abatimento proporcio-
los Eduardo Bueno, de 27 assistências técnicas autorizadas são in- nal do preço.”
anos, queria dar um pre- capazes de sanar o problema no prazo Para o alívio de Bueno, a solução
sente para sua esposa. Algo que fosse, determinado pelo Código de Defesa do não demorou. Cerca de três semanas
ao mesmo tempo, prático e moderno. Consumidor (30 dias). depois da “visita” ao posto de Itaque-
Como ela adora música, optou por “Dentro do prazo de garantia, não ra, ele recebeu um telefonema de um
um aparelho de MP3. Decidido o item, há justificativa para a demora no aten- técnico da Philips dizendo que, após o
faltava escolher a marca. Ao levar em dimento da solicitação de reparo, além contato do Procon-SP, a empresa havia
consideração boas experiências ante- disso, o conserto deve ser feito em 30 decidido devolver o valor pago, corri-
riores, não hesitou em comprar um dias”, explica o técnico do Procon-SP gido monetariamente – como manda
modelo da Philips, que custou R$ 239. Raul Dalaneze. “Caso o vício não seja o CDC. “O atendimento do Procon-SP
Ah, se arrependimento matasse... sanado no prazo determinado pela lei, foi muito bom. Fui bem orientado e
A compra foi feita em abril de 2007. o consumidor pode exigir a substitui- resolveram o problema rapidamente”,
Logo nos primeiros dias de uso, o pro- ção do produto, a devolução dos valo- comemora.
duto apresentou problemas. “As rádios
FM não ‘pegavam’ direito e o som saía Ricardo Lima Camilo/Procon-SP
um pouco baixo”, lembra Bueno. De-

A
pois de cerca de um mês, ele procurou consumidora Verônica da cusava a devolver o dinheiro. A empresa
uma assistência técnica autorizada. Foi Silva Raimunda não queria só se convenceu a atender sua demanda
informado, então, que em uma sema- economizar para comprar quando ela mostrou a cópia da CIP que
na o aparelho seria consertado. Mais seus óculos novos. Juntou as econo- tinha feito no Procon-SP.  
tranqüilo, e ainda acreditando que a mias e investiu: R$ 280 (R$ 100 na
questão seria resolvida, esperou. E se armação e R$ 180 nas lentes). Um
arrependeu mais uma vez... gasto bem acima do comum, mas era
“Passou o prazo de entrega pro- por uma causa boa. Afinal, a aquisição
metido para o conserto e nada. Aí, passaria a ser uma “companheira para
tentei entrar em contato com a autori- Cerca de três anos antes, Verônica já tive-
zada e eles só me enrolavam, transfe- ra uma boa impressão do órgão. Ela teve
riam a ligação para vários setores dife- problema com uma loja de móveis, que
rentes e nenhum me respondia se eu a vendeu um item com cupim e se re-
poderia buscar o MP3 ou não. Achei
um desrespeito por parte da empresa,
Consumidor reclama do atendimento da assistência técnica autorizada
por isso procurei o Procon-SP”, revela.

Buscando ajuda CDC garante


Em junho, Bueno foi ao posto do
Procon-SP no Poupatempo Itaquera e • Se o problema não for resolvido no pra- te atualizada; ou o abatimento proporcio-
se tornou um dos mais de 340 consu- zo máximo de 30 dias, o consumidor pode nal do preço (art. 18).
midores que formalizaram reclamações exigir, a sua escolha, a substituição do • O direito de reclamar pelos vícios aparen-
contra equipamentos de áudio (área de produto por outro da mesma espécie, em tes ou de fácil constatação caduca em no-
Produtos), no ano passado. Assim como perfeitas condições de uso; a restituição venta dias, tratando-se de fornecimento de
no seu caso, a maior parte das queixas imediata da quantia paga, monetariamen- serviço e de produtos duráveis (art. 26).
é sobre “produto entregue com vício/

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 7


Eventos

Fotos: Leonardo Tote/SJDC

Tenda montada na praça do Patriarca, centro da capital, facilitou o acesso dos consumidores ao Procon-SP

Festa para o consumidor Por Francisco Itacarambi e Leonardo Tote

T
eatro de fantoches, palestra, deu ao acessar os computadores da dos na compra de produtos, princi-
debate, orientação eletrônica, “Feira do Alerta Digital” do Procon-SP, palmente alimentos mal conserva-
Arquivo Procon
entrega de cartilhas, lança- montada no Poupatempo Sé. “De- dos ou com bichos. A apresentação
mento de um ranking de reclamações, pois de ver essas cenas, vou pensar digital é interativa e apresenta fotos
apresentação de um livro e atendi- duas vezes antes de comer lanche na e slides de casos reais que chegaram
mento em praça pública. A semana rua”, afirmou. Já o aposentado Ari ao órgão. A “feira” também foi re-
do consumidor, celebrada entre os Jorde de Melo, 69, criticou a postura produzida nos Poupatempos Santo
dias 10 e 16 de março, ofereceu pro- de fornecedores e vendedores ambu- Amaro e Itaquera, onde também es-
gramas para todos os gostos e idades. lantes. “Fiquei impressionado com as tão localizados os postos de atendi-
Ao todo, a Fundação Procon-SP orga- imagens de alimentos com insetos e mento pessoal da fundação.
nizou ou participou de dez eventos, outras formas de contaminação. Falta
alguns simultâneos, em comemoração consciência dos vendedores que ofere- Banco da praça
ao aniversário de 17 anos do Código cem produtos em mal estado”, relata. Consumidores insatisfeitos com
de Defesa do Consumidor (CDC). A idéia da Feira do Alerta é jus- os serviços de telefonia não faltaram
Acostumado com o corre-corre da tamente provocar o consumidor. Tra- na praça do Patriarca, região central
cidade grande e horários alternativos ta-se de uma iniciativa de educação da capital, onde o Procon-SP montou
para as refeições, o estudante Joélio para o consumo que visa a chamar stand de orientação. O cozinheiro José
Salustiano Marques, 18, se surpreen- atenção do consumidor sobre cuida- Daniel Sobrinho, 35, foi um deles. Seu

Estudante, aposentado e profissionais liberais conferem a Feira do Alerta Digital no Poupatempo Sé

8 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Eventos

Técnicos do órgão tiram dúvidas de consumidores sobre telefonia fixa e móvel

aparelho de celular apresentou defei- na. No topo da lista, mais uma vez, diano. Isso nos ajuda a obter maior pro-
to. A loja jogava a responsabilidade apareceu a Telefonica, seguida do ximidade com o público alvo”, explica
para a assistência técnica, enquanto Grupo Itaú e da fabricante de celu- Leda. Só no ano passado, a peça com o
a própria operadora dizia que o pro- lar Benq. Além de ser uma atribuição sapo Sapolino e seu amigo Sr. Vincenti-
duto deveria ser trocado pela loja (o constitucional, o livro é uma impor- no foi apresentada para mais de 1.000
que é correto). “Cansei desse jogo de tante ferramenta de consulta para o pessoas em diferentes locais.
empurra-empurra entre a loja e a ope- consumidor antes de tomar a decisão Das crianças, para os universitá-
radora. Comprei um aparelho que per- de contratar um serviço ou comprar rios. Por intermédio de uma atividade
mite acesso à internet e quero utilizá- um produto. Nele estão listadas todas do Observatório Social das Relações
lo. Se não fizerem a troca na loja, vou as reclamações relatadas ao Procon- de Consumo, estudantes do curso de
me queixar no Procon.” SP em 2007. Direito da UniA participaram do semi-
A auxiliar de enfermagem, Benedi- nário “Defesa do Consumidor no Bra-
ta de Lázaro, 58, procurou o stand por Pequenos e jovens sil: Avanços e Desafios”, realizado no
causa de problema com sua linha tele- Preocupado com a formação dos Tribunal do Júri Dr. Jacks Grinberg, em
fônica. Ela decidiu cancelá-la após no- futuros consumidores, o Procon-SP re- Santo André. Criado em 2001, o pro-
tar que a cobrança da assinatura, que alizou uma atividade lúdica para atrair grama atua em comunidades carentes
era de um plano diferenciado, mudou a atenção das crianças no Poupatempo do Estado e é desenvolvido pelo Pro-
de valor três vezes consecutivas. “A Santo Amaro. Os pequenos cidadãos con-SP junto a lideranças comunitárias
população tem que tomar bastante puderam-se divertir e apreender com a e, principalmente, a estudantes uni-
cuidado quando assina uma linha de apresentação de teatro de fantoches. versitários, que recebem capacitação
telefone. Conheço várias pessoas que A peça “Como é bom ter um amigo técnica da fundação.
também já tiveram problemas com experiente”, de Leda Carolina de Fa- Encerrando a semana, o Procon-SP
cobrança indevida. Acho um absurdo leiros Costa, reforça a importância da participou, no domingo, da 4ª edição
esse descaso com o consumidor.” alimentação saudável e dos cuidados do “O Consumidor é Show”. O even-
O desabafo ganhou coro durante na compra de produtos do gênero. to é um misto de espetáculo gratuito,
o lançamento do Cadastro de Recla- “Esta atividade auxilia na compre- que reúne lazer e orientação sobre
mações Fundamentadas e do ranking ensão do conteúdo, pois apresenta consumo consciente e direitos do con-
do Procon-SP, o ponto alto da sema- conceitos baseados em fatos do coti- sumidor. Na rampa do Parque da Inde-
pendência, cartão postal de São Paulo,
foram montadas tendas de orientação
do Instituto de Pesos e Medidas de São
Paulo (Ipem-SP), Proteste, Comissão
de Defesa do Consumidor da OAB-SP,
Greenpeace, ONG Férias Vivas, entre
outros. Além de orientação individual,
no stand da Fundação Procon-SP foram
distribuídos aos consumidores materiais
Divulgação
educativos e exemplares da REVISTA
PROCON-SP.
Leda, esquerda, conversa com o público antes da apresentação de fantoches

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 9


Palestra

Leonardo Tote/SJDC

Pfeiffer, centro, critica as práticas empresariais para postergar ou se esquivar da obrigação de realizar o recall

Pouca prática Por Felipe Neves

P
raticamente restrito ao setor preocupar em entender o que estava
O recurso do recall
automobilístico, pelo menos acontecendo. Qual é a extensão do
no imaginário popular, o ter- está previsto no perigo? O que significa essa palavra
mo recall entrou definitivamente na inglesa que os meios de comunicação
pauta da sociedade brasileira no ano
artigo 10, do CDC, não param de repetir? Meu filho corre
passado. E não de forma sutil: milhões e vale para todos os algum perigo? Reportagem detalhada
de brinquedos de gigantes multinacio- sobre o tema foi capa da edição outu-
nais, como Mattel e Gulliver, tiveram segmentos, Trata-se bro/novembro/dezembro de 2007 da
que ser recolhidos no mundo inteiro, REVISTA PROCON-SP.
de um dispositivo
inclusive no Brasil, por oferecerem ris- “Nós temos toda uma história a
cos à saúde das crianças. amplo, cuja finalidade construir. Se já houve avanços, é ine-
Excesso de chumbo na tinta, ímãs gável que há diversas questões que
expostos, “ecstasy líquido”, todas é preservar a saúde ainda precisam ser aperfeiçoadas [com
essas novas expressões chegaram re- e a segurança do relação ao recall], tanto no monitora-
pentinamente, assustaram e, mais que mento como, principalmente, nas prá-
tudo, obrigaram o consumidor a se consumidor ticas empresariais”, definiu Roberto

10 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Palestra

Pfeiffer, diretor-executivo da Fundação de alguma forma, mascara o perigo


Procon-SP, durante debate promovido Inusitado a que o consumidor está submetido”,
pelo órgão na semana que antecedeu afirmou Marilena.
o Dia do Consumidor (15/03). Visão compartilhada pela repre-
O evento ocorreu na sede da Secre- sentante do Ministério Público Federal.
taria da Justiça e da Defesa da Cidada- Cristina defendeu que é preciso encon-
nia, no centro de São Paulo, e reuniu trar um caminho para garantir que o
diversas autoridades no assunto. Além cidadão tenha efetiva consciência dos
Divulgação
da diretora de programas especiais do riscos. E usou como exemplo o símbo-
Procon-SP, Andrea Sanchez, que atuou Para a indústria automobilística, o lo de caveira que aparece em produtos
como mediadora, participaram do en- recall não é tanta novidade. Só em tóxicos. “Precisamos buscar esse tipo
contro o diretor do Departamento de 2007, foram 31 convocações para que de eficiência em todos os setores.”
Proteção e Defesa do Consumidor consumidores levassem seu carro (em Mais enfático, o chefe do DPDC
(DPDC), Ricardo Morishita, a procu- apenas um caso, moto) para algum criticou essa postura, classificando
radora da República Cristina Marelin reparo técnico, troca de peça ou algo como falta de responsabilidade cívica.
Vianna, a coordenadora-executiva do “Comunicação de risco não é publi-
equivalente. Entretanto, no início de
Instituto de Defesa do Consumidor cidade. E quantas vezes a gente não
2008, houve um chamado inusitado.
(Idec), Marilena Lazzarini, o presidente encontra marketing nesses comunica-
da Fundação Abrinq, Synésio Batista A Ford anunciou, em 14 de fevereiro, dos?”, questionou Morishita. Para ele,
da Costa, e o coordenador de Progra- recall dos veículos marca Troller Picape é necessário que haja um compromis-
ma de Normatização da Associação Pantanal, modelos 2006 e 2007. O que so do empresariado com a sociedade
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), chamou a atenção foi que, nesse caso, para que se possa alcançar o patamar
Álvaro de Almeida. a montadora decidiu efetivamente reco- de qualidade previsto pelo CDC. E o
O recurso do recall está previsto no lher os carros. No comunicado oficial, a recall é fundamental nesse processo.
Código de Defesa do Consumidor (art. empresa informa que, dependendo da “Enquanto as empresas encararem a
10), e vale para todos os segmentos. Tra- utilização do veículo, há o risco de apa- comunicação como o cumprimento de
ta-se de um dispositivo amplo, cuja fina- uma mera formalidade, não consegui-
recimento de trincas no chassi, que, com
lidade é preservar a saúde e a segurança remos avançar.”
o tempo, podem propagar-se e compro-
do consumidor. Em linhas gerais, obriga Com o testemunho de quem es-
meter sua durabilidade e integridade.
o fornecedor a tirar de circulação, ime- teve no olho do furacão, o presidente
diatamente, produtos e serviços coloca-
Foi constatada ainda a possibilidade de da Fundação Abrinq, representando
dos no mercado e que, posteriormente, perda de estabilidade e controle dire- os fabricantes de brinquedos nacio-
foi descoberto que podem representar cional em manobras bruscas. nais, também se mostrou preocupado
algum perigo à população. A Ford Motor Company Brasil Ltda., com a forma como “a recau” (durante
sucessora por incorporação da Troller o debate, ele enfatizou que preferia
Informação x marketing Veículos Especiais Ltda., disponibilizou o “aportuguesar” o termo) é apresen-
A postura das empresas, mencio- tada ao consumidor. Segundo ele, de-
telefone 0800 703-3673, escolhendo a
nada por Pfeiffer, foi apontada pelos pois de ler o comunicado, o cidadão
opção, ou o site www.troller.com.br para
debatedores como uma das grandes tem a impressão de que as empresas
o consumidor obter as devidas orienta-
barreiras para a plena aplicação da – a quem chamou de “multinacionais
ções – inclusive se seu carro faz parte
lei. Em geral, os “inspirados” depar- arrogantes”, em referência aos recen-
tamentos de marketing procuram ca- das séries que apresentam os defeitos. tes episódios do setor – estão fazendo
pitalizar o recall. Nos comunicados, Por se tratar de possibilidade de aci- um favor. “Isso para mim é o fim do
que são obrigatórios, passam ao con- dente com risco à saúde e segurança mundo”, ressaltou.
sumidor a idéia de que a convocação dos usuários do veículo e de terceiros,
é iniciativa unilateral, motivada única o atendimento deve ser de imediato. Re... o quê?
e exclusivamente pela preocupação Caso o consumidor encontre qualquer A forma inusitada – e bem humo-
com a transparência. O que não é rada – utilizada por Synésio para se re-
dificuldade, poderá procurar ajuda na
verdade e confunde a informação. ferir ao recall levantou outra discussão:
Fundação Procon-SP.
“Vem sempre uma mensagem que, o nome usado para definir o conceito.

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 11


Palestra

Pressão por recall

Leonardo Tote/SJDC
Apesar da familiaridade do setor com o
recall, um caso recente, descoberto e di-
vulgado pela imprensa, mostra postura
retrógrada da Volkswagen. Trata-se do
caso do banco do Fox, cujo sistema de
rebatimento é considerado perigoso por
seus proprietários. Alguns tiveram parte
do dedo decepado. A estimativa é de
que foram fabricados 400 mil veículos
do modelo. Em um primeiro momento
a empresa anunciou que instalaria um
dispositivo de borracha.

No entanto, o Procon-SP abriu processo


administrativo e assinou, em abril, um
termo de ajustamento de conduta com
a empresa para a realização do recall. A Funada perdeu parte do dedo ao rebater o banco
Volks se comprometeu a apresentar pro-
posta técnica que resulte em operação veu essa situação às vésperas do Natal do ocorrido. Um mês após a visita, a
segura do sistema de rebatimento do de 2004. No primeiro momento, não en- Volkswagen deu uma resposta oficial,
banco traseiro, aprovada por relatório controu uma alça para a operação, como dizendo que o acidente foi causado por
técnico expedido por instituição oficial. imaginava. Examinou e, em seguida, erro de manuseio, não por problema no
Até lá, a empresa deve realizar campa- achou, na parte de baixo, uma trava, com projeto. “Assim eles têm feito com várias
nha de mídia sobre a correta utilização uma pequena área circular que parecia outras vítimas”, diz Funada.
do atual mecanismo de rebatimento. Os adequada para encaixar o dedo. Não era.
O caso agora está na Justiça, em fase
carros já fabricados e ainda não vendi- “Sei que eu puxei e não deu nem tem-
de perícia. Funada tenta receber inde-
dos deverão ter o sistema modificado po de ver como era o negócio”, lembra.
nização. Mas não pára por aí. Munido
antes de serem postos à venda. Já havia perdido um pedaço do dedo da
de dossiês produzidos por ele mesmo,
mão direita (ele é destro).
O problema ocorre quando o usuário cobra das autoridades a exigência do
tenta rebater o banco, para ampliar o Assim que retornou do hospital, enviou recall, para evitar que outras pessoas
espaço do porta-malas. O economista e-mail ao SAC. Representantes da empre- sejam vítimas. “Esse banco deve ser mo-
Gustavo Takao Funada, de 51 anos, vi- sa foram a sua casa para ouvir o relato dificado totalmente”, defende.

Para ele, o termo em inglês distancia CDC, mas é amplamente utilizado. consumo, tiver conhecimento da pe-
o consumidor. Marilena concordou Tanto pelos órgãos de defesa do con- riculosidade que apresentem, deve-
plenamente. “Acho que não agrada a sumidor, como por agências regula- rá comunicar o fato imediatamente
ninguém”, salientou. E emendou uma doras e, em especial, pelos meios às autoridades e aos consumidores,
sugestão: mudar o nome para “Aviso de comunicação. O texto da lei diz mediante anúncios publicitários.”
sobre produto perigoso”. “Aí, fica claro, o seguinte: “O fornecedor de pro- (§1º do artigo 10). Outros nomes co-
todo mundo vai entender”, opinou. dutos e serviços que, posteriormen- mumente usados são: convocação e
O termo não está explícito no te à sua introdução no mercado de chamamento.

12 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Meio
Lado
ambiente
a lado
Reprodução

Selo de garantia Por Maria Clara Caram

Lápis e outros produtos agora têm um selo de manejo florestal sustentável

A
preocupação com o meio No quesito desmatamento, está da madeira preserve o ambiente, res-
ambiente finalmente entrou cada vez mais fácil para o consumi- peite os direitos das comunidades que
na moda. Jornais e emissoras dor separar o joio do trigo – ou seja, vivem na floresta ou nas proximidades
de rádio e televisão abordam o assun- identificar quais empresas são cons- e, além disso, traga benefícios à popu-
to diariamente. Congressos, seminá- cientes e quais “não estão nem aí”. lação local.
rios e palestras, promovidos tanto por O Conselho Brasileiro de Manejo Flo- “O FSC Brasil realiza a certificação
órgãos de governo quanto pela socie- restal, organização que representa de florestas naturais e florestas planta-
dade civil, repercutem e amplificam no Brasil o FSC (Florest Stewardship das, fazendo o rastreamento de toda
as discussões. Fala-se em crescimento Council), criou o Selo Verde, que já madeira comercializada, conferindo
populacional, desmatamento, aqueci- foi concedido a diversos produtos certificado às empresas que utilizam
mento global, entre outras conseqüên­ oferecidos no mercado, como ar- matéria-prima de procedência legal,
cias da exploração desenfreada dos tigos madeireiros para construção social e ambiental, garantindo ao con-
recursos naturais. E o conceito-chave civil, móveis, artigos domésticos de sumidor mais exigente a informação
é: consumo consciente. decoração, lápis, carvão, cosméticos, da procedência das matérias-primas
A cada dia que passa fica mais livros, entre outros. utilizadas”, explica Ana Yang, secretá-
clara a importância do papel do Trata-se de um certificado, que é ria executiva do FSC Brasil.
consumidor. As empresas exploram incluído na embalagem do produto Quase metade das plantações no
os recursos naturais para produzir (foto), quando a organização ates- Brasil está certificada pelo FSC. Em-
e vender seus produtos. Antes de ta que a extração de madeira não é presas que exploram as florestas na-
comprar, o cidadão pode e deve dar agressiva ao meio ambiente. Mas não turais também podem conseguir o
preferência às companhias que se é só isso. A produção precisa comple- Selo Verde – no total o instituto con-
preocupam com o meio ambiente. É tar o tripé do chamado “manejo flo- sidera ambientalmente responsável a
como o voto: dar o aval para quem restal sustentável”: incluindo desen- extração de madeira em três milhões
não está apenas destruindo a natu- volvimento econômico e social. Isso de hectares. A meta da entidade para
reza. Pode lucrar, mas precisa tam- significa que, para conseguir o selo, a o futuro breve é ampliar a área de cer-
bém preservar o planeta. empresa deve garantir que a extração tificação da Floresta Amazônica.

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 13


Procon municipal

Divulgação

Procon de Poá conta com a estrutura de um minipoupatempo para atender os consumidores Felipe Neves/SJDC

Amadurecimento
precoce
Por Felipe Neves

Q
uando uma criança de pou- em determinados aspectos, nos sobres- suporte técnico da Fundação Procon-
ca idade começa a servir saímos na região”, salienta. SP, que capacita os funcionários com
de exemplo para os amigos A capacidade de atendimento do cursos básicos de fiscalização, atuali-
mais velhos, os pais logo pensam: esse Procon de Poá cresce a cada dia. Os nú- zações, financeiros e outros.
meu filho tem futuro. Guardadas as meros mostram isso. Em 2006, foram Ela diz ainda que mantém sua
devidas proporções, é mais ou menos em média cerca de 200 ao mês. No equipe atualizada por meio das infor-
a mesma sensação da Fundação Pro- ano seguinte, esse número subiu para mações contida no Siga – sistema in-
con-SP e da Prefeitura de Poá, quando 300. E já nos primeiros meses de 2008, tegrado de informações mantido pela
constatam a rápida evolução do órgão chegou a 350. Desse total, em torno de Fundação Procon-SP, que permite aos
de defesa do consumidor instalado na 80% são resolvidos na hora – há neces- Procons municipais acesso a dados de
cidade há dois anos. sidade de abertura de processo admi- atendimento de todo o Estado. “Com
Coordenadora do Procon de Poá nistrativo em apenas 20% dos casos. ele, é possível controlar os nossos pro-
desde sua criação, em maio de 2006, a Para dar conta da demanda, Vera cessos e agilizar a emissão de relató-
advogada Vera Lúcia Rodrigues de Souza conta com uma boa estrutura ope- rios e de certidões.”
acredita que, embora jovem, a entidade racional – o órgão está instalado no
de proteção às relações de consumo da Núcleo de Atendimento à População Parceria
cidade está no caminho certo. “Somos (NAC), espécie de minipoupatempo O outro exemplo de eficiência do
muito jovens em Poá, e acho até que, administrado pela prefeitura – e com o órgão é a promissora parceria entre

14 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Procon municipal

Poder Judiciário e o Procon de Poá, de meados de 2007, muitas pessoas insinua que há má-fé por parte dos
em benefício única e exclusivamente foram surpreendidas com a cobrança consumidores. Como o caso ganhou
do cidadão. Em primeiro lugar, não se de valores exorbitantes por causa de dimensões coletivas – houve cerca de
trata apenas de algo verbal, uma es- suposta irregularidade na medição 40 queixas em um curto espaço de
pécie de “cortesia de cavalheiros” (o da conta de luz. A empresa respon- tempo –, a solução foi acionar o Mi-
que é bom também, mas frágil – pode sável é a Bandeirante Energia. O fun- nistério Público, que, com base nas
haver retrocesso, em caso de troca do cionário aparece na casa do consu- reclamações fornecidas pelo Procon,
coordenador do Procon ou do juiz). O midor para checar o relógio, afirma instaurou procedimento de inquérito
acordo, firmado em outubro de 2007, que detectou um defeito e substitui para apurar a conduta e defender o
foi homologado no Tribunal de Justiça o aparelho. cidadão de Poá.
do Estado de São Paulo. Mas não pára aí: a companhia in-
Desde então, o consumidor que duz o consumidor (sob pena de corte Outro lado
não tiver sua demanda resolvida por de luz) a assinar um termo de irregu- Segundo Edson Neves, superin-
meio da audiência de conciliação do laridade, convocando-o a pagar dife- tendente de Atendimento Comercial
Procon é encaminhado diretamente rença do período em que a aferição da Bandeirante Energia, as cobran-
para o Juizado Especial Cível (JEC) – foi supostamente irregular. “Eles co- ças feitas em Poá estão em confor-
onde terá a chance de exigir na Justiça bram anos anteriores”, explica Vera, midade com a Portaria 456, de 2000,
a garantia de seus direitos. Ele, inclusi- que classifica a postura de “desle- da Agência Nacional de Energia Elé-
ve, já sai do órgão administrativo com al” – os valores chegam a R$ 10 mil. trica (Aneel). O executivo diz não
data marcada para retorno no JEC. “Tem consumidor que chega a assinar ter conhecimento da apuração do
Mas não é só isso. O reconheci-
mento do trabalho do Procon é tanto
Divulgação
que, nos casos encaminhados, o JEC
alterou seu procedimento habitual.
Em geral, quando o consumidor pro-
cura o Judiciário, é feita uma audiên-
cia de conciliação e, posteriormente,
caso não haja acordo, uma audiência
de instrução. Entretanto, os cidadãos
que chegam ao JEC “via Procon” vão
direto para a instrução. Ou seja, o Ju-
diciário considera a audiência no Pro-
con como a sua própria.
Na opinião de Vera, essa mudança
favorece o consumidor porque coloca
o fornecedor em “xeque”. Em primei-
ro, porque diminui a possibilidade de
tentar a chamada “vitória pelo can-
saço”. Além disso, deixa o juiz de so-
breaviso. “A empresa que não tem a Vera Lúcia coordena o órgão desde sua fundação, em 2006
intenção de cumprir a lei já não tem
mais a vantagem de protelar e correr
para o Judiciário”, explica. “O forne- uma confissão de dívida para não ter MP sobre o caso, mas não se mostra
cedor chega com a pecha de alguém a energia elétrica cortada. Sem contar preocupado com a possibilidade. “A
que não quis fazer acordo, que não que a responsabilidade pela manuten- Bandeirante é uma empresa legalis-
tem a pretensão de fazer acordo.” ção do medidor é da Bandeirante.” ta: age somente em cima da legis-
Nos primeiros casos, o Procon lação e da regulação do setor. Não
Caso peculiar chamou a empresa para audiências, existe nenhuma preocupação em
Um episódio recente tem tirado o mas não obteve sucesso. Além de não relação a ela estar cometendo um
sono dos consumeristas de Poá. Des- admitir conduta inadequada, ainda equívoco.”

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 15


Capa

Não vale o quanto


pesa Por Felipe Neves e Francisco Itacarambi

Q
uando se fala em disfarce, Trata-se da chamada “maquiagem redução do valor final, e não avisar ade-
logo se pensa em detetives, de produtos”. O termo não é uma refe- quadamente o consumidor.
agentes secretos, espiões e, rência ao embelezamento das embala- “O que pode ocorrer numa mudan-
até, mafiosos. Óculos escuros, bigodes gens. Muito pelo contrário – é, na ver- ça repentina da quantidade do produ-
falsos, perucas – essas pessoas fazem dade, uma alusão à tentativa, por parte to, com a manutenção do preço, é um

Presente de grego
qualquer coisa para não ser reconhe- de certos fornecedores, de disfarçar o aumento disfarçado”, define o pro-
cidas, para passar despercebidas. É aumento do preço de seus produtos. motor de Justiça do Consumidor João
justamente neste ponto que o termo Note que aumentar preço de um pro- Lopes Guimarães Júnior. Em respeito à
pode ser emprestado a uma prática duto faz parte do jogo e é uma decisão transparência e boa-fé, princípios que
utilizada por alguns fornecedores pou- empresarial. O problema está em dimi- devem nortear as relações de consumo
co preocupados com o consumidor. nuir a quantidade, sem a proporcional e estão expressamente previstos na Lei
Por Felipe Neves e Francisco Itacarambi

16 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Capa

8.078/90, cabe ao fornecedor, nessas tros por rolo, ou seja, uma diminuição
hipóteses, deixar clara a situação para O que pode de 25% do produto final. Contudo, tal
o consumidor. redução não havia sido acompanhada
ocorrer numa pela respectiva diminuição de preço.
Por exemplo, um item, que costu-
ma ter 100g, é vendido no mercado mudança repentina Existia um outro senão. Um con-
por R$ 10. Todo mundo que costuma sumidor desavisado não notaria a di-
comprá-lo sabe disso. De repente, o
da quantidade do ferença entre as embalagens. “É inte-
peso da unidade muda para 90g, sem produto, com a ressante destacar que, não obstante à
que o consumidor seja alertado. O diminuição de quantidade, as embala-
que deveria ocorrer? Diminuir o pre- manutenção do gens desses produtos mantinham exa-
ço, é claro. Mas o que ocorre de fato? tamente o mesmo tamanho, algo que,
Ele é mantido exatamente igual. Desse
preço, é um aumento como se verificou mais tarde, era con-
modo, o cidadão sequer se dá conta disfarçado seguido por ajustes nas máquinas que
de que está pagando mais caro. E o realizavam a colocação do papel no
pior, as novas embalagens podem até tubo”, explica Góes. O Procon-SP apli-
João Lopes Guimarães Júnior
iludir o consumidor de que o produto cou duas multas, que já foram pagas,
se manteve igual ou, ainda, a quanti- de R$ 176 mil e R$ 226 mil, na época
dade foi aumentada. acertada a escolha. Assim como uma que identificou a estratégia.
“Há casos de produtos que após a pessoa que recorre ao uso de cremes Após o caso, começaram a ser
diminuição de sua quantidade aparen- e outros produtos cosméticos para es- identificados problemas em produtos
tam ter ainda mais conteúdo do que conder rugas ou sinais indesejados em de diversos segmentos. A listagem
sua versão anterior, resultado muitas seu rosto, passando uma impressão de inclui pacotes de bolacha, pacotes de
vezes obtido com a ajuda de especia- jovialidade, o fornecedor, usando de fralda, latas de extrato de tomate, cal-
listas em design, capazes de produzir mecanismos extremamente sutis, pro- do em cubo para tempero, frasco de
uma verdadeira ilusão de ótica com curava encobrir um aumento de preço. adoçante, shampoo, palitos de fósfo-
as embalagens de determinados pro- A estratégia até que ia bem, até ro, iogurte, chocolate, medicamentos,
dutos”, comenta Paulo Arthur Góes, que denúncias de consumidores che- achocolatados, leite em pó, suco em
diretor de Fiscalização do Procon-SP. garam à Diretoria de Fiscalização da pó, sabonete, complemento alimentar,
Fundação Procon-SP. Foi constatado salgadinhos, doce de leite e, acredite,
Cronologia que empresas, as quais juntas deti- até cartuchos para impressora.
O termo “maquiagem de produ- nham parcela significativa do mercado, Apesar de não compreender to-
tos” não tem sua paternidade conhe- haviam reduzido, ao mesmo tempo, a dos os produtos, a legislação brasileira
cida. Foi a imprensa ao adotá-lo de metragem dos rolos de papel higiênico determina uma padronização. A regu-
forma ampla que conferiu o status que em suas embalagens. O produto pas- lamentação praticada pelo Inmetro,
possui hoje. E não poderia ter sido mais sou de 40 metros para exatos 30 me- desde o início da década de 90, está

Multas aplicadas por maquiagem de produtos

Leonardo Tote/SJDC
Ano Sanções administrativas Valor

2002 06 multas R$ 8, 5 milhões

2003 a 2005 71 multas R$ 25,5 milhões

2006 03 multas R$ 500 mil

2007 03 multas R$ 1,4 milhão

2008 06 multas R$ 1,8 milhão

Total 89 multas R$ 37, 8 milhões

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 17


Capa
Leonardo Tote/SJDC
a apresentação do produto se man-
tém idêntica. É como se nada tivesse
acontecido e não se fala no assunto.
Por fim, já a partir de 2002, apare-
ce a terceira e última fase: a da “infor-
mação miudinha”. Aqui, os fornece-
dores já “se convenceram” (por meio
de norma) de que precisam alertar o
consumidor sobre a mudança. No en-
tanto, fazem de forma bem discreta,
para usar outro eufemismo. São aque-
las famosas letras pequeninas nos ró-
tulos das embalagens, em cores pou-
co chamativas e que absolutamente
ninguém percebe num primeiro olhar.

Promotor defende que casos sejam analisados sob a ótica do direito coletivo

Fiscalize

alinhada com as recomendações pra- rios. Mas como toda ação causa uma
ticadas em outros países objetivando, reação, houve quem buscasse atalhos
de um lado, a proteção do consumidor para, senão driblar, ao menos mitigar
e, de outro, a leal concorrência entre os efeitos trazidos por esse novo pa-
produtores. Desta forma, o produto fei- radigma.
jão, por exemplo, não pode ser vendido É possível distinguir três fases da
em uma embalagem de 127 gramas – maquiagem de produtos. Em um pri-
o chamado quebradinho. O produto meiro momento, em meados dos anos
deve ser comercializado em pacotes de 90, constata-se claramente a intenção
Alimentos, cosméticos, produtos de
100g, 200g, 500g, 1 kg, 2 kg ou 5 kg. de ludibriar o cidadão. Quando os
higiene pessoal, entre outros, reque-
órgãos de defesa do consumidor se
rem muita atenção do consumidor. É
Tendências atentaram à então nova prática abu-
Especialistas apontam que foi a siva do mercado, houve um choque importante observar se os produtos
estabilidade econômica advinda do com a maneira ostensiva pela qual al- que costuma adquirir têm sofrido re-
Plano Real que provocou alterações gumas empresas atuavam. dução de quantidade. E, neste caso,
profundas no mercado. Antes habi- Isto é, não apenas havia uma di- se estão sendo prestadas informa-
tuados a uma sistemática de elevação minuição na quantidade do produto ções claras e ostensivas na respec-
de preços – dia de pagamento era dia como também, ao mesmo tempo, o tiva embalagem sobre a quantidade
de supermercado –, fornecedores em fornecedor mudava a embalagem: a anteriormente comercializada e a
geral tiveram que, da noite para o dia, caixa de determinado sabão em pó, atual, na unidade de medida cor-
adaptar-se à nova realidade econômi- por exemplo, ficava maior enquanto o respondente (massa, volume, etc),
ca. A inflação continuava a existir, mas conteúdo havia sido reduzido. A inten-
e o respectivo percentual de redu-
com índices irrisórios se comparados ção era clara: causar uma falsa sensa-
ção. Faltando qualquer uma dessas
ao período anterior. ção ao consumidor.
informações a melhor coisa a fazer
O controle de preços foi funda- Na seqüência, aparece a chamada
é denunciar ao órgão de defesa do
mental para o amadurecimento do “maquiagem clássica” – fim dos anos
consumidor, agora mais preparado 90 e início da década de 2000. Ocorre consumidor municipal ou estadual,
para efetuar comparações e pesquisas, quando o fornecedor não usa mais os que adotará as providências admi-
e que não via com bons olhos empre- “truques de ilusionismo”, mas conti- nistrativas cabíveis em caso de ser
sas que tinham por hábito elevar seus nua sem informar o consumidor sobre comprovada a denúncia.
preços acima dos índices inflacioná- mudanças na quantidade. Nesse caso,

18 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Capa
Divulgação

de produtos aparenta uma evolução


em benefício do cidadão. Aquela pos-
tura mais ostensiva da primeira fase
não é mais possível nos dias de hoje.
Na visão do diretor do Departamento
de Proteção e Defesa do Consumidor
(DPDC), Ricardo Morishita, o trabalho
do Sistema Nacional de Defesa do
Consumidor (SNDC) foi fundamental
no combate desta prática abusiva e
que prejudica todo o mercado.
O diretor do DPDC cita, em espe-
cial, o trabalho da Fundação Procon-SP,
que foi o primeiro órgão a detectar o
dispositivo da maquiagem e o quanto
ele poderia ser danoso não apenas ao
Empresas utilizam magos do design para iludir o consumidor, critica Góes
consumidor, mas para toda a socieda-
de. “O Procon-SP foi quem levantou a
É o chamado “para inglês ver”. do fornecedor, nesses casos, é contar bandeira de um mecanismo extrema-
Para Guimarães Júnior, trata-se com a distração do consumidor, que mente sofisticado que se incorpora no
de “tática maliciosa” porque, a rigor, não vai perceber que aquele produto dia-a-dia do cidadão. A agenda eco-
não é veiculada uma informação erra- tem 10% ou 20% menos”, diz. nômica também passa pela defesa do
da. “A nova quantidade está expressa Apesar de ainda não ser o ideal, consumidor”, ressalta.
ali, mas evidentemente a estratégia essa linha cronológica da maquiagem

Nada de “quebradinhos”

 legislação brasileira define uma padronização para certos produtos.


A
Veja alguns exemplos:

PRODUTOS PADRONIZAÇÃO

Açúcares 100g, 200g, 250g, 500g, 1kg, 2kg e 5kg. Livre abaixo de 100g e acima de 5kg

Álcool 100ml, 200ml, 500ml, 1, 2, 5, 10, 20, 50, 100 e 200 litros

Arroz 100g, 125g, 200g, 250g, 500g,1kg, 2kg e 5 kg. Livre acima de 5kg

100ml , 200ml, 250ml, 500ml, 750ml ou cm3 e 1 litro. Livre abaixo de 100ml ou
Azeite de oliva
cm3 e acima de 1 litro.

Café em grão ou moído, tostado


250g, 500g e 1kg. Livre: Abaixo de 200g e acima de 1kg.
ou torrado

Cigarros Maço ou carteira de 20 cigarros

Farinha de mandioca 250g, 500g, 1 kg e 2kg. Livre: abaixo de 250g e acima de 2 kg

Farinha de trigo 500g, 1kg, 2kg e 5kg. Livre: acima de 5kg

Feijão 100g, 200g, 500g, 1 kg, 2 kg e 5 kg. Livre: acima de 5kg

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 19


Capa

Exemplos de alterações mação deve permanecer no produto ao


menos por três meses.
Em outras palavras, a nova legisla-
ção chegou para ser o terror dos de-
partamentos de marketing das empre-
sas que adotam a conduta. E a idéia
foi justamente essa: pode até alterar,
contanto que arque com a possibilida-
de de o consumidor preferir comprar
o item do concorrente, que eventual-
mente traz um custo-benefício melhor.
“A empresa não quer informar porque
não quer que o consumidor compre de
outro. Se ela é obrigada a informar, vai
ter que pensar duas vezes se vai dimi-
Diminuição no extrato de tomate de 370 gramas para 350 gramas.
nuir ou não, sob pena de perder aquele
Diminuição da metragem do rolo de papel higiênico de 40m para 30m. consumidor”, explica Morishita.
Diminuição da quantidade do biscoito wafer de 200g para 150g. Desde 2002, o órgão federal já
aplicou mais de R$ 37 milhões em
Diminuição no pacote Extra Grande de 10 fraldas para 08 unidades.
multas contra fornecedores que des-
Diminuição do pote de sardinha de 135 gramas para 130 gramas. respeitam a resolução. O pico ocorreu
entre 2003 e 2005, quando 71 casos
Diminuição do frasco de achocolatado de 500 gramas para 400 gramas.
foram concluídos, totalizando mais de
R$ 25 milhões. Só em 2008, já foram
aplicadas seis sanções pecuniárias (to-
tal de R$ 1.791.139,00).
Os processos mais recentes foram
contra as empresas Pepsico do Brasil
Ltda. e Masterfoods Brasil Alimentos
Ltda., ambos publicados no Diário
Oficial da União em 22 de fevereiro.
No primeiro, a conduta condenada
pelo DPDC foi a redução de 250g para
200g do item Toddy Pronto – leite mis-
turado com chocolate.
O outro produto com problema foi
Divulgação/DPDC
a ração para cachorro Pedigree, que
teve o peso diminuído de 1,5kg para
Nova regra 1,0kg, sem a adequada informação
Foi justamente esse trabalho de- Lei Estadual n° 11.078, que trata da in- ao consumidor. Note que no caso da
senvolvido nos últimos anos que au- formação na embalagem de produtos ração o preço foi reduzido. Mas no
xiliou a formatação da Portaria nº 81, com diminuição de quantidade. entender do DPDC o consumidor so-
de janeiro de 2002, que, com base nos Com as novas normas em vigor, os freu de vício de informação. Em uma
preceitos gerais do Código de Defesa fornecedores passaram a ser obrigados analogia simples, seria algo como o
do Consumidor, estabelece regulamen- a informar que houve a alteração e qual consumidor achar que o preço redu-
tação específica para a informação aos era a quantidade anterior, por meio de ziu e não reparar que a quantidade
consumidores sobre mudança de quan- “mensagem específica no painel princi- de produto também – uma vez que a
tidade de produto. No mesmo ano, o pal da respectiva embalagem, em letras informação não estava destacada de
Poder Legislativo paulista promulgou a de tamanho e cor destacados”. A infor- forma ostensiva, segundo o órgão.

20 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Capa

A Fundação Procon-SP foi o primeiro órgão


Portaria 81, de 2002
a detectar o dispositivo da maquiagem e o
Art. 1º. Determinar aos fornece-
dores, que realizarem alterações quanto ele poderia ser danoso não apenas ao
quantitativas em produtos embala-
consumidor, mas também para toda a sociedade
dos, que façam constar mensagem
específica no painel principal da
respectiva embalagem, em letras sanções aplicadas pelo DPDC foi efeti- lançamento de ‘nova embalagem’ em
de tamanho e cor destacados, in- vamente paga. O restante ainda está menor quantidade, sem proporcional
formando de forma clara, precisa e em trâmite judicial. Isto é, em vez de redução do preço constitui a chamada
pagar e encerrar de uma vez por todas ‘maquiagem de preço’, artifício usado
ostensiva:
as demandas (comprovadas por pro- para impedir o consumidor de perce-
I - que houve alteração quantitativa cessos administrativos que respeitam a ber o aumento do produto”.
do produto; lei e o direito de defesa), as empresas O promotor ressaltava ainda a vul-
preferem entrar com recursos na Justi- nerabilidade do consumidor no caso,
II - a quantidade do produto na
ça, prolongando a decisão final. afinal precisa de remédio quem está
embalagem existente antes da alte-
Para se ter idéia, dos 97 processos doente. “Os aumentos de preços pra-
ração;
administrativos instaurados pelo órgão ticados em desrespeito às regras em vi-
III - a quantidade do produto na federal, apenas em cinco casos houve a gor – além de caracterizarem infrações
embalagem existente depois da al- celebração de um Termo de Ajustamento administrativas –, provocam prejuízos
teração; de Conduta. Quando a multa paga é des- aos consumidores que, necessitando
tinada ao Fundo de Defesa dos Direitos dos medicamentos, ficam indefesos e à
IV - a quantidade de produto au- Difusos (FDD) – que financia investimen- mercê dos abusos dos fornecedores.”
mentada ou diminuída, em termos tos em projetos de interesses coletivos, de Mais de um ano depois que a ação
absolutos e percentuais. assuntos como consumo, meio-ambien- foi protocolada no Judiciário, a indús-
te, segurança, entre outros. tria acenou com a possibilidade de fa-
Parágrafo único. As informações
zer um acordo, que só foi fechado em
de que trata este artigo deverão
Medicamento junho de 2005. A DM comprometeu-
constar da embalagem modificada
Uma outra frente de atuação é via se a doar o equivalente a R$ 136 mil
pelo prazo mínimo de 3 (três) meses, ação civil pública. Em 2005, o Minis- em medicamentos para hospitais que
sem prejuízo de outras medidas que tério Público de São Paulo conseguiu não possuíssem qualquer vínculo com
visem à integral informação do con- acordo com a DM Indústria Farmacêu- ela. O valor foi calculado com base no
sumidor sobre a alteração empreen- tica Ltda., para ressarcir os danos cau- lucro obtido a partir da mudança.
dida, bem como do cumprimento das sados à população por causa da prá- Guimarães Júnior explica que essa
demais disposições legais acerca do tica da maquiagem de produtos. No é uma prática comum. Afinal, a doa-
direito à informação do consumidor. caso, em meados de 2001, a empresa ção dos remédios para hospitais pode
mudou a quantidade do Atroveran Lí- ser mais importante coletivamente do
quido, de 30ml para 20ml, sem infor- que o ressarcimento propriamente dito
mar devidamente o consumidor. Além dos valores perdidos por cada cidadão
Conduta de risco disso, elevou o preço (de R$ 0,56 para que comprou aqueles medicamentos.
Infelizmente, apesar do esforço, R$ 1,24) da cartela de quatro com- “Em muitos casos, o Ministério Pú-
a postura da maioria das empresas é primidos do Atroveran, sem a devida blico faz um acordo que prevê algum
de desrespeito a todas as instituições. autorização do órgão competente – a tipo de compensação em benefício da
Não apenas tentam ludibriar o consu- Câmara de Medicamentos, do Minis- sociedade”, explica o promotor. “Para
midor, demonstrando pouca responsa- tério da Saúde. cada indivíduo isoladamente conside-
bilidade cívica, como ainda procuram Na ação movida em janeiro de rado, às vezes o prejuízo é insignifi-
medidas protelatórias para não pagar 2004, encaminhada à Vara Cível do cante. Mas se a gente multiplicar pelo
a multa. Foro Central da Comarca de São Paulo, número de pessoas lesadas, teremos
Uma pequena parcela do total de Guimarães Júnior argumentava que “o milhões de reais”, conclui.

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 21


Mercado

Você se importa em responder


a uma
Por Joyce Camargo pesquisa  ?
móveis, e outros inúmeros ramos
de negócio, contratam institutos de
pesquisa para planejar e colocar em
prática os testes com os produtos a
serem lançados no mercado.  
“Existe um distanciamento en-
tre as empresas e os consumidores.
Quem desenvolve os produtos tem
uma visão fechada do que está fazen-
do e, em seu dia-a-dia de trabalho,
não consegue enxergar o consumidor,
por mais informações que disponha
sobre ele. Por exemplo, existem duas
opções de sabor para um produto, o
gerente da área não pode saber qual
é o melhor, baseado em seu próprio
gosto”, explica a diretora-presidente
do instituto de pesquisa Multifocus,
Ana Helena Meireles. 
As pesquisas ajudam a formatar
um produto mais aceito no mercado
– leia-se, alavancar as vendas – e de-
Joyce Camargo/SJDC
tectar algum problema que possa cau-
Testes são realizados com embalagem que não faz referência à marca
sar ao consumidor. “As empresas se
preocupam muito mais, pois, se existe
algum problema no produto, a reper-

I
magine que você está em casa e estão à venda no supermercado pas- cussão em termos de imagem para a
alguém bate à porta, oferecendo sou antes pela aprovação dos cinco empresa é muito ruim. Por exemplo, a
um pote de margarina ou sabão sentidos humanos.  divulgação dos dados das mais recla-
em pó em uma embalagem onde só Mas, antes de ficar desconfiado madas do Procon-SP é algo que pesa
constam os ingredientes e a tabela com a possibilidade de a cena acima muito para as empresas. Obviamen-
nutricional para que você prove e de- acontecer com você, saiba que mui- te, ninguém quer estar no topo deste
pois dê sua opinião para uma pesqui- tas indústrias alimentícias, de cosmé- ranking”, ressalta Ana Helena. 
sa. Você participaria deste teste? Pois ticos, produtos de higiene pessoal Antes de enviar o produto, sem
saiba que boa parte dos produtos que e limpeza, eletrodomésticos, auto- qualquer identificação da marca, para

22 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Mercado
Joyce Camargo/SJDC
a casa do consumidor, os institutos
convidam potenciais consumidores
para participar da pesquisa. Como
cada produto tem um público alvo,
existem bancos de dados pela classe
social, idade, sexo e perfil de consu-
mo pré-estabelecidos pela empresa.
O período de testes dura entre uma
ou duas semanas. Concluído esse
processo, os pesquisadores classifi-
cam as impressões do consumidor
sobre o produto. Quem participa, ge-
ralmente, é remunerado ao final do
processo. 
“Em quaisquer pesquisas de mer-
cado, nós tentamos simular ao máximo
a realidade da pessoa, de quando ele
usa o produto”, diz Fernanda Scozza- Fernanda conta que muitas vezes o produto tem que recomeçar do zero após o teste
fave, gerente de pesquisa de mercado
e produto da Unilever. Fernanda conta
que muitas vezes o produto tem que
recomeçar do zero. “Certa vez íamos plo. Em casos como este, são feitas
As pesquisas exposições para a apreciação de con-
lançar uma nova versão de amacian-
te de roupas. No teste o consumidor ajudam a formatar um vidados, que respondem ali mesmo ao
disse que estava muito fino, líquido e questionário. Ana Helena, da Multifo-
a consistência não era adequada. Nós produto mais aceito cus, destaca uma estória diferente que
retrabalhamos o produto para, final- ocorreu certa vez. Ao fazer uma pes-
no mercado – leia-se,
mente, colocá-lo no mercado.”   quisa sobre geladeiras com comparti-
alavancar as vendas – e mento na porta para gelo com “no-
Criatividade vos ricos” e pessoas tradicionalmente
A variedade de tipos de pesquisa
detectar algum problema ricas, a missão de trazer o produto ao
é grande. Existem as “central loca- que possa causar ao País foi, literalmente, congelada por
tions”, espaços fechados instalados um período.
em pontos de grande fluxo de pes- consumidor “Perguntamos: ‘qual o valor que
soas onde são testados produtos de se dava para aquela característica da
maneira mais rápida, como um sor- geladeira?’ O resultado inesperado
Ana Helena Meireles
vete de palito, por exemplo. Neste foi: não tragam essa geladeira para
caso, os pesquisadores abordam as o Brasil! As pessoas que tinham alto
pessoas na rua e convidam a parti- poder aquisitivo, diziam: ‘não vou
cipar, experimentando o picolé den- gastar esse dinheirão numa geladei-
tro do stand e depois respondem rados na cozinha experimental e depois ra, no exterior ela custa a metade do
a um questionário formulado pelo fazem uma avaliação do sabor, textura, preço!’. Os outros, que acharam a
instituto.   aroma e outras características. Depois, geladeira o máximo, diziam: ‘Eu não
Há empresas que optam por receber é feita a análise dos resultados da pes- recebo os meus amigos na cozinha,
consumidores na própria sede para ex- quisa para lançamento do produto ou com esse dinheiro compro um mon-
perimentar produtos novos. Indústrias reformulação”, diz.  te de jóias”.  Segundo a diretora do
alimentícias como a Sadia utilizam este Outra forma de teste é realizada instituto, a pesquisa de teste de pro-
expediente, conta Patricia Matsunaga, com produtos que não podem ser en- dutos dá um recado claro à empresa:
coordenadora de análise sensorial. “As tregues na casa do consumidor, como “se você não for transparente aqui,
pessoas consomem os alimentos prepa- uma geladeira e um carro, por exem- vai ter problema”, conclui.

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 23


Coleguinhas

Terra
triangular
Por Felipe Neves

Procedimento para reprocessar o óleo de cozinha transforma o produto em sabão

U
m polígono de três lados. Não sabiam exatamente o que fa- dade carente da região. Os agentes do
Essa é a definição dos dicio- riam, mas tinham uma certeza: não instituto saíram às ruas, batendo de
nários para a palavra triângu- poderia ficar apenas no discurso. “O porta-em-porta. Identificavam-se e fa-
lo. Entretanto, para idealistas de San- grande ‘x’ da criação de uma organi- lavam sobre poluição ambiental e de-
to André, o termo poderia significar zação não-governamental é ter um senvolvimento sustentável. E sugeriam
mais. Uma metáfora das necessidades objetivo. Muitas ONGs não vão para à pessoa: que tal fazer alguma coisa
do planeta. Nesse caso, em vez de frente porque fica aquela coisa muito prática para colaborar?
lados, são caminhos que a sociedade utópica, muito sem foco”, explica Fa- Diziam: “Você vai ajudar doando o
precisa encontrar. Não mais apenas o brício França, diretor de operações do óleo. Eles vão produzir sabão e, depois,
econômico, como nos últimos séculos, Instituto Triângulo. a gente vai trazer esse sabão aqui para
mas também o ambiental e o social. É O recém-formado Triângulo desco- você consumir um produto que tem
a sustentabilidade. briu, então, o impacto ambiental causa- dentro dele, além do valor econômico,
Foi a partir da constatação de que do pelo óleo de cozinha: um litro pode o social e o ambiental. Portanto, é um
a vida em sociedade havia chegado a contaminar até um milhão de litros de produto de consumo consciente.”
um ponto tão profundo de degradação água – quantidade suficiente para suprir Com essa mobilização, o Triângulo
humana e ambiental que os amigos as necessidades de uma pessoa por 14 mostra todas as etapas às pessoas que,
Eduardo Shiguemi Maki e Paulo César anos. Mas não bastava alertar a popu- até então, sequer tinham parado para
Correia se uniram, em julho de 2003, lação sobre os danos à natureza, era ne- pensar no descarte: uma forma fácil
para formar o Instituto Triângulo, orga- cessário cobrir toda a cadeia. de ajudar a preservar o meio ambien-
nização não-governamental que nasceu Reprocessado, o óleo que seria te, que gera empregos (cooperativa) e
com objetivo de mobilizar a população descartado pode ser reaproveitado riqueza (sabão). E ainda ilustra o pa-
de centros urbanos para promover o como sabão. O Triângulo montou, en- pel fundamental do consumidor nes-
desenvolvimento sustentável. tão, uma cooperativa com a comuni- se processo. Ser consciente significa

24 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Coleguinhas

pressionar as empresas a que tomem sal “Ambiente urbano”. O instituto cebem o óleo e, ainda, divulgam o
atitudes nessa linha; não comprar da- também passou a oferecer consultoria trabalho.
quelas que pensam única e exclusiva- sobre o assunto a empresas e condo-
mente no lucro. mínios. E montou um grupo de teatro Casa
para promover apresentações para Para o complemento do ano, o
Insustentável escolas e eventos focados no público instituto tem um projeto grande, ain-
Em março de 2004, o Triângulo foi infantil. da inédito e antecipado à REVISTA
certificado pelo Ministério da Justiça O problema é que, após toda PROCON-SP, que, se der certo, vai
como Organização de Sociedade Civil essa maratona, uma coisa ficou clara. trazer a tão almejada sustentabilidade.
de Interesse Público (Oscip). O traba- Mesmo pregando o desenvolvimento É o Círculo de Ação Sócio Ambiental
lho de recolhimento e reaproveita- sustentável, o instituto estava longe (Casa), que já vem sendo estudado há
mento de óleo continuou evoluindo. de se bancar. “A ação casa-a-casa, meses e deve dar os primeiros passos
Atingiu o ápice em 2006, quando o como ferramenta promocional para ainda neste semestre.
instituto conseguiu patrocínio da Pe- divulgar os preceitos do desenvolvi- A principal mudança trazida pelo
trobras. mento social, é bacana. Só que, do Casa é a possibilidade de a popula-
A verba permitiu ao projeto alcan- ponto de vista de sustentabilidade do ção interessada se associar, e contri-
çar um novo patamar de organização. instituto, demoraria muito tempo”, buir com doações. Mas não será da
De forma sistemática, chegou a 60 mil define o diretor. forma tradicional, simplesmente dá o
residências na região do ABC (Santo Começou, então, um processo de dinheiro e acaba a relação. A verba
André, São Bernardo e São Caetano). descentralização. O primeiro passo foi recebida será convertida em créditos,
“Foi uma loucura, e uma baita expe- parar de pedir o óleo de casa-em-casa. e os doadores poderão trocá-los por
riência”, lembra França. Atualmente, Já conhecido do público, o instituto “serviços ecoeficientes” oferecidos
são produzidos em média 600 kg de criou o Disque-Triângulo, telefone pelo instituto.
sabão por semana. para que os interessados agendem O principal deles é de coleta – que
Em paralelo a isso, surgiram novas a retirada do produto. Além disso, vai ser ampliada: além do óleo, pneus,
formas de divulgar os preceitos sus- foram instalados, em pontos de co- lâmpada fosforescente, entulho, pilha,
tentáveis. Um deles é a revista men- mércio, os multiplicadores, que re- todos os materiais recicláveis, tubo de
pasta de dente, bituca de cigarro, en-
fotos: Maria Clara Caram/SJDC tre tantos outros. “Tudo a gente vai
recolher e transformar num produto
ou dar um encaminhamento correto”,
explica França.
Também poderão ser trocados
por outros serviços, como consultoria
de sustentabilidade – orientador vai
à casa e ensina a família a separar o
lixo, ou maneiras de economizar água
e energia, etc. – e cursos de teatro
educativo e de artesanato – pessoa
aprende a transformar seus próprios
resíduos.
O Casa busca trazer fomento à
interatividade. No site do instituto,
haverá uma área exclusiva para os as-
sociados, com chats, fóruns e espaços
para propostas de novas mobilizações.
“Nossa idéia é montar uma grande
rede de pessoas interessadas em fazer
ações socioambientais”, conclui, oti-
ONG pretende ampliar o serviço de coleta e reciclagem de produtos mista, o diretor.

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 25


Seu bolso

Falando a mesma língua


Por Francisco Itacarambi

A
s tarifas cobradas pelos ban- a 20 os serviços que podem ser cobra- revela que um consumidor paga anu-
cos sempre foram objeto de dos, no pacote padronizado, sendo almente, em média, R$ 386,98 em ta-
reclamação dos consumido- que cada banco deve divulgar em suas rifas avulsas.
res. Uma parcela não entende o que agências e no site o valor da nova ta- É como deixar um salário mínimo
é tarifado, outra acha abusiva e existe bela de tarifas avulsas e dos pacotes. por ano à instituição financeira para
ainda o grupo, acredite, que desco- “Se os técnicos do Procon tinham poder usar os serviços – muitos deles
nhece a cobrança. Para se ter uma dificuldade em identificar o serviço que essenciais, como um cartão do banco.
idéia do abismo que existe no merca- estava sendo cobrado, é de se presumir No entanto, existem alternativas me-
do, o valor da tarifa para renovação que o consumidor comum não conse- nos salgadas. Em muitos casos é mais
do cadastro da conta corrente especial guia nem mesmo saber que tipo de ser- vantajoso ao consumidor aderir a uma
(pessoa física, valor anual) pode variar, viços se tratava. Comparar, então, era cesta de produtos do que contratar
segundo pesquisa do Procon-SP divul- uma missão quase impossível, uma vez serviços avulsos. A simulação realizada
gada em março, até 160% – de R$ que o outro banco mantinha serviço junto aos dez maiores bancos do mer-
15,00 em bancos como a Caixa Eco- similar com um nome completamente cado, utilizando um consumidor hipo-
nômica Federal (CEF), o Bradesco e a diferente”, explica a assessora técnica tético, constatou uma economia de,
Nossa Caixa, para R$ 39,00 no Safra. da Diretoria de Atendimento e Orienta- em média, 26,78%, ou R$ 103,62!
A boa notícia para o consumidor é ção do Procon-SP, Dinah Barreto. “O consumidor deve comparar o pa-
que a confusão pode acabar. Ou, pelo Outra novidade é que, a partir fe- cote mais próximo da sua real utilização,
menos, deve diminuir. A nova regula- vereiro de 2009, o consumidor passará já que pagará um conjunto de produtos
mentação do Banco Central (BC), que a receber um extrato anual, consolida- e serviços muitas vezes não utilizados e
entrou em vigor em abril, determina do, discriminando, mês a mês, as tari- inclusos nos ‘pacotes/cestas’ das institui-
que as instituições financeiras sejam fas cobradas no ano anterior em conta ções financeiras. Em alguns casos, pode
obrigadas a seguir uma padronização corrente de depósitos à vista e/ou em até ser mais vantajoso para o consumi-
da nomenclatura das tarifas. Desta for- conta de depósitos de poupança. Com dor escolher um plano que atenda par-
ma, o consumidor poderá comparar o isso, o cidadão poderá mensurar quan- cialmente suas necessidades, pagando
preço cobrado por cada instituição. to é gasto apenas com tarifas. Levan- a tarifa avulsa do serviço/produto não
Outra novidade é que estão limitados tamento anual da Fundação Procon-SP incluso”, explica Valéria Garcia, diretora
de Estudos e Pesquisas do Procon-SP.
Steve Woods/SXC Transição
A nova resolução do BC (3.518,
de 2007) cria quatro categorias de
serviços que devem ser seguidas pelos
bancos: essenciais, prioritários, espe-
ciais e diferenciados. Os dois primei-
ros são diretamente relacionados à
conta corrente/poupança e atingem
o consumidor médio. As duas outras
categorias enquadram atividades es-
pecíficas, como crédito rural, mercado
de câmbio e imobiliário, e a serviços
como aluguel de cofre, por exemplo.
A diferença entre serviços essenciais
e prioritários é a cesta de produtos. No
primeiro, o consumidor terá direito,

26 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Seu bolso

O levantamento do Procon-SP, divulgado em alterações significativas de dezembro


até a data de hoje. Eventualmente uma
março, analisou o Banco do Brasil, Bradesco, tarifa aumentou ou baixou”, disse Odi-
lon. O Procon-SP avalia que não exis-
Caixa Econômica Federal, HSBC, Itaú,
tem indícios concretos neste sentido,
Nossa Caixa, Real, Safra, Santander e Unibanco mas que fará um estudo mais detalha-
do para analisar a questão.
gratuitamente, ao fornecimento de car- o calculado pela soma das respectivas
tão de débito e dez folhas de cheque tarifas avulsas. Vale registrar também
– sendo que o banco não poderá mais que o débito de tarifa só poderá ser Serviços essenciais (gratuitos)
cobrar pela compensação de cheque. feito quando houver saldo suficiente
O serviço também estipula até quatro na conta. O mecanismo foi criado para
saques e duas transferências entre con- impedir que a cobrança de tarifa deixe
tas da mesma instituição do correntista. o consumidor com saldo negativo.
No caso de conta poupança o consumi-
dor fica livre de tarifa de manutenção, Tarifaço
e o cartão para movimentação, assim A almejada transparência, no
como na conta corrente, deve ser for- entanto, é objeto de análise da Co- Conta corrente:
necido gratuitamente. O consumidor missão de Defesa do Consumidor, da • Cartão com função débito;
também terá direito a até dois saques Câmara dos Deputados. Os parlamen- • 10 folhas de cheque por mês;
por mês e dois extratos mensais. tares vão solicitar ao Banco Central • 2ª via do cartão, exceto para per-
A outra opção padrão que deve ser uma pesquisa para apurar se ocorreu da, roubo, danificação e outros moti-
oferecida por todas as instituições é o aumento das tarifas bancárias desde vos não imputáveis ao banco;
pacote básico de serviços prioritários. O que foi publicada a nova resolução. • Até quatro saques, por mês, em
plano, que é cobrado, inclui o cadastro A medida foi definida durante audi- guichê de caixa, inclusive por meio
inicial, renovação de cadastro duas ve- ência pública, realizada em março,
de cheque ou de cheque avulso, ou
zes por ano, oito saques mensais, qua- convocada após a Fundação Procon-
em terminal de auto-atendimento;
tro extratos do mês a cada 30 dias, dois SP ter divulgado sua pesquisa anual
• Até dois extratos contendo a mo-
extratos do mês imediatamente ante- de tarifas bancárias.
vimentação do mês por meio de ter-
rior a cada 30 dias e quatro transferên- O que a comissão quer saber é se al-
gumas instituições financeiras elevaram minal de auto-atendimento;
cias entre contas na própria instituição.
Tanto no serviço essencial como suas tarifas durante o período de transi- • Consultas pela internet;
no pacote básico prioritário, a opera- ção da entrada em vigor da nova reso- • Duas transferências entre contas
ção que exceder o rol será cobrada se- lução do BC – entre dezembro e março. na própria instituição, por mês;
guindo a tabela fixada pela autoridade A dúvida se baseia no fato de que pelo • Compensação de cheques.
monetária. Por exemplo, caso o con- novo regimento os bancos só poderão Conta de poupança:
sumidor faça três saques (um a mais reajustar os valores para cima após um
• Cartão com função movimentação;
do fixado no essencial), pagará pelo período mínimo de 180 dias (6 meses).
• 2ª via do cartão, exceto nos casos
serviço adicional. O mesmo vale para A redução do preço cobrado pelo servi-
de perda, roubo, danificação e outros
quem desejar fazer uma operação ou ço pode ser feita a qualquer momento.
motivos não imputáveis ao banco;
contratar um recurso que não esteja O assessor técnico da Federação
Brasileira dos Bancos (Febraban) Ade- • Dois saques, por mês, em guichê
compreendido na lista de serviços do
plano que foi adquirido. mir Vian e o chefe-adjunto do Depar- de caixa ou em terminal de auto-
Existe ainda a possibilidade de o tamento de Normas do Banco Central, atendimento;
consumidor contratar um pacote de Sérgio Odilon, afirmaram no encontro, • Duas transferências para conta de
serviços personalizado. Cada institui- segundo a agência Câmara, que não depósitos de mesma titularidade;
ção está livre para montar as opções houve aumento significativo nas tarifas • Até dois extratos contendo a
(desde que ofereçam o serviço essen- bancárias. “Os dados disponíveis no site movimentação do mês;
cial e o prioritário). No entanto, o valor do Banco Central, que são enviados pe- • Consultas pela internet.
do pacote não poderá custar mais que las instituições financeiras, não revelam

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 27


Comportamento

Stella Levi/SXC somente comecei a pensar no que


tinha feito no dia seguinte. Pensei
no que teria de pagar e entrei em
depressão”.
Ao todo, R$ 15 mil. Esse foi o valor
gasto pela advogada Luciana (nome
fictício), 37 anos, dentro de um shop-
ping da cidade, em apenas um dia de
compras. Ela conta como foi parar na
terapia e como reconheceu que tinha
um problema: o transtorno da necessi-
dade incontrolável de comprar. Lucia-
na é uma compradora compulsiva.
O nome científico é oniomania,
como explica o coordenador do Am-
bulatório de Jogos Patológicos e Ou-
tros Transtornos do Impulso (Amjo), do
Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas, Daniel Fuentes. “É a descri-
ção de um comportamento patológi-
co, um distúrbio do comportamento.
Refere-se a um descontrole da relação
com as compras, do ato de comprar.”
O descontrole de comprar aparece
como sintoma de outros problemas,
como transtornos do humor e de
ansiedade ou dependência de subs-
tâncias psicoativas (álcool, tóxicos ou
medicamentos). “A oniomania comu-
mente aparece na presença de outro
transtorno e deve ser tratada como
doença, pois desestabiliza o social, o
pessoal e o financeiro da pessoa”, diz
Fuentes. Para ele, o melhor tratamen-
to disponível é a psicoterapia.

Consumo
“Na hora em que eu estava fazen-
do compras, sentia muita alegria, mui-
ta liberdade, uma sensação muito boa.
No outro dia, uma sensação de derro-

doentio
ta, de desgraça, pensando em como
eu iria fazer com aquilo. Já cheguei ao
ponto de levar minhas jóias para o pre-
Por Patrícia Paz
go, para conseguir dinheiro para com-
prar outras coisas, pagar dívidas que

“U
eu tinha”, revela Luciana. Nela, tam-
m dia eu fiquei no shop- vezes para levar as sacolas e voltava bém foi diagnosticada a depressão.
ping das 9 da manhã às para comprar mais. Fui para casa feliz,
10 da noite. Quando as realizada. Tudo estava bem, eu expe- Complicador
portas abriram, eu entrei e lá fiquei rimentei todas as compras, escondi No caso, há um complicador. Com-
até fechar. Eu voltei para o carro várias no armário, joguei fora as sacolas e prar é uma prática mais que aceitável

28 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Comportamento
Felipe Neves/SJDC
nador do programa de Administração
de Varejo (Provar), não vê a propagan-
da como responsável pelo fenômeno
da compra compulsiva, mas considera
inegável que ela estimula o consumo,
o que ajuda a desencadear o transtor-
no em pessoas com essa tendência.
“Dizer que não sofremos a ação da
propaganda é um absurdo. O processo
decisório do consumo é proporciona-
do pelos sentidos, ou seja, ele é movi-
do pela razão e pela emoção”, define
Ângelo, que também é professor da
Faculdade de Economia, Administra-
ção e Contabilidade da Universidade
de São Paulo (FEA-USP).
Para Fuentes, do HC, a ficha só cai quando se prejudica alguém querido Em sua visão, atualmente, os res-
ponsáveis pelo crescimento excessivo
do consumo – e o conseqüente maior
na nossa sociedade, é até incentivada, eu realmente percebi o quanto estava
índice de endividamento da população
desde a infância. Isso torna a onio- doente e foi muito difícil, pois durante
– são a grande oferta de crédito e de
mania extremamente difícil de ser de- o tratamento, tive várias recaídas, me
financiamentos bancários e as inúme-
tectada, tanto pela pessoa como por endividava e mesmo tentando pagar ras promoções e liquidações do varejo.
amigos e familiares – muito mais do essas contas eu voltava a contrair pe- Nesse sentido, ele ratifica a posição de
que outros tipos de transtornos, como quenas dívidas”. Fuentes, que vê clara relação entre o
alcoolismo ou vício de drogas.
Os entes queridos são fundamentais aumento dos casos de oniomania e
Fuentes destaca a participação da
no processo terapêutico. “O paciente esse quadro da sociedade: a tendência
família e dos amigos. Segundo ele, em
ao transtorno dificilmente deixa de se
geral, a “ficha só cai” quando a pessoa
manifestar num indivíduo submetido a
percebe que está prejudicando quem A oniomania deve
tantos estímulos.
ama. “As brigas com meu marido co- ser tratada como doença,
meçaram porque ele não conseguia Ajuda
pagar minhas contas, que eram cada
pois desestabiliza o
Depois de constatado o problema,
vez mais altas. Isso porque ele não ti- social, o pessoal e o além da terapia, as pessoas tendem a
nha conhecimento dos carnês e da mi-
financeiro da pessoa procurar outro tipo de auxílio. É o caso
nha conta bancária. Até que um dia ele do grupo de auto-ajuda Devedores
disse que se não tomasse jeito ele iria Daniel Fuentes Anônimos (DA), que segue a mesma
se separar. Foi quando eu fui desabafar linha de atuação do Alcoólatras Anô-
com uma amiga de infância e ela disse elege um ‘portador da chave’, uma nimos (AA) e está no país desde 1997.
que eu tinha um problema”, lembra pessoa próxima que o ajudará no com- A meta é ensinar seus membros a re-
Luciana. bate ao consumo desenfreado”, revela aprender a lidar com o dinheiro. Para
Ela não tinha coragem de procu- o psicólogo. “Tive o respeito do meu isso, realizam cálculos das despesas
rar apoio, não queria que as pessoas a marido, a compreensão, e, acima de domésticas e as relacionam com os
vissem como incapaz e tivessem pena. tudo, o entendimento de que era uma ganhos mensais da pessoa.
Só aceitou participar de terapia por doença e que eu estava lutando contra A filosofia é praticamente idên-
entender que a amiga estava certa, ela. Isso foi muito importante para mim tica ao AA, com 12 tradições e 12
sua relação com compras não era sau- no processo”, conta a Luciana. passos, substituindo as palavras ál-
dável. “Eu fui a uma consulta, expli- cool e sobriedade por débito/gastos
quei como me sentia e iniciei um tra- Consumo induzido e solvência, respectivamente. Para o
tamento. Isso já faz quatro anos. Ali, Cláudio Felisoni de Ângelo, coorde- DA, a oniomania é uma doença – o

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 29


Comportamento

Divulgação
Como fazer para o dinheiro
durar um mês

Reprodução

Consumidores participam de palestra na Fundação Procon-SP

consumo é considerado um vício, tes, o devedor precisa entender que


assim como a bebida para o alcoó- precisa de moderação. “Não há como
latra. Fuentes afirma que ainda não eliminar de uma vez por todas o ato
há dados suficientes para classificar de comprar, mas há como restabelecer A Fundação Procon-SP realiza pa-
a oniomania como um diagnóstico uma relação sadia com as compras”.
lestras gratuitas e distribui cartilhas
isolado, embora haja indícios. Com foco na dívida, o “mantra” do
informativas para que o consumidor
A REVISTA PROCON-SP participou DA é “não faça o primeiro débito”.
aprenda como administrar o dinhei-
de uma reunião do DA e, com o com- O depoimento de Luciana come-
ro. Por exemplo, “Sair do vermelho”,
promisso de manter o anonimato, ob- ça com a frase: “fui uma compradora
compulsiva que, até hoje, se eu não me “Créditos”, “Serviços Bancários” e
servou os depoimentos. O grupo inicia
a reunião com a oração da serenidade cuidar, a minha conta vai estar estoura- “Orçamento Doméstico”.
e, logo depois, há a leitura do texto so- da”. Em todos os casos, fica evidente “O Procon-SP atua de forma preven-
bre endividamento, com alguns tópicos a preocupação com a vigilância cons- tiva”, diz o assistente de direção, Dió-
sobre como identificar um DA. tante. O consumidor compulsivo que genes Donizete, que define como vilãs
Os relatos são, em sua maioria, já admitiu o problema sabe que precisa as pequenas despesas que o cidadão
muito parecidos: pessoas com certa controlar-se, afinal, pelo menos por en- assume durante o dia. “Quando o sa-
independência financeira, estabilida- quanto, a oniomania não tem cura. lário chega ao fim, mas o mês ainda
de de emprego, mas que começam a Agora, Luciana está no fim do não terminou, o cidadão recorre ao
gastar de maneira descontrolada. Eles processo de quitação das dívidas e
cheque especial ou limite do cartão de
entram em um ritmo frenético para começa a traçar outras metas para
crédito.”
cobrir seus gastos, entrando em cré- sua vida. “Tenho um novo objetivo:
Os técnicos sempre enfatizam a ne-
ditos e financiamentos como forma de passar para o andar de cima. Enten-
cessidade de cuidado e atenção às ar-
pagar outras dívidas. do que, durante o início da terapia,
eu estava no subsolo, em direção ao madilhas ao parcelar uma compra ou
Moderação térreo, onde estou quase chegando. entrar em um financiamento. O con-
Um alcoólico anônimo tem como Assim que a porta abrir, quero passar selho é: pense de forma prática antes
lema não beber o primeiro gole, mas para o primeiro andar, ou seja, de- de comprar um produto. “Preciso ou
para o comprador compulsivo o pro- pois de pagar todos meus débitos, quero?”. E se a resposta for “quero”,
blema é mais complicado. Como não quero começar a guardar um pouco nunca financie o desejo.
efetuar a primeira compra? Para Fuen- de dinheiro.”

30 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Justiça

O caso das
Brent Allison

pílulas de farinha
Por Francisco Itacarambi

T
udo começou em 1998. Algu- Todo o valor estipulado
mas mulheres que tomavam o pela Justiça será revertido
contraceptivo Microvlar des- às vítimas. A decisão al-
cobriram, para espanto, que estavam cança interesses individu-
grávidas. O susto maior veio em se- ais homogêneos, isto é,
guida. A Shering do Brasil (atualmen- serão indenizadas as pes-
te, Bayer Shering Pharma) confirmou soas que consumiram a pí-
que foram produzidas pílulas do an- lula sem o princípio ativo.
ticoncepcional sem o principio ativo. Quem tomou o medica-
Tratavam-se, na verdade, de cápsu- mento pode habilitar-se na
las de farinha para testes de novas ação civil pública (número
embalagens. Como elas chegaram 053.01.003770-8) ou pro-
ao mercado ainda é um mistério. O mover a execução no foro dos seus do- A comprovação pode ser feita por
fato é que meses depois a cegonha micílios, conforme artigo 98 do Código meio de receita ou declaração mé-
começou a dar as caras. de Defesa do Consumidor (CDC). dica, cartela da pílula, depoimento
Passados 10 anos, a Fundação “È uma vitória do consumidor. pessoal, testemunhas, entre outros
Procon-SP venceu uma batalha que Quem se habilitar na ação civil públi- recursos. Não havendo habilitação
pode ajudar muitas famílias a superar ca não precisará das vítimas em número compatível,
os prejuízos decorrentes da gravidez esperar por mais será promovida a execução coletiva
repentina. A Terceira Turma do Supe- 10 anos pela com a destinação do valor ao Fundo
rior Tribunal de Justiça (STJ) conde- reparação. No de Direitos Difusos, nos termos do
nou o Laboratório Schering do Brasil entanto, é im- art. 100 do CDC.
Química e Farmacêutica Ltda. a pagar portante que Diversos consumidores lesados de-
indenização coletiva no valor de R$ 1 as mulheres apresentem alguma prova cidiram, na época, ingressar com ações
milhão por danos morais causados em do uso da pílula sem princípio ativo. Só individuais na Justiça – a maioria ainda
decorrência da colocação no mercado assim o juiz poderá decidir o valor que está em primeira instância. Quando
do anticoncepcional sem princípio ati- será destinado para cada uma das víti- fizeram essa opção, estavam cientes
vo. A decisão vale para todo o territó- mas”, explica Patrícia Caldeira, assesso- de que não poderiam mais aderir ao
rio nacional, mas cabe recurso. ra da diretoria executiva do Procon-SP. processo coletivo.
Na defesa, a empresa chegou a ar-
gumentar que houve eficiente recall,
inexistindo qualquer violação do de- Para aderir à Ação Civil Pública
ver de informação ao consumidor. No
entanto, para a relatora do processo, • Constituir advogado; médica, declaração médica, cartela da
ministra Nancy Andrighi, o foco do • Procurar o foro mais próximo de sua pílula, depoimento pessoal, testemu-
julgamento não era esse, mas sim se residência; nhas, dentre outros meios de prova da-
houve ou não lesão à coletividade. O • Documentar-se por meio de receita tados da época.
tribunal considerou que houve.

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 31


Lado a lado

Avaliação

10
Divulgação/Ipem-SP

nota
Por Leonardo Tote
José Fábio de Campos, explica que os
técnicos verificam aspectos normativos
relacionados à quantidade, qualidade,
desempenho e segurança. “Produtos
como borracha, tinta guache e giz de
cera devem apresentar o selo do Inme-

M
tro, conforme exigido em edital pela
aterial escolar bom precisa síveis erros nos requisitos normativos e Prefeitura”, afirma.
ter nota dez em qualidade. metrológicos dos kits. Para o superin-
Com essa idéia, uma parceria tendente do Ipem-SP, Antonio Louren- Exame
inédita do Instituto de Pesos e Medidas ço Pancieri, a parceria com a Secretaria Na avaliação de cadernos e agen-
do Estado de São Paulo (Ipem-SP), órgão Municipal de Educação, “representa das são verificados peso, tamanho,
da Secretaria da Justiça e da Defesa da um passo a mais no exercício da cida- número de páginas e acabamento,
Cidadania, com a Prefeitura de São Pau- dania e na qualificação dos processos como linhas e pautas. “Se vier especi-
lo começou a avaliar os kits de material de compras dos poderes públicos, ficado que o caderno deve ter 96 pági-
escolar entregues aos alunos do ensino além de evitar o desperdício”. nas e na realidade tem apenas 90, por
infantil e fundamental da rede pública. O Ipem-SP coletou 508 amostras exemplo, é constatado um prejuízo
Os fornecedores terão que dobrar a dos 940 mil kits distribuídos para as para o consumidor e também para a
atenção para não serem obrigados a fa- escolas. Cada kit contém de 17 a 38 Prefeitura, responsável pela compra”,
zer a lição de casa novamente. itens diferentes, variando de acordo ressalta Campos.
De acordo com o contrato firmado com a faixa etária de utilização, que No caso de colas, tintas e massa de
pela Prefeitura, os produtos que apre- vai desde crianças na pré-escola até modelar é analisado se o peso está de
sentarem irregularidades deverão ser educação de jovens e adultos. acordo com o apresentado na emba-
substituídos pelo fabricante. Os testes O coordenador do Organismo de lagem e se o produto realmente aten-
do Ipem-SP pretendem identificar pos- Certificação de Produtos do Ipem-SP, de às expectativas de desempenho.

32 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Lado a lado
Fotos: Divulgação/Ipem-SP
“Nada adianta comprar uma caneta
que não escreve ou uma tinta gua-
che que se torna quebradiça quando
seca”, comenta.
A qualidade do produto também
é determinada por aspectos normati-
vos. O giz de cera, por exemplo, é
um dos itens que precisam passar por
um exame de resistência. “Ao cair de
cima da mesa, o giz não deve que-
brar, senão ficará com o uso compro-
metido”, lembra Campos. O coorde-
nador cita ainda outros materiais que
devem ser verificados com cuidado,
como são os casos das réguas e es-
quadros, que podem conter rebarbas Técnico realiza teste com material escolar no laboratório do Ipem-SP
e falhas de acabamento.
o material escolar dos filhos, e uma necidas pelas escolas. A pesquisa
Orientações das recomendações mais importan- pode ser consultada no site www.
Paralelamente ao trabalho do tes é a pesquisa de preços. Por isso, procon.sp.gov.br. Além da pesquisa
Ipem-SP com os kits da Prefeitura, a a Fundação realiza anualmente uma de preços, o Procon-SP oferece uma
Fundação Procon-SP orienta os con- pesquisa comparativa de preços, com cartilha com dicas sobre material e
sumidores que vão às lojas comprar os itens mais presentes nas listas for- uniforme escolar.

Dicas ao consumidor

tam rebarbas, ranhuras, lascas ou pontos Lápis – escolha o tipo mais adequado
de ferrugem; para cada tarefa. Recomenda-se o núme-
ro 2 para os trabalhos escritos e crianças
Borracha – existem produtos apropriados
que estão iniciando a alfabetização;
para apagar lápis ou canetas. Cuidado
com borrachas coloridas, de formatos e
aromas diferentes, que podem induzir as
Caderno – verifique a impressão das li- crianças a colocá-las na boca;
nhas e margens, observe se as folhas Apontador – não deve apresentar sinais
não possuem dobras, rugas, manchas ou de ferrugem. Teste o apontador antes de
furos. Cadernos de capa dura são mais comprá-lo;
resistentes, embora mais caros;
Caneta – teste o
produto. Verifi-
que se a carga de Massa para modelar, giz de cera,
tinta está com- cola, tintas, etc. – Verifique no pro-
pleta e se não duto a inscrição de que não contém
há vazamentos. A substâncias tóxicas, bem como as re-
escolha deve ser comendações de uso. Atenção para as
Régua, esquadro e compasso – note feita de acordo instruções sobre a limpeza ou remoção
se a impressão da escala e dos números com a faixa etá- dos produtos das mãos, cabelos, rou-
está legível e também se não apresen- ria do aluno; pas, toalhas, etc.

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 33


Saúde

Beleza pura
Por Francisco Itacarambi

J. Moura/SXC

A
combinação vaidade femi- do consumo, um shopping center, foi consumidora optou em formalizar sua
nina e oportunidade de lu- abordada por representantes de uma desistência. O que, é claro, não era tão
cro certo foi suficiente para empresa, que possuía até stand no lo- fácil assim. Ela só conseguiu cancelar
gerar um grave conflito de consumo. cal, e respondeu a uma pesquisa. Dias o contrato depois de recorrer à Funda-
Assim como Éris, que apresentou uma depois, recebeu uma ligação agendan- ção Procon-SP.
maçã com a inscrição “a mais bela” e do uma visita em sua residência. Na Casos assim inspiraram a Direto-
alimentou a disputa entre Hera, Ate- ocasião, os vendedores a convenceram ria de Atendimento e Orientação ao
na e Afrodite pelo posto de Deusa da a assinar um contrato de serviço de ci- Consumo do Procon-SP a encaminhar
Beleza, segundo a mitologia grega, rurgia plástica, parcelado em 15 vezes. ofício à Sociedade Brasileira de Cirur-
algumas financeiras são o elemento O procedimento, no mínimo esqui- gia Plástica (SBCP), com cópia ao Cre-
da discórdia. Por trás do conceito de sito, ganhou novos desdobramentos mesp, cobrando um posicionamento.
ser uma alternativa para quem deseja quando a consumidora compareceu No documento, o órgão de defesa do
uma intervenção médica, aparecem para avaliação na clínica. De fato, era consumidor aponta que “não há qual-
práticas agressivas de vendas e uma ali que se iniciava o caminho natural quer indicação prévia por profissional
política de pós-venda, em muitos ca- para a cirurgia propriamente dita. As médico habilitado da indicação cirúr-
sos, inexistente. etapas anteriores (abordagem no sho- gica e, quando há um impedimento
Uma das vítimas foi a secretária pping, visita, etc.) eram apenas para médico para a realização da cirurgia,
Itamara da Silva Santos, 30 anos, que análise e liberação de crédito. Quando os consumidores enfrentam dificulda-
viveu uma situação inusitada. Passe- descobriu que teria de arcar com to- des em reaver os valores já pagos”.
ando em um dos símbolos máximos dos os custos de exames médicos, a A resposta do Conselho Federal de

34 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Saúde

Medicina (CFM), órgão máximo do se- Antes de fazer qualquer Cada um na sua
tor, após ser provocada pela SBCP, não Engana-se quem pensa que o ór-
poderia ser mais clara: proibiu a classe acerto, é necessário gão é contra a cirurgia de estética ou
médica de atender pacientes encami- plástica. A crítica é à prática agressi-
escolher uma clínica
nhados por empresas que anunciam va de empresas que não mantêm re-
ou vendem planos de financiamento apropriada e fazer todos lação com a finalidade médica, que
de serviços médicos. vem trazendo enormes transtornos
“[A decisão] foi embasada a par- os exames de rotina. ao consumidor. Para quem deseja
tir de consulta encaminhada pelo Apenas depois desses fazer uma cirurgia deste tipo e não
Procon-SP à SBCP (Sociedade Brasilei- puder pagar à vista, uma alternativa
ra de Cirurgia Plástica), a respeito do procedimentos e com é procurar um empréstimo tradicional
funcionamento de consórcios e finan- ou negociar um parcelamento direto
ciamento de cirurgias plásticas, por
o aval do médico é que no consultório.
empresas comerciais que utilizam um o consumidor deve Porém, antes de fazer qualquer
marketing agressivo, abordando as acerto, é necessário escolher uma clíni-
pessoas em ‘shoppings centers’, com procurar uma forma de ca apropriada e fazer todos os exames
avaliação médica posterior à adesão de rotina. Apenas de posse desses pro-
pagamento que seja
ao contrato”, explica Roberto Luiz cedimentos e com o aval do médico é
d’Ávila, 1º vice-presidente do CFM, adequada ao seu perfil que o consumidor deve procurar uma
em comunicado. forma de pagamento que seja ade-
“Daí a necessidade de uma nor- quada ao seu perfil. As dicas daí por
ma que reforce os preceitos éticos diante, são as similares de qualquer
na conduta médica, em benefício Ocorre que, na avaliação médica, tipo de solicitação de crédito: avalie a
da sociedade, frente a essa avassala- ficou constatado que sua condição necessidade, compare preços e taxas,
dora vulgarização mercadológica do física poderia trazer risco – o que a leia atentamente o contrato e faça um
trabalho médico”, conclui. Desde o impedia, naquele momento, de fazer planejamento financeiro.
dia 14 de março, data da publicação a intervenção cirúrgica. Ou seja, a con-
no Diário Oficial, a nova sistemática sumidora tinha crédito na praça, mas
está em vigor. não estava apta às intervenções que o
serviço demandava.
Vulgarização “Notamos nos relatos dos
A SBCP também vê com preocupa- consumidores que se começa
ção concursos que oferecem “cirurgia pelo fim. A avaliação médica
plástica” como prêmio. Segundo Os- é feita somente após a ade-
valdo Saldanha, presidente da institui- são ao contrato de financia-
ção, essas promoções são antiéticas e mento. Esse procedimento é
desrespeitosas, já que a relação mé- prejudicial ao consumidor e
dico-paciente é de suma importância pode induzir a contratação
para a concretização de uma cirurgia de procedimento cirúrgico
plástica. desnecessário ou, o que é
Outro caso ilustra bem a preo- ainda pior, a contratação por
cupação das entidades. Uma con- consumidores que não
sumidora relatou ao Procon-SP que estão aptos a realizar
firmou contrato para realização de cirurgia comprome-
diversos procedimentos, entre eles tendo sua saúde e
o cirúrgico, mapeamento corporal, segurança”, ex-
orientação nutricional e 10 sessões plica Renata Mo-
de drenagem. O pagamento foi par- lina, supervisora
celado em 12 parcelas com cheques da área de saúde
pré-datados. do Procon-SP. Itamara Santos foi uma das vítimas de financeiras

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 35


Projeto de lei

H
omens e mulheres semi- das 21 às 6 horas”, determina o
nus desfilam pela tela, 1º artigo da proposta.
fazem poses e gestos com Na justificativa, um argumen-
claras alusões sexuais. Muita diver- to nobre: a proteção do consumi-
são: sol, calor e festa; baladas exclu- dor. “O objetivo do presente Pro-
sivas e modelos que esbanjam elegân- jeto de Lei é proibir a publicidade de
cia e ousadia. Com bebidas alcoólicas, bebidas alcoólicas, com o intuito de
todos esquecem os problemas e são proteger o consumidor da publicidade
felizes. Os riscos são bem pequenos capaz de induzi-lo a se comportar de
– em geral uma miúda frase, no fim forma prejudicial, ou perigosa à sua

Proibição
Por Felipe Neves
exagerada
do filme: “Beba com moderação.” saúde ou segurança”, diz. “Conside-
Essa é, pelo menos, a mensagem que rando que o uso indiscriminado de
as campanhas publicitárias passam respeito à forma como é apresentado e bebida alcoólica causa sérios riscos à
para tentar convencer o consumidor a oferecido à população. saúde e à segurança, qualquer divul-
comprar os produtos. Esse foi o raciocínio do deputado gação desses produtos, de caráter pu-
Por trás de todo esse glamour, en- Antonio Salim Curiati (PP), ao apresen- blicitário, é abusiva.”
tretanto, está um item que pode trazer tar à Assembléia Legislativa de São Pau- O deputado afirma ainda que
inúmeros prejuízos à saúde do consu- lo (Alesp) o Projeto de Lei 175/2007, a limitação da propaganda de be-
midor – tanto por trazer doenças (o fí- que tem por objetivo proibir a veicula- bidas alcoólicas segue a tendência
gado que o diga) como pelo potencial ção de propaganda de qualquer bebida internacional, uma vez que, segun-
de causar acidentes. A bebida alcoólica, alcoólica no período entre 21h e 6h. “É do ele, países de primeiro mundo já
portanto, é um elemento que exige das vedado em todo o território do Estado demonstraram grande preocupação
autoridades, em todas as instâncias, de São Paulo, a publicidade de bebidas com o assunto. “Há de se ressaltar
atenção especial, sobretudo no que diz alcoólicas, no rádio e na TV, no horário que, em vários países da Europa e

36 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Projeto de lei

Considerando que o
uso indiscriminado de
bebida alcoólica causa
da América do Norte, a propaganda sérios riscos à saúde e – já está previsto e garantido pelas
de bebidas alcoólicas vem sofrendo normas do Código de Defesa do
à segurança, qualquer
fortes restrições, a fim de impedir o Consumidor (Lei Federal 8.078/90).
grande número das doenças decor- divulgação desses O diploma consumerista proíbe toda
rentes do uso prolongado desses produtos, de caráter publicidade abusiva, considerada,
produtos, assim como evitar a pre- entre outras, “a que seja capaz de
publicitário, é abusiva
judicial influência na formação de induzir o consumidor a se comportar
jovens e crianças”, salienta. de forma prejudicial ou perigosa à
sua saúde ou segurança”.
Porém... Nesse sentido, o Código define o
Apesar de reconhecer a impor- Mais sobreposição Procon (tanto estadual quanto muni-
tância e de partilhar a preocupação O Procon-SP defende ainda que o cipal) como o órgão público respon-
do deputado, a Fundação Procon-SP objetivo maior do PL – a saber, pro- sável pela fiscalização da propaganda
se posiciona contrária à proposição. abusiva e enganosa, com o intuito de
Em primeiro lugar, porque já existe garantir a segurança do consumidor.
legislação federal regulando o tema. O que torna desnecessária a criação
Trata-se da Lei 9.294/96, que res- de novos marcos legais para sancio-
tringe a veiculação de publicidade nar as empresas que infringem a re-
de bebidas alcoólicas justamente ao gra, como sugere o 2º artigo do PL
período entre 21h e 6h. Mesmo que (“as infrações do disposto nesta Lei
se sustente a competência legislativa serão desde multa até o fechamento
concorrente dos Estados, com fun- da empresa infratora, de acordo com
damento no artigo 24 da Constitui- regulamentação a ser estabelecida
ção Federal, a lei estadual não pode pelo Poder Executivo”).
se sobrepor. “Esta Fundação Procon-SP, por-
“Assim, se a lei federal permite tanto, já reúne o poder de polícia
a veiculação de bebida alcoólica das administrativa para sancionar as
21h às 6h, e só nesse horário, a lei empresas que veicularem publicida-
estadual não poderá proibir a pu- Gregor Buir de enganosa ou abusiva de bebidas
blicidade de bebida alcoólica neste alcoólicas, em todos os meios de
mesmo período, pois assim estaria comunicação, capazes de induzir o
estabelecendo uma vedação total teção efetiva do consumidor contra consumidor a se comportar de ma-
da veiculação, quando a União quis os riscos que a indução do consumo neira prejudicial à saúde”, conclui
apenas restringi-la”, argumenta de bebida alcoólica pode acarretar Marcucci.
Márcio Marcucci, técnico da dire-
toria de programas especiais do
Procon-SP, em parecer encaminha- O que diz o CDC
do à Alesp.
“Tendo em vista a existência de Art. 37 – É proibida toda publicidade en- da deficiência de julgamento e expe-
quadro normativo federal dispondo ganosa ou abusiva. riência da criança, desrespeite valores
sobre a matéria existente no proje- ambientais, ou que seja capaz de induzir
§ 2º – É abusiva, dentre outras a publi-
to de lei, entendemos desnecessária o consumidor a se comportar de forma
cidade discriminatória de qualquer na-
qualquer proposta de norma esta- prejudicial ou perigosa à sua saúde ou
tureza, a que incite à violência, explore
dual no mesmo sentido”, acrescen- segurança.
ta Marcucci. o medo ou a superstição, se aproveite

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 37


Pesquisa

sensação de que obteve todas as in-


formações necessárias para tomar a
decisão. Ora, como uma pessoa pode
se considerar a par das cobranças se
admite não entender como o cálculo
final é feito?
Para piorar, apenas 30,65% dizem
ter conseguido as supostas “informa-
ções completas” na maioria das em-
presas. Ou seja, quase 70% dizem ter
Por Redação
precisado procurá-las em outro lugar,
o que mostra que ainda são muitas
as instituições que não atendem ao
consumidor de forma adequada. Ou-
tro dado preocupante é que pouco
mais da metade dos consumidores
Susan Hummer/SXC/Montagem (54,11%) interessou-se em conhecer
(leia-se, apenas saber como funciona)
outras linhas de crédito imobiliário,

Perdendo de vista
Por Francisco Itacarambi
como o consórcio, cooperativas, etc.
A aplicação de questionário estru-
turado, via internet (site da Fundação
Procon-SP), revela ainda que os con-
sumidores reconhecem que o crédito
está mais abundante e que o alonga-

O
mercado imobiliário está A compra de um imóvel mento dos prazos permite que a par-
passando por uma verda- cela seja mais acessível. No entanto,
deira revolução. De um é um investimento há também a percepção de que esse
lado, a maior disponibilidade de cré- “perder de vista” traz alguma des-
de grande porte, vantagem. Quanto maior o prazo de
dito e a forte concorrência entre as
instituições financeiras resultaram na que compromete o financiamento, maior o preço final do
expansão dos financiamentos e numa imóvel (desembolso total).
avalanche de novos empreendimen- orçamento familiar Mesmo com esse cenário otimista,
tos, voltados principalmente para a a compra de um imóvel é um inves-
por um longo tempo
classe média. De outro lado, as faci- timento de grande porte, que com-
lidades de contratação anunciadas e a e que precisa, portanto, promete o orçamento familiar por um
redução do valor da parcela (por meio longo tempo e que precisa, portanto,
do alongamento do prazo) vêm sedu-
estar respaldada em estar respaldada em muita informação.
zindo cada vez mais os consumidores muita informação Duas novas medidas podem ajudar o
que almejam adquirir a casa própria. consumidor na decisão. A primeira é
Até aí, tudo bem. O problema a portabilidade do crédito imobiliário
aparece na falta de informação. Sem (que permite ao mutuário transferir fi-
ela, o consumidor pode ver seu sonho acende ao se constatar que a esmaga- nanciamento entre bancos). A outra é
virar um verdadeiro pesadelo. Levanta- dora maioria (78,35%) não sabe como a criação do cadastro único de imóveis
mento da Fundação Procon-SP revela são calculadas as prestações de um fi- (onde serão inscritos todos os ônus
que 66,67% dos consumidores acre- nanciamento. sobre as propriedades). Vale a pena
ditam encontrar informações comple- Esses dois dados juntos revelam acompanhar essas mudanças, que de-
tas quanto às taxas, tarifas e demais que o consumidor é induzido a sair vem ser implementadas nos próximos
encargos. Contudo, a luz vermelha se da instituição financeira com a falsa meses, de perto.

38 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Biblioteca

Acusação sem prova

Um dos mais belos conceitos do Códi- é clara: a inversão do ônus da prova não pode ser utilizada
go de Defesa do Consumidor está também apenas “como um instituto processual de facilitação para o
entre os mais polêmicos. Com o intuito de consumidor vencer a demanda” – o que contraria o princípio
equilibrar a balança processual, o legisla- de isonomia.
dor abriu a possibilidade da inversão do O livro, fruto da tese que rendeu ao autor o título de mes-
ônus da prova, que deve ser sempre de- tre em direito das relações sociais pela PUC-SP, parte do am-
terminada pelo juiz (art. 6º VIII). Apesar de plo ao específico. Ou seja, primeiro, define o que é relação de
estar explícito na lei, o assunto ainda gera muitos debates consumo e, a partir disso, aborda a cognição processual. Na
no meio jurídico. seqüência, estuda a teoria geral da prova e, é claro, o chamado
Como e quando aplicar? Quais são os critérios? Garante, de ônus da prova. Finalmente, a obra analisa a questão da inver-
fato, mais equilíbrio? Na visão do promotor de justiça do Minis- são, em face das especificidades do CDC.
tério Público do Estado de Goiás Érico de Pina Cabral, autor do Orientador de mestrado, o renomado jurista Nelson Nery
livro “Inversão do ônus da prova no processo civil do consumi- Junior chancela a obra, resultado, segundo ele, de “anos de
dor”, essas e outras dúvidas persistem graças aos “contornos pesquisa séria e vertical”.
imprecisos” do conceito. “Ainda hoje não se conseguiu sedi- “Escrito em linguagem es- Título: “Inversão do ônus
mentar uma teoria que seja uniforme, clara e objetiva”, diz. correita e direta, sua leitura da prova no processo civil do
A obra surge para tentar suprir tal lacuna, discutindo os é agradável e comunicativa, consumidor”
problemas relacionados à aplicação da ferramenta jurídica. “O de sorte a levar ao leitor o Autor: Érico de Pina Cabral
tema é bastante controvertido na doutrina e na jurisprudên- pensamento e as inquie- Editora: Método
cia, pois não são poucas as dúvidas que rodeiam a sua utili- tações do autor sobre o Preço: R$ 68,00
zação prática”, salienta. Para Cabral, uma coisa, pelo menos, tema”, afirma.

Polícia do consumidor Direito de escolha

Embora seja uma lei federal, o Código O Código de Defesa do Consumidor


de Defesa do Consumidor estabelece como obriga fornecedores a oferecer informa-
atribuição dos Estados a criação de órgãos ções claras e precisas sobre produtos e ser-
de proteção às relações de consumo, como viços. A intenção da lei é, de um lado, im-
a Fundação Procon-SP. Com base em sua pedir que o cidadão seja ludibriado sobre
experiência na área, a atual diretora de As- o produto ou serviço que está adquirindo
suntos Especiais do Procon-BA e diretora e, do outro, garantir um outro direito bá-
da região Nordeste do Instituto Brasilcon, sico, o de escolha.
Lúcia Rêgo, escreveu o livro “A tutela administrativa do con- Escolha no mercado quer dizer concorrência. A luta con-
sumidor – Regulamentação estadual”. tra o monopólio também é, portanto, uma forma de proteção
Na obra, ela defende a tese de que a atuação dos Procons, do consumidor. É o que defende Heloísa Carpena, no livro “O
no que tange à obrigação de sancionar fornecedores que des- consumidor no direito da concorrência”. “É precisamente nes-
respeitam o CDC, deve ser definida por “regulamentação es- se ponto que as duas disciplinas – proteção do consumidor
tadual”. “Há uma necessidade premente em dar tratamento e da concorrência – se encontram, indicando a necessidade
sistematizado à matéria, por meio de uma regulamentação de um tratamento sistemático e harmônico, dada sua natural
estadual, estabelecendo-se, nela, normas de aplicação das interdependência”, diz.
sanções administrativas, previstas na Lei 8.078/90”, define. A Editora Renovar oferece desconto aos leitores da RE-
O livro chega com im- VISTA PROCON-SP. Mais
portantes referências consu- Título: “A tutela informações no e-mail fer- Título: “O consumidor no

meristas. Ada Pellegrini Gri- administrativa do consumidor n a n d o @ e d i t o r a re n o v a r. direito da concorrência”


nover classifica de “trabalho – Regulamentação estadual” com.br ou pelo telefone Autor: Heloísa Carpena

original e inédito”, enquanto Autor: Lúcia Rêgo 0800-221863. Editora: Renovar


Cláudia Lima Marques “viva- Editora: Revista dos Tribunais Preço: R$ 35,40 (preço
mente” recomenda a leitura. Preço: R$ 26,80 original)

março e abril 2008 | Revista Procon-SP 39


Direto ao ponto

E Debate técnico
m busca da sempre almejada
harmonia do mercado, a Fun-
dação Procon-SP promove Câ-
maras Técnicas de Relações de Consu- Por Ricardo Lima Camilo
mo (CTRC). Trata-se de um ambiente
de debate, que reúne órgãos públicos,
representantes de fornecedores, da so- Ricardo Lima Camilo o processo foi inverso, pois era
ciedade civil, do Ministério Público do um tema novo”, explica Andrea.
Estado de São Paulo e instituições de A CTD trabalha principalmente
defesa ao consumidor. na educação para o consumo,
“Uma característica deste trabalho com o intuito de eliminar algu-
é o diálogo com os fornecedores, que mas práticas abusivas, como não
visa à construção de uma solução que informar corretamente o preço
possa reequilibrar o mercado”, destaca de ingressos, o público e a renda
Andrea Sanchez, diretora de progra- durante as partidas, ou restringir
mas especiais do Procon–SP. “Debater venda de meia-entrada.
os problemas no âmbito coletivo é uma Além disso, a CTD apoiou
forma de prevenir que o consumidor iniciativas como venda de ante-
seja vítima de práticas abusivas.” cipada de ingressos, fechamento
Um exemplo desse trabalho é a das bilheterias 4 horas antes do
CTE – Câmara Técnica de Eletros, que Reunião preparatória para o jogo Corinthians X Palmeiras
início das partidas de alto risco e a
foi criada em 1998 e busca solucionar volta do Juizado Especial Criminal
conflitos relativos a produtos eletroele- a fornecedores nos termos do Código (Jecrim) aos estádios em dias de “clás-
trônicos. Entre os trabalhos desenvol- de Defesa do Consumidor. Para enten- sicos”. “Fica claro que o Procon-SP não
vidos, estão folders de orientação so- der essa nova estrutura, foi instalada, está apenas interessado em aplicar pu-
bre como utilizar e conservar o fogão, em fevereiro de 2006, a CTD – Câma- nições, e sim em ser um canal de apoio
dando ênfase ao novo dispositivo de ra Técnica do Desporto. e orientação ao público e aos clubes.
segurança no acendimento do forno, “A idéia de se criar uma Câmara Entendo que estamos todos trabalhan-
e o incentivo à criação, pelos forne- Técnica normalmente se dá pelo núme- do com o mesmo objetivo”, afirma o
cedores, de mecanismos eficientes de ro elevado de reclamações de um de- supervisor de arrecadação do Corin-
controle de qualidade e segurança de terminado setor. No caso do desporto, thians, Lúcio Blanco.
produtos e serviços.
Outro tema em pauta é a qualida-
de dos aparelhos de celular – foco de Quem participa das Câmaras
muitos conflitos com consumidores. CTE – Guarda Civil Metropolitana (GCM)
“As empresas desse setor, há algum
– Procon-SP – Companhia de Engenharia de Tráfe-
tempo, figuram no ranking de recla-
– Associação Nacional de Fabricantes de go (CET)
mações do Procon-SP. Em 2007, por
Produtos Eletroeletrônicos – Procons municipais
exemplo, das 20 primeiras colocadas,
– Ministério Público de São Paulo – Federação Paulista de Futebol
cinco são fabricantes de aparelhos de
celular”, destaca. – Instituto de Defesa do Consumidor – Companhia Paulista de Trens Metro-
(Idec) politanos (CPTM)
Esporte – Pro Teste – Companhia do Metropolitano de São
O Procon-SP também está atento – Instituto Brasileiro de Política e Direito Paulo (Metrô)
às legislações específicas. O Estatuto do Consumidor (Brasilcon) – Coordenadoria de Vigilância em Saúde
do Torcedor, por exemplo, é um marco – Procons municipais – São Paulo Transporte (SPTrans)
legal criado para proteger o consumi- CTD – Pro Teste
dor de eventos esportivos. Em seu ar- – Procon-SP – Associação de Segurança e Cidadania
tigo 3º, equipara as entidades de prá-
– Polícias Militar, Civil e Técnico-Científica – Conselho Comunitário de Segurança
ticas desportivas (clubes e federações)

40 Revista Procon-SP | março e abril 2008


Revista Procon-SP

Sumário
1 - EDITORIAL 28 - COMPORTAMENTO
Oniomania, evite fazer o primeiro débito
2 - DIRETO AO CONSUMIDOR
31 - JUSTIÇA
4 - ENTREVISTA STJ condena empresa no caso da pílula de farinha
7 – DIA-A-DIA 32 - LADO A LADO
Consumidor sofre com demora na assistência técnica
Ipem-SP avalia o material escolar do ensino público
8 – EVENTOS
34 - SAÚDE
Festa, palestras e orientações na semana do consumidor Conselho de medicina veta financiamento de plásticas
10 - PALESTRA 36 – PROJETO DE LEI
Especialistas debatem a prática do recall Lei pretende restringir horário de propaganda de bebidas
13 – MEIO AMBIENTE 38 – PESQUISA
Selo sustentável chega ao produto final A percepção do consumidor sobre o SFH
14 - PROCON MUNICIPAL 39 – BIBLIOTECA
O jovem Procon de Poá atinge a maturidade
40 – DIRETO AO PONTO
16 - CAPA
Aumento de preços disfarçado e a maquiagem de produtos

24 – COLEGUINHAS
ONG foca no reaproveitamento do óleo de cozinha

26 – SEU BOLSO
Mudanças nas tarifas bancárias favorecem o consumidor

CURSOS E PALESTRAS DA
FUNDAÇÃO PROCON-SP
Governo do Estado de São Paulo
Governador Diretor-executivo
›› Direitos básicos do consumidor
José Serra Roberto Augusto Pfeiffer
Chefe de gabinete
›› Orçamento doméstico
Secretaria da Justiça Carlos Augusto Coscarelli
e da Defesa da Cidadania ›› Direitos do consumidor na terceira idade
Editor-chefe
Secretário Francisco Itacarambi - Mtb. 41.327/SP
Luiz Antonio Marrey ›› Direitos e deveres do consumidor bancário
Redação
Felipe Neves e Ricardo Lima Camilo
Fundação de Proteção e Defesa ›› Saindo do vermelho
do Consumidor (Procon-SP) Colaboraram nesta edição
Conselho curador
Leonardo Tote, Joyce Camargo, Maria Clara Caram e
Patrícia Paz
›› Curso básico do Código de Defesa do Consumidor para fornecedores
Ângela Simonetti, Antonio Júlio Junqueira Queiroz,
Antonio Sabóia Barros Jr., Cornélia Nogueira Porto, Editoração e impressão ›› Defesa do consumidor para rede de ensino
Fernando Batolla, José Luiz Souza de Moraes, Marco Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Alexandre Davanzo, Marcos Pó, Margaret Cruz, Marilena
Março e abril de 2008
›› Defesa do consumidor na formação de profissionais
Lazzarini, Omar Cassim Neto, Rachelle Amália Agostini
Balbinot, Roberto Grassi Neto, Ronaldo Porto Macedo,
Rosana Piccoli dos Santos, Vahan Agopyan e Virgílio
imprensaprocon@procon.sp.gov.br ›› Curso educação para o consumo – capacitação para professores
Bernardes Carbonieri. Distribuição gratuita

Informações no site: www.procon.sp.gov.br


Revista Procon
A revista da Fundação Procon-SP • no 9

Oniomania
O distúrbio que atinge o
consumidor compulsivo

Maquiagem
de produtos
Alguns fornecedores utilizam
Atendimento, consultas mecanismos para aumentar
o preço e iludir os consumidores.
e reclamações Quase 90 multas foram aplicadas
nos últimos seis anos
Postos Poupatempo Outros Atendimentos
2ª a 6ª, das 7h às 19h - Sábados, das 7h às 13h Cartas: Caixa Postal 3050
Itaquera: Av. do Contorno, 60 - Metrô Itaquera CEP: 01061-970 - São Paulo/SP
Santo Amaro: Rua Amador Bueno, 176/258 Fax: (11) 3824-0717 - 2ª a 6ª, das 10h às 16h
Sé: Rua do Carmo, sn Cadastro de Reclamações Fundamentadas: (11) 3824-0446
2ª a 6ª, das 8h às 17h
Ouvidoria do Procon-SP Telefone: 151 - 2ª a 6ª, das 8h às 17h
R. Barra Funda, 930, 4º andar - sala 412 - Barra Funda www.procon.sp.gov.br
CEP: 01152-000 - São Paulo/SP
Telefone/Fax: (11) 3826-1457 Outros Municípios
e-mail: ouvidoria@procon.sp.gov.br Consulte a prefeitura de sua cidade ou o site do Procon-SP

Entrevista Cirurgia Plástica Tarifas bancárias


Sociedade define o cidadão Conselho de medicina acata Nova norma facilita a vida de
pelo consumo, critica socióloga pedido do Procon contra financeiras quem tem conta corrente e poupança
Revista Procon-SP

Sumário
1 - EDITORIAL 28 - COMPORTAMENTO
Oniomania, evite fazer o primeiro débito
2 - DIRETO AO CONSUMIDOR
31 - JUSTIÇA
4 - ENTREVISTA STJ condena empresa no caso da pílula de farinha
7 – DIA-A-DIA 32 - LADO A LADO
Consumidor sofre com demora na assistência técnica
Ipem-SP avalia o material escolar do ensino público
8 – EVENTOS
34 - SAÚDE
Festa, palestras e orientações na semana do consumidor Conselho de medicina veta financiamento de plásticas
10 - PALESTRA 36 – PROJETO DE LEI
Especialistas debatem a prática do recall Lei pretende restringir horário de propaganda de bebidas
13 – MEIO AMBIENTE 38 – PESQUISA
Selo sustentável chega ao produto final A percepção do consumidor sobre o SFH
14 - PROCON MUNICIPAL 39 – BIBLIOTECA
O jovem Procon de Poá atinge a maturidade
40 – DIRETO AO PONTO
16 - CAPA
Aumento de preços disfarçado e a maquiagem de produtos

24 – COLEGUINHAS
ONG foca no reaproveitamento do óleo de cozinha

26 – SEU BOLSO
Mudanças nas tarifas bancárias favorecem o consumidor

CURSOS E PALESTRAS DA
FUNDAÇÃO PROCON-SP
Governo do Estado de São Paulo
Governador Diretor-executivo
›› Direitos básicos do consumidor
José Serra Roberto Augusto Pfeiffer
Chefe de gabinete
›› Orçamento doméstico
Secretaria da Justiça Carlos Augusto Coscarelli
e da Defesa da Cidadania ›› Direitos do consumidor na terceira idade
Editor-chefe
Secretário Francisco Itacarambi - Mtb. 41.327/SP
Luiz Antonio Marrey ›› Direitos e deveres do consumidor bancário
Redação
Felipe Neves e Ricardo Lima Camilo
Fundação de Proteção e Defesa ›› Saindo do vermelho
do Consumidor (Procon-SP) Colaboraram nesta edição
Conselho curador
Leonardo Tote, Joyce Camargo, Maria Clara Caram e
Patrícia Paz
›› Curso básico do Código de Defesa do Consumidor para fornecedores
Ângela Simonetti, Antonio Júlio Junqueira Queiroz,
Antonio Sabóia Barros Jr., Cornélia Nogueira Porto, Editoração e impressão ›› Defesa do consumidor para rede de ensino
Fernando Batolla, José Luiz Souza de Moraes, Marco Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Alexandre Davanzo, Marcos Pó, Margaret Cruz, Marilena
Março e abril de 2008
›› Defesa do consumidor na formação de profissionais
Lazzarini, Omar Cassim Neto, Rachelle Amália Agostini
Balbinot, Roberto Grassi Neto, Ronaldo Porto Macedo,
Rosana Piccoli dos Santos, Vahan Agopyan e Virgílio
imprensaprocon@procon.sp.gov.br ›› Curso educação para o consumo – capacitação para professores
Bernardes Carbonieri. Distribuição gratuita

Informações no site: www.procon.sp.gov.br

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