Você está na página 1de 15

AMAZÔNIA*

Gestão do Território
Alcyr Boris de Souza Meira..

Vivemos no presente momento um clima Reconhecemos que esse estado de aler-


emocional intenso, quase frenético, em tor- ta foi e tem sido benéfico e útil, pois dele de-
no da questão ecológica, quando todas as correu uma mobilização das forças políticas,
nações do mundo voltam seu interesse maior econômicas e sociais internacionais, crian-
para a problemática ambiental. Como num do uma consciência mundial para a necessi-
passe de mágica, a humanidade passa a ad- dade de conseryação e preservação do
quirir uma consciência ecológica, despertan- meio ambiente. E preciso, porém, que se
do para a necessidade de conservação e mantenha a indispensável cautela, dosando
preservação do ecossistema, assumindo fi- corretamente a ação de defesa da natureza,
nalmente uma postura responsável, coeren- evitando-se atitudes emocionais e apaixona-
te e acima de tudo racional, no sentido de das, que quase sempre levam a um exage-
utilizar com mais cuidado os recursos natu- ro irrecuperável.
rais renováveis. Passado o primeiro impacto dessa campa-
É necessário e prudente, entretanto, que nha desbravadora e pioneira, devemos reava-
se evitem os exageros e extremismos, não liar os conceitos, através de uma análise
permitindo a geração e adoção de informa- · mais serena, mais cautelosa, que permita a
ções deturpadas, algumas vezes perniciosas, interpretação do problema em bases racio-
que, em vez de instruir e conduzir à raciona- nais e sem traumatismos.
lidade desejável, provocarão, ao contrário, No Brasil, país em desenvolvimento, o pro-
repercussões prejudiciais e desastrosas ao blema ecológico adquire uma conotação es-
futuro da humanidade. pecífica, dada a sua real necessidade de cres-

•Recebido pa-a publicação em 29 de novembro de 1991.

••Arquiteto, Engenheiro Civil, Urbmista, Professor Universitkio, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará e 9Jperintendente da SUDAM

R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, 53(3): 133-147, jul./set. 1991.


134 RBG

cimento imediato e acelerado, que lhe permi- fprtes matizes de depredador irresponsável.
ta em curto espaço de tempo o desejado in- E chegada a hora de se revelar a verdade,
gresso no fechado grupo das nações do Pri- de se refutarem essas notícias capciosas
meiro Mundo. Dentro da problemática nacio- destinadas a confundir a opinião pública e
nal, desponta a Amazônia como peça funda- provocar repercussões desabonadoras e pre-
mental de uma engrenagem maior que é a judiciais à Amazônia e ao Brasil.
nação brasileira, representando, fora de qual- A correta gestão do território amazônico
quer dúvida, o suporte maior para a consecu- deve relocar essas questões e a conseqüen-
ção do desenvolvimento nacional. te contestação dos equívocos delas decor-
A gestão do território amazônico deve ter rentes.
como ponto de apoio um plano de desenvol- Na realidade, criaram-se verdadeiros mi-
vimento integrado, estribado no binômio de- tos amazônicos, surgidos no bojo desse pro-
senvolvimento/meio ambiente, de modo que cesso, alguns consolidados como verdades
se definam os instrumentos que permitam insofismáveis, passando inclusive à categoria
uma perfeita coexistência entre tecnologia e de citação obrigatória em pronunciamentos
ecologia, decalcado no entendimento de que sobre a região.
a Amazônia brasileira constitui patrimônio ina- Dentre outros podemos citar o mito da
lienável da nação, incólume e soberanamen- homogeneidade amazônica como um dos
te preservado. mais utilizados nas discussões sobre os pro-
Não podemos admitir que se pretenda blemas regionais, envolvendo teorias extre-
promover a defesa da Região Amazônica pe- mamente contraditórias.
la exclusiva preservação de seu patrimônio A Amazônia apresenta, numa análise pri-
ecológico, utilizando-se retóricas ambientalis- mária de suas potencialidades, duas rique-
tas que induzam a uma absoluta recupera- zas incontestes: sua cobertura vegetal, repre-
ção e restauração dos valores naturais. Es- sentada pela grande potencialidade da flores-
ses são caminhos que não conduzem a lu- ta tropical, e sua rede hidrográfica, formada
gar nenhum. pelas bacias dos rios Amazonas e Araguaia-
É preciso que se crie, para o caso amazô- Tocantins. Esses dois fatores representam,
indubitavelmente, o ponto de apoio para o
nico, uma consciência ecológica própria, es-
alavancamento do desenvolvimento regional
pecífica, adotando-se medidas claras, preci-
e a consolidação do progresso nacional.
sas e concretas, que possibilitem o esboço,
Esses dois componentes do patrimônio
delineamento e consolidação de um mode-
natural da região vêm sendo considerados
lo de comportamento tipicamente regional.
como elementos homogêneos, criando-se
Para a Amazônia a necessidade imediata e
um conceito de Bacia Amazônica sem hete-
premente é desenvolver o seu território, atra- rogeneidades, com uma morfologia unifor-
vés de um modelo voltado às suas necessi- me, sem uma multiplicidade de facetas geo-
dades intrínsecas, que atenda aos interesses gráficas, geológicas, de biodiversidade e de
do homem amazônico. Esse processo de ecossistemas. A realidade é outra. A Amazô-
desenvolvimento será evidentemente alicerça- nia é uma região heterogênea, não somen-
do em conceitos e parâmetros que permitam te nos seus aspectos físicos, mas também
harmonizá-lo com o meio ambiente, promo- em suas características políticas, sociais e
vendo a necessária e indispensável compati- econômicas.
bilização da economia com a ecologia, funda- Passemos à análise da cobertura vegetal
mento básico do desenvolvimento sustentado. da região, que vem sendo equivocadamen-
O clima emocional que envolve as campa- te considerada como Floresta Amazônica
nhas ambientalistas internacionais, já citado em toda a sua extensão regional, o que na
neste documento, ocorre intensamente tam- verdade constitui um conceito falho, o que
bém em Território Nacional, o que vem geran- pode ser facilmente comprovado pelo mais
do freqüentemente informações equivocadas, recente levantamento do IBGE que acusa
dados deturpados e, quase sempre, contra- uma formação florestal correspondente a 64%
ditórios, que vêm contribuindo para que se do território da Amazônia Legal. A cobertu-
crie dentro e fora do País uma imagem nega- ra vegetal dos 36% restantes diz respeito à
tiva e totalmente distorcida da realidade ama- vegetação não florestal, predominantemente
zônica. Nessa ação mesquinha e nefasta, florística, com ocorrência significativa de sa-
que delineia para a Amazônia um perfil de vanas e campos naturais. Verifica-se, portan-
região degradada pelos seus próprios habi- to, ser equivocada a denominação de Flores-
tantes, pinta-se o homem amazônico com ta Amazônica para toda a cobertura vegetal
RBG 135

existente na região, equívoco esse já trans- regiões de clima quente e de elevado grau
formado em mito. de umidade, onde ocorrem grandes precipita-
Considerando-se, todavia, a área de flores- ções pluviométricas, como acontece na Ama-
ta, devidamente distribuída em superfície cor- zônia
respondente a 64% da Amazônia Legal, veri- A Floresta de Várzea domina as áreas pas-
fica-se também a inexistência de uma forma- síveis de inundações periódicas, nas épocas
ção homogênea, pois na verdade a Flores- de enchentes, nos trechos de planície, mar-
ta Amazônica é heterogênea, constituindo ginais aos rios e igarapés. Em determinados
um sistema formado por vários subsistemas, setores, permanentemente inundados, essa
como demonstraremos a seguir. cobertura vegetal passa a ser denominada
A Floresta Amazônica propriamente dita - de igapó, ocorrendo uma ligeira redução no
Floresta Tropical Chuvosa -, cientificamente porte das árvores, que apresentam também
denominada de Hiléia, concentra-se longitu- troncos mais delgados.
dinalmente no setor axial da Bacia Amazôni- f.s Florestas de Terra Firme, correspon-
ca, ao longo do Equador, apresentando dentes à formação florestal dominante da
duas configurações distintas: a Floresta de Hiléia, elevam-se acima da planície de inun-
Várzea e a Floresta de Terra Firme. dação, nas chamadas terras altas; em cotas
Essas formações florestais úmidas, pre- superiores ao nível das enchentes, que em
ponderantes na paisagem física regional, cons- momento algum chegam a atingi-las.
tituem a formação vegetal pujante e significa- Os trechos periféricos, próximos às bor-
tiva,ainda que complexa, representativa das das da Floresta de Terra Firme, apresentam

FORMAÇÓES FLORESTAIS

1~1 1 1 1~1 1 1 1 1 1 1 1 1 I I

-
FLORESTA DE VÁRZEA E IGAPÓ FLORESTA DE TERRA FIRME

FLORESTA SEMI-ÚMIDA CERRADO

I••••••• ,
• • • • PROJETOS AGROPECUARIOS
FONTE-SUDAM
136 RBG

alterações de características morfológicas, O mito da homogeneidade hidrográfica é


como conseqüência das alterações climáti- também inconsistente, pois na verdade exis-
cas, passando a formar, nas fímbrias da Hi- te uma significativa variedade hídrica na Re-
léia, a denominada Floresta Semi-úmida, tam- gião Amazônica, fruto de uma série de fato-
bém conhecida como Floresta Estacionai. res, desde a heterogeneidade geológica que
Nessas áreas já ocorre uma sensível mo- apresenta um reflexo direto na conformação
dificação de microclima, definido por estação e constituição das bacias hidrográficas da
seca que se prolonga quase que invariavel- região.
mente por mais de cinco meses no ano. Es- Os rios da Bacia Amazônica são perenes,
sa floresta é também denominada, aliás com mantendo-se permanentemente caudalosos,
justa propriedade, de Floresta de Transição, atribuindo-se essa característica em parte
já que estabelece a passagem da Floresta ao recolhimento de uma porção considerá-
Amazônica para outras formações vegetais. vel da precipitação pluvial do globo. A Bacia
Desenvolvendo-se nos limites norte e sul Amazônica abriga um quinto do volume de
da Floresta de Terra Firme, ao longo de água doce do mundo, sendo o seu rio prin-
suas fraldas, essa floresta de transição esten- cipal, o Amazonas, detentor da maior vazão
de-se ao norte até os limites em que a planí- já medida, carreando cerca de 20% do volu-
cie cede lugar às elevações que constituem me total de água que todos os rios do mun-
o Maciço Guiana, lançando-se ao sul, em fai- do lançam nos oceanos.
xa mais larga e mais extensa, até onde ocor- A Bacia Amazônica adquire uma importân-
re a transição para a zona do cerrado, carac- cia continental pelo fato de drenar cerca de
terística do Planalto Central. um quarto da superfície da América do Sul,
Nessa faixa, em direção ao leste meridio- atingindo seis dos onze países que consti-
nal, a Floresta Tropical Semi-úmida começa tuem o continente.
a ceder lugar aos palmeirais, com especial O rio Amazonas é um rio de planície, for-
destaque dos babaçuais do Maranhão e do mando com seus afluentes e subafluentes a
Tocantins. Nesse trecho a floresta passa a maior rede hidrográfica do mundo, com uma
receber nova denominação, típica daquela velocidade média de 2,5 km/hora, chegan-
região: Floresta Aberta, caracterizada por ve- do a atingir nos períodos de enchentes uma
getação de reduzido potencial madeireiro velocidade superior a 6 km/hora
por hectare, apresentando uma constituição O regime dos rios amazônicos está direta-
heterogênea, formada por árvores de peque- mente ligado ao regime de chuvas de suas
no porte e bastante espaçadas, entremea- respectivas bacias, dependendo estes do
das por palmeiras, cipós, bambus e peque- comportamento dos fenômenos atmosféricos
nos arbustos. inerentes à zona intertropical sul-americana,
que por sua vez decorrem do maior ou me-
A partir dessa vegetação de transição,
nor deslocamento das massas de ar nesta
em direção à periferia sul da Amazônia Le- zona climática.
gal, começam as primeiras manifestações Esse fenômeno garante a alimentação per-
de vegetação de cerrado, inicialmente perme- manente do rio Amazonas, fazendo com que
adas com a Floresta de Transição, até atin- não venha a ocorrer uma amplitude demasia-
gir sua plenitude nas Savanas que se esten- damente acentuada na oscilação do nível
dem pelos Estados de Mato Grosso e Tocan- de suas águas. A alternância de períodos
tins, atingindo ainda parcialmente o Estado chuvosos decorrente do fato de a Bacia Ama-
do Maranhão, sul do Estado do Pará e de zônica estar localizada nos dois hemisférios
Rondônia é conseqüência do deslocamento anual da
Merecem ainda destaque as áreas de cam- massa equatorial continental de um hemisfé-
pos naturais que, apesar de representarem rio para outro.
um reduzido potencial da cobertura vegetal O descompasso existente entre o regime
da região, interrompem de vez em quando de cheia dos afluentes meridionais com os
a contínua e monótona amplitude da Floresta da margem setentrional provoca uma com-
Amazônica pensação denominada de interferência, que
Verifica-se, pelo exposto, que a heteroge- permite ao Amazonas uma única enchente,
neidade da massa verde amazônica é indis- embora alimentado por dois regimes pluviais
cutível, constituindo, portanto, um fator im- desencontrados.
portante a ser considerado na problemática Merece ainda destaque o fenômeno do
regional. repiquete, resultante de uma pequena e rápi-
RBG 137

da elevação de nível no curso inferior do rio, dores Juruena e Teles Pires), o rio Verde, o
exatamente no período em que a vazante é Xingue seu afluente lriri.
mais acentuada.
Na diversificação do regime dos rios que
constituem as bacias meridionais e setentrio-
nal da rede hidrográfica amazônica, encontra- RIOS DE ÁGUAS PRETAS
se a explicação e justificativa para um dos
fundamentos de sua heterogeneidade. Ou-
tros fatores, entretanto, serão ainda examina- A denominação é plenamente JUStificada
dos, e que invalidarão as teses da pretendi- pela coloração de suas águas, de um escu-
da homogeneidade hídrica da região. ro intenso, variando do marrom-opaco até
o negro, quando vistas em grandes massas.
As caracterí'sticas físicas e químicas das
São, entretanto, transparentes e cristalinas,
águas que constituem essas bacias apresen-
quando vistas em pequenos volumes, em lu-
tam também sensíveis variações, o que nos
gares rasos com fundo de areia branca, apre-
permite classificar nossos rios de acordo com
sentando um tom de infusão de chá, o que
a coloração de suas águas em claros, pretos
e brancos. Na realidade, deve-se creditar es- é plenamente justificável pela ausência de
sedimentos em sua composição.
sa heterogeneidade hídrica não somente à
A tonalidade escura e opaca é resultante
composição físico-química variada, mas tam-
de substâncias húmicas coloidais dissolvidas,
bém às alterações geomorfológicas decorren-
provenientes de matéria orgânica em decom-
tes da grande extensão territorial regional,
posição lançada pela vegetação concentra-
dos seus múltiplos e constantes acidentes
da nas margens inundadas de suas nascen-
geográficos e seu diversificado regime de
tes. Contribuem ainda para essa coloração
marés.
a formação dos solos podzólicos e arenosos
de suas cabeceiras, o que lhes assegura
uma composição química, com PH reduzi-
do, acidez acentuada, com baixo teor de
RIOS DE ÁGUAS CLARAS sais minerais, acusando ainda uma percenta-
gem de sódio e potássio superior à percenta-
Os rios de águas claras são transparentes, gem de cálcio e magnésio. O exemplo mais
com coloração azulada ou esverdeada, com significativo é o rio Negro.
índice reduzido de materiais em suspensão.
Ao se processar a análise química de suas
águas, esses rios mostram-se bastante hete-
rogêneos, com uma relativa diversificaç~o RIOS DE ÁGUAS BRANCAS
de PH e condutibilidade elétrica. Esse feno-
meno é ainda mais intenso nos igarapés e
São assim denominados pela coloraçao
córregos de reduzido porte, geralmente oriun-
esbranquiçada, barrenta de suas águas, de-
dos de sedimentos terciários da Bacia Ama-
correntes da erosão nos Andes, do que re-
zônica. Esses são· extremamente pobres
sulta uma descarga de sedimentos cretáceos,
em sais minerais, apresentando ainda baixas
alcalinos e relativamente ricos em sais minerais.
concentrações de magnésio e cálcio.
Apresentam um etevado índice de cálcio
Os rios da Região do Baixo Amazonas e magnésio comparativamente à quantida-
são neutros e apresentam elevada percenta- de de sódio e potássio, acusando ainda bai-
gem de cálcio e magnésio e alto teor de sais xos índices de sais minerais. Esses rios rece-
minerais, o que lhes assegura uma colora- bem uma permanente contribuição de consi-
ção azulada. É bem verdade que no início deráveis massas de terreno argila-arenoso
da estação das chuvas estas transportam de suas margens, o que lhes confere a cor
as substâncias húmicas acumuladas na su- barrenta, amarelada. Os rios de águas bran-
perfície da terra durante o período de seca, cas constituem a maioria absoluta da rede
do que resulta a mudança de coloração da hidrográfica amazônica. Nesses rios ocorre
água, que nesse período torna-se mais escura. o fenômeno erosão/sedimentação, conse-
Os exemplares mais famosos de rios de qüência da constituição dos terrenos que
águas claras são o Tapajós (com seus forma- os margeiam, podendo ser considerados
138 RBG

rios mutantes, pois são agentes permanen- tendo concluído os rios Guamá-Acará, no
tes de profundas modificações do aspecto Pará, e Araguari, no Amapá •
da paisagem e da vida do homem da Amazô- Encontram-se em fase final de elaboração
nia a atualização do vale do rio Branco em Ro-
É preciso que se esclareça a importância raima.
do regime de chuvas para o equilíbrio ecoló- Em 1992, serão elaborados, além dos pro-
gico da região, pois dele decorre o regime jetos bancáveis dos vales dos rios Guamá-
dos rios, absolutamente condicionado a es- Acará, Araguari e rio Branco, os POis dos
se fenômeno sazonal. vales dos rios Antimari (AC/AM), Madeira
Estima-se em cerca de 100 bilhões de to- (AM/RO), Trombetas (PA) e atualização do
neladas o volume de vapor de água decor- Araguari-Tocantins (PNTO/Ml).
rente da evaporação dos rios e da contribui- Considerando a necessidade de aprofun-
ção da floresta, o que confere à região sua dar os estudos de uma política espacial, foi
característica básica de clima superúmido. elaborado o estudo: "O Aproveitamento Inte-
Essa condição, aliada à absorção das radia- grado das Principais Bacias Hidrográficas
ções infravermelhas, estabelece as condi- da Amazônia Como Estratégia Espacial do
ções de estabilidade de temperatura, evitan- Desenvolvimento Regional", constituído por
do que ocorram grandes variações diárias. sete capítulos e realizados por uma equipe
O Programa de Estudos e Pesquisas dos de consultores.
Vales Amazônicos - PROVAM -, objeto de Para a consolidação da fase de informa-
acordo de cooperação técnica firmado em ções e visando à montagem de um sistema
1966, entre a SUDAM e a OEA, tem por obje- de elaboração, acompanhamento e avaliação
tivo básico conhecer a potencialidade das de projetos, está sendo montado um. Banco
principais bacias hidrográficas e sub-regiões de Dados, formado por informações estatísti-
estratégicas para o desenvolvimento. cas dos Estudos dos Vales e pelo Sistema
A área de drenagem da região é forma- de Informações Geográficas da SUDAM.
da, principalmente, pelas bacias hidrográfi- O Sistema de Informações Geográficas,
cas do rio Amazonas (3 900 000 km2) e To- estruturado a partir do Projeto de Hidroclima-
cantins (775 000 km2) e territorialmente com- tologia e Sensoriamento Remoto da SUDAM,
preende a totalidade da Região Norte, mais é a base das informações cartográficas que
da metade da Região Centro-Oeste e uma dá suporte ao acompanhamento das altera-
pequena extensão do extremo noroeste do ções da Cobertura Vegetal na região e funda-
Estado do Maranhão (Pré-Amazônia Mara- mental na elaboração dos Planos de Desen-
nhense). volvimento Integrado dos Vales.
Na ausência de acidentes geográficos Ampliando-se o enfoque estabelecido ini-
mais relevantes e considerando a rarefação cialmente neste documento, do estudo das
de atividade atrópicas, os rios e o relevo pos- potencialidades naturais regionais a partir
sibilitam razoável precisão na configuração das duas riquezas básicas, a floresta e a ba-
de grandes espaços - as bacias hidrográfi- cia hidrográfica, extrapolando portanto esses
cas - como unidades de planejamento e pro- limites, voltamos nosso interesse a outras fon-
gramação de ações para o desenvolvimento. tes naturais de extraordinária potencialidade,
Assim, na impossibilidade de estudar a que relacionaremos a seguir.
Amazônia Legal a um só tempo, estabeleceu- A dimensão territorial da Amazônia brasi-
se o critério de subdividi-la em bacias, priori- leira lhe atribui um status de quase-continen-
zando-se a abordagem em função da pres- te, do que resulta automaticamente um inco-
são antrópica sobre elas exercida. mensurável potencial ecológico, econômico
Na década de 70 a SUDAM realizou estu- e conseqüentemente político.
do dos vales dos rios Xingu-Tapajós, Tocan- A Amazônia representa, nos dias atuais,
tins, Araguaia-Tocantins e Branco. uma das maiores reservas de recursos natu-
Esses trabalhos foram paralisados, com rais do mundo, não só pela imensa dimen-
o advento das grandes rodovias de penetra- são de terras úteis e produtivas, inas também
ção, dentro da Política de Integração Nacional. por abrigarem elas uma significativa concen-
A partir de 1987, o acordo SUDAM/OEA tração de riquezas expressas em sua diversi-
retomou os trabalhos dos Estudos dos Vales, dade. Esse fator diferencia a Amazônia de
RBG 139

outras regiões de reconhecida potencialida- equilíbrio fitossanitário com espécimes vege-


de natural, pois estas apresentam invariavel- tais com um lento crescimento, por décadas,
mente suas riquezas dispersas em conjuntos sem serem perturbados quanto as suas con-
menores, isolados entre si, enquanto que dições de saúde.
na Amazônia brasileira ocorre uma rede inte- Deve-se ainda ressaltar que existe na Ama-
rativa de recursos naturais renováveis. zônia uma considerável gama de microrga-
A província mineral amazônica está ainda nismos aos quais se deve atribuir o balan-
em fase prospectiva, mas a julgar pelos pri- ço ecológico dos aspectos já discutidos,
meiros resultados obtidos se antevê a exis- mas essa ação só é completada pela interve-
tência de grandes reservas de minérios tradi- niência de fungos que possibilitam a absor-
cionais (ferro, bauxita, ouro, cassiterita, tanta- ção de macro e micronutrientes, imediata-
lita, etc ... ), além de minérios nobres, para mente absorvidos pelas raízes das plantas.
aplicações tecnológicas (nióbio, manganês, Essa usina natural, extremamente complexa
titânio, etc ...), estendendo-se aos radiativos mas paradoxalmente acessível, é responsá-
e outros bens minerais com a permanente vel pela fantástica biodiversidade da Região
descoberta de ambientes geológicos promis- Amazônica.
sores. Nessa rápida análise dos fundamentos
A reconhecida diversidade biológica vege- das nossas reservas naturais, fica a lição ba-
tal, expressa por uma flora exuberante e va- silar que somente através do uso racional
riada, apresenta um universo de plantas me- desses insumos será possível promovermos
dicinais, aromáticas, alimentícias, tóxicas, ole- o desenvolvimento regional, dentro de uma
aginosas, gomosas, fibrosas, entre outras política saudável de plena adequação dos
espécies. Alia-se a essa riqueza a vastíssi- instrumentos de planejamento à conservação
ma fauna, o que transforma a Amazônia num e à preservação do meio ambiente.
grande banco genético do planeta, do que É preciso, entretanto, que se afirme que,
certamente resultará uma expressiva fonte in- ao aprofundarmos o estudo dos recursos
ternacional de produtos farmacêuticos e bio- naturais disponíveis para a instrumentaliza-
químicas. O Brasil, através da Amazônia, as- ção dos processos de desenvolvimento, des-
sumirá, num futuro não muito distante, a lide- cobrimos uma verdade inquietante:
rança da indústria farmacêutica, bioquímica A Região Amazônica, que detém essa ri-
e de cosméticos mundial. ca reserva natural do planeta, abriga em seu
A base fundamental para a implantação seio uma população pobre, carente de recur-
e consolidação dessa biotecnologia repou- sos, com um dos mais baixos índices socio-
sa no equilíbrio ecológico que será perma- econômicos do mundo. É uma triste realida-
nentemente vigiado e mantido através do de que precisa ser revertida, para que se pro-
controle da floresta úmida, responsável pela porcionem ao homem da Amazônia condi-
geração dessa riqueza biótica. Existe no inte- ções de usufruir dessa riqueza
rior da floresta uma poderosa usina de pro- Para a consecução desse objetivo, deci-
dução de fungos, bactérias e insetos que as- diu a Superintendência do Desenvolvimento
seguram a manutenção desse equilíbrio eco- da Amazônia- SUDAM- partir para a elabo-
lógico. ração de um Plano de Desenvolvimento Inte-
Ocorre freqüentemente na região um pro- grado que permitisse_ a definição de parâme-
cesso de decomposição acelerada da bio- tros e hipóteses de desenvolvimento compa-
massa, convertendo-a em húmus, seguido tíveis com a realidade regional.
da oxidação da matéria orgânica, do que re- Para tanto, foi estabelecido como ponto
sulta, a seguir, a conseqüente mineralização, de partida para esse importante trabalho a
liberando os compostos inorgânicos que es- definição das expectivas e anseios da comu-
tavam associados à biomassa original. Este nidade amazônica, levando-se em considera-
processo promove, entre outras coisas, a re- ção a realidade nacional e internacional.
ciclagem de elementos naturais como o enxo- Em função dessa decisão foi imediatamen-
fre e o nitrogênio. te determinada a execução de um levanta-
As condições de alta umidade e tempera- mento das potencialidades efetivas, mediante
tura elevada propiciam o desenvolvimento um pré-zoneamento ecológico econômico
de microrganismos fitopatogênicos, o que que permitisse um mínimo de conhecimen-
poderia ser altamente prejudicial à manuten- to das reais possibilidades dos insumos re-
ção e à preservação da floresta, o que entre- gionais. Somente através do conhecimento
tanto não ocorre, pois ela encontra-se em da realidade seria possível partir para as qua-
140 RBG

tro indagações clássicas de um sistema de gional, representando esta o desejo legíti-


planejamento. mo de seus habitantes, livres de qualquer ti-
po de pressão ou condicionantes, caminho
. O QUE FAZER?
único para a formulação de um plano de de-
. ONDE FAZER?
senvolvimento desejável e viável. Somente
. COMO FAZER?
assim daremos acesso às aspirações dos
. QUANDO FAZER?
amazônidas a um futuro melhor, socialmen-
Esse pré-zoneamento, realizado median- te justo e ecologicamente ordenado.
te convênio com o IBGE, redundou na elabo- É preciso, entretanto, que se considere
ração de uma coletânea de quatro mapas, como prioritário e fundamental o resguardo
na escala 1:2 500 000, cuja cartografia reve- da soberania nacional e o direito de cidada-
la os seguintes aspectos fundamentais ao nia do homem da Amazônia com respeito
conhecimento da natureza amazônica, sob às transformações que decorrerão desse po-
o enfoque ecológico e econômico: sicionamento. Essas transformações que es-
. Mapa dos Solos tão se processando e processar-se-ão na re-
. Mapa Geológico gião induzirão a um crescimento econômi-
. Mapa da Vegetação co que deve ser acoplado a um conteúdo
. Mapa da Hidrografia (e consolidação social que venha atender às demandas prio-
dos três anteriores) ritárias, assim como promover um maior equi-
Concomitantemente, foi desenvolvido um líbrio ecológico, harmonizando e compatibili-
trabalho visando à definição de Macrocená- zando o homem com a natureza
rios da Amazônia até o ano 201 O, realizado O desenvolvimento da Amazônia só será
por uma equipe interdisciplinar, de alto nível, verdadeiro e irreversível se integrar-se e vin-
constituída por técnicos da SUDAM, do BASA, cular-se ao conjunto de fatores e procedi-
da SUFRAMA e consultores nacionais e inter- mentos em curso na região e no mundo, es-
nacionais, do que resultou um documento tabelecendo um novo enfoque científico e
de transcendental importância para o futuro tecnológico do qual resultará, certamente,
da região. uma natural redefinição da divisão de traba-
lho e conseqüente rees~ruturação da ativida-
Nesse documento, oficialmente denomina- de produtiva regional. E sob essa ótica que
do "MACROCENÁRIOS DA AMAZÔNIA - destacamos a biotecnologia como o fator
2010- CENÁRIOS ALTERNATIVOS E NOR- primordial, repercutindo de maneira enfática
MATIVOS PARA A AMAZÔNIA", foi efetuada nas mais variadas atividades e setores da
uma ampla consulta à sociedade regional, economia.
procurando-se descobrir suas angústias, dú- A biodiversidade representará, portanto,
vidas, anseios e expectativas, de modo a um dos mais significativos instrumentos a
se aflorar e consolidar uma "vontade regio- ser empregado nesse trabalho conjugado,
nal", um desejo amazônico. Procurou-se as- de um lado as expectativas internacionais e
sim descobrir qual o futuro desejável da co- de outro lado as potencialidades regionais,
munidade amazônica, representada por to- abrindo-se, assim, um amplo horizonte de
dos os seus segmentos mais significativos, possibilidades e oportunidades de desenvol-
avaliando-se portanto as suas legítimas aspi- vimento para a região.
rações. As novas perspectivas de desenvolvimen-
Um estudo minucioso e de elevado pa- to que decorrerão do Plano de Desenvolvi-
drão técnico colocou a problemática da Ama- mento da Amazônia- PDA- exigem uma reto-
zônia, anteriormente detectada, em confron- mada do crescimento da região, hoje estabi-
to com a problemática nacional e internacio- lizada e praticamente inerte. Para tanto julga-
nal, possibilitando um diagnóstico que preten- mos indispensável não somente a formula-
dia descobrir se o futuro desejável formula- ção de um Plano de Desenvolvimento Inte-
do pela sociedade amazônica seria plausível. grado, mas principalmente a criação de um
Desse confronto, partindo-se do desejo regio- Sistema de Planejamento, que permita o des-
nal, chegamos à formulação do futuro possí- pertar de uma consciência regional e uma
vel para a Amazônia, traduzido nos cenário~ ação de planificação participativa, envolven-
alternativos levantados, levando-se em consi- do todos os segmentos da comunidade ama-
deração a ação dos atores regionais. zônica
O futuro possível da Amazônia deve ne- A SUDAM é a gestora desse plano, res-
cessariamente levar em conta a vontade re- ponsável direta pela sua concepção e imple-.
RBG 141

mentação, missão a ela atribuída por lei, que ção total do País e que corresponde a 17
lhe assegura ainda a responsabilidade da milhões de habitantes.
coordenação da ação do Governo Federal A concentração populacional nas grandes
na Região Amazônica. cidades é um fator por demais preocupante,
A concepção adotada para a redefinição já que esse exagerado adensamento demo-
dos novos modelos de desenvolvimento re- gráfico, principalmente nas capitais dos esta-
gional estabelece profundas mudanças estru- dos, provoca um contínuo êxodo das popula-
turais nas comunidades amazônicas, na ten- ções rurais, agravando significativamente a
tativa de estabelecer uma relação harmôni- estrutura econômica estadual. A densidade
ca entre os homens e destes com a natureza. demográfica regional média de 3 habitan-
Esse desenvolvimento desejado, alicerça- tes/km2, enquanto que nas capitais esse índi-
do em bases de auto-sustentabilidade, será ce sobe para 17 habitantes/krn2. Enquanto
realizado de maneira racional e progressiva, ocorre um grave esvaziamento da zona ru-
mediante a definição e implementação de ral, multiplicam-se os problemas nos centros
novos conceitos e metodologias modernas urbanos, com infra-estrutura insuficiente ao
que venham a promover a perfeita adequa- atendimento dessa alarmante pressão migra-
ção dos seus agentes com os valores natu- tória, configurando um caos socioeconômi-
rais que caracterizam o meio ambiente. co praticamente insolúvel.
A baixa renda per capita é também preo-
O mal uso dos recursos naturais e seu
cupante, constituindo um dos mais graves
conseqüente desperdício devem ser perma- problemas regionais, fruto da reduzida capa-
nentes e obrigatoriamente evitados, já que
cidade de geração de riqueza da região.
sua ocorrência virá a contribuir inexoravel- Esse conjunto de fatores constituiu o pon-
mente para uma progressiva degradação am- to de partida considerado pela SUDAM pa-
biental. Este indesejável fenômeno provém ra a formulação de sua política de desenvol-
geralmente dos grandes desequilíbrios eco-
vimento, definindo como um de seus funda-
nômicos e sociais, os quais são por sua vez mentos a fixação do homem em seu habitat,
resultantes da excessiva concentração de ri-
criando-se as bases que permitam sua per-
queza em determinadas regiões, em detri-
manência no local em que nasceu e vive,
mento de outras que permanecem desampa-
em seu ambiente natural, usufruindo de con-
radas, no mais lastimável estado de abando-
dições socioeconômicas, políticas e culturais
no e pobreza. plenamente satisfatórias.
A redução e posterior erradicação dessas O nosso modelo de desenvolvimento pos-
diferenças socioeconômicas, com a elimina- sibilitará, portanto, essa fixação desejada,
ção do desequilíbrio inter-regional, é o objeti- mediante a criação de atividades geradoras
vo fundamental do PDA, através do qual ire- de riqueza na região, compatíveis com a re-
mos estabelecer as condições necessárias alidade local, viabilizando a elevação da ren-
para que o homem da Amazônia venha a da individual até que se alcance uma igualda-
desfrutar o mesmo nível de vida dos habitan- de com os maiores índices do País, assegu-
tes de outras regiões mais desenvolvidas rando ao amazônida um nível de vida justo
do Brasil. e digno.
O desequilíbrio. regional hoje existente é Esse objetivo está sendo alcançado me-
um inequívoco resultado de diversos fatores, diante a utilização de um modelo de desen-
entre os quais julgamos pertinente destacar: volvimento sustentado, com utilização de
matéria-prima local,· promovendo-se uma per-
. A imensa superfície territorial da região
feita identificação do homem com o meio am-
. A baixa densidade demográfica biente circundante, conscientizando-o a uma
. A excessiva concentração populacional convivência harmônica com a natureza, sem
nas grandes cidades extrapolar ou exceder suas necessidades in-
. A reduzida capacidade geradora de ri- trínsecas. Estamos criando uma nova menta-
queza lidade, da qual resulte um maior entendimen-
A superfície da Amazônia brasileira é equi- to dessa nova realidade, aflorando o senti-
valente a 61% do Território Nacional, ocupan- do de responsabilidade, revitalizando a cultu-
do uma área de 5 217 423 km 2, apresentan- ra tradicional, enriquecendo-a com os moder-
do entretanto uma densidade demográfica nos métodos científicos e tecnológicos.
insignificante para essa amplitude territorial, O novo homem amazônico aprenderá a
expressa por um índice de 11% da popula- viver dentro deste novo contexto, assimilan-
142 RBG

do esta nova realidade, mantendo um maior O ritmo de implantação dessa sociedade


controle crítico de suas necessidades quan- amazônica reorganizada, e de sua economia
do relacionadas com o ecossistema fortalecida, estará dependendo da definição
Para que isso ocorra, o plano volta-se tam- de critérios, políticas e decisões do Gover-
bém para a revitalização da cultura tradicio- no Federal, bem como de ações e atitudes
nal das comunidades interioranas, no senti- dos governos estaduais e municipais da re-
do de estabelecer sólidas bases para a defla- gião. Essa contribuição, juntamente com as
gração da desejada ação desenvolvimentis- ações das classes empresariais e comunitá-
ta, mediante o emprego de modernos méto- rias, constitui a essência do planejamento
dos científicos e tecnológicos. Dessa manei- participativo, destaque maior da elaboração
ra, deverá o novo homem amazônico estar do PDA, e que lhe assegura antecipadamen-
devidamente preparado para integrar-se a te o desejado êxito.
esse novo mundo da ciência e da tecnologia, O futuro que reservamos para a Amazônia,
absorvendo seus rudimentos, adquirindo futuro plausível fundamentado no futuro dese-
um mínimo controle crítico de suas obriga- jado pela sua comunidade, é, em síntese, re-
ções relacionadas com o ecossistema presentado pela implantação, aceleração e
O desenvolvimento sustentado definido ampliação das transformações destinadas
no PDA cria ações programadas sob uma ao seu crescimento econômico, mediante a
ótica dinâmica, com implantação progressi- internalização de sua renda e a exploração
va, objetivando a criação de um sistema de racional de seu potencial de biodiversidade.
planejamento permanente, contínuo e auto- A meta será, evidentemente, a melhoria da
avaliável. A implementação desse sistema qualidade de vida de sua população.
criará as condições de ativar, de maneira pro- O modelo de desenvolvimento será, por-
gressiva, o Plano de Desenvolvimento da tanto, dirigido à implementação na Amazônia
Amazônia, admitindo-se uma permanente de uma política inovadora e ágil, que permi-
avaliação e um constante controle da eficiên- ta combinar e conciliar o progresso científi-
cia do instrumento, o que permitirá a neces- co e tecnológico com o ecossistema Preten-
sária retroalimentação do planejamento. de-se, assim, consolidar uma nova socieda-
O desenvolvimento da Amazônia será re- de amazônica, mais forte, vigorosa e estável,
alizado, nas próximas décadas, mediante o estruturada num ecodesenvolvimento raciona-
aproveitamento racional das potencialidades lizado.
de seus recursos naturais, pela introdução
de uma estrutura científica e instrumentos Serão evidentemente considerados outros
tecnológicos, o que possibilitará um avanço segmentos altamente significativos para a
econômico e social para os seus habitantes. economia regional, como a aqüicultura, a
agricultura com prioridades para as culturas
Como conseqüência natural ocorrerá a implan-
de planície, da pecuária em campos naturais
tação de política de desenvolvimento, devida-
e o turismo, notadamente o turismo ecológi-
mente relacionadas com as políticas ambien-
tais, de natureza especificamente regionais, co, cuja dinamização é, presentemente, uma
das mais importantes metas do Governo do
mais vigorosas e de caráter permanente.
Presidente Fernando Collor de Mello.
É verdade que no início, nos primeiros
anos de implantação do PDA, a região tende- Nossa meta é transformar a Amazônia
rá, ainda, a conservar e manter suas caracte- em um Centro de Pesquisa e Desenvolvimen-
rísticas de provedora de matérias-primas, to Científico e Tecnológico nas áreas de bio-
apresentando um índice de crescimento mo- tecnologia, química dos recursos naturais,
derado, conseqüência direta da política de manejo auto-sustentado florestal e agricultu-
estabilização econômica do País e também ra tropical. Será ainda nosso alvo a estrutura-
da natural lentidão das transformações institu- ção da região como fabricante e exportado-
cionais em curso. ra de produtos de alta tecnologia, de bióti-
Pretende-se, a partir do final desta déca- cos, de fármacos, variedades genéticas, cos-
da, apressar a integração da Amazônia no méticos, bem como extrativismo de elevada
contexto nacional, mediante um processo qualidade.
acelerado de crescimento, respaldado nu- Para a colimação dessas metas definimos
ma maior capacidade de produção industrial hipóteses de desenvolvimento, que funda-
que venha a atender a demanda nacional e mentarão estratégias, políticas, programas
posteriormente a internacional dos recursos e projetos, devidamente compatibilizados
naturais e industrializados. nos programas de desenvolvimento nacional.
RBG 143

Estabelecemos quatro grandes políticas, ção desses benefícios, objetivando a melho-


corporificando um referencial estratégico ex- ria da renda e qualidade de vida da população.
presso num conjunto de princípios, normas A Política Institucional objetivará o fortale-
e parâmetros que priorizam a atuação públi- cimento e consolidação de um sistema de
ca e privada na região. organizações, instituições e entidades devida-
Abordaremos em seguida essas políticas mente articuladas, com funções complemen-
prioritárias: tares e convergentes, destinadas a assegu-
rar a eficácia e efetividade das atividades
1. Política Ambiental em seu espaço econômico. Esta política tem
2. Política Espacial por fundamento os princípios de coordena-
3. Política Social e Antropológica ção, articulação institucional, descentraliza-
4. Política Institucional ção, democratização, participação e desburo-
A Política Ambiental objetiva a racionaliza- cratização.
ção dos projetos que serão implantados na Essas políticas sumariamente apresenta-
região, condicionando sua aprovação a uma das permitem a definição e ordenação dos
perfeita adequação às condições ecológicas instrumentos globais que serão utilizados pa-
regionais. Esta política estabelece diretrizes ra elaboração dos programas prioritários.
de exploração dos recursos naturais nas ati- Esses programas deverão ser direcionados
vidades econômicas implantadas na região, prioritariamente à especialização regional
redefinindo igualmente o padrão tecnológi- das políticas nacionais, globais ou setoriais.
co implantado de maneira a adequá-lo às O zoneamento ecológico-econômico será
condições ecológicas regionais. evidentemente o instrumento precursor, fun-
Um dos mais importantes conceitos defini- cionando como indutor seletivo das priorida-
dos na Política Ambiental é sua compatibiliza- des regionais, a partir do qual se viabilizarão
ção com as políticas setoriais, viabilizando as demais estratégias de natureza política,
a utilização econômica dos recursos ambien- social e econômica, que constituem os já ci-
tais, conservando e preservando a extraordi- tados instrumentos globais. Dentre estes, jul-
nária diversidade biótica dos ecossistemas gamos oportuno e pertinente destacar a utili-
amazônicos. A Política Ambiental promove, zação parcial dos recursos do PIN/PROTERRA
ainda, a auto-sustentação dos recursos am- para o Programa de Desenvolvimento Cientí-
bientais da região, determinando sua preser- fico e Tecnológico da Amazônia, para investi-
vação. mentos complementares às fontes nacionais.
A Política Espacial definirá os critérios pa- As hipóteses de desenvolvimento permitem
ra a localização das ações, dentro de uma a eleição de estratégias de desenvolvimen-
ordenação prioritária, identificando as áreas- to, das quais resultarão sete grandes progra-
programas destinadas à convergência dos mas prioritários pelos quais estão considera-
esforços de desenvolvimento regional. dos os critérios de localização e vocação iden-
Esta política redefinirá o papel da Amazô- tificados no Zoneamento Econômico-Ecológi-
nia na divisão inter-regional de trabalho, con- co.
solidando a unidade regional, alterando po- O PDA estabelece os seguintes progra-
rém os padrões de sua interação com a eco- mas prioritários:
nomia regional. Dela decorrerá ainda uma in-
tegração socioeconômica rural-urbana na re- . Programa de Desenvolvimento Científi-
gião, devido à interiorização do desenvolvi- co e Tecnológico
mento e à constituição de uma estrutura ur- . Programa de Infra-Estrutura Econômica
bana efetivamente incluída no conjunto da . Programa de Infra-Estrutura Social
economia regional. Essa desconcentração . Programa de Educação
e difusão das atividades econômicas resulta- . Programa de Desenvolvimento Industrial,
rão em significativos benefícios para o incre- Agroindustrial e de Extrativismo Mineral
mento da economia amazônida. . Programa de Desenvolvimento da Agri-
A Política Social e Antropológica apresen- cultura, Pecuária, Pesca e Extrativismo Vegetal
ta como objetivo maior a transformação do . Programa de Turismo
desenvolvimento e crescimento econômico, O Programa de Desenvolvimento Científi-
voltado ao efetivo benefício social para o ho- co e Tecnológico objetiva a elevação da ca-
mem amazônico, possibilitando a redução pacidade científica e tecnológica da região,
das tensões, desigualdades e contradições de maneira a aumentar o conhecimento da
sociais. Será ainda viabilizada a internaliza- Amazônia, bem como um maior domínio do
144 RBG

saber científico e tecnológico, através de no- objetivo de promover o desenvolvimento tec-


vos métodos assim como a adaptação de nológico e sua aplicação ao processo produ-
tecnologias mais avançadas para suprir as tivo.
necessidades regionais. Pretende-se também Essa experiência, fundamentada na implan-
alcançar uma elevação da produtividade, com- tação de Parques Industriais, com relativa
petitividade e qualidade do setor produtivo variedade de concepções, já permite que
e respectivos produtos tipicamente amazôni- se perceba claramente a diversidade das
cos, com a criação de parques tecnológicos ações administrativas, fruto de multiplicida-
em áreas estrategicâJTiente recomendáveis de e agentes envolvidos, revelando a rique-
para a economia regional. za do instrumento, enquanto indutor do de-
Esses Parques Tecnológicos são hoje senvolvimento econômico, permitindo a gera-
uma realidade em todos os países desenvol- çãq e utilização de novas tecnologias.
vidos, bem como em nossa Nação, onde E nesse sentido que a SUDAM propõe
se encontram disseminados, com consolida- um estudo aprofundado sobre a viabilidade
do êxito, notadamente no sudeste e sul do País. da criação de Parques Tecnológicos na Re-
Neles encontram-se concentrados os es- gião Amazônica, mediante o referenciamen-
forços do governo, da universidade e dos to a dois parâmetros básicos:
empresários, numa ação conjunta e interati-
va, criando condições e ambientação para . As características e especificidades do
o surgimento de novas empresas, com ba- setor produtivo amazônico
se !ecnológica sofisticada e avançada . A capacitação técnico-científica das uni-
E bem verdade que, no Brasil, como de versidades e instituições de pesquisas regio-
resto em toda a América Latina, a experiên- nais
cia é mais recente. O próprio modelo de de- Quanto a este último ponto, cabe ressal-
senvolvimento posto em prática nas últimas tar, enfaticamente, que várias pesquisas apli-
décadas impôs condicionalidades ao desen- cadas à produção já vêm sendo desenvolvi-
volvimento da Ciência e Tecnologia no Bra- das nas universidades da região, muitas delas
sil. Com efeito, a Política de Ciência e Tecno- de comprovada aplicabilidade no setor pro-
logia orientou-se inicialmente para a estraté- dutivo da Amazônia, atendendo as seguintes
gia de segurança nacional, criando importan- áreas:
tes núcleos de competência tecnológica in-
dustrial, conforme relacionamos a seguir: . Biotecnologia - Produção de insumos
para reprodução animal
. O Complexo Aeronáutico, Instituto Tecno- . Mineração - Aproveitamento industrial
lógico da Aeronáutica - ITA - e a Empresa de rejeitas sólidos
Brasileira de Aeronáutica - EMBRAER . Farmacologia - Produção de remédios
. O Complexo Petroquímico a partir de ervas da região, cosméticos, etc
. O Complexo de Telecomunicações, Em- . Alimentação - Produção de doces, com-
presa Brasileira de Telecomunicações - potas, sucos concentrados, etc
EMBRATEL . Química- Produção de sabões, detergen-
. O-Setor de Informática Nacional tes, óleos (inclusive com fonte energética, in-
Conseqüentemente, a política de industria- dústria de tintas e corantes), etc
lização, embora acelerada, se manteve dis- . Automação Industrial- Robótica Industrial
tante no incipiente planejamento científico e . Indústria de Transportes - Engenharia
tecnológico, do que resultou a não moderni- Naval Fluvial e veículos aerodeslizantes ho-
zação tecnológica do parque industrial, co- ver-craft.
mo seria desejável. A SUDAM, na qualidade de órgão respon-
Assim sendo, tivemos os investimentos sável pelo desenvolvimento regional, coorde-
governamentais em Ciência e Tecnologia res- nador da ação do Governo Federal na Ama-
tritos a instituições de pesquisa oficiais e ao zônia, promove, conseqüentemente, a defini-
setor produtivo estatal, os quais criaram ní- ção de uma nova estratégia destinada a com-
veis de competência em algumas áreas de patibilizar a conservação do meio ambiente
conhecimento, limitando sua aplicação na com o crescimento econômico e a qualida-
atividade produtiva privada. de de vida da população.
Mais recentemente, contudo, várias expe- Os pilares desse novo modelo de desen-
riências têm congregado o setor público, volvimento que pretendemos implantar são
universidade e centros de pesquisas com o a Ecologia e a Tecnologia harmonicamente
RBG 145

ajustados. Nesse sentido, os Parques Tecno- O subprograma de Transporte volta-se à


lógicos desempenharão um importante pa- concepção de um sistema intermodal, no
pel na nova estratégia de desenvolvimento, qual as vias fluviais serão aproveitadas co-
senão vejamos: mo rede primária, às quais serão conectadas
as rodovias e ferrovias. A grande massa lí-
. Permitirão a aplicação do esforço científi- quida que constitui a rede hidrográfica da
co regional já acumulado à produção Amazônia, definindo a maior bacia do mun-
. Permitirão ainda o desenvolvimento de do, oferece, com investimentos modernos,
tecnologias adequadas às condições regio- as condições ideais para implementação de
nais com máximo de eficiência e o mínimo um sistema básico de transporte fluvial, de
de danos ao meio ambiente baixo custo e operacionalidade racional e
. Incentivarão, devido à expectativa cria- econômica. Essa rede constituirá a espinha
da, com o desenvolvimento da pesquisa, pro- dorsal do sistema intermodal de transportes
movendo a utilização dos recursos humanos da Amazônia. As rodovias não serão despre-
e a capacitação empresarial regionais zadas, muito pelo contrário, serão intensifica-
O Programa de Infra-Estrutura Econômi- das dentro de uma maior racionalidade, inte-
ca objetiva a elevação da disponibilidade grando-se a esse sistema, permitindo assim
de infra-estrutura básica de transportes, co- uma maior disponibilidade de acessos para
municações e energia, como instrumento pa- o escoamento dos produtos regionais em
busca dos mercados consumidores. A médio
ra a eliminação das deficiências atuais, pos-
e longo prazos serão implantadas as ferrovias.
sibilitando a expansão de todas as ativida-
des econômicas regionais, bem como a redu- O terceiro subprograma, o de Comunica~
ção dos custos de produção e comercializa- ções, será resolvido através da utilização
de tecnologia de ponta, fruto do Programa
ção.
O sub programa de Energia terá uma abran- de Desenvolvimento Científico e Tecnológi-
co, mediante o uso de satélites estrategica-
gência considerável, com um enfoque extre-
mente plotados.
mamente diversificado, admitindo um conjun-
O Programa de Infra-Estrutura Social defi-
to de soluções heterogêneas, compatíveis
ne a elevação da qualidade de vida e condi-
com a complexidade regional.
ções sociais da população amazônica, me-
A solução energética básica é a de gera-
diante a melhoria da oferta de equipamentos
ção hidrelétrica, o que é plenamente compre- urbanos e serviços soéiais no meio rural. Se-
ensível, considerando-se que a Amazônia rão também considerados neste programa
possui a maior bacia hidrográfica do mun- os instrumentos destinados à redução dos
do com um incomensurável potencial de ge- déficits sociais na área de saneamento, habi-
ração de energia. Defendemos, entretanto, tação e saúde.
a construção de usinas de médio e peque- A Infra-Estrutura Social será organizada
no portes, excluindo, portanto, as soluções em torno de ações básicas na área de saú-
através de megausinas até então adotadas. de, saneamento e habitação.
Estas apresentam um custo de implantação Quanto à Saúde a programação deverá
elevadíssimo, um prazo de construção mui- concentrar suas ações na construção, amplia-
to extenso, uma superfície de represamento ção e recuperação de equipamentos da re-
considerável, tendendo a provocar agres- de de saúde, com destaque para Assistência
sões ambientais graves e irreversíveis. Afo- Integral da Mulher e da Criança, o Controle
ra isso, haverá ainda a necessidade de cons- de Doenças Transmissíveis e o Sistema de
trução de extensas redes de transmissão, Vigilância Sanitária.
cuja execução demandará um custo tão ele- Na área de saneamento são prioritárias
vado quanto o da construção da usina, com as ações volta!=las para a Expansão do Abas-
prazos também muito extensos. As usinas tecimento de Agua e Rede de Esgotos Sani-
de médio e pequeno portes parecem-nos a tários, a Coleta, Tratamento e Disposição Fi-
solução ideal, mais ágil, mais econômica e nal dos Resíduos Sólidos Urbanos e a Macro
acima de tudo dentro da política espacial e Microdrenagens.
do PDA, consolidando a definição de áreas- Em habitação serão desenvolvidos subpro-
programa. Nosso projeto energético para a gramas que tenham como meta básica a
Amazônia não se restringe a uma única solu- Aquisição de Lotes Urbanos e Assentamen-
ção, buscando gerações alternativas como to de População de Baixa Renda e a Constru-
a energia solar, a energia eólica e a termoelé- ção de Unidades e Conjuntos Habitacionais
trica com combustão a gás natural. para a Baixa Renda.
146 RBG

O Programa de Educação possibilitará a hídricos, no regime dos ventos e da chuva,


elevação do nível educacional e de escolari- enfim nas condições climáticas regionais.
dade da população, tendo como meta priori- Deve-se ainda ressaltar sua importância co-
tária a redução até a eliminação dos índices mo habitat da exuberante e diversificada fau-
de analfabetismo nas zonas urbanas e rurais. na regional.
Será programada também a elevação e ade- Julgamos oportuno e pertinente ressaltar
quação da formação técnica e profissional, que essas funções ecológicas devem intera-
objetivando o acesso do homem amazôni- gir com funções econômicas, pois a Flores-
co no mercado de trabalho regional. ta Amazônica apresenta um extraordinário
O Programa de Desenvolvimento Indu& .potencial de matéria-prima industrializável,
trial, Agroindustrial e Extrativismo Mineral é representada por um fabuloso volume de
outro tópico de fundamental importância de- madeira, estimado em mais de 50 bilhões
fendido pelo PDA, mediante a consolidação de metros cúbicos.
dos pólos e complexos industriais existentes A conciliação desses dois vetores, o ecoló-
e em instalação na região, utilizando-se tec- gico e o econômico, representa, na realida-
nologias modernas e plenamente compatí- de, o cerne da problemática do desenvolvi-
veis com a preservação ambiental. Será in- mento regional, já que a política de ocupa-
centivada a articulação das indústrias com ção e uso do solo e conseqüente implanta-
a estrutura produtiva regional e inter-regio- ção de atividades produtivas deverão compa-
nal, estabelecendo-se prioridade para as mé- tibilizar esses dois parâmetros.
dias e microempresas. Será também prioriza- Partindo dessa premissa, a SUDAM esta-
da a utilização dos recursos naturais regionais. belecerá uma política florestal que viabilize
No Programa de Desenvolvimento da Agri- uma ação interativa que promova a perfeita
cultura, Pecuária, Pesca e Extrativismo Vege- compatibilização dos interesses econômicos
tal, serão considerados os indicativos do Zo- com a preservação da natureza. Desejamos
neamento Econômico-Ecológico, que defini- que a Amazônia venha a ser racionalmente
rão as áreas potenciais registradas no mes- usufruída por seus habitantes, que utilizarão
mo. A agropecuária terá sua expansão e di- seus recursos, promovendo com eles seu
versificação direcionada para essas áreas desenvolvimento e progresso.
zoneadas. O extrativismo vegetal e pesquei- A hiléia deverá ser preservada, não para
ro será desenvolvido por meio da diversifica- mantê-la intocável e improdutiva, porém, a
ção e integração intra e intersetorial, pela in- partir dela, definam-se mecanismos indutores
trodução de processos produtivos que per- que possibilitem o usufruto de seus recursos
mitam relações sociais de produção mais de maneira racional, jamais admitindo-se
modernas, mais relacionadas, resguardan- uma ação predatória a esse patrimônio tão
do as_ especificidades regionais. precioso.
O incremento da produção de espécies Os critérios para o uso de solos floresta-
extrativas vegetais permitirá o desenvolvimen- dos permitirão a utilização econômica de al-
to de ações integradas de produção e acaba- guns segmentos da floresta, mediante ativida-
mento dos produtos. De idêntica maneira se- de auto-sustentada, com ênfase na produção
rá incentivada a pesca, promovendo-se o de madeira. O zoneamento econômico-ecoló-
seu aproveitamento em escala industrial vi- gico em elaboração pela Comissão Coorde-
sando-se à exportação. nadora do Zoneamento Ecológico-Econômi-
As atividades de silvicultura receberão tam- co - CCZEE - disciplinará a organização do
bém o máximo apoio pelas diretrizes de pla- Espaço Amazônico, que implementará um
nejamento, de maneira que sejam integradas Programa de Áreas Preservadas, definidas
na base produtiva regional. Cremos que a pelas especificidades de seus ecossistemas,
solução para o desenvolvimento regional en- que serão utilizados como laboratórios natu-
contra-se na utilização correta e racional da rais, voltados à pesquisa e conseqüente for-
floresta, de cujo tratamento depende também mação de Bancos Genéticos. Tal solução
o equilíbrio e estabilidade do ecossistema. objetiva a perpetuação da flora e fauna regio-
A hiléia amazônica cobre mais da meta- nais.
de da superfície da região, do que decorre O enquadramento ecológico desse mode-
uma nítida predominância sobre o meio físi- lo pretende romper a tradição brasileira de
co regional, definindo-a como agente indutor exploração florestal como atividade temporá-
do comportamento ambiental na conserva- ria, com a comercialização da madeira sem
ção dos solos, na proteção dos mananciais a necessária reposição das espécies extraí-
RBG 147

das, o que seria considerar a floresta como dimento das aspirações de uma clientela an-
ocupante transitória, temporária, do sítio. siosa de conhecer o exotismo, os mistérios
A SUDAM preconiza, em sua Política Flo- e a exuberância da natureza amazônica.
restal para a Amazônia, o sistema de Flores- A conquista dessa clientela deverá ser al-
ta de Domínio Público, classificando-as co- cançada no momento em que nosso mode-
mo Nacionais, Estaduais e Municipais. Dese- lo de Desenvolvimento Sustentado apresen-
jamos estabelecer uma reversão da sistemá- te, em sua essência, um Ecoturismo de di-
tica ora existente em todo o País do uso da mensões amplas, destinado ao atendimento
terra voltado prioritariamente para a ativida- das aspirações das pessoas que, partindo
de agropecuária. de suas pátrias, busquem novos ambientes,
Consideramos a exploração florestal racio- novas sensações, que lhes revelem um no-
nalizada uma atividade mais rentável que ou- vo mundo.
tras dirigidas para o uso exclusivo da terra, Precisamos, portanto, preparar-nos para
já que a seleção de segmentos florestais per- o pleno atendimento dessa demanda, já que
mitirá a institucionalização de Florestas de a Amazônia surge no cenário internacional
Produção, concentrando as atividades de como a mais importante reserva mundial de
extração devidamente racionalizadas, com recursos naturais praticamente incólumes,
maior grau de produtividade, menor desper- alvo das atenções de todos os povos de
dício e conseqüentemente maior economia. nosso planeta.
O Ecoturismo Amazônico, com suas pecu-
É imperioso que se promova a imediata liaridades e especificidades, facultará o aces-
redução dos métodos empíricos e predató- so a áreas efetivamente virgens, não conta-
rios que induzem a atrofia das matas, des- minadas pela ação predatória da civilização,
cartando-se de suas espécies mais nobres permitindo um estreito contato com a nature-
sem qualquer preocupação com sua reposi- za. O turismo poderá admirar e gozar da
ção. A Política Florestal da SUDAM é um mo- paisagem bucólica e repousante, desfrutan-
delo comprovadamente viável, que possibilita- do a exuberância da flora, a multiplicidade in-
rá a sobrevivência de nossa floresta, tornan- finita das espécies da fauna, o contato com
do-a economicamente produtiva e útil para a cultura primitiva de seus índios, respirar o
seus habitantes. aroma do mato, o perfume das flores, olhar
O Programa de Turismo representa um cores impressionistas do ocaso, e a magia
dos pontos capitais do PDA, considerando- colorida do alvorecer amazônico.
se as potencialidades inesgotáveis e até es- Esses serão os múltiplos caminhos que
te momento praticamente inexploradas, que nos conduzirão em direção ao destino histó-
possibilitarão a Amazônia assumir a lideran- rico da Amazônia, peças fundamentais da
ça do Turismo Ecológico internacional. máquina propulsora do desenvolvimento, ins-
O plano objetiva a expansão e desenvolvi- trumento único para a construção da grande-
mento das incipientes atividades turísticas za regional.
da região, mediante a concepção e implanta- Inspirados pela ação do Presidente Fer-
ção de mecanismos que promovam o incre- nando Collor, cuja determinação de construir
mento do fluxo de correntes turísticas para um Brasil Novo é também nossa bandeira,
a Amazônia. voltamos nossos olhos para o futuro, com a
O Plano de Turismo da Amazônia- PTA -, certeza de que edificaremos também uma
em fase de elaboração pela SUDAM, está Nova Amazônia. O futuro é quase uma reali-
se estruturando levando em conta dois parâ- dade. O futuro já está chegando, antecipa-
metros distintos, o Turismo Tradicional e o do pela dedicação e competência de nosso
Turismo Ecológico, ambos destinados ao aten- Presidente.

RESUMO
Analisa os fundamentos das reservas naturais da Amazônia, que são incontestavelmente sua cober-
tura vegetal e sua rede hidrográfica; faz um estudo dos recursos naturais disponfveis, assim como abor-
da as polfticas prioritárias adotadas pela SUDAM para o desenvolvimento racional do território amazô-
nico, baseado no binômio desenvolvimento/meio ambiente, que são: polftica ambiental, pdftica espa-
cial, polrtica social e antropológica e pdftica institucional, que integram o PLANO DE DESENVOLVIMEN-
TO DA AMAZÔNIA- PDA- para o perfodo 1991/1995.

Você também pode gostar