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FICHAMENTO GEOGRAFIA DA FOME - FABIANA BARTIRA DE SOUZA BRITO 22/03/2023 12:31

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – UFS


PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA – PROGRAD
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS – PPGS
DISCIPLINA: SOCIOLOGIA DA FOME
ALUNA: FABIANA BARTIRA DE SOUZA BRITO

ATIVIDADE 1: FICHAMENTO
LIVRO: GEOGRAFIA DA FOME - JOSUÉ DE CASTRO

Introdução
Quando falamos de fome, a imagem na nossa consciência de homens civilizados são imagens típicas do
Extremo Oriente. Mas esta não é a realidade. É um fenômeno social generalizado e geograficamente universal,
não havendo nenhum continente que escape dessa realidade.
2. No brasil não é diferente. A alimentação do brasileiro está marcada por padrões dietéticos mais ou menos
incompletos e sem harmonia.
A grande extensão territorial, com seus diferentes tipos de solo e de clima, com seus múltiplos quadros
paisagísticos, nos quais vêm trabalhando, há séculos, grupos humanos de distintas linhagens étnicas e de
diferentes tintas culturais, não poderia permitir que se constituísse, em todo o território nacional, um tipo
uniforme de alimentação.
Das cinco diferentes áreas que formam o mosaico alimentar brasileiro, três são nitidamente áreas de fome: a
Área Amazônica, a da Mata e a do Sertão Nordestino.

Amazônia
1. A região da Amazônia representa, sob o ponto de vista ecológico, um tipo unitário de área alimentar muito
bem caracterizado, tendo como alimento básico a farinha de mandioca. Nesta região florestal vivem
disseminados seis milhões de pessoas.Geograficamente esta paisagem natural é a mais vasta área de floresta
equatorial do mundo.
Na alarmante desproporção entre a desmedida extensão das terras amazônicas e a exigüidade de gente, reside a
primeira tragédia geográfica da região. Região com uma população de tipo homeopático, formada de gotas de
gente salpicadas a esmo na imensidade da floresta, numa proporção que atinge em certas zonas à concentração
ridícula de um habitante para cada quilômetro quadrado de superfície.
2. Com estes parcos recursos constitui-se o tipo de alimentação do homem da Amazônia.
Alimentação pouco trabalhada e pouco atraente, apresentando até hoje em suas características uma
predominância manifesta da influência cultural indígena sobre a das outras culturas, a portuguesa e a negra, que
também participaram de sua formação.
A grande riqueza do Amazonas vem caindo muito pela devastação que a espécie tem sofrido.
A floresta é um impedimento à criação de gado. As árvores frondosas, com as copas cerradas impedindo
completamente a penetração da luz, não permitem o crescimento da vegetação rasteira que forma as pastagens.

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Por outro lado, o clima local, com seu excesso de umidade, predispõe o gado à ação maléfica dos insetos
transmissores de doenças que o afetam duramente.
A pecuária está praticamente limitada a essas pequenas áreas de campos abertos, uma situada na Ilha de Marajó,
na foz do rio, outra no alto Amazonas, na região do Rio Branco, além das de Mato Grosso e Goiás.
A análise biológica e química da dieta amazônica revela um regime alimentar com inúmeras deficiências
nutritivas.
Tem-se logo a impressão da sua impropriedade na extrema pobreza, ou mesmo ausência, de alguns dos
alimentos protetores, da carne, do leite, do queijo, da manteiga, dos ovos, das verduras e das frutas.
Tem-se outra imagem da insuficiência na sua exigüidade quantitativa.
3. Qualquer tipo de regime alimentar, para ser considerado racional, quaisquer que sejam as substâncias
alimentares que entrem em sua formação, deve ser suficiente, completo e harmônico.
Deve conter um total de energia correspondente às despesas do organismo, a fim de ser julgado suficiente.
É preciso levar em consideração, na análise do problema regional, certas condições geográficas locais: a
influência do clima sobre o metabolismo, sobre o ritmo das trocas energéticas e, consequentemente, sobre as
necessidades calóricas do homem, habitante dos climas trópico-equatoriais.
A partir dos estudos realizamos no Brasil conclui-se que esta baixa do metabolismo é conseqüência direta do
clima pela temperatura e umidade relativa do ar.
4. Os defeitos qualitativos deste tipo de alimentação são ainda mais graves.
Trata-se de uma alimentação incompleta, com deficiências de elementos nutritivos das mais variadas categorias.
Deficiências em proteínas, em sais minerais e em vitaminas.
O déficit protéico resulta da quase que ausência absoluta, no regime alimentar desta gente, das fontes de
proteínas animais: carne, leite, queijo e ovos. São também raras as diarréias de fome, que resultam das grandes

carências protéicas e que têm sido observadas com freqüência nas grandes epidemias de fome, ou como as de
certas épocas de seca no Nordeste do Brasil.
5. Ao lado das deficiências protéicas ocorrem certas deficiências em sais minerais de efeitos bem graves para as
populações amazônicas. O primeiro fator dessas carências minerais é a pobreza do solo regional nesses
elementos, à qual já tivemos ocasião de aludir.
É que as condições climáticas, maravilhosamente propícias na região à vida vegetal, por seu excesso constante
de temperatura e de umidade, contrabalançam a precariedade das condições desfavoráveis do solo. Em ecologia,
o equilíbrio resultante para a vida da planta é sempre produto de um jogo complicado de compensações. De
dependências mútuas entre os fatores climáticos, do solo e do meio biótico.
Os vegetais nativos ou plantados neste solo possuem quase sempre um teor mineral mais baixo do que o teor
médio das espécies congêneres que vegetam em outros tipos de solos mais ricos, e aí reside o primeiro fator
condicionante da pobreza em sais minerais da alimentação regional.
O problema da fome de sódio é, portanto, um problema da mais alta importância na vida tanto econômica como
social dos grupos humanos que habitam as regiões equatoriais e tropicais.
6. Como faltam a esse regime regional quantidades adequadas de sais minerais, também faltam, as mais das
vezes, doses apropriadas de vitaminas. É verdade que se trata raramente de carências totais, de absoluta ausência

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desses princípios, acarretando o que se chama de avitaminoses típicas. São muito mais freqüentes os estados de
deficiência parcial, chamados de hipoavitaminoses ou de avitaminoses latentes e frustas.
7. Com estes defeitos mais graves, com suas reservas umas bem, outras mal aproveitadas, a região amazônica
fornece subsistência às suas populações ralas e qualitativamente inferiorizadas, com suas deficiências
alimentares já apontadas e com suas características antropofisiológicas um tanto precárias.
8. Para melhorar as condições alimentares da área amazônica faz-se necessário todo um programa de
transformações econômico-sociais na região.
A conquista de qualquer tipo de terra pela colonização é sempre o resultado de uma luta lenta e tenaz entre o
homem e os impedimentos do meio geográfico.
Apesar dos investimentos feitos e dos esforços despendidos, continua a Amazônia a ser uma região marginal no
conjunto da economia nacional, apresentando níveis de renda proporcionalmente tão baixos em relação aos
níveis nacionais quanto no inicio da execução do Plano, o que só pode se explicar pela falta de capacidade e de
idoneidade dos dirigente.» deste plano de recuperação regional.

Nordeste açucareiro
1. Poucas regiões do mundo se prestam tão bem para um ensaio de natureza ecológica como a do Nordeste
açucareiro, com sua típica paisagem natural, tão profundamente alterada, em seus traços geográficos
fundamentais, pela ação do elemento humano.
2. Descobrindo cedo que as terras do Nordeste se prestavam maravilhosamente ao cultivo da cana-de-açúcar, os
colonizadores sacrificaram todas as outras possibilidades ao plantio exclusivo da cana. Aos interesses da sua
monocultura intempestiva, destruindo quase que inteiramente o revestimento vivo, vegetal e animal da região,
subvertendo por completo o equilíbrio ecológico da paisagem e entravando todas as tentativas de cultivo de
outras plantas alimentares no lugar, degradando ao máximo, deste modo, os recursos alimentares da região.
3. O processo de transformação e de desvalorização que a cana realizou no Nordeste começou pela destruição da
floresta, abrindo com as queimadas as clareiras para seu cultivo, alargando depois estes claros para extensão de
seus canaviais por terras sem fim.
4. De fato, os primeiros colonos portugueses que chegaram às costas do Nordeste brasileiro traziam consigo a
tradição de um bom tipo de regime alimentar. Tipo de alimentação ibérica, caracterizado principalmente por sua
riqueza e variedade de vegetais — de frutas, legumes e verduras — produtos do cultivo intensivo, fino e
delicado da horta e do pomar, cultivo introduzido na península pelos invasores árabes e transmitido através de
séculos a portugueses e espanhóis.

5. A influência do índio foi bem mais favorável, embora quase que se limitando “em nos dar a conhecer a
matéria-prima, por assim dizer, de que se serviam no preparo das refeições”, sem impor os seus hábitos e os
seus processos rudimentares de cozinha, muito distanciados dos hábitos europeus.
6. Outra influência favorável — a mais expressiva e valorizadora dos hábitos alimentares desta região — foi,
sem nenhuma dúvida, a do negro. A do escravo negro importado da África, em cuja área natural tinha obtido,
pelo cultivo de variadas plantas, um regime alimentar dos mais saudáveis.
7. No Brasil, a resistência dos índios abstencionistas e dos negros rebeldes dos quilombos, e mesmo dos colonos

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brancos e mestiços mais pobres desprovidos de terras, não deu para vencer a força opressiva do latifundiarismo.
8. Qualitativamente, o regime local se revelou em nosso inquérito com um excesso proporcional de
hidrocarbonados, como quase sempre ocorre nas regiões tropicais do mundo, e com uma deficiência patente em
proteínas.
9. Desta alimentação precária resultam graves conseqüências para as populações nordestinas: umas específicas,
presas em relação de causa e efeito às diferentes carências que a dieta acarreta; outras inespecíficas, refletindo,
porém, a miséria orgânica a que o meio social reduziu o homem da bagaceira.
Gilberto Freire: os mais bem alimentados na região sempre foram os representantes dos dois extremos
econômicos: o senhor de engenho e o escravo; o senhor alimentando bem o escravo para que ele produzisse
mais.
10. Outra conseqüência específica e das mais graves desse tipo de dieta é sua carência permanente de proteínas,
a falta de ácidos aminados em quantidades adequadas ao perfeito desenvolvimento e equilíbrio do indivíduo.
11. Muito contribuíram para o desamor do camponês pelas frutas do Nordeste, os tabus, as interdições de toda
ordem criadas contra as mesmas e hoje enraizadas na alma do povo.
12. Das carências minerais, a mais generalizada e patente é a carência de ferro, manifestando-se sob a forma de
anemia alimentar. Anemia que faz dos brejeiros uns tipos pálidos, chamados pejorativamente de amarelos pelos
habitantes de outras zonas, principalmente pelos sertanejos de sangue, mais rico, com melhores cores na cara; e
que constitui um verdadeiro característico antropológico dessa gente, com sua pobreza de hemoglobina por falta
de ferro e com seu sangue já ralo, espoliado pela verminose e pelo paludismo, que são endêmicos nessa região.
13. Como conseqüência inevitável dessa fome crônica de ferro e de alguns outros elementos minerais, decorre a
grande incidência do fenômeno da geofagia
14. No que diz respeito às manifestações de avitaminoses, não são elas tão abundantes como seria de esperar
tomando-se em conta apenas a análise dos elementos que entram na composição da dieta básica.
15. O quadro das avitaminoses mais comuns do Nordeste está longe de ser um quadro de impressionante riqueza
nosológica e desaponta mesmo os teorizantes do assunto, informados, um tanto por alto, dos hábitos alimentares
da região.
16. Se as manifestações clínicas, específicas, da desnutrição do Nordeste não são aparentemente das mais
alarmantes, o mesmo não se dá com as suas conseqüências indiretas, evidenciáveis através de certos índices bio-
estatísticos da região.
17. Condições de vida mais ou menos idênticas, com um mesmo tipo de regime alimentar defeituoso e as
mesmas calamitosas conseqüências apresentadas na área do açúcar, vamos encontrar na área do cacau.

Sertão do Nordeste
1. Com o estudo da Amazônia e do Nordeste açucareiro foram apresentadas duas áreas de fome endêmica no
Brasil. Áreas geográficas com populações locais submetidas permanentemente a um regime de subalimentação e
de carência, exibindo em várias de suas características a marca desta dura contingência biológica.
2. O característico fundamental desta extensa área geográfica é o seu clima semi-árido. Clima tropical, seco,
com chuvas escassas e principalmente irregulares.
3. No solo do sertão, em geral pouco espesso, erodido periodicamente pelas torrentes esporádicas e

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condicionado por este clima com suas eventuais descontinuidade de chuvas, desenvolvem-se tipos de vegetação
que permitem aos geógrafos a caracterização de três subáreas climato-botânicas: o agreste, a caatinga e o alto
sertão.
4. Também a fauna do sertão fornece poucos recursos alimentares. Os rios e os próprios açudes, hoje bastante
disseminados na região, têm as suas águas bem mais pobres em peixes do que as da zona da mata.
5. Diante destas parcas reservas e das condições pouco atrativas da paisagem, que possibilidades viram nesta
região os seus primeiros desbravadores? Foi o espírito de aventura, o instinto de liberdade, de que nos fala
Capistrano de Abreu, e a ambição do ouro e das pedras preciosas que levaram os primeiros aventureiros a terras
tão distantes do litoral.
6. À base da criação de gado e da agricultura de sustentação e de certos recursos um tanto escassos do meio
ambiente — da caça e da pesca —, o sertanejo, usando métodos de preparo e de cozinha apreendidos de outro
continente, adaptando, até certo ponto, muitos deles aos novos ingredientes da terra, criou um tipo de
alimentação característico.
7. Caracterizada em seus principais componentes a alimentação do sertanejo e conhecida a sua relativa
abundância em certos alimentos protetores, como o leite e a carne, bem assim a sua pobreza evidente em outros,
como as frutas e as verduras, passaremos agora a analisar este regime como um todo unitário, que abastece o
homem do sertão nos princípios nutritivos de que ele necessita para sobreviver
8. Qualitativamente, é este um regime sem falhas muito graves. Já vimos que o teor de proteínas é relativamente
alto e subscrito em boa parte por várias espécies de proteínas completas: da carne, do leite e do queijo.
9. Com as secas desorganiza-se completamente a economia regional e instala- se a fome no sertão. Os seus
efeitos sempre desastrosos são de amplitude variada, conforme se trate de seca parcial, limitada a pequena área,
ou uma grande seca, abrangendo considerável extensão, ou, finalmente, de uma seca excepcional, das que
atingem de vez em quando todo o sertão em bloco.
10. Fazem parte desta dieta forçada dos flagelados pela seca inúmeras substâncias bem pouco propícias à
alimentação, das quais os habitantes de outras zonas do país nunca ouviram falar que fossem alimentos.
Substâncias de sabor estranho, algumas tóxicas, outras irritantes, poucas possuindo qualidades outras além da de
enganar por mais algumas horas a fome devoradora, enchendo o saco do estômago com um pouco de celulose.
11. Assim, esgotadas as suas esperanças e reservas alimentares de toda ordem, iniciam os sertanejos a retirada,
despejados do sertão pelo flagelo implacável. Sem água e sem alimentos, começa o terrível êxodo.
12. Neste estado de penúria orgânica, os retirantes perdem toda a sua resistência e capacidade de defesa contra
os agentes mórbidos de toda categoria, principalmente os de natureza infectuosa, e tornam-se presas fáceis de
inúmeras doenças.
13. Não é somente agindo sobre o corpo dos flagelados, roendo-lhes as vísceras e abrindo chagas e buracos na
sua pele, que a fome aniquila a vida dos sertanejos, mas também atuando sobre o seu espírito, sobre sua
estrutura mental, sobre sua conduta social.
14. Tivemos diante dos nossos olhos, expostos em seus traços mais marcantes, os retratos dos dois nordestes e
através desses quadros uma tentativa de interpretação do fenômeno da fome nestas regiões. Interpretação que
merece uma análise mais circunstancial dentro do critério geográfico do regional. O estudo do regionalismo
veio trazer uma nova e fecunda vitalidade à velha ciência geográfica que permaneceu até o começo do nosso

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século numa atitude de estéril academicismo.


Ultrapassamos a fase de nos lamentar alcançando a fase das reivindicações formuladas em termos de economia
e de interesses realmente nacionais. Pouco a pouco este novo organismo tomará corpo enveredará pelo caminho
das realizações práticas que atendam objetivamente às necessidades regionais e aos interesses nacionais.

Centro e Sul (áreas de subnutrição)


1. Neste último capítulo o autor apresenta o estudo das duas restantes áreas alimentares do Brasil — a Área
Central e a Área do Sul — nas quais as deficiências alimentares são mais discretas e menos generalizadas: não
são áreas de fome, no sentido rigoroso da palavra, mas áreas de subnutrição, de desequilíbrio e de carências
parciais, restritas a determinados grupos ou classes sociais.
2. Abrangendo as terras do Centro-Oeste brasileiro encontramos uma nova área alimentar típica, tendo como
alimento básico o milho, diferenciando-se, no entanto, da área do sertão nordestino pelas associações com que
este alimento se combina a diferentes outras substâncias alimentares.
3. A área do Sul que abrange geograficamente o Estado da Guanabara, o Estado do Rio, São Paulo, Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, é caracterizada por uma maior variedade de elementos componentes do seu
regime alimentar e pelo consumo mais alto das verduras e das frutas. Sendo a zona mais rica do país, de maior
desenvolvimento, tanto agrícola como industrial, compreendendo 80% da capacidade econômica de toda a
nação, não é de estranhar que disponha de elementos para tornar um tanto mais elevado o seu padrão alimentar
O
O Sul é realmente uma zona de subnutrição crônica, cujas populações, embora libertadas em sua maioria das
formas mais graves da fome, estão no entanto longe de gozar dos benefícios de um metabolismo perfeitamente
equilibrado.

ESTUDO DO CONJUNTO BRASILEIRO


O Brasil é realmente um dos países de fome no mundo atual. Tanto em seus quadros regionais como em seu
conjunto unitário, sofre o Brasil as duras conseqüências dessa condição biológica aviltante de sua raça e de sua
organização social.
A fome no Brasil é conseqüência de seu passado histórico, com os seus grupos humanos, sempre em luta e
quase nunca em harmonia com os quadros naturais.
A situação de desajustamento econômico e social foi conseqüência da inaptidão do Estado Político para servir
de poder equilibrante entre os interesses privados e o interesse coletivo.
Os governos se mostraram quase sempre incapazes para impedir esta voraz interferência dos monopólios
estrangeiros na marcha da nossa economia.
Diante da fraqueza do poder político central, os interesses colonialistas manipularam no sentido de que o
progresso econômico se limitasse a ampliar os lucros de um pequeno número de proprietários agrícolas,
associados em sua aventura colonial, sem atingir entretanto o conjunto da população.
O colonialismo promoveu pelo mundo uma certa forma de progressos, mas sempre a serviço dos seus lucros
exclusivos, ou quando muito associado a um pequeno número de nacionais privilegiados que se desinteressavam
pelo futuro da nacionalidade, pelas aspirações políticas, sociais e culturais da maioria. Daí o desenvolvimento

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anômalo, setorial, limitado a certos setores mais rendosos, de maior atrativo para o capital especulativo,
deixando no abandono outros setores básicos, indispensáveis ao verdadeiro progresso social.
Por trás desta estrutura com aparência de progresso permaneceram o latifúndio improdutivo, o sistema da
grande plantação escravocrata, o atraso, a ignorância, o pauperismo, a fome.
Promover o desenvolvimento econômico-social autêntico será antes de tudo procurar atenuar esses desníveis,
através de uma melhor distribuição da riqueza e de um mais justo critério de investimentos nas diferentes
regiões e nos diferentes setores das atividades econômicas do país.
É esta economia de dependência, de dependência total do Nordeste e da Amazônia ao sistema econômico de
outras áreas do país, que mantém inalteráveis as manchas negras da fome nessas áreas.
Possuirmos uma indústria de alto padrão moderno e uma agricultura de índole feudal, apegada à rotina, a mais
conservadora.
Apesar de todos os nossos significativos sucessos no campo do progresso econômico, de nossa indústria pesada,
de nossa indústria de automóveis, de Brasília e de outras metas surpreendentemente alcançadas, ainda somos um
país de fome, ainda somos uma das grandes áreas da geografia universal da fome.
O desenvolvimento econômico constitui hoje uma idéia-força dinamizando a vontade de nosso povo, desejoso
de participar ativamente nesse processo de transformação de nossa economia e atento em controlar de perto os
resultados desse esforço coletivo.
Urge corrigir este desequilíbrio que está a ameaçar todo o esforço de integração de nosso sistema econômico,
fazendo-o perder uma boa parte da substância de sua capacidade produtiva.
No atual momento da conjuntura econômica brasileira começamos a presenciar o fato inegável de que o atraso
da agricultura nacional se constitui como um fator de estrangulamento da própria economia industrial. Só
poderemos manter o ritmo de expansão da indústria brasileira e dar-lhe garantia de sobrevivência se cuidarmos
melhor de expandir e de consolidar a nossa economia agrícola.
O que alguns sociólogos chamam de “cidades inchadas” são uma demonstração evidente de que, longe de se
atenuar, se vai agravando no Brasil nos últimos tempos o desequilíbrio entre a cidade e o campo
Urge também que sejam tomadas medidas contra o excesso do poder econômico, de forma a distribuir melhor as
cotas de sacrifício que hoje pesam quase que exclusivamente nas classes menos favorecidas, assoberbadas e
consumidas em face do devastador aumento do custo de vida.
O principal impedimento a ser superado é sem nenhuma dúvida a rigidez do preceito constitucional , que
garante o direito de propriedade, só admitindo sua desapropriação mediante o pagamento prévio em dinheiro
pelo justo valor.
O “justo valor” for entendido como preço de mercado, segundo a tradição privativista de nossos tribunais, torna-
se praticamente inviável qualquer reforma agrária, sem prévia reforma constitucional, em face da soma fabulosa
de recursos necessários para desapropriar largos tratos de terra.
Precisamos enfrentar o tabu da reforma agrária — assunto proibido, escabroso, perigoso — com a mesma
coragem com que enfrentamos o tabu da fome. Ao lado da estrutura agrária, há outros impedimentos estruturais

a vencer.
Não é só a infra-estrutura agrária que está superada, mas também os processos de distribuição da produção

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agrícola com sua rede interminável dos intermediários e atravessadores.


Impõe-se uma política que, acelerando o processo de desenvolvimento, quebrando as mais reacionárias forças
de contenção que impedem o acesso à economia do país a grupos e setores grandes da nacionalidade, venham a
criar os meios indispensáveis à elevação dos nossos padrões de alimentação.
Impõe-se uma política que, acelerando o processo de desenvolvimento, quebrando as mais reacionárias forças
de contenção que impedem o acesso à economia do país a grupos e setores grandes da nacionalidade, venham a
criar os meios indispensáveis à elevação dos nossos padrões de alimentação.

Resumo:
Josué de Castro propõe um estudo sobre a fome que é um problema antigo que que põe em jogo a própria
sobrevivência da espécie humana, mas que as gerações passadas parecem terem preferido não se aprofundar.
Em Geografia a da fome, o autor descreve e analise a questão nutricional característica de cinco diferentes áreas
que formam o mosaico alimentar brasileiro, três são nitidamente áreas de fome: a Área Amazônica, a da Mata e
a do Sertão Nordestino e complementa com as regiões da área Central e a área do Sul. Muitas das regiões
apresentam deficiencias nutricionais nos grupos alimentares cotidiano. O autor também alerta sobre a questão da
distribuição agrária que impede a viabilização de culturas mais ricas. Para ele a questão da fome não se tratava
do quantitativo de alimentos ou do número de habitantes, mas sim da má distribuição das riquezas, concentradas
cada vez mais nas mãos de menos pessoas. A solução apontada pelo autor foi a ampliação da produção de
alimentos , com distribuição não só de recursos e da terra, especialmente, para os trabalhadores produzirem nela,
a partir da reforma agrária.

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