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Sem T tulo 5 22/03/2023 13:38

Centro e Sul (áreas de subnutrição)


1. Neste último capítulo o autor apresenta o estudo das duas restantes áreas alimentares do Brasil — a Área
Central e a Área do Sul — nas quais as deficiências alimentares são mais discretas e menos generalizadas: não
são áreas de fome, no sentido rigoroso da palavra, mas áreas de subnutrição, de desequilíbrio e de carências
parciais, restritas a determinados grupos ou classes sociais.
2. Abrangendo as terras do Centro-Oeste brasileiro encontramos uma nova área alimentar típica, tendo como
alimento básico o milho, diferenciando-se, no entanto, da área do sertão nordestino pelas associações com que
este alimento se combina a diferentes outras substâncias alimentares.
3. A área do Sul que abrange geograficamente o Estado da Guanabara, o Estado do Rio, São Paulo, Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, é caracterizada por uma maior variedade de elementos componentes do seu
regime alimentar e pelo consumo mais alto das verduras e das frutas. Sendo a zona mais rica do país, de maior
desenvolvimento, tanto agrícola como industrial, compreendendo 80% da capacidade econômica de toda a
nação, não é de estranhar que disponha de elementos para tornar um tanto mais elevado o seu padrão alimentar
O
O Sul é realmente uma zona de subnutrição crônica, cujas populações, embora libertadas em sua maioria das
formas mais graves da fome, estão no entanto longe de gozar dos benefícios de um metabolismo perfeitamente
equilibrado.

ESTUDO DO CONJUNTO BRASILEIRO


O Brasil é realmente um dos países de fome no mundo atual. Tanto em seus quadros regionais como em seu
conjunto unitário, sofre o Brasil as duras conseqüências dessa condição biológica aviltante de sua raça e de sua
organização social.
A fome no Brasil é conseqüência de seu passado histórico, com os seus grupos humanos, sempre em luta e
quase nunca em harmonia com os quadros naturais.
A situação de desajustamento econômico e social foi conseqüência da inaptidão do Estado Político para servir
de poder equilibrante entre os interesses privados e o interesse coletivo.
Os governos se mostraram quase sempre incapazes para impedir esta voraz interferência dos monopólios
estrangeiros na marcha da nossa economia.
Diante da fraqueza do poder político central, os interesses colonialistas manipularam no sentido de que o
progresso econômico se limitasse a ampliar os lucros de um pequeno número de proprietários agrícolas,
associados em sua aventura colonial, sem atingir entretanto o conjunto da população.
O colonialismo promoveu pelo mundo uma certa forma de progressos, mas sempre a serviço dos seus lucros
exclusivos, ou quando muito associado a um pequeno número de nacionais privilegiados que se desinteressavam
pelo futuro da nacionalidade, pelas aspirações políticas, sociais e culturais da maioria. Daí o desenvolvimento
anômalo, setorial, limitado a certos setores mais rendosos, de maior atrativo para o capital especulativo,
deixando no abandono outros setores básicos, indispensáveis ao verdadeiro progresso social.
Por trás desta estrutura com aparência de progresso permaneceram o latifúndio improdutivo, o sistema da
grande plantação escravocrata, o atraso, a ignorância, o pauperismo, a fome.
Promover o desenvolvimento econômico-social autêntico será antes de tudo procurar atenuar esses desníveis,

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através de uma melhor distribuição da riqueza e de um mais justo critério de investimentos nas diferentes
regiões e nos diferentes setores das atividades econômicas do país.
É esta economia de dependência, de dependência total do Nordeste e da Amazônia ao sistema econômico de
outras áreas do país, que mantém inalteráveis as manchas negras da fome nessas áreas.
Possuirmos uma indústria de alto padrão moderno e uma agricultura de índole feudal, apegada à rotina, a mais
conservadora.
Apesar de todos os nossos significativos sucessos no campo do progresso econômico, de nossa indústria pesada,
de nossa indústria de automóveis, de Brasília e de outras metas surpreendentemente alcançadas, ainda somos um
país de fome, ainda somos uma das grandes áreas da geografia universal da fome.
O desenvolvimento econômico constitui hoje uma idéia-força dinamizando a vontade de nosso povo, desejoso
de participar ativamente nesse processo de transformação de nossa economia e atento em controlar de perto os
resultados desse esforço coletivo.
Urge corrigir este desequilíbrio que está a ameaçar todo o esforço de integração de nosso sistema econômico,
fazendo-o perder uma boa parte da substância de sua capacidade produtiva.
No atual momento da conjuntura econômica brasileira começamos a presenciar o fato inegável de que o atraso
da agricultura nacional se constitui como um fator de estrangulamento da própria economia industrial. Só
poderemos manter o ritmo de expansão da indústria brasileira e dar-lhe garantia de sobrevivência se cuidarmos
melhor de expandir e de consolidar a nossa economia agrícola.
O que alguns sociólogos chamam de “cidades inchadas” são uma demonstração evidente de que, longe de se
atenuar, se vai agravando no Brasil nos últimos tempos o desequilíbrio entre a cidade e o campo
Urge também que sejam tomadas medidas contra o excesso do poder econômico, de forma a distribuir melhor as
cotas de sacrifício que hoje pesam quase que exclusivamente nas classes menos favorecidas, assoberbadas e
consumidas em face do devastador aumento do custo de vida.
O principal impedimento a ser superado é sem nenhuma dúvida a rigidez do preceito constitucional , que
garante o direito de propriedade, só admitindo sua desapropriação mediante o pagamento prévio em dinheiro
pelo justo valor.
O “justo valor” for entendido como preço de mercado, segundo a tradição privativista de nossos tribunais, torna-
se praticamente inviável qualquer reforma agrária, sem prévia reforma constitucional, em face da soma fabulosa
de recursos necessários para desapropriar largos tratos de terra.
Precisamos enfrentar o tabu da reforma agrária — assunto proibido, escabroso, perigoso — com a mesma
coragem com que enfrentamos o tabu da fome. Ao lado da estrutura agrária, há outros impedimentos estruturais

a vencer.
Não é só a infra-estrutura agrária que está superada, mas também os processos de distribuição da produção
agrícola com sua rede interminável dos intermediários e atravessadores.
Impõe-se uma política que, acelerando o processo de desenvolvimento, quebrando as mais reacionárias forças
de contenção que impedem o acesso à economia do país a grupos e setores grandes da nacionalidade, venham a
criar os meios indispensáveis à elevação dos nossos padrões de alimentação.
Impõe-se uma política que, acelerando o processo de desenvolvimento, quebrando as mais reacionárias forças

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de contenção que impedem o acesso à economia do país a grupos e setores grandes da nacionalidade, venham a
criar os meios indispensáveis à elevação dos nossos padrões de alimentação.

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