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Sem T tulo 22/03/2023 13:36

ATIVIDADE 1: FICHAMENTO
LIVRO: GEOGRAFIA DA FOME - JOSUÉ DE CASTRO

Introdução
Quando falamos de fome, a imagem na nossa consciência de homens civilizados são imagens típicas do
Extremo Oriente. Mas esta não é a realidade. É um fenômeno social generalizado e geograficamente universal,
não havendo nenhum continente que escape dessa realidade.
2. No brasil não é diferente. A alimentação do brasileiro está marcada por padrões dietéticos mais ou menos
incompletos e sem harmonia.
A grande extensão territorial, com seus diferentes tipos de solo e de clima, com seus múltiplos quadros
paisagísticos, nos quais vêm trabalhando, há séculos, grupos humanos de distintas linhagens étnicas e de
diferentes tintas culturais, não poderia permitir que se constituísse, em todo o território nacional, um tipo
uniforme de alimentação.
Das cinco diferentes áreas que formam o mosaico alimentar brasileiro, três são nitidamente áreas de fome: a
Área Amazônica, a da Mata e a do Sertão Nordestino.

Amazônia
1. A região da Amazônia representa, sob o ponto de vista ecológico, um tipo unitário de área alimentar muito
bem caracterizado, tendo como alimento básico a farinha de mandioca. Nesta região florestal vivem
disseminados seis milhões de pessoas.Geograficamente esta paisagem natural é a mais vasta área de floresta
equatorial do mundo.
Na alarmante desproporção entre a desmedida extensão das terras amazônicas e a exigüidade de gente, reside a
primeira tragédia geográfica da região. Região com uma população de tipo homeopático, formada de gotas de
gente salpicadas a esmo na imensidade da floresta, numa proporção que atinge em certas zonas à concentração
ridícula de um habitante para cada quilômetro quadrado de superfície.
2. Com estes parcos recursos constitui-se o tipo de alimentação do homem da Amazônia.
Alimentação pouco trabalhada e pouco atraente, apresentando até hoje em suas características uma
predominância manifesta da influência cultural indígena sobre a das outras culturas, a portuguesa e a negra, que
também participaram de sua formação.
A grande riqueza do Amazonas vem caindo muito pela devastação que a espécie tem sofrido.
A floresta é um impedimento à criação de gado. As árvores frondosas, com as copas cerradas impedindo
completamente a penetração da luz, não permitem o crescimento da vegetação rasteira que forma as pastagens.
Por outro lado, o clima local, com seu excesso de umidade, predispõe o gado à ação maléfica dos insetos
transmissores de doenças que o afetam duramente.
A pecuária está praticamente limitada a essas pequenas áreas de campos abertos, uma situada na Ilha de Marajó,
na foz do rio, outra no alto Amazonas, na região do Rio Branco, além das de Mato Grosso e Goiás.
A análise biológica e química da dieta amazônica revela um regime alimentar com inúmeras deficiências
nutritivas.
Tem-se logo a impressão da sua impropriedade na extrema pobreza, ou mesmo ausência, de alguns dos

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alimentos protetores, da carne, do leite, do queijo, da manteiga, dos ovos, das verduras e das frutas.
Tem-se outra imagem da insuficiência na sua exigüidade quantitativa.
3. Qualquer tipo de regime alimentar, para ser considerado racional, quaisquer que sejam as substâncias
alimentares que entrem em sua formação, deve ser suficiente, completo e harmônico.
Deve conter um total de energia correspondente às despesas do organismo, a fim de ser julgado suficiente.
É preciso levar em consideração, na análise do problema regional, certas condições geográficas locais: a
influência do clima sobre o metabolismo, sobre o ritmo das trocas energéticas e, consequentemente, sobre as
necessidades calóricas do homem, habitante dos climas trópico-equatoriais.
A partir dos estudos realizamos no Brasil conclui-se que esta baixa do metabolismo é conseqüência direta do
clima pela temperatura e umidade relativa do ar.
4. Os defeitos qualitativos deste tipo de alimentação são ainda mais graves.
Trata-se de uma alimentação incompleta, com deficiências de elementos nutritivos das mais variadas categorias.
Deficiências em proteínas, em sais minerais e em vitaminas.
O déficit protéico resulta da quase que ausência absoluta, no regime alimentar desta gente, das fontes de
proteínas animais: carne, leite, queijo e ovos. São também raras as diarréias de fome, que resultam das grandes

carências protéicas e que têm sido observadas com freqüência nas grandes epidemias de fome, ou como as de
certas épocas de seca no Nordeste do Brasil.

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