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Aproveitamento do
Soro de Leite nas
Agroindústrias
Francisco Beltrão
2018
Realização
UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Câmpus Francisco Beltrão
Departamento Acadêmico de Engenharia de Alimentos (DAEAL)
PROJETO DE EXTENSÃO
“Aproveitamento do Soro de Leite nas Agroindústrias”
APOIO
Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico
e Tecnológico do Estado do Paraná (FA)
UTFPR/DIREC-FB – Edital nº 12/2017 (Apoio a projetos de extensão universitária)
EMATER-PR – Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural
CAPA
Luciano André Trevisan
IMAGEM
freepik.com
Introdução...................................................................4
1 - Soro de Leite – Histórico, Definição e Classificação .5
2 - Produção e Mercado de Soro de Leite ................. 7
3 - Qualidade Nutricional do Soro de Leite e Benefícios
à Saúde.......................................................................9
4 - Aproveitamento Industrial do Soro de Leite ........ 11
5 - Propriedades Tecnológicas Funcionais das Proteínas
do Soro......................................................................17
6 - Aspectos Ambientais do Soro de Leite ................ 20
7 - Produtos com Soro de Leite – Receitas .............. 22
7.1 - Ricota................................................................22
7.2 - Bebida Láctea Fermentada .............................. 24
7.3 - Bebida Láctea Achocolatada............................. 25
7.4 - Bebida não Fermentada com Soro Ácido......... 27
7.5 - Doce Pastoso ...................................................27
7.6 - Bolo com Cobertura de Chocolate .................. 28
7.6.1 - Bolo................................................................29
7.6.2 - Cobertura.......................................................29
7.7 - Outras Formas de Utilização do Soro ............. 30
Referências...............................................................31
Introdução
Considerando a grande produção de leite e queijo
na região Sudoeste do Paraná, e consequentemente o
elevado volume de soro de leite que é gerado, alterna-
tivas viáveis para o aproveitamento desse soro pelas
agroindústrias são de fundamental importância.
Neste contexto, a UTFPR – Universidade Tecnológi-
ca Federal do Paraná, câmpus Francisco Beltrão, com
o apoio da Fundação Araucária (concessão de bolsa),
desenvolve o projeto de extensão “Aproveitamento do
soro de leite nas agroindústrias”. Este projeto contem-
pla um trabalho com os produtores de queijo da região,
através do diagnóstico no que se refere à utilização e/
ou venda do soro gerado pelas agroindústrias e orienta-
ção quanto à qualidade nutricional, benefícios à saúde,
aspectos ambientais e formas de aproveitamento do
soro de leite.
O aproveitamento do soro na elaboração de produtos
alimentícios pode ser uma nova fonte de renda para
as agroindústrias e contribui para a utilização desse
subproduto na alimentação humana. Além disso, a pro-
dução de outros alimentos a partir do soro diminui o seu
descarte inadequado, reduzindo seu potencial poluidor.
Esta publicação tem como objetivo auxiliar nos trei-
namentos previstos no projeto, bem como ser material
de consulta para os produtores e demais interessados.
Equipe:
4
1 - Soro de Leite – Histórico, Definição
e Classificação
Há 7 mil anos atrás, o soro de leite era utilizado para
fins medicinais, no tratamento de infecções, cicatrização
de feridas e doenças gastrointestinais (Hipócrates 460
a.C.), bem como no preparo de bebidas funcionais. Nos
séculos XVII, XVIII e XIX, o soro foi uma alternativa à
água para o banho. No século XX, juntamente com a
rápida expansão da fabricação de produtos lácteos,
os volumes de soro aumentaram e começou a ser
considerado pelos queijeiros como um resíduo e um
problema para o meio ambiente. Durante grande parte
do século XX, a indústria buscou o método mais barato
de descarte do soro de leite, que geralmente envolve a
descarga em cursos d’água, tratamento de esgotos e/
ou no solo. Felizmente, na segunda metade do século
XX, o conhecimento científico aliado a várias conquis-
tas tecnológicas tornaram possível transformar esse
produto, até então considerado de baixo valor, em uma
valiosa matéria-prima (SMITHERS, 2015; JULIANO et
al., 2017).
De acordo com o Regulamento da Inspeção Industrial
e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), o
soro de leite é o líquido obtido após a coagulação do leite
na fabricação de queijos (BRASIL, 2017). Apresenta-se
como um líquido opaco e de cor amarelo-esverdeada.
O leite possui em sua composição dois grupos de
proteínas principais, as quais são denominadas ca-
seínas e proteínas do soro. A coagulação do leite é a
transformação do seu estado líquido para o gel, onde
ocorre a modificação das micelas de caseína, fazendo
com que o leite se divida em duas fases (BELOTI, 2015).
5
A coagulação do leite pode acontecer de duas
maneiras. Na coagulação enzimática, são utilizadas
enzimas coagulantes ou o coalho. Quando o coalho
utilizado é de origem animal, também é chamado de
renina, composta pelas enzimas quimosina e pepsina.
No Brasil, é amplamente utilizada a quimosina obtida
pela fermentação de microrganismos específicos. Na
coagulação ácida, faz-se a acidificação do leite através
da adição de ácidos ou pela ação de bactérias láticas
(ORDÓÑEZ, 2005).
Alguns exemplos de queijos obtidos por coagulação
enzimática são o Colonial, Prato e Parmesão. Queijos
como Cottage e Quark são obtidos após a coagulação
ácida do leite. O soro obtido a partir de queijos de coa-
gulação enzimática é denominado soro doce, enquanto
o soro obtido após a coagulação ácida do leite, é cha-
mado soro ácido.
A composição do soro é derivada diretamente da
composição do leite e variável de acordo com o tipo
de queijo fabricado. Além disso, a qualidade do leite
utilizado, bem como seu manuseio e higiene na elabo-
ração do queijo determinam as características higiênico-
-sanitárias do soro, fundamentais para sua utilização na
elaboração de outros produtos.
No Brasil, a produção de soro é constituída quase
que exclusivamente de soro doce. As principais dife-
renças entre os dois tipos de soro são a acidez e o
conteúdo mineral. No soro ácido há um maior teor de
ácido lático e minerais como o cálcio e fósforo, devido à
solubilização do complexo cálcio-fósforo, existente nas
micelas de caseína, em pH ácido. A concentração de
lactose no soro ácido é menor do que no soro doce de-
vido ao processo de fermentação, pois parte da lactose
é transformada em ácido lático durante a formação da
coalhada (coagulação). Além disso, o soro doce contém
6
maior quantidade de peptídeos e aminoácidos livres,
por ser resultado da ação da enzima sobre a caseína.
A Tabela 1 apresenta a composição média dos soros
doce e ácido.
ß-lactoglobulina 3,0 60
α-lactoalbumina 1,2 20
Imunoglobulinas 0,5 12,5
Soroalbumina 0,3 5,5
Protease-peptonas 0,2 15
Proteínas minoritárias 0,1 0,5
Fonte: Ordóñez (2005).
10
Além das propriedades nutricionais, as proteínas do
soro apresentam efeitos promotores da saúde, como
ação antimicrobiana e antiviral, estímulo do sistema imu-
nológico, atividade antitrombótica e anticarcinogênica.
Atuam como protetores do sistema cardiovascular, com
efeitos antioxidante, anti-hipertensivo e hipocolesterolê-
mico, ou seja, diminuem o colesterol sanguíneo. Ainda,
apresentam benefício à atividade esportiva, melhorando
o desempenho físico, proporcionando maior resistência
à exaustão, auxiliam na redução de peso e aumento da
massa magra. Atribuem-se também às proteínas do soro
de leite atividades anti-inflamatória, de proteção e reparo
das células entéricas e ação antiúlcera (McINTOSH,
1998; MORENO, 2002; ROSANELI, 2002; COSTA,
2004; SGARBIERI, 2004; SGARBIERI, 2012).
4 - Aproveitamento Industrial
do Soro de Leite
O soro de leite é uma matéria-prima contemplada
por diversos setores da indústria de alimentos. O soro
doce possibilita mais alternativas de aproveitamento do
que o soro ácido, mas ambos podem ser aproveitados.
O uso limitado do soro ácido se deve ao seu sabor e
maior concentração de sais minerais.
Os produtos mais conhecidos por utilizar o soro
são as bebidas lácteas e a ricota. As bebidas lácteas
fermentadas são aquelas semelhantes ao iogurte, em
que ocorre a fermentação do leite e coagulação devido
à produção de ácido lático pelas bactérias ácido-láticas
(BAL). Nas bebidas lácteas não-fermentadas, não ocor-
re a acidificação, sendo que as mais conhecidas são os
achocolatados, mas podem ser elaboradas de diversos
11
sabores. O emprego do soro líquido em bebidas lácteas
pode ser uma opção viável para pequenas queijarias,
pois os investimentos são baixos e o produto final tem
um grande valor agregado e aceitação pelo consumi-
dor. É possível produzir bebidas lácteas utilizando soro
doce ou ácido. Geralmente o sabor do soro ácido é mais
compatível com os sucos e/ou polpas de frutas cítricas.
Existem muitas possibilidades de inovação, seja pelo
uso de frutas exóticas ou típicas de certas regiões, sucos
vegetais (como tomate, cenoura, etc.) ou pela adição
de ingredientes funcionais, como os prebióticos (fibras)
e probióticos (geralmente espécies de Lactobacillus e
Bifidobacterium).
A ricota é um tipo de queijo fresco feito a partir
da coagulação do soro doce pela adição de ácido e
aquecimento. É uma alternativa interessante de apro-
veitamento que não requer grandes instalações ou
equipamentos, nem investimentos. No entanto, dessa
produção ainda resta um volume de soro que também
pode ser aproveitado.
O soro também pode ser utilizado na fabricação de
doce pastoso, similar ao doce de leite. Além desses
produtos citados, o soro de leite é amplamente em-
pregado pela indústria de alimentos em vários outros,
como panificados, embutidos cárneos, chocolates, lei-
tes fermentados, molhos de saladas, fórmulas infantis,
sobremesas congeladas, bebidas para atletas e suple-
mentos alimentares.
Os produtos contendo soro têm elevado conteúdo de
lactose, devendo ser evitados por pessoas que apresen-
tam intolerância à lactose. No entanto, essa dificuldade
pode ser contornada através do uso da enzima lactase
nesses produtos, a qual hidrolisa a lactose, permitindo
o consumo por pessoas intolerantes.
12
O soro pode ser utilizado diretamente na forma
líquida, após adequado tratamento térmico. Após a
fabricação do queijo, o soro deve ser filtrado a fim de
remover partículas de caseína (finos) remanescentes.
No caso de não ser utilizado imediatamente, deve ser
pasteurizado e armazenado em condições adequadas
sob refrigeração por um período máximo de 24 horas.
O desnate do soro é opcional, de acordo com a finali-
dade de uso. O creme resultante pode ser usado para
fabricação de manteiga comum (Figura 2).
14
A lactose é outro componente do soro que também
pode ser separada. A lactose apresenta ampla aplicação
na indústria alimentícia, podendo ser adicionada em
produtos de confeitaria e panificação, alimentos para
bebês, adoçantes, entre outros. Na indústria farmacêuti-
ca, a lactose (grau farmacêutico) é usada como agente
inerte (excipiente) em medicamentos. A lactose também
pode ser utilizada como matéria-prima para produção
de GOS (galacto-oligossacarídeos) e lactulose, ingre-
dientes prebióticos que contribuem para o equilíbrio da
microbiota intestinal e promovem benefícios à saúde.
As vitaminas e os minerais obtidos após separação
das proteínas e lactose do soro podem ser utilizados
para fortificação de alimentos ou ainda na indústria far-
macêutica, dependendo da qualidade do produto. Além
disso, o soro de leite pode ser utilizado como substrato
de microrganismos na fermentação para obtenção de
produtos de grande relevância comercial, como etanol,
biogás (metano), ácido lático, etc. A Figura 3 apresenta
algumas das possíveis aplicações dos produtos de soro
de leite.
15
O processo de industrialização do soro, em geral,
requer a utilização de instalações industriais com um
determinado grau de complexidade, o que implica em
considerável investimento financeiro. Dessa forma, é
necessário que haja um volume mínimo de matéria-
-prima que justifique tal investimento. Entretanto, grande
parte do soro de leite gerado no Brasil é proveniente de
pequenas e médias queijarias, nas quais se torna difícil
o investimento em tecnologia necessária para o seu be-
neficiamento. Uma alternativa que vem se apresentando
como tendência é a instalação de unidades centrais de
processamento, que recebam o soro produzido pelas
queijarias de uma determinada região. Mesmo assim,
para viabilizar a indústria há a necessidade de se ter
uma otimização da coleta e transporte refrigerado desse
soro (ALVES et al., 2014; SILVA; BUENO; SÁ, 2017).
Em países como Argentina, Brasil, Colômbia e Uru-
guai, existem queijarias que transformam pequenos
volumes de leite em queijo (em média de 50 a 500 L/dia)
gerando, por sua vez, pequenas quantidades de soro de
leite. Nesses casos, a dispersão geográfica no território
e acesso a estradas não justificaria o transporte do soro,
em termos de distância, tempo e qualidade. Desta for-
ma, torna-se relevante buscar soluções alternativas de
natureza simples e de baixo custo que permitam gerar
valor agregado na própria microempresa/propriedade
(JULIANO et al., 2017).
A otimização do aproveitamento do soro é capaz de
promover o progresso social e econômico das regiões
queijeiras, através de empreendimentos locais que
permitam o desenvolvimento regional e geração de
emprego. Tendo em vista que na América Latina apro-
ximadamente 20% da população vive abaixo da linha
da pobreza e apresenta diferentes graus de deficiências
16
nutricionais, destinar o soro à alimentação animal e não
o incorporar à alimentação humana é um desperdício.
Assim, a elaboração de produtos de alto valor nutricional
com soro, é uma alternativa para melhorar a alimentação
e nutrição de populações economicamente desfavore-
cidas (JULIANO et al., 2017).
5 - Propriedades Tecnológicas
Funcionais das Proteínas do Soro
“Propriedade tecnológica funcional” refere-se a uma
propriedade físico-química que afeta o processamento e
o comportamento das proteínas em um alimento, julgada
pelos atributos de qualidade do produto final. A maior
parte dessas propriedades influencia as características
sensoriais do alimento (SGARBIERI, 2012).
As proteínas do soro de leite apresentam proprieda-
des como alta solubilidade, capacidade de dispersão,
retenção de água, formação de espuma, emulsificação,
geleificação e poder tamponante. Dessa forma, são in-
dicadas para inúmeras aplicações em alimentos, como
bebidas para atletas, barras de proteínas, fórmulas para
lactentes, produtos de panificação, lácteos, cárneos,
etc. (Quadro 1).
17
Quadro 1. Propriedades funcionais dos produtos de
soro de leite.
18
Função Benefício Aplicação
Realce de sabor Realça sabores Produtos de panifi-
cação
Bebidas
Confeitos
Produtos lácteos
Carnes processa-
das
Lanches
Realce de sabor Mantém a umidade, Produtos de panifi-
Geleificante melhora textura e cação
sensação na boca Bebidas
Produtos lácteos
processados
Produtos à base de
carne e frutos do
mar
Neutralidade Sabor suave sem in- Confeitos
terferência no sabor Sobremesas conge-
do produto ladas
Enriquecimento Melhora valor nutri- Produtos de panifi-
nutricional cional do produto, cação
proporcionando pro- Bebidas
teína de alta quali- Produtos lácteos
dade e digestibilida- Fórmulas infantis
de, fonte de cálcio, Produtos à base de
vitaminas, minerais carne e frutos do
e compostos bioa- mar
tivos Sopas e molhos
Solubilidade Facilmente disper- Produtos de panifi-
sível na maioria dos cação
alimentos. Previne Bebidas
sedimentação em Confeitos
Sobremesas conge-
bebidas, sopas e ladas
molhos. Fórmulas infantis
Sopas e molhos
Iogurtes
19
Função Benefício Aplicação
Retenção de água e Fornece atributos de Produtos de
aumento da gordura, permitindo panificação
viscosidade uma redução no teor Bebidas
de gordura. Melhora Produtos lácteos
a textura, criando Produtos à base de
produtos mais carne e frutos do
viscosos e úmidos. mar
Cremes para café
Sopas e molhos.
Formação de Mantém proprieda- Produtos cozidos
espuma e aeração des de espuma, que como certos bolos,
aumenta o apelo cremes e
visual do produto merengues
acabado, como Confeitos
sabor e textura. Sorvetes e outras
Substituto da clara sobremesas
de ovo. congeladas .
6 - Aspectos Ambientais
do Soro de Leite
Devido à baixa concentração de matéria sólida (em
torno de 7 %), o soro de leite muitas vezes é consi-
derado um resíduo. No Brasil, grande parte do soro
não é aproveitado. Isto gera desperdícios nutricionais,
financeiros e impactos ambientais relevantes, pois o
soro tem elevado conteúdo de matéria orgânica (RECH,
2003; GAJO, 2016).
Quando o soro é descartado sem tratamento no meio
ambiente, apresenta elevado poder poluente. A Deman-
da Bioquímica de Oxigênio (DBO) do soro é de 30.000
- 50.000 mg de O2/L, valor cerca de 100 vezes maior
que a carga orgânica presente no esgoto doméstico. A
DBO é diretamente proporcional ao potencial poluidor
de um resíduo ou substância, sendo que a lactose é
20
a principal responsável pela elevada DBO do soro. A
DBO mede a quantidade de oxigênio necessária para
estabilizar biologicamente a matéria orgânica presente
em uma amostra, após um determinado tempo (5 dias)
e a uma dada temperatura (20°C). Um litro de soro exige
o O2 presente em 4.500 litros de água para despoluí-lo
(PESSOA; JORDÃO, 1982; MIZUBUTI, 1994; GIROTO;
PAWLOWSKI, 2001; RICHARDS, 2002).
O poder poluente de 50.000 L soro, volume facil-
mente gerado diariamente por uma empresa produtora
de queijo de médio porte, equivalem ao esgoto de uma
cidade de 25.000 habitantes. Quando descartado no
solo, o soro afeta a estrutura física e química deste,
diminuindo os rendimentos agrícolas; quando lançado
em rios, reduz a vida aquática, pois esgota o oxigênio
dissolvido (PANESAR et al., 2007).
O avanço tecnológico tem contribuído para o apro-
veitamento do soro, minimizando o impacto ambiental.
A conversão do soro de resíduo para insumo pode ser
considerada uma inovação na cadeia de produção
agroindustrial do leite (SGARBIERI, 2012). No entan-
to, os pequenos produtores ainda têm dificuldades na
utilização do soro de leite.
A maioria dos produtores de pequenas agroindús-
trias destinam todo o soro de leite gerado na fabricação
de queijos para alimentação de bovinos e suínos. Isso
tem sido relatado por diversos estudos em diferentes
regiões do Brasil. Porém, ainda há casos de descarte
do soro na natureza, considerado irregular por poluir o
solo e águas.
O tratamento do soro, como efluente, se torna inviá-
vel devido aos grandes volumes que são gerados diaria-
mente e ao elevado custo. Assim, a melhor alternativa é
buscar opções de reaproveitamento desse subproduto.
21
O descarte na natureza feito de maneira irregular
ocorre devido à falta de informação do produtor ou mes-
mo por outras dificuldades como falta de mão-de-obra
para aproveitamento, falta de equipamentos para sua
pasteurização e/ou refrigeração, deficiências no trans-
porte e distribuição do produto. Portanto, alternativas
tecnológicas de fácil execução e baixo custo para o
adequado aproveitamento do soro são fundamentais.
É necessário haver uma mudança cultural, em que
o soro deixe de ser visto como resíduo e passe a ser
matéria-prima na elaboração de outros produtos. Ainda,
é preciso fazer com que o consumidor conheça as pro-
priedades e os benefícios do consumo do soro de leite.
7.1 - Ricota
A ricota é um queijo fresco de origem italiana, de
sabor suave, obtida pela precipitação das proteínas a
partir do aquecimento e acidificação do soro de leite.
22
Possui alta digestibilidade, baixo teor de gordura e va-
lor calórico. Devido ao seu alto teor de umidade, tem
durabilidade baixa, cerca de cinco dias.
O soro deve ser fresco, com acidez de no máximo 13
°D. Soros mais ácidos podem precipitar precocemente,
e com isso pode haver uma diminuição do rendimento,
além de prejudicar a consistência do produto (fica mais
mole). A acidez do soro deve ser reduzida para 8-10°D,
com a adição de bicarbonato de sódio. Para isso, usa-se
a seguinte fórmula:
» Ingredientes
• 10 litros de soro de leite
• 2 litros de leite pasteurizado (opcional)
• 480 mL vinagre branco
» Tecnologia de fabricação
• Aquecer o soro de leite à temperatura de 70 °C;
• Adicionar o leite pasteurizado (2 litros);
• Continuar aquecendo até 90 ºC (ou até abrir
fervura);
23
• Acrescentar 480 mL de vinagre branco (4%; 400
mL para cada 10 litros de soro), misturar bem;
• Aguardar a formação dos primeiros flocos e des-
ligar o fogo;
• Deixar em repouso até completar a precipitação
(cerca de 10 minutos);
• Retirar a massa precipitada utilizando escuma-
deira/peneira e colocar na fôrma para escorrer;
• Levar à geladeira para resfriar;
• Embalar e rotular (opcional);
• Armazenar sob refrigeração.
» Tecnologia de fabricação
• Aquecer o soro até 70 ºC, sob agitação constante;
• Adicionar o leite;
• Quando a temperatura estiver a 45-50 ºC, adicio-
nar o leite em pó e o açúcar (previamente misturados);
• Manter a mistura (leite/soro, leite em pó e açúcar)
a 90 ºC/5 min. para pasteurização;
• Resfriar a 42 ºC (banho de gelo);
• Adicionar o iogurte natural e mexer;
• Deixar em repouso a 42 ºC até que ocorra a
coagulação (cerca de 4 horas);
• Resfriar (em banho de gelo) até 20-24 ºC e que-
brar o coágulo (por agitação com colher) até textura
homogênea;
• Adicionar o sabor (fruta, geleia...);
• Envasar e armazenar sob refrigeração.
» Tecnologia de fabricação
• Aquecer o soro até 70 ºC, sob agitação constante;
• Adicionar 50% (1,5 litros) do leite a ser utilizado;
• Adicionar o xarope (previamente preparado) sob
agitação constante;
• Pasteurizar a 80 ºC/10-15 min.;
• Resfriar (banho de gelo) a 3-5 ºC;
• Envasar e armazenar sob refrigeração.
» Elaboração do Xarope:
• Aquecer 50% (1,5 litros) do leite a ser utilizado
a 50 ºC;
• Adicionar os ingredientes secos (açúcar, cacau
e sal) previamente misturados;
• Misturar até completa dissolução;
• Aquecer até 75 ºC;
• Adicionar o xarope à mistura (leite/soro) sob
agitação constante.
26
7.4 - Bebida não Fermentada
com Soro Ácido
Essa bebida não fermentada é elaborada com o
soro ácido proveniente da fabricação da ricota. Pode
ser utilizado exclusivamente o soro ácido ou diferentes
proporções de soro ácido e soro doce (mistura).
» Tecnologia de fabricação
• Adicionar o açúcar ao soro e pasteurizar a 65 °C
por 30 minutos, sob agitação constante;
• Resfriar em banho de gelo;
• Adicionar o sabor;
• Se necessário, misturar com auxílio do liquidifi-
cador;
• Envasar e armazenar sob refrigeração.
27
» Ingredientes
• 1 litro de soro de leite
• 1 litro de leite
• 2 g de bicarbonato de sódio
• 400 g de açúcar
» Tecnologia de fabricação
• Colocar o leite e o soro em uma panela;
• Adicionar o bicarbonato de sódio e o açúcar;
• Agitar a mistura até dissolver;
• Levar a mistura ao fogo;
• O doce vai ficando cada vez mais “grosso e pe-
sado”;
• Tomar uma pequena amostra do doce e pingar
algumas gotas em um copo com água fria. Se as gotas
descerem até o fundo, sem se desmancharem, o doce
estará no ponto;
• Retirar da panela e bater o doce com a colher
até que esfrie um pouco;
• Despejar em vidro previamente esterilizado.
28
7.6.1 - Bolo
» Ingredientes
• 1 copo e meio de soro de leite
• 1 copo de açúcar
• 3 ovos
• 3 colheres (sopa) de margarina
• 3 copos de farinha de trigo
• 1 colher (sopa) de fermento químico
» Tecnologia de fabricação
• Na batedeira, misturar os ovos e o açúcar;
• Bater em velocidade baixa até o creme ficar claro;
• Após, adicionar a margarina e misturar;
• Adicionar aos poucos a farinha e o soro de leite
até ficar homogêneo;
• Misturar manualmente o fermento químico;
• Untar uma assadeira com margarina e polvilhar
farinha;
• Acrescentar a massa e levar ao forno a 200 ºC
por cerca de 1 hora.
7.6.2 - Cobertura
» Ingredientes
• 2 copos de soro de leite
• 1 copo de açúcar
• 1 copo de cacau/chocolate em pó
• 2 colheres de amido de milho
29
» Tecnologia de fabricação
• Dissolver o amido em um pouco de soro de leite;
• Colocar todos os ingredientes em uma panela e
levar ao fogo até engrossar, mexendo sempre.
Observações:
• O soro a ser usado deve ser fresco, de baixa
acidez. Então, assim que for obtido, o soro deve ser
guardado sob refrigeração e usado em seguida.
• Para uso do soro em alimentos não fervidos, é
indicado aquecer o soro até 60 °C por 30 minutos (pas-
teurização).
• O aquecimento do soro em temperaturas mais
elevadas causa a precipitação de suas proteínas (for-
mação de grumos).
• Se a salga do queijo for feita antes de retirar
o soro, o soro de leite será salgado e não poderá ser
usado em receitas doces. No uso em receitas salgadas,
ajustar a quantidade de sal a ser acrescentada.
30
Referências
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em: http://www.abiq.com.br/. Acesso em: 21 agosto 2018.
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Doce de Leite, Soro em Pó e Lácteos Funcionais. 1.ed. Rio de Janei-
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