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CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
CURSO DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS
Natal/RN
2019
FABRÍCIA DO CARMO LIMA
BANCA EXAMINADORA
_____________________________
Professora Dra. Kátia Cristina Borges - UFRN
_____________________________
Agradeço em primeiro lugar a Deus, fiel companheiro por ter me proporcionado a vida e ser meu
refúgio, fortalecendo em todas as ocasiões e aliviando as angústias. Acima de tudo, por fazer renascer
a paz e o equilíbrio que preciso nos momentos mais difíceis.
A meus pais e pessoas que também desempenham esse papel em virtude da ausência dos mesmos
(Tânia e Márcio), irmãos e à família, pela vida, pela formação e por tudo o que sou.
A meu namorado Denes Lucas por sempre está a meu lado dando força e me apoiando além de sempre
entender minha ausência e limitações.
Um agradecimento especial a professora Kátia Cristina, pela confiança, apoio, paciência, orientação
e dedicação.
Aos meus colegas de curso, pelos anos compartilhados dia após dia. Aos amigos (a) que fizemos no
curso, em especial a Lais Cristina e Renier Lima, que no transcorrer destes períodos se revelaram
pessoas incríveis com quem pude contar em alguns momentos.
Amigos geograficamente distantes, mas ao mesmo tempo tão próximos, os quais foram
indispensáveis nesse processo por sempre nos motivarem e incentivarem.
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho, que entenderam
minha ausências e limitações, que acreditaram que era possível e não me deixam desistir, meus
sinceros agradecimentos. E peço desculpas por não poder citar diretamente todas as pessoas que
gostaria.
LISTA DE FIGURAS
Tabela 1 - Proporção total de ingredientes para produção de 90 kg de doce de leite caprino ......... 26
Tabela 2 - Proporção total de ingredientes para produção de 90 kg de doce de leite caprino todos na
mesma unidade. .................................................................................................................................. 27
Tabela 3 - Calor específico (Cp) para cada componente do leite. .................................................... 34
Tabela 4 - Composição centesimal do leite....................................................................................... 34
Tabela 5 - Calor específico (Cp) para cada componente da sacarose. .............................................. 35
Tabela 6 - Composição centesimal para 100 gramas de sacarose. .................................................... 35
Tabela 7 - Calor específico (Cp) para cada componente do doce de leite. ....................................... 36
Tabela 8 - Composição centesimal para 100 gramas de doce de leite. ............................................. 36
Tabela 9 - Custos com matérias-primas e embalagens. .................................................................... 39
Tabela 10 - Custo previsto com mão de obra. ................................................................................... 40
Tabela 11 - Custos estimados com energia elétrica para a produção de uma batelada de 90 kg de doce
leite. .................................................................................................................................................... 41
Tabela 12 - Custo unitário para 200g de doce de leite caprino. ........................................................ 41
RESUMO
A caprinocultura vem despertando cada vez mais a atenção da comunidade cientifica, bem
como dos pequenos criadores em busca de conhecimento, de novas tecnologias de produção com
vistas ao melhor aproveitamento do leite da espécie. Apesar de sua importância social e econômica,
essa atividade ainda se caracteriza de forma extensiva em algumas regiões, com baixos níveis de
tecnologia e poucos produtos derivados disponíveis no mercado. Escassez essa, que pode estar
associada ao universo restrito de consumidores, o qual é limitado em sua maior parte às famílias que
habitam as regiões sertanejas que tem o leite como produto de subsistência, pessoas conhecedoras de
suas qualidades nutricionais e indivíduos portadores de transtornos alérgicos ou que apresentam
algum distúrbio gastrointestinal. Visando a agregação e expansão de novas possibilidade de
aproveitamento do leite dessa espécie, o presente trabalho teve como objetivo o desenvolvimento do
doce de leite caprino, apresentando as etapas do processo, o layout da indústria, os balanços de massa
e de energia, as análises de custos e o destino dos resíduos gerados na produção. A partir dos dados
estimados pode-se concluir que a produção de doce de leite caprino possui viabilidade econômica e
operacional.
Goat farming has been increasingly attracting the attention of the scientific community, as
well as the small breeders in search of knowledge, of new production technologies with a view to the
best use of the species' milk. Despite its social and economic importance, this activity is still
extensively characterized in some regions, with low levels of technology and few derivatives
available in the market. This scarcity, which may be associated with the restricted universe of
consumers, is mostly limited to families living in the backlands that have milk as a subsistence
product, people who are knowledgeable about their nutritional qualities and individuals with allergic
or which have some gastrointestinal disorder. Aiming at the aggregation and expansion of new
possibilities for the utilization of milk of this species, the present work had as objective the
development of goat milk candy, presenting the process steps, the industry layout, mass and energy
balances, analyzes the destination of waste generated in production. Based on the estimated data, it
can be concluded that the production of sweet goat milk has economic and operational viability.
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 12
1.1 OBJETIVOS ............................................................................................................................ 13
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................... 14
2.1 LEITE DE CABRA ................................................................................................................. 14
2.2 DOCE DE LEITE .................................................................................................................... 15
3. FLUXOGRAMA DO PROCESSAMENTO ............................................................................. 16
3.1 DESCRIÇÕES DO PROCESSO............................................................................................. 15
3. 2 FLUXOGRAMA DO PROCESSO........................................................................................ 15
3. 3 DESCRIÇÃO DAS ETAPAS.................................................................................................16
3.3.1 Recepção e seleção do leite de cabra in natura.................................................................16
3.3.2 Padronização do leite.........................................................................................................17
3.3.3 Pasteurização do leite (75ºC/15 seg.)................................................................................17
3.3.4 Tacho.................................................................................................................................18
3.3.5 Aquecimento com agitação constante...............................................................................18
3.3.6 Adição de bicarbonato de sódio (NaHCO3)..................................................................... 19
3.3.7 Adição de sacarose (açúcar) ............................................................................................. 19
3.3.8 Ponto do doce em º Brix (68º)...........................................................................................19
3.3.9 Envase............................................................................................................................... 20
3.3.10 Estocagem/Distribuição................................................................................................. 21
4. LAYOUT....................................................................................................................................... 23
5. BALANÇOS DE MASSA E ENERGIA..................................................................................... 26
5.1 BALANÇO DE MASSA ......................................................................................................... 26
5.1.1 Pasteurização do leite ........................................................................................................ 27
5.1.2 Padronização do teor de gordura ....................................................................................... 28
5.1.3 Evaporação no Tacho ........................................................................................................ 29
5.2 BALANÇO SIMPLIFICADO DE ENERGIA ........................................................................ 31
5.2.1 Evaporação no tacho .......................................................................................................... 31
6. ANÁLISE DE CUSTOS .............................................................................................................. 38
6.1 CUSTOS COM MATÉRIA-PRIMA E EMBALAGEM ......................................................... 38
6.2 CUSTOS COM MÃO DE OBRA ........................................................................................... 39
6.3 CUSTOS COM ENERGIA ELÉTRICA ................................................................................. 40
6.4 CUSTO UNITÁRIO DO PRODUTO...................................................................................... 41
7. TRATAMENTO DE RESÍDUOS............................................................................................... 42
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 44
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 45
12
1. INTRODUÇÃO
1.1 OBJETIVOS
Objetivo Geral:
Produzir doce de leite caprino, mostrando desta forma uma opção de comercialização do leite
de caprino, visando atender às necessidades de consumidores intolerantes ao leite bovino e favorecer
novas oportunidades de mercado aos produtores, bem como aos fabricantes de derivados caprinos.
Objetivo Específico:
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Ao longo dos séculos, os humanos usaram cabras para muitas finalidades (leite, carne, fibra,
pele, até mesmo trabalho) sob várias condições. Embora os caprinos estejam presentes em todos os
continentes, observamos que o setor caprino foi consideravelmente menos apoiado publicamente e
academicamente do que outros setores da produção animal, como leite de vaca, carne bovina, aves e
porcos. Apesar da qualidade nutricionalmente reconhecida, as capacidades das cabras são menos
apreciadas economicamente e comercialmente (DUBEUF et al.,2004). Nesse sentido, a
comercialização é, sem dúvida, o grande "desafio" da caprinocultura leiteira, estando o resultado
dessa atividade sempre dependente da aceitação e preço dos produtos na esfera do mercado e,
particularmente a qualidade dos produtos ao poder de compra dos consumidores. Pontos
significativos a considerar são: a oferta constante do produto de ótima qualidade, o acondicionamento
e a apresentação, além do "marketing" apropriado voltado para o público em geral (PULINA et al.,
2018; VERRUCK et al, 2019; CLEMENTINO et al., 2007; MARTINS, et al. 2007).
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO,
2018), o leite de cabra encontra-se no terceiro lugar de produção, perdendo para o leite bovino e
bubalino. Acredita-se que esse interesse, ainda que incipiente do consumidor no leite de cabra e
seus derivados está relacionado aos benefícios nutricionais oferecidos por esses produtos. Pois apesar
da composição semelhante ao leite de vaca, existem diferenças no leite de cabra que promovem maior
digestibilidade e maior valor nutricional. Rico em proteínas de alto valor biológico, além de conter
lactose e gorduras que são elementos energéticos fundamentais ao organismo, vitaminas e sais
minerais (HAENLEIN, 2004, CHYE et al., 2012; CATUNDA et al., 2014). Concomitante a isso, é
reconhecido pelas particularidades que possui, como polimorfismo genético diferenciado de suas
proteínas, glóbulos de gordura de menor diâmetro, com membrana mais delicada e maior
concentração de ácidos graxos de cadeia média e poli-insaturados (CASSANEGO et al., 2012, MA
et al., 2017). Todas essas características, proporcionam um metabolismo mais rápido e eficiente
(SANZ CEBALLOS et al., 2009; JIRILLO E MAGRONE 2014, SPADOTTI et al., 2016), e o faz ser
considerado um alimento funcional, ou seja, possui participação cientificamente, reconhecida na
manutenção da saúde, redução de doenças crônicas e efeitos benéficos nas funções fisiológicas, por
função da composição de seus aminoácidos e estrutura secundarias de suas proteínas, que ajudam a
reduzir o potencial alergênico quando comparado ao leite de vaca (VERRUCK; DANTAS;
PRUDENCIO et al., 2019), podendo ser recomendado para pessoas de diferentes idades, como
15
crianças e idosos em situações em que o leite bovino causa reações alergênicos ou intolerância
(Kalyankar SD; CD de Khedkar; Patil AM et al., 2016).
Tradicionalmente, a maioria dos derivados lácteos elaborados no Brasil utilizam leite
bovino, entretanto pesquisas apontam a viabilidade de produtos elaborados a partir de leites oriundos
de outras espécies animais como caprinos, ovinos e bubalinos (Bezerra, 2010; Borges, Medeiros e
Correia, 2009; Correia et al., 2006; Coutinho, 2010). Podem ser utilizados como matéria-prima na
produção de bebidas, produtos fermentados (iogurte), produtos congelados (sorvetes, iogurte
congelado), manteiga, produtos condensados / secos, doces e entre outros. É válido ressaltar que para
para obter produtos de qualidade é necessário a utilização de um leite de qualidade, e desta forma
satisfazer as expectativas dos consumidores, em termos nutricional, higiênico e em suas
características sensoriais (Kalyankar SD; CD de Khedkar; Patil AM et al., 2016).
O doce de leite é um produto classificado de acordo com o ponto de cocção em: doce de leite
em pasta (ou mole) e o doce de leite em tabletes (ou duro). Tecnologicamente, o processamento é
simples, consistindo na evaporação da água por aplicação de calor na forma de vapor injetado em
tanques ou tachos encamisados (evaporadores). Segundo Ornellas (1995), para a produção do doce
de leite a matéria-prima indispensável é o próprio leite, no qual sua composição é de
aproximadamente 86% água e o restante é composto de uma mistura de várias substâncias como
lactose e minerais em solução, gorduras na forma de emulsão, proteínas, vitaminas e gases. Apresenta
elevado valor nutricional e conteúdo energético, sendo um alimento menos perecível que o leite, além
de possuir grande aceitação sensorial (MARTINS; LOPES, 1980).
Devido à aceitação do produto pela população, assim como o aumento da produção de leite
de cabra, essa é uma forma de adaptar a tecnologia para o leite caprino. E concomitante a isso, buscar
ajustar o produto fabricado com o leite de cabra às novas exigências do mercado globalizado. É
válido ressaltar a importância que o doce de leite fabricado com leite de cabra apresenta em relação
ao doce produzido com leite de outras espécies, a exemplo características físico-químicas similares
ou superiores ao fabricado com leite bovino, proporcionando outras opções ao consumidor de
produtos lácteos. Além de favorece novas oportunidades de mercado aos produtores, bem como aos
fabricantes de derivados caprinos, através de uma tecnologia simples poderão agregar valor ao leite
dessa espécie (LAGUNA, et al., 1999).
3. FLUXOGRAMA DO PROCESSAMENTO
3. 2 FLUXOGRAMA DO PROCESSO
Padronização do leite
Pasteurização do leite
(75ºC/15 seg.)
Tacho
Adição de
Aquecimento com agitação Adição de sacarose
bicarbonato de
constante (açúcar)
sódio (NaHCO3)
Envase
Estocagem/Distribuição
Dentre vários requisitos, o leite deve apresentar baixa contagem de células somáticas, ser
isento de substâncias inibidoras, por exemplo, antibióticos, não conter resíduos de sanitizantes,
18
pesticidas ou carrapaticidas. Também não deve ter colostro nem ser provenientes de animais com
algum tipo de doenças e não apresentar sujidades (pêlos, resíduos, areia) (GOUVEIA et al., 2000).
Deve apresentar odor e sabor normais, para que os produtos derivados tenham características
microbiológicas, sensoriais e organolépticas desejáveis. Um dos parâmetros relevantes para o
processo é a acidez, a qual deve ser máxima de 19ºD, uma vez que o uso de leite ácido resulta em
doce com aspecto talhado, não tendo aceitação pelo consumidor (MONTEIRO; PIRES; ARAÚJO et
al., 2007).
O teor de gordura do leite deve ser padronizado (Figura 2) para obter uniformidade na
fabricação. A porcentagem de gordura tem influência sobre a quantidade de açúcar a ser utilizada,
pois quanto mais elevado o teor de gordura do leite, maior é a quantidade de açúcar acrescentada
(MONTEIRO; PIRES; ARAÚJO et al., 2007).
3.3.4 Tacho
Após a pasteurização, o leite será despejado em um tacho de aço inoxidável (Figura 4) onde
será adicionado o bicarbonato de sódio e o açúcar, sob agitação e aquecimento.
A acidez do leite pode ser reduzida com o auxílio de bicarbonato de sódio (NaHCO3), pois o
uso de leite com acidez elevada produzirá um doce com textura esfarelada. Mas não se deve utilizar
de forma excessiva, pois irá influenciar em uma coloração escura do produto e mudança no sabor do
doce. Adiciona-se o redutor até que o teor de ácidos seja equivalente a 10 – 13° Dornic, sendo o
padrão desejado 13°D. Essa quantidade pode ser calculada a partir de Equação 1:
(Eq.1)
Sendo:
R = quantidade de bicarbonato de sódio a ser adicionada em gramas
D = acidez a ser reduzida expressa em graus Dornic (diferença entre a acidez inicial e a que deseja
alcançar)
V = volume de leite a sofrer redução de acidez
PB = pureza do bicarbonato de sódio
A quantidade de açúcar a ser adicionado é calculada de acordo com volume de leite utilizado,
cuja a quantidade varia de 16 a 20%. A etapa de padronização e muito importante, pois a porcentagem
de gordura tem influência sobre a quantidade de açúcar a ser utilizada.
- Através do refratômetro (Figura 5), instrumento utilizado para medir a concentração de sólidos
solúveis, pode-se medir a quantidade aproximada de açúcares presente na amostra em unidade de
Brix, o que corresponde a 1g de sólidos solúveis em suspensão em 100g de solução (% m/m ou %
m/v) a uma determinada temperatura (OLIVEIRA, 2012). Para o doce de leite, quando o aparelho
indicar 68 ºBrix, ou seja, aproximadamente 70% de sólidos totais, isso mostra o ponto do doce.
Figura 5 - Refratômetro.
Fonte: ALIEXPRESS, 2019.
3.3.9 Envase
O doce pronto é envasado, para assegurar maior vida de prateleira. O produto deve ser
envasado ainda quente, mantendo-se total assepsia, etapa realizada por uma máquina envasadora
(Figura 6). As embalagens plásticas de polipropileno com capacidade de 200 gramas (Figura 7), são
codificadas, com data, hora de produção e validade.
3.3.10 Estocagem/Distribuição
O produto final será estocado e armazenado em lugar limpo e arejado, com temperatura de
20º a 30ºC. Para garantir o controle no estoque, os produtos serão organizados para obedecer ao First-
Expire, First-Out – FEFO, onde os mais velhos saem primeiro, desta forma será comercializado de
acordo com a data de fabricação.
Para a distribuição do doce será utilizado caminhões tipo baú à temperatura ambiente.
4. LAYOUT
O layout pode ser definido como sendo a organização física da localização exata, na planta, de
tudo o que se associa com o processo, de uma empresa. O modo como um layout é desenhado, afeta
os custos de manipulação de matérias, os tempos de produção total e a produtividade do trabalhador
(GÓES et al., 2011).
De acordo com o Decreto Lei n° 9.013/2017 (RIISPOA), entende-se por Fábrica de laticínios
qualquer estabelecimento destinado à fabricação de derivados lácteos, envolvendo as etapas de
recepção de leite e derivados, transferência, refrigeração, beneficiamento, manipulação, fabricação,
maturação, fracionamento, ralação, acondicionamento, rotulagem, armazenamento e expedição de
derivados lácteos, além de permitir que a expedição de leite fluido a granel de uso industrial seja
realizada (BRASIL, 2017).
O layout da indústria exposto na Figura 9 demonstra os detalhes da área da indústria, bem como
da produção e equipamentos envolvidos no fluxograma do processo. Ele foi desenvolvido de acordo
com os requisitos descritos na Portaria nº 368 de 04 de setembro de 1997 do Regulamento Técnico
sobre as condições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas de Elaboração para Estabelecimentos
Elaboradores/Industrializadores de Alimentos, que dentre seus requisitos estabelece os seguintes:
LEGENDA:
Segundo Mazzucco (2013) a lei sobre a qual estão baseados os balanços de massa confirma
que a massa do universo (em estudo) não pode ser criada ou destruída. Como consequência o balanço
de massa representa uma peça fundamental do projeto de equipamentos, visto que é o estudo da
transferência de massa que ocorre durante as operações unitárias industriais. É empregado para
conhecer as quantidades de material em diferentes pontos do processamento, ajudando a projetar
plantas, estimar formulações, composições, rendimentos e eficiência do processo (FELLOWS, 2006).
Para se obter o balanço de massa do doce de leite caprino é fundamental saber as etapas do
processamento em que se podem compreender as entradas e saídas de componentes. Estas etapas são:
pasteurização, padronização do teor de gordura e evaporação no tacho.
A produção do doce será realizada em batelada, cuja as bateladas serão diárias, assim, o
balanço de massa será executado com base nesse tipo de produção. A quantidade inicial é de 200
litros de leite, o que representa uma produção estimada de 90 kg de doce de leite por dia. Para essa
produção de 90 kg de doce por batelada são utilizados os seguintes ingredientes apresentados na
Tabela 1.
Ingredientes Quantidade
Leite de Cabra 200 L
Sacarose (Açúcar) 36 kg
Bicarbonato de Sódio 104 g
Para calcular o balanço de massa, é necessário que a quantidade dos ingredientes esteja todos
na mesma unidade de massa. Desta forma precisa ser feita a transformação das unidades, transformar
a quantidade de leite que está em volume (L) para massa (kg).
De acordo com dados da Embrapa (2007) a densidade do leite (ρleite) é em média, 1,032 kg/L,
podendo variar entre 1,023 e 1,040 kg/L. Baseado nisso, calcula-se a massa em quilogramas do leite,
de acordo com a Equação 2:
27
𝑚
𝜌= (Eq.2)
𝑣
Onde:
ρ – densidade;
m – massa em quilogramas;
v- volume em litros
Substituindo pelos valores da produção, tem-se:
𝑚
1,032 𝑘𝑔/𝐿 =
200𝐿
𝑚 = 𝜌∗𝑣 (Eq.3)
m = 1,032 kg/L * 200L = 206,4 kg de leite
A partir disso, é possível obter a quantidade total de ingredientes para produzir 90 kg de doce de
leite caprino, conforme mostra a Tabela 2.
Tabela 2 - Proporção total de ingredientes para produção de 90 kg de doce de leite caprino todos na
mesma unidade.
Ingredientes Quantidade
Leite de Cabra 206,4 kg
Sacarose (Açúcar) 36 kg
Bicarbonato de Sódio 0,104 kg
No decorrer da etapa de pasteurização, a massa (kg) de leite que entra no pasteurizador com
finalidade de realizar o processo de esterilização, é a mesma massa (kg) de leite que irá sair ao
finalizar o processo, ou seja, considerando que não haverá perdas, o balanço de massa no
pasteurizador poderá ser expresso pela Equação 4:
MLentra = MLsai = 206,4 kg/dia (Eq.4)
28
Onde:
MLentra = vazão mássica do leite integral que entra no pasteurizador (kg/dia);
MLsai = vazão mássica do leite desnatado que sai do pasteurizador (kg/dia);
Após a etapa de padronização, o creme obtido pelo desnate possui um teor de matéria gorda
de aproximadamente 55 a 60% de gordura (RODRIGUES, 2015). Desta forma, optou-se pela
composição de 55% de matéria gorda no creme. Além disso considerou-se que o leite integral possui
3,6 % de gordura e o leite semidesnatado decorrente da padronização possui 2,6% de gordura em sua
composição. O doce de leite será preparado a partir do leite semidesnatado (2,6% de matéria gorda).
O digrama de blocos (Figura 10) ilustra o balanço de massa para o teor de gordura na etapa de
padronização.
MCr = ? kg/dia
XgCr = 0,055
Sabendo o valor da vazão mássica do creme (MCr), é possível substituir no balanço de massa
global (Equação 5) e assim encontrar o valor da vazão mássica do leite semidesnatado (MLsdes).
A etapa de evaporação caracteriza-se pela extração parcial da água de alimentos líquidos com
a finalidade de obter um produto mais concentrado, através da ebulição e vaporização da água.
Nessa etapa, além da sacarose também é adicionado o bicarbonato de sódio, no entanto a
quantidade deste componente é muito pequena (104 gramas por produção), desta forma esse valor
pode ser desconsiderado do balanço de massa. Com a evaporação da água presente no leite, a
quantidade de sólidos totais deverá concentrar-se até 68%, valor do grau Brix obtido no ponto do
doce de leite. Compreendendo que a quantidade de sólidos totais da sacarose é 100% e do vapor de
água é 0% os balanços de massa global e por componente podem ser obtidos, como mostra na Figura
11.
30
MVágua = ? kg/dia
XsV = 0,0
MLsdes = 202,5 kg/dia
XsLsdes = ? MDoce = 90 kg/dia
TACHO XsDoce = 0,68
MSac = 36 kg/dia
XsSac = 1,0
Onde:
MLsdes = vazão mássica do leite semidesnatado (kg/dia);
MSac = vazão mássica da sacarose (açúcar) (kg/dia);
MDoce = vazão mássica do doce de leite (kg/dia);
MVágua = vapor de água (kg/dia);
XsLsdes = fração mássica de sólidos totais presentes no leite semidesnatado;
XsSac = fração mássica de sólidos totais presentes na sacarose;
XsDoce = fração mássica de sólidos totais presentes no doce de leite;
XsV = fração mássica de sólidos totais presente no vapor de água.
(Eq.7)
MLsdes + MSac = MDoce + MVágua
202,5 + 36 = 90 + MVágua
MVágua = 148,5 kg/dia
O balanço de energia será efetuado no tacho, etapa que ocorre o processo de aquecimento,
cujo resultado é a etapa de evaporação da água presente no leite.
Inicialmente, a vazão de entrada da alimentação (ṁf), representa a quantidade de leite
semidesnatado adicionado de sacarose (açúcar). Como já demostrado no balanço de massa (item
5.1.3), no entanto para a obtenção de melhores resultados, as vazões mássicas já encontradas foram
transformadas em relação às unidades, passando de kg/dia para kg/h. Desta forma a vazão mássica
do leite é de 8,44 kg/h e do açúcar é de 1,5 kg/h e do doce 3,75 kg/h. As frações de sólidos dos
ingredientes como já calculados, são: para o leite 12% (XsLsdes = 0,12), para o açúcar 100% (XsSac
= 1,0) e para o doce 68% ( XsDoce = 0,68).
O leite entra no evaporador a uma temperatura de aproximadamente de 10°C e sai a uma
temperatura (T1) temperatura igual a que está no interior do evaporador, neste caso a 100°C. A
alimentação do vapor saturado não se conhece, apenas se sabe que ela entra a uma pressão absoluta
de 2 bar com a finalidade de fornecer a temperatura necessária para que a etapa de evaporação da
água seja realizada. Para conhecimento, a Figura 12 ilustra o esquema de um evaporador de simples
efeito.
32
Onde:
mf = vazão mássica da alimentação (kg/h);
mvs = vazão mássica do vapor saturado (kg/h);
mv1 = vazão mássica de vapor evaporado (kg/h);
mLs = vazão mássica de líquido saturado (kg/h);
mp = vazão mássica do produto (kg/h).
Para calcular o balanço de energia no evaporador deve-se realizar o balanço de massa global
e por componente (Equações 7 e 8). O balanço de energia na etapa de evaporação é calculado através
da equação 9, descrita por Tadini et al. (2016).
Onde:
Hf = Entalpia da alimentação (kJ/kg °C);
Hvs = Entalpia do vapor saturado (kJ/kg °C);
Hv = Entalpia do vapor gerado (kJ/kg °C);
Hls = Entalpia do líquido saturado (kJ/kg °C);
Hp = Entalpia do produto (kJ/kg °C).
Apenas para componentes que sofrem alteração no estado físico os valores das entalpias (H)
são tabelados, pois ocorre uma transferência de calor latente. Para os que não existe mudança de fase,
os valores das entalpias devem ser calculados (Equações 11, 12 e 13).
Onde:
CpLsdes = calor específico do leite semidesnatado (kJ/kg);
CpSac = Calor específico da sacarose (kJ/kg);
Cpp = Calor específico do produto (kJ/kg).
MLsdes ∗ CpLsdes ∗ Δ𝑇leite + Msac ∗CpSac ∗ Δ𝑇sac + Mvs ∗ Ĥvs = Mv ∗ Ĥv + Mls (Eq.14)
∗ Ĥls + Mp ∗ 𝐶pp ∗ Δ𝑇Doce
Segundo Ibarz e Barbosa Cánovas (2007), para calcular o calor específico de um alimento
utiliza-se do modelo matemático conforme mostra a Figura 13, sendo o cálculo realizado em função
da própria composição do alimento.
O cálculo do calor específico para cada ingrediente será realizado separadamente e estão
descritos no decorrer do texto.
34
Cálculo do Cp do leite:
Para encontrar o valor do calor específico (Cp) do leite, levou-se em consideração alguns
componentes (Tabela 3) e utilizou-se temperatura de 10°C, valor aproximado da temperatura de
entrada do leite no evaporador.
De acordo com Choi e Okos (1986), após substituição da temperatura, realiza-se um somatório
dos valores obtidos para encontrar o valor do Cp total do leite.
Onde:
Cpi = Calor específico encontrado a partir da Tabela de Choi e Okos (1986) para uma determinada
temperatura;
Xim = fração de cada componente no dado alimento.
Para o cálculo do valor do calor específico (Cp) da sacarose, levou-se em consideração alguns
componentes presentes na sacarose (Tabela 5) e utilizou-se a temperatura de 25°C, valor estimado
para a temperatura ambiente.
composição retirada da informação nutricional do produto em questão Figura 14. Construída levando
em consideração a legislação RDC n° 360 de 23 de dezembro de 2003.
MLsdes ∗ CpLsdes ∗ Δ𝑇leite + Msac ∗CpSac ∗ Δ𝑇sac + Mvs ∗ Ĥvs = Mv ∗ Ĥv + Mls ∗ Ĥls
+ Mp ∗ 𝐶pp ∗ Δ𝑇Doce
Mvs = 7,96kg/h
A vazão mássica do vapor saturado (Mvs) que entra no evaporador é igual à vazão mássica
do líquido saturado (Mls) que sai desta forma:
Segundo Tadini et al. (2016), a taxa de transferência de calor pode ser calculada pela Equação
16:
Onde:
q = taxa de transferência de calor (W);
U = coeficiente global de transferência de calor (W/m2 °C);
A = área (m2);
Tvs = temperatura do vapor saturado (°C);
T1 = temperatura do vapor gerado (°C);
Mvs = vazão mássica do vapor saturado (kg/h);
Hvs = entalpia do vapor saturado (kJ/kg);
Mls = vazão mássica do líquido saturado (kg/h);
Hls = entalpia do líquido saturado (kJ/kg).
Para calcular o valor do coeficiente global de transferência de calor (U), considerou-se a área
do evaporador (A = 18m2), a temperatura do vapor saturado a 2 bar igual a 120,2°C (Tabela de
Propriedades do Vapor Saturado - Anexo II) e a T1, temperatura do vapor gerado, 100°C.
Transformando o valor da vazão mássica do vapor saturado (Mvs) de kg/h para kg/s, temos Mvs é de
0,00222 kg/s. Colocando na Equação 16 temos:
38
U ∗ 18𝑚2 ∗ (120,2 - 100°C) = 0,00221 kg/s ∗ 2706,3 kj/kg - 0,00221 kg/s ∗ 504,7 kj/kg
U = 13, 38 W/m2 °C
Ainda utilizando a Equação 16, é possível calcular a taxa de transferência de calor (q)
envolvido no processo a cada batelada.
Desta forma, a partir do balanço energético simplificado, foi possível verificar que a
quantidade de energia consumida no processo de fabricação de uma batelada do doce de leite (90kg)
é de 4886,78W.
6. ANÁLISE DE CUSTOS
Com a finalidade de mensurar o gasto necessário para a produção de uma batelada, o que
corresponde a 90 kg do produto (450 unidades de 200g), levou-se em consideração os custos com
matéria-prima, embalagem, mão de obra e energia elétrica no período de um mês. Assim, com base
na análise econômica foi possível avaliar o valor unitário do doce de leite utilizando o leite de cabra.
Os custos para a produção do doce de leite caprino são referentes a uma batelada diária de 90
kg (450 unidades de 200g), incluindo as matérias-primas e embalagens necessárias. A batelada diária
de 90kg utiliza um volume de leite inicial de 206,4 kg (200L). O cálculo do custo foi realizado através
da soma dos itens necessários para a produção de uma batelada. A Tabela 9 estima os valores
atribuídos às matérias-primas e embalagens. A produção de uma batelada de 90kg de doce,
39
distribuídos em embalagens de 200g já inclusas com os selos de alumínio (90kg - 450 unidades de
200g), essas embalagens são acomodadas em caixas de papelão (embalagens secundárias), com uma
quantidade de 10 potes de doce em cada caixa. Os custos estimados são fundamentados em valores
pesquisados no mercado atual.
Desta forma, para uma produção diária de 450 unidades de 200 gramas e, considerando-se
apenas os gastos com matérias-primas e embalagens, o custo unitário é de R$1,49.
Tabela 11 - Custos estimados com energia elétrica para a produção de uma batelada de 90 kg de
doce leite.
O valor determinado para o custo unitário do produto foi calculado a partir da soma dos
valores estimados anteriormente, em cima de uma produção de uma batelada diária de 90 kg (450
unidades de 200g), conforme mostra a tabela 12.
7. TRATAMENTO DE RESÍDUOS
Nas indústrias de laticínios, cada etapa do processamento gera grandes volumes de efluentes
(“águas brancas”), correspondente ao processo de higienização, lavagem e desinfecção de
equipamentos, quebra de embalagens contendo leite e derivados e perdas nas enchedoras. Essas são
as etapas de maior expressão geração de efluentes, sendo as últimas citadas as que estão ligadas ao
termo de matéria orgânica presente no resíduo gerado (BRAILE E CAVALCANTI 1993).
As técnicas de tratamento para efluentes gerados em laticínios estão relacionados aos
processos comuns que combinam tratamento físico (ou físico-químico) com tratamento biológico. Os
processos físico-químicos são eficientes na retirada de sólidos em suspensão coloidal ou mesmo
dissolvidos, substâncias que caracterizam odor, cor e turbidez ao efluente. Já os processos biológicos
tem a função de retirar a matéria orgânica através do metabolismo de oxidação e de síntese das células.
Este tipo de tratamento é geralmente usado por causa da grande quantidade de matéria orgânica
facilmente biodegradável presente em sua composição (FAVARETTO et al., 2015.)
As ETE’s (Estações de Tratamento de Efluentes) são projetadas para uma circunstância
inicial, mas a operação diária indica o satisfatório ou instável funcionamento da mesma. Para um
funcionamento satisfatório, necessitam de operação adequada em cada uma de suas etapas, passando
de um processo ao outro com a máxima eficiência de remoção. A baixa geração de efluentes ou a
geração de um efluente com uma carga poluente mínima facilita o tratamento e diminuem custos para
a empresa. (FAVARETTO et al., 2015.)
O processo de uma Estação de Tratamento de Efluente (ETE) para indústria de laticínios
dispõe basicamente as seguintes etapas:
Formado unicamente por processos físicos. Nesta etapa, envolve um gradeamento cuja
finalidade é realizar a remoção dos materiais sólidos grosseiros capazes de gerar entupimentos nas
próximas etapas do sistema de tratamento. Além do gradeamento há também a utilização de canais
de areia (caixas de areia) que auxiliam no bloqueamento de substâncias inertes. (GANDHI, 2004).
- Tratamento Primário
- Tratamento Secundário
Etapa na qual elimina parte da matéria orgânica, por meio de reações bioquímicas. Os
processos empregados nessa etapa podem ser através de lagoas anaeróbica ou aeróbica.
Tratamento com lagoas anaeróbicas constituem na estabilização de resíduos feita pela ação de
microorganismos, na ausência de oxigênio. As lagoas que utilizam os processos aeróbios mostra o
processo natural de decomposição, com eficiência no tratamento de partículas finas em suspensão. O
oxigênio presente nas lagoas dessa etapa é obtido por aeração mecânica (agitação) ou por insuflação
de ar.
- Tratamento Terciário
Por fim, é o tratamento terciário no qual pode ser empregado com a finalidade de se conseguir
remoções adicionais de poluentes específicos, ou melhor, os tóxicos ou não biodegradáveis, antes de
sua descarga no corpo receptor e/ou para recirculação em sistema fechado. Essa etapa é também
chamada de “polimento” é nela que normalmente ocorre a desinfecção das águas residuais já tratadas
com a finalidade de remover os organismos patógenos.
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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos dados aferidos, pode-se concluir que a produção de doce de leite caprino,
agregado de suas características nutricionais as propriedades sensoriais, demonstrou ser uma
alternativa economicamente viável, acessível e passível de ser desenvolvido.
Como sugestão, inicialmente, a indústria pode investir em planos de marketing e vendas para
estabelecer ações para alcançar competitividade dentro do mercado, bem como em treinamento e
bonificações dos funcionários afim de qualificar e estimular a equipe.
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REFERÊNCIAS
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as condições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas de Elaboração para Estabelecimentos
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setembro de 1997.
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ANEXOS
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