recorrentes de artrite aguda, provocados pela precipitação, nos espaços articulares, de cristais de urato monossódico provenientes dos fluidos corporais supersaturados. Os ataques dolorosos são repetidos e a situação tende a se cronificar, caso esse processo não seja controlado, havendo então a possibilidade de deformação das articulações. A agressão constante das articulações pelos cristais de uratofaz com que ocorram focos inflamatórios conhecidos como tofos. As lesões das articulacões podem fazer com que elas tornem- se funcionalmente incapazes com o passar do tempo. Podem ocorrer também depósitos de uratos em outros tecidos, como, por exemplo, cápsulas articulares, o tecido pericondral, a bolsa sinovial, e as válvulas cardíacas.
Os pacientes com gota, ou excesso de ácido úrico
podem evoluir para um quadro de insuficiência renal. Isto se deve ao fato de que este orgão é uma das vias de eliminação do ácido úrico.Os problemas renais decorrem da maior possibilidade de formação de cálculos de urato, prejudicando o seu funcionamento.
Freqüentemente ocorre uma hipertensão concomitante,
por razões desconhecidas. Embora a hiperuricemia (alta concentração de ácido úrico circulante) seja fundamental para todas essas alterações teciduais, ela não é a única determinante. Portanto deve-se fazer uma distinção clara entre a hiperuricemia, que é uma anomalia química, e a gota, que é uma doença. Um nível plasmático de uratos acima de 7 mg/dL é considerado elevado, visto que excede o valor de saturação para o urato a 37°C e pH 7,4. Por essa definição, 2 a 18% da população do mundo ocidental apresentam hiperuricemia, mas a freqüência de gota varia de 0,13 a 0,37%.
O motivo pelo qual alguns pacientes com taxas elevadas de
ácido úrico desenvolvem os sintomas clássicos da artrite gotosa, enquanto que outros, por razões diversas, também apresentando taxas elevadas, não desenvolvem a doença ainda é desconhecido.
CLASSIFICAÇÃO A gota é classificada em dois grandes grupos: primária e secundária
A gota primária é um distúrbio genético, no qual o
defeito bioquímico básico que produz a hiperuricemia é desconhecido ou, quando conhecido, a principal manifestação do defeito é a gota. Aproximadamente 90% de todos os casos de gota são primários e, visto que o defeito metabólico não é conhecido em sua maioria, eles são denominados de gota idiopática primária. Individualmente, raros são os casos de gota primária devido a erros bem definidos do metabolismo, como a deficiência parcial de hipoxantina-guanina fosforribosiltransferase (HGPRT) - a enzima que catalisa a síntese de recuperação de IMP e GMP -, a atividade aumentada de PP-ribose-P sintetase ou a deficiência na modulação da aminotransferase.
A gota secundária, por outro lado, se refere aos casos
em que a hiperuricemia é secundária a algum outro distúrbio, como a excessiva desintegração de células ou alguma forma de doença renal. Também estão incluídos nessa categoria certas doenças genéticas bem definidas como a síndrome de Lesch-Nyhan e a doença do armazenamento de glicogênio do tipo I, na qual a gota não é a manifestação clínica principal ou de apresentação. A gota secundária responde por apenas 5 a 10% de todos os casos.
INCIDÊNCIA
A gota primária é uma doença familiar que aparece
predominantemente em indivíduos do sexo masculino (aproximadamente 95% dos casos). As mulheres afetadas são quase sempre pós-menopáusicas, presumivelmente devido às concentrações normalmente baixas de urato sérico durante o período de reprodução. A gota é rara em crianças e, quando encontrada neste grupo etário está usualmente associada a um erro metabólico bem definido. A maneira de transmissão da gota primária idiopática é pouco compreendida e, na realidade, tendo em vista o grande número de erros metabólicos que podem levar à hiperuricemia, é provável a existência de muitas variantes genotípicas. A herança multifatorial, com comprometimento de diversos genes e a ação de fatores ambientais (por exemplo, álcool, dieta e medicamentos) parece ser o modo mais provável de transmissão da doença idiopática primária. Até 25% dos parentes consangüineos assintomáticos de um paciente com gota familiar podem apresentar hiperuricemia.
Cesário Paulo H. de Oliveira
Professor Adjunto Laboratório de Erros Inatos do Metabolismo (LABEIM) Departamento de Bioquímica - Instituto de Química - UFRJ Prédio do Centro de Tecnologia - Bloco A - Lab 536C 21949-900 Ilha do Fundão - Rio de Janeiro - RJ - Brasil Tel: (5521) 2562-7364 e-mail:
Introdução
Erros Inatos do Metabolismo (EIM) são doenças genéticas metabólicas que
podem ocorrer em diversas vias, como conseqüência do bloqueio de uma reação enzimática, levando ao acúmulo de substâncias nas células. Portanto, pacientes portadores dessas disfunções podem apresentar altas concentrações de metabólitos em fluidos fisiológicos. Atualmente, são conhecidas cerca de 500 doenças monogênicas bioquimicamente comprovadas. Vários EIM, que podem se manifestar nos recém-nascidos, através de sintomas inespecíficos como letargia, convulsões, vômitos, hipotonia ou sintomas relacionados aos sistemas tampões do organismo (acidose ou alcalose metabólicas); alguns podem, inclusive, cursar com infecções generalizadas. Mesmo com o número crescente de novos casos reportados, muitas crianças morrem sem diagnóstico, tendo sua morte atribuída a causas mais comuns. Avalia-se que nasçam por ano mais de meio milhão de crianças portadoras destas doenças (5% das internações nos hospitais pediátricos), que levam, na maioria das vezes, a retardo mental ou a graves problemas neurológicos, quando não à morte. Portanto se individualmente eles são raros, quando avaliados em conjunto, revelam-se freqüentes (1 em cada 3800 recém-nascidos vivos), representando uma enorme carga de sofrimento humano; o diagnóstico precoce é imperativo, para que se possa, quando possível, aplicar sem demora, uma terapia efetiva. Mesmo nos casos onde ainda não existe dietoterapia eficaz, a identificação destas substâncias é importante para o diagnóstico pré- natal, com o objetivo principal de evitar o nascimento de afetados. Os EIM ocorrem no metabolismo de glicídeos, outros no metabolismo de aminoácidos, e vários estão relacionadas a ácidos orgânicos. Importante também são os grupos das disfunções relacionadas ao metabolismo dos ácidos graxos e o caracterizado por deficiência de enzimas lisossomais além dos defeitos de transporte em geral. Apesar desta heterogeneidade, com a utilização adequada de poucos testes pode-se conseguir uma abordagem diagnóstica correta, não sendo necessário o conhecimento preciso dos inúmeros caminhos metabólicos e suas interrelações. As características bioquímicas das disfunções, podem definir os protótipos e agrupá-los em "famílias", que facilitam o trabalho do laboratório de pesquisa na definição do diagnóstico específico. O programa de rastreamento do LABEIM consiste de uma bateria de testes químicos que permitem a avaliação qualitativa da excreção anormal de várias substâncias como: monossacarídeos, oligossacarídeos, aminoácidos, cetoácidos, mucopolissacarídeos, proteínas, seguida da cromatografia em papel de aminoácidos. Os testes químicos são inespecíficos, porém um resultado positivo serve como indicação para posteriores investigações bioquímicas mais específicas. Durante a evolução do trabalho, a equipe do LABEIM vem introduzindo técnicas, visando não só o diagnóstico das amostras sob suspeita, como também o maior conhecimento dos processos bioquímicos envolvidos. Os resultados permitem a introdução de tratamento ou possibilita a prevenção (através do aconselhamento genético) ou ainda de estudo de casos de novas disfunções e variantes. A experiência acumulada pelo LABEIM através de um trabalho criterioso de análises, não só a nível de laboratório, mas também a nível de consultoria na bioquímica dos EIM, levou a que vários profissionais ligados a área biomédica adquirissem uma maior consciência sobre a importância dos EIM e passassem a solicitar análises de fluidos fisiológicos para estas doenças. Isto tornou o LABEIM, o Centro de Referência para EIM no Rio de Janeiro, tendo sido diagnosticados mais de 230 casos em amostras de 3800 pacientes. Este tipo de trabalho é de amplo alcance social. Além de proporcionar à população acesso aos recursos de diagnóstico, e posterior tratamento, acompanhamento e aconselhamento genético, beneficia principalmente os pacientes de baixa renda e suas famílias, que recorrem geralmente a entidades governamentais, das quais provém a maior parte das amostras enviadas ao LABEIM. Convém frisar ainda que o estudo dos EIM tem servido para revelar a presença de metabólitos não comuns e a existência de vias metabólicas secundárias, que se tornam fisiologicamente importantes. Além disso, o desenvolvimento de tratamentos para alguns erros inatos tem beneficiado não só os pacientes, como também aumentado as informações e experiência dos médicos. As linhas de pesquisa desenvolvidas no LABEIM estão concentradas em seis áreas principais: aminoacidopatias, acidúrias orgânicas, doenças lisossomais de depósito, avaliação de ácido úrico e purinas, pesquisa de EIM relacionados ao retardo mental em adultos e determinação de níveis plasmáticos de carnitina.
Linhas de Pesquisa do LABEIM
1. Aminoacidopatias
Dentre os vários distúrbios bioquímicos hereditários classificados como EIM,
destacam-se os defeitos no metabolismo de aminoácidos, tendo sido caracterizadas quase 50 desordens causadas, quase sempre, por deficiências em enzimas responsáveis pelo seu catabolismo. Assim, os aminoácidos ou seus derivados são acumulados no plasma e excretados na urina em concentrações elevadas. Crianças com aminoácidopatias podem apresentar um ou mais sinais clínicos e bioquímicos, que incluem hiperamonemia, um odor peculiar na urina, atraso no desenvolvimento físico, anormalidades do desenvolvimento neurológico, hepatomegalia, etc. No período neonatal, esses distúrbios geralmente são graves e, quando não se institui prontamente um tratamento adequado, costumam ser letais. Os achados clínicos em geral são inespecíficos e semelhantes aos observados em lactentes com infecções generalizadas. O diagnóstico definitivo, mesmo em caso de óbito, é de grande importância para o aconselhamento genético. O diagnóstico requer análises laboratoriais específicas em fluidos fisiológicos (urina, plasma e liquor). O LABEIM inicia a pesquisa destas disfunções através de uma triagem, que consiste de uma bateria de testes químicos qualitativos, seguida pelo fracionamento por cromatografia em papel de aminoácidos, que são separados em sete grupos de acordo com a sua solubilidade no sistema solvente. Os resultados obtidos através desta cromatografia são comparados com perfis normais e são discutidos com a equipe médica, para avaliar a necessidade de análises quantitativas. O grande número de amostras de pacientes, com sintomas clínicos compatíveis e com alterações na triagem inicial, levou o LABEIM a iniciar uma padronização de rotina de trabalho para diagnóstico de aminoacidopatias por técnicas mais sofisticadas como Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) e Analisador Automático de Aminoácidos (AAA). Estas metodologias, quando implantadas, permitirão não só o diagnóstico das inúmeras disfunções deste grupo de EIM, como também servirão para o acompanhamento dos pacientes sob tratamento específico. Além disto, estas metodologias poderão ser utilizadas na avaliação de alterações secundárias de aminoácidos em pacientes portadores de outros distúrbios; os resultados poderão auxiliar na orientação dos médicos para introdução de dietas apropriadas para cada situação.
2. Acidúrias Orgânicas
Desordens do metabolismo de ácidos orgânicos, mais comumente conhecidas
como Acidúrias ou Acidemias Orgânicas (AO), constituem um grupo importante de disfunções caracterizadas pelo acúmulo e conseqüente excreção de ácidos orgânicos em fluidos fisiológicos, particularmente urina. Os metabólitos indicadores de AO, consistem de um grupo complexo de ácidos, que podem ser: alifáticos saturados e insaturados, aromáticos, hidroxilados, cetoácidos, ácidos mono-, di- e tricarboxílicos, assim como compostos heterocíclicos e conjugados, entre os quais acilglicinas e acilcarnitinas. Um grande número de AO manifesta-se clinicamente no período neonatal, ou logo em seguida, sendo geralmente letais no recém-nascido. Aqueles que conseguem sobreviver, podem ficar com graves seqüelas neurológicas. O diagnóstico precoce, seguido de dietoterapia adequada, pode, muitas vezes, possibilitar a normalização dos sintomas clínicos, impedir danos cerebrais irreversíveis e, até mesmo, evitar a morte desses pacientes. O diagnóstico só pode ser estabelecido após a análise de ácidos orgânicos e seus derivados em urina e, posteriormente, quando possível, pela determinação da atividade das enzimas supostamente alteradas. O número significativo de amostras de pacientes, com sintomas clínicos e dados bioquímicos sugestivos de AO recebidas pelo LABEIM, demonstrou a necessidade de se estabelecer uma metodologia de rotina, que permitisse diagnosticar estas disfunções. A rotina de análise padronizada consiste de um rastreamento inicial e posterior obtenção de perfis de ácidos orgânicos em amostras de pacientes com suspeita, por Cromatografia Gasosa da Alta Resolução (CGAR). No entanto, o diagnóstico definitivo através da CGAR fica limitado, em vários casos, pela inexistência de padrões necessários à caracterização de determinadas disfunções, sendo fundamental nestes casos, a utilização da técnica de Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria de Massas (CG-EM). A utilização das técnicas de CG e CG-EM permitiu a obtenção de diagnóstico de casos de Fenilcetonúria, Alcaptonúria, Xarope de Bordo, Tirosinemia, 3-OH-3- metil-glutárico Acidúria e Metilmalônico e Fumárico Acidemias no LABEIM. O projeto visa, portanto, pesquisar os acidos orgânicos excretados em amostras de urina de pacientes com suspeita de acidúrias, sem etiologia definida. Estes resultados, associados aos dados clínicos e bioquímicos apresentados pelas crianças, podem sugerir sua correlação com as vias metabólicas supostamente envolvidas.
3. Doenças de Depósito
As doenças lisossômicas de depósito (DLD) constituem um grande e importante
grupo de disfunções metabólicas que atinge a população do Rio de Janeiro, nas quais uma ou mais enzimas lisossomais estão deficientes. Estas deficiências enzimáticas podem ocorrer na degradação de biomoléculas como: glicosaminoglicanos, glicoproteínas, glicoesfingolipídios, glicogênio e outras, levando à classificação em grupos de doenças. O LABEIM dedica-se ao estudo do grupo das oligossacaridoses e o das mucopolissacaridoses (MPS). As oligossacaridoses são caracterizadas pela deficiência na atividade de enzimas envolvidas na degradação de estruturas glicídicas, presentes em diversos tipos de macromoléculas, como glicoesfingolipídios, glicoproteínas e glicogênio, enquanto as MPS são causadas pela deficiência de enzimas que catalisam um dos passos de degradação dos proteoglicanos, que originam os glicosaminoglicanos (GAG) ou mucopolissacarídeos. As conseqüências clínicas desses defeitos dependem do tipo e da quantidade de macromoléculas acumuladas nas células, dos tecidos envolvidos, e da influência destas alterações sobre a fisiologia celular. Podemos destacar o retardo mental e motor, dismorfias, problemas musculares, problemas esqueléticos e organomegalias, que desenvolvem-se em idades diferentes, dependendo do tipo de doença. O diagnóstico precoce ganha especial importância, uma vez que a grande maioria das DLD ainda não contam com medidas terapêuticas realmente eficazes, ou acessíveis à população brasileira, daí dever-se buscar sua prevenção primária, através do aconselhamento genético. No programa de rastreamento do LABEIM, são realizados diversos tipos de análise para DLD, desde simples testes químicos até técnicas de fracionamento por cromatografia em camada fina o que, algumas vezes, junto com os dados clínicos, já sugere um diagnóstico. O diagnóstico definitivo só pode ser dado após a medida da atividade enzimática envolvida. O projeto visa o estudo aprofundado de casos de evolução atípica de algumas MPS com a investigação molecular nas formas associadas a microaberrações cromossômicas, o desenvolvimento de protocolos de dosagens enzimáticas das disfunções mais encontradas na população do Rio de Janeiro, o estabelecimento de correlações bioquímicas com as vias metabólicas envolvidas.
4. Avaliação de Ácido Úrico e Purinas em fluidos fisiológicos
Purinas e pirimidinas são bases heterocíclicas nitrogenadas de caracter
aromático. São componentes dos nucleotídeos, os quais constituem os ácidos nucleicos, exercem funções regulatórias (cAMP) e participam das reações de transferência de fosfato (ATP). Purinas são também componentes de diversas coenzimas (CoA, NAD, FAD), participam das reações de metilação (S-adenosil metionina), além de exercerem outras funções essenciais para a vida. Purinas e pirimidinas dietárias, não são incorporadas diretamente nos ácidos nucleicos dos tecidos. Elas são sintetizadas a partir de intermediários anfibólicos. Mutações que ocasionem ausência ou deficiência de inúmeras enzimas envolvidas nas reações de biossíntese ou nas de degradação, dão origem a variadas disfunções. O projeto visa inicialmente o estudo dos EIM de purinas, uma vez que o número de desordens clinicamente significativas, relacionadas com as pirimidinas é bem menor. Os EIM das purinas compreendem um grupo de disfunções de grande impacto clínico, grande variabilidade de apresentação e considerável heterogeneidade genética. A identificação pode se tornar bastante difícil, devido ao amplo espectro dessas doenças, que podem afetar diversos sistemas como neurológico, imunológico, hematológico, renal entre outros, além de serem relativamente pouco conhecidas. O ácido úrico (AU), produto final do catabolismo das purinas em humanos, pode ser usado como marcador, já que alterações dos seus níveis em plasma e urina podem sugerir inúmeras anormalidades. A combinação dos dois valores é importante para direcionar o diagnóstico. Visando a análise de AU e purinas, foi desenvolvido pela equipe do LABEIM, um método isocrático, simples e rápido, para avaliação preliminar por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE). A determinação simultânea de AU, creatinina e das 4 purinas principais (adenina, guanina, hipoxantina e xantina) é realizada usando uma fase aquosa e detecção no UV. A pesquisa tem como objetivos analisar amostras de urina e plasma de pacientes com sintomas clínicos sugestivos de disfunções no metabolismo das purinas, visando o diagnóstico; desenvolver metodologia afim de determinar com precisão os níveis alterados de AU e purinas encontrados na avaliação preliminar; estender a avaliação para outras purinas e algumas pirimidinas; determinar as correlações metabólicas que permitam identificar as etapas sujeitas à EIMs; para diagnóstico definitivo será necessário estabelecer os protocolos para o ensaio das atividades enzimáticas suspeitas de estarem alteradas.
5. Estudo dos níveis plasmáticos de carnitina em crianças
A carnitina (beta-OH-gama-N-trimetilamino butirato) apresenta duas principais
funções: o transporte de ácidos graxos de cadeia longa (AGCL) para dentro da matriz mitocondrial, para posterior beta-oxidação e a modulação da taxa intramitocondrial de acil-CoA/Coenzima A, já que o acúmulo de acil-CoA dentro da mitocôndria pode inibir muitas enzimas de ciclos vitais. Os níveis plasmáticos de carnitina refletem a disponibilidade do indivíduo para suportar determinadas situações de estresse metabólico. A deficiência de carnitina humana pode ser classificada quanto à origem, podendo ser primária ou secundária. A deficiência primária pode ser caracterizada tanto por alteração na biossíntese, quanto por defeito no transportador de carnitina nos tecidos. A deficiência secundária pode ocorrer em várias condições: nas acidúrias orgânicas, nas doenças renais e/ou hepáticas; na desnutrição proteico-calórica; em pacientes que utilizam medicamentos contendo grupamento carboxila, tais como os ácidos valpróico e benzóico, entre outros. Os dados clínicos e bioquímicos sugestivos de alteração nos níveis de carnitina são abrangentes e entre os principais destacam-se o atraso no desenvolvimento, fraqueza muscular, hipotonia, cardiomiopatia, miopatia (particularmente relacionada ao depósito de lipídeos no músculo), encefalopatia, hiperamonemia, hipoglicemia, acidose metabólica e acidúrias dicarboxílicas não-cetóticas. A determinação dos níveis plasmáticos de carnitina em bebês com sintomas sugestivos de deficiência é importante para que seja instituído o tratamento adequado. Além disto, foi observado que quadros clínicos críticos apresentados por crianças em UTIs neonatais podem, em alguns casos, ser prontamente revertidos pela suplementação venosa de carnitina. Face a isto foi implantado um método enzimático que permite ao LABEIM, através da dosagem de carnitina, não só possibilitar uma rápida intervenção terapêutica, assim como auxiliar no diagnóstico de disfunções que cursam com alterações nos níveis de carnitina. O projeto visa a análise dos níveis de carnitina livre plasmática no programa de rastreamento para EIM do LABEIM, pois este é um metabólito fundamental em vários processos vitais e esta análise não está sendo realizada em nenhum outro laboratório do Rio de Janeiro. Esta análise permitirá que a população carente atendida nos hospitais públicos tenha acesso à esta dosagem; servirá para acompanhar pacientes e lactentes, submetidos à suplementação com carnitina e poderá auxiliar no desenvolvimento de pesquisas relacionadas à nutrição de lactantes, através da dosagem de carnitina no leite.