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Impossível acreditar que existem pessoas que duvidam da lei da gravidade e outras que não crêem que o
ar não tem cor, já que o céu é azul. Todos temos direito à opinião, mas a solidez com que a Ciência
constrói certas respostas não permite que destas se duvide, e quem o faz deixa de ser "diferente" e
assume o papel de idiota ou, na melhor das hipóteses, de ingênuo.
O que é dito em relação às descobertas científicas vale também para a educação infantil. E é impossível
acreditar que ainda existem pessoas que vêem na criança um adulto pequeno, que aguarda para assumir
competências. Para essas pessoas, todas as crianças são mais ou menos como pizzas ainda cruas, que
necessitam demorar ao forno para alcançar cozimento ideal. Porque assim pensam, afastam a criança do
mundo em que vive e da cultura na qual se encontra inserida. Os que assim crêem defendem uma
educação infantil mais ou menos como a educação de adultos, só que "extremamente simplificada", uma
maneira de falar com a criança semelhante àquela que se usa com cachorrinhos e a indiferença e o
desrespeito pelo que a criança sabe. Essa concepção de ensino baseia-se no pressuposto de que a
cabecinha do aluninho é como um
copo vazio que necessita de informações, que, despejadas gotinha a gotinha, um dia deverão enchê-lo.
Nessa visão de escola, existe uma rígida diferenciação entre o momento de brincar e o de aprender, e o
pensamento da criança não deve ser explorado senão para obedecer a regras. Regras muitas vezes
transmitidas com voz doce e ternura, mas que, por estarem definitivamente prontas, acabam com a
necessidade de questionar-se sobre elas. A escola que está nessas bases apoiada se inspira na
"prontidão" e, como se espera por ela, aguarda-se o momento oportuno para que a criança possa ser
alfabetizada e saiba fazer continhas. A infância existe apenas como fase de espera e, por isso, as
crianças torcem para que ela transcorra rapidamente e para que, libertas dela, possam finalmente viver.
Se os professores que assim pensam acreditassem apenas que a lei da gravidade não existe, eles seriam
criaturas culturalmente inúteis. Mas como, além de pensar, eles agem, sua ação mostra-se perniciosa
para as esperanças de educação.
Alguns educadores reagem a essa concepção troglodita; entretanto, saltam de oito para oitenta e passam
a defender a idéia oposta: a criança tudo sabe e tudo pode, portanto, aos adultos cabe apenas observar o
crescimento dela, sem intervir e enxergando em seus alunos plantas carnívoras que, expostas ao
ambiente, receberão aqui ou ali moscas para devorar. Impossível saber o que é pior para a educação,
mas não pode restar qualquer dúvida de que tanto aquela quanto esta prática são retrógradas e de que,
ao se engessar a mente infantil, rouba-se qualquer direito à crença no amanhã.
No entanto, nem tudo é motivo de perda e dor. Cresce de forma vigorosa o número de verdadeiros
educadores infantis, que fundamentam a concepção de criança como ser social e histórico e que
necessita da educação para transformar os saberes de sua experiência em conhecimentos essenciais
para o usufruto de seus direitos, entre eles, o direito à liberdade de crescer. Os professores que se
identificam com essa proposta de ensino organizam e planejam suas ações com base nos jogos e nas
brincadeiras e levam a criança a pensar e descobrir a singularidade de ser e estar no mundo e de usar
múltiplas linguagens para expressar essa admirável descoberta. São mestres atentos à curiosidade
infantil e à imensa vontade da criança de conhecer o mundo; por isso, organizam projetos
transdisciplinares que envolvem temas associados a natureza, cultura, beleza, bondade e verdade. Eles
sabem que sua forma de agir jamais está pronta, mas requer busca permanente, caminho que, a todo
momento, percorre-se novamente. Porque existem professores assim, há esperança de que o amanhã
será melhor e de que não demorarão a chegar os tempos em que todos os pais saberão distinguir um e
outro professor e compreender que a educação infantil é tudo, e o resto, quase nada.
Fonte: Celso Antunes
Bons administradores são aqueles que fazem as melhores perguntas, e não os que repetem suas
melhores aulas
Um dos maiores choques de minha vida foi na noite anterior ao meu primeiro dia de pós-graduação em
administração. Havia sido um dos quatro brasileiros escolhidos naquele ano, e todos nós acreditávamos,
ingenuamente, que o difícil fora ter entrado em Harvard, e que o mestrado em si seria sopa. Ledo engano.
Tínhamos de resolver naquela noite três estudos de caso de oitenta páginas cada um. O estudo de caso
era uma novidade para mim. Lá não há aulas de inauguração, na qual o professor diz quem ele é e o que
ensinará durante o ano, matando assim o primeiro dia de aula. Essas informações podem ser dadas
antes. Aliás, a carta em que me avisaram que fora aceito como aluno veio acompanhada de dois livros
para ser lidos antes do início das aulas.
O primeiro caso a ser resolvido naquela noite era de marketing, em que a empresa gastava boas somas
em propaganda, mas as vendas caíam ano após ano. Havia comentários detalhados de cada diretor da
companhia, um culpando o outro, e o caso terminava com uma análise do presidente sobre a situação.
O caso terminava ali, e ponto final. Foi quando percebi que estava faltando algo. Algo que nunca tinha me
ocorrido nos dezoito anos de estudos no Brasil. Não havia nenhuma pergunta do professor a responder.
O que nós teríamos de fazer com aquele amontoado de palavras? Eu, como meus outros colegas
brasileiros, esperava perguntas do tipo "Deve o presidente mudar de agência de propaganda ou demitir
seu diretor de marketing?". Afinal, estávamos todos acostumados com testes de vestibular e perguntas do
tipo "Quem descobriu o Brasil?".
Harvard queria justamente o contrário. Queria que nós descobríssemos as perguntas que precisam ser
respondidas ao longo da vida.
Uma reviravolta e tanto. Eu estava acostumado a professores que insistiam em que decorássemos as
perguntas que provavelmente iriam cair no vestibular.
Adorei esse novo método de ensino, e quando voltei para dar aulas na Universidade de São Paulo, trinta
anos atrás, acabei implantando o método de estudo de casos em minhas aulas. Para minha surpresa, a
reação da classe foi a pior possível.
"Professor, qual é a pergunta?", perguntavam-me. E, quando eu respondia que essa era justamente a
primeira pergunta a que teriam de responder, a revolta era geral: "Como vamos resolver uma questão que
não foi sequer formulada?".
Temos um ensino no Brasil voltado para perguntas prontas e definidas, por uma razão muito simples: é
mais fácil para o aluno e também para o professor. O professor é visto como um sábio, um intelectual,
alguém que tem solução para tudo. E os alunos, por comodismo, querem ter as perguntas feitas, como no
vestibular.
Nossos alunos estão sendo levados a uma falsa consciência, o mito de que todas as questões do mundo
já foram formuladas e solucionadas. O objetivo das aulas passa a ser apresentá-las, e a obrigação dos
alunos é repeti-las na prova final.
Em seu primeiro dia de trabalho você vai descobrir que seu patrão não lhe perguntará quem descobriu o
Brasil e não lhe pagará um salário por isso no fim do mês. Nem vai lhe pedir para resolver "4/2 = ?". Em
toda a minha vida profissional nunca encontrei um quadrado perfeito, muito menos uma divisão perfeita,
os números da vida sempre terminam com longas casas decimais.
Seu patrão vai querer saber de você quais são os problemas que precisam ser resolvidos em sua área.
Bons administradores são aqueles que fazem as melhores perguntas, e não os que repetem suas
melhores aulas.
Uma famosa professora de filosofia me disse recentemente que não existem mais perguntas a ser feitas,
depois de Aristóteles e Platão. Talvez por isso não encontramos solução para os inúmeros problemas
brasileiros de hoje. O maior erro que se pode cometer na vida é procurar soluções certas para os
problemas errados.
Em minha experiência e na da maioria das pessoas que trabalham no dia-a-dia, uma vez definido qual é o
verdadeiro problema, o que não é fácil, a solução não demora muito a ser encontrada.
Se você pretende ser útil na vida, aprenda a fazer boas perguntas mais do que sair arrogantemente
ditando respostas. Se você ainda é um estudante, lembre-se de que não são as respostas que são
importantes na vida, são as perguntas.
O trabalho com projetos se realiza a partir de questões ou situações reais e concretas, contextualizadas,
que interessem de fato aos alunos.
Ter sucesso no projeto significa planejar, elaborar cronogramas com objetivos parciais, nos quais o
trabalho em direção aos objetivos finais é avaliado permanentemente – de modo a corrigir erros de
processo ou mesmo de planejamento. Alunos que planejam e implementam projetos aprendem a analisar
dados, considerar situações e tomar decisões. O professor compartilha com os alunos uma aprendizagem
com sentido.
O professor costuma trabalhar conteúdos que não fazem sentido imediato para os alunos. Os projetos
são uma evolução porque, além de tratar os conteúdos programados, eles contextualizam essas
aprendizagens na busca de um produto final.
Um projeto é um caminho para ensinar algo que faça sentido para os alunos. Deve ser próximo das
práticas sociais reais dos alunos.
O tema do projeto é escolhido pelo professor, pois ele sabe os objetivos didáticos e os conteúdos que
deseja trabalhar. Contudo os alunos têm de estar interessados em desenvolvê-lo.
O professor precisa ter clareza das competências que deseja que o aluno desenvolva e dos
conhecimentos necessários para isso. Ou seja, cabe a ele criar as condições para que o projeto caminhe:
garantir o acesso às
informações, a participação de todos e um clima de colaboração e respeito mútuos.
O professor contudo precisa de ter a flexibilidade de encarar o que foi planejado como uma hipótese de
trabalho. Contudo ele pode ser obrigado a rever o seu planejamento.
O fato de os estudantes compartilhem o projeto, conduz a que tenham uma participação ativa. O que faz
com que eles gostem de um projeto é a importância de saber claramente o que todos vão produzir e para
quem.
O resultado de um projeto pode ser uma ação, ou objetos concretos.
A avaliação deve ser feita no início do trabalho, durante o processo e no final. Uma boa situação de
aprendizagem é aquela na qual o aluno tem um problema a resolver. Por isso, o professor precisa
verificar como esse aluno resolve o problema no início e ao longo do desenvolvimento do projeto. Não é
preciso criar situações artificiais de avaliação. O ideal é aproveitar a própria situação de aprendizagem. A
avaliação não deve servir para categorizar o estudante, mas oferecer indícios de como anda a evolução
da classe.
Numa linha meramente transmissiva, geralmente são trabalhados apenas fatos e conceitos. Já com
projetos é importante que os alunos também aprendam procedimentos de estudo, seleção e pesquisa de
material. Sem falar no desenvolvimento de atitudes, como ter responsabilidade, exprimir opiniões, fazer
escolhas.
Fonte: Revista Nova Escola (artigo adaptado para fins didáticos por João José Saraiva da Fonseca)
Para Paulo Freire a construção do conhecimento pelo sujeito tem por base as dimensões políticas,
economicas, sociais e culturais do espaço onde ele vive. Para o autor a construção do conhecimento
deve se basear num diálogo multipolar permanete entre todos os intervenientes no processo de ensino e
aprendizagem, quer eles estejam dentro ou fora do espaço físico escolar. Freire reforça que a construção
do conhecimento acontece a todo o momento no seio de mundo e envolve variáveis que vão além
cognitivo, envolvendo o sensitivo, o motor, o estético, o intuitivo e o emocional, etc. O sujeito, a
comunidade e o "mundo" têm um papel fundamental na construção do conhecimento individual e coletivo.
A propósito das idéias de Paulo Freire sobre a construção do conhecimento, proponho a leitura de um
trecho de um texto de Ângela Antunes na Revista Pátio - Editora Artmed - Ano VIII Nº 32 (Novembro 2004
- Janeiro 2005), número dedicado à temática da Aprendizagem para todos. No texto ela refere que Paulo
Freire afirma:
"Antes de tornar-me um cidadão do mundo, fui e sou um cidadão do Recife, a que cheguei a partir de
meu quintal, no bairro da Casa Amarela. Quanto mais enraizado na minha localidade, tanto mais
possibilidades tenho de me espraiar, me mundializar. Ninguém se torna local a partir do universal" (Freire,
1995, p. 25).
A autora continua:
"O respeito, então, ao saber popular implica necessariamente o respeito ao contexto cultural. A localidade
dos educandos é o pondo de partida para o conhecimento que eles vão criando do mundo. ‘Seu’ mundo,
em última análise é a primeira e inevitável face do mundo mesmo (...). Nunca, porém, eu disse que o
programa a ser elaborado (...) deveria ficar absolutamente adstrito à realidade local" (Freire, 1992, p. 86-
87).
O diálogo torna-se condição para o conhecimento. O ato de conhecer ocorre em um processo social e é o
diálogo o mediador desse processo. Transmitir ou receber informações não caracterizam o ato de
conhecer. Conhecer é apreender o mundo e essa não é uma tarefa solitária. Ninguém conhece sozinho.
O processo educativo deve desafiar o educando a penetrar em níveis cada vez mais profundos e
abrangentes do saber. Nisso se constitui uma das principais funções do diálogo. Este se inicia quando o
educador busca a temática significativa dos educandos, procurando conhecer o nível de percepção deles
em relação ao mundo vivido.
A educação, em uma perspectiva libertadora, exige a dialogicidade, ou seja, a leitura do mundo coletiva. É
a partir dela, do conhecimento do nível de percepção dos educandos, de sua visão do mundo, que Freire
considera possível organizar um conteúdo libertador. A realidade imediata vai sendo inserida em
totalidades mais abrangentes, revelando ao educando que a realidade local, existencial, possui relações
com outras dimensões: regionais, nacionais, continentais, planetária e em diversas perspectivas: social,
política, econômica que se interpenetram.
FREIRE, Paulo. À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho d’Água, 1995.
__________. Pedagogia da esperança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
Para complementar nossa análise, parece-nos fundamental nos determos na importância do brincar para a
Educação do ser humano.
Tomando por base os quatro pilares da Educação propostos por Jacques Delors para a UNESCO
(Comissão Internacional para a Educação no século XXI), vejamos qual é a contribuição que o brincar
pode dar para o desenvolvimento dos mesmos.
Aprender a conhecer – Nesta proposta o brincar tem se mostrado um instrumento extremamente eficiente
desde as metodologias propostas por educadores como Decroly, Montessori, Piaget que usaram o recurso
do lúdico para estimular a aprendizagem; até os especialistas em jogo contemporâneos, inúmeros no
mundo todo e no Brasil, que levaram para a escola variadas propostas para utilização do brincar dentro e
fora da sala de aula, com o intuito de estimular o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças.
Aprender a fazer – Há uma tendência no mundo todo, a tornar mais próximas a área de educação para o
trabalho e a área de economia. O desenvolvimento da economia depende da força dos trabalhadores que
dependem, por sua vez, do investimento e preocupação dos governos com a educação e formação dos
seus cidadãos. No âmbito da profissionalização, o brincar tem se constituído em um recurso motivacional
muito interessante, utilizado tanto nos cursos técnicos e acadêmicos, quanto dentro das próprias
empresas e instituições. O fazer, em qualquer âmbito das nossas vidas, e sobretudo no trabalho, deveria
ter como ingrediente principal o prazer. E brincar e prazer integram a mesma categoria.
Aprender a conviver – Os jogos e brincadeiras são um exemplo de vivência muito eficientes para facilitar
e formar nos indivíduos valores de cooperação, trabalho em equipe, respeito pelas diferenças individuais
e desenvolvimento de projetos. Há inúmeras propostas para se trabalhar estes conceitos, sobretudo a nova
tendência dos Jogos Cooperativos, criada no Canadá e na Bélgica e começando a ser difundida no Brasil,
cujo intuito é o de estimular a cooperação contrapondo-a à acirrada competição em que tem se
transformado o cotidiano na vida do ser humano.
Aprender a ser – O brincar constitui-se na linguagem por excelência das crianças, através da qual eles
podem expressar-se e comunicar-se com o outro. Através do brincar a criança expressa seu ser integral
colocando corpo, mente, sentimentos e espírito em evidência. O brincar constitui um excelente canal e
oportunidade para o ser humano expressar e comunicar, de forma espontânea, as suas crenças, atitudes,
criatividade e valores. Nesse sentido ele deve ser incentivado nos diferentes grupos.
Além das pesquisas realizadas sobre o brincar voltado para as áreas da saúde e da educação, surge, por
um lado, no mundo todo, uma preocupação com o resgate do brincar, nas diferentes regiões do mundo,
enquanto patrimônio lúdico-cultural. Esta tendência leva a um movimento de valorização de brincadeiras
tradicionais regionais, contextualizadas nas diversas culturas e épocas, afirmando-se o brincar como um
fenômeno universal de grande relevância para a caracterização e conhecimento dos grupos sociais e
diversidades culturais dos vários povos do mundo.
Por outro lado, inicia-se um debate sobre o uso do tempo livre, e o brincar começa a ocupar posição de
destaque. Preocupa, não somente o tempo livre das crianças e a subseqüente criação de espaços e tempos
para o brincar; como também o tempo livre dos adolescentes, pensando no uso saudável e produtivo das
energias que surgem neste período; no tempo livre do adulto, cujo tempo de ócio vem aumentando, o que
gera ansiedade e uma crise de valores; e o tempo livre da terceira idade, já que a longevidade tem
aumentado e o mercado de trabalho oferece poucas oportunidades de colocação neste período de vida.
O brincar tem aparecido e sido estimulado, a partir de variadas propostas e exemplos, potenciais
multiplicadores:
jornadas de jogos e brincadeiras; ruas de lazer: brincadeiras de rua estimulando a participação de várias
gerações; brinquedotecas; ônibus itinerantes; malas de brincadeiras; oficinas de criatividade: modelagem,
tecelagem, bricolagem, pintura, expressão corporal, musicalização, origami, confecção de livros,
marcenaria, construção de brinquedos com sucata e outros materiais, confecção de bonecas, entre outros;
contadores de histórias; teatro; na área de informática, estímulo e incremento dos jogos eletrônicos;
concursos; aumento do leque de ofertas de recreação em clubes, hotéis e áreas ligadas ao turismo;
exposições de brinquedos artesanais/populares; feiras de brinquedos; museus de brinquedos; jornadas de
audiovisuais; exposições itinerantes; incremento e aumento de estudos, pesquisas, registros, coletâneas e
publicações sobre o brincar; cursos, seminários, workshops, oficinas e palestras, visando a formação de
profissionais especialistas nas áreas de lazer, recreação, educação, saúde mental e turismo; movimento
dentro das empresas e grupos de trabalho, estimulando a integração entre funcionários e suas famílias em
atividades de lazer e recreação.
Pode-se concluir que a preocupação com o uso do tempo livre, e não somente com o trabalho, tem se
constituído em uma tendência predominante dos últimos anos, nas diferentes sociedades e culturas e o
brincar ocupa um papel de peso nessa área
O brincar é um fenômeno universal que tem atravessado fronteiras e épocas, passando por várias
transformações mas perpetuando-se na sua essência.
Desde que temos notícia, desde a época da Antigüidade, o homem sempre brincou. Pôr mais de 7000 anos
em que predominaram a produção de bens rurais, até o final do século XVIII, o brincar constituía uma
atividade comum a adultos e crianças. Ainda hoje em várias regiões do mundo onde predominam
sociedades rurais, esse brincar coletivo, elemento da cultura, do riso e do folclore, continuam vivos.
Nestes contextos, o brincar tem como característica ser sobretudo corporal, socializado e prescindir de
objetos e/ou brinquedos.
Com o advento da sociedade industrial no final do século XVIII, início do século XIX, na qual
predominava a produção de bens em grande escala, a atividade lúdica modifica-se: ela torna-se
segmentada, passa a fazer parte especificamente da vida das crianças; ao mesmo tempo torna-se
"pedagógica" entrando dentro da escola com objetivos educacionais. Estes fenômenos são acompanhados
do surgimento do brinquedo industrializado, a institucionalização da criança, um movimento da mulher
para o mercado de trabalho que, aliado à falta de espaço e segurança nas ruas das grandes cidades,
transforma o brincar em uma atividade mais solitária e que acontece em função do apelo ao consumo de
brinquedos.
Estamos virando mais uma página da nossa história, adentrando o século XXI, inseridos na sociedade
pós-industrial, que caracteriza-se pela produção de serviços, informática, estética, símbolos e valores.
Neste contexto globalizado vivenciamos grandes contradições: grandes avanços nas comunicações, uma
aceleração descontrolada de informações e descobertas; o aumento da longevidade do ser humano graças
aos avanços da medicina; um aumento crescente do desemprego e como conseqüência mais tempo livre;
incremento da violência e uma visível piora na qualidade de vida; crescente poluição de lixo, visual e
sonora, o que tem levado a mudanças climáticas. Há, ao mesmo tempo, uma necessidade e um
movimento do ser humano para o resgate das suas raízes mais profundas, das suas razões de ser e existir;
uma "fome" de auto-desenvolvimento para não sermos devorados pelos incomensuráveis estímulos que o
cotidiano nos apresenta.
Todos esses fatores traduzem-se em uma crise de valores. O que é primordial hoje? Na visão de
Domenico di Masi, renomado sociólogo italiano, hoje são luxos, não mais os bens materiais, mas o
silêncio, o espaço, a autonomia, a segurança social, a criatividade. Precisamos criar um novo modelo
baseado no tempo livre. Vivemos uma época caracterizada pela flexibilidade, a emotividade conjugada
com a racionalidade, os valores do feminino, a criatividade, a individuação, a estética.
É dentro desse contexto que o brincar oferece-nos a possibilidade de tornarmo-nos mais humanos,
abrindo uma porta para sermos nós mesmos, poder expressar-nos, transformar-nos, curar, aprender,
crescer.
O brincar surge como oportunidade para o resgate dos nossos valores mais essenciais enquanto seres
humanos; como potencial na cura psíquica e física; como forma de comunicação entre iguais e entre as
várias gerações; como instrumento de desenvolvimento e ponte para a aprendizagem; como possibilidade
de resgatar o patrimônio lúdico-cultural nos diferentes contextos sócio-econômicos. O brincar como
desafio deste novo século no uso do tempo livre; o brincar como possibilidade criativa; como instrumento
de inserção em uma sociedade regrada; como possibilidade de conviver com os outros, de me colocar no
lugar do outro; de ganhar hoje e perder amanhã; de liderar e ser conduzido; de falar e de ouvir. O brincar
como desafio ao trabalho solidário, em equipe, a uma postura mais cooperativa e ecológica; como
caminho do conhecimento e descoberta de potenciais ocultos; como caminho para a autonomia, a livre
escolha e a tomada de decisões.
Algumas referências sobre o construtivismo
O construtivismo
Metodologia da problematização
A Metodologia da problematização é utilizada em situações em que os temas estejam
relacionados com a vida em sociedade. Baseia-se em cinco etapas que se
desenvolvem a partir da realidade ou um recorte da realidade: