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RESUMO
ABSTRACT
This study discusses the application, in istitutionalized aged people, of a program of systematic physical Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano
exercises and self-image/self-esteem. The elderly that participated in this study live at SEOVE (the nursing
home studied) in Florianópolis, Brazil. They were divided in two groups, an experimental (n = 15) and a control
(n = 12) one and a pre-test was then applied to them. The experimental group was submitted to a program of
physical exercise with the frequency of 3 sessions of 60 minutes each per week for a period of 5 months. At the
end of this period a post-test was applied to both groups. To evaluate the self-image/self-esteem the Steglich
(1978) questionnaire was used. Difference was observed in pre and post-test data for the experimental and
control groups self-image/self-esteem. Considering the exposed, the program of systematic physical exercise
applied to nursing home residents it present significant between the self-esteem in experimental groups and the
self-image control groups.
1
Profª Departamento de Educação Física - CDS/UFSC – NuCIDH. Dda PEN/UFSC
2
Prof. Dr. DEF/CDS/UFSC - NuCIDH
3
Profª Drª Departamento de Enfermagem CCS/UFSC
70 Benedetti et al.
senvolvido por Steglich (1978), que foi validado estima foi o teste “t” para amostras indepen-
para idosos. Utilizou-se um caderno de campo dentes e o coeficiente de associação de
que foram realizadas as anotações necessárias “Pearson”, entre o pré e pós-teste de ambos os
em ambos os grupos no decorrer da aplicação grupos.
do programa de exercícios físicos. Foi utilizado
o item “aspecto emocional” do questionário por-
RESULTADOS E DISCUSSÃO
que correspondia à área de interesse da pesqui-
sa. O “aspecto emocional” apresentava os se-
Os dados serão discutidos decorren-
guintes sub-itens: felicidade pessoal, bem-estar
tes da análise estatística do cruzamento entre
social e integridade moral. As respostas de cada
o pré e pós-teste de ambos os grupos.
questão apresentavam escores de 1 a 4 e para
Os grupos investigados possuíam ca-
avaliação foi utilizada a escala somatória do to-
racterísticas semelhantes. A média de idade no
tal de pontos proposta por Steglich (1978), quanto
grupo controle foi de 74,00 ± 12,27 anos. Havia
mais alta a pontuação, melhor era a auto-ima-
duas idosas com surdez, duas com cegueira,
gem e a auto-estima.
uma com hipertensão arterial, duas com psico-
O programa de exercício físico siste-
se compulsiva, uma com demência senil e uma
mático aplicado na instituição asilar foi realiza-
com diabetes mellitus. No grupo experimental
do três vezes por semana, durante 5 meses,
a média de idade foi de 74,73 ± 8,36 anos. Ha-
com um total de 70 sessões de 60 min, sendo
via duas idosas com problemas de epilepsia,
10 minutos de alongamento, 15 minutos de ca-
uma com aneurisma, uma com surdez, uma
minhada, 10 minutos de dança, 15 minutos de
com hipertensão arterial, uma com demência
trabalho de equilíbrio, força e flexibilidade e 10
senil, uma com diabetes mellitus e quatro com
minutos de relaxamento final.
pequenas seqüelas de acidente vascular cere-
Durante a realização do programa fo-
bral, como monoplegia de braço esquerdo e
ram desenvolvidos os elementos da aptidão fí-
dificuldade para andar.
sica: força, flexibilidade, equilíbrio e resistência.
A tabela 1 exibe a média e desvio pa-
O tratamento estatístico utilizado para
drão entre o pré e pós-teste no grupo experi-
a análise dos dados da auto-imagem e auto-
mental e controle.
Tabela 1 - Média e desvio padrão das medidas do pré e pós-teste de ambos os grupos de idosas do asilo
SEOVE submetidas ao programa de exercícios físicos.
Legenda:
AI - Auto-Imagem
AE- Auto-Estima
Na tabela 2 será apresentado o teste “t” para amostras independentes entre os resultados
do pré-teste e do pós-teste, de ambos os grupos
Tabela 2 - Teste “t” entre as medidas do pré e pós-teste de ambos os grupos de idosas do asilo SEOVE
submetidas ao programa de exercícios físicos.
Variáveis Auto-Imagem Auto-Estima
t p t p
Experimental - 0,5 0,6 - 2,1 0,05*
Controle 4,8 0,001* 0,3 0,7
*p < 0,05
72 Benedetti et al.
Pode-se observar que houve diferen- nuaram igual ou até diminuíram. Este fato ocor-
ça significante na auto-estima do grupo experi- reu em ambos os grupos.
mental, e na auto-imagem do grupo controle. Também utilizou-se a análise estatísti-
Esses resultados mostram que a atividade físi- ca do coeficiente de associação de Pearson.
ca pode ter influenciado também as idosas do Este apresentou uma correlação linear de
grupo controle, que estavam presentes no lo- r=0,48 e o p=0,031 indicando uma correlação
cal e assistiam na maioria das vezes as aulas positiva moderada entre as diferenças da auto-
ministradas. Neste período, algumas idosas do imagem e auto-estima no grupo experimental e
grupo experimental adoeceram o que pode ter controle.
modificado a percepção em relação as ques- Os idosos do grupo experimental apre-
tões aplicadas. sentam melhora acentuada na auto-estima e
Algumas idosas tiveram pontuação auto-imagem em relação ao grupo controle, o
mais alta no teste aplicado, mas outras conti- que pode ser observado na figura 1.
12
1
8 1
1 1
1 1 1
4
Diferença de Auto-Imagem
0 1
2
1
1
2
-4 2
1 2
-8 2
2
2
-12 2
-16 1
-20
-30 -20 -10 0 10 20 30 40 50
Diferença de Auto-Estima
Figura 1 - Correlação entre a diferença do pré e pós-teste na auto-imagem e auto-estima dos grupos
experimental e controle.
A correlação mostra que as idosas com Observou-se que desde o início do pro-
melhor auto-estima também apresentavam grama de exercícios físicos na instituição asi-
melhor auto-imagem tanto no grupo experimen- lar, houve modificações na imagem corporal das
idosas como a utilização de roupas coloridas,
Volume 5 – Número 2 – p. 69 - 74 – 2003
Carvalho (1996) expõe que a partici- em que o indivíduo modifica sua estrutura cor-
pação em grupos de ginástica traz sentimentos poral ele acrescenta a seu quadro pessoal no-
positivos em relação ao próprio corpo, níveis vas dimensões que alteram a percepção de si
mais altos de auto-estima e “competições sau- mesmo e do mundo a sua volta.
dáveis” gerada dentro do grupo. Steglhich (1978), que desenvolveu o
Fox (1997) corrobora com estes acha- instrumento de auto-imagem e auto-estima, ao
dos afirmando que a auto-estima tem sido de- estudar três grupos de idosos acima de 65 anos,
senvolvida positivamente com a intervenção de não aposentados, aposentados ativos e apo-
programas de exercícios físicos e esportes, ten- sentados inativos, concluiu que os aposenta-
do resultados inéditos na qualidade de vida e dos inativos possuem auto-imagem e auto-es-
bem-estar mental. O autor também coloca que tima significativamente mais baixas que os ido-
a auto-estima está correlacionada diretamente sos não aposentados e aposentados ativos,
à auto-imagem. sendo que entre esses não houve diferença sig-
Mazo (2003) realizou uma pesquisa nificativa na auto-imagem e auto-estima. O as-
sobre qualidade de vida e atividade física com pecto em que o autor encontrou maior diferen-
198 idosas participantes dos grupos de convi- ça foi no emocional, principalmente no item fe-
vência no município de Florianópolis. A autora licidade pessoal.
verificou que as idosas mais ativas possuíam Na instituição asilar foi pesquisado
melhor auto-imagem e auto-estima. apenas o item felicidade pessoal. Os idosos
Mc Auley (2000) et al. estudaram 174 possuem dificuldade física, mental e financeira
idosas participantes de um programa de exer- para manutenção de boa aparência física o que
cícios físicos durante seis meses e verificaram poderia melhorar a imagem corporal. Além do
que a atividade física influência positivamente sedentarismo, morte social, dificuldades físicas,
nos níveis de auto-estima. mentais e financeiras, freqüentemente os ido-
A atividade física, segundo Chogahara, sos apresentam quadros depressivos, diminu-
Cousins & Wankel (1998), possui influências indo a auto-estima.
sociais nos idosos e traz benefícios em relação O envelhecimento ativo deve ser con-
à família, amigos, bem estar, integração social seqüência de um envelhecimento saudável
e melhora na auto-estima. (Rodrigues, 2000). A busca do ser ativo melhora
Gaya (1985) ao pesquisar a auto-ima- o ser humano de forma global. Os movimentos
gem de cardiopatas praticantes e não pratican- corporais estão ligados ao esporte e ao exercí-
tes de exercícios físicos, utilizou o mesmo ins- cio, criando estratégias de auto-representação
trumento deste estudo em sua coleta de dados, com modificações constantes na aparência.
e verificou melhora significativa na auto-imagem Para que se possa resgatar a auto-
dos cardiopatas praticantes de exercícios físi- estima e recuperar a auto-imagem dos idosos
cos em relação aos não praticantes, resgatan- asilados é necessário retomar a cidadania, par- Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano
do a auto-imagem perdida pela doença. Eviden- ticipando de grupos de discussão, trabalho vo-
cia-se que o grupo de cardiopatas estudado pelo luntário, atividades físicas de maneira geral,
autor possui características semelhantes com fazendo se sentirem úteis para a sociedade e
o grupo de idosos asilados principalmente pela ocupando o seu tempo livre. No asilo, a partici-
presença de doenças que segundo Fox (1997), pação dos idosos em grupos fora da instituição
é um fator agravante muito importante para é inexistente, dificultando ainda mais o resgate
auto-imagem negativa. da auto-estima. Pequenas falas ou carinhos de
Em um estudo com idosos, Safons terceiros são muito importantes e gratificante
(2000) teve como objetivo verificar as contribui- para os idosos institucionalizados. A auto-esti-
ções da prática regular de atividade física para ma positiva indica bem-estar, saúde mental e
a melhoria da auto-imagem e auto-estima, os ajustamento emocional, implicando diretamen-
resultados mostraram que participar de um pro- te na satisfação com a vida.
grama regular de atividades físicas contribui de
forma significativa para a melhoria da auto-ima- CONSIDERAÇÕES FINAIS
gem e auto-estima dos idosos.
Mosquera (1976) destaca que a auto- Para os idosos, as condições ofereci-
imagem está sempre em mudança, na medida das no ambiente influenciam de forma positiva
74 Benedetti et al.
ou negativa. As instituições deveriam, propor- Fox, K. R. (1997).The Physical Self and Processes in
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de funcional e a capacidade emocional do idoso.
Gaya, A. C. A. (1985). Auto-imagem em adultos de
Com relação a auto-imagem e a auto- média idade, portadores ou não de cardiopatias
estima, pode-se afirmar que a proposta do pro- isquêmicas submetidos ou não a treinamento
grama de exercício físico aplicado na institui- físico sistemático. Dissertação de mestrado em
ção asilar estudada foi positiva. Embora, é difí- Educação- UFRGS, Porto Alegre, RS.
cil saber o quanto a atividade física influenciou Hasse, M. (2000). O corpo e o envelhecimento: ima-
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acostumados, e pode ser a principal causa na de mulheres idosas. Faculdade de Ciências de Des-
modificação da auto-imagem e auto-estima. portos e de Educação Física da Universidade do Por-
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das idosas. Conseqüentemente, melhora a au-
ma: sentido para a vida humana. Porto Alegre:
tonomia e a independência, o que irá se refletir Estudos Leopoldenses.
em melhor auto-imagem e auto-estima. Mosquera, J. (1976). Auto-imagem e auto-estima: sen-
Portanto, são necessários investimen- tido para a vida humana. Estudos Leopoldenses,
tos para a contratação e formação de profissio- 37, 49 - 54.
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