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Centro Universitário Leonardo da Vinci

UNIERGS

Frente ao mar de fogos -


possibilidades e potencialidades
pedagógicas

Me. Juliana Vargas


PPGEDU / UFRGS - 2013
Para um começo de conversa:

[...] podemos dizer que aquilo que acreditamos já saber em


relação a qualquer assunto dificulta nossa percepção de
elementos que nos são desconhecidos, levando-nos a fechar
as portas para aqueles que não se encaixem em nossas
crenças anteriores. As certezas são, desse ponto de vista,
inimigas da aprendizagem.
Para aprendermos e apreendermos a multiplicidade de
elementos constitutivos dos múltiplos espaços/tempos
cotidianos, é preciso que neles cheguemos de modo aberto e,
tanto quanto possível despidos de preconceitos, sabendo o
quanto isso é difícil.
(ALVES e OLIVEIRA, 2002, p. 79)
O que é?

Quando ocorre?

Como ocorre?
Este período crítico começa com o início da puberdade, com a
entrada em funcionamento dos órgãos sexuais, ocorrendo mais
cedo nas raparigas, sensivelmente depois dos dez anos, com o
aparecimento da menarca, e mais tarde nos rapazes, com a
possibilidade de ejacular, mais ou menos a partir dos doze
anos, findando normalmente com o ganho de independência
praticamente total do sujeito em relação às figuras parentais.

FERREIRA e NELAS, (2006)


DEFINIÇÕES BIOLÓGICAS

A adolescência como época da vida marcada por profundas


transformações fisiológicas, psicológicas, afetivas, intelectuais
e sociais, mais do que uma fase, é seguramente um processo
dinâmico de passagem entre a infância e a idade adulta,
processo este que não é uma tarefa fácil para o adolescente.
Enquanto que nas sociedades antigas estes dois fenômenos
ocorriam mais ou menos em simultâneo, marcados por ritos de
transição no limiar da puberdade, hoje em dia, a puberdade
começa cada vez mais cedo e a idade adulta vai-se atingindo
cada vez mais tarde, assistindo-se a um prolongamento da
situação de dependência em relação aos pais, devido a fatores de
ordem social, educativa, pessoal e econômica (Sampaio,1997).

Quais características marcam, nos dias


de hoje, tal diferença?
Rituais de passagem

“Retiro” dos jovens nas sociedades tribais

Em Atenas na Grécia antiga, ao completarem 18 anos, os


adolescentes eram recebidos entre os efebos, mediante a sua
inscrição no registo da comunidade, [...] e aptos para o serviço
militar [...]

Na antiga Roma, os jovens, ao atingirem a adolescência,


trocavam a sua túnica com uma franja colorida (toga pretexta)
por outra completamente branca (toga virilis).

Iniciações sexuais Festa de 15 anos


Segundo Philipe Ariès (1981) até o século XVIII a infância e a
juventude eram entendidas como uma única etapa da vida,
uma vez que as descrições entre os sujeitos de diferentes
idades, por vezes, não diferiam.

Para Claudia Pereira e demais autores (2009), em épocas


anteriores ao início do século XX, o período da vida humana
entre o final da infância e a idade adulta tão pouco chegava a ser
denominado como uma fase determinada da vida.
O início do século XX é apontado por Àries (1981) como o
momento no qual a noção de juventude passa a ser
compreendida, em específico para as sociedades ocidentais,
próxima das caracterizações que, na atualidade, utilizamos
para descrevê-la. O término da Primeira Guerra
Mundial, em 1914, é pontuado pelo autor como uma das
condições de possibilidade para a organização de tal noção.
“[...] a consciência de juventude tornou-se um fenômeno geral e
banal após a guerra de 1914, em que os combatentes da frente de
batalha se opuseram em massa às velhas gerações da retaguarda.”
Assim, a adolescência, período da vida inexistente até então,
passa a ser a “[...] idade favorita. Deseja-se chegar a ela cedo e
nela permanecer por muito tempo” (ÀRIES, 1981, p.47).
Carles Feixa (2004) compreende a obra Adolescence: It’s
Psychology and it’s relations to Physiology, Anthropology,
Sociology, Sex, Crime, Religion and Education de autoria Granville
Stanley Hall, publicada em 1904, como o primeiro tratado sobre a
faixa etária que hoje denominamos como juventude
contemporânea. Na referida obra, a adolescência é compreendida
pela faixa etária entre 13 e 25 cinco anos e é caracterizada como um
período de grande agitação no qual os jovens não necessitariam
comportarem-se como adultos, uma vez que seus instintos os
encaminhariam para as posturas de agitação (FEIXA, 2004).
DEFINIÇÕES LEGAIS

Adolescentes Jovem
ECA 12 - 18 anos
OMS 10 - 24 anos
ONU 14 -18 anos 14 - 25 anos
SMJ 15 - 29 anos
Exemplos ao longo dos tempos

1920

Olga Benário

http://www.feminismo.org.br/livre/index.php?option=com_content&view=article&id=3323:olga-
benario-prestes-um-exemplo-para-os-jovens-de-hoje&catid=99:opiniao-e-analise&Itemid=483
Olga Benário Prestes nasceu em Munique (12/02/ 1908).
Aos 15 anos de idade, aproximou-se da Juventude
Comunista, organização política em que passaria a
militar ativamente. Aos 16 anos, apaixonada pelo jovem
dirigente comunista Otto Braum, Olga sai da casa
paterna e junto com o companheiro viaja para Berlim,
onde ambos irão desenvolver intensa atividade política
no bairro operário de Neukölln.
Bate outra vez 1920
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão,
Enfim

Cartola
Nascido no Catete, no Rio de Janeiro em 1908 e morando em
Laranjeiras o menino Angenor de Oliveiro, terceiro de uma
família de 10 irmãos foi obrigado pelo pai a começar a trabalhar
cedo, aos 11 anos, tão logo mudou-se para o morro da
Mangueira. No final dos anos 20, começou a montar um bloco
carnavalesco. Em 1928, foi um dos sete fundadores
da Mangueira, escola de samba que desfilaria pela primeira vez
no ano seguinte.

http://rzeusnet-ventonolitoral.blogspot.com.br/2011/06/cartola-1908.html
1950
James Byron Dean foi um ator norte
americano. É considerado um ícone
cultural, como a melhor
personificação da rebeldia e
angústias próprias da juventude da
década de 1950. Nascido em 8 de
fevereiro de 1931 e falecido em um
acidente de automóvel em 30 de
setembro de 1955.
1960 /1970
Anos 1980
1990/2000

1994

2007
2003
2010...
Características deste período da vida

Em grupo, descreva algumas caraterísticas comuns aos


jovens de determinada época É preciso destacar para o
grande grupo:

• Modos de vestir
• Comportamentos comuns
• Principais resistências às regras sociais
• Visibilidades na cultura e/ou na mídia
• Ídolos
Texto Veja - setembro 2001
http://veja.abril.com.br/especiais/jovens/p_058.html

A expressão "o ídolo de toda uma geração" não faz mais sentido
nos dias de hoje. No passado, as gerações se definiam pelos
ícones que as representavam. James Dean era o inspirador da
"juventude transviada" dos anos 50. Os Beatles e os Rolling
Stones, da turma do "sexo, drogas e rock'n'roll". Madonna, com
suas canções e sua atitude, liderava a juventude "com licença, eu
vou à luta", da década de 80.
E a geração atual? Pode-se dizer que ela não cola um pôster na
parede. Cola vários. O teen de hoje gosta num dia do grupo
americano Hanson, em outro dos Backstreet Boys, no terceiro
cobre todos eles com um retrato das inglesas Spice Girls. É
infiel por natureza. Isso pode chocar os mais velhos, que se
acostumaram a passar a adolescência orando para um único
roqueiro no altar do quarto.
"Eu era fã de Roberto Carlos e amava os Beatles com a certeza de que seria
para sempre", diz a bancária paulista Neise Soares, de 47 anos. "Minha
filha não pode dizer o mesmo em relação a ninguém." A filha de Neise é a
estudante Flávia Gianesella, de 16 anos. Ela coleciona pôsteres com duas
amigas[...] já idolatraram as Spice Girls, o ator americano Leonardo
DiCaprio, os Backstreet Boys e até os Guns N'Roses, do já barrigudo Axl.
[...] Quando a onda passa, guardam tudo na gaveta e começam outra
coleção. Perguntada sobre quem é seu ídolo real, Flávia responde: "Gosto
de reggae, black music, Whitney Houston, Rodrigo Santoro, Sandy &

Junior..." [...] Hoje, de seus ídolos, os adolescentes querem

apenas a diversão.
[...] Dizer que se trata de uma geração volúvel não passa de
simplificação. O que ocorreu, na verdade, é que mudou a relação
do adolescente com seu ídolo. Eleger modelos é próprio da idade.
Como diz o psiquiatra paulista Jairo Bouer, a idolatria juvenil é
despertada já entre os 13 e os 15 anos, com "a descarga de
hormônio no sistema nervoso central". A diferença é que, no
passado, os ídolos serviam para definir turmas e posavam de
guardiães de determinados valores. Quem era fã dos Beatles, que
representavam a rebeldia, não podia ser fã dos Rolling Stones, que
representavam uma rebeldia ainda maior.
CONCEITO DE JUVENTUDE

De acordo com a perspectiva dos Estudos Culturais, o conceito


de juventude remete a ideia de categoria plural, fato que a
afasta de um modo único para descrevê-la e contextualizá-la.
Estudos como os de Carles Feixa (1999), Rosa Fischer (2001),
Elisabete Garbin (2001) e Juarez Dayrell (2003, 2012)
distanciam-se das classificações etárias e descrições biológicas
na contextualização da categoria juventude.
Beleza, espontaneidade, vitalidade e versatilidade

Características naturalmente associadas


à condição juvenil

Assim, ações e procedimentos são naturalizados pelos discursos médico


e midiático como artifícios acessíveis para que os sujeitos vivam o ideário
de juventude, uma vez que esta etapa da vida acaba por ser
supervalorizada, percebida como um ideal a ser alcançado.
Conforme ilustra Severo, (2011) para alguns indivíduos a
juventude pode ser categorizada como um perfil de consumidor,
como um estado de espírito ou até mesmo, como uma
condição corporal. Tais fatos corroboram com a ideia de
Beatriz Sarlo (2004) quando afirma que “a juventude não é uma
idade, e sim uma estética da vida cotidiana” (SARLO, 2004, p.36).
Logo, na atualidade, podemos encontrar em nossa sociedade,
jovens de doze, vinte ou quarenta anos de idade.
CONSUMO ATITUDES

RELACIONAMENTOS MODA

Quem são os adultos?


Juventude - categoria dinâmica:

[...] uma noção de juventude na perspectiva da diversidade implica,


em primeiro lugar, considerá-la não mais presa a critérios rígidos,
mas sim como parte de um processo de crescimento mais
totalizante, que ganha contornos específicos no conjunto das
experiências vivenciadas pelos indivíduos no seu contexto social.
Significa não entender a juventude como uma etapa com um fim
predeterminado, muito menos como um momento de preparação
que será superado com o chegar da vida adulta.
(DAYRELL, 2003, p. 42)
JUVENTUDE CONTEMPORÂNEA

Tecla, ouve, escreve, “tuita”, come, fala, vê, fica,


fotografa, briga, fofoca, faz as pazes, estuda,
copia, conversa e posta...

Tudo ao mesmo tempo!

E NÓS, PROFESSORES?
Chama-nos a atenção o fato de que há uma juventude que convive, desde a
infância, com a televisão, e que não consegue imaginar o mundo sem TV,
sem computador, sem internet, sem chats, sem sites, sem celulares, etc. É
uma camada juvenil que tecla ao mesmo tempo em que troca e-mails,
navega em sites, posta fotos em outros, assiste televisão [com o controle
remoto à mão], ouve música num walkman, num discman, num iPod, num
MP3/4/5/6/... player, num celular, num Palm top, ou num aparelho de som
convencional e comenta o que assiste e ouve, o que tecla, troca de canais a
todo instante em busca de novas imagens, de novos sons, dos mais
diferentes lugares e com os mais diferentes personagens, com uma
velocidade ímpar [...]
Garbin (2009, p.33)
É interessante enfatizar que a dimensão cultural é
destaca por Dayrell (2007) como espaço de constituição das
identidades juvenis, através das práticas, dos símbolos e
dos rituais compartilhados entre os pares e muitas vezes,
visibilizados nos próprios corpos dos jovens, a exemplo das
tatuagens e piercings que os mesmos ostentam

Como ocorre essa dimensão cultural?


E ainda tem as “correrias”

A presença do tráfico, nas cercanias da escola e muitas vezes,


em frente às residências dos alunos pode ser percebida como
um dos desafios apontados para a garantia da sobrevivência
das jovens. Em muitas situações o envolvimento com os
próprios sujeitos do tráfico visa garantir proteção, posição de
status ou ainda, o próprio acesso aos entorpecentes.
Como docente/ pesquisadora percebo

As posturas e comportamentos de crianças e jovens, na


atualidade, nos surpreende;

Conectividade total: flexibilidade das fronteiras de espaço e


tempo;

Algumas das atitudes dos alunos, hoje, são distantes daqueles


esperadas pela instituição escolar;

Presença e inclusão de grupos sociais que antes não estavam


presentes na instituição escolar;
Inabilidade de alguns pais com os filhos e com a própria escola;

Carências de políticas educacionais;

Descrédito na aquisição do saber;

No que tange aos comportamentos femininos as mudanças nos


comportamentos parecem ser maiores;

A escola não sabe como lidar, ainda, com esses fenômenos.


Como pensar possibilidades e
potencialidades pedagógicas frente
a esta realidade contemporânea?

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