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A jovem Gabrielle
A história de Chanel não é fácil de contar. Ela não teve o mesmo destino da maioria
das mulheres. Não se casou e não teve filhos. Foi abandonada pelo pai na semana
seguinte à morte de sua mãe, e recebeu uma educação severa, típica de um
convento, o que, diga-se de passagem, não significa nem miséria nem maus tratos,
mas austeridade, solidão e sofrimento. (CHARLES-ROUX, 2007, p.4-5)
Logo que saísse da adolescência, Gabrielle corria o risco de ter que trabalhar como vendedora em uma
loja da região. Assim que completou dezoito anos, não pensava em outra coisa. No entanto, foi nesse
emprego que começou em Moullins: funcionária de uma loja especializada em enxoval, tecidos e
miudezas...mudou-se para Vichy e, sonhando fazer carreira no teatro, ela tentou o canto e a dança.
(CHARLES-ROUX, 2007, p.5)
Chanel e Balsan.
Viver com Étienne Balsan significava ir de um hipódromo a outro. Mas Coco só tinha
direito aos setor descoberto, pois era preciso evitar cruzar essa ou aquela dama que
poderia se ofender ao encontrar a mulher com quem Balsan vivia. Em seu obsessivo
medo de ser tomada por uma cortesã, Gabrielle forçava a dose do conveniente. Ela
precisava a todo custo ser diferente. Não a viam mais senão como moça independente,
tendo na cabeça um dos canotiers que ela mesma fazia e pelos quais as amigas eram
apaixonadas. (CHARLES-ROUX, 2007, p.61)
Gabrielle Chanel, em 1909, sem pérolas nem rendados. Sob seu vestido ponjê
(Tecido leve de lã e seda crua misturadas), uma camisete, discreta como um
uniforme de colégio interno, com decote e punhos debruados por sutache.
Cabelos escuros e volumosos, nariz arrebitado, maravilhosos perfil, e cujo nome
apenas começa a ser conhecido. Ela mantêm a postura ereta, como fará a vida inteira,
apoiada em todos os assentos como numa sela de amazona, ou como se, num vestido
mais fluido que os das suas contemporâneas, já tivesse a convicção de que uma boa
musculatura vale mais que todos os espartilhos. Esse vestido é obra sua. Sua ideia de
corpo é radical.
Foi ao mesmo tempo amazona e sedutora, treinando com os melhores cavalos e
explorando os atrativos que lhe eram peculiares: uma beleza natural e um charme
raro. Era vista em toda parte: Paris, Pau, Cannes, Deauville. Chanel ficou
conhecida como queridinha dos jovens notáveis da época. Depois de Balsan, veio
Boy Capel, um inglês de inteligência brilhante, seu maior e único amor.
(CHARLES-ROUX, 2007, p.6)
Boy Capel e Chanel a cavalo. Escolha exagerada aos olhos das pessoas de
classe, ela veste calças de montaria do tipo jodhpur, cujo modelo foi lhe
fornecido por um conheiro, e ela encomendou uma cópia ao alfaiate da região.
Com um chapéu de feltro para não se expor ao sol.
Nos últimos meses do ano de 1910, Gabrielle Chanel passou a morar com Arthur
Capel num elegante apartamento da Avenue Gabriel, e a criar chapéus num andar
do número 21 de uma rua cujo nome foi associado ao dela durante meio século: a
Rue Cambon. Na porta, uma placa: Chanel Modes. Finalmente ela era modista de
Coco Chanel e Boy Capel, 1913. fato, num local a sua escolha. (CHARLES-ROUX, 2007, p.87)
As belas mulheres que tinham sido o enfeite dos domingos No verão de 1913, ela decide com ajuda de
em Royallieu (propriedade de Balsan), as amazonas, as Boy Capel, inaugurar a loja em Deauville.
alegres amigas de Balsan, tornavam-se, em 1912, artistas
E, apesar dos defeitos de uma
de primeiro plano. Foram elas que, admiradas, aplaudidas e
organização pouco propícia ao
cada vez mais fotografadas nas revistas de moda, iam
sucesso, Gabrielle vira sua
revelar o nome de uma jovem estilista desconhecida:
clientela aumentar dia após dia:
Gabrielle Chanel. (CHARLES-ROUX, 2007, p.91)
“As clientes chegavam de
início, movidas pela
curiosidade. Um dia recebi a
Chanel com sua jovem
tia Adrienne em sua loja visita de uma delas, que me
em Deauville, 1913. Saia confessou sem rodeios: _Eu
de algodão e blusa com vim para vê-la!”. (CHARLES-
gola de marinheiro, feios ROUX, 2007, p.84)
por ela.