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DETERMINANTES DA OCORRÊNCIA DE DENGUE NA CIDADE DE

ARARAS/SP/BRASIL˸ ACOMPANHAMENTO DE 11 ANOS DE ESTUDO

Júlio Valentin BETIOLI¹; Nathalia FADEL1; Olavo RAYMUNDO JR.¹; Daniela Rossini TECHE2; Heitor Siqueira SAYEG3; Daiane Cristina CARREIRA1
¹Centro Universitário Hermínio Ometto; ²Secretaria Municipal de Saúde de Araras-Controle de Endemias; 3Universidade Federal de Uberlândia

Figura 1. Casos de ocorrência de dengue autóctones, Figura 2. Distribuição dos casos de dengue por Figura 3. Distribuição dos casos de dengue por
regiões no município de Araras – SP nos regiões no município de Araras – SP nos
INTRODUÇÃO importados e desconsiderados no
município de Araras – SP entre 2000 e anos de 2002, 2007, 2010 e 2011 anos de2001-2002, 2007, 2010 e 2011.
2011
A dengue envolve três áreas da ecologia (a humana, a do vírus e a do vetor) no 180
Norte
meio urbano e rural; pode ser considerada uma epidemia de desastre de origem 400
Autoctone
Importado
170
160 Sul
Leste
150
biológica, pela defesa Civil Nacional, pois juntamente com as outras (natural, Desconsiderado
140
130
Oeste
Central

estruturais, nuclear) podem causar prejuízos econômicos, ambientais e sociais 300 120

Casos de Dengue
Casos de Dengue
110

(SANTOS et al., 2010). 200


100
90
80
O custo social de 937 doentes com dengue, em Nova Friburgo (RJ), após desastre 70
60
decorrentes de fortes chuvas, Janeiro de 2011, foi estimado no mínimo de R$ 100 50
40

66.000,00 até R$ 813.000,00, incluíram custos ambulatórias e hospitalares (70 % do 30


20
0
montante) perda de produtividade (PEREIRA et al.; 2014). O Ministério da Saúde 10
0
02 07 10 11 02 07 10 11 02 07 10 11
20 02 40
07 10 11
80 100 120 140 160 180 200 22002240
07 10 11
propôs nova ferramenta para avaliar os riscos de epidemia no Brasil, cujos critérios 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 60 260 280

incluem três áreas da saúde, incidência de casos no período anterior, índices de Pela análise da Figura 3 pode-se observar a distribuição geográfica dos casos
infestação pelo mosquito e tipos de vírus circulante; um critério ambiental, cobertura detectados nos surtos. Constata-se que, embora não diferindo estatisticamente,
de água e coleta de lixo, e o quinto designado de demográfico – densidade observa-se um predomínio do sexo feminino com 376 casos (52 %) contra 347 (48 %)
populacional. masculinos. Gonçalves Neto e Rêbel (2004) julgam ser decorrentes a permanência no
A dengue, pelos motivos apresentados acima, precisa de atenção pois oferece riscos intradomicilio e/ou peridomicílio e o tipo de vestimenta, pois em determinados dias e
e vulnerabilidades social, econômica, médica, ecológica e Educação Ambiental. períodos a roupa deixa as partes inferiores desprotegidas, o que facilita a hematofagia
do transmissor contaminado.
OBJETIVOS Os pico da epidemia segundo as estações de ano restringiram-se,
predominantemente, em duas: verão e outono.
Avaliar os fatores determinantes dos casos confirmados de dengue registrados pela As cidades podem ser consideradas organismos vivos interconectados de forma
Secretaria Municipal de Saúde de Araras-Controle de Endemias entre 2000 e 2011, complexa a várias redes (biológicas, viárias, econômicas, políticas, sanitárias,
observando a sazonalidade e os fatores relacionados, foram as finalidades desse proximidade de outros municípios, etc.). A gestão e profissionais de saúde, segundo
trabalho. (BARROS, 2010), devem estar atentos de que nem sempre os locais com maiores
índices de casos são realmente os maiores disseminadores da doença. Locais que
demandam cuidados primários podem ser maquiados.
METODOLOGIA CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dados da epidemia de dengue em Araras, de 2000/2011, permitiram concluir que
O Município de Araras registra população residente estimada em 123.863 ocorreram três picos acentuados de casos, em 2001/2002, 2007 e 2010/2011, seguindo
2 2
habitantes, em 643,46 km , dos quais 320,00 km são perímetro urbano. Possui clima a tendência dos casos registrados no Estado de São Paulo e no município vizinho de
tropical, chuvas concentradas no verão e inverno seco; temperatura média máxima Rio Claro. A área central da cidade foi responsável por um terço dos casos
32 ºC e mínima de 8 ºC; o clima da região é do tipo Cwa, segundo a classificação confirmados e as ocorrências se concentram nos períodos de verão e outono, de modo
climática de Köppen. similar para ambos os sexos e a faixa etária variou de 15 aos 51 anos de idade.
Os dados de ocorrência de dengue foram disponibilizados segundo: classificação de Os casos confirmados de dengue, em maior ou menor extensão, sempre acarretaram
ocorrências por região, triagem dos casos suspeitos, autóctones e importados, dos riscos e vulnerabilidade da população, por se tratar de epidemia recorrente, quanto sua
casos desconsiderados, indeterminados e a ocorrência por faixa etária e sexo. O localização, envolver as ecologias humana, a do vírus e a do vetor, da heterogeneidade
registro por estações do ano foi de 2007 a 2011. espacial das condições de vida, do fluxo diário de pessoas para grandes centros
urbanos, tem custos elevados no tratamento ambulatorial e hospitalares, além de
incapacitar, debilitar e levar a óbito, requer sincronismo de gestão e planejamento dos
RESULTADOS E DISCUSSÃO profissionais envolvidos, nos setores da saúde (três), do ambiental e do demográfico,
O dados da dengue de 2000 a 2011, envolvendo casos autóctones ou não, além da colaboração da população e de Educação Ambiental permanente, reforçando o
distribuição espacial da doença por regiões e ocorrência de acordo com os sexos enfoque intersetorial da doença.
estão nas Figuras 1 a 3, respectivamente. No período considerado ocorreram três
picos endêmicos autóctones e importados: 2001/2002 (64), 2007 (323) e 2010/2011 REFERÊNCIAS
(262 e 268 casos), seguindo mesma tendência em Rio Claro, que dista 30 km AZEVEDO, T.S. et al. Perfil epidemiológico da dengue no município de Rio Claro no período de
(Azevedo et al., 2011). Condições climáticas no período, assim como a introdução de 1996 a 2010. Hygeia, Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde, v. 7, n. 12, p. 19 –
sorotipos diferentes no tempo e espaço (um, dois, três e quatro), além de relatos de 30, jun/2011.
novo sorotipo 5, reforçam a epidemia.
A epidemia por região administrativa somaram, no período, 297 casos na região BARROS, R.M.B. A eliminação do mosquito da dengue em ambientes residenciais: uma
central compreendendo 30,7% do total no município (Figura 2). Em 2007 foram questão de cuidado ambiental? 2010. 135 p. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – UFRN.
Natal, RN.
registrados nessa região 176 casos e em 2010 foi de 73. Em 2011 os maiores
números ocorreram nas zonas sul (95 casos) e leste (97 ocorrências). GONÇALVES NETO, V.S., REBELO, J. M. M. Aspectos epidemiológicos do dengue no município
A zona Leste é a mais populosa (26,0%), maior número de imóveis (28,9%), menor de São Luís, Maranhão, Brasil, 1997-2002. Cad. Saúde Pública, v. 20, p. 1424-31, 2004.
área disponível para loteamento (15,6%) e menos comércio (15,2%). A zona Sul tem a
segunda maior população (21,5%), e 25,3% dos imóveis do município, 29% dos PASTORIZA, T.B.; SILVA, E.N. O ensino interdisciplinar do tema dengue: uma proposta para a
terrenos vagos e pouco comércio (11%). geografia. Hygeia, v. 10, n. 18, p. 71 - 81, jun. 2014.
A Zona Central, com população de 17,7%, 15,2% dos imóveis e 11% dos terrenos PEREIRA, C.A.R. et al. Avaliação econômica dos casos de dengue atribuídos ao desastre de
disponíveis, apresenta o maior valor comercial dos imóveis, concentrando 52,3% do 2011 em Nova Friburgo (RJ) Brasil. Ciências & Saúde Coletiva, v. 19, n. 9, p. 3693-3704, 2014.
comércio da cidade (Figura 2).
Provável explicação: áreas de maior concentração e intercâmbio de pessoas, SANTOS, L.B.L. et al. Mapa de risco nacional de doenças relacionadas a variáveis de tempo e
domicílios, diversidade econômica, terrenos vagos, grandes centros comerciais e clima através de um índice espaço-temporal de prioridade de atenção baseado em casos. In:
educacionais, heterogeneidade espacial das condições de vida e presença do vetor SBSR, XVI, 2013, Foz do Iguaçu, PR. Anais... São José dos Campos: INPE, 13-18 abr. 2013,
e de criadouros (PASTORIZA; SILVA, 2014). 8576-8583.

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