Você está na página 1de 30

Jerusalém

A Mensagem do Nome
• Na tradição judaica, o nome Jerusalém tem sido
tema de muito debate.

• Midrash Rabah: sua etimologia evoca não


apenas o sacrifício de Isaque, mas também a
personalidade do sacerdote-rei Melquisedeque.

• André Neher, filósofo e erudito judeu:

• Jerusalém = yaro (de Moriá) + shalem

• Davi trouxe, nesse local, a memória de Isaque e


de Melquisedeque
• Tudo isso é verdade e importante.

• Mas uma análise do nome traz ainda muitas


outras importantes ideias teológicas.
MORIÁ

• Só aparece em dois textos na Bíblia.

• Gn 22 = sacrifício de Isaque

• 1Cr 21 (v. 2Cr 3:1) = Deus parou o anjo de destruir Jerusalém

• Segundo 2Cr 3:1, foi esse evento que de fato determinou a escolha
de Davi do local de sua capital e do santuário.

• Parece que a Bíblia quer atribuir ao local a ideia de "intervenção


divina" e "perdão".

• Ao escolher esse local, Davi colocou uma correlação muito próxima


existente entre o ato salvífico divino e o ritual do santuário.
SALEM

• Evoca Melquisedeque (Gn 14:18).

• Única vez que é mencionada é em conexão a ele.

• Melquisedeque = "rei de justiça"

• Possuia dupla função: rei de Salem (paz) e sacerdote


(recebeu dízimo de Abraão e lhe deu bênçãos).

• Foi chamado de sacerdote eterno (Hb 5:6).

• A tradição vê nele um antitipo do Messias.


• Assim, em Jerusalém estavam associados o sacerdote e a
vítima, o rei e o filho obediente.

• A intervenção salvífica de Deus para trazer justiça e paz.

• Outros fatores que conectam Jerusalém ao Messias:

• Jr 23:6 // 33:26 — cidade de justiça na era messiânica

• Midrash de Sl 21:1: "Assim como Ele nomeia o Messias pois


sei próprio nome, assim Ele também nomeará Jerusalém por
Seu próprio nome".

• Pode-se esperar, então, que os traços de um, o Messias,


sejam espelhados no outro, Jerusalém.
• A Bíblia nos instiga a prestar atenção aos nobres próprios.

• Geralmente, o objetivo é comunicar uma advertência — uma


profecia.

• A etimologia do nome, então, traz um amplo espectro de


revelações messiânicas.

• Ministério contraditório do Messias (sacerdote-vítima; rei-filho)

• Isso implica 2 Messias: José x Davi.

• No entanto, nunca foi pensado em 2 personagens.

• Como explicar isso então?


• Certo mestre talmúdico após submeter esse enigma a seus
discípulos, propôs a seguinte solução: "se o povo for digno,
o Messias virá nas nuvens do céu; se não for digno, Ele virá
modestamente sentado em um jumento" (Sanhedrin 98a).

• A única solução possível (lógica): se o Messias vier


diferentemente em 2 períodos históricos distintos.

• Assim, o problema da contradição seria resolvido e os textos


bíblicos respeitados.

• 1ª vinda = montado em um jumento, vítima sacrifical

• 2ª vinda = sobre as nuvens, rei eterno em glória


• A 1ª vinda, ele vem como HOMEM, na nossa história, no nosso tempo,
acessível à nossa capacidade.

• A 2ª vinda, ele vem como DEUS, em eternidade, para a eternidade,


além de nossa capacidade.

• Resumindo:

• O Messias precisa vir em glória, nas nuvens do céu, encarregado com


uma missão cósmica de estabelecer o fim dos tempos.

• Mas, antes disso, vem dentro do tempo, sobre um jumento, para


realizar os aspectos terrestres e humildes de sua missão.

• Ele reina sobre os poderes terrestres, para retomar o reino dos líderes
celestiais e, assim, reina sobre TUDO. Unindo céu e terra em um só
lugar — Jerusalém.
Chegando a Tempo
• No entanto, a vinda do Messias dentro da história humana implica
necessariamente um período de espera (v. Gn 3:15).

• Uma vez que sua 1ª vinda envolve um ministério que relembra o


sacrifício expiatório levítico, como não lembrar da passagem de Daniel
que menciona que o Messias seria "cortado" (‫כרת‬: como um sacrifício)?

• Pois conecta o Messias com a ideia de sacrifício e faz referência a um


tempo.

• Dn 9:24-27

• Esse texto precisa ser analisado com cautela para se encontrar a


verdade corretamente.
CONTEXTO

• Contexto histórico: 1º ano de Dario (538/7 AEC) — Dn 9:1

• Leitura do livro de Jeremias

• Perplexidade de Daniel sobre o tempo de cativeiro

• 70 anos (Dn 9:2; Jr 25:11-12; 29:10)

• O tempo chegou... onde está a promessa?


DANIEL 9 Tempo

Cidade
Oração Povo (Messias)

Tempo
• A introdução (1-4) e a conclusão (20-27) estão
conectadas pelo mesmo assunto: preocupação
com o tempo e o número de anos (70).

• Ambas passagens, que constituem a estrutura


do capítulo, falam da preocupação de Daniel
pela salvação de Israel.

• Preocupação dupla:

1. Visão das 2300 tardes e manhãs

2. Pecado do povo—cidade destruída


• A oração revela uma de suas preocupações básicas: o pecado do povo >
exílio (vv. 5, 7, 16).

Silogismo (preocupação de Daniel

A. cidade/templo está destruída;

B. o povo, pelo pecado, foi exilado;

C. logo, como expiar o pecado do povo para que possa sair se a cidade não
existe?

• Daniel clama por misericórdia e perdão.

• Suplica para que Deus restaure Jerusalém e seu Santuário (vv. 17-19).

• Resposta divina = uma mensagem angelical (v. 20).


• Verso 24 = resposta sobre o pecado do povo

• Verso 25-26 = resposta sobre o destino de Jerusalém

• O Messias aparece como o agente comum de ambas


respostas.

• POVO: expiação de pecados > justiça eterna — Messias

• JERUSALÉM: restauração-destruição
ESTRUTURA LITERÁRIA

• Dupla ênfase:

• povo e seus pecados x Jerusalém e seu Santuário

• Verso 24: 70 semanas para "teu povo e tua Santa


cidade"

Paralelos

POVO CIDADE

Findar a transgressão Trazer justiça eterna

Colocar fim ao pecado Selar a visão e a profecia

Expiar a iniquidade Ungir o Santo dos Santos


Paralelos

Messias/povo ‫שבוע‬ Cidade — ‫חרץ‬

A1: desde a saída da ordem para restaurar e B1: as praças e as circunvalações se


para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao reedificarão, mas em tempos angustiosos.
Príncipe, 7 semanas e 62 e duas semanas;

A2: Depois das sessenta e duas semanas, B2: o povo de um príncipe que há de vir
será morto o Ungido e já não estará; destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim
será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra;
desolações são determinadas.
A3: Ele fará firme aliança com muitos, por uma B3: sobre a asa das abominações virá o
semana; na metade da semana, fará cessar o assolador, até que a destruição, que está
sacrifício e a oferta de manjares; determinada, se derrame sobre ele.

• Efeito díptico (ex.: 2Sm 7; Mt 24)


• Tema povo — Messias

• Tema cidade — santuário

• As palavras que destacam os 2 temas – shavua/charats – se entrelaçam com o


foco do texto: tempo e espaço. Tempo para chegada do Messias e local de
missão – Jerusalém.

• Corrente dupla: povo-pecado vs. cidade-santuário

• A profecia apresenta um foco duplo:

1. Acabar com o pecado > que leva ao ao aparecimento e morte do Messias

2. Jerusalém e o santuário > construção e destruição

• A intenção de Daniel 9 é que o leitor entenda que o Messias está destinado a


ser uma vítima sacrificial.
• INTERPRETAÇÃO

• Para entender sobre o Messias é preciso conhecer a


história (que é a realidade em que ele é apresentado),
especialmente a história de Jerusalém (onde tudo
acontece/acontecerá).

• 2 pontos de informação:

1. Período: 70 semanas

2. Data início: decreto de reconstrução


Jerusalém/santuário
As 70 Semanas

• Literal? O que significa?

• 70 semanas = 1 ano e 4 meses — tempo muito curto

• Ez 4:4-7 - contemporâneo de Daniel; mesma mensagem

• Dn 10:3 - "semanas de dias" (única ocorrência - distinção)

• Daniel usa diferentes nomenclaturas dentro dos diferentes


períodos proféticos apresentado por ele, por quê?
*Daniel 7: "tempo" — ?
*Daniel 8: "tarde e manhã" — criação
*Daniel 9: "semana" — sábado e shavuot/shemitá e yovel
*Daniel 12: "dia" — ?
• Antigas interpretações:

• MMM:

“Mas lembrando-se da aliança dos Patriarcas, Ele deixou um remanescente


para Israel. E no tempo da ira, 490 anos depois de entregá-los nas mãos de
Nabucodonosor, rei da Babilônia, Ele os visitou. E Ele levantou para eles
um Mestre da Justiça para guiá-los no caminho do Seu coração e para dar
a conhecer às últimas gerações o que Ele faria até a última geração."
(Documento de Damasco)

• Talmude:

“Essa profecia foi dada no começo dos 70 anos de cativeiro na Babilônia.


Desde a restauração à segunda destruição, houve 420 anos, o que perfaz
um total de 490 ou 70 semanas de anos." (Nazir 32b)

"Uma semana em Daniel 9 significa uma semana de ano." (Yoma 54a)


• Atnakh em 7 semanas e 62 semanas

• Ilógico

• Ênfase

• LXX e Peshita
Ponto de Partida

• Esdras 6:14 - 3 decretos (Ciro-Dario-Artaxerxes)

• Somente o 3º decreto é mencionado, por ser o mais importante.

• Somente o 3º anuncia a restauração plena de Jerusalém.

• O 1º (2Cr 36:22-23; Ed 1:1-4) e o 2º (Ed 6:6-12) dizem respeito


somente à reconstrução do Templo.

• O 3º (Ed 7:12-26), além do Templo, envolveu a reconstrução de


Jerusalém. E é o único decreto seguido por um serviço de
dedicação e louvor a Deus.

• Emitido no 7º ano do reinado de Artaxerxes = outono de 457 aec


• O foco das Escrituras é o anúncio sobre a chegada do Messias
(Gn 3:15).

• "Todos os profetas profetizaram apenas para os tempos


messiânicos". (Berachot 12b)

• Evidências de Jesus como Messias:

• Seguidores

• Influência histórica

• "Naquele tempo viveu Jesus, um homem sábio... Ele realizou


milagres e ensinava as pessoas que recebiam com alegria a
verdade; e muitos o seguiram" (Josefo, Antiguidades 18.3.3)
• Dos ritos levíticos às profecias de Isaías, tudo parecia anunciar
à vinda do Messias-Deus que traria a salvação por sua morte
sacrifical.

• Imediatamente na Sua primeira aparição já é reconhecido como


"o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1:29).

• Muitos testemunharam sua ressurreição.

• Muitos testemunharam seus milagres.

• Muitos morreram por ele.

• Muitos entenderam o tempo de sua chegada (Gl 4:2-4; Mc


1:15).
• Evidências internas:

• Anjo Gabriel: Dn 8:16; 9:21 // Lc 1:19, 26

• Tempo cumprido: Mc 1:15 // Dn 9:24-25

• "Filho do Homem": Dn 7:13-14

• Sermão de Jesus sobre o futuro: Mt 24:15

• Muitos: Dn 9:27 // Mt 26:28 // Is 53

• 4 ideias: perdão dos pecados, morte do Messias, aliança e


muitos

• Linguagem: Apocalipse // Daniel


Por que a resistência em vê-lo como Messias ante tão
consistentes evidências?

• Teoria x Prática

• Jesus conquistou as pessoas por seu relacionamento com


elas e não por demonstração racional.

• Aceitação deriva de experiência, do conhecimento pessoal.

• Experiência > releitura racional das Escrituras (ex. Paulo)

• Ninguém ama outro por questões racionais, mas relacionais


(namorados).
• Pensamento hebraico diferente do cartesiano

• "Existo, logo, penso!"

• Um pouco agostiniano: "crer para entender"

• Ação precede a compreensão (Êx 24:7)

• Estrutura sintática (verbo+sujeito)

• Não são nossas palabras que convencem, mas nossa


vida — o melhor argumento.
• Aceitar o Messias Jesus, contudo, não necessita deixar
de ser judeu.

• Jesus, viveu como um judeu e nunca se tornou cristão.

• Ser cristão é ser um judeu como Jesus.

• E ser judeu é ser tão judeu quanto Jesus foi.

• A "nova aliança" não foi uma quebra ou separação, mas


ao contrário, um renascimento da Aliança Eterna.

Você também pode gostar