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Gestão pública e Gênero

Prof. Dra. Paula Arcoverde Cavalcanti


UNEB
“...o poder não é, o poder se exerce. E se
exerce em atos, em linguagem. Não é uma
essência. Ninguém pode tomar o poder e
guardá-lo em uma caixa forte. Conservar o
poder não é mantê-lo escondido, nem preservá-
lo de elementos estranhos, é exercê-lo
continuamente, é transformá-lo em atos
repetidos ou simultâneos de fazer, e de fazer
com que outros façam ou pensem. Tomar-se o
poder é tomar-se a idéia e o ato”.
(KIRKWOOD,1986)
“...a capacidade de decidir sobre a própria vida:
como tal, é um fato que transcende o indivíduo e se
plasma nos sujeitos e nos espaços sociais: aí se
materializa como afirmação, como satisfação de
objetivos (...). Mas o poder consiste também na
capacidade de decidir sobre a vida do outro, na
intervenção com fatos que obrigam, circunscrevem
ou impedem. Quem exerce o poder se arroga o
direito ao castigo e a postergar bens materiais e
simbólicos. Dessa posição domina, julga, sentencia
e perdoa. Ao fazê-lo, acumula e reproduz o poder”.
(LAGARDE, 1993)
O poder (na ciência política
geralmente vinculado ao
Estado) pode ser fonte de
opressão, autoritarismo,
abuso e dominação, mas ao
mesmo tempo pode ser uma
fonte de emancipação, uma
forma de resistência.
Empoderamento é: o
mecanismo pelo qual as
pessoas, as organizações, as
comunidades tomam controle
de seus próprios assuntos, de
sua própria vida, de seu
destino, tomam consciência da
sua habilidade e competência
para produzir e criar e gerir.
Empoderamento significa em geral a ação
coletiva desenvolvida pelos indivíduos quando
participam de espaços privilegiados de
decisões, de consciência social dos direitos
sociais. Essa consciência ultrapassa a tomada
de iniciativa individual de conhecimento e
superação de uma situação particular
(realidade) em que se encontra, até atingir a
compreensão de teias complexas de relações
sociais que informam contextos econômicos e
políticos mais abrangentes.
Do ponto de vista político:

O empoderamento passa pelo


aprofundamento da democracia mediante
ampliação da cultura política e da
participação cidadã. Empoderar, aqui,
significa conquista de vez e voz, por
indivíduos, organizações e comunidades, de
modo que esses tenham elevados níveis de
informação, autonomia e capacidade de fazer
suas próprias escolhas culturais, políticas e
econômicas.
 O empoderamento é visto como
principal estratégia de combate à
pobreza e de mudanças nas relações
de poder

Dentre as condições prévias para o


empoderamento da mulher, estão os
espaços democráticos e
participativos, assim como a
organização das mulheres
O Empoderamento das Mulheres
É precondição para obter a
igualdade entre homens e
mulheres

Representa um desafio às relações


patriarcais, em especial dentro da
família, ao poder dominante do
homem e a manutenção dos seus
privilégios de gênero.
O Empoderamento das Mulheres
 Implica a
alteração radical dos
processos e das estruturas que
reproduzem a posição subalterna da
mulher como gênero

 Significauma mudança na dominação


tradicional dos homens sobre as
mulheres, garantindo-lhes a autonomia
no que se refere ao controle dos seus
corpos, da sua sexualidade, do seu
direito de ir e vir, bem como um
repulso ao abuso físico e as violações
de qualquer ordem
O Documento “Empoderamento das Mulheres -
Avaliação das Disparidades Globais de
Gênero” (FEM, 2005) definiu cinco dimensões
importantes para o empoderamento das
mulheres

1. Participação econômica

2. Oportunidade econômica

3. Empoderamento político

4. Avanço educacional

5. Saúde e bem-estar
Três tipos de poder
 O poder social refere-se ao acesso a certas “bases” de
produção doméstica, tais como informação, conhecimento
e técnicas, e recursos financeiros. Prevê o acesso à
instituições e serviços e capacidade de influência à nível
público

 O poder político diz respeito ao processo pelo qual são


tomadas as decisões; não é apenas o poder de votar, mas,
principalmente, o poder da voz e da ação coletiva que
importa; significa maior participação no âmbito político
inclusive o acesso a ocupar cargos de representação e
direção

 O poder psicológico ou pessoal inicia com o despertar da


consciência em relação à sua autonomia e
desenvolvimento pessoal; envolve auto-estima e auto-
confiança; ter controle sobre a sua própria sexualidade,
sobre a reprodução e sobre a sua segurança pessoal;
decorre da consciência individual de força.
O processo de empoderamento da
mulher traz a tona uma nova
concepção de poder, assumindo
formas democráticas, construindo
novos mecanismos de
responsabilidades coletivas, de
tomada de decisões e
responsabilidades compartidas.
É negar o lugar da família e da casa como destino e
única possibilidade de inserção das mulheres na
sociedade, o que, para todas as mulheres, tem sido o
lugar de confinamento e exclusão.
Por participação política: entendemos a participação
das mulheres nas eleições, no parlamento, nos
governos executivos e poder judiciário, nos conselhos
e conferências de políticas públicas e também todas as
ações das mulheres realizadas em função da sua auto-
organização como movimento social em suas diversas
vertentes - sindical, popular, rural, urbano, acadêmico,
partidário.
Engels (1987):
A mulher padece historicamente de submissão e
subordinação ao sexo masculino desde que foram,
formadas as bases da subordinação com o surgimento
da propriedade privada, onde a humanidade migrou do
estado bárbaro para o estado civilizatório.
Neste momento o homem passa a dominar a cultura e
o poder político de interesse público, enquanto a
mulher cuida da natureza e dos ofícios domésticos
como a criação dos filhos, do cuidado da casa e das
atividades que servem obedientemente ao “patriarca”.
A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe igualmente dos
meios de produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles a
quem são recusados os meios de produção intelectual está submetido
igualmente à classe dominante. Os pensamentos dominantes são apenas a
expressão ideal das relações materiais dominantes concebidas sob a forma
de idéias e, portanto, a expressão das relações que fazem de uma classe a
classe dominante; dizendo de outro modo, são as idéias de seu domínio
(MARX E ENGELS,1980, p 55)

A igualdade só se poderá restabelecer quando os dois sexos tiverem direitos


juridicamente iguais, mas essa libertação exige a entrada de todo o sexo
feminino na atividade pública. "A mulher só se emancipará quando puder
participar em grande medida social na produção, e não for mais solicitada
pelo trabalho doméstico senão numa medida insignificante”. (BEAUVOIR ,
1949, p 75).
Freire (2003):
A lógica opressor e oprimido sempre vai
existir, mas é necessário um trabalho
educativo do oprimido sobre o opressor,
para que este, ao participar das decisões
do poder ou tomar o poder em si, não
utilize os mesmos instrumentos
totalitários e repressivos dos quais foi
vítima um dia.
Alguns eventos importantes...
Constituinte de 1891: o voto feminino foi
negado sob o argumento de que seria “um
estímulo ao fim das famílias”.

1917 : quando as brasileiras ganharam o


direito de ingressar no serviço público.
1919: A Conferência do Conselho Feminino
da Organização Internacional do Trabalho-OIT
aprovou a equiparação salarial
1920 : as mulheres se integraram ao
movimento sindical
1934: Assembléia Constituinte garantiu o
princípio da igualdade entre os sexos, a
regulamentação do trabalho feminino, a
equiparação salarial e deu à mulher o direito ao
voto.
Mas as mulheres são :
apenas 9% da Câmara Federal
cerca de 12% dos assentos nas Assembléias
Legislativas;
aproximadamente 12% das Câmaras
Municipais;
9% dos executivos municipais.
Na Administração Pública Federal representam
44% do quadro efetivo. Porém, quanto maior é
o poder de decisão dos cargos, menor é a
participação feminina.
Média de Anos de Estudo da População de 10
Anos ou Mais de Idade População Ocupada
por Sexo

 Nordeste: Mulheres: 8,3 Homens: 7,3

Dados do “Anuário dos Trabalhadores


2008” – Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese) – Junho de 2009
Mulheres na Educação no Brasil Professoras
nos Ensinos Fundamental, Médio, Superior e
Reitoras

Níveis Percentual de Percentual de


Mulheres Homens

Reitoras 10,9 % 89,1 %

Ensino 50 % 50 %
Superior

Ensino Médio 71 % 29 %

Ensino 85 % 15 %
Fundamental
O levantamento mostra que elas são
consideradas, pela população inclusive
pelos homens, mais confiáveis,
honestas, firmes competentes, capazes e
mais responsáveis.

Então , porque ainda ocupa pouco os


espaços no poder público e na gestão
pública?
Gestão Pública
 Entende-se a gestão publica como um espaço de “ mercado
de trabalho.”
 Como um espaço que possibilita:
 Politização dos debates sobre a situação das mulheres
 A garantia da intervenção politizada, qualificada e
autônoma das mulheres na vida publica ou gestão publica
 Ampliação da participação em outros espaços da sociedade
civil
 Articulação alianças com grupos e outros movimentos que
lutam por direitos e políticas públicas
Gerir ou Administrar
 Administrar: Administrare
 Gerir : Gerere ('trazer'; ( gerir negócios públicos ou
'produzir', 'criar'; 'executar'; particulares), reger com
'administrar'); ter gerência autoridade suprema; governar;
sobre; administrar, dirigir, dirigir; dirigir qualquer
reger; gerenciar instituição, conferir, ministrar
(sacramento), dar a tomar,
ministrar (medicamento),
 Gestar: Gestare ( 'levar', manter sob controle um grupo,
'trazer'; 'carregar', por via uma situação, etc. a fim de
erudita), Conceber, produzir, obter o melhor resultado.
gerar; Inventar, engendrar,
criar.
Gestão ou Administração
 Administração:
Administratione (Ação de
administrar, Gestão de
 Gestão: Gestione (Ato negócios públicos ou
de gerir; gerência, particulares, Governo,
administração) regência.)
 Conjunto de princípios,
normas e funções que têm por
fim ordenar a estrutura e
funcionamento de uma
organização (empresa, órgão
público, etc.).
Administração ou Gestão ?
A administração : (re)emoldurada pela palavra
gestão;
Dois caminhos a seguir:
1. incorporar ao nosso cotidiano o discurso de
que somos gestores, mas continuarmos com
práticas meramente administrativas, diretivas e
burocráticas ( práticas estas próprias da
racionalidade técnica, hierárquica e vertical)
Administração ou Gestão ?

2. Reincorporar a gestão o sentido de sua


origem latina ligado ao fazer, produzir, criar e
executar.
Opções políticas que acompanham o uso e a
(re)significação de determinados termos ou
categorias lingüísticas é que podem resgatá-los
no sentido de transformações
Verdadeiramente cidadãs.
A Gestão é uma mudança paradigmática

Paradigma corresponde ao modo de existência


e organização de idéias,constituindo princípios
ocultos caracterizados por uma noção nuclear
da realidade (MORIN, 1985);
Significaria a totalidade de pensamentos,
percepções e valores que formam uma
determinada visão da realidade, uma visão que
é uma base do modo como uma sociedade se
organiza (CAPRA, 1993);
A concepção de paradigma:
Resulta da compreensão do modo como nosso
pensamento é orientado para perceber o
mundo, o que, por isso, determina o que vemos
e o que deixamos de ver, e, em conseqüência,
como reagimos diante da realidade, nada
excluindo sobre ela, determinando o modo de
ser e de fazer das pessoas em seu contexto.
O conceito de gestão resulta de um novo
entendimento a respeito da condução dos
destinos das organizações. Leva em
consideração o todo em relação as suas partes
e destas entre si, de modo a promover maior
efetividade de conjunto (Morin, 1985; Capra,
1993);
Superação dos limites dos conceitos de
administração;
Gestão Pública
 Autônomo (soluções próprias, no âmbito de suas
competências),

 De participação e compartilhamento (tomada conjunta de


decisões e efetivação de resultados),

 Autocontrole (acompanhamento e avaliação com retorno de


informações),

 Transparência (demonstração pública de seus processos e


resultados);
A Gestão......
Demanda o fazer e não somente o administrar”
cujo sentido é, fundamentalmente, “reger com
autoridade suprema; governar; dirigir; controlar” .

É a geração de um novo modo de “administrar”


uma realidade e é, em si mesma, democrática, já que
se traduz pela comunicação, pelo envolvimento
coletivo e pelo diálogo.
 Gestão provém do verbo gero, gestum, gerere e significa: levar
sobre si, carregar, chamar a si, executar, exercer, gerar e trata-
se de algo que implica o sujeito (substantivos derivado deste
verbo.)
 Trata-se de gestatio, ou seja, gestação: ato pelo qual se traz em
si e dentro de si algo novo, diferente: um novo ente.
O termo gestão tem sua raiz etimológica em “ger “que significa
fazer brotar, germinar, fazer nascer. Da mesma raiz provêm os
termos genitora, genitor, gérmen.
A gestão implica um ou mais interlocutores com os quais se
dialoga pela arte de interrogar e pela paciência em buscar
respostas que possam auxiliar no governo da educação. Nesta
perspectiva, a gestão implica o diálogo como forma superior de
encontro das pessoas e solução dos conflitos.
Gestão é a capacidade de fazer o que
precisa ser feito.
É conduzir a organização para
cumprir a sua função .

É...
Planejar,Organizar, Dirigir,
Coordenar Avaliar, Controlar...
Despertar nas mulheres a vontade de
participar na vida pública e orientar e fornecer
a elas conteúdos necessários para o efetivo
ingresso na carreira política.

Importância do novo papel da mulher no


mundo do trabalho e sua ascensão como
gestora na gestão pública
Na Gestão Pública :

 valores de igualdade,
liberdade,
solidariedade e respeito às diferenças;
relações de diálogo e de transparência;
práticas de alianças e de parcerias;
ações criativas, enriquecedoras e prazerosas;
 estruturas horizontalizadas, cooperativadas e
democráticas.
Quando nós mulheres, estamos organizadas em
grupos e movimentos ou na gestão publica:
lutamos pela implementação de políticas públicas
para todas as mulheres
 lutamos por um modelo de Estado que assegure
direitos para todas, através da implantação de
políticas universais, e não apenas para uma pequena
parcela da população .
lutamos pelos recursos para políticas de saúde, pela
ampliação dos serviços públicos e pela qualidade no
atendimento às mulheres.
• É preciso fazer política e ocupar posições de poder em todos
os cantos, no âmbito do Estado e no âmbito da sociedade
civil organizada.

• Inserir-se nos diversos tipos de movimento social, nos


partidos políticos, nos sindicatos e centrais sindicais, nas
associações de cunho econômico, profissional, cultural,
esportivo, religioso, nas ONGs.

• É importante que as mulheres estejam presentes, também, nas


direções dos movimentos e das organizações, contribuindo na
gestão do espaço público.

• Na sociedade civil é necessário uma maior participação


política no engajamento sistemático de todas, e, portanto é
necessário, a adoção de direções colegiadas e inclusivas.
Então ,

Como podemos fortalecer a nossa participação


política e fazermos a diferença?

Quais são as dificuldades que encontramos e


como fazer para superá-las?
Obrigada,

Prof. Dra Paula Arcoverde Cavalcanti

Email: pcavalcanti@uneb.br

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