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Dos anos de chumbo

à Reforma Sanitária
LUIZ ANTONIO TEIXEIRA
Objetivo geral

Discutir o contexto de emergência e o processo de


desenvolvimento da Reforma Sanitária Brasileira,
seus fundamentos e características.
Nos anos de chumbo
• Fortalecimento e crise da chamada Medicina Previdenciária e
constituição de um vigoroso setor hospitalar privado, cooperativas
médicas e medicina de grupo.

• Centralização normativa e político-administrativa da máquina pública


em saúde.

• Constituição de uma militância em torno da Reforma Sanitária e


debate sobre democratização do Estado e sociedade.
• Radicaliza-se separação entre assistência médica individual e saúde
pública (reabilitação versus prevenção): MS e MPAS

• Inserção das ciências sociais no campo da saúde (educação sanitária,


antropologia, sociologia da saúde e epidemiologia social etc)
Nacional/internacional
• Orientações internacionais: Carta de Punta del Este, Planos Decenais de Saúde,
Encontros de ministros da saúde, reuniões internacionais sobre educação
médica. (1961-1972)
Objetivos:
• Organizar instituições de saúde segundo perspectiva sistêmica.
• Estabelecer com relativa precisão – com base em diagnósticos estatísticos – o
perfil e o quantitativo de pessoal de saúde requerido, bem como sua
distribuição em um dado território.
• Como parte das discussões sobre organização dos serviços, da APS e da
interiorização da assistência, inicia-se discussão sobre “qualidade” não mais
como sinônimo de excelência técnica, mas sim como condição que responderia
às reais necessidades da população: fazem parte deste cenário os projetos de
formação extramuros ou de ensino-serviço-comunidade.
Até então...
• Partia-se de um certo automatismo que previa que uma mudança no
padrão qualitativo de formação dos médicos repercutiria necessariamente
nas condições de prestação dos serviços (crítica embutida ao SESP).

• Isto é, o modo de formar médicos determinava a ordem institucional da


saúde (Educação determinaria o Trabalho).
 Pela valorização da administração e via planejamento de base normativa se
compreende os trabalhadores como “recursos” ou variáveis produtivas.
Sendo estes objeto de estudos que melhor afiram seu perfil, registraríamos
melhor prestação de serviços;

 Apontava-se, ainda, para a importância do capital incorporado aos seres


humanos, especialmente na forma da educação e da saúde, como elemento
promotor do desenvolvimento
Marcos institucionais: anos 70
(ou uma sopa de letrinhas!)
• SNS
• PIASS
• PPREPS

• CEBES
• ABRASCO
O PPREPS
Parceria entre o governo brasileiro e a OPAS foi chave para a condução de
políticas de RH em saúde.
Foi a primeira política nacional de estado para RH em saúde no Brasil.
• Formação direta de quadros.
• Apoio a criação de núcleos de desenvolvimento de RH nas secretarias de
saúde dos estados
O que é uma reforma sanitária
O que foi a nossa Reforma Sanitária?
• Consequência de uma revolução política e
social
• Parte de um processo que reforma
radicalmente o setor de saúde e aponta para
uma mudança social
• Reforma setorial que propõe mudanças no
sistema de serviços de saúde (reforma do setor
saúde)
• Reforma racionalizadora que visa à melhoria
das condições de saúde e da qualidade de vida
da população
Bases teóricas

• Saúde e democracia

• Determinação social da saúde/doença

• Conceito ampliado de saúde

• Um passo a frente do “preventivismo”

• Reforma como impulsionadora da mudança social

• Sistema de saúde como marco civilizatório


Sistema Único de Saúde (SUS)

• SUS universal, descentralizado e democrático


ARCABOUÇO JURÍDICO DO
SUS
LEI N.º 8.080, de 19 de setembro de 1990
• Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes.
• “O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e
instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração
direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público” (Art. 4o),
contando com a iniciativa privada de forma complementar, através
de contrato de direito público.

LEI N.º 8.142 de 28 de dezembro de 1990.


• Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema
Único de Saúde - SUS e sobre a transferência
intergovernamentais de recursos financeiros na área de saúde.
Princípios do SUS
• Dignidade da pessoa humana

• Saúde como direito social – cidadania

• Universalidade – todos

• Igualdade - assistência sem preconceitos ou privilégios

• Equidade – de acordo com as necessidades, “discriminação positiva”

• Integralidade

• Preservação da autonomia das pessoas

• Direito à informação
Financiamento do SUS
Programa de Saúde da Família (PSF)*

• 27.454 equipes

• 5131 municípios

• 87,9 milhões de pessoas

• Essa expansão do PSF tem possibilitado um


“caldeirão” de experimentos locais voltados para a
integralidade, qualidade e efetividade da atenção.

*2007
Legado do PPREPS
  Maior institucionalização das discussões de RH no campo da saúde
  Produção de conhecimento sobre o campo.
  Repercute em uma visão não instrumental da força de trabalho: critica à
perspectiva de “treinamento” em favor de uma “formação” que contemple o
trabalhador como sujeito em um processo de constituição de cidadania.
Legado do PPREPS
  O PPREPS contribui para o surgimento da gestão, como componente das
políticas de RH.
  Significa dizer que, além da questão de formação de quadros, sinaliza-se
com mais clareza para a dimensão do trabalho: as condições do seu exercício,
as bases que organizam os serviços, o papel das corporações etc.
  Um vocabulário emerge: “Pactuação”, “negociação”, “consenso”.
Formação de pessoal auxiliar
  Trajetória de Izabel dos Santos
  Influência freireana: trabalho como espaço docente; formação para
cidadania e crítica à formação para o mercado.
  Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde (Declaração
de Alma-Ata)
  Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde - Prev-Saúde
  Programa de Desenvolvimento de Sistemas de Capacitação em Serviço de
Pessoal Auxiliar de Saúde - Larga Escala
  Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem –
PROFAE
  ETSUS
Uma visão geral do contexto 1980
  Anos 80: “década perdida”, sonhos e desilusões.

  Redemocratização e (neo)liberalismo econômico

 incapacidade de investimento público e implantação de um sistema de


saúde universal
Em termos globais
  Crise do welfare-State na Europa Ocidental

  Fim da Guerra Fria.

  EUA como potência hegemônica e surgimento de conflitos regionais.


Legado do período
 1) Institucionaliza-se, sob importante resistência, um
processo de reorientação das práticas em saúde, com a
implantação do SUS.
 2) Expressa-se com vigor relações de conflito entre interesses públicos e
privados na saúde.

 3) Saúde e cidadania: acesso como direito humano


fundamental
Legado do período
 4) Pegando carona no municipalização,
descentralização político-administrativa avança
em detrimento da regionalização
 5) “Internacionalização da saúde”:
enfraquecimento dos organismos multilaterais
com regime de governança de pais/voto. Banco
Mundial emerge como ator fundamental.
Pra onde vai o SUS?
 Financiamento
 Apoio político e social
 Gestão e sistema de saúde
 Educação e trabalho
 Ciência e Tecnologia
 Participação social e governança

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