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A Escola e a Cidade: Políticas Públicas

Educacionais

Disciplina: Políticas Públicas Educacionais

Professora: Msc. Kelly Mafra


Políticas Públicas Educacionais: conceito e
contextualização numa perspectiva didática
Adão Francisco de Oliveira

Política / Políticas públicas / Políticas Públicas


Educacionais

 POLÍTICA
Origem grega, politikó, que exprime a condição de
participação da pessoa que é livre nas decisões sobre os
rumos da cidade, a pólis.
POLÍTICA
- Ligada aos poderes legislativo, executivo e
judiciário (política institucional)
- Está ligado aquilo que é urbano, da cidade
- Atividade humana relacionada ao exercício do
poder
- Abrange o Estado e vai além do Estado
- Aristóteles – o ser humano é animal político
- Pessoa política
POLÍTICAS PÚBLICAS

Como surgiu:
 Na Europa – tradição de estudos e pesquisas
concentrados mais na análise sobre o Estado e suas
instituições do que na ação dos governos
 Nos EUA – surge como área de conhecimento e
disciplina acadêmica sem estabelecer bases
teóricas sobre o papel do Estado. Estudo centrado
na ação dos governos.
 Brasil – ganha visibilidade no pós guerra a partir das
novas visões sobre o papel dos governos - com a
adoção de políticas restritivas de gastos.
 POLÍTICA PÚBLICA
 No ponto de vista etimológico – significa participação do
povo nas decisões da cidade, do território.
Ao logo da história a participação foi se construindo de
forma direta ou indireta (representação)

O agente fundamental no acontecimento da política


pública sempre foi o Estado.

- Há várias definições
Algumas definições:

Autor Definição de políticas públicas Ano da


obra
Mead Campo dentro do estudo da política que analisa o 1995
governo à luz de grandes questões públicas.
Lynn Conjunto específico de ações do governo que irão 1980
produzir efeitos específicos.
Peters Soma das atividades dos governos, que agem 1986
diretamente ou através de delegação, e que
influenciam a vidas dos cidadãos.
Dye O que o governo escolhe fazer ou não fazer. 1984
Laswel Responder às seguintes questões: quem ganha o 1958
quê, por quê e que diferença faz.
 Definição de Sergio Azevedo, 2003:
“Política pública é tudo o que um governo faz e deixa de
fazer, com todos os impactos de suas ações e de suas
omissões”.

• Política e política pública – distinção:


Política Pública - exclusiva do governo (formulação,
deliberação, implementação e monitoramento)
Política – ligada ao governo, mas também é praticada pela
sociedade civil
Política - representa decisão diante do choque de interesses
Política – desenha as formas de organização dos grupos na
sociedade, sejam eles econômicos, étnicos, de gênero,
culturais, religiosos e outros.
 Tipos de Políticas Públicas:

Redistributivas / Distributivas /Regulatórias

 Redistributivas: redistribuição de renda na forma de recursos


e/ou de financiamento de equipamentos e serviços públicos.
Ex: bolsa-escola, bolsa-universitária, cesta básica, renda
cidadã, isenção de IPTU e de taxas de energia e/ou água
para famílias carentes.
 Distributivas: ações cotidianas que todo e qualquer governo
precisa fazer. Ligada à oferta de equipamentos e serviços de
acordo com a demanda social ou a pressão dos grupos de
interesse. Ex: podas de árvores, os reparos em uma creche,
a implementação de um projeto de educação ambiental ou a
limpeza de um córrego, dentre outros.
 Regulatórias: Ligada ao campo de ação do poder
legislativo. Elaboração das leis que autorizarão os governos
a fazerem ou não determinada política pública redistributiva
ou distributiva.
Esse tipo de política possui importância fundamental, pois é
por ela que os recursos públicos são liberados para a
implementação das outras políticas
Políticas Públicas Educacionais
 O que o governo faz ou deixa de fazer em educação
 Educação campo amplo
 Políticas públicas educacionais dizem respeito à
educação
escolar.
 Decisões do governo que incidem no ambiente escolar
Ex: construção do prédio, contratação de profissionais,
formação docente, carreira, valorização profissional,
matriz curricular, gestão escolar, etc.
 Essa educação escolar moderna, massificada, remonta à
segunda metade do século XIX.
 Ela se desenvolveu acompanhando o desenvolvimento do
próprio capitalismo, e chegou na era da globalização
resguardando um caráter mais reprodutivo, haja vista a redução
de recursos investidos nesse sistema que tendencialmente
acontece nos países que implantam os ajustes neoliberais.

Capitalismo – sistema político-econômico ligados ao capital


produtivo (bens econômicos) e sua acumulação.
os meios de produção, distribuição, decisões
sobre oferta, demanda, preço, e investimentos são em grande
parte ou totalmente de propriedade privada.
Propriedade privada: consiste no sistema produtivo
vinculado à propriedade individual.
Sem ou pouca intervenção do Estado.
Lucro: é o principal objetivo capitalista, proveniente do
resultado da acumulação de capital.
Divisão de classes: capitalista e proletariado
 Neoliberalismo teve um forte impacto sobre a educação.
 Liberação do mercado, a não intervenção do Estado nas
relações econômicas e a reinversão da prioridade de
investimentos públicos das áreas sociais para as áreas
produtivas.
 As políticas educacionais, enquanto políticas sociais,
perderam recursos onde o neoliberalismo foi implantado,
agravando as condições de seu financiamento.
 A educação é política
 “minha presença de professor, que não pode passar
despercebida dos alunos na classe e na escola, é uma
presença em si política. Enquanto presença não posso
ser uma omissão mas um sujeito de opções. Devo
revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de
comparar, de avaliar, de decidir, de optar, de romper.”
(Pedagogia da autonomia, p. 98)
 “(...) se a educação não pode tudo, alguma coisa
fundamental a educação pode. Se a educação não é a
chave das transformações sociais, não é também
simplesmente reprodutora da ideologia dominante.”
(Pedagogia da autonomia, p.112)
O ESTADO BRASILEIRO E A POLÍTICA
EDUCACIONAL DOS ANOS 90
Vera Maria Vidal Peroni

 A história do Brasil é marcada pelo patrimonialismo,


utilização do público para benefício privado, clientelismo e
pelos pactos de conciliação entre as camadas dominantes.
E, foi assim, também, na transição da ditadura para o
período de transição democrática em que, mais uma vez,
foi pactuado pelo alto, permanecendo no período de
democratização o mesmo grupo dirigente da ditadura.
• O conceito de Estado - Estado histórico, concreto, de
classe, e, nesse sentido, Estado máximo para o capital, já
que, no processo de correlação de forças em curso, é o
capital que detém a hegemonia.
Política Educacional
 A política educacional é parte constitutiva das mudança
sobre a redefinição do papel do Estado
 No Brasil, a política educacional dos anos 90 é parte do
projeto de reforma do Estado que, busca racionalizar
recursos, diminuindo o seu papel que se refere às políticas
sociais.
 No contexto em que a proposta do governo federal para
fazer frente a crise do capital baseia-se na atração de capital
especulativo, com juros altos e consequente aumento das
dívidas interna e externa, provocando uma crise fiscal
enorme nos estados e municípios.
 Então, o governo propõe a municipalização das políticas
sociais no exato momento em que os municípios têm, como
principal problema, saldar as dívidas para com a União e,
assim, não têm como investirem em políticas sociais.
 Ao analisarmos os projetos de política educacional
constatamos que a redefinição do papel do Estado está
se materializando nessa política, principalmente través
de dois movimentos:
- de contradição Estado mínimo/Estado máximo, que se
apresenta nos processos de centralização
/descentralização dos projetos de política educacional;
- no conteúdo dos projetos de descentralização.
 O movimento de centralização/descentralização da atual
política educacional, no qual é descentralizado o
financiamento e centralizado o controle, é parte da
proposta de redefinição do papel do Estado
 por um lado, o governo federal, com essas reformas, vem
se desobrigando do financiamento das políticas
educacionais, pois tem que racionalizar recursos, mas,
por outro lado, ele objetiva centralizar as diretrizes,
principalmente mediante parâmetros curriculares
nacionais e avaliação das instituições de ensino. Definir-
se o que vai ser ensinado em todas as escolas do País e
ter-se o controle, por meio da avaliação institucional.
 O Plano Diretor da Reforma do Estado, propõe a
descentralização sob esse mesmo enfoque, a
publicização (do público para o privado ) e a terceirização.
- o projeto do FUNDEF está inserido na proposta de
descentralização de uma esfera de governo para a outra;
- a elaboração dos projetos de Avaliação Institucional e
dos Parâmetros Curriculares Nacionais foi terceirizada.
 Com o FUNDEF, o governo federal propõe uma
descentralização de responsabilidades e não de
recursos; pois, com a emenda constitucional que propôs
o FUNDEF, esse governo diminui sua contribuição
financeira para com o ensino fundamental.
 Assim, verificamos como a atual proposta de política
educacional é parte de projeto de Reforma do Estado no
Brasil (orientações neoliberais) e como seus pilares
básicos: autonomia da escola, Avaliação Institucional,
Parâmetros Curriculares Nacionais, FUNDEF, são parte
da tensão centralização/ descentralização, Estado
mínimo/Estado máximo em que o Estado passa a ser o
coordenador e não mais o executor, se tornando mínimo
para as políticas sociais e repassando para a sociedade
tarefas que eram suas.
Políticas Educativas no Brasil no tempo da crise
Eliza B. Ferreira e Daliva Oliveira
A educação escolar permanece como o espaço e o tempo
nos quais uma reduzida parte de sua população cumpre com
a promessa de inserção produtiva, ao passo que as classes
populares convivem com a pressão subjetiva e objetiva de
escolarização em um contexto no qual o desemprego atinge
milhões de pessoas, e a juventude é a mais atingida.
O discurso atualmente hegemônico do direito a educação,
pode caracterizar, por contradição, a necessidade do capital
de seleção e de disciplinamento da pobreza.
A política educacional massificada atual revela essa
tendência
 Com o reduzido acesso à educação infantil, ao ensino
médio e ao ensino superior - massificação limitada
 À medida que a pobreza aumenta e os conflitos sociais
se afigura em sua complexidade maior, as políticas
educativas buscam fortalecer a escola como instituição
responsável pela manutenção da ordem social.
 Quando o direito à educação no Brasil torna-se uma
bandeira da sociedade civil e política, a infância e a
juventude que vão para a escola não tem assegurados
os laços de confiança com o poder da instituição em
atender ao ideal de mobilidade social.
 A educação é uma prática social, e suas políticas devem
se aproximar de forma inarredável das condições de vida
dos sujeitos escolares e daqueles que precisam
entrar/voltar a essa etapa
 As políticas educativas após o governo FHC estão
pautadas:
- Na opção da acomodação/escamoteamento dos conflitos;
- Na insistência em repetir a lógica insustentável da teoria
do capital humano e responsabilizar a escola (e o
indivíduo, aqui entendido como o professor e o aluno)
pela qualidade do percurso de ingresso no mercado de
trabalho.
As reformas educativas dos anos 1990
Governo de FHC
 As reformas implementada na décadas de 90 tentaram
redimensionar o Estado, com novas competência e funções -
não como promotor do crescimento econômico, mas somente
como canalizador e facilitador
 Cresce a participação do setor privado em segmentos antes
considerados de exclusiva atuação do Estado
 As reformas educacionais empreendidas nesse governo são
caracterizadas por práticas descentralizadoras, de controle e
de privatização
 Os programas e projetos implementados nesse período
revelam a preocupação do governo em diminuir o chamado
“custo Brasil”, privatizando empresas estatais e regulando os
serviços sociais (ditando as regras), passando a focalizar uma
parte da população em “risco social”.
 Cumprimento da formação básica de crianças de 07 a 14
anos como necessidade para uma colocação no
mercado de trabalho
 Ex: FUNDEF (Fundo de Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e Valorização do magistério)
 Consolidando a lógica de descentralização da prestação
do serviço - municipalização dessa etapa de ensino
 Ex: PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola)
 Ganha força a ideia de autonomia da escola com esses
programas
 Com a descentralização veio a ideia de controle dos
resultados – criação do sistema avaliação vinda de fora,
com o mecanismo de classificação – gerando a cultura
da concorrência entre as escolas públicas e privadas
 A privatização se deu de forma mais direta no governo
do FHC – com a diminuição da oferta de curso técnico-
profissional
 Estimulo fiscal ao ensino privado
 Para as instituições públicas- ausência de políticas e
redução de gastos e de salários
Governo Lula
Assume em 2003 a condução do Estado brasileiro
Aprofunda a adoção de política compensatória como de
ajustes dos desequilíbrios causados pelas práticas
políticas do governo anterior
Ampliação das bolsas de assistência social
Criação de diversos programas para atingir a meta de
equilíbrio social
 Porém a lógica continuou sendo focaliza na população
em risco social, de forma mais ampla

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