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VANGUARDAS ARTÍSTICAS

EUROPÉIAS
- “ISMOS” -

Professora Roberta Guerreiro


Vanguardas
• A palavra vanguarda está ligada a uma postura radical,
que antecipa novos caminhos, seja ele literário, artístico ou
científico.

• As obras produzidas no início do século XX anunciavam


novos padrões para um mundo em transformação.

• Apesar de serem muito diferentes entre si, as


vanguardas têm em comum o questionamento da herança
cultural do século XIX: o novo século precisava criar as
próprias referências estéticas.
Projeto Artístico
• Movimento ousado que quer libertar a arte da
necessidade de representar a realidade de modo
figurativo e linear.

• Desafio: encontrar uma nova linguagem capaz de


expressar a ideia de velocidade, capturar a essência
transformativa da eletricidade, o dinamismo dos
automóveis.

• Produção: caráter de ruptura, de choque e de abertura.


Projeto Artístico

 Ruptura: com os valores e princípios do passado

 Choque: com as expectativas do público

 Abertura: busca pelos novos modos de olhar e


interpretar a realidade em permanente estado de
transformação.
Projeto Artístico

• Contexto de produção: diferentes grupos se organizam


em torno de líderes que assumem o papel de propor e
divulgar novos caminhos para a arte.

• Manifestos: meio de dar maior visibilidade às diferentes


vanguardas.

• Circulação dos manifestos: jornais (quanto mais


conservador, melhor)
Cubismo
Cubismo na literatura:
• Princípio: questionamento da descrição clássica
• Desejo de apresentar relações, não formas acabadas.
• Diferentes pontos de vista - superposição de planos –
frases breves e rápidas – cinematográficas;
• Pretendem forçar o observados a questionar a realidade
(saída para o comportamento humano)
• Humor
• Ilogismo
Cubismo
• No Brasil, a influência do Cubismo aparece na obra de Oswald de
Andrade:

Hípica
Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas
As meninas
E a orquestra toca
Chá
Na sala de cocktails
Cubismo
Poeminha cinético

Era um homem bem vestido


Foi beber no botequim
Bebeu muito, bebeu tanto
Que
s a iu
de

a s m.
s i
(Millôr Fernandes)
Cubismo

O Capoeira

- Qué apanhá sordado?


- O quê?
- Qué apanha?
Pernas e cabeças na calçada

(Oswald de Andrade)
Cubismo

Les Demoiselles
d’Avignon (1907), de
Pablo Picasso.
Cubismo

Carnaval em Madureira,
Tarsila do Amaral. De
Albert Gleizes, Tarsila
recebeu a chave do
Cubismo, que cultivou
com amor e sob uma
ótica construtivista.
Cubismo

Mulher com flor (1932), de


Pablo Picasso, que assim se
manifestou em certa ocasião:
“Toda a gente quer
compreender a arte. Por que
não tentam compreender as
canções de um pássaro? [...]
Pessoas que querem explicar
telas normalmente ladram para
a árvore errada”.
Futurismo
• Para os futuristas, o termo designa uma nova forma de arte e
ação, uma lei de “higiene mental”, um movimento que
pretende ser antitradicional, renovador, otimista, heroico,
dinâmico e que se ergue sobre as ruínas do passadismo.

• Adotando uma perspectiva violenta, agressiva e iconoclasta,


os futuristas exaltam “a bofetada e o soco” como meio de
despertar o público da passividade em que se encontram.

• Fascínio pela violência: desejo de levar a humanidade a um


ponto sem retorno.
Futurismo

• Processo de recepção mais dinâmico e interativo: a violência,


que destrói as certezas e os modelos obriga o leitor a reagir.

• Lado sombrio do Futurismo: Itália – Mussolini

• Marinetti: fascínio pela violência e pela guerra, aliado a um


patriotismo exacerbado = transformação do movimento em
uma espécie de porta-voz do regime fascista
Futurismo
Manifesto Futurista

1. Queremos cantar o amor do perigo, o hábito da energia e da


temeridade.

2. A coragem, a audácia, a rebelião, serão elementos essenciais da


nossa poesia.

3. Até hoje, a literatura exaltou a imobilidade pensativa, o êxtase e


o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insónia
febril, o passo de corrida, o salto mortal, a bofetada e o sopapo.
Futurismo
4. Declaramos que a magnificência do mundo se enriqueceu de
uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um carro de corrida com
a carroçaria enfeitada por grandes tubos de escape como
serpentes de respiração explosiva… um carro tonitruante que
parece correr entre a metralha é mais belo do que a Vitória de
Samotrácia.

5. Queremos cantar o homem que segura o volante, cuja haste


ideal atravessa a Terra, lançada, por sua vez, em corrida no circuito
da sua órbita.
Futurismo
6. O poeta terá de se prodigar, com ardor, refulgência e
prodigalidade, para aumentar o entusiástico fervor dos elementos
primordiais.

7. Não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não tenha um


caráter agressivo pode ser considerada obra-prima. A poesia deve
ser concebida como um violento assalto contra as forças ignotas,
para reduzi-las a prostrar-se perante o homem

8. Estamos no promontório extremo dos séculos!… Porque deveremos


olhar para detrás das costas se queremos arrombar as misteriosas
portas do impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Nós
vivemos já no absoluto, pois já criamos a eterna velocidade.
Futurismo

9. Nós queremos glorificar a guerra, o militarismo, o patriotismo, o


gesto destruidor dos libertários, as belas ideias por que se morre e
o desprezo da mulher.

10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de


todo o tipo e combater o moralismo, o feminismo e todas as vilezas
oportunistas ou utilitárias.
Futurismo
11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo
prazer ou pela revolta; cantaremos o vibrante fervor noturno dos
arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas elétricas;
as gulosas estações de caminho-de-ferro engolindo serpentes
fumegantes; as fábricas suspensas das nuvens pelas fitas do seu
fumo; as pontes que saltam como atletas por sobre a diabólica
cutelaria dos rios ensolarados; os aventureiros navios a vapor que
farejam o horizonte; as locomotivas de vasto peito, galgando os
carris como grandes cavalos de ferro curvados por longos tubos e o
deslizante vôo dos aviões cujos motores drapejam ao vento como o
aplauso de uma multidão entusiástica.
Futurismo
Futurismo
Ode triunfal

À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica


Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!


Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim
(...)

(Álvaro de Campos – heterônimo de Fernando Pessoa)


Futurismo

Parada amorosa, 1917.


Nesta tela, o cubista
Picabia faz nítida
homenagem à máquina,
realçando a tendência
futurista de “valorizar os
mecanismos que movem
o mundo”, em suas
próprias palavras.
Futurismo

Automóvel
correndo,
de Giacomo
Bahia.
Expressionismo
• Apresenta-se como uma reação à estética impressionista
de valorização sensorial

• Base do Expressionismo: processo que supõe a perda


do controle consciente durante a produção da obra de
arte.

• Influenciado pela Primeira Guerra Mundial


Expressionismo
“ (...) o universo total do artista expressionista torna-se visão. Ele
não vê, mas percebe. Ele não descreve, acumula vivências. Ele
não reproduz, ele estrutura. Ele não colhe, ele procura. Agora não
existe mais a cadeia dos fatos: fábricas, casas, doença, prostitutas,
gritaria e fome. Agora existe a visão disso. Os fatos têm significado
somente até o ponto em que a mão do artista o atravessa para
agarrar o que se encontra além deles. (…)”

• Os poetas expressionistas abordam, em suas obras, a


derrocada do mundo burguês e capitalista, denunciando um
universo em crise e a sensação de impotência do homem preso
num mundo “sem alma”
Expressionismo
“A luz delirava, apressada a um vago aviso de tarde. Era tal e
tanta que embaçava de ouro a amplidão. Se via tudo longe num halo que
divinizava e afastava as coisas mais. Lassitude. No quiriri tecido de
ruidinhos abafados, a cidade se movia pesada, lerda. O mar parara azul.
[...]
Fräulein botara os braços cruzados no parapeito de pedra, fincara
o mento aí, nas carnes rijas. E se perdia. Os olhos dela pouco a pouco se
fecharam, cega duma vez. A razão pouco a pouco escapou. Desapareceu
por fim, escorraçada pela vida excessiva dos sentidos. Das partes
profundas do ser lhe vinham apelos vagos e decretos fracionados. Se
misturavam animalidades e invenções geniais.[...] Adquirira enfim uma
alma vegetal”
ANDRADE, Mário de. Amar, verbo intransitivo.
Expressionismo

O grito (1893), de Edvard


Munch; óleo sobre
cartão.
Expressionismo

A boba (1917), tela de


Anita Malfatti em que
sobressaem os
elementos dramático,
emocional e, enquanto
temática, marginal.
Expressionismo

Maternidade, Almada-
Negreiros. A tendência
expressionista calcada
no exagero atinge em
cheio os modernistas
portugueses.
Expressionismo

Crianças abandonadas,
Lasar Segall. O aspecto
quase caricatural da
realidade é o que a
pintura expressionista
traduz.
Dadaísmo
• É a mais radical e a menos compreensível de todas as
vanguardas.
• Quer abolir de vez a lógica, a organização, o olhar
racional, dando à arte um caráter de espontaneidade
total
• Problema das manifestações artística: explicar o ser
humano, ou seja, almejar algo impossível
• Usam, com frequência, métodos intencionalmente
incompreensíveis
Dadaísmo
• A falta de lógica e a espontaneidade alcançam, na
literatura, sua expressão máxima

• Em uma Europa caótica e em guerra, insistir na falta de


lógica e na gratuidade dos acontecimentos talvez não
fosse um absurdo, mas um espelho crítico de uma
realidade incômoda.
Dadaísmo
Receita para fazer um poema dadaísta
Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e
meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda
que incompreendido do público.
(Tristan Tzara)
Dadaísmo
A Batalha
Berr... bum, bumbum, bum...
Ssi... bum, papapa bum, bumm
Zazzau... Dum, bum, bumbumbum
Prä, prä, prä... râ, äh-äh, aa...
Haho! ...
(Ludwig Kassak)
Dadaísmo

Colagem-espelho,
obra de
Kurt Schwitters,
de 1920.
Dadaísmo

Marcel Duchamp
Surrealismo
• Vanguarda interessada em adquirir um maior conhecimento
do ser humano

• Seus seguidores pretendem liberar o inconsciente humano –


terreno fértil e ainda pouco explorado (valorização da fantasia, do
sonho, interesse pela loucura)

• Ligação com a teoria psicanalista de Sigmund Freud

• Produzem manifestações artística que representam um


desafio à organização do mundo
Surrealismo
Manifesto Surrealista

“Mandem trazer algo com que escrever, depois de se haverem


estabelecido em um lugar tão favorável quanto possível à
concentração do espírito sobre si mesmo. Ponham-se no estado
mais passivo ou receptivo que puderem. Façam abstração de seu
gênio, de seus talentos e dos de todos os outros. Digam a si
mesmos que a literatura é um dos mais tristes caminhos que levam
a tudo. Escrevam depressa, sem assunto preconcebido, bastante
depressa para não conterem e não serem tentados a reter. A
primeira frase, virá sozinha, tanto é verdade que a cada segundo é
uma frase estranha a nosso pensamento consciente que só pede
para se exteriorizar.“
André Breton
Surrealismo

• Resultado: texto em que as relações lógicas não servem


de apoio para o leitor.

• O leitor se entrega ao universo de sonho proposto no


texto.
Surrealismo
Estudo nº 6

Tua cabeça é uma dália gigante que se desfolha nos meus braços.
Nas tuas unhas se escondem algas vermelhas,
E da árvore de tuas pestanas
Nascem luzes atraídas pelas abelhas.
(...)

(Murilo Mendes)
Surrealismo
Poema da amiga

“Gosto de estar a teu lado,


Sem brilho.
Tua presença é uma carne de peixe,
De resistência mansa e um branco
Escoando azuis profundos.

Eu tenho liberdade em ti.


Anoiteço feito um bairro,
Sem brilho algum.

Estamos no interior duma asa


Que fechou.”
(Mário de Andrade)
Surrealismo
Neste Rosto de Mae West
podendo ser utilizado como
apartamento surrealista,
Salvador Dalí apropria-se da
técnica de colagem dos
dadaístas, apresentando
objetos deslocados de suas
funções: os cabelos de atriz
transformados em continas; os
olhos, em quadros; o nariz, em
aparador; os lábios, em
poltrona.
Surrealismo

Sonho provocado pelo


vôo de uma abelha em
torno de uma romã, um
segundo antes do
despertar, data de 1944.
Salvador Dalí.
Surrealismo

A persistência da memória, de Salvador Dalí.


Herança

• Impulso de destruir os modelos arcaicos

• Desafiar o gosto estabelecido

• Propor um olhar inovador para o mundo

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