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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

TRIBUTÁRIO

1
PRINCÍPIO DA PROF. EDUARDO SABBAG
DOUTOR EM DIREITO TRIBUTÁRIO – PUC/SP. DOUTOR EM
LEGALIDADE LÍNGUA PORTUGUESA – PUC/SP. PROFESSOR DE DIREITO
TRIBUTÁRIO (UNIVERSIDADE MACKENZIE/SP). ADVOGADO
TRIBUTÁRIA TRIBUTARISTA.

2
Considerações iniciais:

- Princípios tributários: arts. 150, 151 e 152 da CF;


- Princípios (conceito) = limitações constitucionais
ao poder de tributar (os princípios são
balizamentos à ação tributante das entidades
impositoras: U, E, M e DF).
(...)
Daí se dizer que a tributação federal, por exemplo,
que viole determinado princípio tributário, será
inevitavelmente “contaminada” de
inconstitucionalidade. O mesmo raciocínio vale
para a tributação estadual ou municipal.
ASPECTOS HISTÓRICOS
- Princípio multissecular;

- Previsão inaugural na Carta Magna inglesa (Magna Charta


Libertatum), de 1215, do Rei João Sem Terra;

- Ideia do consentimento popular: nascia, assim, o ideal de


que, na esteira da legalidade tributária, corre tão somente o
tributo consentido.
PLANO CONSTITUCIONAL

O Princípio da Legalidade Tributária percorreu todas os


textos constitucionais (exceto a CF/37); foi chamado de
Princípio da Legalitariedade, por Pontes de Miranda.

(...)
CF/88:

Art. 5º, II: “Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer


alguma coisa senão em virtude de lei”.

Art. 150, I: “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas


ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, aos
Municípios e ao Distrito Federal exigir ou aumentar
tributo sem lei que o estabeleça.
1. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA (ART.
150, I, CF c/c ART. 97, I e II, CTN)

“U, E, M e DF só podem instituir e majorar o


tributo por meio de lei”.
Dois verbos: instituir e majorar (lei)
- Que lei é essa que cria e aumenta o tributo? Lei
ordinária.

Pergunta-se, ainda: E a lei complementar?


Ela está explícita na CF como a lei hábil a instituir
QUATRO tributos federais:

1. Imposto sobre grandes fortunas (art. 153, VII, CF);


2. Imposto residual (art. 154, I, CF);
3. Empréstimo compulsório (art. 148, caput, CF);
4. Contribuições residuais da seguridade social (art.
195, §4º, CF c/c art. 154, I, CF).
VAMOS CONHECER A LEGALIDADE ESTRITA / TIPICIDADE
FECHADA, CERRADA ou REGRADA (ART. 97 DO CTN)
A LEGALIDADE ESTRITA / TIPICIDADE FECHADA, CERRADA ou REGRADA

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

I – a instituição de tributos, ou a sua extinção;

II – a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos


artigos 21, 26, 39, 57 e 65;

III – a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o


disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo; (...)
IV – a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo,
ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;

V – a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias


a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas;

VI – as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos


tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades.
O art. 97 do CTN evidencia que a lei tributária
contém “elementos estruturantes” indispensáveis:
alíquota, base de cálculo, sujeito passivo, multa e
fato gerador. (...)
Por essa razão, aqui temos a chamada estrita
legalidade (reserva legal ou tipicidade
fechada/cerrada/regrada).

Exemplo de “vício”: criação de uma taxa por lei,


ficando o sujeito passivo a cargo de tratamento
ulterior em uma portaria.
PRAZO PARA PAGAMENTO x RESERVA LEGAL
PRAZO PARA PAGAMENTO x RESERVA LEGAL

O STF tem entendido que o Poder Executivo detém


competência para expedir ato infralegal fixando o prazo
de pagamento do tributo, ao fundamento de que a fixação
de prazo para recolhimento das exações tributárias não é
matéria reservada à lei.
- Ver, entre outros, o RE 140.669-PE/98: atentar para os
votos vencidos dos Ministros Marco Aurélio e Sepúlveda
Pertence...
PRAZO PARA PAGAMENTO x RESERVA LEGAL
Excerto do voto do Ministro Excerto do voto do
Marco Aurélio: Ministro Sepúlveda Pertence:
“(...) A segurança jurídica, a relação entre “(...) Certo, a arrecadação tributária é matéria
Estado e contribuinte reclama essencialmente administrativa. Por isso –
estabilidade somente possível de ser como o dogma da indelegabilidade
garantida via observância irrestrita ao efetivamente não pode ser levado às últimas
mecanismo próprio que é o revelado pela consequências – malgrado reservada à lei, a
edição de lei em sentido formal e matéria comportará desenvolvimentos
material, isto tendo em vista a regulamentares, no campo próprio do
competência abrangente do Congresso regulamento – independentemente de
Nacional para disciplinar a arrecadação autorização legal expressa – que é o da
de tributos”. (...) ordenação de atividade administrativa, (...)
PRAZO PARA PAGAMENTO x RESERVA LEGAL
Excerto do voto do Ministro Excerto do voto do
Marco Aurélio: Ministro Sepúlveda Pertence:
(...) E citando Geraldo Ataliba e José (...) fundada no poder hierárquico que lhe é
Artur Lima Gonçalves, prossegue: “(...) essencial. Não é disso, porém, que se cogita
tais autores ressaltam que o espaço de aqui, mas da disciplina de prisma substantivo
tempo para a satisfação do tributo muito da relação entre os órgãos de arrecadação
tem a ver com o valor respectivo, sendo tributária e o contribuinte, qual o tempo do
que a fixação de prazo para cumprimento cumprimento de sua obrigação: dada a sua
de obrigação tributária não é matéria inegável relevância, não há como subtraí-lo
administrativa. Em última análise, da reserva constitucional à lei da regência da
segundo os citados tributaristas, o prazo arrecadação de tributos (...)”.
para o recolhimento ‘é tão (...)
PRAZO PARA PAGAMENTO x RESERVA LEGAL
Excerto do voto do Ministro Excerto do voto do
Marco Aurélio: Ministro Sepúlveda Pertence:
(...) juridicamente relevante quanto à
base de cálculo e à alíquota, para
determinação do quantum’. (...) A
cobrança do tributo é uma atividade
vinculada à lei, razão pela qual se x.x.x.x.x.x.x.x
mostra descabida constitucionalmente
delegação que implique a possibilidade
de, conforme a situação do caixa, vir a
ser fixado, por ato do Ministro de
Estado da Fazenda, este ou aquele
prazo (...)”.
Perceba que cabe ao Poder Legislativo o domínio
completo do fenômeno tributário, uma vez que o
tributo depende de LEI, quer ordinária, quer
complementar.

Por outro lado, uma pergunta deve ser feita: o


Poder Executivo não teria algum “espaço” de
atuação, ainda que restrito?
O Poder Executivo pode, sim, ter uma atuação
mitigada ou atenuada (art. 153, §1º, CF): há
QUATRO impostos federais cujas alíquotas
poderão ser alteradas por ato do Poder Executivo
(por exemplo, por portarias, decretos etc.).
Detalhe: esses quatro impostos foram antes
criados por meio de lei, cabendo ao Executivo
uma atuação superveniente, apenas quanto à
alteração de alíquotas. São eles:

LISTA DE IMPOSTOS: II, IE, IPI e IOF.


ATENÇÃO: a EC n. 33/01 ampliou o rol, trazendo
mais dois tributos à lista – CIDE-Combustível (art.
177, §4º, I, “b”, CF) e ICMS-Combustível (art. 155,
§4º, IV, “c”, CF).

OBSERVAÇÃO: a alteração para esses dois


tributos diz respeito apenas à redução e
restabelecimento das alíquotas, portanto, dentro
de parâmetros legais.
Portanto, temos, ao todo, SEIS tributos (5 federais;
1 estadual) que se enquadram como exemplos de
mitigação ou atenuação (“exceção”) do princípio
da legalidade tributária:
II
IE
IPI
IOF
CIDE-COMBUSTÍVEL
ICMS-COMBUSTÍVEL
Lógica da mitigação da legalidade tributária:

Trata-se de tributos extrafiscais, ou seja,


reguladores de mercado. Isso pode ser percebido
nas reduções de alíquotas de IPI para facilitar o
acesso das classes menos favorecidas a certos
produtos; ou, ainda, nos aumentos de alíquota de II
sobre determinados produtos asiáticos, para
proteger a indústria nacional.
Extrafiscalidade – poderoso instrumento financeiro
empregado pelo Estado a fim de estimular ou inibir
condutas, tendo em vista a consecução de finalidades
não meramente arrecadatórias. Orienta-se para fins
outros que não a captação de recursos para o Erário,
visando corrigir externalidades.
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
1. A ALTERAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO E A
RESERVA LEGAL

Art. 97, CTN. Somente a lei pode estabelecer: (...)


§1º. Equipara-se à majoração do tributo a
modificação da sua base de cálculo, que importe em
torná-lo mais oneroso.
(...)
(...)
§2º. Não constitui majoração de tributo, para os
fins do disposto no inciso II deste artigo, a
atualização do valor monetário da respectiva base
de cálculo.
(...)
Súmula n. 160 do STJ: “É defeso, ao Município,
atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual
superior ao índice oficial de correção monetária”.

Julgado importante: RE 648.245/Reperc. geral,


rel. Min. Gilmar Mendes, Pleno, j. em 01-08-
2013.
Portanto:
1. Alterou base de cálculo o tributo ficou
mais oneroso, sendo majorado (= índices acima
da correção monetária do período) LEI
2. Alterou base de cálculo o tributo não
ficou mais oneroso, sendo apenas atualizado
(= índices de acordo com a correção monetária
do período) NORMA INFRALEGAL (decreto)
2. O art. 62, §2º, CF (“A MP e o Princípio da
Legalidade Tributária”)

O dispositivo prevê, literalmente: “Medida


provisória que implique instituição ou
majoração de impostos...”
A EC 32/01 e o PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA

Art. 62. (...)


§ 2º. Medida provisória que implique instituição ou
majoração de impostos, exceto os previstos nos arts.
153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício
financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até
o último dia daquele em que foi editada.
Não obstante as críticas que são feitas ao dispositivo
constitucional, temos que aceitar como válidas as
assertivas:

“Pode ser aumentado o IR por MP?”


Resposta: SIM.
“Pode ser aumentado o ITR por MP?”
Resposta: SIM.
Veja a jurisprudência....
A EC 32/2001 e o PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA

STF e a EXTENSÃO A TRIBUTOS EM GERAL


EMENTA: Recurso extraordinário. 2. Medida provisória. Força
de lei. 3. A Medida Provisória, tendo força de lei, é
instrumento idôneo para instituir e modificar tributos e
contribuições sociais. Precedentes. 4. Agravo regimental a
que se nega provimento. (STF, 2ª T., AI-AgR 236.976/MG – rel.
Min. Néri da Silveira – j. 17-08-1999)
O STF e a MP NA ÓRBITA TRIBUTÁRIA NÃO FEDERAL

O STF, na ADI n. 425/TO (rel. Min. Maurício Corrêa,


julgamento em 04-09-2002), ratificou a possibilidade,
anteriormente acolhida na ADInMC n. 812-9/TO (rel.
Min. Moreira Alves, j. 1º-04-1993), externando que
podem os Estados-membros editar medidas provisórias
em face do princípio da simetria, (...)
O STF e a MP NA ÓRBITA TRIBUTÁRIA NÃO FEDERAL

(...) obedecidas as regras básicas do processo legislativo


no âmbito da União (CF, art. 62). Portanto, para o STF, o
eventual óbice ou limitação imposta às unidades
federadas para a edição de medidas provisórias constitui
forma de restrição não prevista no vigente sistema
constitucional pátrio (CF, § 1º do art. 25).
3. LEI TRIBUTÁRIA x LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

Ao longo dos artigos do CTN, será possível encontrar a


expressão “legislação tributária” em variadas
circunstâncias:
1. Art. 96 do CTN, que traz contornos sobre o conceito
da expressão: “A expressão ‘legislação tributária’
compreende as leis, os tratados e as convenções
internacionais, os decretos e as normas
complementares que versem, no todo ou em parte,
sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes”;
2. Designação para o Título I do Livro Segundo (Normas
Gerais de Direito Tributário), aglutinando os arts. 96 a
112 do CTN;
3. Em pesquisa no CTN, localizamos a menção à
expressão “legislação tributária” em 25 (vinte e cinco)
situações: arts. 96; 98; 101; 102; 105; 107; 108; 111; 113,
§ 2º; 120; 136; 147; 149, II, III e IV; 159; 160, caput, e
parágrafo único; 162, §§ 1º e 4º; 165, I; 194; 195; 200;
210.
Muito obrigado!

#EstudeMais #EstudeSempre

Prof. Sabbag

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