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Relações temporais

entre um plano e outro


(2)
Relações temporais
entre um plano e outro
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Relações temporais
entre um plano e outro
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Relações temporais
entre um plano e outro
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Relações temporais
entre um plano e outro
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”A experiência ensinou-nos a distinguir três
espécies de dimensões, perpendiculares entre
si, para nos orientar comodamente no espaço,
mas não nos ensinou, de modo geral, mais do
que uma dimensão do tempo”
- Jean
Epstein
O que é o
TEMPO?
O tempo é definido pela sua medida
em qualquer padrão de frequência:
segundos, horas, dias, fases da lua,
estações do ano, movimentos das
estrelas, etc.
No cinema, pelos fotogramas.
O tempo é a percepção que temos
de uma duração e as relações que
estabelecemos entre as distintas
durações.
"Quando estamos sentados na margem de um rio, o correr da água, o
deslizar de um barco ou o voo de um pássaro, o murmúrio ininterrupto de
nossa vida profunda são para nós três coisas diferentes ou uma só, como
quisermos. Podemos interiorizar o todo, lidar com uma percepção única
que carrega, confundidos, os três fluxos em seu curso; ou podemos manter
exteriores os dois primeiros e repartir então a nossa atenção entre o dentro
e o fora; ou, melhor ainda, podemos fazer as duas coisas
concomitantemente, nossa atenção ligando e, no entanto, separando os
três escoamentos, graças ao singular privilégio que ela possui de ser uma e
várias. Tal é nossa primeira ideia de simultaneidade. Chamamos então
simultâneos dois fluxos exteriores que ocupam a mesma duração por que
ambos estão compreendidos na duração de um mesmo terceiro [fluxo], o
nosso: essa duração é apenas a nossa quando a nossa consciência olha
somente para nós, mas torna-se igualmente a deles quando nossa atenção
abarca os três fluxos num único ato indivisível.”
– Henri Bergson in Duração e Simultaneidade, pg.
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Ao possibilitar a mobilidade da
câmera a montagem não permite
apenas uma multiplicidade de
percepções do espaço, mas uma
multiplicidade de percepções do
tempo.
“A montagem, que constitui o todo, nos dá assim a imagem do
tempo. Ela é, portanto, o ato principal do cinema. O tempo é
necessariamente uma representação indireta, porque resulta da
montagem que liga uma imagem-movimento [o plano] à outra.”

– Gilles Deleuze em A imagem-tempo


A duração escorre por fluxos
simultâneos, estes fluxos só existem por
causa da presença de um ser pensante,
na percepção de quem os experiencia: a
montagem é este pensamento que
produz uma percepção do tempo.
O cinema é a única
experiência em que o
tempo é apresentado
como uma percepção.
AVANÇO DEFINIDO NO TEMPO
(primeiro tipo de elipse)
-Suficientemente curto para ser percebido e
medido.

-Pequeno salto entre a continuidade temporal de


dois planos.

-Omissão de elementos da ação (síntese).

-Compressão do espaço.

-Tempo fílmico < Tempo da ação


AVANÇO INDEFINIDO NO TEMPO
(segundo tipo de elipse)
- Grande salto entre a continuidade temporal de
dois planos. Uma hora, um dia, um ano?

-Não pode ser medido pela relação entre os planos,


apenas inferido pelo contexto narrativo (ou por
elementos visíveis de exposição como um relógio,
calendário, fases da lua).

-Omissão de elementos dramaticamente


irrelevantes (síntese).

-Transição de uma cena à outra (condução


narrativa).
Como um filme
nos conduz de
uma cena à
outra?
TRANSIÇÃO
MACROESTRUTURA ESTRUTURA MICROESTRUTURA
INTERMEDIÁRIA

Atos Sequências e cenas Relações entre um plano e


outro
A estrutura intermediária é a coerência
narrativa e não é exatamente linear. Distintas
tramas se cruzam ao longo das cenas através
de um cadeia causal de acontecimentos.
CADEIA CAUSAL ABERTA
Cada cena é projetada para avançar a ação,
mas ao mesmo tempo desenvolver/amarrar
acontecimentos plantados anteriormente.
A montagem cria padrões que,
conscientemente ou não, nos estimula a
reagirmos de uma determinada maneira.
(afinidade entre montagem e psicologia)
CONTROLA DA RELAÇÃO DE
TRANSIÇÃO CENA À CENA DENTRO DA
ESTRUTURA INTERMEDIÁRIA
A passagem de uma cena à outra costuma
mostrar uma colisão entre dois planos:

-Transformação dos elementos gráficos.

-Descontinuidade espacial e temporal.

-Contraste sonoro.
Orientação dramatúrgica, delimita a passagem
de uma cena à outra, constrói a estrutura
intermediária do filme.
Colisão das relações gráficas, espaciais e temporais entre os
planos delimita a passagem de uma cena à outra.
L

J
Transição: forma de suavizar a passagem de uma
cena à outra, e ainda assim manter a delimitação
entre cenas dentro da estrutura intermediária.
Cria padrões de montagem e padrões criam significação à
experiência, consciente ou inconscientemente.
O “GANCHO”
The hook (termo de David Bordwell e Kristin Thompson)

Um dispositivo narrativo e uma forma de criar


padrões estilísticos de montagem: um elemento
causal no final de uma cena é ligado a outro
elemento no início da cena seguinte.

Ex. Uma cena termina com uma pergunta, que é


respondida no início da cena seguinte.
Elemento apresentado no final ...é completado pelo que vemos
de uma cena... e/ou ouvimos no início da cena
seguinte.
Uma relação de causa e efeito
é estabelecida entre os dois
planos e impulsiona a ação
dramática para frente.
-Entre dois elementos visuais (”match cut”).

-Entre um elemento visual e um elemento


sonoro.

-Entre um elemento sonoro e um elemento


visual.

-Entre dois elementos sonoros .


Ao interromper uma linha em uma cena e retomá-la na cena
seguinte, o ”gancho”:

-Acelera o ritmo do filme, ao deixar de ”gastar tempo” com


planos gerais ou descritivos.

-Diminui o tempo necessário para reavaliação do contexto do


novo plano.

-Traz ênfase para o que é relevante na cena.

-Fortalece a associação dramática (cadeia causal) entre duas


cenas.
Um bom ”gancho” não deve ser muito óbvio ou
literal, nem usado com muita frequência. É uma
forma de condução da atenção, sem que o
espectador perceba que está sendo conduzido.
Aceitamos o ”gancho” como algo inocente ou
mesmo decorativo, enquanto ele nos conduz a
confiar na narração, que muitas vezes pode nos
trair.
RECUO DEFINIDO NO TEMPO
-Suficientemente curto para ser percebido e medido
(microestrutura)

-Pequeno retorno entre a continuidade temporal de


dois planos.

-Repetição de elementos da ação, acentuar um


movimento, criar novas relações rítmicas.

-Expansão da percepção do espaço pela


multiplicidade de pontos de vista.

-Expansão do tempo da ação.

-Tempo fílmico > Tempo da ação


Diante de uma percepção do tempo distinta da
nossa percepção natural e contínua, somos
estimulados a mentalmente reconstruir os
acontecimentos, criando uma lógica narrativa e
uma experiência do tempo particulares.
RECUO INDEFINIDO NO TEMPO
-Grande recuo no tempo diegético. Uma hora, um
dia, um ano?

-Altera ordem de apresentação dos


acontecimentos.

-Não pode ser medido pela relação entre os planos,


apenas inferido pelo contexto narrativo (ou por
elementos visíveis de exposição como um relógio,
calendário, fases da lua).

-Exposição de elementos dramaticamente


relevantes.

-Transição de uma cena à outra (condução narrativa


no nível da estrutura intermediária).
Como lembramos de
um objeto perdido?
A
lembrança é
uma imagem
virtual.
FLASHBACK

Atualiza a virtualidade da
lembrança em uma imagem.
-Retorno ao passado dentro do Tempo
Diegético da história, mas dentro da
estrutura narrativa de causa e efeito do filme
não é um retorno, é um avanço da narrativa.

-Permite apresentar distintos pontos de


vistas sobre um mesmo acontecimento.

-Uma convenção cinematográfica.

-No nível da microestrutura, costuma seguir


a montagem em continuidade (o passado
como se fosse presente).
Forma mais comum de
FLASHBACK

Tempo Tempo Tempo


“presente” “passado” “presente”
FLASHFORWARD

Tempo Tempo Tempo


“presente” “futuro” “presente”
O tempo se ramifica e é apresentado como
percepção, não mais a percepção da
montagem-pensamento, é apresentado como
percepção de uma personagem.

A montagem assume forma de


prolongamento da percepção da
personagem.
Ramificação do tempo: são 3 flashbacks
de 3 personagens distintas. Não existem
como lembrança ou explicação de
acontecimentos do tempo “presente”, e sim,
constituem o próprio tempo fílmico.

Quem é o infiel? (1949)


A letter to three wives
Direção: Joseph L. Mankiewcz
Na montagem devemos sempre pensar em
como cada plano conduz a narrativa, pois um
retorno real, um flashback que ilustra
informações que o público já sabe pode ser
redundante.
DESCONTINUIDADE ABSOLUTA
-Casos em que não podemos estabelecer
nenhuma relação temporal entre dois planos.

-Insert.

-Pode ser interessante para plantar um


“elemento selvagem não domesticado pela
narrativa”, algo que é inserido e apenas atiça os
sentidos do público, mas cujo sentido está oculto
ou só será inferido posteriormente.
EXERCÍCIO

Os cortes entre planos são temporalmente


contínuos?
O que cria a continuidade?
São descontínuos?
Qual o motivo dessa descontinuidade?
Como é feita a condução de uma cena à outra?

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