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Estresse Precoce
Não ser capaz de participar da sociedade compromete fortemente a saúde e o bem-estar, como visto em inúmeros
transtornos psiquiátricos, como depressão e esquizofrenia;
Um ambiente de vida precoce adverso aumenta o risco de desenvolver distúrbios psiquiátricos na vida adulta,
incluindo distúrbios com déficits no domínio social;
Entender como o ambiente inicial da vida contribui para o desenvolvimento de comportamentos sociais disfuncionais
pode ajudar a elucidar os mecanismos subjacentes às psicopatologias.
Kentrop, J., Joëls, M., Achterberg, E. J. M., van der Veen, R., Smid, C. R., van IJzendoorn, M. H., &
Bakermans-Kranenburg, M. J. Effects of Maternal Deprivation and Complex Housing on Rat Social
Behavior in Adolescence and Adulthood (2018)
Introdução
Os principais motivos que levam ao acolhimento das crianças por parte das Instituições:
Negligência (principalmente ausência de acompanhamento familiar e de acompanhamento ao nível da educação), o
abandono, os maus-tratos físicos e a carência econômica, pobreza, ou cujas famílias ou responsáveis encontram-se
temporariamente impossibilitado de cumprir sua função de cuidado e proteção.
Introdução
Natureza da violência: física, sexual, psicológica, assim como negligência de cuidados.
Negligência: omissão do responsável pela criança em prover as necessidades básicas para o seu desenvolvimento
físico, mental e social. São exemplos: privação de medicamentos e cuidados com a saúde da criança, descuido com a
higiene, ausência de proteção contra o frio, o calor, privação de alimentos, falta de estímulos e condições para
frequentar a escola.
O abandono é a forma extrema de negligência.
Assim como o abuso dentro da família leva a consequências negativas, os déficits de atenção e as dificuldades
acadêmicas também são encontrados em crianças institucionalizadas.
https://www.youtube.com/watch?v=T229JH8DNXU
Dalbem, J. X., & Dalbosco, D. D. Teoria do apego : bases conceituais e desenvolvimento dos modelos
internos de funcionamento (2005).
Abandono Materno
Em roedores, privação do cuidado materno no período pós natal leva a um aumento na corticosterona e do eixo
hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) em um período que a atividade do eixo HPA é normalmente baixa;
(eixo HPA completa seu desenvolvimento entre o 5° e 7° dia pós natal)
Privação 1x por 24h ou 3h por dia nas primeiras 2 semanas pós natais;
Modelo da superexposição ao cortisol causado por negligência ou trauma em crianças jovens (estresse precoce);
Breve separação (geralmente 15 min) dos filhotes da mãe para imitar uma ausência materna fisiológica (modelo
"early handling") → consequências a longo prazo têm um impacto positivo no enfrentamento do estresse mais tarde,
enquanto a separação materna parece ser prejudicial.
Kentrop, J., Joëls, M., Achterberg, E. J. M., van der Veen, R., Smid, C. R., van IJzendoorn, M. H., &
Bakermans-Kranenburg, M. J. Effects of Maternal Deprivation and Complex Housing on Rat Social
Behavior in Adolescence and Adulthood (2018)
Abandono Materno
“Um conjunto de estudos usou períodos longos de separação, seguidos de desmame precoce dos filhotes (George et
al., 2010). O desmame precoce por si só mostrou aumentar o comportamento semelhante à ansiedade na idade
adulta (Kikusui et al., 2004) e quando combinado com a separação materna, não apenas aumentou os
comportamentos ansiosos, mas também resultou em hiperatividade, desregulação gênica e alterações
neuroanatômicas do cérebro; alguns dos quais foram observados em humanos com histórico de abuso precoce”.
Murthy, S., & Gould, E. Early Life Stress in Rodents: Animal Models of Illness or Resilience? (2018)
Estresse Precoce
• Definido como um período de trauma grave e/ou crônico, bem como privação ou negligência ambiental/social, no
cuidado pré/pós natal (Hedges & Woon, 2011);
O cérebro é particularmente suscetível à programação precoce pela desregulação do eixo HPA, podendo se
manifestar como hiper-reatividade ao estresse e maior suscetibilidade a transtornos afetivos como ansiedade,
depressão e esquizofrenia na infância ou na idade adulta. Alteração do ritmo circadiano, desequilíbrio de
neurotransmissores no cérebro e comprometimento da função imunológica também foram descritos como
consequências da exposição ao estresse perinatal;
Alterações cognitivas como de linguagem, memória, atenção e funções executivas, permanecem mesmo quando
fatores sociodemográficos são eliminados;
Banqueri, M., Mendez, M., & Arias, J. L. Impact of Stress in Childhood: Psychobiological Alterations.
(2016).
Estresse Precoce
Pior desempenho acadêmicos e menores escores de QI → 2x mais propensos a repetir na escola;
Redução na flexibilidade cognitiva, essencial na adolescência com maior vulnerabilidade a comportamentos de risco;
Banqueri, M., Mendez, M., & Arias, J. L. Impact of Stress in Childhood: Psychobiological Alterations.
(2016).
Estresse Precoce
Estresse → ativação do núcleo paraventricular do hipotálamo (PVN)
→ liberação de hormônio liberador de corticotropina (CRH) e
arginina vasopressina (AVP) → se ligam a seus receptores CRHR1 e
V1b na hipófise anterior → liberação do hormônio
adrenocorticotrófico (ACTH) → estimula a síntese de glicocorticóides
(cortisol)
Silberman, D. M., Acosta, G. B., & Zorrilla Zubilete, M. A. Long-term effects of early life stress exposure:
Role of epigenetic mechanisms (2016).
Estresse Precoce
Importante na revelação das bases neurais dos danos
produzidos a longo prazo;
Banqueri, M., Mendez, M., & Arias, J. L. Impact of Stress in Childhood: Psychobiological Alterations.
(2016).
Estresse Precoce
Hipocampo continua desenvolvendo nas primeiras semanas de vida, sendo completamente desenvolvido aos dois
anos. Córtex pré frontal e amígdala demoram ainda mais para se desenvolver.
Aferentes dopaminérgicos ao CPF são sensíveis ao estresse, estando essa via mesocortical encarregada de focar
atenção em estímulos estressantes para lidar com eles → estresse crônico altera a função do CPF, causando
hipervigilância;
Serotonina é modificada em resposta ao estresse → regula o humor e participa de vias ansiolíticas e ansiogênicas;
Baixos níveis de serotonina estão relacionados ao suicídio e agressividade.
Banqueri, M., Mendez, M., & Arias, J. L. Impact of Stress in Childhood: Psychobiological Alterations.
(2016).
Estresse Precoce
• Estresse intra-útero:
Exposição do feto a níveis aumentados de hormônios do estresse pelo estresse materno durante a gestação pode
afetar seu desenvolvimento comportamental e, assim, aumentar sua suscetibilidade a apresentar transtornos de
humor e hiperansiedade na adolescência ou idade adulta;
Espinhas dendríticas, estruturas pós-sinápticas especializadas que recebem principalmente estímulo excitatório, são
sensíveis a experiências que ocorrem durante o desenvolvimento, incluindo episódios de estresse periódicos ou
drogas;
O desenvolvimento sináptico das regiões corticais límbicas é modulado em resposta à experiência emocional;
Essas áreas corticais são conhecidas por estarem implicadas nos processos atencionais, na memória operacional e na
regulação do comportamento emocional.
Murmu, M. S., Salomon, S., Biala, Y., Weinstock, M., Braun, K., & Bock, J. Changes of spine density and
dendritic complexity in the prefrontal cortex in offspring of mothers exposed to stress during pregnancy
(2006).
Estresse Precoce
• Estresse intra-útero:
Fatores endócrinos, como os hormônios do estresse circulantes, os neurotransmissores ou os peptídeos, podem
desempenhar um papel modulatório;
A corticosterona produzida na mãe durante o estresse atinge o feto através da circulação materna. Níveis elevados de
glicocorticoides maternos podem interferir no desenvolvimento do eixo (HPA) e no estabelecimento de sistemas
monoaminérgicos centrais no cérebro embrionário;
Murmu, M. S., Salomon, S., Biala, Y., Weinstock, M., Braun, K., & Bock, J. Changes of spine density and
dendritic complexity in the prefrontal cortex in offspring of mothers exposed to stress during pregnancy
(2006).
Introdução
• Estresse pós natal:
Eventos de estresse precoce em humanos, assim como problemas sociais e de saúde, estão associados ao aumento
do risco de psicopatologias na infância e na idade adulta;
Relato
• RN Y.E., sexo feminino, nascida em 02.03.2019 de PN às 21:45h, PN 2560g, 46cm, PC 31cm, APGAR 9/9, IG 36
semanas. BEG, corada, hidratada, acrocianótica, ativa e reativa, FANT, TEC < 3 seg, pulsos presentes. BRNF 2T s/ sopro,
FC 160 bpm. MV + bilateral sem RA, eupneica, BSA 0. Fígado a 1cm do RCD, baço não palpável. Genital feminino sem
alterações. Anus pérvio, ortolani negativo. Palato, coluna e clavículas íntegras, sem malformações aparentes.
• Mãe 38 anos, cozinheira, procedente de Capão Bonito – SP, G2 P2 A0, ultimo parto normal há 21 anos.
Apresentada à mãe com contado pele a pele. Rotina de sala de parto na presença do pai, alojamento conjunto e
aleitamento materno em livre demanda.
No 2° dia de vida, às 11h, mãe evadiu do hospital, deixando RN no quarto. Alta foi suspensa até a avaliação da
Assistente Social.
Foi procurada pela assistente social, tendo relatado que o pai teria a mandado embora do hospital (sic), então foi.
Notificado o Conselho Tutelar, tendo a conselheira informado que o RN ficará sob os cuidados com Conselho,
mantendo-o internado.
Pai relata que mãe fez uso de bebida alcoólica durante a gestação. Mãe nega, relatando uso de rivotril e amitriptilina,
fazendo acompanhamento no CAPS.
Discussão
• Cuidados com a criança em situações de violência
- Notificar
Envio de uma via da ficha ao conselho tutelar ou à Vara da Infância e da Juventude ou Ministério Publico
Arquive uma via no serviço de saúde
Registrar em prontuário os dados de anamnese e dos exames físico e complementar, pois o sistema judiciário poderá
solicitá-los à unidade de saúde.
Qualquer pessoa vítima ou testemunha que necessite de orientação anônima pode utilizar o serviço de “disque-
denúncia” no âmbito local ou discar 100 (Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e
Adolescentes). O Disque-100 recebe denúncias de violação de direitos humanos de crianças e adolescentes, além de
prestar orientações sobre os serviços e as redes de atendimento, defesa e proteção existentes nos estados e
municípios brasileiros.
Alguns estudos sugerem que a resiliência à exposição ao estresse durante o desenvolvimento pode ser mediada, pelo
menos em parte, via óxido nítrico e neurotrofinas entre outras cascatas de sinalização intracelular [48].
Como mencionado, o estresse pré-natal está associado a efeitos comportamentais na prole. Por estas razões, mais
estudos são necessários para compreender as vias envolvidas nestes processos, a fim de fornecer alvos prospectivos
para novos tratamentos antidepressivos e estabilizadores de humor, incluindo moduladores epigenéticos.
Silberman, D. M., Acosta, G. B., & Zorrilla Zubilete, M. A. Long-term effects of early life stress exposure:
Role of epigenetic mechanisms (2016).
Discussão
- Fortalecer rede de apoio
- Instrumentalizar família: acolhimento
- Intervenção precoce:
"O conceito de intervenção precoce surge como uma possibilidade intencional de intervir junto ao desenvolvimento
infantil, de maneira a garantir que este processo ocorra da melhor maneira possível, especialmente para aquelas
crianças que, por alguma perturbação existente, ou apenas potencial, se encontram em risco de ter o seu
desenvolvimento afetado".
- Neuroplasticidade nos primeiros anos de vida
"Foi demonstrado que o enriquecimento ambiental pós-natal precoce neutraliza os déficits induzidos pelo estresse
pré-natal na neurogênese do hipocampo“.
Banqueri, M., Mendez, M., & Arias, J. L. (2016). Impact of Stress in Childhood: Psychobiological Alterations.
Psicothema. http://doi.org/10.7334/psicothema2016.264
Kentrop, J., Joëls, M., Achterberg, E. J. M., van der Veen, R., Smid, C. R., van IJzendoorn, M. H., & Bakermans-
Kranenburg, M. J. (2018). Effects of Maternal Deprivation and Complex Housing on Rat Social Behavior in Adolescence
and Adulthood. Frontiers in Behavioral Neuroscience. http://doi.org/10.3389/fnbeh.2018.00193
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. (2012). Saúde da
criança: crescimento e desenvolvimento. Departamento de Atenção Básica.
Dalbem, J. X., & Dalbosco, D. D. (2005). Teoria do apego : bases conceituais e desenvolvimento dos modelos internos
de funcionamento. Arquivos Brasileiros de Psicologia.
Referências
Murthy, S., & Gould, E. (2018). Early Life Stress in Rodents: Animal Models of Illness or Resilience? Frontiers in
Behavioral Neuroscience. https://doi.org/10.3389/fnbeh.2018.00157
Silberman, D. M., Acosta, G. B., & Zorrilla Zubilete, M. A. (2016). Long-term effects of early life stress exposure: Role of
epigenetic mechanisms. Pharmacological Research. https://doi.org/10.1016/j.phrs.2015.12.033
DA CUNHA, A. C. B.; BENEVIDES, J. Prática do psicólogo em intervenção precoce na saúde materno-infantil. Psicologia
em Estudo, 2012.