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Religião, espiritualidade e

cultura no Brasil: um
enfoque etnopsicológico
Prof. Dra. Daniela Bueno de Oliveira Américo de Godoy
Breve apresentação

 Psicóloga (FFCLRP/USP - 2003)


 Doutora em Psicologia (FFCLRP/USP - 2012)
 Pós-doutora em Psicologia (FFCLRP/USP - 2015)
 Docente da disciplina de pós-graduação “Pesquisa
etnopsicológica: teorias e práticas” em parceria com o
prof. Dr. José Francisco Miguel Henriques Bairrão
(FFCLRP/USP)
 Psicanalista
Objetivos:

 Contextualizar o campo da Etnopsicologia.


 Apresentar uma articulação entre Psicologia da
Religião e Etnopsicologia.Apresentar a abordagem
metodológica desenvolvida pelo Laboratório de
Etnopsicologia (FFCLRP/USP).
 Apresentar desdobramentos práticos, sobretudo na
área da Saúde e da Educação.
Etnopsicologia (Lutz, 1985)

Sistemas de conhecimento etnopsicológico:


Pessoas em todas as sociedades têm desenvolvido compreensões
compartilhadas a respeito de aspectos da vida pessoal e social, os quais,
em termos heurísticos, podem ser chamados de psicológicos.
“Psicológico” – diz respeito às construções culturais acerca da noção de
pessoa e de natureza humana.

A tarefa de um estudo etnopsicológico é examinar o que as pessoas falam e


fazem na vida cotidiana, o que implica um sistema de conhecimento
cultural para interpretar o self e o outro.
Pressupostos

 Descrição antropológica tradicional opera por meios


de contrastes implícitos da cultura observada.
 A tarefa para uma abordagem comparativa em
etnopsicologia é identificar as fontes e as variedades de
etnoteorias nas culturas do observado e do observador.
 As questões relativas às temáticas de pesquisas
científicas e as primeiras assunções não examinadas de
acadêmicos encontram-se enraizadas em tradições
culturais nas quais aparecem.
Religião e espiritualidade (Bairrão,
2017)

 Religião: sistema simbólico que abarca processos


sociais, culturais e psíquicos
 Espiritualidade: implica uma série de implícitos éticos
derivados de sistemas religiosos
 Religião + etnopsicologia no Brasil → comunidades
tradicionais
Umbanda

 Religião nacional
 Síntese da experiência social e étnica brasileira
 Inicialmente compreendida como sincretismo ou candomblé degenerado
 Pesquisas do laboratório apontam para uma transição e composição entre
diversas práticas religiosas: Catimbó, Pajelança, Santo Daime, União do
Vegetal, Barquinha, Jurema, Encantaria, Candomblé, Batuque, Tambor,
Xangô, Tambor de Mina, Macumba, Canjerê, Quimbanda, Umbandaime,
Umbandomblé, Mesa Branca, Jurema de Mesa, etc.
 Diversas denominações para um “algo sem nome”?
 Fluidez e o dinamismo do universo religioso afro-brasileiro → impossibilidade de
estabelecer uma visão de conjunto.
Religiosidade afro-brasileira

 Aponta para processos de maleabilidade e de ajuste que já estariam


presentes no catolicismo ibérico, ao que se somam raízes indígenas, e o
trabalho de uma arquitetura conceitual africana.
 Espiritualidade permite novas sínteses criativas e recombinações
originais; não se detém aos limites do que tradicionalmente é idealizado
como religião.
 “Pureza” da tradição afro-brasileira ainda está por vir e se situa sempre
no futuro.
 Logo, talvez seja mais interessante pesquisar essas religiões não de um
ponto de vista exaustivo, mas abarcando as pessoas e os grupos sociais
que as cultivam.
Etnopsicologia X etnocentrismo

 Dar ouvidos ao Outro visa prevenir preconceitos e


atitudes etnocêntricas
 Como pesquisar?
 Como e quando intervir?
 Qual o papel do psicólogo?
Método

 Observação participante

 Escuta participante
Sujeito (agente)
Outro
Significante
Transferência

 Etnografia do invisível
A construção do pesquisador

 As denominações, os pontos cantados, o que se repete, o que insiste


no tempo, o cancioneiro praticado e quaisquer outros ingredientes
dos cultos são elementos relevantes do repertório idiomático, em
pauta nessas comunicações e, a sua progressiva aprendizagem
faculta o acesso ao entendimento de sentidos.
 Por mais que o pesquisador pretenda ser neutro em relação aos
eventos espirituais comunicantes nesse processo, os mesmos eventos
nunca serão, pelo que se requer um preparo psicológico e não
apenas teórico-metodológico do pesquisador.
 “Modelagem topológica da possessão: sujeito e alteridade na
umbanda” (Godoy, 2012).
 “Vozes do Brasil: diferentes identidades, um devir intercultural?”
(Godoy, 2016).
Propostas de intervenção

 Construção de “métodos híbridos”


 Para isso é preciso que o pesquisador / psicólogo coloque em xeque o lugar que
crê ocupar na relação com o outro:
 Ele pretende fazer o bem ou salvar o outro?
 Ele acredita que sua formação acadêmica o torna superior ou mais apto a aplicar um
tipo de conhecimento (científico) para avaliar e reorganizar o mundo do outro?
 Ele quer ensinar o outro o modo correto de viver (morar, comer, se relacionar, constituir
família, etc)?
 Quando o profissional atua “de fora”, como se tivesse uma visão privilegiada do
Outro, recusa-se a compreender sua lógica simbólica. Trata-se de uma postura
monológica.
Considerações finais

 O pesquisador/psicólogo não sabe nada a priori. A teoria deve funcionar


mais como um mapa nessa estrada de encontro com o Outro, não como
um “passo a passo” que define como se deve tratá-lo.
 Um conhecimento não é superior ao outro. A Psicologia é um produto
cultural fruto da racionalidade ocidental. Abrir-se ao Outro implica o
reconhecimento de que as respostas devem ser construídas em parceria, a
partir da lógica simbólica da população atendida.
 Proposta: deixar-se afetar por outras arquiteturas simbólicas, ser invadido
por inquietações, perguntas, dúvidas, conflitos. É somente assim que
poderá haver espaço para que outras vozes (culturais) apareçam. Essa
nova voz não irá substituir a já existente, será somada a ela e “ativada” em
contextos e com interlocutores específicos.
Referências

 Bairrão, J. F. M. H. B. Psicologia da religião e da espiritualidade no Brasil por


um enfoque etnopsicológico. Revista Pistis &Praxis, Curitiba, v. 9, n. 1, p. 109-
130, 2017.
 Godoy, D. B. O. A. Vozes do Brasil: diferentes identidades, um devir
intercultural?” In: Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, Povos
indígenas e psicologia a procura do bem viver. São Paulo, CRP, 2016. p. 110-
123.
 Godoy, D. B. O. A. Modelagem topológica da possessão: sujeito e alteridade
na umbanda. Tese (doutorado em Psicologia) – da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, 2012.
 Lutz, C. Ethnopsychology compared to what? Explaining behavior and
consciousness among the Ifaluk. In: WHITE, G. M. (Ed.); KIRKPATRICK J. (Ed.).
Person, self and experience: exploring Pacific Ethnopsychologies. California:
The University of California Press, 1985. p. 35- 79.

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