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A obra Corpo de Baile tem sete Narrativas sendo que o Recado do Morro
(corresponde ao planeta Terra) está localizado exatamente no meio. Toda a obra
apresenta-se entrecortada por cantorias. A Coroação de Reis está presente em
inúmeras passagens da obra Corpo de Baile. Mas devemos perguntar que
universo é este da Coroação de Reis Congo ao qual faz referência Guimarães
Rosa? Nossa hipótese é que há uma cumplicidade da complexidade habitando a
relação entre o ritual e a obra literária.
Contextualizando o ritual Coroação de Reis Congo
Trata-se de um saber não sabido que re-inaugura a comunidade a cada edição. Muitas destas
histórias passaram e passam por um processo de negação mútua, ou seja, cada grupo faz de si
próprio a Origem de tudo, o que significa dizer que teríamos 7 origens do Mito da Coroação de
Reis Congo (ex: qual grupo encontrou a imagem da Santa).
O múltiplo da ideia de origem é uma denegação da própria universalização dos mitos, igualmente
característica de um Sertão que se constitui em labirinto.
Nas festas da Coroação de Reis Congo, também encontramos loucos solitários, bocós,
meninos, bobos de fazenda, visionários, até chegar ao músico “avulso”, tal como na obra de
Guimarães. O sentido (sujeito) comunitário está perdido no labirinto das diversidades dos
grupos que compõem o ritual. O princípio da unidade habita somente nas narrativas de uma
historicidade recontada, assim como no Recado do Morro, nada representa um elo seguro na
transmissão da mensagem, seja das aparições sagradas ou profanas, seja do próprio recado.
Este movimento palinódico (do desdito) está presente em centenas de cidades brasileiras ainda
hoje e sua composição é a con-conversa que inunda o literário de Guimarães, pois as localidades
definem a construção de personagens e sentidos mas não os torna homogêneos. Ao contrário,
privilegiam a con-conversa de con-vivências que valorizam, prioritariamente, a diversidade que
promoveu o encontro entre europeus, africanos e brasileiros.
PRODUÇÃO PARTILHADA
COM BOROROS, XAVANTES E KARAJÁS
Interessa compreender o conhecimento como fruto do encontro entre experiência
estética (Cultura Oral) e o saber na Universidade. Do lado acadêmico, aminhos
fenomenológicos e hermenêuticos remeteram ao fundamentos da experiência estética
como base de todo conhecimento das ciências humanas e sociais (H. G. Gadamer, J.
Crary, Michel Mafessoli, Michel Foucault, Peter Sloterdijk, Darcy Ribeiro, Eduardo
Viveiros de Castro, dentre outros).
CEDIPP Youtube
https://www.youtube.com/user/cedipp
Realizamos Cursos de Produção Partilhada do Conhecimento em parceria com
xavantes, bororos e karajás. Os cursos são oferecidos por mestres indígenas (das próprias
comunidades), estudantes e professores de pós-graduação.
O objetivo central destas atividades não é, prioritariamente, formar “cineastas indígenas”,
mas por meio do audiovisual e da hipermídia, criar uma interlocução temática a partir
das questões identificadas pelas próprias comunidades. Portanto, por vezes, a
produção e os resultados audiovisuais são coletivos, por vezes, são fruto de uma iniciativa
individual (Juanahu, Divino e Paulinho).
Paulinho
Bororo
Também são importantes os
momentos de formação na
Universidade, pois nos
próprios eventos de
apresentação dos resultados
obtidos, continuam valendo os
preceitos comunitários
indígenas.
Tornar presente a cultura oral na Universidade numa ampla expressão de Personitude.
No tocante à criação de ambientes
hipermídias, algumas experiências já estão
em andamento. Novamente o importante é
que elas sejam o resultado da interlocução
e equilíbrio entre os saberes orais e
acadêmicos.