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Engenharia Hidráulica

Drenagem e Saneamento

Introdução e Importância da
Drenagem e Saneamento
Doenças relacionadas com o
saneamento deficiente

Eng. Ivaldo Soares


INTRODUÇÃO
 A Engenharia de Saúde Ambiental consiste de medidas estruturais e
legislativas que visam o melhoramento das condições de vida e de
saúde pública nas comunidades. Os sistemas de abastecimento de
água , sistemas de evacuação de resíduos sólidos e líquidos, sistemas
de drenagem urbana, habitação e outros, constituem parte das
medidas estruturais de maior relevo nesta área que são ou não
acompanhadas de medidas legislativas tais como a definição de
normas de qualidade para descarga de resíduos em meios receptores.
EVOLUÇÃO FORA DO PAÍS

Webster (1962) refere, por exemplo, o sistema de drenagem com


colectores principais e drenos do aglomerado de Mohengo-Doro,
desenvolvido pela civilização Hindu, e que actualmente faz parte do
Paquistão Ocidental. As ruínas desse antigo sistema que se destinava
sobretudo à drenagem de escorrências das vias, e que data de 3000
A.C., espanta pela atenção e o cuidado colocados, na altura, com a
construção desse tipo de infra-estruturas. Os colectores dispunham
mesmo de caleiras adaptadas ao escoamento dos caudais mais
reduzidos.
Maner (1966) refere a actividade da Civilização Mesopotâmica nos anos
2500 A.C., que planearam e construíram, designadamente nas cidades
de Ur e Babilónia, infra-estruturas de drenagem e saneamento, incluindo
uma espécie de sarjetas e sumidouros para a recolha de águas de
superfície e encaminhamento para os colectores. Os materiais de
construção então utilizados foram, tipicamente, o tijolo e o asfalto. Em
800 A.C.
Ruínas de algumas grandes cidades da civilização Chinesa também
revelam a existência de sistemas de evacuação de águas residuais,
incluindo um importante sistema enterrado, executado por volta do ano
200 D.C. (Needham et al. 1971).

A Cloaca Máxima de Roma parece ter sido, no entanto, a primeira obra de


dimensão relevante, construída por motivações de qualidade de vida
urbana. Um sinal evidente do carácter de serviço público das cloacas de
Roma é o facto de ter existido um imposto específico, destinado a
assegurar a manutenção das mesmas, o cloacarium, e funcionários
incumbidos da sua inspecção, os curatores cloacarum.

Cloaca é um termo latino que significa “condutor de drenagem urbana” e


provém, segundo Plínio, do termo cluere que equivale a “purgar”.
Paralelamente, o termo colector provém do latim co-lego, que significa
juntar, reunir, e traduz o conceito da formação da rede de drenagem,
construída por trechos interligados, os colectores, onde se reúnem e
depois transportam as águas afluentes.
Uma das funções principais dos sistemas de Drenagem e Saneamento
é a prevenção de doenças relacionadas com a descarga descontrolada
de resíduos no ambiente
 
Todas doenças infecciosas são causadas por organismos vivos tais
como vírus, bactérias ou vermes parasitas. A transmissão destas
doenças, resulta frequentemente da passagem destes organismos de
um indivíduo (ou animal) para outro indivíduo (ou animal).

Para a Engenharia de Saúde Ambiental, é sempre conveniente


começar-se pela classificação das doenças infecciosas em categorias
que as relacionam com os vários aspectos do ambiente dos quais elas
são directa ou indirectamente dependentes.

No slide seguinte temos os mecanismos principais de transmissão de doenças relacionadas com a


água e estratégias preventiivas (adaptado de Feachem at. al. 1977)
DOENÇAS RELACIONADAS COM O SANEAMENTO DEFICIENTE DO MEIO

CLASSIFICAÇÃO E MECANISMOS DE TRANSMISSÃO

Todas as doenças infecciosas da categoria oral-fecal, assim como a


maior parte de doenças causadas por organismos vivendo na água e
outras não relacionadas com a água, são causadas por organismos
patogénicos libertados com os excretas humanos (fezes). De
maneira similar às doenças relacionadas com a água, a classificação
das doenças relacionadas com os excreta pode ajudar-nos a
entender o impacto resultante das várias soluções de engenharia
(por exemplo a evacuação dos excreta) na prevalência e
propagação das mesmas
A seguir a classificação Ambiental das Infecções transmitidas a partir dos excreta
  Classificação Designação de Doenças Focos principais de
Transmissão
Tipo Características    
    Poliomielite (V)  
Oral-Fecal (não Bacteriana) Hepatite (V) Contaminação individual
  Não Latente Diarreia rotavirus (V)
I Dose infectante Baixa Desinteria Amoébica (P) Contaminação doméstica
    Giardisiase (P)  
    Balantidiase (P)  
    Enerobiase (H)  
       
    Diarreia e desinteria (B)  
  Oral-Fecal (bacteriana) Enteritis Compilobacter (B) contaminação individual
  Não Latente Cólera (B) contaminação da água
II Média ou alta dose Diarreia E-coli (B) contaminação doméstica
infectante
  Persitência Moderada e Salmonelose (B) contaminação de legumes
capaz de multiplicar-se e mariscos
    Yersinose (B)  
    Febre Tifóide (B)  
    Febre paratifóide (B)  
       
    Ascariase (H)  
  Transmissão pelo solo Trichuriase (H) contaminação do solo
III Latente e persistente sem Ancilostomiase (H) contaminação de legumes
hospedeiro intermédio e mariscos
    Strongyloidiase (H)  
       
  Ténia do sagitada e armada   contaminação do solo
IV Latente e Persistente em Teniases (H) contaminação da carne e
vacas e Porcos forragem
       
    Schstomasiase (H)  
  Helminths vivendo na água Clonorchiase (H)  
V. Latente e Persistente com Difilobotriase (H) Contaminação da água
hospedeiro aquático
    Fasciolopsiase (H)  
    Paragonimiase (H)  
       
    Filária (H)  
VI. Insectos vectores Infecções das categorias I à Insectos vivendo próximo
relacionados com os V ou em lugares
excreta contaminados
ESTRATÉGIA PREVENTIVA E IMPACTO DE INTERVENÇÕES
ESTRUTURAIS

Trabalho em grupo, preencher a tabela a seguir


Tipo Mecanismo de Transmissão Estratégia Preventiva Impacto
e Intervenções
Estruturais
     
   
I Transmitidas pela água
   
   
II Transportáveis pela água

   
   
III Causadas por organismos vivendo na água

   
   
IV Causadas por insectos vivendo próximo da água

   
   
   
V Devidas a um saneamento deficiente
   
Tipo Mecanismo de Transmissão Estratégia Preventiva
     
     tratamento de água p/ consumo
I Transmitidas pela água  evitar o uso casual de fontes cuja qualidade é
duvidosa
     aumentar a disponibilidade de água para
    higiene pessoal
II Transportáveis pela água  melhorar o acesso e segurança do
abastecimento de água doméstico
 melhorar a higiene pessoal e doméstica
     reduzir a necessidade de contacto com água
    contaminada
III Causadas por organismos vivendo na água  controlar a população de caracóis
 reduzir a contaminação de fontes superficiais
com excretas
     melhorar a gestão de águas superficiais
     destruir locais de procriação de insectos
IV Causadas por insectos vivendo próximo da água  promover o uso de rede mosquiteira
      
     construção de sanitas ou latrinas
     habitação melhorada
V Devidas a um saneamento deficiente  tratamento dos excretas antes do re-uso como
fertilizante
 melhorar a educação sanitária
     
FACTORES DETERMINANTES DE CONTAMINAÇÃO

Dentre os vários tipos de infecções descritas anteriormente, algumas


(denominadas antroponoses como p.ex. a cólera) afectam apenas o
Homem e são transmitidas através de várias mecanismos
Homen/Homen enquanto que outras infectam todo o animal vertebrado
e podem ser transmitidas de animais para o Homem e vice-versa.
Zoonose
Os patogenes das categorias III, IV e V de doenças relacionadas com
os excreta, apresentam uma propriedade conhecida por latência o que
significa que após serem lançados com os excreta, eles não infectam
imediatamente o homem, pois necessitam de um período de
desenvolvimento no solo, porcos, vacas ou animais aquáticos. A outra
propriedade característica destes microooganismos é a sua
persistência e o tempo de sobrevivência no ambiente.
Existe coronavírus em cães e gatos?

Sim, existe. Mas é muito diferente do COVID-19. Os vírus são apenas da mesma
família, mas a ação e transmissão é completamente diferente.
Em cães, o coronavírus causa diarreia. Mas pode ser evitado com a vacinação anual.
O tratamento é apenas sintomático, dando suporte para que o animal melhore. Após
a finalização do quadro agudo, o animal está sadio e curado.

Já em gatos, há dois tipos de vírus. Um que é semelhante ao canino, causando


diarreia. Já o segundo tipo é mais grave, causando PIF (Peritonite infecciosa felina).
Infelizmente, para essa doença não há vacina e nem cura, apenas cuidados
sintomáticos, aumentando a qualidade de vida do animal.
Seja o coronavírus de cão o de gato, não há transmissão ao seu humano. Não é uma
zoonose. Segundo Rossi, esses coronavírus não estão associados ao atual surto de
coronavírus que vem afetando os humanos.

A contaminação, tanto de cães, como gatos, acontece através de fontes e ambiente


contaminado com excreções e secreções. Em gato acomete principalmente os que
compartilham caixinha de areia ou áreas de eliminação. O vírus no ambiente pode
infectar outros.
CONCEITOS BÁSICOS E CLASSIFICAÇÃO DE SISTEMAS DE EVACUAÇÃO DE
EXCRETA

Pode-se definir um sistema de evacuação de excretas como sendo o conjunto de


estruturas destinadas à deposição, recolha, transporte, tratamento e deposição
  dos excreta humanos, seguindo-se eventualmente a re-utilização.
A) Métodos Sem Arrastamento ou usando pouca água
Latrinas nas suas múltiplas variantes (Latrina com fossa seca, latrina c/ furo seco,
latrina com fossa húmida, latrina com sifão Hidráulico, latrina com balde receptor,
latrina de compostagem etc)
B) Métodos com Arrastamento por água
1. Sistema de fossa estanque
2. Sistema de poço perdido
3. Sistema de fossa Séptica
SITUAÇÃO DE SANEAMENTO EM MOÇAMBIQUE

Tal como na maioria dos países em vias desenvolvimento os aglomerados


urbanos das cidades Moçambicanas são caracterizados por um rápido
crescimento populacional.

A nível nacional, a Direcção Nacional de Àguas (D.N.A.), através do seu


Departamento de Saneamento Urbano (D.E.S), é o órgão do Governo que é
responsável pela definição das políticas e estratégias do sector para o
desenvolvimento da componente de drenagem e saneamento.

Relativamente à drenagem e saneamento urbano as únicas intervenções de relevo


nos últimos 10-15 anos foram os projectos de drenagem das cidades de Maputo e
Beira. Estes projectos orçados em cerca de 60 milhões de USD (dos quais cerca de
45 milhões para o projecto de drenagem de Maputo) tiveram como objectivo
principal a minimização dos problemas de drenagem pluvial na altura vividos nestas
duas cidades.
Hoje, o cenário encontrado na maioria destas cidades é caracterizado por:
 
- os sistemas de drenagem pluvial serem usados para a drenagem simultânea de
águas residuais. No entanto porque foram concebidos (dimensão e inclinação dos
colectores, material aplicado etc) para um fim diferente, os mesmos passam a
apresentar problemas graves no funcionamento tais como o bloqueio dos
colectores e a ocorrência de septicidade no interior destes.
- exiguidade de fundos para o efeito e falta de uma cultura/disciplina de
manutenção periódica (limpeza regular) ter conduzido à uma redução progressiva
(entopimento) da capacidade e em alguns casos à destruição (fissuras, quebras
devido a erosão) dos mesmos.
 
- Em zonas com predominância de fossas sépticas com drenos de infiltração, para
além da sobrecarga em termos de utilização das instalações, a falta de um
programa regular de vazamento das fossas leva a que o conteúdo da maioria
destas instalações transborde frequentemente para os arruamentos o que para
além do incómodo que causa, é um atentado sério à saúde Pública.

Em termos de cobertura a nível nacional, um levantamento efectuado pelo INE,


em 2002/03 no âmbito do resenceamento geral de habitação mostra para o total
de agregados familiares recenseados, uma distribuição de infra-estrutura de
saneamento por tipo de habitação nas zonas urbanas e rurais
Distribuição percentual de casas por tipo de saneamento (nacional)

Tipo de Distribuição percentual de casas


saneamento beneficiando de sistemas tipo de
saneamento
Área rural Área urbana

Sistema de águas 0.1 4.6


residuais
Fossa séptica 0.2 7.4
Latrina melhorada 1.8 20.6
Latrina normal (não 31.2 39.1
melhorada)
Nenhum/céu aberto 66.3 27.3
Outros 0.3 1.0
Fonte: INE (2003)

Com base nos valores indicados na tabela conclui-se facilmente que até finais de
2002/2003, mais de 50% dos agregados familiares das zonas urbanas de todo o país
não dispunham de infra-estruturas de saneamento adequadas (latrina melhorada em
diante). O cenário a nível rural era ainda pior.
A situação de saneamento no país carece portanto de melhoriais
substanciais daí o Governo ter adoptado metas à alcançar nos próximos 10-
15 anos e que passam pela adopção das metas de Desenvolvimento do
Milénio (Millennium Development Goals – MDGs)

 Reduzir para metade a proporção de pessoas sem acesso sustentável a


fontes de águas segura para beber até ao ano 2015.
 Reduzir para metade a proporção de pessoas sem acesso sustentável a um
mínimo de infra-estruturas de saneamento seguras até ao ano 2015.
 Providenciar, até ao ano 2015, água e infra-estruturas de saneamento a
todas as escolas.
 Garantir que até ao ano 2015, 80% das crianças das escolas primárias
tenham conhecimentos básicos de higiene e saneamento adequado.

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