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Esquema de resolução de casos práticos ESC

Direito das Obrigações I (Universidade de Lisboa)

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Enriquecimento sem causa – Esquema de Resolução de Casos práticos

1) Classificar o caso como uma potencial situação de enriquecimento sem


causa, indicando quem é o enriquecido e empobrecido;

Exemplo: Estamos perante uma potencial situação de enriquecimento sem


causa, em que o empobrecido é A e, por sua vez, B é o enriquecido.

2) Verificar o preenchimento dos pressupostos gerais cumulativos do instituto


do enriquecimento sem causa que decorrem do disposto no artigo 473º/1 do
CC através dos elementos presentes no caso prático.

 De acordo com o professor MENEZES LEITÃO, os pressupostos são os


seguintes:

i) Um enriquecimento, isto é, um aumento da esfera patrimonial do enriquecido


(A), suscetível de avaliação pecuniária.

- Aqui, o enriquecimento deve ser considerado em abstrato, equivalendo ao


valor bruto da deslocação patrimonial em causa (indicar o valor).

ii) Um correlativo empobrecimento, isto é, uma relação causal entre um


enriquecimento e um empobrecimento (diminuição da esfera patrimonial,
suscetível de avaliação pecuniária).

- A fim de explicar essa mesma relação, deve atender-se à teoria do conteúdo


da destinação, ou seja, se houve vantagens/utilidades destinadas à esfera do
empobrecido (A) que foram desviadas para a esfera do enriquecido (B), haverá
um correlativo empobrecimento.

iii) Sem causa justificativa: não pode existir nenhuma norma (princípio ou regra)
que legitime a manutenção do enriquecimento na esfera do enriquecido (A).

3) A subsidiariedade do instituto do enriquecimento sem causa

- Havendo enriquecimento sem causa, é necessário atender à sua natureza


subsidiária.
- A letra do artigo 474º do CC aponta para a subsidiariedade do instituto do
enriquecimento sem causa. Contudo, a doutrina, na medida em que a
subsidiariedade é contrária aos princípios do Direito Civil e lhe é estranha,
recorre a uma interpretação restritiva do disposto no artigo 474º, estabelecendo
que nos casos em que este instituto seja mais favorável ao lesado, devemos
aplicá-lo ao caso.

4) Modalidades de enriquecimento sem causa

i) Enriquecimento por prestação

- Alguém efetua uma prestação a outrem, MAS verifica-se a ausência de causa


que permita a receção ou manutenção da prestação em causa.

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- De acordo com o professor MENEZES LEITÃO, a ausência de causa jurídica


deve ser definida em sentido subjetivo como a não obtenção do fim visado com
a prestação.
Assim, haverá lugar à restituição da prestação sempre que este fim não venha
a ser obtido.

Requisitos:
a) Um elemento real consistente numa atribuição patrimonial que produza no
recetor um enriquecimento

b) + c) Um elemento cognitivo e volitivo que se traduzem no facto de este


incremento do património de outrem exigir uma consciência da prestação e da
vontade de prestar

d) Um elemento final, segundo o qual a atribuição tem de visar a realização de


um fim específico (o incremento de património alheio)

 Há várias modalidades de não obtenção do fim visado com a prestação

 A repetição do indevido: os pressupostos comuns à repetição do


indevido são:

a) a realização de uma prestação com a intenção de cumprir uma obrigação


(animo solvendi);

b) sem que exista uma obrigação subjacente a essa prestação (indevido


objetivo); (artigo 476º/1 CC)

c) OU sem que esta tenha lugar entre solvens e accipiens (indevido


subjetivo) ; O indevido subjetivo ocorre quando a prestação é realizada a
terceiro e não ao seu verdadeiro credor (ex latere accipientis); (artigo 476º/2
CC)

OU quando a prestação é realizada por terceiro e não pelo verdadeiro


devedor (ex latere solventis) (477º e 478º CC)

d) OU sem que deva ser realizada naquele momento (cumprimento


antecipado) (476º/3 CC)

 A restituição da prestação por posterior desaparecimento da causa

- artigo 473º/2 CC
- Exemplos: artigos 442º/1; 788º CC

 A restituição da prestação por não verificação do efeito pretendendido

- artigo 473º/2 CC

- Hipótese de alguém realizar uma prestação “em vista de um efeito que


não se verificou”

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- Requisitos (decorrem do artigo 473º/2, in fine CC):


a) realização de uma prestação visando um determinado resultado
correspondente a um comportamento da outra parte;

b) correspondendo esse resultado ao conteúdo de um negócio jurídico;

c) sendo que esse resultado não se vem posteriormente a realizar

ii) Enriquecimento por intervenção

- Esta modalidade não se encontra expressamente prevista no artigo 473º/1


MAS é reconduzível a este preceito

- Aqui, existe uma ingerência não autorizada no património alheio, verificando-


se o desviar de vantagens destinadas ao empobrecido, a favor do interventor.

- Quanto a essas vantagens, estas até podem ser criadas pelo interventor mas
em área destinada ao empobrecido, não sendo necessário verificar-se uma
deslocação patrimonial concreta, atendendo-se à teoria do conteúdo da
destinação.

- A teoria do conteúdo da destinação assenta na tese de que qualquer direito


subjetivo absoluto (direitos reais, de personalidade (…)) atribui ao seu titular a
exclusividade do gozo e da fruição da utilidade económica de um bem. Quando
essa exclusividade é desrespeitada através da intervenção de outrem no
âmbito exclusivamente destinado à esfera do titular do direito, permite a esse
mesmo intentar uma ação de ESC.

Requisitos:

a) o dano

b) a ausência de causa que se reconduz à frustração da destinação atribuída


pela Ordem jurídica a determinados bens

iii) O enriquecimento resultante das despesas efetuadas por outrem:

Subdivide-se nas seguintes modalidades:

 Enriquecimento por incremento de valor de coisas alheias:

- Neste caso, alguém efetua despesas em determinada coisa, que se encontra


na posse do benfeitorizante ou este acredita que a coisa lhe pertence.

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- Aqui, há um aumento da esfera patrimonial do enriquecido, mas não há


elemento volitivo nem cognitivo por parte do empobrecido, sendo o
enriquecimento suportado pelo seu património.

 Enriquecimento por pagamento de dívidas alheias:

- Aqui, o empobrecido libera o enriquecido de determinada dívida que este tem


para com terceiro sem visar realizar-lhe essa prestação, nem estando em
causa qualquer norma que permita o empobrecido receber uma compensação
por esse pagamento.

iv) Enriquecimento por desconsideração do património

- Casos em que, com prejuízo para o empobrecido, se verifica uma aquisição


de terceiro a partir de um património que se interpõe entre ele e o
empobrecido.

5) Dever de restituição do enriquecido; Cálculo do valor da restituição

- Havendo enriquecimento sem causa, há dever de restituição – o enriquecido


deve apenas restituir “aquilo com que injustamente se locupletou”.

Teoria do Triplo Limite (professor MENEZES CORDEIRO):

Na prática, os 3 grandes momentos da restituição são:

i) O princípio base da obrigação de restituição decorre do previsto no artigo


479º/1 que determina a primazia da restituição em espécie.
(quando enriquecido ainda tenha o objeto consigo, restitui o objeto em si)

A restituição natural/ em espécie é possível?

NÃO SIM

É excessivamente onerosa?

ii) Qual é o momento relevante para


aferir o valor da restituição? SIM (B) NÃO (A)
(C)

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iii) Cálculo através da Teoria do Triplo Limite (D)

(A) – O enriquecido deve restituir o bem em espécie

(B) – O artigo 479º/1 deve sofrer uma interpretação sistemática,


complementando-se à luz do artigo 566º/1 e por maioria de razão: a restituição
opera em valor sempre que a restituição em espécie seja demasiado onerosa
para o devedor (enriquecido) (professor MENEZES CORDEIRO).

(C) – Da conjugação dos artigos 479º/1 e 480º, in fine do CC decorre que o


momento para aferir o valor da restituição consiste no chamado “momento
atual”, ou seja, o momento em que o enriquecido se encontra de má-fé

OU

Há um conjunto de crenças que fazem com que o enriquecido pense que tem
direito ao que recebeu. Aqui, o momento relevante para aferir o enriquecimento
consiste no momento em que o mesmo se apercebe que o enriquecimento não
se destinava a si.

(D) Cálculo

De acordo com a teoria do triplo limite defendida pelo Professor MENEZES


CORDEIRO, deve ser restituído o enriquecimento em concreto, até ao
montante do dano em abstrato ou em concreto conforme o que for superior.

- O 1º limite consiste na restituição do enriquecimento em concreto, isto é, a


diferença entre a situação patrimonial atual e a situação patrimonial abstrata do
enriquecido.

- O 2º limite é o empobrecimento em concreto, ou seja, a diferença entre a


situação patrimonial atual hipotética e a situação patrimonial atual do
empobrecido.

- O 3º limite é o empobrecimento em abstrato, ou seja, o valor da deslocação


patrimonial.

Exemplo:

A envia uma garrafa de whisky no valor de 300 para B; No entanto,


fortuitamente, a garrafa é enviada para casa de C. B gasta 30 euros numa
garrafa para servir whisky aos seus amigos
C bebe a garrafa. Após beber, apercebe-se que esta não lhe era destinada.

1º limite: enriquecimento em concreto = 0

PA PAH
0 euros 0 euros
(já bebeu (não teria
a garrafa) recebido
a garrafa)
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2º limite: empobrecimento em concreto = 30 euros

PA PAH
- 30 0
euros

3º Limite: empobrecimento em abstrato = 300 euros

 Entre o empobrecimento em concreto e o empobrecimento em abstrato,


escolhe-se o superior (300); Entre esse valor (300) e o enriquecimento em
concreto (0), escolhe-se o valor inferior (0). No caso, C nada tem de restituir,
uma vez que se encontrava de boa fé.

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