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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Enriquecimento sem causa e Pagamento Indevido

ARAPIRACA - AL | 2023
01. CAUSA E ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA
Conceito e terminologia

02. SUBSIDIARIEDADE DA OBRIGAÇÃO DE RESTITUIR


Distinção da responsabilidade civil

03. PAGAMENTO INDEVIDO


Conceito e espécies
ENRIQUECIMENTO
SEM CAUSA
CAUSA
A causa é a motivação típica do ato,
critério objetivo, caracterizada pelo fim
econômico ou social reconhecido e
garantido pelo direito, na qual se
procura o fim prático a que todo negócio
se destina. A causa é o motivo
juridicamente relevante, motivo gerador
de consequências jurídicas.
Enriquecimento
sem causa
Art. 884.
“Enriquecimento sem causa,
enriquecimento ilícito ou Aquele que, sem justa
locupletamento ilícito é o causa, se enriquecer à
acréscimo de bens que se
custa de outrem, será
verifica no patrimônio de um
obrigado a restituir o
sujeito, em detrimento de
outrem, sem que para isso indevidamente auferido,
tenha um fundamento feita a atualização dos
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valores monetários.
jurídico”.
-Limongi França:
884

Parágrafo único:
“Se o enriquecimento tiver por
Parágrafo único objeto coisa
884.
Sedeterminada,
o enriquecimento
quem ativer poréobjeto
recebeu coisa
obrigado a
determinada, quem a recebeu é obrigado a
restituí-la,
restituí-la, e, se
se aacoisa
coisanão
não mais
mais subsistir,
subsistir, a
a restituição se fará pelo valor do bem na
época
restituição se faráempelo
quevalor
foi exigido”.
do bem na época
em que foi exigido”.

RESTITUIÇÃO
885

“A restituição é devida, não só quando não


tenha havido causa que justifique o
enriquecimento, mas também se esta
deixou de existir”.
PROBLEMA
TERMINOLÓGICO

Enriquecimento Enriquecimento
sem causa ilícito

A pretensão relacionada à fonte de obrigações ato ilícito é a


indenizatória, já a do enriquecimento sem causa, é a restitutória.
Enriquecimento patrimonial
Enriquecimento real
MODALIDADES

Por ato do Por ato do Por fato natural ou


enriquecido empobrecido por ato de outrem

colocação de outdoor de oficina que efetua mais reparos do bovinos que pastam em
propaganda em terreno alheio que o combinado propriedade alheia.
TEORIA DA DESTINAÇÃO
JURÍDICA DOS BENS
Tudo quanto os bens serão capazes de render ou
produzir no seu aproveitamento pertence ao sujeito que
é seu titular. A pessoa que, intrometendo-se nesses bens
jurídicos, retire da coisa qualquer vantagem patrimonial,
obtém-na a custa alheia, mesmo que o titular não
estivesse disposto a praticar os atos donde a vantagem
procede
ENRIQUECIMENTO
POR INTERVENÇÃO
O enriquecimento sem causa por intervenção representa a situação na qual
alguém enriquece mediante a exploração desautorizada de direitos alheios.

Utilização da imagem alheia sem consentimento para fins publicitários

Descoberta de direito à herança em virtude do trabalho de um genealogista


não contratado (exploração do trabalho alheio)

Obtenção de prêmio por meio da utilização de cavalo alheio em corrida, sem


autorização do proprietário
Subsidiariedade da
obrigação de
restituir
Vedação ao
enriquecimento
sem causa
SUUM CUIQUE TRIBUERE = DAR A CADA UM O QUE É SEU.

“Nosso novo Código Civil valoriza aquele


que trabalha, e não aquele que fica à
espreita esperando um golpe de mestre
para enriquecer-se à custa de outrem.”

Flavio Tartuce
OBRIGAÇÃO DE RESTITUIR

Indevidamente atribuído ou lucrado sem motivo, seja


1 por engano (sem culpa) ou por exploração não
autorizada de bem ou direito alheio (com culpa).

Não é aceita a existência de um instituto específico para


2 tratar da reparação de direitos tutelados, usasse um
conjunto de institutos jurídicos atribuídos por lei,
analisando o mais adequado a situação concreta.

3
Cada caso deve ser analisado de forma individual, buscando
analisar qual meio conferido por lei que melhor se adequa a
situação existente, levando em conta as características do
caso e existência ou não de culpa.
Análise da
Uma ação específica não vincula necessariamente
o interesse agir

situação
concreta Pretensão A Pretensão B

Enriquecimento
Objetivo de enriquecer
como consequência

Enriquecimento sem Pressupostos de outro


causa instituto jurídico

Impedir que a lei seja fraudada ou contornada


na intenção de diminuir o delito cometido.
Artigos

884

Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de


outrem, será obrigado a restituir o indevidamente
auferido, feita a atualização dos valores monetários.

885

A “Art. 885.
restituição A restituição
é devida, é devida,
não só quando não
não tenha só
havido
quando
causa que não tenhao enriquecimento,
justifique havido causamas que justifique
também se
o enriquecimento, mas também se esta deixou
esta deixou de existir.de
” existir. ”

886

Não caberá a restituição por enriquecimento, se a


lei conferir ao lesado outros meios para se ressarcir
do prejuízo sofrido.
Enriquecimento sem causa
X
Responsabilidade civil
Responsabilidade civil
princípio neminem laedere
reparar/indenizar danos
surge da prática de atos danosos
característica do ilícito e do dano
repor o patrimônio do credor
exige conduta/atividade danosa da parte
ideia de culpa
pressupostos da lei de talião

Enriquecimento sem causa


princípio de justiça suum cuique tribuere
remover os acréscimos patrimoniais indevidos, restituir ao dono
surge do aproveitamento indevido de bens ou outros valores de
outrem
vantagem sem contraprestação
transferir ao credor os acréscimos que deveriam ser seu e foram
para outro patrimônio
Não precisa de ato, intenção ou conhecimento sobre o fato do
enriquecimento
PAGAMENTO INDEVIDO E ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA

PAGAMENTO ART. 876 DO CC/02 PAGAMENTO INDEVIDO

“Pagamento é a execução “Art. 876, CC/02. Todo aquele “Pagamento indevido é uma das formas de
enriquecimento sem causa, por decorrer de
voluntária e exata, por parte que recebeu o que não lhe era uma prestação feita por alguém com intuito
do devedor, da prestação devido fica obrigado a de extinguir uma obrigação erroneamente
pressuposta, gerando ao accipiens, por
devida ao credor, no tempo, restituir; obrigação que imposição legal, o dever de restituir, uma
forma e lugar previstos no incumbe àquele que recebe vez estabelecido que a relação obrigacional
não existia, tinha cessado de existir ou que
título constitutivo” (DINIZ, p. dívida condicional antes de o devedor não era o solvens ou o accipiens
270, 2021). cumprida a condição”. não era o credor” (DINIZ, p. 270, 2021).

Compreende os Arts. 876 a 883 do CC/02 .


ESPÉCIES DE PAGAMENTO INDEVIDO

Indébito objetivo ou indebito ex re

1
Se o solvens paga a dívida inexistente, ou existente mas
que já foi extinta. Ou seja, quando há erro quanto à
existência ou extensão da obrigação. Exemplo: pagamento
realizado quando pendente a condição suspensiva (débito
inexistente).

Indébito subjetivo ou indebito ex persona


2 A dívida existe, mas o engano é pertinente a quem paga
(que não é a pessoa obrigada) ou a quem recebe (que não é
o verdadeiro credor). Exemplo: quando alguém, por
engano, paga dívida de empresa da qual é sócio, supondo
que se tratava de dívida pessoal.
Ação de in rem verso ou Ação de enriquecimento
A ação, que objetiva evitar ou desfazer o enriquecimento
AÇÃO DE IN REM sem causa, denomina-se actio in rem verso e é baseada no

VERSO E princípio da equidade pelo qual não se permite o ganho de


um, em detrimento de outro, sem causa justificada. Assim
REQUISITOS sendo, através da ação de "in rem verso" , o prejudicado
pode retornar ao "status quo ante".

Requisitos
a) Enriquecimento patrimonial do accipiens à custa de
outrem;
b) Empobrecimento do solvens;
c) Relação de imediatidade ou de causalidade;
d) Ausência de culpa do empobrecido;
e) Falta de causa jurídica justificativa;
f) Subsidiariedade da ação de in rem verso.

(DINIZ, p. 270, 2021)


REQUISITOS DA AÇÃO IN REM VERSO
Enriquecimento patrimonial Empobrecimento do Relação de imediatidade ou
do accipiens à custa de solvens de causalidade
outrem
Envolve tanto o aspecto Consiste tanto na diminuição Deverá haver um nexo de
pecuniário de acréscimo efetiva do patrimônio, quanto o causalidade entre os dois fatos
patrimonial, quanto qualquer que razoavelmente se deixou de de empobrecimento e
outra vantagem. ganhar. enriquecimento.

Ausência de culpa do Falta de causa jurídica Subsidiariedade da ação de


empobrecido justificativa in rem verso
O indivíduo voluntariamente paga a Não pode haver um lucro ou Não caberá, todavia, a denominada
prestação indevida por erro de fato prejuízo sem justificação em ação in rem verso, se a lei conferir
ou de direito, ou por desconhecer a uma fonte específica de ao lesado outros meios para se
situação real, estando convencido ressarcir do prejuízo sofrido (art.
obrigações, válida e atual.
de que devia, quando na realidade, 886 do CC/02).
nada havia a pagar (Art. 877, CC/02).
PAGAMENTO INDEVIDO, BOA FÉ E REPETIÇÃO DE PAGAMENTO
Art. 876, CC/02 Art. 878, CC/02 Art. 879, CC/02 Art. 881, CC/02

Se alguém receber não só Aos frutos, acessões, Se aquele que indevidamente Se o pagamento indevido
o que não lhe era devido, benfeitorias e recebeu um imóvel o tiver consistiu no desempenho
mas também dívida deteriorações sobrevindas alienado em boa-fé, por título de obrigação de fazer ou
condicional antes de à coisa dada em oneroso, responde somente para eximir-se de
cumprida a condição. pagamento indevido, pela quantia recebida; mas, se obrigação de não fazer, o
aplicam-se as regras agiu de má-fé, além do valor do que
Quanto ao pagamento codificadas sobre o imóvel, responde por perdas e
recebeu a
que tiver por objeto possuidor de boa-fé ou prestação
danos.
extinguir uma obrigação má-fé . deverá
Parágrafo único. Se o imóvel foi
a termo, que se efetuar indenizar
alienado por título gratuito, ou
antes que este seja o que a
atingido o termo, não se, alienado por título oneroso,
cumpriu,
haverá pagamento o terceiro adquirente agiu de na medida
indevido, porque, nessa má-fé, cabe ao que pagou por do lucro
hipótese, há dívida. erro o direito de reivindicação. obtido.
De uma análise geral do Art. 879, CC/02, extraem-se as seguintes regras:

01 02 03 04

Se o bem, indevidamente Se o bem, indevidamente Se o bem fora transferido ao Se o bem fora transferido ao
recebido, fora transferido a recebido, fora transferido a terceiro, a título oneroso, terceiro, a título gratuito,
um terceiro, de boa-fé, e a um terceiro, de má-fé, e a estando este último de má- caberá ao que pagou por
título oneroso, o alienante título oneroso, o alienante fe, caberá ao que pagou erro o direito à
ficará obrigado a entregar ficará obrigado a entregar por erro o direito à reivindicação.
ao legítimo proprietário a ao legítimo proprietário a reivindicação.
quantia recebida. quantia recebida, além de
pagar perdas e danos.

ART. 879, CC/02


Se houver pagamento de imposto
ilegal ou inconstitucional, recolhido
ao erário, em virtude de notificação
fiscal, terá direito à repetição,
porque tal dívida não existe (Lei n.
5172/66, Arts. 165 a 169).

O consumidor cobrado em quantia


indevida terá também direito à
repetição do indébito, por valor igual
ao dobro do que pagou em excesso
acrescido de correção monetária e
juros legais, exceto se houver engano
justificável (Art. 42, parágrafo único,
Lei n. 8.078/90).
FONTE: G1
EXCLUSÃO DA RESTITUIÇÃO
DE INDÉBITO
Existem situações em que o pagamento indevido não confere restituição:

ART. 880, PARTE 1, CC/02 ART. 882, CC/02


Fica isento de restituir pagamento O pagamento se destinou a
indevido aquele que, recebendo- solver dívida prescrita ou
o como parte de dívida
verdadeira, inutilizou o título, obrigação natural.
deixou prescrever a pretensão ou
abriu mão das garantias que
asseguravam seu direito.

ART. 880, PARTE 2, CC/02 ART. 883, CC/02


A lei diz que “aquele que pagou O solvens pagou certa
dispõe de ação regressiva contra importância com o intuito de
o verdadeiro devedor e seu obter fim ilícito ou imoral.
fiador”.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, Quarta Turma. REsp 1497769/RN. Rel. Ministro Luis Felipe Salomão. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?
num_registro=201201420830&dt_publicacao=07/06/2016

DE SOUZA, Samantha Negris . UM NOVO OLHAR SOBRE O ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA COMO FONTE AUTÔNOMA DE OBRIGAÇÕES NO ORDENAMENTO JURÍDICO
BRASILEIRO. ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2017. Disponível em:
https://www.emerj.tjrj.jus.br/paginas/trabalhos_conclusao/1semestre2017/pdf/SamanthaNegrisdeSouza.pdf.
Acesso em: 07 nov. 2023.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro - vol. 2: teoria geral das obrigações. 36 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021.

FILHO, Rodolfo Pamplona; GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil - Volume 2 - Obrigações - 22ª Ed., 2021. Saraiva, 2021.

KROETZ, Maria Candida Do Amaral. Enriquecimento sem causa no direito civil brasileiro contemporâneo e recomposiçăo patrimonial. Universidade Federal do Paraná, Setor de
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LUZ, Ágata. Empresário recebe PIX de R$ 690 mil por engano e devolve dinheiro: 'Não pensei duas vezes'. G1 Santos, Santos/SP, 17 nov. 2023. Disponível em:
<https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2023/11/17/empresario-recebe-pix-de-r-690-mil-por-engano-e-parcela-devolucao-nao-pensei-duas-vezes.ghtml>. Acesso em:
20 nov. 2023.

SANTANA, Vitor. Empresário compra Porsche após receber depósito de R$ 18 milhões por engano, em Goiânia. G1 GO, Goiânia/GO, 25 abr. 2019. Disponível em:
<https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2019/04/25/empresario-compra-porche-apos-receber-deposito-de-r-18-milhoes-por-engano-em-goiania.ghtml>. Acesso em: 20 nov.
2023.

SOUZA, Bernardo Pimentel . Enriquecimento sem Causa. Departamento de direito da universidade federal de viçosa, 2021. Disponível em: https://www.dpd.ufv.br/dir313-
responsabilidade-civil/. Acesso em: 07 nov. 2023.

TARTUCE, Flávio. Direito civil – direito das obrigações e responsabilidade civil. 2 ed., 2006, p. 49

TEPEDINO, G.; DOS, A.; AL, E. Obrigações : estudos na perspectiva civil-constitucional. Rio De Janeiro: Renovar, 2005.

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil - Obrigacoes e Responsabilidade Civil - Volume 2. Atlas, 2019.

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