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Resumo de Obrigações (1º freq)

Enriquecimento sem causa – O enriquecimento sem causa é uma das fontes das obrigações e quando
nos referimos a fonte das obrigações estamos a falar dos factos constitutivos da relação jurídica
obrigacional. Vamos ter um enriquecido, que será aquele que sem causa justificativa enriqueceu à custa
alheia, de outrem, e, portanto, o nosso enriquecido é o devedor da obrigação de indemnizar e do outro
lado temos o empobrecido que será aquele à custa de quem se enriqueceu e é, portanto, o credor da
obrigação de indemnizar, é ele que terá direito à indeminização. Este enriquecimento ocorre quando
alguém sem um motivo, uma causa jurídica vai enriquecer à custa de outrem – gera-se a obrigação de
indemnizar ou de restituir e é uma forma que o direito encontrou para repor a justiça patrimonial.
Aplica-se nas situações das relações triangulares do registo - Na hipótese de A não ter tido culpa quando
celebra a segunda venda, o B não pode acionar o mecanismo da responsabilidade civil contra A por
violação de um direito absoluto, porque se ele tivesse culpa desde logo o que B podia fazer era acionar
este mecanismo no âmbito da responsabilidade civil. No entanto, se não teve culpa a verdade é que o B
era o proprietário e o A enriqueceu à sua custa, portanto, em último recurso entra o mecanismo do
enriquecimento sem causa, sendo que o B vai poder intentar uma ação de enriquecimento sem causa
contra A por este ter vendido um bem que lhe pertencia (B era o proprietário) exigindo a restituição
daquilo que A beneficiou – princípio da subsidiariedade. O enriquecimento sem causa é subsidiário, só
pode ser utilizado se não existisse outro meio para satisfazer a pretensão. Outra situação é quando há
um enriquecimento por parte de António porque construiu uma casa num terreno que não é seu e,
portanto, terá obrigação de pagar ao Berto o valor que enriqueceu à sua custa, porque o terreno era do
Berto – O valor do terreno. Outra situação trata-se de uma oferta para o vizinho, na casa ao lado, mas
entregaram na casa do António. Ele vai estar a poupar porque não preciso de comprar esses produtos
porque já os tem. Esta situação poderá levar a um enriquecimento sem causa, porque enriqueceu à
custa do património que era do vizinho. Não havia causa para ele consumir os produtos que eram para o
vizinho. Outra situação é na gestão de negócios. Se a gestão de negócios não fosse aprovada ou não se
conseguisse provar a regularidade da gestão a única opção que cabia ao gestor para ver ressarcido um
investimento que tenha tido era através do instituto do enriquecimento sem causa.

Os casos mais frequentes do enriquecimento sem causa são aqueles que chamamos de atribuição
patrimonial, em que há uma atribuição patrimonial ou uma deslocação patrimonial. A atribuição
patrimonial é uma vantagem patrimonial obtida por uma das partes, o enriquecido no caso, sendo que
essa vantagem resulta de um ato do empobrecido. A atribuição patrimonial é mais limitada que o
conceito de deslocação patrimonial porque aqui limita-se aos atos do empobrecido. A deslocação
patrimonial é um, conceito mais amplo porque abrange todas as situações mediante as quais uma
pessoa, o enriquecido, obtém à custa de outrem uma certa vantagem patrimonial independentemente
da natureza e da origem do ato de onde procede essa vantagem. Existindo a obrigação de indemnizar
pelo enriquecimento sem causa vamos ver que nem sempre será possível restituir a situação que existia
antes do enriquecimento, uma restituição natural, outras vezes será economicamente moroso ou será
difícil economicamente. Em princípio temos de tentar restituir para levar à situação em que existiria sem
o enriquecimento sem causa – art.º 479.

Temos três pressupostos para verificarmos o enriquecimento sem causa, ou seja, para que haja a
obrigação de indemnizar (ou restituir), sendo que estes pressupostos são cumulativos. 1. A existência de
um enriquecimento. 2. Que o enriquecimento se obtenha à custa do património (direito, etc.) de
outrem. 3. Não existir uma causa justificativa para esse enriquecimento. No primeiro requisito a
vantagem patrimonial, o benefício, em virtude de uma atribuição ou deslocação patrimonial pode
ocorreu de várias formas – um aumento do ativo patrimonial (receber rendas do vizinho), uma
diminuição do passivo patrimonial (alguém pagar a divida) ou então por poupança de despesas, uso de
coisa alheia (comer um cabaz que era para o vizinho). Embora a lei no art.º 473, não pareça excluir
vantagens não patrimoniais, a doutrina de Almeida Costa refere que não é possível incluir nesta
vantagem aquela que tem natureza meramente de ordem moral ou ideal que se obtenha à custa de
outrem. Deixa em aberto a eventualidade de não ser de todo impossível se incluir no enriquecimento
sem causa as vantagens não patrimoniais, mas que podem ser avaliadas pecuniariamente. É comum que
vantagens de ordem não patrimonial, pode ser até uma vantagem que se retira de outra, não podem
estar incluídas se não tiverem desde logo possibilidade de não serem avaliadas pecuniariamente porque
não têm um valor económico para ser indemnizado. Então, no âmbito do enriquecimento sem causa só
podemos ter vantagens de ordem patrimonial sejam elas adquiridas por qualquer forma, sejam elas
manifestadas por aumento do capital, da diminuição do passivo, por poupanças, pelo uso de bens e
direitos de outra pessoa, não pudemos ter aqui vantagens de ordem não patrimonial que sejam ou não
suscetíveis de avaliação pecuniária, em dinheiro. O segundo requisito é ter enriquecido à custa do
património do empobrecido. Há duas situações: Á custa do património do empobrecido – portanto, este
enriquecimento é obtido à custa do empobrecimento de outrem, que vai ver o seu património
diminuído, ou seja, basicamente, o valor que entra no património de um saiu do património do outro. Á
custa de um direito ou património do empobrecido, mas esse enriquecimento não levou propriamente
ao empobrecimento do património de outrem. Esta segunda hipótese leva-nos a falar na chamada
teoria do conteúdo de afetação ou destinação – os direitos absolutamente protegidos (reais, de
personalidade) só podem ser retiradas vantagens económicas a favor dos seus titulares e, portanto,
sempre que haja um aproveitamento por parte de alguém que não é o titular da propriedade, sem causa
justificativa, haverá a obrigação de indemnizar nos termos do enriquecimento sem causa. Isto é o
enriquecimento por intervenção – houve um beneficiar de um bem, de um direito que pertencia a
outrem e apesar desse benefício não afetar propriamente o património em si do empobrecido, a
verdade é que só o titular do respetivo direito é que pode tirar os benefícios da vantagem desse direito.
Normalmente, as atribuições e deslocações patrimoniais são atribuições e deslocações patrimoniais
diretas, isto é, o mesmo ato que faz enriquecer um vai fazer empobrecer o outro. No entanto pode
acontecer de forma indireta – em que há uma intermediação no enriquecimento sem causa. Nestes
casos a deslocação patrimonial faz-se através de um património intermedio. O terceiro e o último
requisito são a falta de causa justificativa, só há enriquecimento sem causa se não existir uma causa
jurídica que justifique a atribuição ou deslocação patrimonial. Entende-se que não há causa justificativa
quando o direito não aprova ou não consente a deslocação patrimonial porque não existe uma relação
ou um facto que de acordo com os princípios do sistema jurídico a justifiquem. Portanto, não há causa
sempre que há um aproveitamento por parte de pessoa diversa daquela a quem a lei atribui um
benefício. E, portanto, há situações que resultam diretamente da lei, em que há um enriquecimento,
mas o enriquecimento não é sem causa, mas a própria lei define uma causa para essa deslocação
patrimonial.

Enriquecimento real vs. enriquecimento patrimonial – O real corresponde ao valor objetivo e autónomo
da vantagem adquirida, em concreto, equivale ao dano real. O patrimonial corresponde à diferença para
mais, produzida na esfera económica do enriquecido e que resulta da comparação entre a situação em
que o património do enriquecido se encontra, a chamada situação real atual e a situação em que o
património se encontraria se não tivesse ocorrido a vantagem patrimonial, que é chamada a situação
hipotética atual. Porém, a generalidade da doutrina defende que a obrigação de restituir reconduz-se ao
conceito de enriquecimento patrimonial e não ao conceito de enriquecimento real.
Quem é que tem que provar o enriquecimento? Quem tem de provar o enriquecimento, fazer o ónus da
prova é o empobrecido, ou seja, é quem invoca o enriquecimento sem causa. Logo aqui é o
empobrecido que tem o interesse em ver ressarcido – art.º 342.

O art.º 474 vem-nos dizer quais são algumas situações em que não há lugar ao enriquecimento. Às vezes
não é assim tão delimitado no sentido de só entrar em caracter subsidiário, porque há situações em que
o enriquecimento pode vir complementar algum destes institutos

Art.º 473, nº 2 – formas especiais de enriquecimento sem causa, a repetição do indevido, uma causa
justificativa que deixou de existir e um efeito que não se verificou. A primeira situação da repetição do
indevido ainda se divide em três – o cumprimento de uma obrigação inexistente, o cumprimento de
uma obrigação alheia na convicção que é própria e o cumprimento de uma obrigação alheia na
convicção errónea de que se está obrigado a cumprir (art.º 476, art.º 477 e art.º 478). Cumprimento de
uma obrigação inexistente – O suposto devedor pensa que está a cumprir uma obrigação, mas na
verdade não há nada para cumprir. Temos aqui um pagamento objetivamente inexistente, não era
devido objetivamente. Cumprimento de uma obrigação alheia na convicção de que é uma obrigação
própria – Aqui nos temos um pagamento que é subjetivamente indevido. Há efetivamente uma
obrigação só que essa obrigação não é da pessoa que efetuou o pagamento. Esta obrigação não existia
para esta pessoa. Cumprimento de uma obrigação alheia na convicção errónea de que se está obrigado
a cumprir – Há uma obrigação que não é da pessoa que efetuou o pagamento, essa pessoa sabe que não
é o devedor, mas está convencido por algum motivo que tem de efetuar aquele pagamento. A repetição
do indevido é, basicamente, o direito de reaver a quantia que pagou em função de uma obrigação que
não existe. De acordo com este artigo para haver a repetição do indevido em primeiro lugar é necessário
que se verifique um ato de cumprimento, ou seja, se efetue uma prestação com a finalidade de cumprir
uma obrigação, em segundo lugar esta obrigação não pode existir na data em que se efetua o
pagamento da prestação e por fim não pode existir um dever moral ou social que dê lugar a uma
obrigação natural. Se estiverem preenchidos estes requisitos haverá lugar à restituição do indevido –
são cumulativos. Na situação do art.º 477 vai dar primazia aos interesses do credor, ou seja, há a
obrigação de restituir quando o erro é desculpável exceto se o credor conhecendo o erro do autor da
prestação adotou um determinado comportamento não haverá lugar à restituição. Portanto, não haverá
lugar à restituição se o autor da prestação se tiver privado do título ou das garantias de crédito, tiver
deixado prescrever ou caducar o seu direito ou se não tiver exercido contra o devedor ou contra o fiador
os direitos respetivos para exigir o cumprimento da divida. Nestes casos o credor pode negar a repetição
do indevido e assim não há lugar à restituição. Por fim, o art.º 478 dá-nos, por exemplo, o caso do
fiador. A regra neste caso, é que não há direito de repetição contra o credor exceto se o credor
conhecer o erro. Uma causa justificativa que deixou de existir – Nesta hipótese temos um
enriquecimento por uma causa que deixou de existir, ou seja, pode acontecer que no momento da
realização da prestação existia uma causa jurídica que fundamentava aquela prestação, mas que
posteriormente essa causa vem a desaparecer. Nestas situações pode surgir a pretensão de restituição
do enriquecimento. Um efeito que não se verificou – É necessário que seja realizada uma prestação para
obter, em harmonia com o conteúdo do respetivo negócio jurídico, um especial resultado futuro, ou
seja, não se trata aqui do efeito imediato. Nestas situações em que o resultado não se verificou o art.º
475 excluiu dois casos a este tipo de ações de enriquecimento sem causa, nomeadamente, vem-nos
dizer que não haverá lugar à restituição se o autor quando realizou a prestação já sabia que o efeito
pretendido era impossível. E também não haverá lugar à restituição se o autor impediu de má-fé a
verificação do resultado.

A obrigação de restituir é a obrigação que deriva do enriquecimento e vai corresponder ao que o


empobrecido terá de receber do enriquecido – corresponderá àquilo que o empobrecido terá de
receber do enriquecido. É nesse âmbito da questão de restituir que falamos da teoria do duplo limite,
ou seja, para determinar o valor em concreto a restituir vamos atender ao enriquecimento e ao
empobrecimento. O enriquecido deverá entregar em princípio o enriquecimento patrimonial ou efetivo
(não é no seu conceito real), mas este enriquecimento, que se traduz num determinado valor, não pode
ser superior ao quantitativo do empobrecimento do lesado. Então, teremos de ponderar qual é o valor
do enriquecimento e do empobrecimento e optar pelo valor mais baixo de acordo com esta teoria do
duplo limite. Se o valor do empobrecimento for inferior ao valor do enriquecimento é esse valor que
efetivamente que vamos considerar. A restituição é feita à medida do enriquecimento patrimonial, ou
seja, é mesmo só aquilo que ele enriqueceu e este valor é apurado à data dos factos e, portanto, de
acordo com o art.º 479, nº 2, este momento conta-se a partir do momento em que o enriquecido sabe
do enriquecimento. Para termos o nosso valor final, segundo a teoria do duplo limite, temos que ver
efetivamente o empobrecimento também, ou seja, a restituição só pode abranger aquilo que se obteve
à custa do empobrecimento do lesado.

O art.º 481 refere-se à obrigação de restituir no caso de uma alienação gratuita. Este artigo acaba por
distinguir duas situações: Se a coisa for alienada antes da verificação de algum dos referidos factos que
determinam o agravamento da obrigação de restituir ficam o adquirente obrigado em lugar do
alienante, mas só na medida do que enriqueceu. Se a alienação ocorreu após a alienação de algum dos
factos referidos – citação judicial, do enriquecido tomar conhecimento da causa – o alienante já está de
má-fé e nessa situação responde de acordo com o art.º 480 nos mesmo termos em que responderia o
adquirente se estivesse de má-fé. O prazo da prescrição da obrigação da restituição, no âmbito do art.º
482, é de 3 anos, ou seja, o empobrecido tem o prazo de 3 anos para exercer o direito à restituição e
esse prazo contasse a partir da data em que o credor, o empobrecido, teve conhecimento do direito que
lhe compete e da pessoa que é responsável.

Responsabilidade civil - Esta consiste na obrigação de reparar danos sofridos por alguém. O princípio
que está subjacente há ideia de quem arca os danos é quem os sofre, tem de arcar com os danos pelas
consequências naturais dos seus atos, é o princípio Casum sentit domen – é a regra geral. A regra é que
os danos ficam a cargo do lesado, quem sofre é que arca com o dano na regra geral da vida, a não ser
que esse dano tenha sido provocado por outra pessoa e estejam preenchidos os requisitos da
responsabilidade civil. Se estiverem preenchidos os requisitos da responsabilidade civil pode-se
transferir o dano da pessoa que sofreu para a pessoa que o provocou e é isto a responsabilidade civil. É
esta possibilidade de transferência do dano do lesado para a pessoa que provocou essa mesmo dano.
Portanto, para evitar situações injustas surge o instituto da responsabilidade civil, que permite a
obrigação de indemnizar porque foi violado um direito subjetivo que vai acarretar para o lesante o dever
de indemnizar. A responsabilidade civil fundamenta-se pela necessidade de deslocação do dano
ocorrido de quem o sofreu para aquele que o causou. O lesante é aquele que provocou o dano ou
mesmo não tendo sido o autor material do dano é chamado a responder por esse dano. Em regra, é
quem pratica o ato em si que leva ao dano, mas há situações em que ele não é o autor material do facto
lesivo, não foi ele que provocou o facto em si, mas é chamado a responder. O lesado será aquele que
sofre o dano e, por força da qual, através do instituto da responsabilidade civil, transfere o dano para
ser suportado pelo lesante. Para que haja responsabilidade civil tem de haver culpa por parte do
lesante, a não ser na responsabilidade objetiva, que é um caso excecional. Quando falamos em
responsabilidade civil em sentido amplo podemos falar em dois tipos de responsabilidade:
Responsabilidade civil contratual (ou obrigacional) – resulta da falta de cumprimento de uma obrigação
contratual, um cumprimento defeituoso por exemplo. Esta falta de cumprimento pode também resultar
da lei e não só dos contratos. Estamos perante uma situação em que existe um vínculo contratual prévio
entre as partes (lesante e lesado). Estamos perante violação de direitos relativos. Responsabilidade civil
extracontratual (extraobrigacional/aquiliana) – Resulta da violação de um direito absoluto ou da prática
de certos atos que embora sejam lícitos causam prejuízos ao lesado, provoca danos, e vai gerar-se a
obrigação de indemnizar.
Em ambas tem de se verificar os pressupostos para que exista a responsabilidade civil sendo comum
entre elas. Os pressupostos da responsabilidade civil são: 1. Facto. 2. Ilicitude. 3. Culpa. 4. Dano. 5. Nexo
de causalidade. Verificados estes pressupostos faz nascer a obrigação de indemnizar, sendo as formas
de indeminização iguais para os dois tipos de responsabilidade. Há determinados factos que podem
simultaneamente originar as duas responsabilidades.

É a própria lei que vai configurar que em determinadas circunstâncias há obrigação de indemnizar.
Portanto, a responsabilidade civil é uma das fontes das obrigações, que neste caso, se baseia no
princípio do ressarcimento dos danos.

Evolução histórica da responsabilidade civil – No início do século passado, início da década de 90, surge
um diploma que vem revelar a responsabilidade do produtor, portanto, esta questão de
responsabilidade do produtor foi estabelecida em diploma autónomo. Mais recentemente nós também
já colocamos alguns problemas relativos à responsabilidade civil face a novos desafios que o direito tem
de enfrentar. A responsabilidade civil vem agora também a ser discutida à luz dos novos desafios para o
direito, e, portanto, muitas das normas que nós temos consagradas pensando na visão tradicional da
dicotomia entre a responsabilidade contratual e extracontratual já não são suficientes para fazer face
aos novos problemas do direito. A ideia é a própria adaptação do instituto da responsabilidade civil aos
novos desafios que o direito vai enfrentando. A responsabilidade civil ocorre quando uma pessoa deve
reparar um dano que é sofrido por outrem, há, portanto, que distinguir este instituto desde logo da
responsabilidade moral. Responsabilidade moral- A responsabilidade moral pertence ao domínio da
consciência e o resultado externo que esta responsabilidade pode ter não representa prossuposto
necessário para configurar um caso de responsabilidade civil. Isto é, a culpa moral e a culpa civil não têm
o mesmo significado, o mesmo alcance. A culpa civil é apreciada à luz do critério do homem médio, do
bom pai de família, que está no art.º 487. Pelo contrário a culpa moral está sobretudo associada a uma
perspetiva do ponto de vista ético, um juízo de valor que pode nem revestir a mesma gravidade que a
culpa à luz do direito civil. A responsabilidade moral é uma responsabilidade não jurídica. O que
verdadeiramente importa para o direito civil é a restituição ou reparação dos interesses do lesado, dai
que se fale em sanções jurídicas privadas ou disponíveis. Portanto, é ressarcido o lesado pelos danos
que sofreu, mas não por uma verdadeira sanção. O que já não acontece na responsabilidade penal,
aparece como defesa contra os autores de factos que atingem a ordem social. No ilícito penal ofende-se
um dever jurídico imediatamente estabelecido no interesse da coletividade e, portanto, os objetivos
essenciais que visam as sanções penais é a prevenção, a ideia é de que as sanções criminais visam
defender a sociedade propondo fins de prevenção geral e especial através da intimidação e da suposta
“reeducação de delinquentes” e das penas e das medidas de segurança. Estas sanções penais têm um
cariz publico e são indisponíveis. O ilícito penal é tratado à luz do direito penal e o ilícito civil à luz das
regras da responsabilidade civil.
Responsabilidade por factos ilícitos – É também designada de responsabilidade pela culpa ou
responsabilidade subjetiva. Supõe a verificação cumulativa dos 5 requisitos – o facto, a ilicitude, a culpa,
o dano e o nexo de causalidade. Uma modalidade é a responsabilidade pelo risco ou objetiva e outra a
responsabilidade do produtor, no entanto, na responsabilidade pelo risco não se exige a culpa sendo o
lesante obrigado a responder independentemente da culpa – todos os requisitos vão ser exigidos menos
este.

Responsabilidade por factos lícitos – Neste caso, vamos ver que embora o facto seja lícito, ou seja, não
se verifica o prossuposto da ilicitude, esse facto provocou um sacrifício na esfera jurídica do lesado que
terá de ser ressarcido – é o que acontece nas situações de legitima defesa, do estado de necessidade,
em que há a prática de um facto lícito que é tutelado pelo direito e se provocou danos há-de ter de
indemnizar. Relativamente à responsabilidade contratual surge no âmbito negocial, na sequência da
violação de direitos relativos e a regra é que direitos relativos só produzem efeitos entre as partes, só
vinculam as partes, também obrigará ao preenchimento dos 5 requisitos. A culpa no caso da
responsabilidade contratual será aferida nos termos do art.º 799, em que o ónus da prova de culpa cabe
ao devedor, ele é que vai ter de provar que o cumprimento não se deve por culpa sua, há uma

Responsabilidade Responsabilidade
contratual extracontratual

Presunção de culpa - art.º 799, presum-se que o Não há presunção de culpa - art.º 487, salvo algumas
devedor tem culpa e é ele que tem de afastar esta situaçoes excecionais em que se pode presumir a culpa
presunção. - art.º 491, art.º 492, nº 1, art.º 493 e o art.º 500, nº 3.
Não temos a regra da responsabilidade solidaria, Regime da responsabilidade solidária - art.º 497 e art.º
exceto se a propria obrigação violada tenha 507
natureza solidária. O praco de prescrição para a obrigação de indeminizar
O prazo de prescrição para a obrigação de é de 3 anos - art.º 498.
indeminizar é de 20 anos - art.º 309. Podemos ter a hipótese de graduação equitativa da
Não há a hipotese de graduação equitativa da indeminização quando haja mera culpa do lesante -
indeminização. art.º 494.
Vamos apelar às regras gerais quanto à capacidade Temos regras expecificas quanto à capacidade,
de exercicio. nomeadamente por causa do requisito da culpa - art.º
Art.º 41 e art.º 42 do CC eram as nossas normas de 488.
conflito criadas aquando do nosso código civil de Art.º 45 do CC - norma de conflitos que nos diz como é
66. Entretanto surgem alguns diplomas que vêm que nós chegamos a saber qual é a lei que vai regular
regular esta materia de lei aplicavel às obrigações ou então o diploma - Roma II, diploma da UE que trata
contratuais, nomeadamente num primeiro a determinação da lei aplicavel em materia de
momento a convenção de Roma que veio substituir obrigaçoes extracontratuais.
Roma I. Quer o art.º 41 e 42, quer a convenção de
Roma, quer Roma I vao-nos ajudar a saber qual a
lei aplicavel no caso de um conflito de obrigaçoes
contratuais.

presunção de culpa.

Conflitos de leis – estamos a falar de situações em que o facto que origina seja a responsabilidade
contratual ou a extracontratual vai ter ligação com mais de um ordenamento jurídico. Quando falamos
em conflitos de leis estamos a falar de situações em que a responsabilidade civil tem ligação com mais
de um ordenamento jurídico e, portanto, é necessário determinar qual é a lei competente para regular
esse conflito.

Concurso da responsabilidade entre a responsabilidade contratual e extracontratual - Pode acontecer


que um dano ocorra em consequência de um facto que simultaneamente origina responsabilidade
contratual e extracontratual. O problema do concurso da responsabilidade está longe de ser consensual
na doutrina e na jurisprudência e basicamente temos dois caminhos que se pode seguir para resolver
este problema do concurso de responsabilidade. As duas soluções principais para este concurso são: 1.
Sistema de cúmulo – Vamos juntar as duas responsabilidades. Dentro deste sistema temos três
perspetivas: O lesado pode numa única ação recorrer às normas da responsabilidade contratual e
extracontratual amparando-se nas que entenda ser mais favorável. Opção do lesado escolher entre os
procedimentos fundados apenas numa ou noutra responsabilidade. O lesado em ações autónomas pode
simultaneamente exigir a obrigação de indemnizar pela responsabilidade contratual e pela
responsabilidade extracontratual – há duas ações. O sistema de cúmulo em uma destas perspetivas
diferentes vai permitir sempre ao lesado, desde logo, uma autonomia sobre o caminho a seguir. 2.
Sistema de não cúmulo – Consiste na aplicação do regime da responsabilidade contratual em virtude da
aplicação do princípio da consunção, ou seja, a responsabilidade contratual consome a responsabilidade
extracontratual. No entanto, a lei não consagrou uma solução em que deva prevalecer a
responsabilidade contratual. Atualmente, maioritariamente, a doutrina tende a defender o sistema de
não cúmulo, destacando a posição de Almeida Costa porque o regime da responsabilidade contratual de
um modo geral é mais protetor para o lesado que o regime da responsabilidade extracontratual, como a
questão da prescrição e da presunção de culpa. Não faz sentido esta versão da dupla indeminização.
Também não se justifica um sistema híbrido porque se dá a possibilidade de escolher aquilo que é mais
favorável sem qualquer tipo de razão – é uma das posições do sistema de cúmulo que é mais seguida
pela jurisprudência, de optar por aquilo que é mais favorável – mas não se justifica então que o lesado
beneficie das normas que ele considere mais favoráveis da responsabilidade contratual ou
extracontratual, pelo que, opta-se pelo sistema de não cúmulo.

Responsabilidade por factos ilícitos, subjetiva e pela culpa – Para que haja responsabilidade subjetiva
extracontratual é necessário que se verifique um facto voluntário. O facto voluntario é o facto
controlado pela vontade humana que aparece como conduta ou comportamento que pode ser
controlado pelo agente pois só em relação aos factos voluntários se pode fazer um juízo de censura. No
caso da responsabilidade por factos ilícitos, a responsabilidade subjetiva o facto tem de ser praticado
pela pessoa que está obrigada a indemnizar. Enquanto na responsabilidade subjetiva este facto é
praticado pela pessoa que está obrigada a indemnizar na responsabilidade pelo risco, objetiva vamos
ver que ele pode ser praticado ou não pelo responsável da obrigação de indemnizar – tem um leque
mais amplo de pessoas que pode praticar o facto. Este facto voluntario vai consistir então em concreto
numa ação – facto positivo, conduta praticada pelo lesante que não devia ter sido praticada devido ao
dever de não ingerência na esfera jurídica do titular de um direito absoluto ou numa omissão que é
controlada pela vontade humana – facto negativo, quando o agente deveria ter agido, atuado e não o
fez. Esta omissão só será relevante se existir um dever jurídico especial de praticar o ato omitido que
não foi cumprido e que se tivesse sido impedia a verificação do dano. O facto só por si não é suficiente
para gerar a obrigação de indemnizar, é necessário que essa conduta tenha sido ilícita. A ilicitude vai-se
traduzir num comportamento antijurídico. A ilicitude consiste na infração de um dever jurídico,
portanto, num juízo de censura ou reprovação sobre o facto de um ângulo objetivo devido ao facto
voluntario consistir na tal infração ou violação de um dever jurídico. Há aqui um juízo que a própria
ordem jurídica de forma abstrata, objetiva, faz sobre o facto que foi praticado. É diferente da
ilegalidade, nas duas situações verifica-se a violação de uma norma, no entanto, enquanto na ilicitude
essa norma impõe um dever jurídico cujo desrespeito implica uma consequente sanção que poderá
originar a responsabilidade civil, na ilegalidade a norma ofendida apenas envolve um ónus jurídico,
consequentemente se essa norma for violada acarreta apenas uma simples desvantagem. Há certos
países que consagram o princípio da tipicidade dos factos ilícitos por questões de segurança e de certeza
jurídica determinam em concreto quais são os factos que podem dar origem a uma ação de
responsabilidade civil. Outros países preferem o princípio da atipicidade recorrendo a uma clausula geral
da responsabilidade civil, ou seja, não indicam em concreto quais são os factos formulando antes uma
clausula ampla onde eventualmente no caso em concreto se podem subsumir determinados factos
permitindo uma expansão da hipótese legal da responsabilidade civil. Portugal adota este princípio da
atipicidade. Para que se possa fazer uso desta clausula na vertente da violação de disposições legais
como pressuposto da responsabilidade civil é necessário a verificação dos seguintes requisitos: 1. É
necessário que a lesão dos interesses dos particulares corresponda à ofensa de uma norma legal
podendo entender-se este conceito como norma em sentido amplo. 2. É necessário que esteja em causa
interesse alheio legitimo ou juridicamente protegido por essa norma que foi violada. 3. É necessário que
a lesão se efetive no próprio bem jurídico ou no interesse privado que a lei tutela. O dano tem de ser
verificado no ciclo de interesses privados que a lei visa tutelar. Se estes requisitos estivessem
preenchidos podemos fazer uso desta vertente da clausula geral de responsabilidade civil e colocar a
ilicitude de uma determinada conduta humana.

As situações de abuso de direito consagradas no art.º 334 por si só não dão origem a responsabilidade
civil, há, no entanto, na doutrina divergência sobre se a situação de abuso de direito poderá configurar
um facto ilícito. O professor Nuno Oliveira Pinto entende que sim, que podemos acrescentar uma outra
clausula que seria a do princípio da proibição do abuso de direito e faz uma equiparação, na verdade, do
que acontece no código civil alemão que permite expressamente esta clausula. Diz-nos que sendo o
nosso regime um regime também da tipicidade nada impede de uma interpretação extensiva das
situações que podem ser consideradas como causas de ilicitude que originam a responsabilidade civil.
Na opinião de Almeida Costa, ele não rejeita de todo esta posição, apesar de não estar expressamente
regulada na lei. Não rejeita a possibilidade de considerar o abuso de direito se nas circunstâncias do
caso concreto se verificar que determinado comportamento abusivamente praticado pelo titular do
direito provocou danos a outrem e que, portanto, podem ser ressarcidos pela responsabilidade civil.

Quando se fala aqui em lei há quem entenda, nomeadamente, Almeida Costa, que não se deve restringir
esta proteção a lei civil. Ao contrário, Antunes Varela, considera que só há omissão que é considerada
ilícita se efetivamente existir um dever jurídico de agir, de atuar dentro do âmbito do direito civil e que
não foi cumprido que resulte de lei ou negócio jurídico. O que Almeida Costa nos diz em situações como
esta em que embora possa não resultar diretamente da lei civil um dever de auxílio, de ajudar, como
resulta de uma ideia análoga do direito penal podemos fazer uma comparação e impor aquela pessoa
que tinha de ter atuado, tinha o dever de ter agido. Antunes Varela não, é rigoroso e diz-nos que deve
ser só nos casos em que existia uma obrigação que decorria da lei ou do negócio jurídico

Há determinadas situações em que nós temos um facto que é ilícito e que, portanto, poderia
consubstanciar causa de originar responsabilidade civil, no entanto, existem razoes, justificações que
excluem a ilicitude ou causas justificativas do facto. Quais são as causas de exclusão da ilicitude ou
causas justificativas do facto? A ação direta – Art.º 336; A legitima defesa – Art.º 337; O estado de
necessidade – Art.º 339; O consentimento do lesado – Art.º 340; O exercício de um direito e o
cumprimento de um dever jurídico. Se se verificar alguma destas situações não haverá obrigação de
indemnizar ainda que haja dano porque a ilicitude é afastada. Agora é nestas situações em que nós
temos um comportamento que até pode estar em inconformidade com o direito, mas vai ser afastada a
ilicitude porque há uma causa que justifica aquele comportamento. Mas ao afastar-se a ilicitude não há
a obrigação de indemnizar e, portanto, não há a responsabilidade civil. No caso da situação direta, a
ação direta que está no art.º 336 consiste no recurso à força com o objetivo de assegurar um direito
próprio. Esta ação direta aparece como excecional porque o princípio fundamental de processo civil é a
proibição da autodefesa dai que a ação direta apareça como uma situação de emergência e para que a
ação direta seja considerada licita necessita da verificação também de alguns requisitos que resultam do
nº 1 e do nº 3 do seu artigo. Esses requisitos são: 1. Fundamento real – É necessário que se esteja a
realizar ou assegurar um direito próprio. 2. Necessidade – que haja a possibilidade de recorrer em
tempo útil aos meios coercitivos normais para evitar a inutilização pratica desse direito. 3. Adequação –
O agente não pode exceder o estritamente necessário para impedir o prejuízo. 4. O valor relativo aos
interesses em jogo, em causa – ou seja, que não se verifiquem interesses superiores aos que se visam
defender. Quando se verificam estes quatro requisitos o facto é considerado lícito e, portanto, não se
impõe a obrigação de indemnizar. Se o titular do direito tinha a convicção que se verificavam os
requisitos da ação direta, mas na verdade não estavam preenchidos, neste caso, esta ação será
considerada ilícita. Contudo, se o erro for desculpável não é obrigado a indemnizar os prejuízos
causados nos termos do art.º 338.
A legitima defesa está prevista no art.º 337 e é entendida como sendo aquela realizada pelo próprio
titular do direito ou também pode ser realizada por outro sujeito que não seja titular contra uma
agressão atual e ilícita a esse direito quando não for possível em tempo útil o recurso à autoridade
pública – atitude de reação. Os requisitos são: 1. Temos de ter uma agressão, que consiste na ofensa da
pessoa ou do seu património. 2. tem de ser uma agressão atual. 3. Tem de ser uma agressão ilícita. 4. A
necessidade de reação que se traduz na impossibilidade de recurso aos meios normais, judiciais, para se
afastar a agressão. 5. A adequação da agressão – O prejuízo causado pelo ato não pode ser
manifestamente superior ao que pode resultar da agressão. Portanto, na legitima defesa ao contrário da
ação direta pode eventualmente ocorrer uma desproporção entre os prejuízos provocados desde que
não seja manifesta, não seja excessiva.
O estado de necessidade está consagrado no art.º 339 e tem um particularidade relacionada com uma
das modalidades da responsabilidade civil. Em primeiro lugar é licita a ação daquele que destruir ou
danificar coisa alheia com o fim de remover um perigo atual e um dano manifestamente superior. Nesta
situação de estado de necessidade à luz do art.º 339 para que este estado possa ser considerado uma
causa justificativa de um facto danoso tem de estar preenchidos certos requisitos: 1. É necessário, desde
logo, a existência de um perigo atual. 2. Esse perigo tem de ameaçar um direito ou bem jurídico relativo
à pessoa ou ao património. 3. A conduta do agente, do lesante, deve constituir meio necessário para
garantir, para proteger o direito ou bem jurídico em causa. 4. Os interesses defendidos devem ser
manifestamente superiores aos sacrifícios provocados. Se estes requisitos tiverem preenchidos aquele
facto danoso, embora em circunstâncias normais configura-se um comportamento ilícito, gerador de
responsabilidade civil, como se considera uma atuação em estado de necessidade já está justificada por
uma causa que afasta a ilicitude e, portanto, falta um dos requisitos da responsabilidade civil o que não
leva à obrigação de indemnizar.
O consentimento do lesado está consagrado no art.º 340 do código civil e vai tornar o ato lesivo do
direito de outrem lícito desde que esse consentimento não se consubstancie na ilicitude do ato. No
entanto, o consentimento do lesado não pode excluir a ilicitude do ato quando este se mostre contrário
a uma proibição legal ou aos bons costumes. Se ele prestou o seu consentimento legitimou a prática e,
portanto, afastou a ilicitude. O consentimento para ser válido: 1. Deve anteceder a prática do ato. 2.
Deve ser informado, esclarecido. 3. Deve ser prestado por quem tenha capacidade. 4. 5. Tem de ser
livre. 6. Tem de ser atual. No nº 3 deste artigo há o estabelecimento de uma presunção de
consentimento, de acordo com a vontade presumível. Esta situação é pensada sobretudo para aqueles
casos em que face à urgência de intervenção é preciso essa presunção, em que em circunstâncias
normais se ele pudesse consentir para a prática do ato tê-lo-ia feito porque era um ato para o salvar.

Culpa à luz da responsabilidade civil por factos ilícitos – Agir com culpa significa atuar em termos de a
conduta do lesante merecer a reprovação ou a censura do direito de um ângulo subjetivo em benefício
do próprio lesante. A culpa é a conduta do lesante será reprovável quando pela sua capacidade e face às
circunstâncias concretas da situação se possa concluir que o lesante podia e devia ter agido de outro
modo. Para apurar a culpa temos de analisar dois momentos distintos: 1. Imputabilidade – temos de
analisar se vamos puder ou não imputar o facto ilícito ao agente. Ou seja, verificar se estão preenchidos
os requisitos necessários para que uma pessoa seja suscetível de ser alvo de juízo de censura ou de
reprovação. Considera-se imputável a pessoa com capacidade natural para prever os efeitos e medir o
valor dos atos que pratica ou omite, podendo ser um ato positivo ou negativo, e alem disso para se
determinar, para se completar em harmonia com o juízo que faça acerca dele. Esta capacidade
pressupõe então, por um lado, que se tenha um certo discernimento, ou seja, capacidade intelectual e
ou emocional e também na posse de uma certa liberdade e determinação – chamada capacidade
volitiva (de vontade). A capacidade natural é a capacidade de atender ou de querer os efeitos do ato
que pratica e, portanto, esta capacidade natural implica a tal capacidade intelectual por um lado e a
capacidade volitiva por outro lado. Nestas circunstâncias entende-se que se uma pessoa não tem
capacidade para entender ou querer os efeitos do ato que pratica não pode ser feito um juízo de
censura sobre o seu comportamento. Atualmente a lei presume apenas o caso dos menores de 7 anos
que à luz da lei civil são considerados inimputáveis. Esta é também uma presunção ilidível, isto é, é
afastada mediante prova em contrário e o facto de ele só presumir que o menor de 7 anos não tem
capacidade natural não significa, por exemplo, que não se possa considerar que um menor de 9 anos
também não tenha capacidade natural. Há situações em que embora não haja um caso em que se possa
imputar a responsabilidade ao lesante ou porque a lei presumiu que ele era imputável, como por
exemplo, uma criança de 5 anos que está em casa e atira pela janela um cinzeiro que vai bater num
carro que está parado. O que é que tem de estar verificado para que possa haver a responsabilidade civil
de um inimputável? Desde logo têm de estar preenchidos os requisitos da responsabilidade em si, ou
seja, tem de haver um facto voluntario que foi ilícito e provocou danos. Tem de haver também um juízo
de censura sobre o comportamento do agente. O que acresce a estes cinco requisitos é a reparação do
dano não pode ser obtida ao vigilante do inimputável ou do incapaz natural, o que abrange as situações
em que nem sequer existe vigilante, quer as situações em que a pessoa obrigada à vigilância afasta a sua
responsabilidade nos termos do art.º 491. A lei entende que pode ainda abarcar as situações em que a
pessoa obrigada à vigilância não tinha património para garantir o pagamento da obrigação de
indemnizar. Além disso é necessário aqui um juízo de equidade, ou seja, justifica-se a responsabilidade
total ou parcial do inimputável em face das circunstâncias do caso concreto porque situações em que o
inimputável até tem um património alargada que podia facilmente cumprir a obrigação de indemnizar.
2. Apurar a culpa em concreto – Vamos ter que ter em consideração duas modalidades de culpa, sendo
que o art.º 483 fala do dolo e na mera culpa ou na negligencia. Para que a responsabilidade civil, alguém
seja obrigada a indemnizar não basta que o seu comportamento seja um comportamento objetivo
considerado incorreto, mas sim necessário que tenha atuado com dolo ou mera culpa. Para estar
preenchido o requisito da culpa ela terá de ocorrer por motivos de dolo ou na modalidade de
negligência. O art.º 494 é o critério que é facultado ao juiz para no cálculo em concreto da
indeminização, face a uma atuação que foi meramente negligente, um mero descuido, fixar o valor da
indeminização. Outro artigo é o art.º 570, obrigação de restituir, que é o caso em que o lesado
contribuiu para a produção ou agravamento do dano. Se ele contribuiu para a produção do ano pode-se
ter em consideração esse facto ao determinar o montante da indeminização. Aqui a produção do dano
não ocorreu exclusivamente em virtude do comportamento do lesado, o próprio lesado contribuiu para
a provocação daquele dano. Dolo vs. Mera culpa para efeitos de responsabilidade civil – O dolo é a
modalidade mais grave da culpa, pois neste caso a culpa do lesante é mais fortemente censurável
porque existe uma identificação mais estreita entre a vontade de lesante e o facto praticado. Há a
intenção de praticar um facto danoso. Quando falamos em dolo podemos ter três tipos de dolo: 1. Dolo
direto – Ocorre quando o lesante quis diretamente realizar o facto ilícito e, portanto, neste caso, o
comportamento do lesante representa o nível máximo de censura em que ele sabia que a sua conduta
iria produzir determinado efeito, resultado, e quis ter a intenção de o produzir. 2. Dolo necessário – O
lesante embora não queira diretamente o facto ilícito consegue ou conseguiu prever esse efeito como
uma consequência necessária ou figura da sua atuação. Não queria propriamente um facto ilícito, mas
sabe que vai produzir tal efeito se atuar daquela forma e acha necessário. 3. Dolo eventual – O lesante
sabia que a produção dos factos ilícitos como efeito da sua conduta apenas seria possível ou meramente
eventual e não como uma consequência necessária da sua conduta. Há por parte do lesante uma
previsão da produção do facto ilícito, mas apenas numa esfera da mera possibilidade, da eventualidade
e não uma consequência imediata da sua atuação. Este dolo eventual pode facilmente confundir-se com
a negligencia consciente. A negligencia consiste numa omissão, na ausência de diligência, de cuidado
que seria exigido ao lesante. Na negligencia não há intenção de praticar um facto danoso, no entanto,
este facto podia ter sido evitado se houvesse mais cuidado, mais atenção. A negligencia também tem
duas modalidades: 1. Negligência consciente – O lesante prevê a produção do facto ilícito como possível,
mas por descuido, desatenção, falta de cuidado. Não ter tomado as medidas necessárias para evitar
esse facto atuando sem confirmar que a sua atuação seria licita. 2. Negligência inconsciente – O lesante
não prevê a possibilidade de o facto se verificar, não quer praticar o facto, não tem qualquer consciência
de se praticar o facto irá levar à produção de quaisquer efeitos. No entanto, se fosse mais cuidadoso
poderia se ter apercebido.

Culpa em sentido subjetivo ou concreto vs. Culpa em sentido abstrato ou objetiva – A culpa em sentido
concreto ou subjetiva refere-se ao grau de diligência que é exigido ao lesante atendendo à diligencia
que este costuma aplicar na prática dos seus atos e que se revela habitualmente capaz. Pelo contrário, a
culpa em sentido abstrato ou objetiva corresponde ao critério de diligencia que é imposta ao homem
normal, prudente, cuidadoso, é o critério do bom pai de família que está previsto no art.º 487, nº 2 e
que a lei tem em vista para fixar os direitos e deveres em sociedade.

Na responsabilidade por factos ilícitos a quem cabe fazer a prova da culpa? É ao lesado que cabe a prova
da culpa. As presunções de culpa estão no art.º 491, art.º 492 e art.º 493 do código civil, em que se
inverte o ónus, ou seja, será o lesante a provar que não teve culpa. Se não se conseguir provar a culpa
não há obrigação de indemnizar, portanto, o legislador entendeu que em determinadas circunstâncias
seria demasiado penoso para o lesado ter de provar a culpa do lesante e, portanto, estabeleceu um
conjunto de presunções que o ajudam no caso.
Esta ideia de que o dano se teria verificado mesmo cumprido esse dever é aquilo a que se chama de
causa virtual. A causa virtual é o facto real ou hipotético que levaria à presunção de um certo dano se
este não tivesse sido causado, provocado por um outro facto, que corresponde à causa real. A regra é a
irrelevância da causa virtual – Não se pode responsabilizar o autor da causa virtual, nem se pode afastar
a responsabilidade do autor da causa real. Estes três artigos das presunções são situações excecionais
em que o legislador atribui eficácia negativa à causa virtual que servem para afastar a responsabilidade
do autor da causa real. Além destas presunções temos uma que vamos falar no âmbito da
responsabilidade objetiva que é o art.º 503. O art.º 503 diz respeito aos danos produzidos por um
veículo conduzido por outra pessoa que não o proprietário.
O que faz culpar uma ação de responsabilidade civil é a existência de dano. O dano não é mais do que o
prejuízo sofrido pelo lesado e podemos ter vários tipos de danos: Dano real – O dano real é aquele que
corresponde ao prejuízo concreto sofrido pelo lesado, portanto, é o dano que se verifica em virtude da
prática de certo facto ilícito e que se manifesta nos seus interesses. Dano patrimonial – É o reflexo do
dano real sobre a situação patrimonial do lesado De acordo com o art.º 566, nº 2, o dano patrimonial
determina-se pela diferença entre a situação patrimonial real, atual do lesado, e a situação hipotética
que o património do lesado se encontraria se não se tivesse verificado o facto ilícito danoso. Há quem
chame ao dano patrimonial o dano de calculo. Dentro dos danos patrimoniais podemos distinguir: 1.
Danos emergentes – Os danos emergentes correspondem aos prejuízos causados nos bens ou direitos
que já existem no património do lesado à data da lesão, que foi praticado o facto ilícito danoso. Pode
corresponder a uma diminuição do ativo ou até ao aumento do passivo. 2. Lucros cessantes – Os lucros
cessantes abrangem os benefícios que o lesado deixou de obter em consequência da lesão, mas que
ainda não existiam à data desta. Estamos a falar aqui do valor que ainda não existia no património do
lesado, mas que iam entrar nesse património e só não entraram em virtude do facto ilícito danoso. 3.
Dano direto – Os danos diretos são os efeitos imediatos do facto ilícito ou a perda direta causada nos
bens ou valores juridicamente tutelados. 4. Dano indireto – Os danos indiretos são as consequências
mediatas ou remotas do dano direto. Alguma doutrina entende que estes danos indiretos são também
chamados de danos reflexo – art.º 496. 5. Danos presentes – O dano presente é aquele que se verificou
à data da fixação da indeminização – art.º 574, nº 2. 6. Danos futuros – O dano futuro é aquele que
ainda não se tenha verificado à data da fixação da indeminização – art.º 574, nº 2. Só são indemnizáveis
os danos futuros que sejam previsíveis.
Temos ainda os danos patrimoniais ou danos morais – São os prejuízos que embora não sejam
suscetíveis de avaliação pecuniária porque atingem bens jurídicos que não integram o património do
lesado, podem ser compensados mediante o pagamento de uma compensação pecuniária que é a
chamada indeminização por compensação nos termos do art.º 496 do código civil.

Danos não patrimoniais (art.º 496) – Os danos não patrimoniais estão relacionados com os prejuízos que
não são suscetíveis de avaliação pecuniária porque atingem bens jurídicos que não integram o
património do lesado. Não são todos os danos não patrimoniais que são compensados. De acordo com o
nº 1 deste artigo não são todos os danos patrimoniais, só serão ressarcíveis aqueles danos que pela sua
gravidade merecem a tutela do direito, sendo que a apuração dessa gravidade é feita pelo julgador no
caso concreto. O art.º 496 vai permitir quer a compensação pelos danos não patrimoniais sofridos pelo
lesado, quer a compensação por danos sofridos pelos seus familiares chamados danos reflexos. Em
torno deste artigo há uma divergência doutrinal e jurisprudencial que já vem há muito tempo sobre se
nestes danos não patrimoniais podemos incluir o dano da morte ou o dano pela perda de vida. Antunes
Varela e Oliveira Ascensão – Não concordam com a possibilidade de se atribuir uma compensação pelo
dano de morte em si mesmo, pois partem do princípio que com a morte cessa a personalidade jurídica
(Art.º 68) e se faz cessar a personalidade jurídica já não se é suscetível de ser titular de direitos e
obrigações. Portanto, não nasce na esfera jurídica do lesado, da vítima, um direito à compensação.
Almeida Costa e Menezes Cordeiro – Posição que tem sido mais recentemente adotada pela
jurisprudência. Defendem que há direito à compensação pelo dano da morte, que independentemente
do art.º 68 do código civil extinguir a personalidade jurídica, o valor vida constitui um bem jurídico cuja
lesão faz surgir na esfera da vítima o direito a uma compensação que se irá transmitir aos herdeiros. É
verdade que a morte ocorre no momento da lesão, no entanto, o ato lesivo que vai originar a morte
verifica-se em vida da vítima e, portanto, pode considerar-se adquirido o direito à compensação. Nesta
questão dos danos temos ainda de falar de uma figura que tem ganho alguma relevância, embora não
esteja prevista no código civil, que é a perda de chance ou probabilidade. Esta é uma espécie de dano
autónomo que vai aparecer no domínio da probabilidade e está apenas expressamente prevista no
direito francês. Desde logo a perda de chance está no domínio das probabilidades, da possibilidade de
algo acontecer, uma oportunidade que se poderia ter, mas que em virtude de um facto ilícito culposo
não se conseguiu obter. Mais uma vez temos de está perante os requisitos da responsabilidade civil –
facto ilícito culposo e o nexo de causalidade. Será que poderia pedir uma indeminização pela perda de
chance? Desde logo a chance remete para a possibilidade abstrata para a obtenção de um resultado
positivo que deriva da possibilidade que pode ser mais ou menos provável. Há uma indeminização em
virtude da perda de chance porque se ele tivesse tramitado a ação normalmente ele poderia ter ganho
aquele processo. Esta indeminização pela perda de chance tem sido entendida como constituindo um
dano autónomo que é destinto do dano final e para que haja esta indeminização é necessário que se
trate de uma chance que: 1. Seja séria. 2. Consistente. 3. Adequada a alcançar o efeito útil e esperado.

Nexo de causalidade entre o facto e o dano - Não vão ser indemnizados todos os danos que possam ter
ocorrido em virtude do facto ilícito. Só aqueles em que a conduta do lesante tenha sido efetivamente
causa dos danos sofridos – art.º 483. A doutrina tem adotado vários critérios para resolver o problema
da causalidade entre o facto e o dano. As várias soluções são: 1. Teoria da equivalência das condições
(teoria da posição conditio sine qua non) – Esta teoria considera a causa de um evento toda e qualquer
condição que tenha concorrido para a sua produção, em termos tais, que a sua não ocorrência
implicaria que o evento deixaria de se verificar. Aquilo que caracteriza o conceito de causa de um evento
é a condição ser imprescindível para a verificação desse evento. De acordo com esta teoria todas as
condições que contribuem para o dano importam porque sem uma dessas condições o dano não se teria
verificado – não dá relevância jurídica às condições (tem sido apenas aproveitada numa parte). 2. Teoria
da causalidade adequada – É a teoria que adotamos no nosso ordenamento jurídico. Quando o art.º 563
estabelece que a obrigação de indemnizar só existe em relação a danos que o lesado provavelmente
não teria sofrido se não fosse a lesão está a consagrar a teoria da causalidade adequada. É necessário
que em abstrato esse facto seja causa adequada de provocar aquele dano segundo o decurso normal
das coisas. Existem duas formulações para a teoria da causalidade, sendo uma positiva e uma negativa:
Formulação positiva – O facto será causa do dano sempre que constitua uma consequência normal ou
típica daquele facto, ou seja, sempre que verificado o facto se possa prever o dano como consequência
natural ou como efeito provável dessa verificação. Basicamente o que está em causa é o facto de acordo
com a natureza geral aumenta ou favorece a produção daquele dano. Formulação negativa – Baseia-se
em concreto na teoria da equivalência das condições, ou seja, de um facto ser em concreto causa de um
dano. Um facto que atuou como condição de um dano só deixará de ser causa adequada se atendendo à
natureza geral se mostrar de todo indiferente para a verificação do dano sendo provocado em virtude
de circunstâncias excecionais, anormais ou extraordinárias. À contrário ele não vai ser considerado
quando a verificação do dano ocorreu em virtude de uma circunstância anormal ou extraordinária. Qual
destas formulações positiva ou negativa devemos adotar? Por exemplo, em matéria de responsabilidade
objetiva, pelo risco têm-se optado pela formulação positiva, no entanto, pelo contrário, em matéria de
responsabilidade subjetiva, por factos ilícitos, quando a obrigação de indemnizar pressupõe um facto
ilícito culposo do agente, tem-se adotado a formulação negativa.

Obrigação de indemnizar - Há aspetos específicos para a responsabilidade civil extracontratual, mas há


aspetos em que o regime da obrigação de indemnizar se aplica também à responsabilidade civil
contratual. Desde logo quanto aos sujeitos da obrigação de indemnizar. O art.º 497 embora esteja
inserido na responsabilidade civil por factos ilícitos, vamos ver que esta norma da responsabilidade
solidária pode ser usada e é mais frequentemente utilizada para a responsabilidade objetiva ou pelo
risco. Existe responsabilidade solidária caso sejam vários os responsáveis pelos prejuízos causados ao
lesado. Pode existir direito de regresso nos termos do nº 2, na medida da culpa, isto significa que, se
apenas alguns dos que solidariamente são responsáveis atuaram com culpa só em relação a estes é
admitido o direito de regresso. Entre os culpados funciona o critério do grau de culpabilidade para
adquirir este direito de regresso. Quem tem o direito à indeminização, em regra, é o lesado que é o
titular do direito violado ou do interesse protegido por uma disposição legal e não qualquer outra
pessoa que possa até ter sofrido danos reflexos ou indiretos. Em regra, é, o lesado que é o titular do
direito que foi violado é ele que tem o direito de intentar a ação de responsabilidade civil e, portanto, a
exigir a obrigação de indemnizar. No entanto, esta obrigação de indemnizar pode acontecer também em
relação a certas pessoas que não são o titular do direito violado, pode acontecer em relação a danos
reflexos, nomeadamente dos familiares. A quem é que compete esta obrigação de indemnizar? Em
regra, no caso da responsabilidade por factos ilícitos, é o agente ou o lesante e nem sempre estes
correspondem ao que efetivamente praticou o facto ilícito danoso. Preenchendo os requisitos da
responsabilidade civil gera-se a obrigação de indemnizar. Esta obrigação de indemnizar não pode
ocorrer em virtude de facto danoso gerador de responsabilidade objetiva ou pelo risco. Quando não
estão preenchidos os pressupostos e se o erro for desculpável, mesmo assim não há obrigação de
indemnizar, no entanto, se o erro for indesculpável há a obrigação de indemnizar – art.º 338.

Responsabilidade pelo risco/ objetiva – É também a responsabilidade sem culpa. A responsabilidade


sem culpa tem caráter excecional desde logo, o art.º 483, nº 2, diz-nos que só há responsabilidade sem
culpa nos casos expressamente previstos na lei, caso contrário os danos que não possa sem imputados
a uma conduta culposa do agente terão que ser arcados pelo lesado. Ninguém pode andar a responder
sem culpa. De acordo com a teoria do risco, aquele que cria ou mantém um risco próprio deve suportar
as consequências prejudiciais do seu emprego, uso, já que colhe dos principais benefícios dessa
atividade, da utilização de determinada coisa. Quem tem as vantagens tem que arcar com as
desvantagens. Quem tem o proveito de determinado coisa, tem que arcar com os riscos quer podem
surgir. Em algumas situações alguém será chamado a responder independentemente de ter culpa e não
se exigindo sequer a ilicitude da sua conduta. Basta o facto danoso, e o nexo de causalidade. Além
destas situações previstas no CC, numa fase posterior o legislador consagrou em diplomas avulsos,
situações que podem originar responsabilidade pelo risco: É o que acontece por exemplo quanto à
responsabilidade do produtor decorrente de produtos defeituosos e os casos no âmbito de
medicamentos, ensaios clínicos

Art.º 500 – Responsabilidade do comitente. O comitente responde, em determinados termos, e


independentemente da culpa pelos danos que o comissário causar desde que sobre o comissario
também recaia a obrigação de indemnizar. O comitente responde ainda que o comissário tenha atuado
em sentido contrário às suas instruções. Requisitos para que haja responsabilidade do comitente: 1.
Existe relação de comissão entre comitente e comissário. 2. É necessário que o facto danoso tenha sido
praticado no exercício da função (art.º 500, nº 2). 3. O comitente só será obrigado a responder se
também existir responsabilidade do comissário.

Relação de comissão – Esta relação implica que se encarregue outro de qualquer comissão e trata-se de
uma relação de dependência ou subordinação. O termo comissão tem um sentido amplo que pode
englobar qualquer serviço ou atividade realizada por conta e sobre direção de outrem. A comissão
implica sempre a existência de uma relação de dependência de relação jurídica entre comitente e
comissário e essa relação que justifica ou permite que o comitente dê ordens ou instruções ao
comissário, o comissario atua no cumprimento determinado tarefa seguindo as ordens do comitente.
Típicas relações: motorista-dono do veículo, procurador-mandante, empregado-patrão. Alguns autores
apontam a esta relação a necessidade de liberdade de escolha do comissário por parte do comitente.
Antunes Varela considera esta exigência muito redutora, porque em regra a liberdade de escolha está
inerentemente associado a relação de dependência ou subordinação. O facto danoso tem que ter sido
praticado pelo comissario no exercício da sua função ainda que tenha sido praticado intencionalmente
ou contra as instruções indicadas. O que interessa é que o dano verificado, e o facto, ocorreu no
exercício da função e por causa da função. Excluem-se os atos que são praticados por ocasião na
função, mas não no exercício da função. Desta forma o comitente pode afastar a responsabilidade
provocando que o comissário agiu fora das suas funções. No exercício da função podemos incluir
também os atos ligados à função por um nexo instrumental entre a tarefa e o dano. O dano surge no
exercício da função, desde que estejam incluídos, compreendidos nos poderes que o comissário goza
no exercício da comissão.

Responsabilidade do comissário - O comitente só é obrigado a responder perante o lesado quando


sobre o comissário também recai a obrigação de indemnizar. Alguma doutrina entende que o
comitente só responde se houver culpa do comissário, seja culpa que foi provado no caso concreto, ou
por força da presunção de culpa prevista no artigo nº 3. Se o comissario teve culpa e não conseguiu
afastar a presunção, neste caso o comitente também seria chamado a responder. Teríamos o comitente
a responder pela responsabilidade pelo risco e o comissario por força da responsabilidade subjetiva,
com culpa. O art.º 500 diz que o comitente é chamado a responder se sobre o comissário recair a
obrigação de indemnizar, não diz se o comissário teve culpa. O que interesse é que o comissário
também seja obrigado a indemnizar independentemente da modalidade de responsabilidade civil que
impõe essa obrigação. Se há culpa do comissario temos que analisar os requisitos da responsabilidade
por factos ilícitos. Temos que analisar se estão preenchidos os requisitos do art.º 483 porque só aí
vemos se ela está obrigada a indemnizar.

Responsabilidade solidária (art.º 497) - Quando há culpa dos dois, isto é, do comitente e comissário, o
comissário vai responder solidariamente com o comitente. Isto significa que o lesado pode pedir a
indemnização a qualquer um deles, normalmente até é o comitente que pede a indemnização que tem
uma posição económica mais garantística.
Nas relações internas, há direito de regresso na medida da culpa nos termos do art.º 500, nº 3, 2º
parte.

Art.º 500, nº 3, 1º parte – Se só há culpa do comissário e o comitente tiver efetuado o pagamento da


indemnização, o comitente tem direito de exigir do comissário o reembolso de tudo o que haja pago.
À contrário só há direito de regresso quando haja culpa de ambos.
Art.º 502 – Responsabilidade por danos causados por animais. No art.º 502 sendo os animais seres
irracionais e não podem arcar com as consequências dos danos que provocam quem vai arcar com essas
consequências é quem o utiliza, normalmente é o dono do animal, mas pode ser também o mero
possuidor, o usufrutuário, respondendo pelos danos que o animal provocou ao lesado. Se o dono
incumbiu alguém pela vigilância do animal podemos ter casos em que se cumulam as 2
responsabilidade, são chamados o dono e o vigilante a responder se os danos ocorreram no âmbito do
vigilância. Nos termos do art.º 502º: o utente do animal responde pelos danos resultantes do perigo
especial que envolva a utilização do animal e responde mesmo que esses danos sejam provocados por
uma causa de força maior.

Art.º 503 até ao art.º 505 – Danos causados por veículos – É necessário a verificação de três requisitos
cumulativos: 1. Aquele que tiver a direção efetiva do veículo. 2. Utilização do veículo no seu próprio
interesse ainda que possa ser por intermédio do comissário. 3. Danos provenientes de riscos próprios do
veículo.

Ter a direção efetiva do veículo – Tem a direção efetiva aquele que tem o poder real de facto sobre o
veículo. O art.º 503, ao estabelecer este requisito, quer remeter para a pessoa que de facto goza as
vantagens do veículo e a quem por esse motivo incumbe um especial dever de controlar o
funcionamento do mesmo para evitar que este possa provocar danos. Normalmente é o proprietário,
mas pode ser o usufrutuário.
Utilização do veículo no seu próprio interesse ainda que possa ser por intermédio do comissário – O
legislador quis afastar a responsabilidade objetiva daqueles que, por exemplo, utilizam o veículo não no
seu próprio interesse, mas no interesse e proveito de outrem, nomeadamente do comissário, porque
em relação ao comissário nos termos do nº 3 deste artigo existe uma presunção de culpa que está
inserida no caso da responsabilidade subjetiva, por factos ilícitos.

Ao lado do detentor do veículo, é este em regra que responde, aquele que tem o poder de facto sobre
o veículo que responde, podemos ter os casos em que há responsabilidade do condutor se o veículo foi
conduzido por conta de outrem. Havendo culpa do condutor comissário, ou porque se fez prova no
caso concreto da culpa ou porque ele não conseguiu afastar a presunção do art.º 503, nº 3, respondem
solidariamente perante o lesado o condutor e o detentor do veículo. Neste caso o detentor do veículo
tem direito de regresso contra o condutor nos termos do art.º 500, nº 3.
Se o acidente ocorrer quando o condutor comissário utilizar o veículo fora do exercício das suas
funções, neste caso o condutor comissário responde independentemente da culpa nos termos do art.º
503, nº 1 e art.º 503, nº 3, 2º parte. Não há presunção de culpa do art.º 503, nº 3.

Quais são os danos que são cobertos por esta responsabilidade? Só estão em causa danos
provenientes dos riscos próprios do veículo. Não vão ser todos os danos que são indemnizáveis, apenas
aqueles danos que tiveram como causa jurídica o acidente provocado pelo veículo que se referem aos
riscos próprios da utilização do veículo mesmo quando o veículo não está em circulação. Os riscos
próprios do veículo podemos agrupá-lo em 3 categorias: 1. Risco inerentes ao veículo enquanto
máquina. Exemplo: motor explode, travões que falham. 2. Riscos inerentes à própria pessoa do
condutor. Exemplo: Ataque cardíaco enquanto conduz e atropela alguém. 3. Riscos inerentes às
próprias vias de circulação. Exemplo: Piso escorregadio, manchas de óleo, buracos.
Fora destes riscos e, portanto, afastando a responsabilidade objetiva, não estão inseridos no 503º, estão
aqueles riscos que não tem qualquer conexão com os riscos próprios do veículo pois poderiam ter sido
causados por qualquer outra coisa.

Art.º 504 – O art.º 504 refere-se as pessoas transportadas por meio de um contrato, como por
exemplo, táxi. Neste caso a responsabilidade vai abranger os danos causados na pessoa e nas coisas
por ela transportada. Quando são pessoas transportadas gratuitamente, por exemplo, o carro de
amigo, só contempla os danos causados na própria pessoa. Além das pessoas transportadas, esta
responsabilidade vai beneficiar todos aqueles sujeitos que estando fora do veículo são lesados na sua
vida, saúde, integridade física. Podemos ainda contemplar pessoas dentro do veículo aqueles que se
ocupam de uma atividade do veículo, como por exemplo, fiscal.

Causas de exclusão de responsabilidade objetiva em virtude de acidente automóvel - São as que estão
elencadas no art.º 505. Verificado qualquer uma destas causas, quebra se o nexo de causalidade entre
os riscos próprios do veículo e o dano e, portanto, afasta a responsabilidade objetiva do detentor do
veículo. Podemos afastar quando o acidente foi provocado, pode ser imputável ao próprio lesado, se
assim for, ocorrendo em virtude dum facto lícito, culposo do lesado, mesmo que não tenha culpa, mas
deu origem ao acidente isto será motivo para excluir a responsabilidade objetiva do detentor do veículo.
Se o acidente for imputável a qualquer outra pessoa, que não o lesado que tenha agido com intenção
de causar o dano ou por negligência, nesse caso afasta se também a responsabilidade do detentor do
veículo. Afasta-se também a responsabilidade do detentor se o acidente resultar de uma causa de fora
maior estranha ao veículo, trata se aqui de um acontecimento que seja imprevisível, cujo efeito danoso
não se consegue evitar mesmo com precauções normais que são exigidas ao condutor. Se esse
acontecimento for estranho ao funcionamento do veículo o detentor não responde pelos danos que se
provocaram.

Art.º 506 – A colisão de veículos - Pode acontecer pelo choque de dois ou mais veículos que se
encontram em circulação ou também, quando há o embate de um veículo parado ou de um veículo
que diminuiu drasticamente a velocidade. Quando há colisão de veículos importa saber quem
responde pelos danos provocados pela colisão e por isso é importante distinguir algumas situações: A
situação em que há culpa de ambos os condutores. Neste caso cada um dos condutores responderá
pelos danos correspondentes ao facto praticado. Quando existe culpa de ambos, mas não se pode
determinar a medida de culpa de cada um vamos presumir que contribuíram em partes iguais. A
situação em que apenas um tem culpa. Ainda que seja uma situação meramente presumida como o
art.º 503, nº 3, 1º parte. Neste caso só o culpado é que responde pelos danos que causou. Se for
situação que se trata de condutor comissario, só este responde, não obstante, podermos chamar o
comitente. Situações em que não existe culpa dos condutores, mas os danos foram provocados por dois
ou mais veículos sendo que esses danos se podem estender a 2 veículos ou mais ou apenas abranger um
dos veículos. Não há culpa, mas há danos – art.º 506, nº 1, 1º parte, nesta hipótese a responsabilidade
é repartida na proporção em que o risco de cada um dos veículos tiver contribuído para o dano. Este
artigo tem como fundamento o dano causado em dois ou mais veículos entendendo que esse dano é
provocado por ambos e por esse motivo essa circunstância deve ser tida em consideração na fixação da
indemnização. É necessário somar todos os danos que resultaram da colisão e repartir a
responsabilidade total na proporção em que cada um dos veículos houver contribuído para a produção
desses danos. Quando falo em somar, somamos:

 os danos próprios do veículo, mas também os


 danos sofridos pelos próprios condutores,
 pelas pessoas transportadas e ainda
 os danos nas coisas transportadas quando existe um contrato transporte.
O contrato de seguro é um negócio jurídico pelo qual uma das partes, a seguradora, se obriga a cobrir o
risco de um certo facto futuro e incerto, será o sinistro, constitui para a outra parte, o segurado,
mediante a prestação de uma certa e periódica prestação a que o segurado se compromete. É um
seguro imposto por lei, obrigatório, tem natureza pessoal que vem abarcar a responsabilidade civil da
pessoa que possa ser obrigada a reparar os danos patrimoniais e não patrimoniais resultantes de lesões
causadas pelo veículo. A obrigação de segurar recai sobre:

 o proprietário do veículo ou sobre o usufrutuário caso exista


 recai também sobre o adquirente, no caso de venda com reserva de propriedade e
 sobre locatário no caso de contrato de locação financeira art.º 2

O grande objetivo deste seguro é proteger a vítima, de ela ser ressarcida em caso de acidente. A
seguradora depois de satisfeita a indemnização apenas tem direito de regresso contra o causador
doloso do acidente, e também contra os autores de um roubo ou de um furto do veículo causador do
acidente. No caso de roubo a seguradora tem direito de regresso sobre a pessoa que roubou. Consagra
também o fundo de garantia automóvel para aquelas situações em que já não tinha seguro válido, a
seguradora abriu insolvência, vem garantir ao lesado o ressarcimento dos danos provocados pelo
veículo.
Nos casos de acidentes de viação também podemos ter pluralidade de responsáveis (art.º 507) desde
logo porque:
 vimos o art.º 506 que podemos ter casos em que os danos foram provocados ou por culpa dos
2 condutores ou mesmo que não haja culpa foram provados danos em 2 veículos e portanto,
há responsabilidade de mais do que um sujeito.
 vimos também o caso típico da responsabilidade comitente por atos praticados pelo
comissario, art.º 503 também se aplica mesmo que seja o comissario a dirigir o veículo,
podemos ter o comissário e comitente a ser chamados a responder.
 o detentor do veículo pode estar em regime de compropriedade, quem vai ser chamado a
responder são os dois.

Em todas estas situações temos uma pluralidade de responsáveis, mas só vamos ter uma indemnização.
Isto significa que há que distinguir na pluralidade de responsáveis nas relações internas e relações
externas.

Relações externas, o lesado perante responsáveis – Nas relações externas quando há solidariedade dos
vários responsáveis pelo dano causado, todos eles vão poder ser chamados a responder perante o
lesado mesmo que só haja culpa de algum deles.

Relações internas, relações entre os vários responsáveis – Nas relações internas, entre os vários
responsáveis, há que distinguir duas situações. Quando todos são responsáveis, mas nenhum tem culpa
a repartição da responsabilidade vai ser estabelecida em harmonia com o interesse de cada um na
utilização do veículo

Art.º 509 – Responsabilidade pelos danos causados por instalações de energia elétrica ou gás – Esta
utilização tem riscos associados, é perigosa, vigora nesta matéria o regime da responsabilidade
independente da culpa. Este não vão correr por conta das empresas que a exploram sejam empresas
comproprietários, concessionarias, arrendatários, etc. Como retiram as vantagens, vão ter que arcar
com os riscos, logica da responsabilidade objetiva, esta é a máxima. Quanto aos danos provocados pela
instalação: De acordo com o art.º 509, nº 1, parte final, a responsabilidade por estes danos pode ser
afastada mediante prova de que ela se encontrava ao tempo do acidente de acordo com as regras
técnicas em vigor e em perfeito estado de conservação.

Quanto aos limites ou exclusão da responsabilidade civil – Em certas situações há a possibilidade de se


limitar ou excluir a responsabilidade civil embora este tipo de situações ocorra mais frequentemente da
responsabilidade contratual. Esta limitação pode ocorrer por via negocial, por força da vontade das
partes, mas também por via legal.
No art.º 570 há divisão doutrinal sobre a culpa do lesado: 1. Teoria subjetivista – culpa referida no
artigo 570º pressupõe a inimputabilidade ou incapacidade de facto do lesado. 2. Teoria objetivista – a
culpa do lesado pressupõe a existência de uma conduta objetivamente contraria com a normalidade. Ou
seja, de acordo com esta teoria não é necessário que o lesado seja inimputável, basta ter atuado
contrariamente as circunstâncias normais que seriam exigidas.

Responsabilidade por factos lícitos/responsabilidade pelo sacrifício – Tem subjacente um ato que
embora seja lícito, está conforme o direito, esse ato vai gerar a obrigação de indemnizar porque
provocou danos a outrem. O ato embora lícito é um ato lesivo. É lícito porque pretende satisfazer um
interesse coletivo ou interesse qualificado de uma pessoa de direito privado, no entanto não se justifica
que se sacrifique sem nenhuma compensação os direitos de um ou mais particulares que são
atingidos por esse ato lícito.

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