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Direito das Obrigações II – Turma A

ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA


-ESQUEMA DE RESOLUÇÃO DE CASOS PRÁTICOS-

§ Identificar o enriquecido e o empobrecido

§ Verificar se estão preenchidos os pressupostos do artigo 473.º, n.º 1 do CC:


1) Enriquecimento: há uma majoração da situação patrimonial do enriquecido;
2) Empobrecimento: situação inversa do enriquecimento, não corresponde necessariamente a um dano, tem um sentido mais
amplo; articular com a teoria do conteúdo da destinação (em especial nas hipóteses de ESC por intervenção); há uma deslocação
patrimonial ou um acervo de vantagens que se destinavam ao empobrecido;
3) À custa de outrem (a relação): relação entre o enriquecimento/empobrecimento;
4) Imediação: existe uma única valoração que permite formular um só juízo de enriquecimento entre os dois sujeitos, ainda que
de permeio possam surgir outras esferas jurídicas;
5) Sem causa justificativa: não há fonte; inaplicabilidade de uma norma ou princípio jurídico que legitime a aquisição do
enriquecimento. Abrange as hipóteses de ausência inicial de causa e a supressão ulterior da mesma.

Atenção que os requisitos são cumulativos: tem de estar todos preenchidos para que se verifique uma situação de enriquecimento
sem causa (ESC)
-Se estiverem preenchidos: há ESC, é necessário analisar os pontos seguintes.
-Se não estiverem preenchidos: Não há ESC.

Nota: Verificar ainda o disposto no artigo 474.º do CC – problema relacionado com a subsidiariedade. Ter em atenção as questões
relacionadas com a interpretação restritiva deste preceito!

Obs: Este esquema não é exaustivo e destina-se apenas a sugerir linhas de orientação aos alunos na resolução de casos práticos; não dispensa a consulta e estudo da
bibliografia recomendada para a disciplina.
Direito das Obrigações II – Turma A

§ Analisar qual a modalidade de enriquecimento sem causa


1) Enriquecimento por prestação: resulta paradigmaticamente de uma prestação que é efectuada pelo empobrecido ao
enriquecido. Abrange as hipóteses presentes no artigo 473.º, n.º 2 do CC: o indevidamente recebido, o recebido por virtude de
causa que deixou de existir e o recebido em vista de um efeito que não se verificou.

2) Enriquecimento por intervenção: situação em que alguém obtém um enriquecimento através de ingerência não autorizada no
património alheio. Reconduzem-se às intervenções em direitos absolutos, como os direitos reais, os direitos de autor e a direitos
de propriedade industrial, e os direitos de personalidade. Não tem de existir uma deslocação patrimonial concreta, cabendo
recorrer à ideia de conteúdo da destinação.

§ Analisar a obrigação de restituir – artigo 479.º do CC

1) Analisar o princípio base artigo 479.º do CC:


Restituição em espécie - se existir ainda o bem este deverá ser devolvido. Aplicação do artigo 566.º do CC, por analogia: a restituição
opera em valor sempre que a restituição em espécie não seja possível, ou seja demasiado onerosa para o devedor.

2) Qual é o momento relevante para avaliar o enriquecimento?


Conjunção do artigo 479.º, n.º 2 e do artigo 480.º do CC. A obrigação não pode exceder a medida do enriquecimento à data: (i) da
citação judicial do enriquecido para a restituição ou (ii) em que ele teve conhecimento da falta de causa do seu enriquecimento ou
da falta do efeito que se pretendia obter com a prestação.

3) Fazer o cálculo da obrigação de restituição


Neste ponto as respostas podem variar, uma vez que há divergências quanto à forma como deve ser calculada a obrigação de
restituição.

Obs: Este esquema não é exaustivo e destina-se apenas a sugerir linhas de orientação aos alunos na resolução de casos práticos; não dispensa a consulta e estudo da
bibliografia recomendada para a disciplina.
Direito das Obrigações II – Turma A

Cálculo da obrigação de restituição, segundo o entendimento do PROFESSOR MENEZES CORDEIRO:

- Distinguir e identificar enriquecimento/empobrecimento em concreto e em abstracto.

Enriquecimento em abstracto: corresponde ao valor do quid que tenha passado do património do empobrecido, para o do
enriquecido.

Enriquecimento em concreto: equivale à vantagem patrimonial efectiva sentida pelo enriquecido. Pode ser equivalente ao
enriquecimento em abstracto, designadamente quando se trate de dinheiro, mas também poderá ser superior, quando o
enriquecido gere mais valias ou inferior, quando, por razões concretas, perca algum do seu valor.

Empobrecimento em abstracto: traduz o valor do quid que saiu do património do empobrecido. Equivalerá, pelo menos no
enriquecimento por prestação, ao enriquecimento em abstracto

Empobrecimento em concreto: exprime a desvantagem global sentida pelo empobrecido, também aqui tenderá a equivaler ao dano
em abstracto, mas pode ser maior quando a operação provoque danos ou desvalorizações colaterais ou menor quando a brecha
tenha sido colmatada, total ou parcialmente pelos particularismos existentes.

- A obrigação de restituição deve ser calculada de acordo com a teoria do triplo limite:

-deve ser restituído o enriquecimento em concreto (1.º limite)


-até ao dano em abstracto (2.º limite)
-ou em concreto (3.º limite)
-consoante o que se mostre mais elevado.

Obs: Este esquema não é exaustivo e destina-se apenas a sugerir linhas de orientação aos alunos na resolução de casos práticos; não dispensa a consulta e estudo da
bibliografia recomendada para a disciplina.

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