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Aula: 3 – Crise do

sistema colonial e
movimentos
anticoloniais
Brasil Império. Profª. Taís
Ref: SCHWARCZ, Lilia M. STARLING, Heloisa M. Revoltas, conjurações, motins e sedições no
paraíso dos trópicos. In: Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das letras, 2015.
SOUZA, Laura de Mello e. Parte I, Capítulo 2: A conjuntura crítica no mundo luso-brasileiro
de inícios do século XVIII. In: O sol e a sombra: política e administração na América
Portuguesa do século XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Antigo Sistema colonial, revoltas &
crise: séculos XVII e século XVIII
Crise em Portugal no século XVII e Intensificação 1580-1640: União
do pacto colonial. Ibérica;
Desaparecimento
de D. Sebastião;
Reino de Filipe II
 1640: Portugal volta a ser uma nação independente da Espanha.
 Situação do país recém-independente:
• Guerra de Restauração;

• Dívidas com a Inglaterra;

• Perda da maior parte das suas colônias da África e Ásia;

1640-1658: Revolução
Puritana – República
de Oliver Cromwell;
1688 – Revolução
Gloriosa;
Solução: intensificar a exploração de seu principal território
colonial: o Brasil. Algumas mudanças foram impostas à colônia:

 Maior cobrança de impostos e controle do contrabando.


 Criaçãoda Companhia Geral do Comércio do Brasil (1649) e da
Companhia Geral do Maranhão (1682). Essas companhias tinham o
monopólio da venda de produtos importados do Brasil e da compra de
produtos coloniais.
 Proibição
da produção de sal e ferro no Brasil, obrigando a população
a comprar da metrópole.
 Perda de autonomia das câmaras municipais. As decisões tinham que
ter o aval do Governador-geral.
 Nomeação dos “juízes de fora”, que verificavam se as ordens de
Portugal estavam sendo cumpridas.
Esses representantes
Organização administrativa da colônia: da Coroa Portuguesa
ficavam em Salvador
(1549-1763) e no Rio de
Janeiro (1783-1822)

 Comando central de um Governador-Geral, auxiliado por:


 um Provedor-mor (finanças), um Ouvidor-mor (justiça) e um Capitão –
mor(militar).
 1573: Governo- Geral do Norte e Governo Geral do Sul;
 1642: Conselho Ultramarino
 Divisão em capitanias hereditárias: cada uma com um capitão/
governador;
 Com o aparecimento de vilas no interior das capitanias foram
surgindo as câmaras municipais compostas por: 3 vereadores, um
procurador, um tesoureiro, um escrivão, um juiz e o juiz de fora
(nomeado pela Coroa)
 Algumas revoltas que aconteceram no período colonial:
 Revolta de São Paulo, 1603: contra a vinda de ouvidores-
gerais e de corregedores representantes da capitania e da
Coroa;

 Revolta da cachaça, Rio de Janeiro, 1660: contra a proibição


da comercialização de cachaça por ordem de Portugal , com
o apoio do governador do Rio de Janeiro, Sá e Benevides.
 Revolta em Pernambuco, 1666: contra os abusos do
governador, Mendonça Furtado, e cobrança de taxas.
 Revolta em Sergipe, 1671: contra os tributos cobrados pelo
capitão-mor, Joaquim Antônio Monteiro Corrêa.
 Revolta de Beckman, 1684: contra o governador do
Maranhão e a Companhia de Comércio do Maranhão e Grão-
Pará, que impedia o contrabando de mercadorias.
 Notar que os motins geralmente não possuem um projeto
político de mudanças radicais ou duradouras, mas sim
questionam atitudes pontuais dos governadores e
principalmente o excesso de impostos cobrados.
Crítica de Pe. Vieira a uma série de governadores de
Pernambuco/Bahia corruptos e prepotentes, que geraram
insatisfação popular a ponto de estimular motins:
“Esta é a causa original das doenças por onde a justiça se não
guarda e o Estado se perde” ... “Perde-se o Brasil (digamo-lo
em uma palavra) porque alguns ministros de Sua Majestade
não vêm cá buscar nosso bem, vêm cá buscar nossos bens”
(SCHWARCZ, STARLING, 2015: 135)
Documento da Revolta de Beckman
“Os administradores (Da Companhia) não só faltaram às diversas
obrigações a que se haviam sujeitado, como exageraram em todo
tipo de roubos e afrontas. Os pesos e medidas que usavam eram
falsificados; as fazendas e comestíveis expostos à venda, da pior
qualidade e até estragados; e tudo aquilo em quantidade insuficiente
para o abastecimento do mercado e por preços superiores aos
taxados. Assim aconteceu logo com um pequeno carregamento de
escravos, que se vendera a 110 e 120 mil-réis à vista, quando o preço
máximo estipulado era de 100 mil-réis”.
João Francisco Lisboa. Apontamentos para a história do Maranhão, século XIX. In: MENDES
JR; RONCARI, L.; MARANHÃO, R. Brasil: história, texto e consulta. São Paulo: Brasiliense,
1977, v. 1, p.203
Crise do sistema colonial: século XVIII

 Fernando Novais: Contexto do período: no século XVIII


inicia-se uma crise do sistema colonial com a invenção da
máquina a vapor e a Revolução Industrial, que gerou uma
produtividade sem precedentes. O aumento de
mercadorias industrializadas foi um dos fatores que levou
os países que se industrializavam, principalmente a
Inglaterra, a buscar novos mercados consumidores e
pressionar suas colônias com taxas e cobranças excessivas
sobre a produção colonial.
 Crise do século XVIII em Portugal: Conflitos externos (Guerra contra a
Espanha no contexto de disputa pela sucessão do trono) e Internos:
 Revolta decorrentes da descoberta das minas de ouro:
 Guerra dos Emboabas (1707-1709): paulistas contra “emboabas”;
 Os paulistas, há mais tempo na região, não aceitavam a exploração de ouro
por grupos que chegavam.Os grupos novos traziam técnicas mais eficientes
para a extração de ouro dos rios.
 Elevação da vila de São Paulo à condição de cidade em 1711.
 Guerra dos Mascates (1710-1711), Pernambuco: Revolta dos senhores
de engenho de Olinda (capital) contra os comerciantes portugueses:
dívidas por causa da queda do preço do açúcar; alta cobrança de
impostos.
 Motins do Maneta, 1711, em Salvador contra o aumento no preço do sal
e novas taxas cobradas sobre mercadorias importadas, inclusos os
escravos;
 Reformas Pombalinas – Marquês de Pombal (1º ministro do Rei José I –
1750-1777)
 “Déspota esclarecido”, no contexto de Reis absolutistas que tomaram
algumas medidas “iluministas” em seus governos: reformas modernizantes;
 Medidas:
• redução de gastos com o funcionalismo público da Coroa,
• incentivo à indústria nacional portuguesa para a melhoria do mercado interno,
• aumento da cobrança de impostos em ouro na colônia
• expulsão dos jesuítas do Império português
 Com a morte de D. José, Pombal é derrubado do governo por seus inimigos
políticos. Assume sua filha, a princesa Maria.
 Um dos atos mais impactantes da Rainha Maria I na Coroa foi a proibição de
manufaturas na colônia a partir de 1785.
 Reinado de D. Maria I (1777-1816): conjurações

Sobre a capitania de Minas:


Das Minas e seus moradores bastava dizer […] que é habitada degente
intratável […] A terra parece que evapora tumultos; a água exala motins; o
ourotocadesaforos; destilam liberdades os ares; vomitam insolências as nuvens; influem
desordens os astros; o clima é tumba da paz e berço da rebelião; a
natureza anda inquieta consigo, e amotinada lá por dentro é como no inferno.

 Alvo dos sediciosos: Casa de Fundição: instituição onde se registrava o ouro em barras e se
deduzia o imposto do quinto;
 Trecho do documento “Discurso” enviado à Coroa pelo Conde de Assumar para justificar a
repressão contra os colonos de Vila Rica. Só Assumar enfrentou 3 sedições;
 Para conter a sedição: fechou os caminhos para Vila Rica; prendeu os revoltosos; autorizou a população a
exterminá-los e colocar fogo na propriedade de um dos seus líderes, Pascoal da Silva Guimarães; mandou
executar Felipe dos Santos, influente orador perante a população, amarrando seu corpo em quatro
cavalos e o despedaçando;
 1736: Nova sedição entre o rio das Velhas e o São Francisco, em que os revoltosos ameaçam
Inconfidência Mineira: Final do século XVIII (1781-1789):
• Causa:
• Endividamento dos colonos mineiros com a Coroa Portuguesa e grande
insatisfação; [Em 1789, as Minas deviam cerca de 8940 quilos de ouro a
Portugal].
• Ameaça da cobrança da Derrama (cobrança à força dos impostos devidos); “auto-governo”:
ideia que passa a
• Quem eram: Um grupo de intelectuais da elite mineira reuniu-se com
ser comum no final
planos de tomar o poder das Minas Gerais
do século XVIII nas
• O que desejavam: tornar a região um país independente, com suas Minas e na Bahia
próprias leis e comércio livre. Instauração em Minas de uma república
soberana

• Como acabou: O movimento é traído e descoberto pelas autoridades


portuguesas, que prendem e exilam os inconfidentes (traidores). Apenas
Joaquim José da Silva Xavier, um alferes do exército colonial, é executado
publicamente, em 21 de abril de 1792.

Crime de inconfidência:
súdito que se torna infiel
ao rei
Conjuração Baiana (1798)
• Contexto:
• Crescimento desordenado de Salvador e de pobreza e alta nos preços dos produtos de
primeira necessidade.
• Ideias iluministas de liberdade chegavam à cidade por meio de viajantes.
Influência da Revolução Francesa.
• Quem eram: Intelectuais e homens comuns, inclusive escravos, passaram a se reunir
com o objetivo de discutir as ideias iluministas, Reconheciam-se pela identidade política
e religiosa: trajavam-se como franceses jacobinos ; os escravos adicionavam búzios e argolas
do candomblé
• O que desejavam:
• Faziam críticas ao governo e aos altos preços da carne e da farinha, itens básicos da
alimentação.
• Instituir a igualdade e a democracia por meio de panfletos anônimos;
• Desfecho:
• O movimento foi denunciado e reprimido, com a prisão e morte de muitos participantes
das classes baixas e de negros;
• É o primeiro movimento que propunha emancipação da colônia de Portugal e criação
de uma República com a libertação dos escravos.
Contestação ao
Rei/Coroa
Bandeira da Conjuração Baiana:
“Apareça e não se esconda”
Manifesto de 1798
“Ó vós homens cidadãos; ó vós povos curvados e abandonados pelo rei, pelos seis
despotismos, pelos seus ministros...
Ó vós povo que nasceste para seres livres e para gozares dos bons efeitos da Liberdade; ó
vós povo que viveis flagelado com o pleno poder do indigno coroado (...) esse mesmo rei
tirano que se firma no trono para vos humilhar, para vos roubar e para vos maltratar.
Homens, é chegado o tempo para vossa ressureição; sim, para ressuscitares do abismo da
escravidão, para levantares a sagrada bandeira da Liberdade.
A França está cada vez mais exaltada (...) As nações do mundo têm seus olhos fixos na
França, a liberdade é agradável para todos. O dia da nossa felicidade está para chegar,
animai-vos que sereis feliz para sempre.”
Aviso ao povo brasileiro, agosto de 1798. In: MATTOSO, K.M. de Q. Textos e documentos
para o estudo da história contemporânea (1789-1963). São Paulo: Hucitec-Edusp, 1977 p.34.
 O século XVIII, portanto, teve início sob o signo da crise, mesmo que, em
grande parte, o seu sentido permanecesse encoberto. (...) Entre a crise do
início do século e a que lhe pôs fecho, os colonos, aí sim, aprenderiam a ler
nas entranhas do sistema colonial. (SOUZA, 2006:108).
 Notar que: pela quantidade de revoltas, sedições,
conjurações relevantes que aconteceram na colônia
desde os séculos XVII/XVIII, a História do Brasil está
longe de ser pacífica/harmoniosa/sem violência.
 Temos uma violência fundante nas relações escravistas
(com indígenas e africanos), mas além dessa violência
permanente na colônia, tivemos esses vários
movimentos que questionavam de algum modo o “pacto
colonial” e as relações entre colonos e metrópole.
Crise do Antigo Regime, crise do Sistema
Colonial Revolução
Francesa
(1789-1799):
Fim do Estado
Independência Absolutista
Americana Revolução Francês e
(1776): primeira Industrial na declaração
revolução a Inglaterra dos direitos
naturais dos Independência no
elaborar uma (1750-1800):
homens; Haiti e abolição da
carta de direitos Novas relações
escravidão (1791-
de trabalho
do homem; criadas pelo
1804):
Mostrou que a
sistema fabril
escravidão não era
em grande
um fato imutável;
escala;

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