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A Crítica da Razão Pura de Kant e os

limites transcendentais da metafísica


clássica
Antonio Janunzi Neto
APRESENTAÇÃO

"A razão humana, num determinado domínio dos seus conhecimentos, possui o singular
destino de se ver atormentada por questões, que não pode evitar, pois lhe são impostas pela
sua natureza, mas às quais também não pode dar resposta por ultrapassarem completamente
as suas possibilidades.

Não é por culpa sua que cai nessa perplexidade. Parte de princípios, cujo uso é inevitável
no decorrer da experiência e, ao mesmo tempo, suficientemente garantido por esta. Ajudada
por estes princípios eleva-se cada vez mais alto (como de resto lho consente a natureza)
para condições mais remotas. Porém, I logo se apercebe de que, desta maneira, a sua tarefa há-
de ficar sempre inacabada, porque as questões nunca se esgotam; vê-se obrigada,
por conseguinte, a refugiar-se em princípios, que ultrapassam todo o uso possível da experiência
e, não obstante, estão ao abrigo de qualquer suspeita, pois o senso comum está de acordo
com eles. Assim, a razão humana cai em obscuridades e contradições, que a autorizam a
concluir dever ter-se apoiado em erros, ocultos algures, sem contudo os poder descobrir. Na
verdade, os princípios de que se serve, uma vez que ultrapassam os limites de toda a
experiência, já não reconhecem nesta qualquer pedra de toque. O teatro destas disputas
infindáveis chama-se Metafísica."

Kant. Crítica da Razão Pura, Prefácio da Primeira Edição (AVII-AVIII).


Finalidade do Minicurso:

- A CRP como ponto central da mudança de paradigma na distinção entre filosofia e ciência.:

"Dentre as muitas objeções que se podem fazer à concepção aqui exposta, a mais séria é,
talvez, a que refiro em seguida. Ao rejeitar o método de indução, - poder-se-ia dizer - privo a
ciência empírica daquilo que constitui, aparentemente, sua característica mais importante; isto
quer dizer que afasto as barreiras a separar a ciência da especulação metafísica. Minha
resposta a tal objeção é a de que a razão principal de eu rejeitar a Lógica Indutiva consiste,
precisamente, em ela não proporcionar conveniente sinal diferenciador do caráter, não-
metafísico, de um sistema teorético; em outras palavras, consiste em ela não proporcionar
adequado "critério de demarcação".
"Esse problema foi abordado por Hume, que tentou resolvê-lo. Com Kant, tornou-se o problema
central da teoria do conhecimento. Se acompanhando Kant, chamarmos ao problema da
indução "problema de Hume", poderíamos chamar ao "problema de Kant" o problema da
demarcação."
POPPER, K. "Lógica da Pesquisa Científica", PARTE I, Cap. I, 1. O Problema da Indução.
ARITÓTELES, Metafísica, L. I (alfa), capítulo I.:

[980a 21] Todos os homens por natureza propendem ao saber. Sinal disso é a
estima pelas sensações: até mesmo à parte de sua utilidade, elas são estimadas em si
mesmas e, mais que as outras, a sensação através dos olhos.
[980b 25] Assim, os outros animais vivem com as aparências e com as recordações,
mas compartilham pouco da experiência; o gênero dos homens, por sua vez, vive
também com técnica e raciocínios.
[981b 10] Além disso, julgamos que nenhuma sensação é sabedoria, embora
sejam elas os conhecimentos mais decisivos a respeito das coisas particulares; não
obstante, elas não dizem o porquê a respeito de nada . por exemplo, por que o fogo
é quente ., mas apenas dizem que é quente.
[981a 25] Foi dito nas discussões éticas qual é a diferença entre técnica, ciência e
demais itens homogêneos. Mas aquilo em vista de que empreendemos este argumento,
eis o que é: todos consideram que a denominada .sabedoria. é a respeito das primeiras
causas e princípios. Consequentemente, conforme foi dito antes, reputa-se que o
experiente é mais sábio que aqueles que detêm uma sensação qualquer; o técnico,
mais sábio que os experientes; os mestres de obra, mais sábios que os .trabalhadores
braçais., e as ciências teóricas, mais ciência que as produtivas.
[982a 1] É evidente, portanto, que a sabedoria é uma ciência a respeito de certos
princípios e causas.
Aristotelismo Medieval

Tomás de Aquino e os transcendentais do ser (De Veritate q.1, a1., respondeo):

Ora, a primeira coisa que a inteligência concebe como a mais conhecida, e à qual se reduz tudo,
é o ente. Daí que necessariamente todos os outros conceitos da inteligência se obtêm por
adjunção ao ente. 
Ora, ao ente não se pode acrescentar algo à maneira de uma natureza estranha, uma vez que
toda natureza é essencialmente um ente. Razão pela qual o Filósofo demonstra (na Metafísica,
livro III, comentário 10) que o ente não pode ser um gênero e que só se pode afirmar que certas
coisas são passíveis de serem acrescentadas ao ser, no sentido de que exprimem um
determinado modo do mesmo, modo que não está expresso no próprio termo ente.
O caso do realismo epistemológico tomista e sua fundamentação na teoria da abstração:

AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. q.85, a.1, respondeo:

"O objeto cognoscível é proporcionado à capacidade cognoscitiva. De fato, uma certa


capacidade cognoscitiva é ato de um órgão corporal, isto é, o sentido. Por isso, o objeto de
qualquer potência sensitiva é a forma na medida em que existe na matéria corporal. E visto que
tal matéria é o princípio de individuação, por isso toda potência da parte sensitiva é cognoscitiva
apenas dos particulares. O intelecto humano, não é ato de algum órgão, mas é uma certa
capacidade da alma, que é forma do corpo. Por isso, é próprio dela conhecer a forma existente
individualmente na matéria corporal, não porém na medida em que está em tal matéria. Ora,
conhecer o que está na matéria individual, não na medida em que está em tal matéria, é abstrair
a forma da matéria individual, que as fantasias representam. Por isso, é necessário dizer que o
nosso intelecto intelige o que é material abstraindo das fantasias."

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