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UNIVALI

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ


Escola de Ciências Jurídicas & Sociais
Curso de Direito
Direito Civil (Parte Geral)
Semestre 2020/1
Prof.: Édio de Oliveira Júnior
E-mail: edio@univali.br
Direito Civil (Parte Geral) I
• Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro (LINDB)

• Das Pessoas (CC, Livro I)

• Dos Bens (CC, Livro II)


LINDB

• DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942


(De acordo com a Lei nº 12.376, de 30 de dezembro de 2010)

Que deve ser analisada juntamente com:

• Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998,


alterada pela

• Lei Complementar nº 107, de 26 de abril de 2001


LINDB
Trata-se de uma norma preliminar à totalidade do
ordenamento jurídico nacional. Realmente, nenhum motivo
existe para considerá-la uma Lei de Introdução ao Código Civil,
pois é verdadeiramente o diploma da aplicação, no tempo e
no espaço, de todas as normas brasileiras, sejam elas de
direito público ou privado. Suas normas constituem
coordenadas essenciais às demais normas jurídicas (civis,
comerciais, processuais, administrativas, tributárias etc.), que
não produziriam efeitos sem os seus preceitos. As normas da
Lei de Introdução não são peculiares ao Código Civil, por serem
aplicáveis a este e a quaisquer leis.
(Maria Helena Diniz – 2009)
CONCEITO
“A Lei de Introdução é um conjunto de normas sobre
normas, constituindo um direito sobre direito, um super-
direito, um direito coordenador de direito. Não rege as
relações de vida, mas sim as normas, uma vez que
indica como interpretá-las ou aplicá-las, determinando-lhes
a vigência e eficácia, suas dimensões espácio-temporais,
assinalando suas projeções nas situações conflitivas de
ordenamentos jurídicos nacionais e alienígenas,
evidenciando os respectivos elementos de conexão.
Como se vê, engloba não só o direito civil, mas
também os diversos ramos do direito privado e
público, notadamente a seara do direito
internacional privado. Trata de norma cogente
brasileira, por determinação legislativa da soberania
nacional, aplicável a todas as leis.”
(Maria Helena Diniz)
“Trata-se de um conjunto de normas sobre normas,
visto que disciplina as próprias normas jurídicas,
determinando o seu modo de aplicação e
entendimento no tempo e no espaço. Ultrapassa ela o
âmbito do direito civil, pois enquanto o objeto das leis
em geral é o comportamento humano, o da Lei de
Introdução é a própria norma, visto que disciplina a
sua elaboração e vigência, a sua aplicação no tempo e
no espaço, as suas funções etc. Contém normas de
sobre direito ou de apoio, podendo ser considerada
um Código de Normas, por ter a lei como tema
central.” (Carlos Roberto Gonçalves)
LINDB
• Lei de Introdução propriamente dita (Arts. 1º a 6º)

• Direito Internacional (Arts. 7º a 19)

• Disposições sobre segurança jurídica e eficiência na


criação e na aplicação do Direito Público.
(Arts. 20 a 30)
CONTEÚDO LINDB
Lei de Introdução propriamente dita (Arts. 1º a 6º):

•Início da obrigatoriedade da lei (Art. 1º);


•Tempo de obrigatoriedade da lei (Art. 2º);
•Garantia da eficácia global da ordem jurídica, não
admitindo a ignorância da lei vigente, que a
comprometeria (Art. 3º);
•Mecanismos de integração das normas, quando houver
lacunas (Art. 4º);
• Critérios de hermenêutica jurídica (Art. 5º);
• Direito intertemporal, para assegurar a
certeza, segurança e estabilidade do
ordenamento jurídico-positivo, preservando
as situações consolidadas em que o
interesse individual prevalece (Art. 6º).
Direito Internacional (Arts. 7º a 19):

Direito Internacional Privado brasileiro (Arts. 7º a 17), abrangendo


normas pertinentes:

•À pessoa e à família (Arts. 7º e 11);


•Aos bens (Art. 8º), às obrigações (Art. 9º), à sucessão por morte ou
por ausência (Art. 10), à competência judiciária brasileira (Art. 12);
•À prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro
(Art. 13);
• À prova do direito alienígena (Art. 14);
• À execução de sentença proferida no exterior (Art.
15), à proibição do retorno (Art. 16), aos limites
da aplicação de leis, atos e sentenças de outro
país no Brasil (Art. 17);
• Atos civis praticados, no estrangeiro, pelas
autoridades consulares brasileiras (Arts. 18 e 19).
FUNÇÕES DA LINDB
•Regular a vigência e a eficácia das normas jurídicas (Arts. 1º e
2º), apresentando soluções ao conflito de normas no tempo
(Art. 6º) e no espaço (Arts. 7º a 19);
•Fornecer critérios de hermenêutica (Art. 5º);
•Estabelecer mecanismos de integração de normas quando
houver lacunas (Art. 4º);
•Garantir não só a eficácia global da ordem jurídica, mas
também a certeza, a segurança e estabilidade do ordenamento,
preservando as situações consolidadas em que o interesse
individual prevalece (Art. 6º).
FONTES DO DIREITO

Na concepção gramatical, fonte é origem, gênese, de


onde provém. As chamadas fontes do direito nada
mais são, portanto, do que os meios pelos quais se
formam ou se estabelecem as normas jurídicas.
(Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho)
FONTES FORMAIS, DIRETAS OU
IMEDIATAS DO DIREITO

• Lei
• Analogia
• Costumes
• Princípios Gerais de Direito
FONTES NÃO FORMAIS, INDIRETAS
OU MEDIATAS DO DIREITO

• Doutrina
• Jurisprudência
• Equidade
A LEI
A lei é o objeto da Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro e a principal fonte do direito.

“A exigência de maior certeza e segurança para as


relações jurídicas vem provocando, hodiernamente,
a supremacia da lei, da norma emanada do
legislador, sobre as demais fontes, sendo mesmo
considerada a fonte primacial do direito.”
(Carlos Roberto Gonçalves)
CONCEITO
“A palavra lei é empregada, algumas vezes, em sentido
amplo, como sinônimo de norma jurídica, compreensiva
de toda regra geral de conduta, abrangendo normas
escritas ou costumeiras ou, ainda, como toda norma
escrita, todos os atos de autoridade, como as leis
propriamente ditas, os decretos, os regulamentos etc.
Todavia, em sentido estrito, indica tão somente a norma
jurídica elaborada pelo Poder Legislativo, por meio de
processo adequado.” (Carlos Roberto Gonçalves)
PRINCIPAIS CARACTERISTICAS DA LEI

• Generalidade: dirige-se a todos os cidadãos,


indistintamente. O seu comando é abstrato, não
podendo ser endereçada a determinada pessoa. A lei
deve ser dirigida a um número indeterminado de
indivíduos;
• Imperatividade: impõe um dever, uma conduta aos
indivíduos. A lei é uma ordem, um comando. Quando
exige uma ação, impõe; quando quer uma abstenção,
proíbe;
• Autorizamento: a norma jurídica autoriza que o
lesado pela violação exija o seu cumprimento ou a
reparação pelo mal causado;
• Permanência: a lei deve perdurar até ser revogada
por outra lei;
• Emanação de autoridade competente: de acordo
com as competências legislativas previstas na
Constituição da República (CRFB/88, Art. 97).
CLASSIFICAÇÃO DAS LEIS

Quanto à Imperatividade:

• Cogentes: também denominadas de ordem pública


ou de imperatividade absoluta, são:
 Mandamentais: determinam uma ação;
 Proibitivas: ordenam uma abstenção.
• Não cogentes: também chamadas de dispositivas ou
de imperatividade relativa, não determinam nem
proíbem de modo absoluto determinada conduta,
são:
 Permissivas: permitem que os interessados
disponham como lhes convier;
 Supletivas: quando se aplicam na falta de
manifestação de vontade das partes.
Quanto ao conteúdo do Autorizamento:

•Perfeitas: impõem a nulidade (nulidade ou anulação)


do ato, simplesmente, sem cogitar aplicação de pena;

•Mais que perfeitas: autorizam a aplicação de duas


sanções na hipótese de serem violadas;
• Menos que perfeitas: não acarretam a nulidade ou
anulação do ato, somente impõem uma sanção ao
violador;

• Imperfeitas: não acarretam nenhuma consequência.


Segundo a sua natureza:

•Substantivas: definem direitos e deveres e estabelecem os


seus requisitos e forma de exercício; também chamadas de
materiais, porque tratam do direito material (ex.: Civil);

•Adjetivas: traçam os meios de realização dos direitos, sendo


também denominadas processuais ou formais (ex.:
Processual Civil).
Quanto à sua hierarquia:

•Normas Constitucionais (CRFB/88);


•Leis Complementares;
•Leis Ordinárias;
•Leis Delegadas;
•Medidas Provisórias;
•Decretos Legislativos;
•Resoluções;
•Normas Internas.
Quanto à competência ou extensão territorial:

•Leis Federais: competência da União Federal, votadas pelo


Congresso Nacional, com incidência sobre todo o território
brasileiro ou parte dele (CRFB/88, art. 22);
•Leis Estaduais: aprovadas pelas Assembleias Legislativas, com
aplicação restrita à circunscrição territorial do Estado-Membro a
que pertencem ou a determinada parte dele (CRFB/88, art. 25, §
1º);
•Leis Municipais: editadas pelas Câmaras Municipais, com
aplicação circunscrita aos limites territoriais dos respectivos
Municípios (CRFB/88, art. 30, I a III).
Quanto ao alcance:

•Gerais: são as que se aplicam a todo um sistema de


relações jurídicas, como as do Código Civil, também
chamado de direito comum;

•Especiais: são as que se afastam das regras de direito


comum e se destinam a situações jurídicas específicas ou a
determinadas relações, como as de consumo, as de locação,
as concernentes aos registros públicos etc.
VIGÊNCIA DA LEI NO TEMPO

Vigência: é um critério puramente temporal. Refere-


se, precisamente, ao período de validade da norma,
ou seja, o lapso temporal que vai do momento em
que ela passa a ter força vinculante até a data em
que é revogada ou em que se esgota o prazo
prescrito para sua duração (no caso de normas
temporárias).
(Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho)
As leis também têm um ciclo vital: nascem, aplicam-
se e permanecem em vigor até serem revogadas.
Esses momentos correspondem à determinação do
início de sua vigência, à continuidade de sua vigência
e à cessação de sua vigência.
Início da vigência: com a publicação, e após superado o
período de vacatio legis (se houver), tem-se o início da
vigência da lei, tornando-se obrigatória. Assim, a
vigência da lei se inicia com a publicação (no Diário
Oficial - LINDB, art. 1º) mais a superação do vacatio
legis (se houver), e se estende até a sua revogação ou
até o prazo estabelecido para sua validade. A vigência,
portanto, é uma qualidade temporal da norma: o prazo
com que se delimita o seu período de validade.
O intervalo entre a data da publicação da lei e a sua
entrada em vigência denomina-se vacatio legis.
(Carlos Roberto Gonçalves)

Publicação / Vigência (Lei Complementar nº 95, Art.


8º)
VIGÊNCIA # VIGOR DA LEI NO TEMPO
Vigor: também chamado de “força da norma”, diz
respeito à força vinculante da norma. Não se
confunde nem com a vigência nem com a eficácia,
pelo fato de que, no vigor, o que se verifica é a
realização efetiva de resultados jurídicos. Assim,
uma norma já revogada (ou seja, não mais vigente)
pode continuar sendo aplicada em juízo, se disser
respeito a situações consolidadas sob sua vigência,
fenômeno que se denomina ultratividade.
(Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho)
VIGÊNCIA # VIGOR DA LEI NO TEMPO

É certo, pois, que o termo vigência está relacionado ao


tempo de duração da lei, ao passo que o vigor está
relacionado à sua força vinculante. É o caso, como
assinala Fábio de Oliveira Azevedo, do Código Civil de
1916, “que não tem mais vigência, por estar revogado,
embora ainda possua vigor. Se um contrato foi celebrado
durante a sua vigência e tiver que ser examinado hoje,
quanto à sua validade, deverá ser aplicado o Código
revogado (art. 2.035 do CC/02, na sua primeira parte). Isso
significa aplicar uma lei sem vigência (revogada), mas
ainda com vigor (determinado pelo art. 2.035)”.
(Carlos Roberto Gonçalves)
VALIDADE DA NORMA
Validade: a noção de validade da norma é um aspecto
dogmático fundamental, pois significa a sua identificação
como compatível ao sistema jurídico que integra, sendo um
critério puramente lógico-formal. Tal concepção toma por
base a observância das condições formais e materiais da
produção normativa, estabelecidas pelo próprio ordenamento.
O descumprimento das regras de validade importará no
reconhecimento da inconstitucionalidade ou ilegalidade da
norma estabelecida, considerando-a não pertinente ao
sistema. A validade de uma norma pode se verificar sob duas
óticas:
• Formal: observância das normas referentes a seu
processo de criação (Lei Complementar nº 95/98);

• Material: se houve observância da matéria passível de


normatização (ex.: CRFB/88, Arts. 21 a 24, 29 e 30, 48,
52) por parte das entidades federativas, ou se houve
incompatibilidade de conteúdo.
(Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho)
EFICÁCIA DA LEI
Eficácia: “Já, a eficácia é a qualidade da norma que se refere à
aptidão para a produção concreta de efeitos.” (Pablo Stolze
Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho)
Eficácia: “Vem a ser a qualidade do texto normativo vigente de
poder produzir, ou irradiar, no seio da coletividade, efeitos
jurídicos concretos, supondo, portanto, não só a questão de
sua condição técnica de aplicação, observância, ou não, pelas
pessoas a quem se dirige, mas também de sua adequação em
face da realidade social, por ele disciplinada, e aos valores
vigentes na sociedade, o que conduziria ao seu sucesso.”
(Maria Helena Diniz)
• Do ponto de vista teórico, a eficácia pode ser:
 Social: porque presentes as condições fáticas
exigíveis para seu cumprimento;
 Técnica: porque presentes as condições técnico-
normativas exigíveis para sua aplicação.
(CRFB/88, Art. 7º, I).
•Funções:
 Função de bloqueio: normas que visam a impedir ou
cercear a ocorrência de comportamentos contrários a seu
preceito (normas punitivas e proibitivas);
 Função de programa: normas que visam à realização
de um objetivo do legislador (CRFB/88, Art. 218);
 Função de resguardo: normas que visam a assegurar
uma conduta desejada (CRFB/88, Art. 5º, XXVII).
EFICÁCIA DAS NORMAS
CONSTITUCIONAIS
•Classificação:

Normas de eficácia plena: quando a sua função é


imediatamente concretizada, ou seja, não é
dependente de qualquer outra norma para produzir
efeitos. Deve ser a regra geral dos comandos
normativos (CRFB/88, Arts. 1º; 2º; 14; 15; 44; 45; 77;
132 ...)
Normas de eficácia limitada: quando há necessidade de
outras normas para a realização da função eficacial (CRFB/88,
Arts. 7º, I; 18, § 2º; 33; 88; 90, § 2º; 113; 121 ...)

Normas de eficácia contida: quando pode ser restringida,


sendo plena enquanto não sobrevier a restrição (CRFB/88, Arts.
5º, VII, VIII, XIII; 15, IV; 37, I ...).
REVOGAÇÃO DA LEI
• Revogar: é tornar sem efeito uma norma, retirando sua
obrigatoriedade.

• Revogação: é um termo genérico, que indica a ideia da


cessação da existência da norma obrigatória. Assim sendo,
ter-se-á permanência da lei quando, uma vez promulgada e
publicada, começa a obrigar indefinida-mente até que outra
a revogue. A lei nova começa a vigorar a partir do dia em
que a lei revogada vier a perder sua força. (Maria Helena
Diniz)
ESPÉCIES DE REVOGAÇÃO
• Quanto a sua extensão:

 Ab-rogação: é a supressão total da norma anterior, por ter a


nova lei regulado inteiramente a matéria, ou por haver entre
ambas incompatibilidade explícita ou implícita (ex.: CC, art.
2.045, 1ª parte);

 Derrogação: torna sem efeito uma parte da norma. A


norma derrogada não perderá sua vigência, pois somente os
dispositivos atingidos é que não mais terão obrigatoriedade
(ex.: CC, art. 2.045, 2ª parte).
•Quanto a sua forma de execução:

Expressa: se a norma revogadora declarar qual a lei que está


extinta em todos os seus dispositivos ou apontar os artigos que
pretende retirar (ex.: Lei nº 8.245/91, art. 90, I a VIII);
(Ver art. 9º da Lei Complementar nº 95/98)

Tácita: ou indireta, quando houver incompatibili-dade entre a lei


nova e a antiga, pelo fato de que a nova passa a regular parcial ou
inteiramente a matéria tratada pela anterior. (Maria Helena Diniz)
ANTINOMIAS

• Antinomia: “É a presença de normas conflitantes.


Decorre da existência de duas ou mais normas
relativas ao mesmo caso, imputando-lhe soluções
logicamente incompatíveis.”
(Carlos Roberto Gonçalves)
• Três critérios devem ser levados em conta para a
solução dos conflitos:

 Critério hierárquico (lex superior derogat legi


inferiori): é baseado na superioridade de uma fonte de
produção jurídica sobre a outra;

 Critério cronológico (lex posterior derogat legi priori):


significa que, de duas normas do mesmo nível ou
escalão, a última prevalece sobre a anterior;
 Critério da especialidade (lex specialis derogat legi
generali): a norma especial acresce um elemento
próprio à descrição legal do tipo previsto na norma
geral, tendo prevalência sobre esta, afastando-se
assim o bis in idem, pois o comportamento só se
enquadrará na norma especial, embora também
esteja previsto na geral.
REPRISTINAÇÃO
(LINDB, Art. 2º, § 3º)

“Salvo disposição em contrário”, deixando de


existir a norma revogadora, não se terá o
convalescimento da revogada.
OBRIGATORIEDADE DA LEI
(LINDB, Art. 3º)

A Lei, depois de publicada, decorrido, se houver, o


prazo da vacatio legis, tornar-se-á obrigatória para
todos, sendo inescusável o erro e a ignorância. Uma
vez publicada a lei obrigará a todos, sendo aplicada
tanto aos que a conhecem como aos que não a
conhecem, por ser isso necessário à administração
da justiça. (Maria Helena Diniz)
INTEGRAÇÃO NORMATIVA
(LINDB, Art. 4º)

• Mecanismos destinados a suprir as lacunas da lei:

 Analogia

 Costumes

 Princípios Gerais de Direito


APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO
DAS NORMAS JURÍDICAS

Através da sentença judicial o Estado/Juiz aplica a


norma abstrata ao caso concreto.
Quando o fato é típico e se enquadra perfeitamente no
conceito abstrato da norma, dá-se o fenômeno da
subsunção. Há casos, no entanto, em que tal
enquadramento não ocorre, não encontrando o Juiz
nenhuma norma aplicável à hipótese sub judice. Deve
este, então, proceder à interpretação normativa.
• Interpretar: é descobrir o sentido e o alcance da
norma jurídica.

• Métodos de interpretação: A HERMENÊUTICA é a


ciência da interpretação das leis. Como toda ciência,
tem os seus métodos, os quais se classificam do
seguinte modo:
• Quanto às fontes ou origens:
 Autêntica ou legislativa: é a feita pelo próprio
legislador. Este, reconhecendo a ambiguidade da
norma, vota uma nova lei, destinada a esclarecer a sua
intenção;
 Jurisprudencial ou judicial: é a fixada pelos Tribunais.
(Quanto à sumula vinculante, ver art. 103-A da
CRFB/88 / Lei nº 11.417/2006);
 Doutrinária: é a feita pelos estudiosos e
comentaristas do direito em suas obras: os
jurisconsultos.
• Quanto aos meios:
 Gramatical ou literal: consiste no exame do texto
normativo sob o ponto de vista linguístico, analisando a
pontuação, a colocação das palavras na frase, a sua
origem etimológica etc. É a primeira fase do processo
interpretativo;
 Lógica ou racional: é a que atende ao espírito da lei;
procura-se apurar o sentido e a finalidade da norma, a
intenção do legislador, por meio de raciocínios lógicos;
 Sistemática: parte do pressuposto de que uma lei não
existe isoladamente e deve ser interpretada em conjunto
com outras pertencentes à mesma província do direito;
 Histórica: consiste na pesquisa das circunstâncias que
nortearam a sua elaboração, de ordem econômica, política
e social, bem como do pensamento dominante ao tempo
de sua formação;
 Sociológica ou teleológica: tem por objetivo adaptar o
sentido ou finalidade da norma às novas exigências sociais.
• Quanto aos resultados:

 Declarativa: quando proclama que o texto legal corresponde


ao pensamento do legislador, posto que, algumas vezes, este não
se expressa de modo preciso e diz menos ou mais do que
pretendia dizer;
 Extensiva ou ampliativa: o intérprete conclui que o alcance ou
espírito da lei é mais amplo do que indica o seu texto,
abrangendo implicitamente outras situações;
 Restritiva: quando ocorre o inverso, impondo-se a limitação
do campo de aplicação da lei.
Os diversos métodos de interpretação não operam
isoladamente, não se repelem reciprocamente, mas
se completam. As várias espécies ou técnicas de
interpretação devem atuar conjuntamente, pois
todas trazem sua contribuição para a descoberta do
sentido e alcance da norma do direito.
CONFLITO DAS LEIS NO TEMPO
As leis são elaboradas para, em regra, valerem para o futuro.
Quando a lei é modificada por outra e já haviam relações
jurídicas na vigência da lei anterior, pode instaurar-se o
conflito das leis no tempo. A dúvida dirá respeito à aplicação
ou não da lei nova às situações anteriormente constituídas.

“Para solucionar tal questão, são utilizados dois critérios: o


das disposições transitórias e o da irretroatividade das
normas.” (Carlos Roberto Gonçalves)
•Critério das disposições transitórias:

As disposições transitórias são elaboradas pelo legislador no


próprio texto normativo, destinadas a evitar e a solucionar
conflitos que poderão emergir do confronto da nova lei com
a antiga, tendo vigência temporária. O Código Civil de 2002,
por exemplo, no livro complementar “Das disposições finais e
transitórias” (Arts. 2.028 a 2.046), contém vários dispositivos
com esse objetivo, sendo de se destacar o art. 2.028, que
regula a contagem dos prazos quando reduzidos pelo novo
diploma, e o art. 2.035, concernente à validade dos negócios
jurídicos constituídos antes de sua entrada em vigor.
•Critério da irretroatividade das normas:
Irretroativa é a lei que não se aplica às situações constituídas
anteriormente. É um princípio que objetiva assegurar a certeza,
a segurança e a estabilidade do ordenamento jurídico-positivo,
preservando as situações consolidadas em que o interesse
individual prevalece.

A irretroatividade é a regra, mas admite-se a retroatividade


em determinados casos. A Constituição Brasileira (CRFB/88,
art. 5º, XXXVI) e a LINDB (art. 6º) adotaram o princípio da
irretroatividade das leis como regra e o da retroatividade como
exceção.
Assim, como regra, aplica-se a lei nova aos casos
pendentes e aos futuros, só podendo ser retroativa
para atingir fatos já consumados, pretéritos, quando:
(a) não ofender o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada; e (b) quando o legislador
expressamente mandar aplicá-la a casos pretéritos.
CONFLITO DAS LEIS NO TEMPO

Ato Jurídico Perfeito: é o já consumado segundo a lei
vigente ao tempo em que se efetuou (LINDB, art. 6º, § 1º),
produzindo seus efeitos jurídicos, uma vez que o direito
gerado foi exercido;

Direito Adquirido: é o que já se incorporou definitivamente
ao patrimônio e à personalidade de seu titular, não
podendo lei nem fato posterior alterar tal situação jurídica
(LINDB, art. 6º, § 2º);

Coisa Julgada: é a imutabilidade dos efeitos da sentença,
não mais sujeita a recursos (LINDB, art. 6º, § 3º).
EFICÁCIA DA LEI NO ESPAÇO
Os artigos 7º a 19 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
trazem regras de Direito Internacional.
•Direito Internacional Privado brasileiro (Arts. 7º a 17), abrangendo normas
pertinentes à pessoa e à família (Arts. 7º e 11), aos bens (Art. 8º), às
obrigações (Art. 9º), à sucessão por morte ou por ausência (Art. 10), à
competência judiciária brasileira (Art. 12), à prova dos fatos ocorridos em
país estrangeiro (Art. 13), à prova do direito alienígena (Art. 14), à
execução de sentença proferida no exterior (Art. 15), à proibição do
retorno (Art. 16), aos limites da aplicação de leis, atos e sentenças de outro
país no Brasil (Art. 17);
•Atos civis praticados, no estrangeiro, pelas autoridades consulares
brasileiras (Arts. 18 e 19).
DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO

“Na realidade, o direito deve ser visto como um todo,


sendo dividido em direito público e privado somente
por motivos didáticos. A interpenetração de suas
normas é comum, encontrando-se, com frequência, nos
diplomas reguladores dos direitos privados as atinentes
ao direito público e vice-versa. Do direito civil, que é o
cerne do direito privado, destacaram-se outros ramos,
especialmente o direito comercial, o direito do trabalho,
o direito do consumidor e o direito agrário.”
(Carlos Roberto Gonçalves)
DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO
DIREITO PRIVADO DIREITO PÚBLICO
Direito Civil Direito Constitucional
Direito Comercial Direito Administrativo
Direito Agrário Direito Tributário
Direito Marítimo Direito Penal
Direito do Trabalho Direito Processual
Direito do Consumidor Direito Internacional
Direito Aeronáutico Direito Ambiental
UNIFICAÇÃO DO DIREITO PRIVADO
Desde o final do século XIX se observa uma tendência para unificar
o direito privado e, assim, disciplinar conjunta e uniformemente o
direito civil e o direito comercial.
A melhor solução, outrossim, não parece ser a unificação do
direito privado, mas, sim, a do direito obrigacional. Seriam, assim,
mantidos os institutos característicos do direito comercial, os
quais, mesmo enquadrados no direito privado unitário, manteriam
sua fisionomia própria, como têm características peculiares os
princípios inerentes aos diversos ramos do direito civil, no direito
de família, das sucessões, das obrigações ou das coisas.
Em realidade, pois, o novo Código Civil unificou as obrigações civis
e mercantis, ao trazer para o seu bojo a matéria constante da
primeira parte do Código Comercial (CC, art. 2.045), procedendo,
desse modo, a uma unificação parcial do direito privado. (Carlos
Roberto Gonçalves)
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
DIREITO CIVIL é o direito comum, que rege as
relações entre os particulares. Disciplina a vida das
pessoas desde a concepção – e mesmo antes dela,
quando permite que se contemple a prove eventual
(CC, Art. 1.799, I) e confere relevância ao embrião
excedentário (CC, Art. 1.597, IV) – até a morte, e
ainda depois dela, reconhecendo a eficácia post
mortem do testamento (CC, Art. 1.857) e exigindo
respeito à memória dos mortos (CC, Art. 12,
parágrafo único). (Carlos Roberto Gonçalves)
Costuma-se dizer que o Código Civil é a
Constituição do homem comum, por reger as
relações mais simples da vida cotidiana, os
direitos e deveres das pessoas, na sua qualidade
de esposo ou esposa, pai ou filho, credor ou
devedor, alienante ou adquirente, proprietário ou
possuidor, condômino ou vizinho, testador ou
herdeiro etc. Toda a vida social, como se nota,
está impregnada do direito civil, que regula as
ocorrências do dia a dia. (Carlos Roberto
Gonçalves)
Devido à complexidade e ao enorme desenvolvimento das relações
da vida civil que o legislador é chamado a disciplinar, não é mais
possível enfeixar o direito civil no respectivo Código. Muitos direitos e
obrigações concernentes às pessoas, aos bens e suas relações
encontram-se regulados em leis extravagantes, que não deixam de
pertencer ao direito civil, bem como à própria Constituição Federal.
É ele, portanto, bem mais do que um dos ramos do direito privado,
pois encerra os princípios de aplicação generalizada, que se
projetam em todo o arcabouço jurídico, não restringindo-se à
matéria cível. Nele se situam normas gerais, como as de
hermenêutica, as relativas à prova e aos defeitos dos negócios
jurídicos, as concernentes à prescrição e decadência etc., institutos
comuns a todos os ramos do direito.
(Carlos Roberto Gonçalves)
A CODIFICAÇÃO
No período colonial vigoravam no Brasil as Ordenações Filipinas (1603
...). Mesmo com a Independência (1822), a legislação portuguesa
continuou sendo aplicada entre nós, mas com a ressalva de que
vigoraria até que se elaborasse o Código Civil. A Constituição de 1824
referiu-se à organização de um Código Civil “baseado na justiça e na
equidade”, sendo que em 1865 essa tarefa foi confiada a Teixeira de
Freitas, que já havia apresentado, em 1858, um trabalho de
consolidação das leis civis. O projeto então elaborado, denominado
“Esboço do Código Civil”, continha cinco mil artigos e acabou não
sendo acolhido, após sofrer críticas da Comissão Revisora. Influenciou,
no entanto, o Código Civil Argentino, do qual constitui a base. (Carlos
Roberto Gonçalves).
•Várias outras tentativas foram feitas, mas somente após a
Proclamação da República, com a indicação de Clóvis Beviláqua, foi o
projeto de Código Civil por ele elaborado e, depois de revisto,
encaminhado ao Presidente da República, que o remeteu ao
Congresso Nacional, em 1900. Aprovado em janeiro de 1916, entrou
em vigor em 1º de janeiro de 1917.

•O CÓDIGO CIVIL DE 1916: continha 1.807 artigos e era antecedido


pela Lei de Introdução ao Código Civil. Possuía uma Parte Geral, na
qual constavam conceitos, categorias e princípios básicos aplicáveis a
todos os livros da Parte Especial e que produziam reflexos em todo o
ordenamento jurídico.

•O CÓDIGO CIVIL DE 2002: entrou em vigência, após um ano de


vacatio legis, em 11 de janeiro de 2003.
ESTRUTURA E CONTEÚDO DO CÓDIGO CIVIL
2002
• O novo Código manteve a estrutura do Código Civil de 1916,
seguindo o modelo germânico preconizado por Savigny,
colocando as matérias em ordem metódica, divididas em uma
Parte Geral e uma Parte Especial, num total de 2.046 artigos.

PARTE GERAL PARTE ESPECIAL


Das Pessoas Do Direito das Obrigações
Dos Bens Do Direito de Empresa
Dos Fatos Jurídicos Do Direito das Coisas
Do Direito de Família
Do Direito das Sucessões
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO CC/2002
O Código Civil de 2002 tem, como princípios básicos, os da:

SOCIALIDADE: reflete a prevalência dos valores coletivos sobre os
individuais, sem perda, porém, do valor fundamental da pessoa humana.
Com efeito, o sentido social é uma das características mais marcantes do
novo diploma, em contraste com o sentido individualista que condiciona o
Código Beviláqua;

ETICIDADE: funda-se no valor da pessoa humana como fonte de todos os
demais valores. Prioriza a equidade, a boa-fé, a justa causa e demais
critérios éticos. Confere maior poder ao juiz para encontrar a solução mais
justa ou equitativa;

OPERABILIDADE: leva em consideração que o direito é feito para ser
efetivado, executado. Por essa razão, o novo Código evitou o complicado,
afastando as perplexidades e complexidades. Pode ser visualizado sob dois
prismas: o da simplicidade e o da efetividade/concretude (Carlos Roberto
Gonçalves)

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