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Teorias Psicanalíticas

Freud
4 - Teorias Psicanalíticas
4.1 - Sigmund

Freud

 Judeu, nascido em Freiberg (cidade


católica e anti-judaica), cidade da
Moravia – actual república Checa-, em
1856 e morreu em 1939, Londres.

 Seu pai tinha 40 anos e dois filhos de


um 1º casamento quando casou com
sua mãe, mulher com menos 20 anos.

Fernando Sampaio 08/25/2020 2


 O pequeno Sigmundo foi confiado a uma ama
católica que o levava à missa.
 Freud tinha péssimas recordações deste período
católico forçado.
 A ama foi presa por fraude e a perda da ama deve
ter afectado Freud.

Fernando Sampaio 08/25/2020 3


 Aos 3 anos a família desloca-se para Leipzig e pouco
depois (1860) para Viena. O ambiente anti judaico e a
economia não lhes foi favorável.
 Durante o tempo escolar frequentou a sinagoga e aí estudou
a Torah
 Em adulto dizia-se um “empedernido ateu” e tornou-se
fortemente anti-católico (os seus inimigos não eram os
nazis mas os católicos)

Fernando Sampaio 08/25/2020 4


 Tentou o direito, gostava de filosofia e era amante
da música
 Mas acabou por formar-se em medicina, em Viena,
em 1881.
 Especializou-se em neuropatologia.
 Bolseiro em Paris, foi discípulo de Charcot e teve
como colega Janet

Fernando Sampaio 08/25/2020 5


 Foi importante a sua relação com Breuer, médico
vienense com quem trabalhou e partilhou estudos
sobre a histeria.
,

 Emmy von N (Dora) foi uma referência importante


pois deu a sugestão da escuta e associação de
ideias/falar livremente –método catártico.
 Ana O foi outra cliente de referência nos estudos
sobre histeria
Fernando Sampaio 08/25/2020 6
 Psicanálise (psicologia das profundidades)
 A “descoberta” do inconsciente e a primeira tópica

- Freud coloca a hipótese de um inconsciente como realidade


psíquica a partir do caso Dora –
- Freud verificou que havia conteúdos psíquicos -os sintomas
por ex., que não eram captáveis pela consciência, e que só
se tornavam acessíveis a esta depois de superadas certas
resistências.
- Isso levo-o a supor a existência de um lugar psíquico que
fosse capaz de conter esses conteúdos separados da
consciência (conteúdo latente)

Fernando Sampaio 08/25/2020 7


E que conteúdos são esses? Os representantes da pulsão,
fantasias, produtos do desejo, o recalcado
(particularmente o recalcado infantil)

Como se forma o inconsciente? forma-se por dissociação,


através do primeiro recalcamento infantil, do sistema
pre-consc/consciente

Como aceder ao inconsciente? Os sonhos, o chiste, o


lapso, o acto falhado, a associação de ideias…
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 O sintoma é uma formação de compromisso: efeito de um
conflito entre o desejo pulsional e as defesas impostas pelo
interdito, pela realidade;
 o sujeito sofre duplamente: não realiza o desejo e castiga-se
por ter tido o desejo (culpa). A punição surge como
satisfação.

Fernando Sampaio 08/25/2020 9


As seis principais teorias freudianas

a) - O aparelho psíquico:
1ª tópica - metáfora de uma aparelho óptico
 Os três lugares psíquicos:
- Consciente
- Pré-consciente
- Inconsciente
O inconsciente é constituído pelo recalcado.
Funciona segundo o princípio do prazer e em energia livre.
(Dois princípios: do prazer e da realidade)

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 O pré-consciente é tampão à pressão do inconsc, é
uma instância crítica ou defensiva;
 O consciente trata os traços mnésicos que conseguem
transpor o pré-consciente e realiza a negociação com a
realidade.
 A percepção é uma das componentes do consciente
que funciona segundo o princípio da realidade e
segundo a energia ligada.
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2ª tópica – o modelo estrutural (1923)
Ego, Id, Superego.

O Id (isso)
 Totalmente inconsciente
 É o pólo pulsional (reservatório de energia psíquica) da
personalidade.
 Tem como conteúdos o recalcado, as experiências psíquicas
das pulsões, fantasias.
 Entra em conflito com as outras duas instâncias.
 É a instância mais arcaica, originária e psíquica.
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O Ego

 Forma-se a partir do Id e do contacto deste com a


realidade - com a primeira frustração, resultando da
consciência-percepção.
 O Ego não é dono na sua própria casa, pois a sua
função é gerir a conflitualidade entre o Id, Superego e
a realidade.
 A saúde ou a patologia mental estará então na força
ou na fragilidade do Ego.
 Dispões para isso de defesas
Fernando Sampaio 08/25/2020 13
O Superego

 Exerce uma função autoritária e crítica sobre o Ego.


 Visa proibir a realização e a tomada de consciência do
desejo.
 É correlativo do complexo de Édipo, forma-se da
interiorização ou identificação aos interditos parentais
(incesto/castração), tornando-se uma voz interna. (Instância
moral)

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b) teoria pulsional

 A pulsão é num conceito limite entre o psíquico e o somático.


 Diferente de instinto, que é inato, consiste numa pressão ou
força que faz tender o organismo para um alvo (a pulsão tem
origem numa excitação corporal).
 O seu alvo é suprimir o estado de tensão (tensão zero)
 Para isso tem o objecto que permite alcançar esse objectivo a
que está ligado o prazer.

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 1ª teoria pulsional

- pulsões sexuais, que correspondem à procura do desejo, do


prazer, gozo, reprodução; são chamadas libido

- e pulsões de auto-conservação ou pulsões do Ego impelem o


indivíduo à satisfação das suas necessidades vitais para conservação
da vida.
 2ª teoria pulsional (1920):
- pulsões de vida (Eros: pulsões sexuais e pulsões de auto-
conservação)
- e pulsões de morte (Thanatos)-destrutividade
Fernando Sampaio 08/25/2020 16
c) A sexualidade infantil

(três ensaios sobre a teoria da sexualidade)–


 A partir dos casos clínicos – recordações/fantasias de
violação a que estão ligados os sintomas- e da sua própria
análise Freud dá-se conta da existência de uma sexualidade
infantil.
 Não depende do prazer genital, mas tem fontes de
excitação e prazer de natureza polimorfa.
 Essas fontes estão ligadas à satisfação das necessidades
básicas.

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 Depreende-se daqui a importância da infância
na estruturação mental, e o papel das
experiências afectivas;
 A sexualidade (libido) organiza-se em fases
evolutivas: oral, anal e genital;
 e a ligação entre sexualidade e psiquismo.

Fernando Sampaio 08/25/2020 18


d) O Édipo

 O mito dá conta da realização do desejo, tal como o sonho.


 Dá conta das relações interpessoais e da sua estruturação na
história infantil.
 Isto é, refere-se à organização dos desejos amorosos e
hostis que a criança sente relativamente aos pais: desejo
sexual pelo membro do casal de sexo oposto e desejo de
morte (ódio) membro do casal do mesmo sexo.

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O Édipo resolve-se positivamente pela identificação ao
pai do mesmo sexo e pela aceitação do adiamento do
prazer (renúncia ao incesto e integração do interdito).

Pode haver resolução negativa: identificação ao sexo


oposto.

Resolução positiva: aceitação da lei;


incesto: violação da lei
Fernando Sampaio 08/25/2020 20
e) O narcisismo –

 primário ou auto-erotismo (convergência das pulsões


parciais sobre o ego, importante para a auto-estima)
 Narcisismo secundário (componentes patológicas: doenças
orgânicas, hipocondria, psicose, escolha de objecto
narcísico, homossexualidade- escolha de objecto não
segundo o modelo da mãe, mas segundo o próprio),
narcisismo feminino.

Fernando Sampaio 08/25/2020 21


f) Angústia e mecanismos de defesa

 O lugar da angústia é o Ego.


 A angústia é suscitada por uma necessidade
excessiva ou é produzida pelo Id, pela pressão de um
fantasma (castração por ex.) que produz situação de
perigo no Ego.
 A primeira angústia é a do nascimento.
Fernando Sampaio 08/25/2020 22
 Os mecanismos de defesa são o recurso do ego
contra as exigências pulsionais, tendo como efeito a
protecção contra a angústia

Defesas: recusa, clivagem, regressão, recalcamento,


formação reactiva, denegação, projecção,
introjecção, idealização, sublimação...

Fernando Sampaio 08/25/2020 23


 Ainda dois conceitos:

- transferência (repetição, na análise e fora dela,


de atitudes emocionais inconscientes adquiridas na
infância, nomeadamente na relação com os pais)

- e contra-transferência (resposta a essas atitudes


pelo analista)

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Freud e a religião
Atitude pessoal de Freud face à religião
 Judeu de nascimento, considerava-se incrédulo,
“profundamente ateu”.
 A religião, sobretudo a religião católica (o facto de ter
sido levado à missa pela ama e o anti-judaismo e
Freiberg e Viena) provocou-lhe aversão e hostilidade.
 Considerava que os seus inimigos não eram os nazis,
mas a Igreja Católica.

Fernando Sampaio 08/25/2020 25


 Considerava os rituais católicos obsessivos.
 Odiar toda a espécie de rituais.
 Quando estava para se casar ainda pensou tornar-
se protestante para fugir aos complexos rituais
judaicos,
 mas aprendeu as orações rituais judaicas e
declamou-as no dia do seu casamento

Fernando Sampaio 08/25/2020 26


 Freud era conhecedor do Antigo e do Novo Testamento
 Estudou história comparada das religiões, bem como a
antiguidade clássica e seus mitos.
 Para além de outras pequenas referências, tratou-o em
cinco obras:
Totem e Tabu (1912),
Psicologia de massas e a análise do Ego (1921),
O futuro de uma ilusão (1927),
O mal estar da cultura (1930)
e Moisés e o monoteísmo (1939).

Fernando Sampaio 08/25/2020 27


 Aplica o princípio de evolução à religião

 À semelhança de Darwin tinha a ideia de que a religião se


desenvolveu desde a antiguidade de forma paulatina e
distintamente de religião para religião

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A religião como neurose

 Como cientista e interessado em conhecer o


psiquismo humano, Freud interessou-se pelo
fenómeno religioso
 Fez um pequeno trabalho em 1907 sobre psicologia
da religião (“Actos obsessivos e práticas religiosas”)
onde apontou semelhanças entre os rituais religiosos
e os rituais neuróticos.

Fernando Sampaio 08/25/2020 29


 A religião como neurose

 Nos dois se verifica a manifestação de características de


uma e outra realidade:
 uma atenção escrupulosa aos detalhes, aos pormenores;

 renúncia à realização do desejo;


 são realizados fora do contexto da vida normal;
 não podem ser interrompidos;
 fazem esquecer a ansiedade e a culpa
A religião como neurose

 Nos sujeitos religiosos verificam-se uma forte tentação,


sentimentos de culpa e um desejo ansioso de retribuição divina.
Situação parecida na neurose.
 A supressão destes sentimentos de culpa é temporária,
necessitando de actos de reparadores (penitência na religião) de
tempos a tempos;
 A realizar actos proibidos (pecado na religião) leva a uma
situação de compromisso que é acompanhada de gratificação
 A religião pode ser vista, portanto como uma neurose obsessiva:
se a neurose é individual a religião é neurose colectiva
Fernando Sampaio 08/25/2020 31
“Psicologia de massas e análise do EU” (1921)

 Nesta obra Freud estuda o comportamento das


multidões e o seu processo de identificação ao líder.
Neste estudo diz que o indivíduo compensa as
limitações criadas pela vivência em sociedade com a
ilusão de sentir-se querido pelo líder

Fernando Sampaio 08/25/2020 32


“Psicologia de massas e análise do EU” (1921)

 Aplica as conclusões do seu estudo à integração do crente na


Igreja: a comunhão e identificação com Cristo na Igreja Católica.
 Defende que esta identificação a Cristo na religião tem uma
dupla função compensatória:
- o prazer neste mundo pela satisfação com o líder
- e o prazer no outro.
 Defende que, ao mesmo tempo, a agressividade é transferida
para os de fora do grupo social ou eclesial, para os outros
(Como compreender então, nesse caso, o amor/perdão aos
inimigos e carrascos?)
A religião e o
o complexo de Édipo

 Freud defende que a religiosidade dá conta do complexo


de Édipo e as diferenças religiosas reflectem apenas as
diferenças de estruturação do dito Complexo.

Fernando Sampaio 08/25/2020 34


A religião e o complexo de Édipo

 A religião explica-se pela necessidade de protecção e


refúgio

O adulto repete o modelo de criança:


- regressão à situação infantil, à dependência, ao
desejo de protecção

Neurose
Fernando Sampaio 08/25/2020 35
A religião e o complexo de Édipo

 A religião é marcada, por isso, pela obediência cega e pela


submissão a Deus – isto é, ao Pai Edipiano idealizado
 Compreende-se então o medo e a culpa, como
consequência da violação da lei do Pai / mandamentos de
Deus, interditos morais
 Reparação: ascese, penitência, rituais…
(sintomas da neurose religiosa)
A religião e o complexo de Édipo

Deus: o pai idealizado, poderoso e omnipotente

 A ideia de um Deus pessoal não corresponde objectivamente a


nada. É apenas a projecção do pai idealizado da infância.
- Inicialmente a criança (desamparo) necessita de protecção e
da satisfação das necessidades, situação que conduz à
idealização do pai. Mais tarde, face a situação de crise com a
figura paterna e aos sentimentos de desamparo correspondentes,
encontra (elabora pela educação) uma figura poderosa e
omnipotente (Deus) onde colocar os seus desejos de protecção:
Deus não passa da idealização e projecção do pai edipiano

Fernando Sampaio 08/25/2020 37


A religião e o complexo de Édipo

Deus: o pai idealizado, poderoso e omnipotente

 A religião é, então, uma projecção do mundo interno.


Os mitos do paraíso, o pecado do 1º homem, Deus,
o bem e o mal…
Tudo podem ser explicados desta forma.
“Futuro de uma ilusão”

 A religião tem origem na insegurança sentida face às


forças da natureza (perigos, fome, destruição), que põem
a nu a radical situação de desamparo, e interiormente
face aos instintos agressivos e eróticos.
 A religião surge numa fase primitiva da humanidade.
Num momento em que o homem não consegue usar a
razão no confronto com forças externas e internas, tendo
de recorrer a forças afectivas para as controlar ou
recalcar
Fernando Sampaio 08/25/2020 39
“Futuro de uma ilusão”

 A incapacidade e impotência face às forças


incompreensíveis, perigosas e impossíveis de controlar
da natureza levam (sentimento de desamparo) o homem
a desenvolve a “ilusão” da existência de um Deus todo
poderoso.

 Mas essa ilusão é construída a partir da sua própria


experiência infantil, da situação edipiana

Fernando Sampaio 08/25/2020 40


“Futuro de uma ilusão”

 A incapacidade, impotência , incompreensão e os


temores face às forças naturais levam a uma regressão
ao tempo em que sentia protecção no pai.
 Este era considerado como poderoso, omnipotente e
omnisciente
 O amor e protecção podiam ser conquistados pela
obediência e pela não transgressão das suas
proibições.

Fernando Sampaio 08/25/2020 41


“Futuro de uma ilusão”

 A religião é, então, uma repetição da experiência de


criança e, por isso, uma ilusão
 O homem enfrenta as forças ameaçantes do mesmo
modo que a criança: pela confiança, admiração e temor
do pai.
 Isto é, é o homem que cria deus como projecção do pai
edipiano, idealizado, poderoso e omnipotente

Fernando Sampaio 08/25/2020 42


“Futuro de uma ilusão”

 Freud quer denuncia a ilusão ou irrealidade do


conceito teísta: Deus é uma ilusão produzida
pelo desejo do homem, pelo desejo de proteção

Fernando Sampaio 08/25/2020 43


“Futuro de uma ilusão”

 Freud deduz, então, que a religião é um perigo porque:

 ensina as pessoas a acreditar numa ilusão;


 santifica e perpetua más instituições humanas que
alienam (alienaram) a história;
 proibe o pensamento crítico e, desta forma, é responsável
pelo empobrecimento da inteligência (cultura)
 coloca a moralidade em terrenos pouco consistentes
“Futuro de uma ilusão”

 Se a validade das normas éticas assenta no facto de serem


provenientes dos mandamentos de Deus, o futuro da ética
pode perdurar, ou não, consoante persista, ou não, a crença
em Deus.
 Uma vez que Freud considera que a religião está em
decadência, vê-se forçado a concluir que a continuidade da
associação entre religião e ética levará à destruição dos
nossos valores morais

Fernando Sampaio 08/25/2020 45


“Futuro de uma ilusão”
Em conclusão:
 Os perigos da religião são os seus próprios valores e ideais
porque são ameaçadores: a razão, a mitigação do
sofrimento e a moral

 Freud acredita no amor fraterno (fraternidade entre os


homens), na liberdade e na verdade e é em nome da razão e
da verdade que faz a crítica à religião

Fernando Sampaio 08/25/2020 46


“Futuro de uma ilusão”

 Se o homem abandonar a ilusão de um Deus


paternal, se encarar a sua solidão e insignificância
no universo, será como uma criança que
abandonou a casa do pai (e o que faz com isso?)

 O objectivo do desenvolvimento humano reside,


então, na superação desta fixação infantil e na
construção do homem racional e científico
Fernando Sampaio 08/25/2020 47
“Futuro de uma ilusão”

 O homem que se desfez da ilusão teísta tem de se


educar a si próprio para enfrentar a realidade.
 Contará consigo próprio apenas e aprenderá a usar os
seus recursos.
 Emancipado e livre ( de Deus - da autoridade que
ameaça e protege) fará uso do poder da razão e
compreenderá objetivamente o mundo e qual o seu papel.

Fernando Sampaio 08/25/2020 48


“Futuro de uma ilusão”

 Só perdendo a condição de criança, emancipando-se da


ilusão de Deus - dependência e temor da autoridade - é
que chegará à plena maturidade e poderá arriscar
pensar por si próprio, arriscar a liberdade.

Fernando Sampaio 08/25/2020 49


“Futuro de uma ilusão”

 Em conclusão: o homem necessita de se defender das


forças avassaladoras da natureza que o submetem a
perigos constantes;
 precisa de se defender dos perigos internos - das
pulsões agressivas e eróticas para viver em sociedade.
 Constrói, por isso, a ilusão de um Deus todo poderoso
e protector e elabora interditos morais.
 Procura agradar a Deus para obter a sua protecção.
Abdica, por isso, do ódio e da rivalidade
“Futuro de uma ilusão”

 Necessita de se libertar da ilusão teista em nome da razão,


da verdade e da liberdade
 A religião, por isso, não passa:

- de uma neurose que perpetua a dependência e a


submissão acrítica da infância
- e de uma ilusão que dá ao Homem o sentimento falso de
ser protegido do seu desamparo constitutivo.
 Tudo isso só pode ser ultrapassado (neurose e ilusão) pelo
progresso científico da humanidade onde se dê a vitória
social e cultural da razão e da verdade
Fernando Sampaio 08/25/2020 51
Totem e tabu –
A teoria sobre a origem da religião
 A religião mais primitiva é o totemismo
 Vai à história das religiões e junta a ideia de evolução
 As tribos mais antigas tinham um antepassado comum (o pai
da tribo). É representado por um objecto –o Totem-, que
representa um animal - considerado sagrado e protector da
tribo (espírito do antepassado) que não pode ser morto.
 Freud associa o totemismo ao complexo de Édipo, afirmando que
este permanece presente em todas as religiões
Fernando Sampaio 08/25/2020 52
Totem e tabu –

 Origem
A horda primitiva era dominada por um macho poderoso, violento e
ciumento que guardava as mulheres para si, matando os rivais bem
como os próprios filhos.
Um dia os irmãos juntaram-se, mataram o pai e comeram-no
(identificação) e apoderaram-se das mulheres (mães).
O resultado foi o caos e a culpabilidade.
Como superação do caos e reparação resultou a reposição simbólica do
pai através do Totem e dos interditos:
- “não matar”
- proibição do incesto: renúncia à posse das mulher/mãe
Fernando Sampaio 08/25/2020 53
Totem e tabu –

 O remorso e a culpa são temporariamente suspensos quando se


realiza a refeição totémica - o animal totémico é comido.
 Faz eco do antepassado comum (o pai) morto e comido pelos
irmãos para se apoderarem do seu poder (matar o pai para
possuir a mãe ).
 A morte do animal introduz a culpa e leva à criação dos interditos
e tabus (não matar o animal totémico - o pai; interditos de ordem
sexual. Faz eco da interdição dos desejos edipianas.)
 Violação é severamente punida – verifica-se aqui a presença de
um pensamento omnipotente e mágico. Verifica-se ainda a
ambivalência edipiana: Culpa e interditos / morte do Totem (pai)
Fernando Sampaio 08/25/2020 54
Totem e tabu –

 A Eucaristia cristã, segundo Freud, torna presente a antiga


refeição totémica:
- o cristianismo vive a culpa originada na morte do Pai
- o sacrifício de Cristo realiza a reconciliação com Deus:
expiação do crime da morte do pai – Patricídio.
- Eucaristia – corpo e sangue – celebra esse
acontecimento fazendo eco da refeição totémica.

Fernando Sampaio 08/25/2020 55


Totem e tabu –

 A ideia totémica tem subjacente a ideia da evolução: aponta


três fases de evolução:
- fase do animismo (narcisismo infantil), fase do pensamento
omnipotente e mágico (basta pensar e as coisas acontecem)
- a fase das religiões (libido voltada para o exterior)
- e a fase científica (renúncia ao princípio do prazer)
substituição da ilusão religiosa pela razão e pelo princípio da
realidade.

Fernando Sampaio 08/25/2020 56


Moisés e monoteísmo

 Editou esta obra perto do fim da sua vida como


uma espécie de testamento
 Hesitou em editar por considerar que as
evidências históricas eram insuficientes
 Freud aplica à religião judaica a teoria totémica
e a teoria edipiana
Fernando Sampaio 08/25/2020 57
Moisés e monoteísmo

 Freud especula sobre a origem do Judaísmo


 Moisés seria egípcio de uma família aristocrata, de altos
oficiais ou do clero
 Seria membro do grupo de suporte ao faraó Ikhnaton que
impôs o monoteísmo com a adoração ao deus sol (Aton)
Moisés e monoteísmo

 Com a morte do Faraó e o retorno aos anteriores deuses,


Moisés desapontado voltou-se para os Judeus
 Instruiu-os na religião de Aton, introduziu o costume egípcio da
circuncisão e com a ajuda dos seus seguidores levitas retirou-
os pacificamente do Egipto
 Incapazes de suportar a elevada espiritualização da nova
religião, os Judeus revoltaram-se contra o seu líder tirânico
(Moisés) e mataram-no no deserto.
Moisés e monoteísmo

 A memória de Moisés e seus ensinamentos foram


preservados pelos levitas e várias gerações mais tarde as
diversas tríbus aceitaram a nova religião e dirigiram os seus
louvores para o Deus Javé, um deus local, ligado ao fogo e
sanguinário.
 Nomearam como Moisés o genro do sacerdote medianita
Jetro. A circuncisão foi mantida, Javé tornou-se o libertador
do Egipto e foram introduzidas as lendas de Abraão, Isac e
Jacob fazendo crer que Javé era o Deus dos antepassados
Moisés e monoteísmo

 Tal como acontece com o recalcamento infantil também o


judeus recalcaram a morte de Moisés e a sua origem.
 A figura de Moisés tornou-se dominante, voltaram-se para
Javé como o todo poderoso, criaram a ideia de terem sido
escolhidos por Ele, criaram a proibição de fazer imagens de
Deus
 Evoluíram intelectualmente e renunciaram ao desejo
Moisés e monoteísmo

 A morte de Moisés da conta da morte do pai totémico


 O remorso pela morte de Moisés fez nascer a ideia da vinda
de um Messias, que dá conta do retorno do Pai morto.
 Os Judeus recusaram reconhecer esse retorno em Cristo e,
tal como os cristãos, carregam um enorme peso de culpa do
parricídio que acabou por levar ao ascetismo e a um forte
peso moral
Conclusão
 Valorização crítica da ideias de Freud

 A psicanálise permite uma análise aprofundada da


religião e olhar a experiência religiosa a partir do
desenvolvimento da personalidade do sujeito,
podendo ser destacada a origem patológica de
determinadas experiências de fé.

Fernando Sampaio 08/25/2020 63


Conclusão

 Há modos de educação religiosa que


direccionados para determinados tipos de
obediência, conduzem à submissão, mantêm
a imaturidade
 Permite fazer um estudo das dimensões
patológicas da religião. Há pessoas que, sob a
influencia da religião, adoecem (perversão da
religião, uso da religião para outros fins…)
Conclusão

 Uma imagem de Deus ligada à figura paterna e suas vicissitudes


(religião masculina/paterno)
 Destaca a relação entre religião e culpabilidade
 Impõe uma purificação da vivência religiosa, pondo a nu as
motivações profundas e a necessidade de verificar e libertar suas
expressões da imaturidade e da patologia
 Realça a importância da religião na vida do sujeito
 Põe a nu o facto de que a religião pode apoiar (ou ser fonte de) o
poder, a opressão e desviar o olhar de situações escandalosas.

Fernando Sampaio 08/25/2020 65


Conclusão
 Põe na religião a origem de três grandes males: a manutenção da
imaturidade humana –as crianças devem libertar-se dos progenitores
e tornarem-se autónomas, a religião mantém os esquemas de
infância;
 repressão do pensamento desejoso, impedindo o conhecimento da
realidade que lhe está subjacente e conduzindo deste modo à ilusão,
ópio;
 a religião é uma cultura imposta que se equipara a uma enfermidade
psíquica, a uma neurose.
 O homem fica reduzido à expressão da libido, dominado pela pulsão:
que liberdade e responsabilidade?

Fernando Sampaio 08/25/2020 66


Conclusão

 Sujeito aos impulsos de segurança, por um lado, e de


satisfação do desejo, por outro, que espaço fica para a
compreensão religiosa do homem?
 A religião é avaliada de forma imparcial e redutora,
justificando-se esta avaliação na história pessoal de
Freud, desde a infância, e no seu positivismo militante,
ideológico.
 Destaca a inter-influência entre religião e cultura, pondo a
nu a ambivalência que se esconde no fenómeno religioso

Fernando Sampaio 08/25/2020 67


1. -A religião é uma neurose, defende Freud. Comente.
2. Freud interpretou a origem da religião a partir do
complexo de Édipo. Comente.
3. Em o “Futuro de uma ilusão”, Freud diz que a religião
é irracional e um perigo. Que argumentos apresenta?
4. Um seu discípulo opôs-se às suas ideias. Quem e que
argumentou?
5. Que relação estabelece Freud entre Totemismo e
religião?
6. Faça uma apreciação geral das ideias de Freud.

Fernando Sampaio 27-10-2011 39

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