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MANUEL BANDEIRA (1886-1968)

OBRAS
 Poesia  Prosa
• A Cinza das Horas (1917) • Crônicas da Província do Brasil
• Carnaval (1919) (1936)
• • Guia de Ouro Preto (1938)
O Ritmo Dissoluto (1924)
• • Noções de História das Literaturas
Libertinagem (1930)
• Estrela da Manhã (1936) (1940)
• Autoria das Cartas Chilenas
• Lira dos Cinquent’anos (1940)

(1940)
Belo, Belo (1948)
• Itinerário de Pasárgada – Jornal
• Mafuá do Malungo (1948)
de Letras (1954)
• Opus 10 (1952) • De Poetas e de Poesia (1954)
• Estrela da tarde (1960) • A Flauta de Papel (1957)
• Estrela da Vida Inteira (1966)
DESENCANTO

Eu
Eu faço
faço versos
versos como
como quem
quem chora
chora
De
De desalento...
desalento... de
de desencanto...
desencanto...
Fecha
Fecha oo meu
meu livro,
livro, se
se por
por agora
agora
Não
Não tens
tens motivo
motivo algum
algum dede pranto
pranto

Meu
Meu verso
verso éé sangue.
sangue. Volúpia
Volúpia ardente...
ardente...
Tristeza
Tristeza esparsa...
esparsa... remorso
remorso vão...
vão...
Dói-me
Dói-me nas
nas veias.
veias. Amargo
Amargo ee quente,
quente,
Cai,
Cai, gota
gota aa gota,
gota, do
do coração.
coração.

EE nesses
nesses versos
versos dede angústia
angústia rouca
rouca
Assim
Assim dos
dos lábios
lábios aa vida
vida corre,
corre,
Deixando
Deixando um
um acre
acre sabor
sabor na
na boca.
boca.
–– Eu
Eu faço
faço versos
versos como
como quem
quem morre
morre

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
CONSOADA

Quando a Indesejada das gentes chegar


(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
IRENE NO CÉU

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:


- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa
pedir licença.

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
Quando
Quando ontem
ontem adormeci
adormeci PROFUNDAMENTE
Na
Na noite
noite de
de São
São João
João
-- Estavam
Estavam todos
todos dormindo
dormindo
Havia
Havia alegria
alegria ee rumor
rumor
Estavam todos deitados
Estavam todos deitados
Estrondos
Estrondos dede bombas
bombas luzes
luzes de
de Bengala
Bengala Dormindo
Dormindo
Vozes,
Vozes, cantigas
cantigas ee risos
risos Profundamente.
Profundamente.
Ao
Ao pé
pé das
das fogueiras
fogueiras acesas.
acesas.
-- Quando
Quando eu eu tinha
tinha seis
seis anos
anos
Não
Não pude
pude ver
ver oo fim
fim da
da festa
festa de
de
No
No meio
meio da
da noite
noite despertei
despertei [[ São
São João
João
Não
Não ouvi
ouvi mais
mais vozes
vozes nem
nem risos
risos Porque
Porque adormeci
adormeci
Apenas
Apenas balões
balões
Passavam,
Passavam, errantes
errantes Hoje
Hoje não
não ouço
ouço mais
mais as
as vozes
vozes
[daquele tempo
[daquele tempo
Minha
Minha avó
avó
Silenciosamente
Silenciosamente Meu
Meu avô
avô
Apenas
Apenas de de vez
vez em
em quando
quando Totônio
Totônio Rodrigues
Rodrigues
O
O ruído
ruído de
de um
um bonde
bonde Tomásia
Tomásia
Rosa
Rosa
Cortava
Cortava oo silêncio
silêncio Onde
Onde estão
estão todos
todos eles?
eles?
Como
Como um um túnel.
túnel.
Onde
Onde estavam
estavam osos que
que há
há pouco
pouco -- Estão
Estão todos
todos dormindo
dormindo
Dançavam
Dançavam Estão todos deitados
Estão todos deitados
Dormindo
Dormindo
Cantavam
Cantavam Profundamente.
Profundamente.
E
E riam
riam
Ao
Ao pépé das
das fogueiras
fogueiras acesas?
acesas?
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
©D.A
©D.APress/EM/Arquivo
Press/EM/Arquivo
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre
[e morava no morro da Babilônia
[num barracão sem número.

Uma noite ele chegou no bar Vinte de


[Novembro

Bebeu

Cantou

Dançou

Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de


[Freitas e morreu afogado.
Pneumotórax

FEBRE,
FEBRE, HEMOPTISE,
HEMOPTISE, dispneia
dispneia ee suores
suores noturnos.
noturnos.
A
A vida
vida inteira
inteira que
que podia
podia ter
ter sido
sido ee que
que não
não foi.
foi.
Tosse,
Tosse, tosse,
tosse, tosse.
tosse.

Mandou
Mandou chamar
chamar oo médico:
médico:
–– Diga
Diga trinta
trinta ee três.
três.
–– Trinta
Trinta ee três...
três... trinta
trinta ee três...
três... trinta
trinta ee três...
três...
–– Respire.
Respire.

–– O
O senhor
senhor tem
tem uma
uma escavação
escavação no no pulmão
pulmão esquerdo
esquerdo ee oo pulmão
pulmão direito
direito infiltrado.
infiltrado.
–– Então,
Então, doutor,
doutor, não
não éé possível
possível tentar
tentar oo pneumotórax?
pneumotórax?
–– Não.
Não. A
A única
única coisa
coisa aa fazer
fazer éé tocar
tocar um
um tango
tango argentino.
argentino.

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 206
A ONDA

A onda
a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
Vou-me
Vou-me embora
embora pra
pra Pasárgada
Pasárgada

Lá sou

sou amigo
Lá tenho
amigo do
do rei
rei
tenho aa mulher
mulher que
que eu
eu quero
quero VOU-ME EMBORA PRA
Na
Na cama
cama que
que escolherei 
Vou-me
escolherei 
Vou-me embora
embora pra
pra Pasárgada
Pasárgada PASÁRGADA
Vou-me
Vou-me embora
embora prapra Pasárgada
Pasárgada
Aqui
Aqui eu
eu não
não sou
sou feliz
feliz

Lá aa existência
existência éé uma
uma aventura
aventura Em
Em Pasárgada
Pasárgada tem tem tudo
tudo
De
De tal
tal modo
modo inconsequente
inconsequente É outra civilização
É outra civilização
Que
Que Joana a Louca
Joana a Louca dede Espanha
Espanha Tem
Tem umum processo
processo seguro
seguro
Rainha
Rainha ee falsa
falsa demente
demente De
De impedir
impedir aa concepção
concepção
Vem
Vem aa ser
ser contraparente
contraparente Tem telefone automático
Tem telefone automático
Da
Da nora que nunca
nora que nunca tive
tive Tem
Tem alcalóide
alcalóide àà vontade
vontade
Tem
Tem prostitutas
prostitutas bonitas
bonitas
E
E como
como farei
farei ginástica
ginástica Para
Para aa gente
gente namorar
namorar
Andarei de bicicleta
Andarei de bicicleta   
Montarei
Montarei emem burro
burro brabo
brabo E
E quando
quando eu eu estiver
estiver mais
mais triste
triste
Subirei
Subirei no
no pau-de-sebo
pau-de-sebo Mas
Mas triste
triste de
de não
não ter
ter jeito
jeito
Tomarei
Tomarei banhos de
banhos de mar!
mar! Quando de noite me
Quando de noite me der der
E
E quando
quando estiver
estiver cansado
cansado Vontade
Vontade de de meme matar
matar
Deito
Deito na
na beira
beira do
do rio
rio —— Lá
Lá sou
sou amigo
amigo dodo rei
rei ——
Mando
Mando chamar
chamar aa mãe-d'água
mãe-d'água Terei a mulher que eu
Terei a mulher que eu quero quero
Pra
Pra me
me contar
contar asas histórias
histórias Na
Na cama
cama queque escolherei
escolherei
Que
Que no
no tempo
tempo dede eu
eu menino
menino Vou-me
Vou-me embora
embora prapra Pasárgada.
Pasárgada.
Rosa
Rosa vinha
vinha meme contar
contar
Vou-me
Vou-me embora
embora pra
pra Pasárgada
Pasárgada
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
Francisca Juliasaliente,
proeminente Vênus
 

Branca e hercúlea, de pé, num bloco de Carrara,


Que lhe serve de trono, a formosa escultura, encher,
inflar
Vênus, túmido o colo, em severa postura,
imperturbável
Com seus olhos de pedra o mundo inteiro encara.
 
Um sopro, um quê ele vida o gênio lhe insuflara;
E impassível, de pé, mostra em toda a brancura, orgulho,
Desde as linhas da face ao talhe da cintura, espada altivez
A majestade real de uma beleza rara.
 
Vendo-a nessa postura e nesse nobre entono atrevimento
De Minerva marcial que pelo gládio arranca,
Julgo vê-la descer lentamente do trono,
 
E, na mesma atitude a que a insolência a obriga,
Postar-se à minha frente, impassível e branca,
Na régia perfeição da formosura antiga.
Mármores (1895)
O nascimento de Vênus, de William Adolphe Bouguereau (1879)
Poesia Parnasiana: Características gerais
 Arte pela Arte: A poesia vale por si mesma, não tem
nenhum tipo de compromisso, e se justifica por sua
beleza.
 Estética/Culto à forma: O poeta parnasiano busca a
perfeição formal a todo custo, e por vezes, se mostra
incapaz para tal.
 Preciosismo: focaliza-se o detalhe;
 Objetividade e impessoalidade: descreve a
realidade sem deformá-la com sua maneira pessoal de
ver, sentir e pensar (combate o exagerado subjetivismo
romântico).
A estética perfeita:
 Rimas Ricas: Evitam-se palavras da mesma classe gramatical. Há
uma ênfase das rimas do tipo ABAB.
 Valorização dos Sonetos: o último terceto revela-se como a
"chave" do poema.
 Metrificação Rigorosa: preferencialmente com dez sílabas
(decassílabos) ou doze sílabas (versos alexandrinos). Ou apresentar
uma simetria constante, exemplo: primeiro verso de dez sílabas,
segundo de seis sílabas, terceiro de dez sílabas, quarto com seis
sílabas, etc.
 Temática Greco-Romana: recupera temas da Antiguidade Clássica,
características de sua história e sua mitologia.
 Enjambement (encadeamento sintático): Ocorre quando o verso
termina quanto à métrica (pois chegou na décima sílaba), mas o
conteúdo se encerra no verso de baixo. O verso depende do contexto
para ser entendido. Tática para priorizar a métrica e o conjunto de
rimas. 
Pronominais Há poesia
Oswald de Andrade Na dor
Dê-me um cigarro Na flor
Diz a gramática No beija-flor
Do professor e do aluno No elevador
E do mulato sabido Oswald de Andrade
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias Senhor Feudal
Oswald de Andrade
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro Se Pedro Segundo
Vier aqui
Com história
Eu boto ele na cadeia.
A Semana de Arte Moderna de 22,
realizada no Teatro Municipal de
São Paulo, contou com a
participação de escritores, artistas
plásticos, arquitetos e músicos.

Inserida nas festividades de


comemoração do centenário da
independência do Brasil, em 1922,
a Semana de Arte Moderna
apresenta-se como a primeira
manifestação coletiva pública na
história cultural brasileira a favor
de um espírito novo e moderno em
oposição à cultura e à arte de teor
conservador, predominantes no
país desde o século XIX.

http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_i Imagem: Cartaz da Semana de Arte Moderna de 1922 / Di


c/index.cfm?fuseaction=marcos_texto&cd_verbete=344 Cavalcanti / Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros - USP -
Arquivo Anita Malfatti / http://www.arquitetonico.ufsc.br/wp-
content/uploads/semana-de-arte-moderna-de-1922.jpg
São Paulo:
ARTE, 1º. Ano
Símbolo da modernização
Modernismo – Semana
São Paulo dos de Arte
anos 20 era aModerna
cidade no
queBrasil
melhor apresentava condições para a
realização de tal evento. Tratava-se de uma próspera cidade, que recebia grande
número de imigrantes europeus e modernizava-se rapidamente, com a
implantação de indústrias e reurbanização. Era, enfim, uma cidade favorável a ser
transformada num centro cultural da época, abrigando vários jovens artistas (3).

Imagem: Caio Guimarães/ Teatro Municipal de São Paulo/  Creative


Imagem: Guilherme Gaensly / Vale do Anhangabaú /  Public Domain
Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 2.0 Generic
O país comemorava o primeiro centenário da Independência e os
jovens modernistas pretendiam redescobrir o Brasil, libertando-o
das amarras que o prendiam aos padrões estrangeiros. Seria,
então, um movimento pela independência artística do Brasil.
Pretendiam utilizar tais modelos europeus de forma consciente
para uma renovação da arte nacional, preocupados em realizar
uma arte nitidamente brasileira, sem complexos de inferioridade
em relação à arte produzida na Europa. (5).

Imagem: Mario de Andrade / Michelle Rizzo /


Imagem: Oswald de Andrade / Autor

Imagem: Menotti del Picchia / Autor


desconhecido / Domínio Publico.
desconhecido / Public Domain.

Public Domain.
Oswald de Andrade, já em 1912, começa a falar do Manifesto Futurista, de
Marinetti, que propõe “o compromisso da literatura com a nova civilização técnica”.

"Estamos atrasados
cinquenta anos em
cultura,
chafurdados ainda
em pleno
Parnasianismo."
Revista paulista editada em São Paulo de 1911 até
1918. Tinha como principal articulador Oswald de
Andrade e Emílio de Menezes. Revista de cunho
literário, esportivo, sociedade paulista, crítico e com
ideias pré-modernistas. Muito bem impressa e
redigida. Esta é a capa do nº59 de 21 de Setembro
de 1912, com uma crítica feroz ao governo do
Presidente Hermes da Fonseca (1910-1914), que
instituiu o Estado de Sítio no Brasil (7).
Imagem: Revista o Pirralho/ Autor desconhecido / http://revistas-
paulistas.flogbrasil.terra.com.br/foto17333864.html
Antes dos anos 20, são feitas em São Paulo duas exposições de
pintura que colocam a arte moderna de um modo concreto para
os brasileiros: a de Lasar Segall, em 1913 e a de Anita Malfatti,
em 1917 (8).

Imagem: A Família/ Lasar Segall / Imagem: A estudante/ Anita Malfatti / Museu de Arte de São
http://www.febf.uerj.br/pesquisa/semana_22.html Paulo Assis / Copyright - Elizabeth Cecília Malfatti
Vindo da Alemanha, o pintor Lasar Segall
realizou uma exposição em São Paulo e
outra em Campinas, ambas recebidas com
uma fria polidez.

Desanimado,
Segall seguiu
de volta à
Alemanha, só
retornando ao
Brasil dez anos
depois, quando
os ventos
sopravam mais
a favor (9).

Imagem: Perfil de Zulmira / Lasar Segall / Museu de arte Imagem: Os mercadores/ Lasar Segall /
contemporânea da universidade de São Paulo / Direitos do http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modul
MAC o2/modernismo/artistas/segall/obras.htm
A exposição de Anita Malfatti em 1917, recém chegada dos Estados Unidos e da
Europa, foi outro marco para o Modernismo brasileiro. As obras da pintora,
então afinadas com as tendências vanguardistas do exterior, chocaram grande
parte do público, causando violentas reações da crítica conservadora (10).

Imagem: O homem amarelo / Anita Mafaltti / Ilustração do


Imagem: A boba/ Anita Mafaltti/ Museu de arte contemporânea da
colega Mario de Andrade / Instituto de Estudos Brasileiros da
universidade de São Paulo / Copyright - Elizabeth Cecília Malfatti
USP/ Copyright - Elizabeth Cecília Malfatti.
Paranoia ou mistificação
“Há duas espécies de artistas. Uma
composta dos que veem normalmente
as coisas (...). A outra espécie é formada
pelos que veem anormalmente a
natureza e interpretam-na à luz de
teorias efêmeras, sob a sugestão
estrábica de escolas rebeldes, surgidas
Imagem: Monteiro Lobato/  "Nosso Século"
cá e lá como furúnculos da cultura
(1980) da Editora Abril / Public Domain
excessiva. (...)
Embora eles se deem como novos, precursores de uma arte a vir,
nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu
com a paranoia e a mistificação. (...) Essas considerações são
provocadas pela exposição da srª. Malfatti onde se notam
acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no
sentido das extravagâncias de Picasso e companhia.”
Imagem: Meu irmão
Alexandre/ Anita Mafaltti /
Copyright - Elizabeth
Cecília Malfatti
http://www.fapesp.br/public
acoes/anita/apresentacao.
html#

Monteiro Lobato, preso a princípios estéticos conservadores, afirma que “todas


as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não
dependem do tempo nem da latitude” (12).
ARTE, 1º. Ano
Modernismo – Semana de Arte Moderna no Brasil

A SEMANA DE ARTE MODERNA


(A SEMANA DE 22)
No interior do teatro, foram apresentados
concertos, conferências, declamação de
poemas, enquanto no saguão foram montadas
exposições de artistas plásticos, como:
• os arquitetos Antonio Moya e George
Prsyrembel;
•os escultores Vítor Brecheret e W.
Haerberg;
•os desenhistas e pintores Anita Malfatti,
John Graz, Zina Aita, João Fernando de
Almeida Prado, Ignácio da Costa Ferreira,
Vicente do Rego Monteiro e Di Cavalcanti
(idealizador da Semana e autor do desenho
que ilustra a capa do catálogo);
•escritores como Mário de Andrade,
Oswald de Andrade, Menotti del Picchia,
Sérgio Milliet, Plínio Salgado, Ronald de
Carvalho, Álvaro Moreira, Renato de Almeida,
Ribeiro Couto e Guilherme de Almeida.
•Na música, nomes consagrados, como
Villa-Lobos, Guiomar Novais, Ernâni Braga e
Imagem: Capa do catálogo da Semana de arte moderna
Frutuoso Viana(16). 1922 / Autor Desconhecido / United States Public Domain
A Semana, de uma certa
maneira, nada mais foi do
que uma ebulição de novas
ideias totalmente libertadas;
nacionalistas em busca de
uma identidade própria e de
uma maneira mais livre de
expressão.

Não se tinha, porém, um


programa definido: sentia-se
muito mais um desejo de
experimentar diferentes
caminhos do que de definir
um único ideal moderno.
Imagem: Morro Vermelho / Lasar Segall / Museu Lasar Segall /
http://www.museusegall.org.br/mlsItem.asp?sSume=2&sItem=125
13/02/22- Segunda-feira

Casa cheia, abertura oficial do


evento.

Espalhadas pelo saguão do


Teatro Municipal de São
Paulo, várias pinturas e
esculturas provocam reações
de espanto e repúdio por
parte do público.

O espetáculo tem início com a


confusa conferência de Graça
Aranha, intitulada "A emoção
estética da Arte Moderna".

Tudo transcorreu em certa


calma neste dia (18).
Imagem: Programa da semana de arte moderna de1922 / Autor
Desconhecido / http://www.febf.uerj.br/pesquisa/semana_22.html
OS SAPOS
Enfunando os papos, 
15/02/22 -Quarta-feira Saem da penumbra, 
Urra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!" 
Aos pulos, os sapos. 
Guiomar Novais era para ser a grande A luz os deslumbra. 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

atração da noite. Contra a vontade dos Em ronco que aterra, 


Brada em um assomo 
O sapo-tanoeiro: 
demais artistas modernistas, aproveitou Berra o sapo-boi:  - A grande arte é como 
- "Meu pai foi à guerra!" 
um intervalo do espetáculo para tocar - "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 
Lavor de joalheiro. 

alguns clássicos consagrados, iniciativa Ou bem de estatuário. 


O sapo-tanoeiro,  Tudo quanto é belo, 
aplaudida pelo público. Mas a "atração" Parnasiano aguado,  Tudo quanto é vário, 
dessa noite foi a palestra de Menotti del Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado. 
Canta no martelo". 

Picchia sobre a arte estética. Outros, sapos-pipas 


Vede como primo  (Um mal em si cabe), 
Menotti apresenta os novos escritores dos Em comer os hiatos! 
Que arte! E nunca rimo 
Falam pelas tripas, 
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!". 
novos tempos e surgem vaias e barulhos Os termos cognatos. 

diversos (miados, latidos, grunhidos…) O meu verso é bom 


Longe dessa grita, 
Lá onde mais densa 
que se alternam e confundem com Frumento sem joio. 
Faço rimas com 
A noite infinita 
Veste a sombra imensa; 
aplausos. Quando Ronald de Carvalho lê Consoantes de apoio. 

o poema intitulado ”Os Sapos”, de Manuel Vai por cinquüenta anos 


Lá, fugido ao mundo, 
Sem glória, sem fé, 
Bandeira (poema criticando abertamente o Que lhes dei a norma: 
Reduzi sem danos 
No perau profundo 
E solitário, é 
parnasianismo e seus adeptos). O público A fôrmas a forma. 
faz coro atrapalhando a leitura do texto. Clame a saparia 
Que soluças tu, 
Transido de frio, 
Em críticas céticas:
A noite acaba em algazarra (19). Não há mais poesia, 
Sapo-cururu 
Da beira do rio...
Mas há artes poéticas..." 
17/02/22 - Sexta-feira

O dia mais tranquilo da semana,


apresentações musicais de Villa-
Lobos, com participação de vários
músicos.

O público em número reduzido,


portava-se com mais respeito, até
que Villa-Lobos entra de casaca,
mas com um pé calçado com um
sapato, e outro com chinelo; o
público interpreta a atitude como
futurista e desrespeitosa e vaia o
artista impiedosamente. Mais
tarde, o maestro explicaria que
não se tratava de modismo e,
sim, de um calo inflamado (20).
Imagem: Cartaz da Semana de Arte Moderna / Autor Desconhecido /
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Arte-moderna-8.jpg
A Semana não foi tão importante no seu contexto temporal, mas o tempo a presenteou
com um valor histórico e cultural talvez inimaginável naquela época. Não havia entre
seus participantes uma coletânea de ideias comum a todos, por isso ela se dividiu em
diversas tendências diferentes, todas pleiteando a mesma herança.
http://www.infoescola.com/artes/semana-de-arte-moderna/

http://www.portinari.org.br/candinho/candinho/gen_1.pl-BR+exact+OA-
Imagem: Café / Candido Portinari / Museu Nacional de Belas Artes /

1191+GT-02++.htm
Entre os movimentos que surgiram
na década de 1920, destacam-se:
• Movimento Pau-Brasil;
• Movimento Verde-Amarelo e
Grupo Anta;
• Movimento antropofágico.

A principal forma de divulgação


destas novas ideias se dava através
das revistas.

Entre as que se destacam,


encontram-se:
• Revista Klaxon e
• Revista de Antropofagia. Imagem: Revista Klaxon nº1 / Guilherme de Almeida /
http://blogs.estadao.com.br/p2p/2010/03/16/antropofagia-
digitalizada/
O Movimento Pau-Brasil foi
um movimento artístico lançado
no Brasil em 1924 por Oswald de
Andrade e Tarsila do Amaral que
apresentava uma posição primitivista,
buscando uma poesia ingênua, de
redescoberta do mundo e do Brasil e que
foi inspirada nos movimentos de
vanguarda europeus, devido às viagens
que Oswald fazia à Europa.

O movimento exaltava a inovação na


poesia, o primitivismo e a era presente,
ao mesmo tempo em que repudiava a
linguagem retórica na poesia. Convivem
dialeticamente o primitivo e o moderno,
o nacional e o cosmopolita, sendo
ideologicamente a raiz do Movimento
Antropofágico (23). Imagem: Revista Pau Brasil / Tarsila do Amaral /
http://letteri.blogger.com.br/2007_05_01_archive.html
Movimento Verde-Amarelo e Grupo da Anta foram movimentos culturais
decorrentes da Semana de Arte moderna em 1922. Na literatura tem por
característica textos patrióticos, ufanistas e a idealização do país.
Características formais, versos livres, sem rima, sem métrica,
em estrofação e discurso não linear.

Recusando todo e qualquer contágio com ideias europeias, este movimento


é uma reação às intenções primitivas do Pau – Brasil.

Liderado por Cassiano Ricardo, Menotti Del Picchia, Plínio Salgado e


outros, o grupo acabou caindo num nacionalismo ufanista, escolhendo
como símbolo de suas ideias a anta, animal que tinha uma função mítica
na cultura tupi.

Esse movimento converteu- se, em 1926, no chamado Grupo da Anta,


que seguiu uma linha de orientação política nitidamente de direita, da
qual sairia, na década de 1930, o Integralismo de Plínio Salgado (24).
O Manifesto Antropófago ou
Antropofágico foi um manifesto
literário escrito por Oswald de
Andrade, publicado em maio de
1928, que tinha por objetivo
repensar a dependência cultural
brasileira.

Propunha basicamente devorar a


cultura e as técnicas importadas e
sua reelaboração com autonomia,
transformando o produto
importado em exportável.

O nome do manifesto recuperava a


crença indígena: os índios
antropófagos comiam o inimigo,
supondo que assim estavam
Imagem: Manifesto Antropofago / Revista de Antropofagia, Ano 1, No. 1,
maio de 1928. / http://antropofagia.uol.com.br/manifestos/antropofagico/
assimilando suas qualidades (25).
O Manifesto foi publicado na
primeira edição da Revista de
Antropofagia, meio de
comunicação responsável pela
difusão do movimento
antropofágico brasileiro.

A linguagem do manifesto é
majoritariamente metafórica,
contendo fragmentos poéticos
bem-humorados e torna-se a fonte
teórica principal do movimento (26).

Imagem: Revista de antropofagia / Autor Desconhecido /


http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Revantrof.png
ARTE, 1º. Ano
Modernismo – Semana de Arte Moderna no Brasil

O Manifesto Antropofágico foi


um marco no Modernismo
brasileiro, pois não somente
mudou a forma do brasileiro
de encarar o fluxo de
elementos culturais do
mundo, mas também colocou
em evidência a produção
própria, a característica
brasileira na arte,
ascendendo uma identidade
tupiniquim no cenário artístico
mundial (27).

Imagem: A Lua / Tarsila do Amaral /


http://www.tarsiladoamaral.com.br/versao_antiga/historia.htm
ARTE, 1º. Ano
Modernismo – Semana de Arte Moderna no Brasil

A POESIA MODERNISTA E
AS VANGUARDAS EUROPEIAS
 Cubismo
O poeta francês Guillaume
Apollinaire é o principal repre-
sentante do Cubismo na
literatura. Depois de sua
morte, foi publicado
Caligrammes, poèmes de la
paix et de la guerre (1913-
1916), uma coletânea de
poemas concretos produzidos
durante a primeira guerra
mundial.
Il pleut des voix de femmes comme si elles étaient
[mortes même dans le souvenir
C'est vous aussi qu'il pleut merveilleuses encontres
[de ma vie ô gouttelettes
Et ces nuages cabrés se prennent à hennir tout un
[univers de villes auriculaires
Écoute s'il pleut tandis que le regret et le dédain
[leurent une ancienne musique
Ecoute tomber les liens qui te retiennent en haut et
[en bas

Chove (Apollinaire)

Chovem as vozes das mulheres como se elas


[estivessem mortas mesmo na lembrança
É você também que chove gotículas maravilhosos
[ encontros de minha vida
E essas nuvens turbulentas se põem a relinchar
[todo um universo de cidades auricular
Escuta se chove enquanto pesar e desprezo Leurent
[uma música antiga
Olhe para baixo as ligações que mantêm você subir
[e descer
reconheça
essa adorável pessoa é você

sem o grande chapéu de palha

olho
nariz
boca

aqui o oval do seu rosto

seu  lindo  pescoço

                             um pouco
                             mais abaixo
                             é seu coração
                                           que bate

aqui enfim
a imperfeita imagem
de seu busto adorado
visto como
se através de uma nuvem
Hípica
(Oswald de Andrade)

Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas poema de influência
cubista com a presença
As meninas de elementos como a
fragmentação da
E a orquestra toca realidade, a
Chá predominância de
substantivos e flashes
Na sala de cocktails cinematográficos.
Ode ao burguês poema de influência
(Mário de Andrade) futurista: tom agressivo e
exclamativo, que sugere
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel, gritos e revolta; a
o burguês-burguês! irreverência contra a
A digestão bem-feita de São Paulo! estrutura social; o uso do
verso livre; a
O homem-curva! o homem-nádegas! substantivação dupla.
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! Lido na Semana de Arte
Moderna
(...)
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
(...)
Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Pré-história
(Murilo Mendes)

Mamãe vestida de rendas


Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém!
Cai no álbum de retratos.

poema de influência
surrealista
ARTE, 1º. Ano
Modernismo – Semana de Arte Moderna no Brasil

CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM
POÉTICA MODERNISTA
 Fragmentação e flashes cinematográficos: consonância com
o dinamismo da vida moderna.
 Síntese: contrária à adjetivação abundante; frases curtas,
trabalhando com o subentendido.
 Busca de uma língua brasileira: fdespreza o rigor das regras
gramaticais e aproxima a língua literária escrita da língua falada.
 Nacionalismo: interessam-se por temas brasileiros, valorizar
nossas tradições e cultura.
 Ironia, humor, piada e paródia: são críticos e bem-humorados.
Zombam da arte tradicional e de figuras eminentes de nosso
passado histórico.
 Temas do cotidiano: a arte ser extraída das coisas simples da vida
e não apenas de temas universais.
 Urbanismo: influenciados pelo futurismo, apreciam temas
relacionados à cidade e suas modernidades.

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