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OBRAS
Poesia Prosa
• A Cinza das Horas (1917) • Crônicas da Província do Brasil
• Carnaval (1919) (1936)
• • Guia de Ouro Preto (1938)
O Ritmo Dissoluto (1924)
• • Noções de História das Literaturas
Libertinagem (1930)
• Estrela da Manhã (1936) (1940)
• Autoria das Cartas Chilenas
• Lira dos Cinquent’anos (1940)
•
(1940)
Belo, Belo (1948)
• Itinerário de Pasárgada – Jornal
• Mafuá do Malungo (1948)
de Letras (1954)
• Opus 10 (1952) • De Poetas e de Poesia (1954)
• Estrela da tarde (1960) • A Flauta de Papel (1957)
• Estrela da Vida Inteira (1966)
DESENCANTO
Eu
Eu faço
faço versos
versos como
como quem
quem chora
chora
De
De desalento...
desalento... de
de desencanto...
desencanto...
Fecha
Fecha oo meu
meu livro,
livro, se
se por
por agora
agora
Não
Não tens
tens motivo
motivo algum
algum dede pranto
pranto
Meu
Meu verso
verso éé sangue.
sangue. Volúpia
Volúpia ardente...
ardente...
Tristeza
Tristeza esparsa...
esparsa... remorso
remorso vão...
vão...
Dói-me
Dói-me nas
nas veias.
veias. Amargo
Amargo ee quente,
quente,
Cai,
Cai, gota
gota aa gota,
gota, do
do coração.
coração.
EE nesses
nesses versos
versos dede angústia
angústia rouca
rouca
Assim
Assim dos
dos lábios
lábios aa vida
vida corre,
corre,
Deixando
Deixando um
um acre
acre sabor
sabor na
na boca.
boca.
–– Eu
Eu faço
faço versos
versos como
como quem
quem morre
morre
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
CONSOADA
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
IRENE NO CÉU
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
Quando
Quando ontem
ontem adormeci
adormeci PROFUNDAMENTE
Na
Na noite
noite de
de São
São João
João
-- Estavam
Estavam todos
todos dormindo
dormindo
Havia
Havia alegria
alegria ee rumor
rumor
Estavam todos deitados
Estavam todos deitados
Estrondos
Estrondos dede bombas
bombas luzes
luzes de
de Bengala
Bengala Dormindo
Dormindo
Vozes,
Vozes, cantigas
cantigas ee risos
risos Profundamente.
Profundamente.
Ao
Ao pé
pé das
das fogueiras
fogueiras acesas.
acesas.
-- Quando
Quando eu eu tinha
tinha seis
seis anos
anos
Não
Não pude
pude ver
ver oo fim
fim da
da festa
festa de
de
No
No meio
meio da
da noite
noite despertei
despertei [[ São
São João
João
Não
Não ouvi
ouvi mais
mais vozes
vozes nem
nem risos
risos Porque
Porque adormeci
adormeci
Apenas
Apenas balões
balões
Passavam,
Passavam, errantes
errantes Hoje
Hoje não
não ouço
ouço mais
mais as
as vozes
vozes
[daquele tempo
[daquele tempo
Minha
Minha avó
avó
Silenciosamente
Silenciosamente Meu
Meu avô
avô
Apenas
Apenas de de vez
vez em
em quando
quando Totônio
Totônio Rodrigues
Rodrigues
O
O ruído
ruído de
de um
um bonde
bonde Tomásia
Tomásia
Rosa
Rosa
Cortava
Cortava oo silêncio
silêncio Onde
Onde estão
estão todos
todos eles?
eles?
Como
Como um um túnel.
túnel.
Onde
Onde estavam
estavam osos que
que há
há pouco
pouco -- Estão
Estão todos
todos dormindo
dormindo
Dançavam
Dançavam Estão todos deitados
Estão todos deitados
Dormindo
Dormindo
Cantavam
Cantavam Profundamente.
Profundamente.
E
E riam
riam
Ao
Ao pépé das
das fogueiras
fogueiras acesas?
acesas?
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
©D.A
©D.APress/EM/Arquivo
Press/EM/Arquivo
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre
[e morava no morro da Babilônia
[num barracão sem número.
Bebeu
Cantou
Dançou
FEBRE,
FEBRE, HEMOPTISE,
HEMOPTISE, dispneia
dispneia ee suores
suores noturnos.
noturnos.
A
A vida
vida inteira
inteira que
que podia
podia ter
ter sido
sido ee que
que não
não foi.
foi.
Tosse,
Tosse, tosse,
tosse, tosse.
tosse.
Mandou
Mandou chamar
chamar oo médico:
médico:
–– Diga
Diga trinta
trinta ee três.
três.
–– Trinta
Trinta ee três...
três... trinta
trinta ee três...
três... trinta
trinta ee três...
três...
–– Respire.
Respire.
–– O
O senhor
senhor tem
tem uma
uma escavação
escavação no no pulmão
pulmão esquerdo
esquerdo ee oo pulmão
pulmão direito
direito infiltrado.
infiltrado.
–– Então,
Então, doutor,
doutor, não
não éé possível
possível tentar
tentar oo pneumotórax?
pneumotórax?
–– Não.
Não. A
A única
única coisa
coisa aa fazer
fazer éé tocar
tocar um
um tango
tango argentino.
argentino.
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 206
A ONDA
A onda
a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
Vou-me
Vou-me embora
embora pra
pra Pasárgada
Pasárgada
Lá
Lá sou
Lá
sou amigo
Lá tenho
amigo do
do rei
rei
tenho aa mulher
mulher que
que eu
eu quero
quero VOU-ME EMBORA PRA
Na
Na cama
cama que
que escolherei
Vou-me
escolherei
Vou-me embora
embora pra
pra Pasárgada
Pasárgada PASÁRGADA
Vou-me
Vou-me embora
embora prapra Pasárgada
Pasárgada
Aqui
Aqui eu
eu não
não sou
sou feliz
feliz
Lá
Lá aa existência
existência éé uma
uma aventura
aventura Em
Em Pasárgada
Pasárgada tem tem tudo
tudo
De
De tal
tal modo
modo inconsequente
inconsequente É outra civilização
É outra civilização
Que
Que Joana a Louca
Joana a Louca dede Espanha
Espanha Tem
Tem umum processo
processo seguro
seguro
Rainha
Rainha ee falsa
falsa demente
demente De
De impedir
impedir aa concepção
concepção
Vem
Vem aa ser
ser contraparente
contraparente Tem telefone automático
Tem telefone automático
Da
Da nora que nunca
nora que nunca tive
tive Tem
Tem alcalóide
alcalóide àà vontade
vontade
Tem
Tem prostitutas
prostitutas bonitas
bonitas
E
E como
como farei
farei ginástica
ginástica Para
Para aa gente
gente namorar
namorar
Andarei de bicicleta
Andarei de bicicleta
Montarei
Montarei emem burro
burro brabo
brabo E
E quando
quando eu eu estiver
estiver mais
mais triste
triste
Subirei
Subirei no
no pau-de-sebo
pau-de-sebo Mas
Mas triste
triste de
de não
não ter
ter jeito
jeito
Tomarei
Tomarei banhos de
banhos de mar!
mar! Quando de noite me
Quando de noite me der der
E
E quando
quando estiver
estiver cansado
cansado Vontade
Vontade de de meme matar
matar
Deito
Deito na
na beira
beira do
do rio
rio —— Lá
Lá sou
sou amigo
amigo dodo rei
rei ——
Mando
Mando chamar
chamar aa mãe-d'água
mãe-d'água Terei a mulher que eu
Terei a mulher que eu quero quero
Pra
Pra me
me contar
contar asas histórias
histórias Na
Na cama
cama queque escolherei
escolherei
Que
Que no
no tempo
tempo dede eu
eu menino
menino Vou-me
Vou-me embora
embora prapra Pasárgada.
Pasárgada.
Rosa
Rosa vinha
vinha meme contar
contar
Vou-me
Vou-me embora
embora pra
pra Pasárgada
Pasárgada
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
Francisca Juliasaliente,
proeminente Vênus
Public Domain.
Oswald de Andrade, já em 1912, começa a falar do Manifesto Futurista, de
Marinetti, que propõe “o compromisso da literatura com a nova civilização técnica”.
"Estamos atrasados
cinquenta anos em
cultura,
chafurdados ainda
em pleno
Parnasianismo."
Revista paulista editada em São Paulo de 1911 até
1918. Tinha como principal articulador Oswald de
Andrade e Emílio de Menezes. Revista de cunho
literário, esportivo, sociedade paulista, crítico e com
ideias pré-modernistas. Muito bem impressa e
redigida. Esta é a capa do nº59 de 21 de Setembro
de 1912, com uma crítica feroz ao governo do
Presidente Hermes da Fonseca (1910-1914), que
instituiu o Estado de Sítio no Brasil (7).
Imagem: Revista o Pirralho/ Autor desconhecido / http://revistas-
paulistas.flogbrasil.terra.com.br/foto17333864.html
Antes dos anos 20, são feitas em São Paulo duas exposições de
pintura que colocam a arte moderna de um modo concreto para
os brasileiros: a de Lasar Segall, em 1913 e a de Anita Malfatti,
em 1917 (8).
Imagem: A Família/ Lasar Segall / Imagem: A estudante/ Anita Malfatti / Museu de Arte de São
http://www.febf.uerj.br/pesquisa/semana_22.html Paulo Assis / Copyright - Elizabeth Cecília Malfatti
Vindo da Alemanha, o pintor Lasar Segall
realizou uma exposição em São Paulo e
outra em Campinas, ambas recebidas com
uma fria polidez.
Desanimado,
Segall seguiu
de volta à
Alemanha, só
retornando ao
Brasil dez anos
depois, quando
os ventos
sopravam mais
a favor (9).
Imagem: Perfil de Zulmira / Lasar Segall / Museu de arte Imagem: Os mercadores/ Lasar Segall /
contemporânea da universidade de São Paulo / Direitos do http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modul
MAC o2/modernismo/artistas/segall/obras.htm
A exposição de Anita Malfatti em 1917, recém chegada dos Estados Unidos e da
Europa, foi outro marco para o Modernismo brasileiro. As obras da pintora,
então afinadas com as tendências vanguardistas do exterior, chocaram grande
parte do público, causando violentas reações da crítica conservadora (10).
http://www.portinari.org.br/candinho/candinho/gen_1.pl-BR+exact+OA-
Imagem: Café / Candido Portinari / Museu Nacional de Belas Artes /
1191+GT-02++.htm
Entre os movimentos que surgiram
na década de 1920, destacam-se:
• Movimento Pau-Brasil;
• Movimento Verde-Amarelo e
Grupo Anta;
• Movimento antropofágico.
A linguagem do manifesto é
majoritariamente metafórica,
contendo fragmentos poéticos
bem-humorados e torna-se a fonte
teórica principal do movimento (26).
A POESIA MODERNISTA E
AS VANGUARDAS EUROPEIAS
Cubismo
O poeta francês Guillaume
Apollinaire é o principal repre-
sentante do Cubismo na
literatura. Depois de sua
morte, foi publicado
Caligrammes, poèmes de la
paix et de la guerre (1913-
1916), uma coletânea de
poemas concretos produzidos
durante a primeira guerra
mundial.
Il pleut des voix de femmes comme si elles étaient
[mortes même dans le souvenir
C'est vous aussi qu'il pleut merveilleuses encontres
[de ma vie ô gouttelettes
Et ces nuages cabrés se prennent à hennir tout un
[univers de villes auriculaires
Écoute s'il pleut tandis que le regret et le dédain
[leurent une ancienne musique
Ecoute tomber les liens qui te retiennent en haut et
[en bas
Chove (Apollinaire)
olho
nariz
boca
seu lindo pescoço
um pouco
mais abaixo
é seu coração
que bate
aqui enfim
a imperfeita imagem
de seu busto adorado
visto como
se através de uma nuvem
Hípica
(Oswald de Andrade)
Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas poema de influência
cubista com a presença
As meninas de elementos como a
fragmentação da
E a orquestra toca realidade, a
Chá predominância de
substantivos e flashes
Na sala de cocktails cinematográficos.
Ode ao burguês poema de influência
(Mário de Andrade) futurista: tom agressivo e
exclamativo, que sugere
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel, gritos e revolta; a
o burguês-burguês! irreverência contra a
A digestão bem-feita de São Paulo! estrutura social; o uso do
verso livre; a
O homem-curva! o homem-nádegas! substantivação dupla.
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! Lido na Semana de Arte
Moderna
(...)
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
(...)
Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Pré-história
(Murilo Mendes)
poema de influência
surrealista
ARTE, 1º. Ano
Modernismo – Semana de Arte Moderna no Brasil
CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM
POÉTICA MODERNISTA
Fragmentação e flashes cinematográficos: consonância com
o dinamismo da vida moderna.
Síntese: contrária à adjetivação abundante; frases curtas,
trabalhando com o subentendido.
Busca de uma língua brasileira: fdespreza o rigor das regras
gramaticais e aproxima a língua literária escrita da língua falada.
Nacionalismo: interessam-se por temas brasileiros, valorizar
nossas tradições e cultura.
Ironia, humor, piada e paródia: são críticos e bem-humorados.
Zombam da arte tradicional e de figuras eminentes de nosso
passado histórico.
Temas do cotidiano: a arte ser extraída das coisas simples da vida
e não apenas de temas universais.
Urbanismo: influenciados pelo futurismo, apreciam temas
relacionados à cidade e suas modernidades.