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Ampliada
sem proporção
"Tenho cinco lindas escravas (…) Dessas cinco encantadoras meninas, duas têm olhos negros, as três
restantes têm olhos azuis. As duas escravas de olhos negros, quando interrogadas dizem sempre a verdade;
as escravas de olhos azuis, ao contrário, são mentirosas, isto é nunca dizem a verdade. Dentro de alguns
minutos, essas cinco jovens serão conduzidas a este salão: todas elas terão o rosto inteiramente oculto por
um espesso véu, que torna impossível, em qualquer delas, o menor traço fisionômico. Terás de descobrir e
indicar, sem a menor possibilidade de erro, quais as raparigas de olhos negros e quais as de olhos azuis.
Poderás interrogar três das cinco escravas, não sendo permitido, em caso algum, fazer mais de uma
pergunta à mesma jovem. Com o auxílio das três respostas obtidas, o problema deverá ser solucionado,
sendo a solução justificada com todo o rigor matemático. E as perguntas devem ser de tal natureza que só as
próprias escravas sejam capazes de responder com perfeito conhecimento.
(…) Beremiz aproximou-se da primeira escrava e perguntou-lhe com voz firme e pausada:
- De que cor são os teus olhos?
Por Alá! A interpelada respondeu em dialeto chinês, totalmente desconhecido pelos muçulmanos
presentes! (…)
Beremiz, que o insucesso não havia conseguido desalentar, voltou-se para a segunda escrava e
interrogou-a:
- Qual foi a resposta que a sua companheira acabou de proferir?
Disse a segunda escrava:
- As palavras dela foram: “Os meus olhos são azuis.”
(…) A terceira escrava foi interpelada a seguir da seguinte forma:
- De que cor são os olhos dessas duas jovens que acabo de interrogar?
(…)
- A primeira tem os olhos negros e a segunda azuis.
- (…) O problema proposto está inteiramente resolvido e a sua solução pode ser anunciada com absoluto
rigor matemático. A primeira escrava tem olhos negros, a segunda tem olhos azuis, a terceira tem olhos
negros e as duas últimas têm olhos azuis!
(…) De que modo poderá demonstrar que não havia, na resposta final, a menor possibilidade de erro?
BIOGRAFIA - Malba Tahan é autor do famoso livro O Homem
que Calculava, um verdadeiro sucesso literário, já traduzido em
doze idiomas e com muitas dezenas de edições em português.
Quem ouve falar do nome desse escritor é levado a acreditar
que ele seja algum estrangeiro, provavelmente alguém nascido
lá nas Arábias. Muitos se admiram ao descobrir que esse
exímio contador de histórias nunca existiu de verdade, mas é
um personagem de um criativo professor brasileiro. Trata-se
de Júlio César de Mello e Souza, um carioca nascido em 1895.
Segundo sua biografia, o professor Júlio criou o
pseudônimo Malba Tahan para suas obras, que contavam
histórias passadas nas areias da Arábia. Elas envolviam
situações de divisão de bens e problemas de álgebra e
aritmética apresentados sob a forma de instigantes
desafios de lógica. Júlio César era um educador
preocupado com a forma como a matemática vinha
sendo abordada em sala de aula e criticava os métodos
utilizados para trabalhar essa disciplina.
Acreditava que a didática
tinha de mudar, que a
matemática não deveria ser
vista como um bicho-papão,
nem como uma disciplina sem
vida que só exigia dos alunos
muita memorização e
treinamento.
Resolveu, então, contribuir para mudar esse quadro e
mostrar às pessoas que a matemática pode ser uma
divertida e desafiante aventura.
Além de escrever livros, Júlio César viajou por
todo o Brasil para dar palestras a estudantes e
defender a ideia de que é possível trabalhar a
matemática de forma dinâmica e criativa.
Quem ler seus livros vai encontrar enigmas para
resolver e, com certeza, ficará encantado com a
forma que ele utilizava
para apresentar desafios lógicos.