Você está na página 1de 35

J U ST I Ç A

RESTAURATIVA
P r o f ª M a . G i o v a n n a C . We r n e c k
Psicóloga CRP 16/3796
ORIGENS DA JUSTIÇA
RESTAURATIVA
A Justiça Restaurativa é um novo paradigma no trato de
conflitos e situações de violência.

Oferece condições para estabelecer um diálogo baseado


no respeito, na responsabilidade e na cooperação.

Trata-se de uma nova abordagem na forma de lidar com os


conflitos, colocando em destaque a reparação do dano e o
diálogo.
As ideias sobre a Justiça Restaurativa têm sua origem na década de
1970, nos Estados Unidos, sob a forma de mediação entre réu e
vítima, depois adotadas por outros países, com destaque para a
experiência da Nova Zelândia e do Canadá. Também Chile,
Argentina e Colômbia dão os primeiros passos em direção à Justiça
Restaurativa.
 Nasce como uma
contraproposta ao modelo de
justiça tradicional baseada em:
 A) Culpa
 B) Perseguição
 C) Castigo
 D) Imposição
 E) Dissoluções coercitivas

 Vivência de valores positivos.


O Q U E É A J U S T I Ç A R E S TA U R AT IVA ?
 Justiça Restaurativa é um termo gené rico para
todas as abordagens do delito e do conflito, que
buscam ir alé m da condenaçã o e da puniçã o e
abordar as causas e as consequê ncias das
transgressõ es, por meio de formas que promovam
a responsabilidade, a coesã o, a pacificaçã o e a
justiça.

 É uma abordagem colaborativa e pacificadora


para a resoluçã o de conflitos e pode ser
empregada em uma variedade de situaçõ es.

 Pode usar diferentes formatos para alcançar suas


metas, incluindo diá logos entre a vítima e o
infrator, “conferê ncias” de grupo de comunidades
e familiares, círculos de sentenças, painé is
comunitá rios, e assim por diante.
 [...]“’numa de suas dimensões’, pauta-
se pelo encontro da “vítima”,
“ofensor”, seus suportes e membros da
comunidade para, juntos, identificarem
as possibilidades de resolução de
conflitos a partir das necessidades dele
decorrentes, notadamente a reparação
de danos, o desenvolvimento de
habilidades para evitar nova recaída na
situação conflitiva e o atendimento, por
suporte social, das necessidades
desveladas. (PENIDO; TERRA;
RODRIGUEZ, 2013, p. 54).
Há a figura de um terceiro
imparcial (mediador ou
facilitador), que, através de
técnicas da conciliação,
mediação e transação, intervirá
no sentido de buscar o resultado
restaurativo, isto é, um acordo
que iniba os interesses
individuais das partes, e busque
alcançar a reintegração social
entre o ofensor e o ofendido.
A Justiça Restaurativa faz um
uso crítico e alternativo do
Direito, primado no interesse das
pessoas envolvidas e da
comunidade, criando uma
Justiça Criminal Participativa
(em oposição à Justiça
Retributiva).
A Justiça Restaurativa não busca
apenas a reparação do dano ou a
responsabilização do ofensor,
mas também a ressocialização e
o bom convívio social.
O método restaurativo
não deve se contentar em
olhar apenas para o
passado, mas também
deve se preocupar com o
que pode vir a acontecer.
FUNÇÕES DO FACILITADOR
 informação: as partes deve,
 3m ser informadas pelo terceiro dos
atos e procedimento a serem
realizados no curso da ação;
 condução: deve o facilitador estar
atento para que a sessão continue em
busca de sua maior finalidade, o
acordo; porém, não pode o facilitador
dominar as ações do método
restaurativo, devendo ser o mais
discreto possível.
PRESSUPOSTOS

Responsabilidade

Reparação de dano

Não há a verticalidade da sentença

Baseada na coesão e não coerção

Construir comunidades e fortalecer laços


ouvindo as pessoas e suas necessidades
A RESOLUÇÃO 225/2016 DO CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA E SUAS
DIMENSÕES RELACIONAIS.
INSTITUCIONAIS e SOCIAIS.
 CONSIDERANDO que, diante da
complexidade dos fenômenos conflito e
violência, devem ser considerados não só os
aspectos relacionais individuais, mas
também, os comunitários, institucionais e
sociais que contribuem para seu
surgimento, estabelecendo-se fluxos e
procedimentos que cuidem dessas
dimensões e promovam mudanças de
paradigmas, bem como, provendo-se
espaços apropriados e adequados;
Art. 1º. A Justiça Restaurativa constitui-
se como um conjunto ordenado e
sistêmico de princípios, métodos,
técnicas e atividades próprias, que visa à
conscientização sobre os fatores
relacionais, institucionais e sociais
motivadores de conflitos e violência, e
por meio do qual os conflitos que geram
dano, concreto ou abstrato, são
solucionados de modo estruturado na
seguinte forma:
I – é necessária a participação
do ofensor, e, quando
houver, da vítima, bem
como, das suas famílias e dos
demais envolvidos no fato
danoso, com a presença dos
representantes da
comunidade direta ou
indiretamente atingida pelo
fato e de um ou mais
facilitadores restaurativos;
II – as práticas restaurativas
serão coordenadas por
facilitadores restaurativos
capacitados em técnicas
autocompositivas e
consensuais de solução de
conflitos próprias da Justiça
Restaurativa, podendo ser
servidor do tribunal, agente
público, voluntário ou indicado
por entidades parceiras;
 III– as práticas restaurativas terão
como foco a satisfação das
necessidades de todos os
envolvidos, a responsabilização
ativa daqueles que contribuíram
direta ou indiretamente para a
ocorrência do fato danoso e o
empoderamento da comunidade,
destacando a necessidade da
reparação do dano e da
recomposição do tecido social
rompido pelo conflito e as suas
implicações para o futuro.
VALORES E PROCESSOS
 Principais valores: Participaçã o, Respeito,
Honestidade, H umildade ,
Interconexã o, Responsabilidade,
Empoderamento, Esperança,
Informalidade.

 Os valores e processos sã o insepará veis na


justiça restaurativa. Pois sã o os valores
que determinam o processo, e o processo é o
que torna visíveis os valores.

 Diferentes comunidades é tnicas e culturais


podem empregar processos diferentes para
realizar os valores restaurativos comuns e
alcançar resultados restaurativos similares.
Resolução 12/2002
Conselho Econômico e Social
da ONU
 1. Programa de Justiça Restaurativa significa qualquer
programa que use processos restaurativos e objetive
atingir resultados restaurativos
 2. Processo restaurativo significa qualquer processo no
qual a vítima e o ofensor, e, quando apropriado,
quaisquer outros indivíduos ou membros da comunidade
afetados por um crime, participam ativamente na
resolução das questões oriundas do crime, geralmente
com a ajuda de um facilitador. Os processos
restaurativos podem incluir a mediação, a conciliação,
a reunião familiar ou comunitária (conferencing) e
círculos decisórios (sentencing circles)
 Resultado restaurativo significa um
acordo construído no processo
restaurativo. Resultados
restaurativos incluem respostas e
programas tais como reparação,
restituição e serviço comunitário,
objetivando atender as
necessidades individuais e coletivas
e responsabilidades das partes,
bem assim promover a reintegração
da vítima e do ofensor.
 EssaResolução esclarece que a
Justiça Restaurativa só poderá
ser usada quando o acusado for
confesso, ou seja, ter assumido
a autoria do delito, cuja
materialidade já tenha sido
comprovada.
Para que a Justiça
Restaurativa se oriente e
consiga atingir sua principal
função, ela possui alguns
elementos, que são:
A) social
B) participativo ou
democrático
C) reparador
D) reconhecimento
SOCIAL
O crime não pode ser visto
apenas como o
descumprimento de uma
regra, mas como um
desequilíbrio nas relações
entre as pessoas da sociedade
ELEMENTO PARTICIPATIVO
OU DEMOCRÁTICO
 Para que a Justiça Restaurativa seja
efetiva e atinja seu objetivo, ou
seja, a pacificação, as partes, os
infratores e a comunidade devem
ter um envolvimento ativo no
processo.
 Ligação entre a Justiça Restaurativa
e a conciliação e mediação
REPARADOR

 Se a prática restaurativa não for


voltada, primordialmente, para a
reparação da vítima, não tem razão
de existir.
O primeiro acordo a ser feito em
uma sessão de justiça restaurativa é
a forma de reparação do dano
causado à vítima em face da prática
delituosa.
RECONHECIMENTO
 Esse elemento significa perceber e
entender as palavras e ações da
outra parte.
 No caso da Justiça Restaurativa,
devem ser observados alguns
fatores:
 A) A natureza social do fato
criminoso
 B) A disponibilidade do tipo penal
 C) O relacionamento entre vítima
e agressor e o grau de agressão
PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA
RESTAURATIVA

 Voluntariedade
 Informalidade
 Oportunidade
 Neutralidade
 Sigilo
VOLUNTARIEDADE

 A participação da vítima e ofensor nas sessões


restaurativas decorre de suas vontades.
 Ninguém pode iniciar os trabalhos se uma das
partes não quiser participar.
 Porém, elas devem ser encorajadas (e não
forçadas) a se valerem da Justiça
Restaurativa.
 O escopo de tal princípio (ou regra) é a
facilidade na busca de um acordo.
 Quando uma das partes não tiver a vontade
de participar da sessão, ou seja, não quiser
buscar um acordo, esse não será feito; ou, se
feito, não será eficaz.
INFORMALIDADE
 Não há rituais solenes para o início dos trabalhos,
tampouco depoimentos reduzidos a termo ou
burocracias demasiadas.
 Outro aspecto desse princípio é que os centros onde
são realizadas as sessões devem estar em local
diferente do Fórum, para que não tenha o ambiente
formal do Poder Judiciário.
 Exceção se faz à informalidade no tocante à
elaboração do termo constante o acordo. Tal termo
deve ser redigido em termos objetivos, sendo que
as prestações das partes devem ser proporcionais e
possíveis de serem satisfeitas, além de dever prever
formas de fiscalização, bem como garantia para o
cumprimento.
OPORTUNIDADE

A prática restaurativa independe de


ser realizada antes ou depois do
oferecimento ou recebimento da
denúncia ou queixa crime, antes ou
depois da prolação da sentença; ou
no curso da execução penal.
NEUTRALIDADE
 Aspartes devem estar em um local e se
submeter a um procedimento neutros,
sem que favoreça nenhuma das partes.
 Ambas as partes devem ser ouvidas (na
presença ou ausência da parte contrária)
sobre a ocorrência dos fatos
investigados, bem como sua motivação e
eventuais sequelas.
 Posteriormente,juntas, as partes devem
discutir sobre a possibilidade de um
acordo, de uma restauração.
SIGILO

 Tal princípio de passar às partes segurança


de que o que for pronunciado na sessão,
não poderá ser usado em outro lugar a
favor ou contra elas.
 Qualquer declaração das partes não poderá
ser revelada no curso do processo em
andamento ou em nenhum outro.
 Da mesma maneira, se o ofensor recusar a
restauração com a vítima, isso não poderá
ser fundamento ou causa para
agravamento da pena aplicada.
U M ENCONTRO PODE SER CONSIDERADO
RESTAU RATIVO QUANDO
 For guiado por facilitadores
competentes e imparciais;

 Esforçar-se para ser inclusivo e colaborativo;

 Requer a participaçã o voluntá ria;

 Fomentar um ambiente de confidencialidade;

 Reconhecer convençõ es culturais;

 Enfocar necessidades;
 Demonstrar respeito
autê ntico por todas as
partes;

 Validar a experiê ncia da vítima;

 Esclarecer e confirmar as
obrigaçõ es do infrator;

 Visar resultados
transformativos.
QUEBRA DE PARADIGMA
Just iç a Retributiva Just iça Restaurativa
O crime é definido como a violaçã o do O crime é definido como uma violaçã o
Estado de uma pessoa por outra
Foca-se no estabelecimento da culpa Foca-se na resoluçã o do problema, nas
e no passado (ele cometeu o crime?) responsabilidades, nas obrigaçõ es e no
futuro (o que deve ser feito?)

Imposiçã o da dor para punir e Restituiçã o como um meio de


dissuadir/prevenir restauraçã o para ambas as partes

A natureza interpessoal e conflitual do Crime reconhecido como um conflito


crime obscurecida, reprimida; conflito interpessoal; valor do conflito é
opõ e indivíduo e Estado reconhecido

U m prejuízo social é substituído por Focaliza a reparaçã o do prejuízo social


outro
Comunidade é deixada à margem, Comunidade é um facilitador no
sendo representada abstratamente pelo processo restaurador
Estado

O crime é definido puramente em O crime é entendido como parte de um


termos legais, desprovido de aspectos contexto moral, econô mico e político
morais, sociais, econô micos ou políticos
QUEBRA DE PARADIGMA
Just iça Retributiva Just iç a Restaurativa
Açõ es direcionada do Estado para o Reconhecimento da participaçã o da
ofensor – vítima ignorada – ofensor vítima e do ofensor no
passivo problema/soluçã o – direitos/deveres da
vítima reconhecidos – ofensor
encorajado a assumir a
responsabilidade

Responsabilizaçã o do ofensor é definida Responsabilizaçã o do ofensor é definida


como o cumprimento da puniçã o no entendimento do impacto da sua
açã o e na ajuda para determinar a
melhor maneira de consertar seus erros

Reaçã o baseada no comportamento do Reaçã o baseada nas


passado do ofensor consequê ncias prejudiciais do
comportamento do ofensor

Estigma de crime irremovível Estigma de resoluçã o do crime por meio


de açõ es restaurativas
Nã o se encoraja o perdã o e o Possibilidade para o perdã o e o
arrependimento arrependimento
Participaçã o dependente de Envolvimento direto dos participantes
procuradores profissionais
REFERÊNCIAS
L E A L , Jackson Silva; S A L M , Joã o. A Ju st iça Restaurativa:
multidimensionalidade humana e seu convidado de honra.
Revista Sequê ncia: estudos jurídicos e políticos. v. 33 n. 64.
Florianó polis: PPGD, 2012. Disponível
em:
<http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/issue/current
>
S L A K M O N , C.; D E VITTO; G O M E S PINTO, Renato Só crates
(Org.). Ju st iça restaurativa: coletâ nea de artigos. Brasília/DF:
Ministé rio da J u s tiça e P N U D, 2005. Disponível
em:
<http://www.dhnet.org.br/dados/livros/dh/livro_sedh_justica_resta
urativa.pdf>

Você também pode gostar