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PERSONAGENS

Maria
 
• 13 anos
• curiosa, interessada, instruída, célere no entendimento,
precoce (acto I, cenas 2 e 3)
• formosa, fraca, frágil, doente – tísica (acto I, cenas 2 e 3)
• bondosa, pura, inocente (acto I, cena 2)
• admiradora de Telmo, mostra à-vontade perante o aio (acto
I, cenas 2 e 3)
• preocupada com a voz do povo, que continua à espera de
D.Sebastião (acto I, cena 3)
• perplexa por ninguém querer ouvir falar de D. Sebastião –
excepto Telmo (acto I, cena 3)
• inconsciente da sua doença (acto I, cena 3)
• apreensiva com a preocupação da mãe em relação a ela
(acto I, cena 4)
• adulta, opina sobre a necessidade de remediar o
desconserto, as injustiças do mundo (acto I, cena 5)
• infantil pelo desejo de presenciar uma batalha que
impedisse os governadores de se instalarem (acto I, cena 5)
• orgulhosa pelo carácter patriótico do pai (acto I, cena 7)
• fortemente intuitiva e dotada do dom da profecia (ato
II,cena III) 
• modelo da mulher romântica: mulher-anjo (cena XII, mas
também no acto I, cena II)  
 
PERSONAGENS
Madalena
 
• Nobre, da família dos Vilhenas
• Culta, dedicada à leitura (cita versos do episódio “Inês de
Castro” d’Os Lusíadas)
• Frágil, sensível, fraca, dominada por medos e terrores(acto
I, cena 1)
• Grata pela prontidão, servilidade de Telmo; respeita-o
como a um familiar (acto I, cena 2)
• Preocupada com a influência que Telmo exerce sobre Maria
(acto I, cena 2)
• Reconhecida pela consideração e afecto que Telmo lhe
dedicou logo que se casou com D. João de Portugal (acto I,
cena 2)
• Preocupada em relação à sensibilidade/debilidade da filha
(acto I, cenas 2 e 3)
• Fiel à memória do 1º marido: durante 7 anos procedeu a
buscas (acto I, cena 2)
• Apaixonada pelo 2º marido, respeitando sempre o 1º (acto
I, cena 2)
• Constrangida pelo facto de Telmo intensificar os seus
temores (acto I, cena 2), acusando-o por isso
• Assustada com a possibilidade de D. João de Portugal viver
ainda (acto I, cena 2)
• Receosa, impotente perante a acção do marido face aos
«poderosos» (acto I, cena 7)
• Indicadora de desgraças, calamidades (acto I, cena 8);
• Obediente ao marido (acto I, cena 8)
• Supersticiosa, tenta salvar, em vão, o retrato de Manuel de
Sousa Coutinho (acto I, cena 12)
 
D. Madalena de Vilhena

Caracterização romântica

A tortura dos sentimentos


violentos sobrepõe-se
à razão
Marcada por conflitos crença doentia em
interiores superstições/temor
do futuro

o remorso de um um amor-paixão
passado obsidiante ensombrado
pelo medo

Vive o pesadelo de um amor condenado (“eu amei-o assim que o


vi(...) D. João de Portugal ainda era vivo”)
Tem o convento como solução, originando o fechamento para o
mundo e a abertura em redenção perante Deus.
PERSONAGENS
 
Manuel de Sousa:
Esta personagem apresenta-se na obra como uma personagem viril,
um patriota e um homem de coragem e bravura, pois não hesita em
lançar fogo ao seu próprio palácio, para expressar publicamente a
sua aversão aos castelhanos. Dos três directamente ligados à trama
do destino, só ele parece não se deixar impressionar por fantasmas e
agouros, o que vai realçar a sua coragem e bravura.
É definido por Telmo como: " um homem às direitas", no entanto,
verifica-se que isso não é bem verdade, porque, caso fosse, ele nunca
chegaria fogo ao palácio. Põe-se também em causa a sua imunidade,
pois ele diz, ao incendiar o palácio: " Meu pai morreu
desastrosamente caindo sobre a sua própria espada: quem sabe se
eu morrerei nas chamas ateadas por minhas mãos? ".
Sendo ele o autor do único assomo de acção no drama, o incêndio no
palácio, põe-se a questão de ser ele a personagem principal da
história.
 
  Telmo: 
Telmo é uma espécie de substituto do coro, comportando-se ao
longo de toda a peça como a consciência moral da família:
compreende bem as coisas, por vezes mais do que desejaria,
constituindo não raro uma figura que embaraça o relacionamento
com ele próprio.
É o único na casa que ama verdadeiramente D.João de Portugal,
acabando por sofrer também os reflexos do drama, que ele parece
desejar, e esse mesmo drama vai dar-lhe a oportunidade de ver que
a infidelidade que guarda a seu amo e senhor não era tão tensa
como ele próprio imaginava.
É caracterizado por Madalena como: «o escudeiro valido, o familiar
quase parente, o amigo velho e provado de teus amos...»
PERSONAGENS
  
  Romeiro:
O Romeiro é o braço direito do destino, o anjo da vingança. Por
detrás do seu aspecto humilde esconde-se a figura temida de D.João
de Portugal. E realmente, embora o Romeiro não verbalize nunca a
sua identidade, é a altivez de um nobre ofendido que perpassa por
todas as suas palavras. Tão altivo que é ainda para defender o seu
nome que toma a decisão de tentar salvar o que a sua simples
presença irremediavelmente deitara a perder.
Podemos salientar outro aspecto que normalmente ninguém refere:
a dose de sofrimento que por ele recai, pois de facto a obra foi
construída para despertar a piedade por aqueles sobre quem se
abate a catástrofe.
 
 Frei Jorge:
Esta personagem é a única que, ao longo de toda a acção, mantém
um discurso adulto, por mais dramáticas que sejam as situações. Frei
Jorge acalma temores, dissipa dúvidas, conforta dores; representa o
bom senso, a razoabilidade, a frieza de pensamento.
É o homem que sabe pesar e medir as situações e tem a resposta
certa no momento certo.
 
 D.João de Portugal:
Esta personagem pode ser entendida como a personagem principal
da obra, se tivermos como ponto de vista que é à volta dele que gira
toda acção, pois, como podemos verificar, a presença de D.João de
Portugal é constante em palco, do princípio ao fim do enredo, e nem
precisaria para tanto do auxílio que lhe dão as falas e atitudes de
Telmo; é a sua presença ou a sombra da sua presença que, desde o
princípio, dá sentido a tudo quanto se vai passando.
A simbologia das personagens

D. João de Portugal: simboliza o velho Portugal, o povo heróico do


passado.
 
Manuel de Sousa Coutinho: representa o Portugal novo, modelado
pelos ideais liberais do patriotismo, da justiça e do civismo. É
também um homem novo que une o saber ao querer.
 
D. Madalena: simboliza aqueles que sobrepõem o sentimento à
razão.
 
Maria: a intuição e a imaginação são os caminhos privilegiados do
seu conhecimento. Conhece porque sonha. É a única personagem
que consegue ultrapassar as suas próprias contradições.
Demonstra o cego rigor de uma Ordem despótica e inflexível. A sua
voz é o último aviso a um destinatário colectivo, o leitor, o público
e futuras gerações, que a viragem dos tempos amedronta e as
teias do passado ameaçam.
 
Telmo: tem uma função semelhante à de um coro trágico. Tem
também a função de narrador dramático, é o intermediário entre
as personagens e o público. É o espelho onde se reflecte o nosso
dúplice e hesitante, que o temor ou a piedade perturbam.
 
O TEMPO COMO CONDICIONANTE DA TRAGÉDIA

ATO I

no presente - marcado por expressões como ”princípios do séc.


XVII“; ”É no fim da tarde.”; “é quase noite”; “É noite fechada”;
”sairemos esta noite”; “E o presente, esse, é meu, meu só, tudo
meu”

no passado - um tempo narrado, não representado, mas ligado ao


tempo da acção dramática: “Depois que fiquei só, depois daquela
funesta jornada de África.(...) com dezassete anos!”; “a que se
apega esta vossa credulidade de sete... e hoje mais catorze... vinte
e um anos?”; “ vivemos (...) seguros, em paz e felizes... há catorze
anos” (cena II).

no futuro - com previsões que vão projectar-se no segundo e,


sobretudo, no terceiro actos, como consequência, ora do presente,
ora do passado: ”O que há-de ser dela e de nós?”; “A morte era
certa”; “Parece que o vinha afrontar se voltasse, o pobre do rei”;
“uma espada de dois gumes (...) que nos vai separar para sempre”;
“vou ser infeliz, vou morrer naquela casa funesta”.
O TEMPO COMO CONDICIONANTE DA TRAGÉDIA
ATO II

O tempo dramático é, agora, marcado por informações deste


tipo:

”Há oito dias que aqui estamos”; “Ainda bem que viestes; mas de
dia!... “; “ Não chegamos aqui senão lá por noite”; “Sexta-feira!
(aterrada). Ai que é sexta-feira...”; “É hoje sexta-feira.”; “estou
aqui ao anoitecer”; “ao anoitecer, antes da noite, aqui estou”.

A primeira referência vem colmatar uma lacuna de oito dias. O


autor lança, assim, no texto, os dados mais urgentes para a linha
de continuidade lógica da acção e das personagens.

Os advérbios de tempo hoje e já completam-se na temática


insistente de um tempo que, incisivo, bate à porta naquele dia
fatalmente marcado pelo destino.

Entretanto, o tempo converge, em ritmo acelerado, para a noite –


noite como paradigma de morte, ou encarada como o
fechamento de um tempo de vida, que vai dar lugar ao alvorecer
de um outro ciclo. ”Hoje é o primeiro dia do resto/da tua vida”,
dir-se-ia de cada uma das personagens; um hoje implacável,
consumado na fronteira do fim e do principio = noite/alvorecer =
passado/ futuro.
 
O TEMPO COMO CONDICIONANTE DA TRAGÉDIA

ACTO III

O tempo dramático é, neste ato, marcado pelo declínio do tempo


hoje, passado a um ontem irreversível: “Que horas são?”; “Quatro,
quatro e meia (...) são cinco horas”; “Ontem de tarde, não; mas
esta noite...”.

A morte física e a morte para o mundo acontecem ao raiar do novo


dia, que é o raiar de uma vida com novas dimensões, ou seja, as
personagens iniciam o seu tempo psicológico-teológico na
madrugada – a madrugada da vida, em que já é desnecessária a
contagem das horas, dos dias, dos anos.

Ouve-se, pois, o acorde final, anunciado neste último ato em


gradação decrescente.
O TEMPO COMO CONDICIONANTE DA TRAGÉDIA

Tempo psicológico
 
Apenas com uma frase, curta e incisiva - “viveu-se, pode-se
morrer”- retrata-se Madalena como a personagem que mais viaja
no tempo, procurando desesperadamente edificar a sua
consciência algures num passado cheio de reticências: “desde o
tempo que... que...”.
A contradição entre viver e morrer é a trágica antítese entre a
certeza do passado já cumprido e o medo da sua sequência lógica
num futuro funesto: ”Ainda os agouros e profecias (...) são
sempre de aterrar... Deixemo-nos de futuros... ”; “E de passados
também...”.
O tempo psicológico é, pois, essencialmente, o tempo interior
das personagens, que vivem, em antecipação, o peso dos
presságios para o futuro: ”a perda do retrato é prognóstico fatal
de outra perda maior, que está perto, de alguma desgraça
inesperada (...) E há... oh! Há grande desgraça a cair sobre meu
pai... decerto! E sobre minha mãe também, que é o mesmo”; “
mas tenho cá uma coisa que me diz que (...)aquilo é
pressentimento de desgraça grande...”; “Tenho este medo, este
horror de ficar só... de vir a achar-me só no mundo!”; “A todos
parece que o coração lhe adivinha desgraça... E eu quasi que
também já se me pega o mal”.
A previsão do futuro mais certeira encontra-se, sem dúvida, na
afirmação: ”Para frades de São Domingos não nos falta senão o
hábito...”.
 
 
O espaço como condicionante da tragédia
 
Concentração é a primeira característica da estruturação do tempo;
caracteriza também a estruturação do espaço. O primeiro acto passa-
se no palácio de Manuel, o segundo e terceiro no de D. João de
Portugal. A mudança de lugar é forçosamente motivada Mais ainda: o
primeiro cenário desaparece, deixa de existir – Manuel deita fogo ao
seu palácio (traço histórico) – o cenário do segundo e terceiro actos
representa um mundo absolutamente fechado em si próprio. [...] o
palácio pertence ao marido que regressa, dá vida ao passado. Neste
mundo dramático, as recordações transformam-se logo em
pressentimentos. O espaço anuncia a desgraça que se aproxima, tem
uma acção opressiva, fatal, ominosa. Há no espaço dois sinais
especialmente pressagos e ominosos: quando arde o retrato de D.
Manuel, isto aparece-nos, no mundo do drama, como indício certo de
desgraça e assim é sentido pelas figuras.
 
Ato I:
Câmara com ”duas grandes janelas rasgadas”: vê-se eirado e “toda
Lisboa”; porta para o interior; porta para o exterior.
É, pois, um espaço sem grades, amplamente aberto para o exterior,
onde as personagens ainda gozam a liberdade de se movimentarem
guiadas pela sua vontade própria. Através das “grandes janelas
rasgadas” percebe-se uma paisagem vasta, sem limites, apenas
desmarcada pelo determinante indefinido – “toda Lisboa”. E o tempo
parece inscrever-se aí, amplamente também, nas recordações de
mais de vinte e um anos, com direito à “imensa felicidade” daquele
amor entre Madalena e Manuel.
O espaço como condicionante da tragédia

Ato II:
Salão – Portas “cobertas de reposteiros”
Deixa de haver janelas e as portas, ainda no plural, estão já mais
destinadas a cercar as personagens do que a deixá-las escapar ao
fatum. Os reposteiros começam uma função de impedimento: O
mundo exterior desaparece, tal como a vontade própria se desvanece
– o fechamento do espaço vai reflectir-se no fechamento do tempo –
ou vice-versa – uma vez que o tempo recordado (mais uma vez em
analepse) é, agora, de apenas oito dias e, por outro lado, os mesmos
21 anos, aplicados a D. João, representam a infelicidade gravada a
“lágrimas de sangue”.
 
Ato III:
Parte baixa do palácio «porta igreja de S. Paulo» aos pés do altar
hábito.
No último acto, com dois cenários sucessivos, confirma-se a gradação
– uma porta única, através da qual as personagens vão desaparecer
do mundo dos vivos: Maria fica encerrada na morte e Madalena e
Manuel encerrados no hábitos do conventos; Telmo e D. João pouco
tempo mais terão de vida.

CONCLUSÃO: À medida que o espaço diminiu, aumenta a tensão


dramática da ação, numa relação de proporcionalidade inversa.
ELEMENTOS SIMBÓLICOS

Leitura dos versos de A felicidade aparente e o


Camões (fim trágico prenúncio de desgraça
dos amores)

O tempo Sexta-feira, dia aziago


O fim de tarde e a noite (acto l)
prenunciadores de desgraça

A idade de Maria (13 anos)


que na crença popular indica
azar;
Os números
O 7 que simboliza o fim de um
ciclo periódico;
Os 21 anos (3×7) de ausência
que simbolizam uma
fatalidade perfeita.

A crença no
regresso de D. João O mito sebastianista
de Portugal

“prognóstico fatal de outra


perda maior”
O retrato que ardeu •Destruição, pelo fogo, da
imagem
•Destruição do fogo/paixão

O regresso ao “palácio que


fora de D. João de Portugal”
O espaço que irá trazer recordações do
passado e um indício de um
possível regresso. Um
Prenúncio de desgraça.

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