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e efeitos na saúde
A QUESTÃO DOS RISCOS PSICOSSOCIAIS
CLAUDIA OSORIO
Tópicos
Intensificação do trabalho: competição exacerbada; falta de reconhecimento (PDT); a questão do trabalho bem feito (CA);
situação na pandemia de covid19.
Organização do trabalho e riscos de estresse crônico: O que diz a OIT.
◦ Social: questões econômicas, culturais e de valores éticos; o tempo e o espaço na contemporaneidade.
◦ Organizacional: políticas de pessoal, exigências de produtividade, características do objeto e da tecnologia
Relação fundada em alianças entre empresa e trabalhador para vencerem juntos nesse campo
de batalha.
2018 – 3,6 milhões são motoristas de aplicativos; 10,1 milhões são entregadores.
Esses números aumentam assustadoramente.
Bibliografia
Antunes, Ricardo e Praun, Luci. (2015). A sociedade dos adoecimentos no trabalho. Serviço
Social e Sociedade, São Paulo, n. 123, p. 407-427, jul./set.
Goes, Emanuelle Freitas, Ramos, Dandara de Oliveira, & Ferreira, Andrea Jacqueline Fortes.
(2020). Desigualdades raciais em saúde e a pandemia da Covid-19. Trabalho, Educação e Saúde,
18(3), e00278110. Epub 29 de maio de 2020.
Silva, Pedro Henrique Isaac. (2020). O mundo do trabalho e a pandemia de Covid19: um olhar
sobre o setor informal. Caderno de Administração, vol. 28, Ed. Esp., p. 66-70.
Uchôa-de-Oliveira, Flávia Manuella. (2020). Saúde do trabalhador e o aprofundamento da
uberização do trabalho em tempos de pandemia. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 45,
e22.
Los trabajadores migrantes y la SST
OIT – Riesgos emergentes y nuevos modelos de prevención en un mundo de trabajo en
transformación. Genebra, 2010
Os trabalhadores migrantes e a SST
Em muitos países o número de trabalhadores migrantes aumentou por motivos
tanto políticos como económicos.
◦ Estes frequentemente estão expostos a um maior risco de exploração
Embora seja necessário realizar mais investigações para compreender plenamente suas
consequências, aceita-se que tais fatores podem ter efeitos consideráveis na saúde, no
absenteísmo e no rendimento dos trabalhadores.
Fatores psicossociais
e estresse relacionado ao trabalho
https://outraspalavras.net/capa/superexplorados-vigiados-e-co
m-direito-a-yoga/
Acesso em 18/09/2018
Superexplorados, vigiados e…
com direito a Yoga
Diante da ausência de expectativas para conseguir condições de trabalho aceitáveis, estímulos ou uma
jornada de trabalho justa, somos convencidos e enganados para aceitar um trabalho com a promessa de
uma aula de yoga gratuita e a ilusão de que nos valorizam. Se damos uma espiada nas principais páginas de
emprego na web, especialmente na indústria tecnológica, temos um sem-fim de informações sobre a
cultura corporativa das empresas.
A distinção entre os períodos de “trabalho” e de “não-trabalho” praticamente desapareceu.
Já não vamos ao bar, mas bebemos no escritório; já não lemos por prazer, pegamos livros da biblioteca do
escritório para pesquisar sobre problemas que afetam nosso ambiente de trabalho.
E com os programas dedicados ao bem-estar do empregado, as empresas supervisionam o que até há
pouco não dizia respeito ao trabalho: as horas de sono, as decisões financeiras (que muitas vezes incluem
contribuições de caridade) e até mesmo a comida.
Esgotadas em razão desse compromisso excessivo as pessoas não trabalham bem, e calcula-se que entre
60% e 80% por cento dos acidentes devem-se a decisões associadas ao esgotamento.
Psicopatologia da Recessão
e do Desemprego
Estudos na década de 1980, feitos por Edith Seligmann-Silva, mostram relação
entre os processos de reestruturação produtiva e alguns efeitos sobre a saúde
mental. Há demonstração epidemiológica e clínica de aumento da depressão,
incluindo alcoolismo e suicídios.
Esses efeitos incidem tanto sobre os que ficam em situação de desemprego
intermitente ou de longa duração como sobre os que continuam empregados.
A mesma autora estuda
As síndromes da insensibilidade, como o chamado burn-out.
O assédio moral como política organizacional de pressão pelo aumento da produção.
“Quanto menor a participação do trabalhador na
formulação da organização de sua própria atividade e no
controle sobre a mesma, maiores as probabilidades de
que a atividade seja desfavorável à saúde mental”
(Seligmann-Silva)
Fatores psicossociais de risco
“A Organização Internacional do Trabalho – OIT, desde 1984, refere-se aos fatores psicossociais
no trabalho como a interação entre o trabalho (ambiente, satisfação e condições de sua
organização) e as capacidades do trabalhador (necessidades, cultura, sua situação externa ao
trabalho). De um lado, portanto, está a inter-relação entre conteúdo, organização e
gerenciamento do trabalho, entre outras condições ambientais e organizacionais, e, do outro, as
competências e necessidades dos empregados.”
Ruiz, Valéria Salek &Araújo, André Luís Lima Saúde e segurança e a subjetividade no trabalho: os
riscos psicossociais Rev. bras. Saúde ocup., São Paulo, 37 (125): 170-180, 2012
Relação trabalho saúde
O trabalho tem uma função psicológica: desenvolve o ser humano, como um ser social, já que
se trata de um cenário de relações sociais de grande importância.
Em que condições o trabalho produz saúde:
O trabalho tem sentidos importantes para o(s) trabalhador(es).
O(s) trabalhadores pode(m) ter orgulho de seu trabalho.
Há reconhecimento pelo trabalho realizado.
Há um coletivo de trabalho que tem fortes valores (de ofício) compartilhados, que compartilha
um experiência de trabalho e assim sustenta bem a cooperação no trabalho.
Portanto é possível lidar com os riscos de estresse ampliando os aspectos do trabalho que
possibilitam a sustentação de recursos coletivos para a ação.
RPS: riscos X recursos
Controvérsia central
Riscos Psico Sociais?
ou Recursos Psico Sociais?
Onde e como intervir?
Analisar riscos psicossociais
Associados à organização do trabalho, parte do RISCO
ERGONÔMICO na normatização brasileira (NR 17 item 6):
◦ 17.6.2 A organização do trabalho, para efeito desta NR, deve levar em consideração, no
mínimo:
a.as normas de produção;
b.o modo operatório;
c.a exigência de tempo;
d.a determinação do conteúdo de tempo;
e.o ritmo de trabalho;
f. o conteúdo das tarefas.
Analisar riscos psicossociais
Associados à organização do trabalho, parte do RISCO ERGONÔMICO
na normatização brasileira (NR 17 item 6):
COMO?
COM QUE DISPOSITIVO?
MAPA DE RISCO com efetiva participação daqueles
trabalhadores que atuam especificamente no território e na
situação analisada.
Centrar a atenção nos Riscos PsicosSociais
ou nos Recursos PsicosSociais?
Problemas indicados por autores diversos:
Com frequência se individualiza a abordagem, caindo na identificação dos efeitos individuais e na busca da
minimização dos efeitos, sem esforços adequados para a eliminação dos fatores que podem estar na origem
desses efeitos. Não são feitos esforços de mudança na organização do trabalho, que incide sobre todos os
trabalhadores.
Nesse caso, os efeitos negativos para a produção, como o aumento do risco de acidentes, continuam presentes.
Caminho que tem como subtexto a responsabilização – até mesmo a culpabilização - dos indivíduos afetados,
que supostamente “são mais frágeis”, “não se cuidam”, “precisam de terapias”, “não são feitos para esse
serviço”...
Caminho pouco ético, por submeter os trabalhadores a efeitos de más condições de trabalho conhecidas e
passíveis de serem transformadas.
Lembrar o uso apontado da Yoga Laboral como “solução”.
Analisar recursos psicossociais
e buscar ampliá-los
Esses recursos estão associados à valorização dos saberes práticos,
advindos da experiência em campo. São recursos coletivos.
Os métodos participativos e de análise e debate de soluções:
Possibilitam a visibilidade e a ampliação desses saberes, incidindo na construção de soluções mais
efetivas e duradouras, em diálogo com saberes teórico técnicos.
Ampliam os diálogos entre trabalhadores sobre o trabalho, incidindo nos modos de percepção dos
riscos e nos modos de enfrenta-los.
Produzem e reforçam valores de ofício, construídos e respeitados pelos trabalhadores, ampliando a
cooperação entre eles e reduzindo riscos de acidentes.
Ampliam os diálogos entre diferentes setores e níveis hierárquicos, possibilitando a ampliação da
cooperação entre eles : cooperação conflitual.
Métodos participativos e coletivos
MAPA DE RISCO com efetiva participação dos trabalhadores que
atuam diretamente no território e na situação analisada.
Outros métodos de formação ativa e continuada no trabalho.
Métodos das clínicas do trabalho: pedagogia freiriana, ergonomia,
psicodinâmica do trabalho, clínica da atividade e outras. Métodos
dialógicos em geral.
A efetiva participação pressupõe espaço de debate e de valorização
da divergência de posições sobre problemas e soluções. Exige
tolerância e tempo para o desenvolvimento do diálogo.
Importância da identificação e análise
participativa dos riscos associados a OT
Os riscos e as cargas inadequadas de trabalho tem relações complexas entre si.
A discussão do trabalho entre os trabalhadores favorece a troca de experiências, o aumento
da confiança mútua e da cooperação na equipe.
O debate entre os próprios trabalhadores sobre o que é o melhor modo de proceder propicia
o reconhecimento que esses trabalhadores tem da importância do seu trabalho. O orgulho
pelo trabalho bem feito contribui fortemente para a saúde e satisfação no trabalho.
A discussão do trabalho pelos trabalhadores tenderá a incluir a análise dos incidentes críticos
e a mantê-los preparados para outros eventos não previsíveis.
Essa política tem obrigatoriamente que incluir a valorização, pela organização, da avaliação
que os trabalhadores fazem, buscando corrigir as más condições que essa análise aponta.
Assim se amplia a cooperação entre diferentes setores, mesmo que haja diferentes interesses
em jogo: a cooperação conflitual.
BIBLIOGRAFIA
CLOT, Yves et cols. Questions autour de la clinique de l’activité. La Nouvelle Revue du Travail, 9. 2016.
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OIT – Riesgos emergentes y nuevos modelos de prevención en un mundo de trabajo en transformación. Genebra, 2010.
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RUIZ, Valéria S. & Araújo, André Luís L. Saúde e segurança e a subjetividade no trabalho: os riscos psicossociais Revista Brasileira
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SELIGMANN-SILVA, Edith. Trabalho e Desgaste Mental: o direito de ser dono de si mesmo. São Paulo, Cortez Editora, 2011.