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A CRUZ

"Desapareça o dia em que


nasci!"
Quando tudo aparenta ir bem, ou mais ou menos, não costumamos
perguntar "por quê?". São a dor, o sofrimento, a ruína do que
realizamos e amamos, a solidão, a traição, a doença que trazem aos
lábios toda a amargura desta pergunta: "Por quê?"
Jó não tinha resposta. Muito religioso para descrer de Deus ou
amaldiçoá-lo, volta-se contra o dom mesmo da vida:
"Desapareça o dia em que
nasci!"
"Desapareça o dia em que nasci; a noite em que se disse: 'Um menino foi concebido!' ...
Por que não se fechou a porta do ventre para esconder à minha vista tanta miséria?
Por que não morri ao deixar o ventre materno, ou pereci ao deixar as entranhas?
Por que me recebeu um regaço e seios me deram a mamar? ...
Agora dormiria tranquilo, descansaria em paz! ...
Que eu fosse como um aborto escondido, sem existir agora, como as crianças que não viram a
luz! ...
Ali (na morte), acaba o tumulto dos ímpios, ali, repousam os que estão esgotados.
Com eles descansam os cativos, sem ouvir a voz do feitor.
Confundem-se pequenos e grandes, e o escravo se livra do seu amo.  
Por que foi dada a luz a quem o trabalho oprime, e a vida a quem a amargura aflige, a quem anseia
pela morte que não vem, ...
Sucede-me o que eu mais temia, o que mais me aterrorizava me acontece!
Vivo sem paz e sem descanso; não repouso: o que me vem é agitação!"
(Jó 3,1-26)
"Desapareça o dia em que
nasci!"
• Modernos Jós

Sofredores de rua, aposentados empobrecidos. Gente da classe média,


equilibrando-se como pode para não ser atirada na miséria. Jovens sem
emprego, mesmo nos países ricos; homens maduros postos de lado,
encostados; velhos experientes e capazes, esquecidos. Insegurança. Violência.
Doentes sem cura, sem trato, sem amparo. Gente que cata do lixo para comer.
Prostituídos, usados, abusados, brutalizados. Vítimas da miséria orgulhosa das
guerras. Prisioneiros. Vítimas dos holocaustos: do horror nazista aos horrores
da Biafra, do Cambodja, da Etiópia, da Somálía, do Haiti, dos "balseros'' de
Cuba, do Afeganistão, da catástrofe medonha de Ruanda ... Milhões ... Como
não dizer pelos que nem sabem dizer ou nem sequer chegam a falar:
"Desapareça o dia em que
nasci!"
“Ó Deus, nós ouvimos com nossos ouvidos,
nossos pais nos contaram,
a obra que realizaste em seus dias,
nos dias de outrora com tuas mãos! ...
Tu porém nos rejeitastes e envergonhastes ...
tu nos entregaste como ovelhas ao abate,
tu nos dispersaste entre as nações;
vendes teu povo por um nada,
e nada lucras com o seu preço!"
(SI 44,2.10.12.13)
“A cruz"
Na verdade Deus não inventou a Cruz. Ela foi um suplício criado pelo
mesmo povo a quem devemos o alfabeto, base de nossa civilização e
progresso: os fenícios. Os romanos aprenderam a usar a cruz com seus
rivais, os poderosos filhos de Cartago, colônia fenícia. Empregavam-na
para dar uma morte lenta, terrível, assombrosa aos condenados dos
povos submissos ou escravos. Os cidadãos romanos dela eram isentos,
pois a cruz produzia uma morte medonha: uma morte para o corpo,
sufocado em convulsões tetânicas, e para a alma, levada ao desespero a
amaldiçoar a Deus e a vida. A cruz foi instrumento do poder humano,
poder feito de aparência e soberba:
 
"Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam, e
seus grandes as tiranizam," (Mc 10,42)
“A cruz"
Na verdade Deus não inventou a cruz. Na verdade, Ele chora sobre
a loucura humana, que pensa prolongar a vida multiplicando os
assassinatos. Assim Jesus lança o seu lamento:

"Jerusalém, Jerusalém, tu que matas os profetas e apedrejas os que te


são enviados, quantas vezes eu quis ajuntar os teus filhos, como a
galinha, que recolhe debaixo das asas os seus Pintinhos, e tu não o
quiseste!" (Mt 23,37)
• 
“As Torturas da Cruz"
Arrastado até o lugar do suplício, depois de flagelado, enfraquecido
pela perda de sangue, sofrendo a dor inominável de ter as vestes
grudadas nas chagas arrancadas à força, o condenado é estirado no
chão.
Suas mãos devem, agora, ser pregadas, pelos punhos, no travessão
horizontal da cruz. Região que enfeixa pequenos ossos e muitos nervos,
segredo da mobilidade e perícia da mão humana, o punho recebe o
cravo, fazendo retinir em agonia todos os seus nervos, enquanto os
ossos se separam. Se alguns nervos são cortados, outros tantos bastam
para ficar esticados, em atrito contra o cravo durante todo o tempo.
“As Torturas da Cruz"
Mãos imóveis., Não podem mais defender das moscas, que enxameiam
a vítima sangrenta.
As costas laceradas se apoiam no chão, sofrendo a intrusão da areia
e das pedrinhas, o agudo das pontas e arestas.
Um puxão. Pendurado, como massa sem dignidade, pelos punhos apenas, o
condenado é levantado, com o travessão horizontal, ao poste, normalmente
já fincado no lugar costumeiro. Só então lhe fixam os pés, ambos os pés, com
um só cravo. Novamente os ossos se separam, os nervos são decepados ou
ficam esticados sobre o metal anguloso do prego, transmitindo dor, pura dor,
a todo o sistema nervoso, dor que explode no cérebro, cega o entendimento,
devasta até o amor à vida.
“As Torturas da Cruz"
É uma dor sem esperança. O indefeso está pregado, crucificado, isto é,
fixado na cruz. Os músculos dos braços e do tórax se contraem em
contrações descontroladas. Mesmo sem querer, o torturado se ergue,
apoiado nos pés. O consequente alívio da pressão sobre os músculos
dos braços, a única mísera possibilidade dos músculos do peito
permitirem respirar, é compensado pela renovação do tormento dos
nervos dos pés, pela contração dos músculos das pernas, até que elas
cedam e o peso volte a se aplicar nos punhos das mãos.
“Quanto a Jesus "
Jesus tinha perdido sangue na sua apavorante agonia. Coroado de espinhos,
tinha perdido mais sangue que os condenados comuns, que só sofriam a
flagelação. Os espinhos no couro cabeludo, região de abundante e duradouro
sangramento, renovavam a dor e a hemorragia nos encontrões contra a
madeira da cruz. Não só no momento da elevação, mas também por causa
das convulsões do corpo crucificado.
Jesus tinha sido levado aos tropeções do monte das Oliveiras a Jerusalém. De
Anás a Caifás, a Herodes, a Pilatos, Muitas idas e vindas por trajetos nem
curtos nem, muito menos, asfaltados. Nada tinha comido, repousado, bebido.
Suas feridas contusas tinham sido reabertas, com tremenda perda de sangue,
duas vezes: quando os seus atormentadores lhe tinham arrancado a velha
capa vermelha, com que tinham se divertido fazendo dele um rei de
chanchada; e quando lhe tiram as vestes e o deixaram despido para a
crucifixão.
“Quanto a Jesus "
Desta vez a autoridade não se interessava em prolongar o suplício.
Primeiro porque Pilatos não tinha condenado Jesus senão
constrangido, e não via nenhum interesse em fazer durar aquela
situação. Depois, por ser tempo da Páscoa, não convinha deixar
mobilizado todo um grupamento de soldados a tomar conta de Jesus e
de dois bandidos menores, considerando que esta era uma época
particularmente sujeita a motins do muito pouco submisso povo judeu.
Terceiro, os próprios judeus podiam ficar de muito mau humor se os
torturados fossem deixados expostos, estragando a vista da cidade.
Seria uma profanação da atmosfera da festa tão solene, da celebração
dos altos feitos de Javé, o libertador do seu povo eleito.
“O Primeiro se fez o Último "
Deste modo ele nos amou até o fim, até a última gota de água e sangue do seu
estraçalhado corpo. Deste modo, o primeiro se fez o último:

"Os reis das nações as dominam, e os que as tiranizam são chamados de


benfeitores. Quanto a vós, não deverá ser assim. Pelo contrário, o maior
dentre vós deve-se tornar como o mais desimportante, e o que governa como
aquele que serve. Pois qual o maior: o que está à mesa ou o que serve? Não
é o que está à mesa? Eu porém estou no meio de vós como aquele que serve"
(Lc 22,25-27).
• 
“O salmista interpreta a morte do Senhor:
Salmo 22"
Na cruz, o Senhor evangeliza com as suas palavras. Uma delas é um impressionante lamento:

"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste!" (Mt 27,46; Mc 15,34)

Jesus lançou esta lamentação na língua litúrgica do seu povo, o hebraico:

"Eli, Eli, lemá sabochtánil"


 
Nem ele nem o comum do povo usavam o hebraico fora da liturgia e ocasiões especiais. A
língua de todo o dia era o aramaico. Daí que os dois evangelistas que retiveram esta palavra a
tenham citado no original, acrescentando a tradução. Registraram também a confusão dos
ouvintes:
 

"Alguns dos que tinham ficado ali, ouvindo-o, disseram: 'Está chamando por Elias!'" (Mt
27,47; Mc 15,35)
“O salmista interpreta a morte do Senhor:
Salmo 22"
De fato, este é o início do Salmo 22:
 
"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?
Meu lamento ressoa sem alcançar a minha salvação!
Meu Deus, de dia grito e não me respondes;
chamo de noite, e não gozo mais o silêncio!"
• 
Assim Jesus mesmo nos leva a meditar no caráter profético deste
impressionante Salmo, oração querida do seu Povo, prece que expõe as
entranhas do justo sofredor a Deus, sem nada esconder, nem sequer seu
sentimento de que está abandonado por Deus.
“O salmista interpreta a morte do Senhor:
Salmo 22"
De fato, este é o início do Salmo 22:
 
"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?
Meu lamento ressoa sem alcançar a minha salvação!
Meu Deus, de dia grito e não me respondes;
chamo de noite, e não gozo mais o silêncio!"
• 
Assim Jesus mesmo nos leva a meditar no caráter profético deste
impressionante Salmo, oração querida do seu Povo, prece que expõe as
entranhas do justo sofredor a Deus, sem nada esconder, nem sequer seu
sentimento de que está abandonado por Deus.
“O salmista interpreta a morte do Senhor:
Salmo 22"
O Salmo 22, no entanto, não se esgota nesta queixa franca e doída.
Passa a um ato de fé:
 
"Tu és o Santo,
e presides entre os louvores de Israel.
Em ti confiaram os nossos pais;
confiaram e os salvaste
A ti clamaram, e foram libertados;
em ti confiaram e não foram decepcionados."
“O salmista interpreta a morte do Senhor:
Salmo 22"
Os sofrimentos não são vividos numa solidão desesperada, nem levam a
amaldiçoar a vida, mas se transformam em alavancas para oração:

"Eu porém sou um verme, e não um homem, um refugo. humano, o desprezo


do povo.
Quem me vê zomba de mim, retorce os lábios, sacode a cabeça:
A Javé se confiou? Que ele o liberte!
Que o salve, se é que o ama'
Tu, porém, me tiraste do ventre de minha mãe, . e me protegeste desde o seio
materno; fostes o meu apoio desde as entranhas de minha mãe, desde o seio
materno tu és o meu Deus!
Não fiques longe de mim!... "
“O salmista interpreta a morte do Senhor:
Salmo 22"
Os evangelistas testemunham, de um modo ou de outro, as caçoadas e
insultos (cf Mt 27,39-44.49 e paralelos) e a resposta orante de Jesus (Lc
23,46), seu brado de confiança definitiva (cf. Mt 27,50; 15,37):
 
"Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito!" (SI 31,6)
“O salmista interpreta a morte do Senhor:
Salmo 22"
Os sofrimentos do justo no Salmo 22, entoado pelo Crucificado, não
são apenas morais, como ser contado entre os malfeitores, ser objeto
de descrédito e zombaria, sentir-se abandonado por Deus etc., mas
também físicos:
"Sinto-me como água que se derrama; meus ossos se dissolvem; meu
coração parece cera, que se funde em minhas entranhas.
Meu vigor se resseca, vira um caco; minha língua se cola ao paladar.
 Tu me entregaste à poeira da morte! ...
Posso contar todos os meus ossos.
Eles me observam e vigiam, repartem entre si as minhas vestes e
sorteiam o meu manto ... "
“O salmista interpreta a morte do Senhor:
Salmo 22"
Contudo, o justo vai sendo consolado e irrompe num louvor pessoal que se amplia,
tornando-se um convite ao louvor por parte de toda a assembleia do Povo, isto é, a
Igreja de Deus, e do mesmo universo:
 
"Mas tu Javé não estás distante; minha força, vinde logo em meu socorro! ...
Tu me atendeste!
Anunciarei o teu nome a meus irmãos, e eu te louvarei no meio da assembleia!
És o meu louvor na grande assembleia .
Todos os confins da terra se lembrem e se convertam a Javé; todas as famílias dos
povos se prostrem diante dele!
Pois a Javé pertence a realeza, é ele quem domina todos os povos!"
“O salmista interpreta a morte do Senhor:
Salmo 22"

Assim a cruz, para quem crê, não é um fim desesperado, um termo de

tudo, uma barreira destruidora. Ela se toma sinal de bênção, alívio,


vitória, conquista. Ela é a espaçosa porta de alegria e louvor sem
limites.
“Paulo medita os sentimentos do Crucificado"

O Novo Testamento também traz textos que nos revelam a


profundidade e extensão do sentido da morte do Crucificado. Faz bem
ao coração cair na conta, com a ajuda de Paulo, dos sentimentos do
Messias Salvador. Os comentadores cristãos acreditam que, na
verdade, o Apóstolo se expressa citando um cântico da Igreja dos
começos, o que aumenta o valor desta passagem reveladora:
“Paulo medita os sentimentos do Crucificado"
"Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus:
Ele, sendo de condição divina, não pensou que sua igualdade a Deus
fosse para ser guardada com ciúme, mas se esvaziou a si mesmo,
assumindo a condição de servo, tomando a condição humana.
Semelhante ao homem, reconhecido como homem,
ele se abaixou, e se fez obediente até a morte, e morte de cruz!
Por isto mesmo o Senhor o exaltou soberanamente, e lhe conferiu o Nome
que está acima de todo nome, a fim de que ao Nome de Jesus
todo joelho se dobre no céu, na terra e nos infernos;
a fim de que toda a língua confesse, para a glória de Deus Pai,
que Jesus é o Senhor!" (FI 2,5-11)
“Paulo medita os sentimentos do Crucificado"
Aos cristãos de Éfeso, Paulo relembra:
 
"Mas agora, em Cristo Jesus, vós que outrora estáveis distantes fostes
trazidos para perto pelo Sangue de Cristo.
Ele é a nossa Paz: de ambos os povos (judeus e não-judeus) fez um só,
derrubando o muro que os separava, suprimindo, em sua Carne, a
inimizade ... a fim de criar em Si. mesmo um só Homem Novo, estabelecendo
a Paz; : reconciliando ambos com Deus em um só Corpo, por meio da Cruz,
onde matou a inimizade. Assim Ele veio anunciar a Paz, a vós que estáveis
distantes, a vós que estáveis perto, pois por meio dele nós, judeus e não-
judeus, num só Espírito, temos acesso ao Pai!"
(Ef 2,13-18)
“Paulo medita os sentimentos do Crucificado"
Portanto, a Cruz é o lugar do perdão definitivo, da vitória do amor
misericordioso, da paz e da reconciliação. Não é sem bons motivos que
o sinal-da-Cruz, o sinal do cristão, é tão amplamente usado na oração
pessoal, de grupo e pública (litúrgica) da Igreja, também no momento
culminante da Liturgia do Sacramento da Penitência:
 
"Eu te absolvo em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Amém!"
“Pedro reflete a vitória do Crucificado"
S. Pedro, o Cabeça do colégio apostólico, o Detentor das Chaves do Reino (Mt 16,19),
também reflete sobre a ação salvífica de Cristo na sua Cruz:
 
"Se, fazendo o bem, sois pacientes no sofrimento, isto é louvável diante de Deus. Com
efeito, para tal festes chamados, pois Cristo sofreu por vós, deixando-vos exemplo a
fim de que sigais os seus passos. Ele não cometeu nenhum pecado, nem enganos
foram achados em sua boca. Injuriado, não revidava, sofrendo, não ameaçava; mas
punha a sua causa nas mãos do que julga com justiça. Sobre o madeiro, levou os
nossos pecados em seu próprio Corpo, a fim de que, mortos para os nossos pecados,
vivêssemos para a sua justiça. Por suas chagas fomos curados, pois estáveis como
ovelhas desgarradas, mas agora retornastes ao Pastor e Bispo de vossas almas!" (1Pd
2,20-25)  
Há uma profunda ligação entre o que proclamam Pedro e Paulo, cheios da visão dos
fatos da paixão e morte e ecoando a meditação sobre os anúncios da Lei e dos Profetas.
“Pedro reflete a vitória do Crucificado"
S. Pedro, o Cabeça do colégio apostólico, o Detentor das Chaves do Reino (Mt 16,19),
também reflete sobre a ação salvífica de Cristo na sua Cruz:
 
"Se, fazendo o bem, sois pacientes no sofrimento, isto é louvável diante de Deus. Com
efeito, para tal festes chamados, pois Cristo sofreu por vós, deixando-vos exemplo a
fim de que sigais os seus passos. Ele não cometeu nenhum pecado, nem enganos
foram achados em sua boca. Injuriado, não revidava, sofrendo, não ameaçava; mas
punha a sua causa nas mãos do que julga com justiça. Sobre o madeiro, levou os
nossos pecados em seu próprio Corpo, a fim de que, mortos para os nossos pecados,
vivêssemos para a sua justiça. Por suas chagas fomos curados, pois estáveis como
ovelhas desgarradas, mas agora retornastes ao Pastor e Bispo de vossas almas!" (1Pd
2,20-25)  
Há uma profunda ligação entre o que proclamam Pedro e Paulo, cheios da visão dos
fatos da paixão e morte e ecoando a meditação sobre os anúncios da Lei e dos Profetas.
“A Carta aos Hebreus "
O cristão anônimo autor da inspirada "Carta aos Hebreus" comenta muitas vezes a entrega
definitiva de Cristo Jesus e o valor inestimável do seu sacrifício:

"Ele é o Sumo Sacerdote que nos convinha: santo, inocente, imaculado, separado dos
pecadores, elevado ao mais alto dos céus. Com efeito, ele não precisa, como os sumos
sacerdotes (do Antigo Testamento), oferecer sacrifícios a cada dia, primeiramente por seus
pecados, e depois pelos do povo. Ele já o fez de uma vez por todas, oferecendo-se a si mesmo
(Hb 7,26.27) ...
Ele entrou uma vez por todas no Santuário, não com o sangue de bodes e novilhos, mas com o
seu próprio Sangue, obtendo uma redenção eterna. De fato, se o sangue de bodes e novilhos e
se a cinza da novilha (segundo a Antiga Lei de Moisés), espalhada sobre os seres ritualmente
impuros, santifica-os, purificando os seus corpos, quanto mais o Sangue de Cristo que, por um
Espírito eterno, ofereceu-se a Si próprio a Deus como vítima sem mancha, há de purificar a
nossa consciência das obras mortas para que prestemos um culto a Deus vivo
(Hb 9,12.13) ...
Ora, onde existe a remissão dos pecados, já não se faz a oferenda por eles." (Hb 10,18)  
“A Carta aos Hebreus "
Consequentemente toda a teologia e a pregação católica hão de insistir que a
Missa é corretamente chamada de "o Santo Sacrifício" não porque reitere
desnecessariamente o Sacrifício da Cruz, mas porque o toma presente a cada
geração, conforme a vontade do Salvador:
 
"Fazei isto em memória de mim!" (Lc 22,19; ICor 11,24)
 
Do mesmo modo o sacerdócio dos Padres católicos (ou ortodoxos) só se
compreende enquanto sacerdócio no Sacerdócio do Cristo, Cabeça do seu
Corpo, que é a Igreja (Ef 1,22.23). Todas as intercessões e mediações,
igualmente, são mediações e intercessões "por Cristo, com Cristo e em Cristo",
como rezamos no final da Oração Eucarística (Anáfora) de nossas Missas.  

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