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Entre Machado de Assis e

Daniel Galera: uma história


rasurada da literatura brasileira

Profa. Dra. Rosinês de Jesus


Duarte (UFBA)
Machado de Assis: cenas de uma
vida, marcas de uma escrita

Joaquim Maria Machado de
Assis, cronista, contista, dramaturgo,
jornalista, poeta, novelista, romancista,
crítico e ensaísta, nasceu na cidade do
Rio de Janeiro em 21 de junho de
1839. Filho de um operário mestiço de
negro e português, Francisco José de
Assis, e de uma filha de emigrantes
açorianos, D. Maria Leopoldina Machado
de Assis. M. Assis perde a mãe muito
cedo e é criado pela madrasta, Maria
Inês, também mulata, que se dedica ao
menino e o matricula na escola pública,
única que freqüentará o autodidata
Machado de Assis.
Machado de Assis: cenas de uma vida, marcas de uma escrita

• Aos 16 anos, publica em 12-01-1855 seu primeiro trabalho literário, o poema


"Ela", na revista Marmota Fluminense.
• Com 17 anos, consegue emprego como aprendiz de tipógrafo na Imprensa
Nacional, e começa a escrever durante o tempo livre.
• Publica seu primeiro livro de poesias em 1864, sob o título de Crisálidas.
Paralelo a isso, publica contos e crônicas em periódicos (ex. Duelo de
Filantropia). Em 1869, o escritor era um típico homem de letras brasileiro bem
sucedido.
• Seu primeiro romance, Ressurreição, foi publicado em 1872.
• Na Gazeta de Notícias, no período de 1881 a 1897, publica aquelas que foram
consideradas suas melhores crônicas.
• Em 1881 publica um livro extremamente original , pouco convencional para o
estilo da época: Memórias Póstumas de Brás Cubas -- que foi considerado,
juntamente com O Mulato, de Aluísio de Azevedo, o marco do realismo na
literatura brasileira. 
• No dia 28 de janeiro de 1897, quando se instalou a Academia, foi eleito
presidente da instituição, cargo que ocupou até sua morte
Alguns contos de Machado de Assis que foram
adaptados para os quadrinos
Mas, enquanto Machado de Assis
se firmava como um marco da
literatura brasileira, outros e
outras também produziam. Maria
Firmina dos Reis aparece,
portanto, para rasurar essa
história.

Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís, no


Maranhão, no dia 11 de outubro de 1825. Filha
bastarda de João Pedro Esteves e Leonor Felipe
dos Reis. Foi uma escritora brasileira,
considerada a primeira romancista brasileira.

Em 1847, aos 22 anos, transformou-se na


primeira professora concursada de seu Estado.
Maria demonstrou sua afinidade com a escrita
ao publicar “Úrsula” em 1859, primeiro
romance abolicionista, primeiro escrito por
uma mulher negra brasileira.
LIMA BARRETO
• Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro em 1881. Após
os estudos secundários no Colégio D. Pedro II, ingressou no curso de
Engenharia da Politécnica, do qual saiu em 1903, para cuidar do pai,
mentalmente enfermo. Concursado, trabalhou na Secretaria da Guerra, o
que lhe deu tranqüilidade financeira. Vítima de preconceitos, viveu
intensamente todas as contradições do início do século, entregando-se à
depressão e ao álcool.  Escreveu romances, sátiras, contos, textos
jornalísticos e críticas. Abordou em suas obras as grandes injustiças sociais.
• A pobreza e a situação social suburbana de Lima Barreto aguçaram sua
visão e senso crítico. Sua obra é uma crônica autêntica dos subúrbios
cariocas e de sua população, retratando, de um lado, a população pobre e
oprimida desse subúrbio e, de outro, o mundo vazio de uma burguesia - Recordações do
medíocre; de políticos poderosos e incompetentes e de militares escrivão Isaías Caminha
opressores. Parece refletir, muitas vezes, a própria experiência do autor, (1909)
principalmente a dos negros e mestiços, que sofriam na pele o preconceito - Triste fim de Policarpo
racial. Quaresma (1915)
- Numa e ninfa (1915)
• - Os bruzundangas
(1923)
- Clara dos Anjos (1948)
- Diário Íntimo (1953)
• Em Diário Ìntimo, o autor pronuncia o seu
projeto estético-literário:
• “Eu sou Afonso Henriques de Lima Barreto (...)
No futuro escreverei a História da Escravidão
Negra no Brasil e a sua influência na nossa
Nacionalidade” (BARRETO, 1956, p. 33)
CARLOS DRUMMOND DE
ANDRADE
Carlos Drummond de Andrade
Como é o fazendeiro do ar,
Manuel Bandeira
O obscuro enigma dos astros
Louvo o Padre, louvo o Filho,
Intui, capta em claro enigma.
O Espírito Santo louvo.
Isto feito, louvo aquele Claro, alto e raro. De resto
Que ora chega aos sessent'anos Ponteia em viola de bolso
E no meio de seus pares Inteiramente à vontade
Prima pela qualidade: O poeta diverso e múltiplo
O poeta lúcido e límpido Que é Carlos Drummond de
Que é Carlos Drummond de Andrade. Andrade.
Prima em Alguma Poesia, Louvo o Padre, o Filho, o Espírito
Prima no Brejo das Almas Santo, e após outra Trindade
Prima em Rosa do Povo,
Louvo: o homem, o poeta, o amigo
No Sentimento do Mundo.
(Lírico ou participante, Que é Carlos Drummond de
Sempre é poeta de verdade Andrade.
Esse homem lépido e limpo
Texto extraído do livro "Antologia Poética -
Que é Carlos Drummond de Andrade). Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira – Rio
de Janeiro, 2001, pág. 183.
• 1902 - Nasce em Itabira do Mato Dentro, Estado de
Minas Gerais; nono filho de Carlos de Paula Andrade,
fazendeiro, e D. Julieta Augusta Drummond de
Andrade. Morre em 1987, no Rio de Janeiro.

• O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua


cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do
corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940),
em José (1942) e sobretudo em A rosa do
povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da
história contemporânea e da experiência coletiva,
participando, solidarizando-se social e politicamente,
descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima
apreensão para com a vida como um todo. A
surpreendente sucessão de obras-primas, nesses
livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida
sempre.
Clarice Lispector
• Nasce em dez. de 1920. Morre em dez de 1977.
• Papel importante na narrativa de autoria feminina.
Questiona o modelo patriacal, com muita ironia.
• O livro de contos Laços de família (1960) é um marco
ficional no tratamento do tema família.
• “As relações familiares são o tema de “laços de família”.
Aqui as relações mãe/filha, marido/mulher e mãe/filho são
representadas de forma a evidenciar o vazio de uma
comunicação que não se efetiva” (XAVIER, 2001)
• Algumas obras: Perto do Coração Selvagem (1943); A
Cidade Sitiada (1949); Uma Aprendizagem ou Livro dos
Prazeres (1969); A hora da estrela (1977).
Carolina Maria de Jesus
• Foi numa comunidade rural em Sacramento, Minas Gerais, que nasceu 
Carolina Maria de Jesus. Mas foi numa favela em São Paulo que ela
tornou-se escritora – e produziu a obra pela qual seria conhecida até
hoje. 
• “O que se torna interessante para discutir sobre a escrita de Carolina
Maria é o desejo de escrever vivido por uma mulher negra e favelada. O
desejo, a crença e a luta pelo direito de ser reconhecida como escritora,
enquanto tentava fazer da pobreza, do lixo, algo narrável. Quando uma
mulher como Carolina Maria de Jesus crê e inventa para si uma posição de
escritora, ela já rompe com um lugar anteriormente definido como sendo
o dela, o da subalternidade, que já se institui como um audacioso
movimento”. (EVARISTO, 2009)
• “Eu deixei o leito as 3 da manhã porque quando a gente perde o sono
começa pensar nas miserias que nos rodeia. (…) Deixei o leito para
escrever. Enquanto escrevo vou pensando que resido num castelo cor de
ouro que reluz na luz do sol. Que as janelas são de prata e as luzes de
brilhantes. Que a minha vista circula no jardim e eu contemplo as flores de
todas as qualidades. (…) É preciso criar este ambiente de fantasia, para
esquecer que estou na favela. 
Fiz o café e fui carregar agua. Olhei o céu, a estrela Dalva já estava no
céu. Como é horrível pisar na lama. 

E assim chegamos à Literatura Ppo
Editora Pitomba (Bruno Azevedo)

Daniel Galera
A Caixa de Camelô

• “Indivíduos pouco ou nada coesos, jovens subversivos, uso de drogas,


sexo episódico e esporádico, amores efêmeros ou desencontrados
preenchem as linhas da prosa pop”. (LARANJEIRA, 2010)
• “Personagens e narradores cujas identidades não se estabilizam,
indivíduos tão fragmentários quanto as suas práticas sexuais e vínculos
afetivos, os sujeitos da literatura pop vivem a vida líquida de um modo
ambíguo: ora se comportam como homens e mulheres resistentes
diante dos fluxos globais, ora se permitem conduzir aonde quer que
leve o Império.” (LARANJEIRA, 2010)
Daniel Galera por Daniel Galera
• Meu nome é Daniel Galera e nasci em julho de 1979 em São Paulo, mas
sou de família gaúcha e me criei em Porto Alegre. Já adulto, vivi alguns
anos em São Paulo e Santa Catarina, e hoje moro em Porto Alegre de
novo. Publiquei contos e textos diversos na internet de 1996 a 2001, com
destaque para os três anos como colunista do mailzine Cardosonline
(COL), e lancei meus dois primeiros livros pelo selo independente Livros
do Mal, criado em 2001 por mim, Daniel Pellizzari e Guilherme Pilla. Além
de escrever prosa de ficção, traduzo autores de língua inglesa e de vez em
quando publico resenhas, ensaios e reportagens.
(Disponível em: http://ranchocarne.org/ )
Site da Livros do Mal hoje
Algumas obras
• Gaudério era um homem enigmático, de poucas
palavras, poucos amigos e nenhuma concessão, que
acabou sendo assassinado em um vilarejo de
pescadores em Santa Catarina. Insatisfeito com essa
versão sobre a morte do avô, ocorrida décadas antes,
um professor de educação física se muda para a
cidade em busca da verdade. No cotidiano vagaroso e
frio do balneário fora de temporada, surge aos
poucos uma história de amores perdidos, conflitos de
família e segredos inconfessos, evocando a origem
insuspeita dos mitos da vida comum e as dificuldades
que enfrentamos para entender e reconhecer os
outros.
(Publicado em 2012, Compahia das Letras)
Outras demandas da
contemporaneidade
Lívia Natália é uma poeta e teórica
da literatura, nascida em Salvador,
Bahia, em 1979. Professora da
Universidade Federal da Bahia,
publicou sua primeira coletânea de
poemas, Água negra, em 2011,
seguida deCorrentezas e outros
estudos marinhos (Ed. Ogums
Toques, 2015).

Lívia Maria Natália


Quadrilha Quadrilha
Lívia Natália
Calos Drummond de Andrade

Maria não amava João.  João amava Teresa que amava


Apenas idolatrava seus pés escuros. Raimundo 
Quando João morreu, que amava Maria que amava
assassinado pela PM, Joaquim que amava Lili 
Maria guardou todos os sapatos.” que não amava ninguém. 
João foi pra os Estados Unidos,
(“Correntezas e Outros estudos Marinhos” Teresa para o convento, 
(Editora Ogum's Toques Negros, Raimundo morreu de desastre,
Salvador-BA, 2015). Maria ficou para tia, 
Joaquim suicidou-se e Lili casou com
J. Pinto Fernandes 
que não tinha entrado na história.
Referências
• EVARISTO, Conceição. Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade . In:
SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 13, n. 25, p. 17-31, 2º sem. 2009
• XAVIER, Elódia. Narrativa de Autoria feminina: a familia no banco dos réus. In:
SANTOS, Wellington de Almeida (Org.). Outros e Outras na Literatura brasileira.
Rio de Jeneiro: Caetés, 2001.
• LARAJEIRA, Antonio Eduardo Soares. Nossos Sonhos Atravessaram As Fronteiras
Da Realidade . Tese de Doutorado. Salvador: UFBA, 2010.
• DUARTE, Eduardo de Assis. Machado de Assis afro-descendente. 2 ed. Rio de
janeiro/ Belo Horizonte: Pallas/ Crisálida, 2009.
Sites:
http://www.machadodeassis.org.br/
http://www.releituras.com

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