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INFORMATIVIDADE

Segundo Antônio Carlos Xavier, a informatividade tem a ver com a quantidade


das informações mobilizadas e discutidas ao longo do texto. Um texto será mais
informativo, quanto mais imprevisível for para o leitor. Do mesmo modo, ele
será menos informativo, quanto mais conhecido se mostrar para o leitor. Por
essa razão, convém sempre balancear informações velhas (conhecidas) com
informações novas para a elaboração do texto.

Referência Bibliográfica:
XAVIER, A. C. S., Como se faz um texto: a construção da dissertação
argumentativa. Catanduva, SP: Editora Respel, 2010.
Texto de Renata
Trabalho Infantil no Brasil

Nenhuma criança trabalha porque quer. Mas porque é obrigada. Prova disso é que só
as pobres entram precocemente no mercado de trabalho. No Brasil, três milhões de
menores entre 10 e 14 anos saem de casa todos os dias para garantir o próprio sustento e,
muitas vezes, o da família. Alguns nunca entraram numa escola. Outros tiveram que
abandonar os livros antes do tempo. Jogados nas ruas ou em atividades insalubres, a
maioria tem o destino traçado. De uma ou outra forma, está condenada. Não terá direito
ao futuro.
Entre a multidão de trabalhadores mirins, encontram- se cerca de cinquenta mil em
situação desumana e degradante. São os catadores de lixo. Eles disputam com cães,
porcos, ratos e urubus o que os outros jogam fora. A partir dos três ou quatro anos, os
menores acompanham os pais aos aterros sanitários para catar a sobrevivência. O
resultado de um dia de labor sob o sol ou chuva é parco. Rende de um a seis reais.
Na tentativa de pôr fim a esse quadro dramático, o Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef), em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria do
Desenvolvimento Urbano, lançou a Campanha Criança no Lixo Nunca Mais. A meta é
erradicar o trabalho dos catadores mirins até 2002. Para chegar lá, 31 instituições
governamentais e não governamentais fornecerão orientações a prefeituras de 5.507
municípios sobre elaboração de projetos e formas de buscar recursos para implementá-
los. A meta é ambiciosa. Ninguém imagina que seja fácil atingi-la. O desenvolvimento de
um programa com semelhante dimensão deve, necessariamente, envolver a União, os
Estados, os municípios, além de parcerias com a iniciativa privada e a população em
geral. Acima de tudo, exige vontade política.
O governo está convocado a estabelecer políticas eficazes para atrair às escolas as
crianças agora lançadas no mais abjeto dos infortúnios – a disputa de alimentos com os
abutres. Há caminhos abertos nesse sentido. Um deles é a garantia de renda mínima para
as famílias em estado de pobreza absoluta, incapazes de alimentar os filhos e, ao mesmo
tempo, mantê -los no colégio. Nenhum esforço de tirar o menor do labor diário dará
resultado se não for assegurado o sustento do núcleo em que ele vive. Outro caminho é
a reciclagem educacional dos pais para que possam comparecer ao mercado de trabalho
em condições de disputar empregos dignos.
Não há tempo a perder. São 50 mil brasileiros que pedem socorro. Clamam por saúde
e educação. A sociedade espera que a iniciativa do Unicef prospere. Espera, sobretudo,
que o governo faça a sua parte. O amanhã se constrói a partir de hoje. E a perspectiva é
de que nossos filhos e netos herdem um país melhor. A existência de uma multidão de
meninos buscando a sobrevivência no lixo constitui mau presságio. Sugere que poderá
não haver nenhum futuro. É indispensável e urgente modificar, para melhor, o cenário.

Correio Braziliense, Brasília, 19 jun. 1999. Editorial.


Texto de Vanusa
O PRESIDENTE TEM RAZÃO

Mais uma vez os adversários pinçam, maliciosamente, uma frase do presidente para
criticar. No caso, a sua observação de que é chato ser rico. Pois eu entendi a intenção do
presidente. Ele estava falando para pobres e preocupado em prepará-los para o fato de
que não vão ficar menos pobres e podem até ficar mais, no seu governo, e que isso não
é tão ruim assim. E eu concordo com o presidente. Ser pobre é muito mais divertido do
que ser rico. Pobre vive amontoado em favelas, quase em estado natural, numa alegre
promiscuidade que rico só pode invejar. Muitas vezes o pobre constrói sua própria casa,
com papelão e caixotes. Quando é que um rico terá a mesma oportunidade de mexer
assim com o barro da vida, exercer sua criatividade e morar num lugar que pode chamar
de realmente seu, da sua autoria, pelo menos até ser despejado? Que filho de rico verá
um dia sua casa ser arrasada por um trator? Um maravilhoso trator de verdade, não de
brinquedo, ali, no quintal! Todas as emoções que um filho de rico só tem em video game
o filho de pobre tem ao vivo, olhando pela janela, só precisando cuidar para não levar
bala. Mais de um rico obrigado a esperar dez minutos para ser atendido por um
especialista, aqui ou no exterior, folheando uma National Geographic de 1950, deve ter
suspirado e pensado que, se fosse pobre, aquilo não estaria acontecendo com ele. Ele
estaria numa fila de hospital público desde a madrugada, conversando animadamente
com todos à sua volta, lutando para manter seu lugar, xingando o funcionário que vem
avisar que as senhas acabaram e que é preciso voltar amanhã, e ainda podendo assistir a
uma visita teatral do Ministro da Saúde ao hospital, o que é sempre divertido em vez
De se chateando daquela maneira. E pior. Com toda as suas privações, rico ainda sabe
que vai viver muito mais do que pobre, ainda mais neste modelo, e que seu tédio não
terá fim. Efe Agá tem razão, é um inferno.
De se chateando daquela maneira. E pior. Com toda as suas privações, rico ainda sabe
que vai viver muito mais do que pobre, ainda mais neste modelo, e que seu tédio não
terá fim. Efe Agá tem razão, é um inferno.

Correio Braziliense. Brasília, 2 dez.1998.

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